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2015
Recomendações de práticas não
medicalizantes para profissionais
e serviços de educação e saúde
grupo de trabalho educação e saúde do fórum
sobre medicalização da educação e saúde
comissão organizadora
Alecxandra Mari Ito, Claudia Perrotta, Jason Gomes, Lucia Masini,
Lucy Duró Matos Andrade Silva, Maria Luiza Carrilho Sardenberg,
Maria Rozineti Gonçalves, Mariana Arantes Nasser, Marilda No-
gueira Costa de Almeida, Ricardo Cesar Caraffa, Ricardo Taveiros
Brasil, Rui Harayama e Vera Regina Vitagliano Teixeira.
apoio
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa – São Paulo
Departamento de Medicina Preventiva - Faculdade Reimpressão da
1ª Edição Revista
de Medicina da Universidade de São Paulo Fevereiro/2015
6 caro profissional
8 quem somos
9 objetivos gerais
10 conceitos e contextos
1. Crítica à medicalização
2. Medicalização e educação
3. Sobre o sistema único
de saúde (sus) e seus serviços
4. Representações e práticas
dos profissionais de saúde sobre
queixas escolares
5. Algumas questões relativas às famílias
sumário
1. Introdução
2. Aos profissionais de educação
3. Aos profissionais de saúde
4. Para a interação de profissionais
e articulação em redes de serviços
5. Aos profissionais de educação e saúde:
estratégias de trabalho com leitura e escrita
6. Para políticas públicas
60 despedida
61 referências bibliográficas
recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
caro profissional
Buscamos construir um material com uma linguagem acessí-
vel, que pode ser utilizado na íntegra ou por tópicos, em diferentes
arranjos e encontros entre profissionais de saúde e de educação.
Caso tenha interesse em se aprofundar nos assuntos, suge-
rimos algumas referências para leitura e materiais audiovisuais
complementares que serão apresentados pelos seguintes ícones
gráficos, respectivamente:
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
objetivos gerais
tubro de 2012, na Biblioteca Monteiro Lobato, intitulado: “Medi-
calização da Educação, da Saúde e da Sociedade: há espaço na
escola para os diferentes modos de aprender?”.
A partir disso, este material tem como objetivos:
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
1. crítica à medicalização
opositor desafiador”2.
A educação não fica de fora desse processo, e as dificulda-
des do processo educativo (ampliadas no interior de um sistema
educacional problemático) são facilmente reduzidas a supostos 1. Estado de
esgotamento
transtornos que “acalmam” o mal-estar de famílias e profissio-
físico e mental
nais de saúde e educação frente a uma série de dilemas sociais. ligado à vida
A racionalidade operante da medicalização nos processos de profissional.
avaliação e de intervenção junto a crianças e jovens com dificulda-
des no processo de escolarização representa um retorno de expli- 2. Transtorno
caracterizado
cações organicistas, centradas na ideia de distúrbio de aprendiza-
por atitudes e
gem para justificar o não aprender numa escola e numa sociedade comportamentos
que raramente são questionadas em sua estrutura (SOUZA, 2010). negativistas,
Tome-se o exemplo da dislexia: tudo o que se poderia pro- opositivos,
blematizar sobre leitura e escrita como representação social da desafiadores
e hostis contra
linguagem humana e enquanto construção simbólica (portanto,
figuras de
dependente de mediação) é reduzido a uma suposta “doença autoridade, como
neurológica” contra a qual pouco se pode fazer. O que nem to- pais, familiares
dos sabem é que existe, na própria comunidade médica, uma e professores.
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conceitos e contextos
articulado de decisões de governo que visam aos fins previamen-
te estabelecidos a serem atingidos por meio de práticas enca-
deadas e globalmente programadas” (AUGUSTO, 1989, p. 106).
O tema das políticas públicas articula-se, por sua vez, ao dos
sistemas de saúde e educação. Levar em conta a realidade bra-
sileira no atual momento implica a consideração dos estados de
precarização nos quais se encontram os equipamentos públicos
de atendimento à população, que não possui condições de “pa-
gar” por aquilo que, a bem da verdade, seriam os seus direitos
básicos. A discussão sobre direitos (no caso específico, o direito
de crianças e de adolescentes à saúde e educação) remete ao
Estatuto da Criança e do Adolescente, importante conquista da
sociedade brasileira que tem sido negada com os processos de
medicalização em curso.
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2. medicalização e educação
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
conceitos e contextos
Caraffa no evento
“Medicalização da
pecialistas alunos que não correspondem às expectativas/ideais
educação, da saúde de aprendizagem e comportamento pode e deve ser visto com
e da sociedade: Há muita cautela, pois muitos desses encaminhamentos tendem a
espaço na escola individualizar a queixa e os conflitos gerados a partir dela, forta-
para os diferentes
lecendo, assim, os processos de medicalização.
modos de aprender?”.
http://www.youtube.
De fato, a escola tem sido invadida pelos discursos de espe-
com/watch?v= cialistas que impõem seus saberes aos profissionais da educa-
h2YGK2Ny-4E ção, e é preciso que se diga que isso não caracteriza interlocu-
ção. É preciso que o educador desautorize essas invasões.
Diante disso, cabe lembrar que a crítica ao sistema educa-
http://
evoluireducacional.
cional não pode abstrair seu objeto (o sistema) e deixar de pen-
com.br/wp-content/ sar o instituído como trabalho concreto de homens concretos,
uploads/2013/06/ isto é, a passagem do que se institui para o chão da escola é
Crianças-e-jovens- uma passagem sempre encarnada. Sendo assim, a crítica do
continuam-vítimas-
sistema não isenta o sujeito de responsabilidade.
do-sistema-
educacional-no-
Embora marcado por um sem-número de obstáculos e di-
processo-de- ficuldades, o contexto escolar - como lugar de contradição - é
escolarização.pdf propício à emergência de vozes de resistência.
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conceitos e contextos
4. Trata-se de
generalistas, vêm sendo desenvolvidas atualmente experiên-
instrumento de cias de matriciamento4 e supervisão, destacadamente com os
apoio para a Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF)5. Outra possível
organização e a ponta da rede de atenção no que tange às demandas para a
realização técnica
saúde advindas da educação podem ser os serviços especiali-
dos trabalhos,
zados, com destaque para ambulatórios de saúde mental, como
com base numa
estrutura de tipo os Centros de Apoio Psicossocial infantis. No caso de adoles-
matricial, cruzando centes, existe também a “Casa do Adolescente”, que se carac-
projetos e funções, teriza como uma unidade de atenção primária com foco espe-
e sob uma gestão
cífico nessa faixa etária e, por isso, quase especializada. Além
participativa,
disso, vale lembrar que a saúde não é, nem deve ser, a única
na qual estão
envolvidos responsável por lidar com a saúde e com a vida de seus usu-
os diversos ários, ainda mais quando as questões que suscitam a procu-
profissionais. ra de cuidados passam por necessidades relativas à educação,
aos direitos e à vida em sociedade, sendo relevante a busca de
5. Para saber mais,
parcerias e trabalhos em rede com outros setores, tanto para o
confira: http://
dab.saude.gov. compartilhamento de conhecimentos e instrumentos de ação
br/nasf.php como de responsabilidades.
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conceitos e contextos
conhecimento biomédico constituir núcleo central da formação
curricular, legitimado por necessidades de saúde e finalidades do
trabalho socialmente aceitas. Entretanto, conforme aponta o mé-
dico sanitarista Ayres (2004), o pleno cuidado em saúde depende
da busca articulada do êxito técnico e do sucesso prático. Para
haver sucesso prático, é importante que o encontro de saúde vise
à identificação e à construção de projetos de felicidade do sujeito.
Um caminho para a superação deste fenômeno pode ser,
portanto, o incremento da formação pela consideração de con-
teúdos que favoreçam a ampliação do olhar, bem como uma in-
teração mais dialógica com o usuário. E sem dúvida, esse é um
caminho importante a percorrer. Entretanto, para além de repen-
sar a formação dos profissionais, é também possível e interessan-
te analisar as representações dos profissionais de saúde sobre o
tema e sobre o seu trabalho, bem como rever as práticas atual-
mente em curso nos serviços de saúde.
A teoria do trabalho em saúde pode contribuir para essa
revisão ao aprofundar a discussão e favorecer a apreensão de
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conceitos e contextos
mesa do café, o pai assiste ao telejornal, as crianças acordam,
após alguns chamados carinhosos, e o cachorro aparece ao lado
da mesa para pedir comida. Todos estão sorridentes, tudo parece
funcionar tão bem... Só que na TV, nas clássicas propagandas de
margarina... Trata-se então de um tipo idealizado de família, bem
distante da realidade brasileira contemporânea. Mas, mesmo
assim, insistimos em usá-lo como referência ao olharmos para
crianças e adolescentes que atendemos e educamos em nossos
serviços. Por que reproduzimos esse modelo?
Talvez, por estarmos inseridos em um modelo burguês, te-
nhamos nos acostumado com essa idealização, e qualquer outra
forma de relacionamento familiar tende a nos causar certo estra-
nhamento, parecendo errada, frágil, sem sustentação, sem estru-
tura. Uma casa sem pilares, uma cadeira sem pé, nessa família
algo falta. E essa ausência seria aquela que impossibilitaria a tal
“normalidade” modelar.
Na família que acriticamente nomeamos como desestrutu-
rada, falta o pai, a mãe, faltam recursos financeiros. Falta, ainda,
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conceitos e contextos
solaradas, mesmo em lares habitados por casais heterossexuais,
com seus filhos biológicos, além do cachorrinho de estimação.
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1. introdução
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serviço pelo outro ou alterações de seus papéis primordiais de
educação e cuidado à saúde.
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recomendações
refletir sua prática com outros. Diferentes experiências po-
dem ser compartilhadas e levam a novas ideias. Para isso,
é necessária a criação de espaços de planejamento e de
ações, importantes para que possa haver trocas de sabe-
res, de levantamento de hipóteses, de revisão de crenças
e, principalmente, de sustentação das ações propostas.
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recomendações
dências, assim preparando os alunos para refletir sobre
conflitos baseados no respeito pelos valores do pluralis-
mo, da compreensão mútua e da paz.
Fala de Adriana
Marcondes Em síntese: pensar a escola como um lugar que respeita as
Machado no evento
diferenças, que busca estratégias de ensino e aprendizagem de
“Medicalização
da educação,
modo coletivo, de parcerias na saúde, no lazer, nas comunida-
da saúde e da des, na política é uma forma de ir além da falta e olhar para as
sociedade: a quem possibilidades que, sem dúvida, nos remete a mares revoltos,
interessa e como mas também à condição de planejar rotas, escolher portos segu-
enfrentamos essa
ros, enfrentar as incertezas, encontrar diferentes saberes e pes-
questão?” http://
www.youtube.com/
soas, seguir em frente em busca de novos ou melhores cami-
watch?v=LWsNBn nhos. Com isso, todos certamente poderão aproveitar a viagem e
OZx1Y&feature=plcp aprender a ser, que é o quarto pilar da educação.
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recomendações
• Aspectos da vida social também são importantes de
serem conhecidos. A família e/ou o usuário frequentam
espaços públicos de lazer e cultura: parques, bibliote-
cas, cinemas, clubes, teatros, centros de convivência,
centros de juventude, museus, lan-houses, telecentros?
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recomendações
pode ser feito em visitas domiciliares ou à comunidade)
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recomendações
preensão dos aspectos multifacetados que envolvem os
problemas de aprendizagem e de comportamento.
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
recomendações
Entretanto, em alguns casos, a primeira demanda trazida
pelos usuários, crianças e adolescentes ou seus familiares, não
se relaciona diretamente à vivência de questões em relação à
aprendizagem ou ao comportamento. Mas a importância que
este tema vem adquirindo em nossa sociedade, bem como a ex-
periência com muitos casos individuais (nos quais sugerimos as
abordagens anteriormente descritas) mostram a relevância de
que profissionais e serviços de saúde pautem ativamente essas
questões para permitir sua emergência no coletivo de usuários
que atendem e, então, trabalhá-las.
Como abordar ativamente essa questão quando não constitui
queixa a priori ou demanda explícita? Sugerimos:
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recomendações
tros serviços;
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
no evento
pecíficas relacionadas ao tema da medicalização para o “Medicalização
da educação,
serviço? Pensando no conjunto dos usuários que frequen-
da saúde e da
tam o serviço e cuja demanda não tem este foco em par- sociedade: a
ticular, como a temática da medicalização da educação quem interessa
e da sociedade poderia ser trabalhada? Em que contexto, e como
atividade e por quais profissionais? enfrentamos
essa questão?”
http://www.
• Para sintetizar, quais princípios e propostas gerais para youtube.
o trabalho com o tema da medicalização em serviços de com/watch?
saúde o grupo sugere? v=Eb1kJk6dJTo
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recomendações
quisa sobre os caminhos para a integralidade na atenção primá-
ria à saúde de adolescentes e jovens apontou que as interações e
articulações constituem um dos principais desafios.
Sabemos que as interações de diferentes personagens e a ar-
ticulação de cenários diversos não é tarefa fácil. Isso pode ocor-
rer pela frequente sobrecarga de cada equipamento, entidade ou
setor, mas também pela dificuldade de trabalhar em grupo, pelo
desafio de compartilhar cuidados, e mesmo pelo anseio de divi-
dir chances de reconhecimento e exercício de autoridade. Em
alguns casos, o principal fator limitante pode ser a gestão pouco
participativa de alguns serviços e a resultante pequena autono-
mia e possibilidade de engajamento em projetos de seus profis-
sionais. Entretanto, raras vezes são buscadas as causas da dificul-
dade de trabalhar em parceria e, em geral, um serviço reclama
que não consegue trabalhar com o outro.
Consideramos que o primeiro passo pode ser buscar enten-
der as dificuldades para a o trabalho em equipe e a parceria e
buscar formas de estreitar laços. Para tanto, não bastam apenas
boas intenções de pessoas de ambos os lados, sendo necessá-
rios mecanismos gerenciais de estímulo, incluindo, por exem-
plo, a alocação de tempo específico no trabalho dos profissio-
nais para a construção e a manutenção de redes. Além disso, o
compartilhamento de responsabilidades requer divisões de fun-
ções e, em alguns momentos, pode ser necessário que um dos
elementos exerça a função de coordenador. Vem-se estudando
que uma forma de favorecer o trabalho em equipe e em rede é
a identificação de um objeto de trabalho comum, bem como de
uma finalidade compartilhada.
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no livro: “Orientação à Queixa Escolar” (SOUZA, 2007.);
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recomendações
guntar o que pensam da escola, como se sentem na sala de aula,
em relação aos professores, colegas e ao ambiente escolar de for-
ma geral. Aqui, podem aparecer falas como: não gosto de estudar,
não sei escrever, não gosto de ler. Importante, neste momento, ex-
plorar o tema, com perguntas que os desafiem a ir adiante nessas
generalizações: “Você não gosta de escrever nada, nem em redes
sociais, como facebook? E que tal quadrinhos, quem aqui lê Turma
da Mônica?”. Caso falem de dificuldades específicas, como para
ler/interpretar textos, solicite que exemplifiquem situações em que
o problema se faz presente. Por exemplo, pergunte em quais tipos
de textos, se só nos escolares, que circulam nos livros didáticos,
ou se também acontece quando leem um conto, uma reportagem,
uma passagem da Bíblia, quadrinhos, etc.
No caso dos maiores, pergunte em quais matérias essas di-
ficuldades aparecem mais comumente: história, geografia, LP,
ciências, matemática... Aproveite este momento para perguntar
quais conteúdos lhes interessam mais, se lembram do que vêm
estudando nas aulas e qual o último livro que leram para a esco-
la, se gostaram ou não, qual era a trama, etc.. Caso se lembrem,
ressalte que devem ter entendido o que leram, e continue explo-
rando outros livros ou materiais que possam ter lhes interessado.
Explore também quais equipamentos culturais e comunitários
costumam frequentar: cinemas, centros de convivência, bibliote-
cas, parques, ginásios de esporte, lanhouses. Como são informa-
dos dos eventos? Leem cartazes ou ficam sabendo por colegas?
Se engatarem nesta conversa, continue perguntando que tipos de
filmes gostam mais, se praticam esportes, quais as preferências
musicais e se lembram de letras de raps, funk, pagodes, rock, etc.
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recomendações
É importantíssimo que você se mantenha aberto para as
surpresas: aquela criança mais retraída em um primeiro mo-
mento pode se mostrar mais vitalizada durante um jogo que
envolva competição; aquele adolescente que afirmou de forma
contundente que detesta ler pode se encantar com um conto,
uma crônica, opinar sobre o tema de uma reportagem. Muitos
que declararam escrever tudo errado podem mostrar um co-
nhecimento maior da escrita do que eles mesmos supunham,
diante de uma proposta mais mobilizadora. Aquele garoto que,
num primeiro momento, estava mais agitado pode mostrar
uma boa capacidade de concentração diante de um material
mais significativo.
Tudo isso porque um ambiente acolhedor, em que circulam
atividades interessantes envolvendo o conhecimento da escri-
ta, apresentado de uma forma mais convidativa por um parcei-
ro atento, disposto a ouvir e a respeitar as opiniões e os modos
de ser de cada um, pode despertar potencialidades e condições
para o desenvolvimento ainda pouco exploradas e consideradas
no espaço escolar e/ou familiar.
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recomendações
nos atrai, ou não, e assim, vamos fazendo nossas escolhas.
Depois da leitura, volte às hipóteses iniciais, e mesmo que
não tenham se confirmado, valorize a lógica de entendimen-
to de cada um. Peça para que digam, primeiramente, o que
acharam do texto, do tema, o que mobilizou em cada um, se
lembraram de outros textos ou materiais em que o mesmo
tema foi tratado – valem vídeos, propagandas, jornais televisi-
vos, novela, músicas, filmes, conversas com amigos, familia-
res, na escola, etc. O importante aqui é explorar a capacida-
de de fazer relações e atualizar repertórios. Pergunte também
se gostaram de alguma parte, se lhes pareceu bem escrita,
ou clara, ou, no caso de um artigo de opinião, quais os bons
argumentos utilizados pelo autor que os convenceram – tra-
ta-se da capacidade de apreciação estética, para qual somos
despertados desde cedo, logo nas primeiras leituras.
Não deixe também de compartilhar suas impressões! Ex-
plore ainda trechos do texto que só podem ser compreendi-
dos por aqueles que já trazem um conhecimento prévio so-
bre o tema, levando os participantes a perceberem a impor-
tância da capacidade de fazer inferências – ou de ultrapassar
a compreensão/entendimento do texto e relacionar o que le-
ram com suas ideias e seu cotidiano.
No caso dos menores, as leituras podem começar por
contos clássicos conhecidos (como João e Maria, O lobo e
os três porquinhos, Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio, entre
outros), previamente selecionados, partindo-se da narrativa
oral de cada um para confrontar se há convergência ou não
do enredo e do final do conto. Nesse momento, é importan-
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recomendações
do houver diferenças de entendimento, antes de afirmar qual
seria a correta, discuta com o grupo, releia o texto e abra a pos-
sibilidade de eles mesmos chegarem à resposta.
Explore também a opinião sobre os temas lidos, indican-
do que para opinar é preciso compreender. Assim, você mos-
tra a importância de se compreender e interpretar um texto.
Fundamental aqui você associar a leitura com escrita: uma
boa forma de elaborarmos o entendimento do que lemos é
registrando por escrito. Divida o grupo, faça propostas dife-
rentes para cada um. Por exemplo, caso vocês tenham lido
uma reportagem sobre pichação, sugira que alguns elaborem
um artigo de opinião sobre o tema, outros, um manifesto fa-
vorável ou não a esse tipo de manifestação popular, ou quem
sabe uma campanha para limpar a cidade.
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recomendações
minou anteriormente, para que possam completar com o fi-
nal elaborado por eles. Seria interessante que pudessem tam-
bém ilustrar com desenhos. Os diversos finais poderiam ser
colocados no mural para que fossem compartilhados, talvez,
propiciando que aparecessem outros.
Sugira também que elaborem uma narrativa a partir de
uma “tirinha” ou história em quadrinhos, de preferência sem
falas, que seja interessante para a faixa etária do grupo, pro-
pondo que elaborem as falas em forma de balão ou de diálo-
gos. Há gibis da Turma da Mônica com histórias de duas pági-
nas que são propícias para essa atividade.
E há os jogos: Imagem Ação Júnior, por exemplo, permite
que se trabalhe com o desenho, a leitura e também possibili-
ta a escrita. Pode ser jogado em grupo estabelecendo-se dois
times: um que lê a palavra e desenha e o outro que adivinha a
imagem e escreve a palavra. Pode ser uma atividade interes-
sante para mesclar o trabalho com os gêneros textuais.
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
recomendações
Você também pode digitar os textos produzidos e apresen-
tá-los separados em partes para que, em duplas ou trios, se-
jam reconstruídos. Novamente sua mediação será necessária
para que também possam ser comentadas e realizadas mu-
danças, de modo que os textos sejam mais bem entendidos.
Procure sempre variar o público leitor nas atividades de es-
crita propostas, pois este é um aspecto fundamental na elabo-
ração de um texto, determinante na escolha do vocabulário,
nos recursos retóricos, na determinação do conteúdo e forma
de abordá-lo, etc.. Assim, você pode propor, por exemplo, que
façam a indicação de um filme ou livro para o público infantil;
ou que escrevam uma carta a uma autoridade, reivindicando
mudanças no bairro. Pode ainda apresentar um evento esporti-
vo, cultural ou de lazer que acontecerá na comunidade e solici-
tar que, em duplas e trios, elaborem uma forma de divulgação/
propaganda do acontecimento deixando bem destacado para
que público tal texto será destinado.
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recomendações
de, em algumas delas, escrevermos de formas que rompem
com a padrão não significa que sempre vamos fazê-lo, em es-
pecial, quando a situação pede mais fidelidade à norma culta.
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a tendência
relate as atividades realizadas, mostrando as produções do gru- a rotular e
po e incentivando-os a repercutirem o trabalho e as temáticas diagnosticar.
abordadas no cotidiano familiar. Sobre esta
O mesmo vale para os profissionais de saúde, que devem questão, leia os
seguintes textos
também manter uma interlocução com a equipe da escola que as
que podem
crianças e jovens frequentam. Tanto com os familiares como com a
ajudá-lo na
escola, procure esclarecer dúvidas sobre o desenvolvimento da lin- argumentação:
guagem, em especial referentes aos erros ortográficos e/ou à inter-
pretação de textos, desmistificando ideias pré-concebidas e equi- http://www.
ifono.com.
vocadas de que esse tipo de questão indica a existência de quadros
br/ifono.php/
patológicos, como dislexia. Por isso, é bom ter em mãos produções dislexia-visoes-
das crianças, para exemplificar e destacar em que aspectos se etico-politicas
mostram competentes, e o quanto possuem conhecimentos que,
muitas vezes, não aparecem no ambiente familiar ou no escolar. http://www.
ifono.com.
Na interlocução com a escola, também é fundamental observar
br/ifono.php/
que tipo de prática está sendo exercida – se muito tradicional, mais estrategias-para-
voltada à transmissão de conteúdos, com exercícios clássicos, como apropriacao-
cópias, ditados, interpretação de textos, ou se há variação de ativida- da-escrita-
des, valorizando-se os usos sociais da escrita e da leitura. Em am- ou--sintomas-
dislexicos
bos os casos, compartilhe as produções dos participantes, mas, no
primeiro, deixe claro que atividades mais significativas levam a uma http://
integração maior do conhecimento. E que um ambiente mais favo- www.ifono.
rável ao desenvolvimento, que considera a singularidade de cada com.br/ifono.
um, pode gerar crianças e adolescentes mais curiosos, mais poten- php/o-trabalho-
terapeutico-
tes, criativos e desenvoltos na apropriação da linguagem escrita.
fonoaudiologico-
E na conversa com os pais, incentive-os a procurarem coor- com-a-
denadores e professores, buscando esclarecer dúvidas, mas aler- linguagem-
te para que não aceitem diagnósticos. Caso não compreendam o escrita
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
que foi dito, incentive-os a procurar por você, que pode ajudá-los
nessa intermediação pais/escola.
Importante também indicar aos familiares e/ou cuidadores
que o conhecimento não circula apenas na escola, mas nas mais
variadas situações cotidianas. Sugira programas culturais para
frequentarem com os filhos, como oficinas em bibliotecas, ses-
são de cinema, dentre outros.
Em síntese: partimos do princípio de que as práticas não-me-
dicalizantes podem e devem valorizar a todos, em especial, crian-
ças e jovens com questões de aprendizagem e de leitura e escrita,
compreendendo a diversidade e os diferentes modos de aprender.
recomendações
Você deve ter recebido prontuários com queixas ou até mes-
mo diagnósticos fechados a respeito das crianças e dos adoles-
centes com os quais irá trabalhar; porém não se apegue a esse
material, para que você possa estabelecer a sua compreensão de
cada caso. Procure utilizá-lo mais para obter informações bási-
cas, necessárias para a organização dos grupos.
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
recomendações
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
Um abraço.
apoio
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
referências
Burlington: Ashgate Publishing Company, 2006.
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
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recomendações de práticas não medicalizantes para profissionais e serviços de educação e saúde
referências
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apoio