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Estranhamento Ciencia Politica Nos Cursos Direito 499 PDF
Estranhamento Ciencia Politica Nos Cursos Direito 499 PDF
Brasília, 2014
Resumo:
Desde épocas mais remotas, a Ciência Política e suas ramificações eram estudadas no curso
de Direito como disciplinas essenciais à formação de um jurista, haja vista a importância da
teoria política e da sua relação com questões jurídicas cotidianas. Ocorre que, nos dias atuais,
a disciplina de Ciência Política tornou-se mero compromisso de expediente para os graduandos
de Direito, que não se importam com a matéria e veem seus professores a menosprezá-la.
Necessário fazer uma crítica à realidade do ensino no Brasil, que veem formando profissionais
generalistas, de pouco conteúdo, com preferência em estudar por manuais a fim de estarem
“preparados” para ingressar no tão sonhado funcionalismo público. E a discussão teórica e
metodológica vem perdendo espaço, vista com preconceito pelos estudantes, e, se tornando
cada vez mais desprestigiada.
Para justificarmos esse distanciamento da Ciência Política com o Direito, iremos realizar
uma análise empírica acerca do conteúdo programático das faculdades de Direito em Recife,
delimitando o nosso recorte geográfico à cidade do Recife, a qual possui 15 faculdades de
Direito conforme dados registrados no Ministério da Educação (MEC). Nossa metodologia se
baseou na análise das ementas das disciplinas sobre Ciência Política e Teoria Geral do Estado
presentes na grade curricular dos cursos de Direito e dos currículos dos professores
responsáveis por lecioná-las.
Não pretendemos aqui defender uma junção das duas disciplinas, ao contrário,
acreditamos que ambas devem ter sua metodologia e cientificidade própria, com seus
respectivos ramos, no entanto, o distanciamento que nos incomoda é o fato de cada vez mais
os trabalhos de uma área ignorarem a existência dos da outra. Em um mundo dinâmico,
interdependente tal postura não é admissível em uma ambiente acadêmico de reconhecimento
e inovação.
E por fim, faremos uma descrição acerca das contribuições do trabalho para o ensino e
pesquisa em Ciência Política, sugerindo algumas soluções e avanços para a elaboração de
trabalhos acadêmicos e científicos.
Vale ressaltar que não pretendemos abarcar todos os tipos teóricos e metodológicos
existentes na pesquisa política, mas apenas dar uma overview dos aspectos que mais se
aproximam da pesquisa dos fenômenos jurídicos.
A Ciência Política analisa o comportamento dos atores, lida com seus interesses, os
quais podem vir a gerar conflitos ou alianças a depender de suas preferências (HALL; TAYLOR,
2003). O conceito de pesquisa científica na Ciência Política é bastante vasto e discutido entre
os estudiosos, havendo diversas divergências e questionamentos. Assim, na maioria, os
cientistas políticos consideram que a pesquisa científica é desenhada de forma a descrever ou
explicar interferências nas bases de informações empíricas. No entanto, não são todos os
cientistas sociais que compartilham desse pensamento ou acreditam na possibilidade de uma
definição comum para a pesquisa científica na Ciência Política (DELLA PORTA; KEATING,
2008, p. 20).
Diante disso, explicam-se as três diferentes bases utilizadas no estudo da ciência
política. São elas: a base ontológica, a base epistemológica e a base metodológica (DELLA
PORTA; KEATING, 2008, p. 21). A ontologia é um substrato da filosofia que estuda a natureza
do ser, de sua realidade e de questões metafísicas. A questão ontológica torna-se fundamental
para relacionar à existência de um mundo real e objetivo. A epistemologia, por sua vez, é o
estudo científico do conhecimento. Estuda a origem, validade, estrutura, as limitações e os
métodos do conhecimento, por isso, também se denomina de teoria do conhecimento. A base
epistemológica relaciona-se com a possibilidade de conhecer os fatos e saber a que esse
conhecimento pode levar, ou, como diz Popper (1974, p. 51), relaciona-se com “decisões
acerca da maneira de manipular os enunciados científicos”.
Por fim, a metodologia é o sistema de métodos, os quais são regras necessárias para
explicar e interpretar o conhecimento científico, isto é, refere-se a instrumentos técnicos que se
usam para ordenar o conhecimento (PENNINGS; KEMAN; KLEINNIJENHUIS, 1999, p. 22;
DELLA PORTA; KEATING, 2008, p. 21). Desse modo, torna-se possível a análise e
interpretação de fatos para se chegar à compreensão de um determinado evento.
“Uma análise interpretativa mantém um foco holístico e enfatiza os casos [...] como um
complexo de entidades num importante contexto.” Para entender a realidade, é necessário
penetrar nas informações dos atores em análise e usá-las para construir sua identidade
(SMITH, 2004, p. 43 apud DELLA PORTA; KEATING, 2008, p. 30).
É importante destacar também que o estudo de caso tem por objeto um fenômeno cuja
ocorrência se dá no momento em que se realiza a pesquisa, permitindo investigar o caso pelo
“lado de dentro”, na perspectiva subjetiva dos membros do grupo, favorecendo o entendimento
do processo e permitindo a apreensão dos processos de mudança (GERRING, 2007).
O estudo de caso é adequado por proporcionar maior clareza aos fenômenos pouco
conhecidos, e para a descrição de grupos e organizações. Podem servir, ainda, a propósitos
exploratórios, descritivos e explicativos, buscando o entendimento e a compreensão da
realidade estudada (WALTON, 1992; BENNET; COLIN, 2007; GERRING, 2007).
Portanto, a partir dessa abordagem geral sobre como a Ciência Política estuda os
fenômenos sociais poderemos entender a importância das suas bases teóricas e metodológicas
ao interpretar fenômenos e instituições jurídicas.
A Ciência Política sempre foi muito ligada à Sociologia, à História, à Filosofia e ao Direito
(DALLARI, 2013). Entretanto, há mais ou menos meio século, a Ciência Política tem se tornado
independente e com metodologia própria. Diante de tal fato, é evidente o seu distanciamento
com as outras disciplinas, porém, isso não justifica o porquê do distanciamento das outras
disciplinas da Ciência Política. Como sabemos, o estudo dos fenômenos sociais políticos são
de extrema importância para a compreensão do funcionamento das instituições, sejam elas
jurídicas, sociais, econômicas, etc. Por isso, acreditamos que todos os ramos de estudo, devem
dar uma devida atenção e importância ao enfoque político, principalmente os acima referidos
(SARTORI, 2005).
Diante de tal premissa, pretendemos demostrar a importância do estudo da Ciência
Política no ensino jurídico (STRECK; MORAIS, 2014), que ao longo dos anos vem sendo
negligenciado. O Direito, estudado desde épocas mais remotas, sempre se utilizou da Ciência
Política e outras disciplinas como forma de análise em seus estudos, além de estudar diversas
instituições políticas.
Apesar de já poderem ser vistos desde épocas mais antigas, os estudos jurídicos e
políticos iniciaram-se através da formação do Estado e da sociedade e de seus elementos
componentes. Dessa forma, os estudos do Direito ligados à Ciência Política foram
desenvolvidos no Direito Constitucional, no Direito Administrativo e na Teoria Geral do Estado
(DANTAS, 2013). Mas é mister ressaltar, que apesar da maior afinidade dessas áreas com a
Ciência Política, todos os ramos jurídicos como um todo estão relacionados de forma direta ou
indireta com os estudos políticos.
Hoje em dia esse distanciamento é notável. A Ciência Política, com sua autonomia
científica e metodológica, passou a se debruçar cada vez mais profundamente em suas
análises e métodos, fazendo com que os juristas se sentissem estranhos àquela realidade. Os
cientistas políticos, aprofundando-se em seus estudos, desenvolvendo diversos ramos dentro
da Ciência Política, se interligando com diferentes ramos como a Sociologia, a Antropologia, o
Direito e principalmente a Economia. Seus trabalhos ficaram mais sofisticados, com análises
estatísticas e de regressão, tornando-se uma área distinta, apesar de suas interdependência
com outras disciplinas (SATORI, 2005; SOARES, 2005).
Podemos observar que à medida que cada área vai se desenvolvendo e aprofundando
seus estudos, torna-se mais dificultoso o processo de ligação dos estudos das diversas
disciplinas. Pois, quanto mais profunda a análise, mais se debruça-se para compreender
através de modelos, análises comparativas com outros países ou regiões, se especializando
tanto à ponto de não sobrar espaço para uma análise interdisciplinar.
Para melhor exemplificar tal argumento, podemos citar trabalhos jurídicos que buscam
entender o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) através da sua análise formal, de
competências, regimento interno e decisões para compreender o papel que exerce no dia-a-dia
perante os juízes. No entanto, a análise jurídica sobre as formalidades de atuação queda-se
insuficiente e, apenas com uma análise política institucional através da compreensão dos
interesses dos atores envolvidos e da formação das instituições é possível compreender a
dinâmica existente entre os membros dos três poderes e os resultados políticos das decisões
do CNJ, como o trabalho realizado pelos cientistas políticos Ernani Carvalho e Natália Leitão
(2013).
Esses são alguns exemplos para ilustrar o nosso argumento, no entanto, há diversos
outros exemplos de fenômenos sociais que restam incompreensíveis por falta de análise
econômica, política e social. Assim, alguns trabalhos, se utilizassem de uma
interdisciplinaridade seriam aptos a explicar melhor o seu objeto de pesquisa.
Desta maneira, observa-se que toda área possui sua limitação, algo compreensivo
devido à exaustão de seu conteúdo e de sua análise. Assim, o âmbito jurídico limita-se ao seu
conteúdo de análise, às suas teorias e suas metodologias, sendo no caso jurídico
predominantemente a análise de questões formais do ordenamento jurídico e seus
desdobramentos. Porém, limitar a compreensão do fenômeno à limitação da disciplina não
parece razoável ao pesquisador, ainda mais, quando essas disciplinas são da mesma
ascendência, as ciências sociais (BONAVIDES, 2006). Então, é importante que o
estudante/pesquisador tenha uma noção acerca das demais análises e perspectivas e tente
trabalhar de forma mais interdisciplinar, enriquecendo assim, seus trabalhos.
3. Análise empírica
Para justificarmos esse distanciamento da Ciência Política com o Direito, iremos realizar
uma análise empírica acerca do conteúdo programático das faculdades de Direito em Recife.
Delimitado o recorte geográfico à cidade do Recife, a qual possui 15 faculdades de Direito1
conforme registo no Ministério da Educação (MEC).
1
Conforme site do MEC (www.emec.mec.gov.br), as quinze faculdades de Direito credenciadas pela
instituição são: Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), Faculdade Boa Viagem (FBV),
Faculdade Damas da Instrução Cristã (FADIC), Faculdade de Ciências Humanas de Pernambuco
(FCHPE), Faculdade do Recife (FAREC), Faculdade Estácio do Recife (ESTÁCIO-FIR), Faculdade
Integrada de Pernambuco (FACIPE), Faculdade Joaquim Nabuco (FJN), Faculdade Marista (FMR),
Nossa metodologia se baseou na análise das ementas das disciplinas sobre Ciência
Política presentes na grade curricular dos cursos de Direito2 e dos currículos dos professores
responsáveis por lecioná-las.
Durante a análise das disciplinas referentes à Ciência Política presente nos cursos de
Direito das referidas instituições, verificou-se que apenas uma disciplina se refere ao estudo
político, sendo ela denominada de “Ciência Política” ou “Teoria Geral do Estado”. Tais
disciplinas possui uma carga horária entre 30 à 60 horas/aula, o que se refere apenas a uma
disciplina durante o período de um semestre no curso de graduação em Direito, o qual
contempla a extensão de 05 anos.
Ainda, em relação ao perfil dos professores, ficou verificado que a maioria são formados
em Direito e com especializações e pós-graduações apenas na área. No entanto, diferente do
que havíamos pensado, alguns poucos, mas não chegando a um número relevante, tinham
graduação ou pós-graduação em Ciência Política. Assim, a limitação do que é estudado
encontra-se explicada através da variável do perfil dos professores que são da academia
jurídica.
Faculdade Nova Roma (FNR), Faculdade Salesiana do Nordeste (FASNE), Instituto Pernambucano de
Ensino Superior (IPESU), Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).
2
Os dados se baseiam nas ementas das disciplinas de Ciência Política e/ou Teoria Geral do Estado das
referidas faculdades de Direito colhidas pelo pesquisador.
os diversos ramos da Ciência Política e como eles podem influenciar o estudo do Direito, algo
que deveria servir de exemplo aos demais professores e instituições.
Através da pesquisa empírica, tivemos como objetivo chamar atenção para o tema,
criando esse espaço de debate. Porém, sabemos da limitação da pesquisa devido ao pequeno
número da amostra, que se refere apenas à cidade do Recife. Dessa forma, acreditamos que
esse debate precisa ainda ser maior, com análises a nível nacional e comparativas com outros
países e regiões.
Dessa forma, não tivemos o intuito de exaurir o tema, mas apenas iniciar esse debate,
não discutido nas áreas de pesquisa nem de Ciência Política e nem do Direito. Por isso, ao
trazermos uma nova visão aos trabalhos de pesquisa, esperamos que possamos contribuir de
alguma forma ao desenvolvimento do debate acadêmico e científico. Acreditamos que a
interdisciplinaridade pode ser uma visão mais completa e fundamentada de fenômenos sociais
que não podem ser estudados de maneira limitada, haja a dinâmica dos cenários institucionais
internos e internacionais que vivemos.
Esse distanciamento entre o Direito e a Ciência Política ocorrido por um curto período de
tempo não durará muito. Com a dinâmica do mundo atual de globalização, as dependências
entre as disciplinas tem-se tornado mais comum, sendo necessário um conhecimento mais
amplo do pesquisador ao estudar determinados fenômenos sociais.
A procura do Poder Judiciário é crescente e faz com que ele tenha que se posicionar
sobre questões políticas, resultando no fenômeno da Judicialização da Política. Tal fenômeno
consiste em uma busca aos membros do Judiciário para que sejam cumpridos ditames
previstos na Constituição mas não efetivados pelos membros do Poder Legislativo e Executivo.
Conforme dito por Carvalho e Leitão (2013), isso torna o judiciário como uma terceira câmara
legislativa, com enorme poder e influência na agenda política brasileira.
Além de que, o Judiciário passou a exercer um papel tão significativo na arena política
que os seus atores barganham interesses e preferências ao se relacionar com os membros dos
outros poderes, sendo importante ter esse conhecimento de redes compartilhadas ao estudar e
pesquisar questões jurídicas (CARVALHO; LEITÃO, 2013).
Diante de tal situação, podemos observar que voltam-se a interligar os estudos jurídicos
e políticos. Assim, o estudo da Judicialização da Política tem ocorrido principalmente na seara
da Ciência Política, devido à dificuldades conceituais e teóricas existentes no campo jurídico.
Portanto, a maioria dos trabalhos sobre o temas têm se originado nos Programas de Pós-
Graduação em Ciência Política, retornando os laços entre juristas e cientistas políticos.
Assim, necessita-se do entrelaçamento das duas disciplinas para que se possa ter uma
compreensão do fenômeno e realizar os devidos níveis de análises pretendidos nas respectivas
pesquisas. Por causa desse distanciamento referido no início de nosso trabalho, os cientistas
políticos dominaram a área de estudo, tendo os juristas apenas uma pequena participação nos
estudos do fenômeno. Para compreender o fenômeno da judicialização da política, como
exemplo que pretendemos analisar, é adequado um conhecimento jurídico e político da
situação para que sejam capazes de realizar pesquisas com explicações adequadas e
consistentes à um nível de análise.
Ainda, há questões jurídicas que não conseguem ser explicadas apenas com um viés
político, como por exemplo, alguns trabalhos da Ciência Política europeia que estuda o Poder
Judiciário têm tido algumas dificuldades em traçar o perfil dos magistrados. Todavia, nem o
Direito nem a Ciência Política possuem capacidades teóricas e metodológicas para traçar esse
perfil, tendo que recorrer à Sociologia e Antropologia.
Para não citarmos apenas questões políticas, podemos citar também a dependência da
Ciência Política à questões econômicas, como os estudos sobre desigualdade e redistribuição
de renda que vem aumentando no campo e necessita de um entendimento mais amplo sobre
questões econômica e tributárias (BLOFIELD, 2011). A Ciência Política não consegue explicar
fenômenos de forma isolada, sempre se faz necessários abordagens complementares para que
suas explicações se tornem mais completas e consistentes.
É importante ressaltar que, não pretendemos aqui defender uma junção das duas
disciplinas, ao contrário, acreditamos que ambas devem ter sua metodologia e cientificidade
própria, com seus respectivos ramos, no entanto, o distanciamento que nos incomoda é o fato
de cada vez mais os trabalhos de uma área ignorarem a existência dos da outra. Em um mundo
dinâmico, interdependente tal postura não é admissível em uma ambiente acadêmico de
reconhecimento e inovação.
5. Contribuições da pesquisa
Nosso intuito inicial é alertar para o problema existente, haja vista à ausência de
trabalhos e pesquisas na área de ambas disciplinas sobre a questão dos caminhos divergentes
que vêm seguindo. Todavia, além de alertar e trazer o problema ao debate acadêmico, também
pretendemos trazer contribuições para a área através de algumas sugestões à formação do
ensino superior jurídico.
Acreditamos que um estudante de Direito deve além de ter uma base sobre a Ciência
Política e a Teoria Geral do Estado que são essenciais à sua formação, deve também ser
ensinado sobre as ligações políticas e econômicas que permeiam a instituição do Poder
Judiciário e suas relações com os outros dois poderes. Ou seja, eles devem à medida de seus
estudos em Direito Constitucional, Direito Administrativo, dentre outros, estudar questões atuais
com um viés tanto jurídico como político. Não basta apenas que aprendam as formalidades e os
regramentos do ordenamento jurídico, eles devem ser capazes de pensar um problema político
que se correlaciona de alguma forma com as questões jurídicas, como diversas questões que
vemos no dia a dia através da mídia.
Um jurista que apenas consiga pensar e discutir questões formais jurídicas torna-se
obsoleto e distante da realidade brasileira. Assim, deve ser capaz de analisar as instituições
jurídicas de forma a entender sua dinâmica, suas relações além das regras e formalidades,
tendo a consciência do impacto institucional, histórico e comportamental que os atores ali
inseridos podem causar no resultado a ser estudado.
Com a crescente atenção ao Poder Judiciário, se torna cada vez mais comum a
intervenção desse poder em questões de políticas públicas, pois, na inércia dos demais
poderes, quando acionado é ele quem decide como ela irá ocorrer. Assim, os juízes estão
formulando políticas públicas, discutindo questões políticas, atuando de forma legislativa. Nada
mais do que essencial à sua formação é o conhecimento dessas questões políticas e de como
ocorrem as relações de barganha do poder judiciário com os demais poderes.
Um verdadeiro acadêmico e professor deve ter essa visão e levar essas questões
contextuais à sala de aula com o incentivo de gerar o debate jurídico e político, pois, é através
de discussões que se avança em termos científicos e acadêmicos. Ora, é mais do que visível a
importância dos praticantes juristas, que conseguem modificar a interpretação dos magistrados
das legislações através de argumentos e retórica. Dessa maneira, é evidente a importância do
debate político dentro das instituições jurídicas como forma de avançar na formação e criação
das regras, na formulação de políticas públicas e nas relações de barganha entre o poder
judiciário e os demais poderes.
Recentemente, a Ciência Política brasileira vem dando maior destaque aos estudos do
Poder Judiciário e de suas instituições. É comum cada vez mais nos Congressos de Ciência
Política, a existência de grupos temáticos sobre a questão, estimulando os estudantes e
profissionais da área a pensar no problema e desenvolver trabalhos para discutir e enriquecer
as explicações e compreensões sobre essas questões. Tanto é, que o fenômeno da
judicialização da política tem sido e continua sendo bastante debatido e com trabalhos de
grandes avanços no entendimento do funcionamento de nossas instituições jurídicas.
A partir das discussões realizadas e das sugestões dadas, esperamos que possamos
atrair a atenção para o debate dessa questões, com vistas à contribuir para a pesquisa e o
ensino político e jurídico brasileiro. Portanto, acreditamos ser interessante o diálogo tanto entre
a Ciência Política com outras áreas como a Economia, a Sociologia, a Antropologia, mas
principalmente defendemos aqui com o Direito e suas instituições jurídicas devido ao relevante
avanço nas pesquisas sobre o Poder Judiciário.
6. Conclusões
Através da pesquisa empírica, tivemos como objetivo chamar atenção para o tema,
criando esse espaço de debate. Porém, sabemos da limitação da pesquisa devido ao pequeno
número da amostra, que se refere apenas à cidade do Recife. Dessa forma, acreditamos que
esse debate precisa ainda ser maior, com análises a nível nacional e comparativas com outros
países e regiões.
Dessa forma, não tivemos o intuito de exaurir o tema, mas apenas iniciar esse debate,
não discutido nas áreas de pesquisa nem de Ciência Política e nem do Direito. Por isso, ao
trazermos uma nova visão aos trabalhos de pesquisa, esperamos que possamos contribuir de
alguma forma ao desenvolvimento do debate acadêmico e científico.
Depois, debatemos às consequências desse distanciamento, que com a expansão do
Poder Judiciário resultou em um fenômeno conhecido como judicialização da política, que vem
resultando em trabalhos de cientistas políticos, haja vista os juristas não possuírem o poder de
análise político das instituições judiciais e do comportamento dos atores envolvidos sobre o
tema. Assim, é necessário o entrelaçamento das duas disciplinas para que se possa ter uma
compreensão do fenômeno e realizar os devidos níveis de análises pretendidos nas respectivas
pesquisas.
Ainda, sugerimos algumas mudanças acadêmicas que podem ser feitas pelos
professores dos cursos de Direito. Haja vista ao diminuto espaço das disciplinas direcionadas à
Ciência Política, seria interessante se eles direcionassem o debate de questões atuais e
recorrentes na seara jurídica aos enfoques políticos. Ou seja, não apenas lecionar sobre
questões formais e regramentos, mas também alertá-los sobre como essas normas e
instituições impactam na vida política, como ocorre as relações entre os atores envolvidos, para
que assim, sejam capazes de compreender o por quê de uma decisão judicial ou de uma
legislação gerada.
Um verdadeiro acadêmico e professor deve ter essa visão e levar essas questões
contextuais à sala de aula com o incentivo de gerar o debate jurídico e político, pois, é através
de discussões que se avança em termos científicos e acadêmicos.
Referências
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