Você está na página 1de 4

Marcuschi (1989:28) apresenta um resumo de actos que ameaça as faces:

1. Actos que ameaçam a face positiva do interlocutor: desaprovação, insultos,


acusações.
2. Actos que ameçam a face negativa do interlocutor: pedidos, ordens, elogios.
3. Atos que ameaçam a face positiva do locutor: auto-humilhação, auto confissões.
4. Actos que ameaçam a face negativa do locutor: agradecimentos, excusas,
aceitação de ofertas.

O primeiro – relação de poder- refere-se ao poder relativo do interlocutor sobre


o locutor. De um modo geral, um acto ameaçador é mais grave quando o locutor
possui menos poder que o interlocutor.

1. Estratégias de cortesia positiva: são orientadas para a face positiva do interlocutor.


A cortesia positiva possibilita a aproximação e a solidariedade. Brown e Levinson
(1987:102) apresentam as seguintes estratégias:

a) Veicular que o interlocutor é admirável, interessante:

estratégia 1 – dar atenção aos interesses, necessidades, desejos e qualidades do


interlocutor;

estratégia 2 – exagerar a aprovação, a simpatia;

estratégia 3 – intensificar o interesse.

b) Reivindicar o acolhimento do grupo;


c) Reivindicar aspectos em comum, como ponto de vista, opiniões, atitudes,
conhecimentos, empatia:
estratégia 4 – usar marcas de identidades do grupo;
estratégia 5 – buscar concordância;
estratégia 6 – evitar discordância;
estratégia 7 – pressupor, levantar terreno em comum;
estratégia 8 – fazer “brincadeiras”.
d) Veicular que o locutor e interlocutor são cooperativos.

estratégia 9 – declarar ou pressupor o conhecimento do locutor concernente aos


desejos do interlocutor;
estratégia 10 – fazer ofertas;
estratégia 11 – manifestar atitude de optimismo;
estratégia 12 – incluir locutor e interlocutor na actividade,
estratégia 13 – apresentar (ou perguntar por) razões;
estratégia 14 – assumir ou declarar reciprocidade;
e) Satisfazer o desejo do interlocutor:
estratégia 15 – dar “presentes” ao interlocutor (simpatia, cooperação).

2. Estratégias de cortesia negativa: estão, essencialmente, orientadas para a


protecção da face negativa e, consequentimente, para a necessidade básica de
manter o território do interlocutor e de não interferir na liberdade de acção. Consiste
em demonstrar ao interlocutor respeito pela sua face e o propósito de não limitar a
sua liberdade de acção. A cortesia negativa enfatiza a distância e diminui o peso da
solidariedade. Brown e Levinson (1987:129-131) apresentam as seguintes
estratégias:

a) Não ser directo:

estratégia 1 – ser convencionalmente indirecto;

b) Não presumir ou assumir; minimizar o que se assume sobre os desejos do


interlocutor:
estratégia 2 - utilizar perguntas e rodeios.
c) Não forçar o interlocutor e dar opção de não fazer o que se pede:
estratégia 3 – adoptar atitude pessimistas;
estratégia 4- minimizar a imposição;
estratégia 5 – manifestar diferência;
d) Ao comunicar os desejos, não fazer imposição ao interlocutor, disssociando-o da
violação:
estratégia 6 – desculpar-se, justificar-se;
estratégia 7 e 9 – impessoalizar locutor e interlocutor;
estratégia 8 – colocar o acto de ameaça à face como regra geral.
e) Reparar outros desejos, derivados da face negativa:
Estratégia 10 – não colocar o interlocutor em débito.
Resolução dos Exercícios

1. A noção de cortesia engloba estratégias que visam a minimizar os efeitos de um acto


ameaçador da face (FTA).
a) Com base nos conhecimentos que tem sobre as estratégias de cortesia, dê um exemplo
de cortesia positiva e outro de cortesia negativa.
b) Diga em que consiste a estratégia usada em cada exemplo por si fornecido.

A estratégia de cortesia positiva consiste em satisfazer parcialmente as aspirações do


interlocutor, dando a entender que há desejos comuns.

Manifestar a atenção ao interlocutor; exagerar na aprovação e simpatia pelo


interlocutor; manifestar interesse pelo interlocutor; mostrar que você entende o que ele
diz, evitar discordância; dar ou pedir razões, justificar-se.

1.a) Exemplo: Não sei o que seria de mim sem as tuas dicas.

1.b) A estratégias usada em a) consiste em Dar atenção as qualidades do interlocutor,


mostrando-se assim que as suas dicas são muito valiosas, valorizando a sua face
positiva.

1.a) Exemplo: Você anda sempre descalço, amanhã compro-te umas sandálias.

1.b) A estratégias usada em a) consiste em Observar e priorizar os desejos do


interlocutor; Notamos assim que o locutor responde a uma necessidade do seu
interlocutor que anda descalço.

1.a) Exemplo: Pai dizendo ao filho que acaba de completar 18 anos de idade “Podes
fazer o que bem entender, você já homem.

1.b) A estratégias usada em a) consiste em Exagerar na aprovação, o pai mesmo


sabendo que com 18 anos ninguém é totalmente independente ele concede uma aparente
liberdade ao filho.

A estratégia de cortesia negativa ocorre quando empregamos expressões que evitam


imposições ao interlocutor, como o desejo de não se querer comprometer com o outro.
Ser convencionalmente indirecto; não se comprometer; ser pessimista, mostrar
deferência, pedir desculpas, oferecer compensações.

1.a) Exemplo Numa conversa entre amigos: Por mais que tentes, nunca irás conseguir
ser presidente da república.

1.b) A estratégias usada em a) consiste em Ser Pessimista, notamos que o locutor adopta
uma atitude pessimista a interlocutor

2.a) Sob o ponto de vista de preservação da face dos interactantes, comente a inteiração do
patrão e empregado, abaixo apresentada. Indique as faces dos interlocutores em causa e as
respectivas expressões que as põe em causa.

Olegário (irritado): Você pára ou não pára de mascar essa porcaria? Tire isso da boca!

Humberto (parando e olhando para o tecto): Eu estava distraído!

Olegário (irritado): Estou começando a desconfiar que você não é motorista. E quando
cismo numa coisa, dificilmente erro!

Humberto (entre misterioso e sardónico): O senhor acha então que eu não sou …
motorista? (noutro tom): Quer ver a minha carta de condução?

Olegário (insistente): Você não tem carta de condução!...

2.a) R: No exemplo acima, notamos que é uma discussão de patrão e empregado. Nota-se

também que Humberto, mesmo num momento de tensão, respeita a relação de poder entre ele e

Olegário e evita ameaçar face positiva deste, tratando-o formalmente por senhor, para não

evadir o território pessoal do patrão e demonstrar assim quem é superior na hierarquia; enquanto

que o patrão; Olegário, evidenciando a relação assimétrica que tem com o empregado, preserva

a própria face positiva (a de boss, a de ser respeitado), ameaçando assim a face negativa de

Humberto, desaprovando a atitude deste mascar algo na sua presença, e trata-o por você. Assim

notamos que Humberto não tem nenhuma liberdade de acção perante o patrão, a sua face

negativa encontra-se ameaçada.

Você também pode gostar