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ESCOLA SUPERIOR DE SANTA MARIA

LICENCIATURA EM ENFERMAGEM 1/41


SOCIOANTROPOLOGIA

1. NATUREZA, SOCIEDADE E CULTURA: A UNIDADE DO SOCIAL E A


DIVERSIDADE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS.

1.1. O aparecimento das ciências sociais.

O objetivo comum a todas as ciências sociais é conhecer a realidade.


Mas que conhecimento é este, produzido pela ciência? Não é como qualquer
outro. Sobre ele podemos afirmar que, é mais do que uma crença e (…)
constitui uma elaboração / combinação da “teoria” e da “experiência”, da
dedução e da observação sistemática – possui menos de quatrocentos anos de
vida (A. S. Silva & Pinto, 1997). É uma criação da civilização europeia que
permitiu o desenvolvimento de instituições e das aplicações tecnológicas que
hoje conhecemos.

Assim, a ciência é uma representação intelectualmente construída, da


realidade. Cada disciplina só acede ao estatuto de ciência quando constrói o
seu objeto próprio. Deve delimitar um conjunto de problemas solucionáveis e
passa a situar-se num nível de abstração e generalidade que lhe permite
estabelecer regularidades, formular leis, construir modelos interpretativos.
Como consequência, a ciência procura soluções para os problemas (estas
soluções surgem frequentemente como novos problemas). Testa conceitos e
relações entre conceitos (as teorias), testa a linguagem adequada a utilizar, as
técnicas para recolha de informação e os métodos de pesquisa.

Há dois grandes princípios, inerentes a qualquer ciência social:

- Primeiro, os homens são seres sociais. As suas ações desdobram-se em


práticas materiais e simbólicas, em relações com a natureza e em relações
com outros homens agrupando-se a diversos níveis, desde a família, até às
diversas organizações familiares. Através das suas práticas criam instituições,
modos de conduta que ocorrem e se reproduzem ao longo do tempo.

- Nos últimos duzentos anos forma-se a noção de sociedade, diferenciando-se


de outros conceitos que existiam há mais tempo, como o de civilização, o de

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política e o de moral. A sociedade define-se então como uma ordem laica,


passível de ser quantificável e sujeita a mudanças, mudanças sociais. No início
do século XIX, nasce a consciência de que as estruturas sociais são
autónomas e diferentes das individuais. Estabelece-se desta forma o segundo
princípio das ciências sociais: o social é irredutível ao individual.

Paralelamente, outros fatores influenciam o desenvolvimento das


ciências sociais, nomeadamente os fatores intelectuais, os institucionais e os
sociais. Tem sido importante a dinâmica e o impacto das ciências exatas, do
saber lógico-matemático, físico e biológico que elaborou um modelo científico
que serviu de ponto de partida para as ciências sociais. A industrialização
provocou mudanças radicais na vida quotidiana, provocando processos
migratórios e criando novos estilos de vida. Assistimos à urbanização das
sociedades, ao crescimento populacional, às revoluções liberais e ao
surgimento de movimentos operários. As disciplinas de economia, de história,
de antropologia, de geografia, de demografia e de sociologia, tornam-se
ciências sociais.

O modelo de desenvolvimento das ciências varia em função das


caraterísticas dos Estados, das relações de força entre grupos sociais, das
organizações universitárias, das dinâmicas económicas e das ideologias. O
modelo de desenvolvimento científico que tem dominado as sociedades
ocidentais, é apresentado pela Inglaterra, pela França, pela Alemanha e pelos
Estados Unidos da América. A primeira ciência social a aparecer enquanto tal,
ainda no século XIX, é a economia. Elabora primeiramente, modelos teóricos e
formalizações lógico-matemáticas complexas e posteriormente, assume-se
definitivamente com o aparecimento da macroeconomia e com a integração
universitária do marxismo. Já no século XX, surge a história com um saber há
muito divulgado nas instituições de ensino, seguida da sociologia. Já depois da
Segunda Guerra Mundial, aparecem a geografia e a antropologia.

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1.2. A unidade do social e o fenómeno social total.

As ciências são agrupadas, nos anos sessenta, em ciências lógico-


matemáticas, em ciências físicas, em ciências biológicas e em ciências
psicossociológicas (Nunes, 1996). Os três primeiros conjuntos são constituídos
por ciências unitárias pois a cada uma delas está associado um corpo teórico
central, a partir do qual surgem as respetivas especializações. As físicas e as
biologias especializadas, por exemplo, pressupõem uma física e uma biologia
fundamentais, ainda que se possam enriquecer entre si. No que diz respeito às
ciências sociais não se pode dizer o mesmo. Nenhuma das ciências sociais
desempenha o papel de ciência fundamental, como acontece nas ciências
exatas.

A realidade das ciências sociais é uma só: é a condição humana. A partir


da noção de unidade do objeto real destas ciências, Marcel Mauss cria, na
década de 1920-30, o conceito de fenómeno social total. Cada ciência social
não investiga um fenómeno separado de uma outra ciência. No domínio do
social e do humano não existem campos da realidade que se separam uns dos
outros. O campo da realidade social é um só e todos os fenómenos são
fenómenos sociais totais, ou seja, têm implicações simultaneamente em vários
níveis e em várias dimensões da realidade. Qualquer fato, quer ocorra em
sociedades arcaicas quer em modernas, é sempre complexo e pluridimensional
(A. S. Silva & Pinto, 1997, p. 17). Pode por isso, interessar a todas as ciências
sociais.

Sedas Nunes (1996) dá o exemplo das classes sociais. Interessam à


economia porque é a partir das relações económicas que as classes sociais se
constituem e porque a distribuição de rendimentos, o jogo da oferta e da
procura resultam da ação individual e coletiva que varia em função do espaço
social em que se insere. Interessam à demografia porque a natalidade, a
mortalidade, a dimensão média das famílias variam consoante a posição social
dos indivíduos. A geografia humana verifica que a ocupação do espaço varia
em função da classe social. A linguística estuda as diferenças das expressões
utilizadas em cada classe social. A psicologia estuda o indivíduo ao longo da
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sua vida, sujeito à influência da sua condição social.

A economia, a psicologia ou a sociologia distinguem-se não porque na


realidade haja factos exclusivamente económicos, psicológicos ou sociais, mas
porque partem de perspetivas diferentes. As ciências sociais estudam a mesma
realidade sob diferentes perspetivas e diferenciam-se entre si segundo quatro
fatores: os objetivos, a natureza dos problemas de investigação, os critérios
utilizados pelos investigadores e os métodos e técnicas de pesquisa. O
objetivo ou o fim da investigação vai determinar a escolha dos restantes fatores
sendo por isso muito importante na diferenciação das ciências sociais. Algumas
ciências privilegiam uns domínios em relação a outros, como é o caso da
história e da antropologia, em relação à sociologia, mas são diferenças
secundárias. Na verdade, as fronteiras entre as várias disciplinas sociais, são
ténues e flutuantes.

1.3. A sociologia.

No início do século XIX, Augusto Comte inventa a palavra sociologia


depois de entender que o conceito de “física social” era insuficiente para
descrever o que estudava. A visão sociológica deste autor, foi a da ciência
positiva (Giddens, 2005). Ele acredita que a sociologia deve aplicar os mesmos
métodos científicos rigorosos à sociedade que a física ou a química utilizam no
mundo físico. Esta abordagem positivista da sociologia, acredita na produção
de conhecimentos baseada em evidências empíricas tiradas a partir da
observação, da comparação e da experimentação. Comte cria a lei dos três
estágios: o teológico, o metafísico e o positivo. No primeiro, os pensamentos
são guiados por ideias religiosas e pela crença de que a sociedade é uma
expressão da vontade de Deus. No estágio metafísico, a sociedade é vista em
termos naturais que substituem a visão sobrenatural. No estágio positivo,
aplicam-se as técnicas científicas ao mundo social.

Nos finais do século XIX, Marx afirma que o importante é analisar as


relações sociais entre os homens, a todos os níveis de ação, económico,
político e ideológico. As suas ideias contrastam com as de Comte. Para Marx,

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as mudanças sociais que ocorrem ao longo de todo o desenvolvimento


industrial, estão associadas ao capitalismo. Nas empresas capitalistas há dois
elementos chave: o capital e a mão-de-obra assalariada. O primeiro anda de
mãos dadas com a segunda, mas é propriedade dos capitalistas: a classe
dominante. A mão-de-obra assalariada que Marx define como classe
trabalhadora, é a classe dominada, também chamada de proletariado. Neste
sistema de classes sociais, há sempre conflitos que se agravam com o correr
do tempo, porque entre as classes há uma relação de exploração. Esta é a
conceção materialista da história, uma história de lutas de classe.

Posteriormente, entrando já no século XX, Émile Durkheim elabora as


primeiras regras metodológicas sistemáticas. Os seus estudos são uma
continuidade dos estudos de Comte e tiveram um impacto muito mais
duradouro do que aquele. Acredita que é possível estudar a vida social com a
mesma objetividade com que os cientistas estudam o mundo natural. Durkheim
cria os “factos sociais” e define-os como meios de agir, pensar ou sentir que
são externos aos indivíduos e têm a sua própria realidade fora das vidas e das
perceções dos indivíduos. Os factos sociais exercem um poder coercivo sobre
estes. Um dos estudos mais famosos deste autor é sobre um destes factos
sociais: o suicídio. Nele, Durkheim descreve que as diferentes taxas de suicídio
têm explicações sociológicas. Por exemplo, ao examinar os registos oficiais do
suicídio em França, descobriu que havia mais suicídios entre os homens, do
que entre as mulheres; entre protestantes, do que entre os católicos; entre os
ricos, do que entre os pobres; e entre os solteiros do que entre os casados. A
explicação que encontrou para este fenómeno está associada à ideia de
solidariedade social e a dois tipos de laços dentro da sociedade: a integração
social e a regulação social. Assim, quanto mais integradas as pessoas estão,
menos predisposição têm relativamente ao suicídio. Em função desta
explicação, Durkheim define quatro tipos de suicídio: egoísticos, cometidos por
indivíduos com baixa integração social; o anómico, causado pela falta de
regulação social (tempos de revolução, ou de disputas pessoais, como é o
caso dos divórcios); o altruístico, que ocorre quando há uma excessiva
integração social (como é o caso dos kamikaze); e o fatalista, que ocorre nos
casos de uma regulação social excessiva (por exemplo, a opressão).
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Max Weber, aparece um pouco mais tarde, solidifica a sociologia


enquanto ciência social, acrescentando-lhe a análise da interação e do sentido
da ação. Procura entender a natureza e as causas da mudança social. Ao
contrário de Durkheim ou de Comte, não acredita que as estruturas existem
independentemente dos indivíduos. A sociologia deve concentrar-se na ação
social e não naquelas estruturas e compreender o significado daquela ação.
Weber define o conceito de tipo-ideal como um conjunto de modelos para
compreender o mundo, que raramente, ou nem sempre, existem na realidade.
São úteis em termos comparativos entre a teoria e a prática.

A sociologia é o estudo da vida social humana, dos grupos e das


sociedades (Giddens, 2005). Aprender a pensar sociologicamente, significa
cultivar a imaginação. Estudar sociologia ou antropologia não é uma rotina
simples para adquirir o conhecimento de um fenómeno social. Um sociólogo é
alguém que é capaz de se libertar das circunstâncias pessoais e ir mais além.
O trabalho sociológico, assim como o do antropólogo, dependem da
imaginação do investigador. Em sociologia, fala-se da imaginação sociológica1.
Temos de pensar fora das nossas rotinas familiares. Por exemplo, o ato de
tomar café, a partir do ponto de vista sociológico, representa muitas coisas. Em
primeiro lugar, tem um valor simbólico que vai para além de tomar uma bebida.
No ocidente, representa o início do dia, com o café da manhã e depois, durante
o dia, é um ritual social, sinónimo de companhia, motivo de reunião de amigos
ou colegas que estão mais interessados em marcarem uma hora para estarem
juntos, do que tomarem o café. Em segundo lugar, é uma droga socialmente
aceite, pois contém cafeína e tem um efeito estimulante sobre o cérebro. As
pessoas bebem-no frequentemente para se manterem acordadas a trabalhar.
Em terceiro lugar, o ato de tomar café está inserido num contexto muito mais
global: ele une os países ricos que o consomem aos países pobres que o
produzem. Ao lado do petróleo, o café é uma das mercadorias mais valiosas do
mercado internacional. E era possível continuar as representações sociais do
café, indo até ao legado colonial, à sua politização. A imaginação sociológica

1
Termo criado pelo norte-americano C. Wright Mills, em 1970.
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permite-nos ver o que outros não veem. O divórcio, ou o desemprego


representam graves problemas pessoais para quem os sofre mas são
sobretudo fenómenos sociais, nas sociedades ocidentais.

1.3.1. A investigação na sociologia.

O objeto de estudo da sociologia é o estudo dos fenómenos sociais em


toda a parte, num tempo presente, com a intenção de produzir conhecimento
fiável sobre as relações sociais dos indivíduos e dos grupos sociais. Hoje, para
a sociologia, são problemas centrais os fundamentos da ação, os processos de
socialização, os conflitos e a mudança e os movimentos de integração e
exclusão social. A análise sociológica investiga os variados modos como as
ações dos homens são condicionadas por relações estabelecidas ao nível dos
grupos e organizações em que se inserem e cujas características elas próprias
produzem e reproduzem (e transformam): as famílias, os círculos de
vizinhança, as coletividades locais, os meios profissionais, os aparelhos
institucionais, os Estados, as sociedades-nações (S. Silva & Pinto, 1997, p.21).

A sociologia estuda os fenómenos sociais. A sua atividade pode ser por


um lado descritiva e/ou por outro lado explicativa. Ocupa no campo científico
um lugar importante entre as disciplinas de teor dedutivo e as que não têm a
atividade descritiva desenvolvida. A produção sociológica atual inclui
observações, descrições, explicações, interpretações, críticas e elucidação
sobre tendências da realidade social. Alguns sociólogos, efetuam estudos mais
gerais, estatísticos, sem qualquer tipo de interpretação ou de manipulação
(dados brutos) que podem ser mais ou menos interessantes. Outros constroem
teorias à volta de dados recolhidos, explicam e interpretam estes dados porque
entendem que a sociologia é um meio de informação. Para Pierre Bourdieu, a
sociologia permanece um dos mais fortes instrumentos do nosso
autoconhecimento, enquanto seres sociais e proporciona alguns dos mais
eficazes meios de acesso à liberdade (1996).

Para a sociologia é de extrema importância o conceito de espaço social,


de espaço simbólico e de habitus. Nunca são noções analisadas por si

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mesmas mas sempre aplicadas à investigação teórica e empírica. A ideia de


aplicação destes conceitos a uma realidade empírica é particularmente vincada
por Bourdieu (1996) que afirma que só assim se pode apreender a lógica do
mundo social. O espaço social é definido como um conjunto de posições
distintas e coexistentes, exteriores umas às outras, definidas umas por
referência às outras, pela sua exterioridade mútua e por relações de
proximidade, de vizinhança ou de afastamento e também por relações de
ordem, como acima, abaixo e entre (Bourdieu, 1996, p. 7). O espaço social
está construído de tal maneira que os agentes ou os grupos se distribuem nele
em função da sua posição que varia segundo dois princípios de diferenciação,
nas sociedades ocidentais: o capital económico e o capital cultural. Os agentes
sociais têm tanto mais em comum quanto mais próximos estão nestas duas
dimensões. A cada classe de posições na sociedade corresponde uma classe
de habitus (ou de gostos) produzidos pelos condicionalismos sociais. Os
habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas por
exemplo, o que um operário come e a sua maneira de comer, o desporto que
pratica e a sua forma de o praticar, não são iguais às do seu patrão. São
também esquemas classificatórios, princípios de visão e de divisão, de gostos,
diferentes. Estabelecem-se assim diferenças entre o que é bom e o que é mau,
o que está bem e o que está mal, o que distinto e o que é vulgar. Desta forma,
o mesmo comportamento pode parecer bem a uma pessoa, pretensioso a uma
outra e vulgar a uma outra pessoa.

Os indivíduos são portadores de um determinado habitus onde o capital


simbólico se apresenta como fundamental para a perceção da posição social
que o habitus permite atingir. Este capital pode ser qualquer propriedade
(física, económica, cultural ou social) que seja percebida por um conjunto de
atores sociais que a reconhece como tendo valor (por exemplo, a honra, “…sob
compromisso de honra”).

A sociologia é uma ciência, a partir do momento em que adquire um


sistema de hábitos intelectuais, ou seja, uma metodologia. Apesar da
investigação ter sempre uma referência direta e constante à experiência de
cada um, é a partir do respeito pelos princípios metodológicos que se pode

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afirmar que um trabalho é sociológico, é científico. Bourdieu, Chamboredon e


Passeron (1983) efetuam um trabalho sobre a investigação sociológica que
estabelece os três princípios da sociologia: a rutura com o senso comum, a
construção teórica do objeto científico e o racionalismo aplicado (verificação
das hipóteses, ou experimentação).

Apesar de terem uma sequência lógica ao longo da pesquisa, não são


atos isolados e devem estar presentes em todas as etapas de um trabalho de
investigação. Nas ciências sociais não devemos pensar que é possível
estabelecer verdades definitivas, nem tentar adotar um rigor semelhante ao dos
físicos ou dos biólogos. O conhecimento constrói-se com o apoio de quadros
teóricos e metodológicos explícitos, lentamente elaborados, que constituem um
campo parcialmente estruturado. Trata-se de um conhecimento apoiado numa
observação de fatos concretos.

1.3.1.1. A rutura com o senso comum.

Uma ciência, representa uma outra maneira de ler o real, diferente da do


senso-comum. Uma mesa para um físico é um aglomerado de átomos, uma
mesa para qualquer pessoa é o local para comer ou escrever. O objeto real, a
mesa é o mesmo, mas o objetivo concetual é diferente e depende de dois
códigos diferentes de leitura: o código do senso-comum e o código da ciência
física. Qualquer ciência pressupõe o corte com as evidências do senso-comum.
A ilusão da transparência, da familiaridade do social – que autoriza a produção,
a baixo preço, de sociologias ou economias “espontâneas” – representam os
mais poderosos obstáculos à análise científica (A. S. Silva & Pinto, 1997, p.
30).

Os factos humanos são sempre fatos interpretados, o que os distingue


dos eventos físicos, ou seja, a consciência dos atores é o elemento
constitutivo, decisivo do mundo social. Por isso é importante conhecer as
representações coletivas, quotidianas da sociedade.

A oposição entre a ciência e o senso comum, é uma oposição relativa


pois não ocorre só entre a conceção espontânea dos factos e a sua conceção
especializada. Há também uma oposição no interior do meio científico porque

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os cientistas são portadores de pressupostos ideológicos e inserem-se num


determinado espaço social que os influencia, o que pode ser um obstáculo ao
conhecimento.

Há obstáculos epistemológicos que derivam da nossa natureza, ou seja,


os fatos sociais são explicados a partir de fatores naturais (físicos, biológicos,
ou psicológicos). São fatores inerentes à natureza humana, que podem ser
entre outros a natureza de um povo, de uma área geográfica, de uma raça, ou
de cada um dos sexos. A explicação dos fenómenos sociais através de fatores
naturais, é uma negação do que está subjacente a todas as ciências sociais
que é a explicação do social pelo social.

Por exemplo, por vezes diz-se que as pessoas que frequentam museus
possuem certos dons, dotes artísticos, um certo gosto estético e que por isso
as diferenças na frequência de museus se devem a diferentes aptidões que
são naturais. Trata-se de uma explicação que não tem em conta os fatores
económicos, educacionais ou familiares mas sim caraterísticas da natureza
humana. Outro exemplo pode ser dado, quando se diz que as diferenças
biológicas entre homens e mulheres levam a diferentes comportamentos, uns
“naturalmente” femininos, outros “naturalmente” masculinos. Desta forma se
explicam factos culturais com caraterísticas da natureza (física ou biológica).

Está provado por inúmeros estudos antropológicos, sociológicos e


históricos que as explicações biológicas das relações entre os sexos ou entre
raças são falsas, pois estas variam segundo os contextos sociohistóricos e são
determinadas por eles. Há uma grande tentação de extrapolar teorias
construídas em pesquisas sobre animais, para o domínio do homem e da
cultura, o que provoca algumas ambiguidades.

A relação entre a natureza e a diversidade dos contextos sociais está


sempre presente quer no senso comum, quer na investigação das ciências
sociais, sendo prejudicial ao conhecimento científico. No entanto, foi aceite por
muitos cientistas fazendo surgir uma nova disciplina, a sociobiologia. Por
exemplo, Kingsley Browne, explica da seguinte forma o sucesso atual dos
fatores sociais, a propósito das diferenças sexuais biológicas: (…) a diferença
em questão encontra as suas causas na própria socialização, (…) por essa
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razão não encontra desafios, enquanto que o testemunho de causas


biológicas, normalmente provoca uma atitude céptica e a necessidade de
provas (Browne, 2002, p. 11).

Do ponto de vista das ciências sociais, as condicionantes biológicas


representam um dado continuamente utilizado e transformado pela sociedade.
O homem está em permanente tensão com os seus limites biológicos. Por
exemplo, a sexualidade constitui um imperativo biológico mas as formas de
comportamento sexual são culturalmente determinadas e podem ir contra
“aparências” físicas. A ação humana depressa transforma atributos biológicos
em factos sociais (por exemplo, a morte é natural mas os rituais – funerais,
danças festivas, etc. - associados a ela, são culturais).

O caso das escolhas de cursos universitários:

Em Portugal, a maioria das raparigas escolhe cursos de letras, medicina,


ciências exatas e naturais, e os rapazes preferem as tecnologias, a economia e
a gestão a medicina e o direito (A. S. Silva, 1984)2. À primeira vista, pode dizer-
se que estas escolhas se devem a fatores naturais: os homens são mais ativos,
empreendedores, técnicos e as mulheres, mais afetivas menos preparadas
para as posições de decisão económico-social, são mais para profissões que
exigem qualidades afetivas e naturalmente escolhem as áreas de ensino e
certas especialidades da medicina.

No entanto, é fácil demonstrar que as escolhas têm a ver com diversas


condições sociais e não com diferenças biológicas. Isto porque se fossem
escolhas associadas a fatores naturais deveriam generalizar-se, o que não
acontece. Ao longo dos últimos anos, as mulheres têm entrado de forma
crescente para cursos tradicionalmente frequentados sobretudo por homens. O
que se explica sociologicamente por um conjunto de fatores associados às
condições sociais, às trajetórias de vida, à socialização dos indivíduos e à
estrutura da oferta dos cursos universitários.

Outro obstáculo ao conhecimento científico, é o etnocentrismo. Implica


duas atitudes intimamente relacionadas: a sobrevalorização do grupo e da

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As estatísticas são de 1977/78.
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cultura local, regional, nacional ou transnacional a que pertencem os


indivíduos; e a correlativa depreciação das culturas e das organizações sociais
diferentes. Na verdade, trata-se de termos o “eu”, ou o “nós” como referência,
numa posição superior aos outros. O etnocentrismo pode não ser consciente. É
fácil contrariar o racismo, o fanatismo, com princípios de igualdade e teorias de
proteção de direitos humanos. É mais difícil contrariar formas implícitas de
etnocentrismo que se exprime por preconceitos de toda a espécie. Tanto o
primeiro obstáculo ao conhecimento, como o segundo, constituem processos
etnocêntricos. O naturalismo impõe valores de um determinado grupo, como se
fizessem parte da natureza humana e o individualismo impõe a posição do
indivíduo a todo um universo alargado de indivíduos.

Um exemplo de uma disciplina que está sujeita a atitudes etnocêntricas


é a antropologia. Durante muitas décadas estudou os povos primitivos,
considerados pelas teorias evolucionistas como os mais elementares da
evolução da civilização. Chamavam-lhe “os selvagens” e havia autores que
diziam que tinham um raciocínio pré-lógico, pois tinham uma relação mística
com os objetos.

A rutura com os obstáculos epistemológicos, nunca é absoluta porque as


ciências contêm sempre elementos ideológicos. Mas a investigação científica
dispõe dos meios necessários para os criticar e em alguns casos supera-los. É
porque existem que é possível identifica-los, sujeita-los a análises científicas e
sujeitos a transformações. A rutura com o senso comum é um processo
contínuo, sem fim, que contribui para o desenvolvimento do conhecimento.
Depois desta rutura, torna-se necessário a construção de novas teorias e a
verificação destas, assim como a análise da relação que existe entre fatos
sociais e o constante questionamento dos conhecimentos adquiridos.

1.4. A antropologia.

A antropologia é o estudo da humanidade em toda a parte e através do


tempo, feito com a intenção de produzir conhecimento fiável sobre as
populações humanas e o seu comportamento. A produção do conhecimento

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(das várias ciências sociais) por ser uma atividade cultural, é ela própria objeto
de análise antropológica (Batalha, 2005).

A história e a antropologia, adquirem a consciência da historicidade das


estruturas, assumem um relativismo cultural, dão atenção à diferença e à
mudança. A antropologia, juntamente com a linguística e a semiologia
debruçam-se sobre os processos simbólicos. Com a complexidade crescente
da realidade social, com os avanços técnico-metodológicos surgem inúmeras
subdisciplinas como por exemplo, a sociologia e a antropologia da família, ou a
economia do trabalho.

Para a antropologia o centro de interesse está na diversidade


intercultural. Os antropólogos debruçam-se sobre as pequenas sociedades
tradicionais do mundo atual (a história, por exemplo, debruça-se mais sobre o
passado), sejam elas da África, da Ásia ou da América Latina, de zonas rurais
das sociedades industrializadas, ou pequenos os espaços de zonas urbanas. É
importante compreender que quanto mais perto os estudos históricos e
antropológicos se situam das sociedades atuais, mais ténue é a fronteira com
as restantes ciências sociais, nomeadamente com a sociologia. A antropologia
ao procurar as diferenças culturais nos seus estudos, promove a consciência
da diversidade e afasta a atitude etnocentrista em que facilmente os
investigadores podem cair. Torna-se por isso, uma disciplina didática para as
outras. Torna visível a ideia de que não há natureza humana independente da
variedade de contextos reais e de que não há modos de vida superiores e
inferiores.

Quando se fala em antropologia contemporânea, fala-se na antropologia


social e cultural que surgem no início do século XX. A estas duas dimensões
acresce uma outra de extrema importância nos estudos antropológicos: a
dimensão simbólica. Na verdade, a primeira dimensão refere-se ao estudo de
grupos, de instituições de sistemas sociais e à sua integração na sociedade
global; a segunda, dá ênfase aos comportamentos dos atores sociais; e a
terceira, debruça-se sobre os sistemas do pensamento, o significado das
instituições e dos comportamentos da sociedade.

Atualmente, a antropologia tem dificuldade em estabelecer fronteiras no


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que diz respeito ao seu objeto de estudo e às outras ciências sociais. É


inicialmente influenciada pela psicologia, mais tarde pela sociologia ao
absorver o conceito já abordado do fenómeno social total. Procura intervir em
novos campos desenvolvendo técnicas de investigação aplicadas a pequenas
comunidades, explorando por exemplo, as tradições populares camponesas.
Finalmente, a antropologia especializa-se e define-se pelo estudo do homem
na sua diversidade. O seu objeto já não se situa num espaço geográfico,
cultural ou histórico particular mas carateriza-se por uma visão e por uma
perspetiva globalizante do homem todo e do homem situado em todas as
sociedades, nos seus diferentes processos (Gonçalves, 2002). No entanto,
apesar do seu objeto de estudo já não estar associado às primeiras sociedades
que apareceram, a antropologia mantém-se ligada à sua principal técnica de
investigação: a observação direta.

Os trabalhos da antropologia portuguesa têm privilegiado os estudos


monográficos de pequenas comunidades, baseados na observação
participante e os estudos comparativos a partir de várias observações
monográficas existentes. Neste momento, aparecem estudos com novas
temáticas associadas às relações sociais interétnicas, aos fenómenos de
identidade social, às interrelações culturais e religiosas, às questões de
xenofobia e de exclusão social.

A antropologia não é uma disciplina muito boa a fazer previsões de


acontecimentos e a definir tendências sociais, como outras ciências sociais o
fazem. Para um antropólogo, prever o futuro das sociedades humanas é a
mesma coisa que para um biólogo prever o futuro das espécies. Apenas se
sabe que umas irão desaparecer e outras irão surgir. A antropologia consegue
identificar algumas tendências de mudança sociocultural, mas quanto maior
são as sociedades e a quantidade e complexidade das várias dimensões nela
existentes mais difícil é fazer previsões.

Ainda assim é possível afirmar que no século XXI, haverá um aumento


dos fluxos migratórios que obrigarão pessoas de culturas diferentes a conviver
em sociedade. Isso em muitos casos intensificará o etnocentrismo dos
diferentes grupos, o que pode conduzir a uma manipulação social dos grupos

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étnicos mais fracos. Por exemplo, a ideia de que os povos mais primitivos
devem ceder o caminho aos mais civilizados, apesar de antiga, continua a
fazer parte de muitas agendas ideológicas atuais. Outros problemas vão estar
na agenda dos próximos anos, tais como a poluição e o crescimento da
população mundial.

1.4.1. A investigação na antropologia.

A prática antropológica tem a sua origem na observação direta dos


comportamentos sociais. O seu trabalho não consiste em fotografar, registar ou
anotar, mas em decidir quais são os fatos significativos e procurar conhecer a
sociedade humana. Trata-se de uma atividade teórica de construção de um
objeto que, não existindo, embora, na realidade, só pode ser feita, no entanto,
a partir da observação duma realidade concreta realizada pessoalmente
(Gonçalves, 2002, p. 86). A observação participante é a técnica mais
importante da antropologia quer na investigação das sociedades ditas
tradicionais, quer na investigação das sociedades industrializadas. Sentir, ver e
transcrever são os momentos fundamentais da observação e nestes momentos
é essencial que o antropólogo saiba distinguir o essencial do circunstancial
porque o mais significativo nem sempre é o que parece mais estranho, ou mais
exótico. A prática antropológica consiste na análise dos processos de
variabilidade da cultura numa perspetiva comparada. Esta análise tem três
níveis que se completam: a recolha etnográfica dos dados, isenta e participada,
deve levar à compreensão lógica da sociedade estudada (etnologia). A partir
desta compreensão a antropologia pode interpretar a lógica da variabilidade da
cultura.

O conhecimento antropológico tem por um lado, origem na vivência dos


atores sociais e na perceção dos observadores e por outro lado, tem origem
em discursos subjetivos associados à identidade do investigador, à sua
perceção do que é a diferença, do que é a unidade. O investigador não pode
pretender uma neutralidade absoluta porque no trabalho de campo, embora
seja necessário distinguir aquele que observa daquele que é observado, não
podemos dissociar um do outro. Corremos o risco de por excesso de
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formalismo, perdermos a objetividade. O observador nunca é uma testemunha


objetiva que observa objetos, mas sim um sujeito que observa outros sujeitos.
A inclusão não apenas social mas subjetiva do observador no objeto de estudo
faz parte do objeto científico que ele procura construir e do modo de
conhecimento próprio da antropologia.

1.5. A metodologia das ciências sociais

O início de uma investigação social é sempre confuso. Temos vontade


de estudar um problema mas não sabemos como: é o caos original. Para se
sair desta situação deve ser evitada a “fuga em frente” que Raymond Quivy
(Quivy & Campenhoudt, 1998) carateriza através de três atitudes: a gula
livresca ou estatística, a rápida passagem das hipóteses e a ênfase que
obscurece. Na primeira enchemos a cabeça de livros na esperança de
encontrar a resposta às nossas dúvidas sobre o tema e o objetivo do trabalho.
A informação que se recolhe é tanta que nos deixa ainda mais confusos. Ao
passarmos por cima das hipóteses, utilizamos à sorte as técnicas da
investigação, convencidos de que como são técnicas científicas, nos dão
credibilidade ao trabalho em curso. No entanto, as próprias técnicas são
escolhidas em função das hipóteses: Uma metodologia que nunca se coloca o
problema da invenção das hipóteses a comprovar, não pode (…) dar ideias
novas e fecundas aos que as não têm; só servirá para dirigir ideias daqueles
que já as têm e desenvolve-las no sentido de retirar daí os melhores resultados
possíveis (Bourdieu, et al., 1983, p. 71). A ênfase que obscurece está presente
nos trabalhos que utilizam uma linguagem confusa e pouco percetível para
quem a lê. Na esperança de dar credibilidade à investigação com uma
linguagem que acreditam ser a mais científica, complicam o conteúdo que
deixa de ser legível.

Quivy (1998) identifica sete etapas da investigação nas ciências sociais:

1. A pergunta de partida.
2. A exploração.
3. A problemática.

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4. A construção do modelo de análise.


5. A observação.
6. A análise das informações.
7. As conclusões.

A pergunta de partida.

O receio de iniciar mal um trabalho pode levar as pessoas a andarem às


voltas durante bastante tempo, a procurarem uma segurança ilusória numa das
formas de fuga para a frente que já foi mencionada. Uma investigação é por
definição, algo que se procura, não podemos por isso, querer formular desde o
início um projeto de forma totalmente satisfatória.

Uma solução é tentar exprimir o que se procura através de uma


pergunta. Deve ser clara (precisa e concisa), exequível (realista) e pertinente
(verdadeira na procura de uma resposta e pretender compreender os
fenómenos em estudo).

Exemplos:

Em que medida é que os movimentos migratórios influenciam os


comportamentos dos indivíduos nas cidades e nas zonas rurais? Porque é que
muito lixo é atirado ao chão nas zonas rurais?

Como é que os utentes do serviço dos Centros de Saúde compreendem


os procedimentos do serviço?

Quais os comportamentos dos técnicos da área da saúde, que podem


influenciar positivamente uma melhor contribuição por parte dos utentes?

A desigualdade de oportunidades tem tendência a diminuir nas


sociedades industriais?

A exploração.

A exploração do tema efetua-se a partir de leituras e de entrevistas


exploratórias. As leituras ocupam muito tempo, assim e em função do tempo
que cada investigador dispõe (que parece ser sempre pouco), é necessário
algum cuidado na seleção do que se lê. O primeiro princípio, para não nos
dispersarmos nas leituras, é não se perder a pergunta que deu origem ao

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trabalho. O segundo princípio, é seleciona-las. À partida convém evitar grandes


calhamaços, a não ser que se tenha a certeza de serem essenciais. O ideal é
começar por obras que sintetizem a informação sobre o tema que procuramos.
O terceiro princípio é procurar livros ou trabalhos de investigação que para
além de dados, tenham também a respetiva interpretação e uma opinião do
autor sobre o assunto. O quarto princípio aconselha os investigadores a
procurarem mais do que uma opinião sobre cada tema. O último princípio
consciencializa os investigadores do tempo necessário à reflexão e à discussão
com colegas ou outras pessoas experientes.

Para encontrar os textos para a leitura, é importante consultar


professores, investigadores que tenham feito trabalhos nessa área, revistas
gerais e especializadas, resumos publicados pela imprensa e catálogos de
bibliotecas. À medida que vão sendo lidos, devem recolher-se as informações
que possam ser importantes para o tema que estamos a estudar. É importante
recolher das obras, citações completas (nem que não se utilizem), resumos, ou
uma opinião que seja de comentar.

As entrevistas exploratórias devem ter um número reduzido de


perguntas e à medida que a conversa avança, poderemos pontualmente
intervir conduzindo-a de acordo com o tema a explorar. Há algumas
expressões que facilitam a livre expressão dos entrevistados, tais como “se
bem percebo, quer dizer que..” (reformulação); “hmm.. sim..” para manifestar a
atenção e o interesse (apoio); “dizia há pouco que...” para retomar um assunto
que nos interessa; “o que quer dizer com...?” para obter uma explicação mais
detalhada; ou “ainda não falamos de..”, para introduzir uma questão nova. Não
se deve ter medo dos silêncios, podem permitir ao entrevistado refletir melhor
sobre o assunto. Pode precisar de ser encorajado, o que é possível através de
um sorriso e de expressões de apoio. Convém gravar as entrevistas.

A problemática teórica e a construção do modelo de análise.

Após a recolha de um conjunto de informações sobre o tema, estamos


capazes de formar uma opinião e construir o princípio teórico que suporta toda
a investigação. Transformamos a pergunta de partida numa hipótese, como se
fosse uma resposta provisória àquela. Quivy (1998), recorrendo a autores
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como Popper e Jean-Marie Barthelot apresenta o seguinte esquema:

T – É a nossa problemática. Designa um sistema conceptual organizado.


{p} – São as hipóteses e o modelo de análise.
{e} – São os resultados verificados com o trabalho empírico.

Um investigador quando formula uma hipótese está a dizer-nos “penso


que é nesta direção que é necessário procurar, que esta pista será mais
fecunda”. A hipótese pode apresentar-se como a antecipação de uma relação
entre um fenómeno e um conceito que o explica, o que é sobretudo comum nas
ciências exatas. Na investigação social, a hipótese é sobretudo a antecipação
de uma relação entre dois conceitos, ou entre os dois fenómenos a eles
associados. A hipótese deve sempre ser expressa de uma forma observável,
ou seja, deve indicar o tipo de observações a recolher, bem como as relações
entre as observações, para se saber em que medida é confirmada ou infirmada
pelos fatos (verificação empírica).
A partir das hipóteses constroem-se conceitos operatórios. A cada
conceito, devem ser associadas as dimensões necessárias e os respetivos
indicadores. Quando num trabalho de investigação utilizamos um conceito que
não é consensual, é necessário proceder à síntese do que é comum a vários
autores e criar um só conceito, que se define por conceito operatório isolado.
Outras vezes, podemos recorrer a conceitos isolados que já existem,
produzidos pelas diversas teorias (por exemplo, o conceito da pós-
modernidade), que se designa habitualmente por sistémico.

A observação.

A primeira escolha a efetuar tem a ver com o campo de análise. A


população a estudar depende das hipóteses e do objeto de estudo da
investigação em curso. Depois de estar definida a população, torna-se
necessário definir uma amostra. A maior parte das vezes, não é possível
estudar uma população inteira. Se queremos estudar as atitudes dos
portugueses face à política, não os podemos interrogar a todos. O maior
exemplo desta situação, são as sondagens que nos ensinaram a obter a partir
de um pequeno grupo de pessoas, uma informação fiel relativa a um grupo
muito maior.

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A amostra pode ser representativa ou não representativa. A amostra


representativa impõe-se em duas situações: quando a população é muito
volumosa e é preciso recolher muitos dados para cada indivíduo ou unidade,
ou quando os aspetos que interessam ao investigador implicam uma imagem
global que seja representativa de uma população alargada. A amostra não
representativa surge quando o investigador deseja por exemplo, estudar as
diferentes formas como vários jornais dão conta da atualidade. O campo de
análise está delimitado aos jornais mas não vale a pena e é impossível ler
todos os artigos de um jornal. Não faz sentido uma amostra representativa.

Após a definição da amostra, inicia-se o processo de observação que


pode ser direta ou indireta. A observação direta é aquela em que o próprio
investigador procede diretamente à recolha das informações. A indireta é
aquela em que o observador se dirige ao sujeito para obter a informação
pretendida. A informação através da observação indireta, pode ser recolhida
através de inquéritos e/ou entrevistas. A diferença entre uma entrevista
estruturada e um questionário está no fato de na primeira, as questões não
saírem das mãos dos entrevistadores e de no segundo, um questionário ser
preenchido por outrem.

O inquérito por questionário tem como vantagens a possibilidade de


quantificar uma multiplicidade de dados e proceder, por conseguinte, a
numerosas análises de correlação, assim como obter representatividade
através do conjunto de entrevistados. Tem algumas limitações que estão
associadas aos custos, à superficialidade das respostas, à descontextualização
dos indivíduos e à fragilidade da técnica (necessita de muito rigor desde a
formação da amostra até à elaboração das questões e à análise dos dados
recolhidos). A análise dos inquéritos faz-se através de técnicas de
amostragem, técnicas de codificação/redação e recorrendo a programas
informáticos de análise de dados como o SPSS (Statistic Programme for Social
Sciences).

A entrevista distingue-se pela sua exigência em termos de comunicação


e de interação humana. Há vários tipos de entrevistas, as semidiretivas ou
semidirigidas, as centradas ou não diretivas e as aprofundadas. As

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semidiretivas são as mais utilizadas em investigação social. São semidiretivas


pois há um conjunto de questões de orientação que são relativamente abertas
(respostas livres). A entrevista centrada tem como objetivo analisar o impacto
de um acontecimento ou de uma experiência sobre o entrevistado. O
entrevistador não dispõe de perguntas pré-estabelecidas, como num inquérito
por questionário, apenas uma lista de tópicos relativos ao tema a estudar sem
uma ordem precisa. A entrevista em profundidade aplica-se às histórias de
vida, a um número reduzido de indivíduos. Normalmente pode decorrer em
várias sessões.

As vantagens das entrevistas, enquanto técnica de investigação social,


estão associadas ao grau de profundidade da informação recolhida e à sua
flexibilidade (é possível e mesmo aconselhável a adaptação à linguagem do
entrevistado e aos seus quadros de referência). A entrevista tem algumas
limitações nomeadamente a instabilidade para o investigador, ao nível da
aplicação de uma técnica pouco precisa (consequência da flexibilidade). Outra
desvantagem, tem a ver com os dados recolhidos que ao contrário do inquérito
por questionário, necessitam de tratamento prévio para serem analisados. Por
vezes, a técnica de entrevista induz o investigador em erro, pois dada a sua
flexibilidade, facilmente este acredita na espontaneidade dos entrevistados e
na sua neutralidade. Torna-se necessário clarificar as questões no sentido de
incluir na análise a influência destas nas respostas daqueles.

A análise das entrevistas faz-se recorrendo ao método da análise de


conteúdo ou ao método da análise de discurso, através de programas
informáticos como o Nudist (Non-numerical Unstructured data indexing
searching & theorizing), atual Nvivo, ou o Maxqda (Qualitative Data Analysis
Software), ou outras aplicações tal como o Webqdq.

O terceiro método de investigação social é a observação direta. O termo


de observação é utilizado no sentido de visualização e não no sentido
metodológico que designa o conjunto de operações que testa o modelo de
análise (quinta etapa da investigação social). A observação direta é a única
técnica que capta os comportamentos no momento em que eles se produzem,
sem a mediação de um documento, ou de um testemunho. O ato de observar é

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estruturado na maior parte dos casos, por uma grelha de observação


previamente construída. A observação direta subdivide-se em participante e em
não participante. A participante, ou de tipo etnológico é a que mais se ajusta à
investigação social. Implica o estudo de uma comunidade durante um longo
período de tempo, participando na vida coletiva. O investigador estuda de
forma pormenorizada os modos de vida, tentando interferir o menos possível.
Na observação não participante o investigador observa do exterior num tempo
que tanto pode ser longo como curto, não sendo imprescindível o acordo das
pessoas observadas, nem uma grelha de observação.

As vantagens desta técnica são a apreensão dos acontecimentos no


momento em que ocorrem, a recolha de material não produzido pelo
investigador e por isso relativamente espontâneo e a autenticidade dos dados
por comparação com discursos de entrevistas e textos escritos. Uma das
dificuldades desta técnica pode estar na integração do investigador no grupo
em estudo, outra prende-se com o registo da informação. Não é possível
confiar apenas na recordação dos acontecimentos “ao vivo”, pois há muita
informação que se perde. Torna-se necessário transcreve-los logo a seguir a
ocorrerem, o que na prática além de cansativo pode não ser viável. A
interpretação das informações é outra desvantagem da observação direta. As
grelhas nem sempre se ajustam aos fenómenos observados, perdendo-se
muita informação rica para a investigação. Por este motivo, a investigação
social utiliza métodos complementares tais como a entrevista seguida de
análise de conteúdo e observações de duração limitada, de tipo etnológico.

Outra técnica de investigação social é o recurso a fontes secundárias. É


utilizada por duas razões: ou o investigador procura estuda-las por si próprias,
como por exemplo a forma como uma reportagem é feita, ou um romance é
escrito; ou o investigador encontra nestas fontes informação importante para o
seu objeto de estudo, como por exemplo, o estudo das estatísticas de
desemprego, ou textos escritos sobre este, quando o desemprego é o assunto
em estudo.

O recurso às fontes secundárias permite ao investigador concentrar-se


na temática em estudo e economizar tempo e dinheiro. Uma outra vantagem

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desta técnica é evitar o recurso abusivo a sondagens ou a inquéritos por


questionário. No entanto, há algumas dificuldades na sua aplicação
nomeadamente no respeita ao acesso a documentos que nem sempre estão
disponíveis, ou quando estão o acesso pode ser difícil por motivos de tempo ou
de localização dos mesmos. Outra dificuldade prende-se com a credibilidade
destas fontes, muitas vezes manipuláveis. O recurso a fontes secundárias deve
ser utilizado depois de se verificar que é efetivamente útil e viável.

A análise das informações.

A análise das informações faz-se em função das hipóteses enunciadas


no início da investigação. Trata-se de verificar se os dados recolhidos depois
de analisados correspondem aquelas, um procedimento que envolve três
operações: a preparação dos dados, a relação destes entre si e a comparação
dos resultados obtidos, com os resultados esperados. Na maior parte dos
casos, a investigação social utiliza duas formas de análise de dados: a análise
estatística dos dados e a análise de conteúdo e de discurso (Quivy &
Campenhoudt, 1998)3. A primeira é adequada aos estudos que envolvem
variáveis quantitativas e impõe-se a todos os inquéritos por questionário. Tem
como vantagem o rigor técnico, o recurso a meios informáticos e a clareza da
informação. No entanto, nem todos os fenómenos pertinentes à investigação
podem ser quantificados, nem a análise de dados estatística tem qualquer
poder explicativo destes fenómenos.

A análise de conteúdo implica a aplicação de processos técnicos


relativamente precisos que envolvem o cálculo das frequências relativas e/ou a
correlação de ocorrências dos termos. Uma das vantagens da análise de
conteúdo é o estudo do não dito, do que está implícito, outra é a possibilidade
de um controlo posterior, da investigação através de um documento escrito, ou
gravado. Na utilização da análise de conteúdo é importante o investigador estar
consciente de que a análise categorial (que calcula e compara as frequências
de assuntos ou palavras) isoladamente, pode ser simplista e que a análise de
avaliação (que incide sobre os juízos de valor do entrevistado) é pesada e

3
Raymond Quivy e Luc Van Campenhoudt falam apenas da análise de conteúdo. No entanto são aqui diferenciadas as
duas análises pois há muitos autores (Michel Foucault , Lupicínio Iñiguez, Charles Antaki e Ann Oakley), defensores da
especificidade da análise de discurso que o fazem.
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trabalhosa.

A análise de discurso dá visibilidade ao detalhe na interpretação dos


textos e promove o diálogo entre a teoria e as mudanças de vida atuais, porque
a teoria necessita da prova da prática, da prova das lutas reais em que
estamos implicados (Fairclough, 1998, p. 53)4. O que está em causa, não são
as definições de palavras do dicionário, ou as noções abstratas de significado
mas as distinções que os participantes realmente fazem nas suas interações e
que têm implicações importantes para as suas práticas. Strauss (2004) afirma
que mesmo influenciadas por mitos ou por preconceitos, estes refletem
sentimentos recalcados. O significado intencional tem sido o único absorvido
pelas teorias da análise do discurso. Mais recentemente, autores como
Verschueren (1998), defendem que no discurso para além do significado
intencional, há um significado convencional que não deve ser descurado. O
comportamento verbal pode ser uma consequência social e não uma
manifestação de intenções. A construção do significado é interativa e por isso o
contexto não pode ser negligenciado.

As conclusões.

As conclusões devem englobar uma função retrospetiva onde se


apresenta a pergunta de partida, as caraterísticas do modelo de análise e com
elas, as hipóteses, o campo de análise com os métodos e as técnicas utilizados
e a comparação entre os resultados esperados e os observados.

1.6. A pós-modernidade e as ciências sociais

Ao chegarmos ao fim do século XX, há muitos investigadores que


defendem que estamos no início de uma nova era, uma era que vai para além
da modernidade e que por isso, deve ser objeto de estudo das ciências sociais.
Jean-François Lyotard (1989) foi o primeiro investigador social a definir esta
nova era como pós-modernidade. Posteriormente, Giddens (1995) desenvolve
este conceito, entendendo-o como uma evolução das várias dimensões da

4
No texto original: “(…) porque la teoría necesita la prueba de la práctica, la prueba de las luchas reales en las que nos
hallamos implicados”.
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modernidade. Na verdade, as transformações do último século, são mais


profundas do que o conjunto de todas as mudanças ocorridas até ao século
XX. Serviram para estabelecer redes sociais à escala do globo e alteraram os
modos de vida quotidianos dos indivíduos. Como consequência das
transformações associadas à modernidade, ainda hoje em curso, desenvolve-
se o conceito de pós-modernidade, associado a um novo contexto social.

Relativamente ao desenvolvimento das ciências sociais na


modernidade, nomeadamente da sociologia, a relação entre esta e o seu objeto
(as ações dos seres humanos) é dialogante. O conhecimento sociológico
circula para dentro e para fora do universo da vida social, reconstruindo-se a si
próprio, e a esse universo, como parte integrante daquele processo de
integração (Giddens, 1995, p. 12). Este é o modelo a seguir no futuro, o da
reflexividade. As ciências sociais têm o dever de tornar compreensível o
alcance globalizante das instituições modernas e de explicar a natureza das
suas descontinuidades relativamente às culturas tradicionais.

A ideia da reflexividade vem definir toda a ação humana. As formas de


vida social são parcialmente constituídas pelo conhecimento que os atores têm
delas. Nenhum conhecimento científico na modernidade, é como o saber
antigo, no sentido de haver uma certeza. Isto aplica-se quer às ciências
naturais, como às ciências sociais. Mas estas encontram-se mais envolvidas no
processo de modernidade porque a revisão constante das práticas sociais, à
luz do conhecimento que se vai adquirindo sobre essas mesmas práticas, faz
parte do tecido das instituições modernas. Por exemplo, as estatísticas oficiais
não têm apenas um carácter descritivo da situação de uma região. Servem
para ser aplicadas medidas políticas no sentido de dar continuidade ou não, a
um conjunto de práticas. Outro exemplo ligado mais às práticas quotidianas,
prende-se com as estatísticas sobre o divórcio. Qualquer pessoa que case,
hoje em dia, sabe que o seu casamento tem grandes hipóteses de terminar em
divórcio, dada a elevada taxa de divórcio existente. Aqui reside a reflexividade
das estatísticas oficiais. As transformações da modernidade fazem parte do
objeto de estudo da sociologia e é por isso que autores como Giddens (1995),
entendem que a modernidade é profunda e intrinsecamente sociológica.

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Para além de estarmos a viver uma época de disparidade manifesta em


relação ao passado, o termo pós-modernidade significa geralmente uma ou
mais das coisas que se seguem: que descobrimos que não se pode saber nada
com qualquer certeza, uma vez que todos os “fundamentos” preexistentes da
epistemologia se revelaram falíveis; que a “história” é destituída de teleologia 5
e, consequentemente, nenhuma versão de “progresso” pode ser
plausivelmente defendida; e que nasceu uma nova agenda social e política
com a crescente importância das preocupações ecológicas e, talvez, dos novos
movimentos sociais em geral (Giddens, 1995, p. 37).

A pós-modernidade está presente hoje, em termos de valores e de


sistemas teóricos. Apesar de ser marcada por um corte com o passado, a
pós-modernidade não existe de forma isolada, pois necessita
compulsivamente deste passado. A pós-modernidade precisa da
modernidade e da tradição para se definir, o que se deve à sua reflexividade.
Todos os seres humanos se mantém em contato com os fundamentos daquilo
que fazem como elemento essencial de o fazerem.

David Harvey (2000), fala numa continuidade dentro da descontinuidade


e assume uma posição mais crítica em relação ao conceito de pós-
modernidade, entendendo-o como uma versão da modernidade. Segundo este
autor, as caraterísticas de descontinuidade, fragmentação, efemeridade já
existiam no pensamento humano aplicados sobretudo à arte e à filosofia. Na
verdade, Harvey aceita os elementos da pós-modernidade mas não as suas
implicações na sociedade: a mais difícil questão sobre o movimento pós-
moderno [é] o seu relacionamento com a cultura da vida diária e a sua
integração nela (p. 62). É certo que a reflexividade da pós-modernidade não é
consensual pois enquanto que aquela precisa da modernidade para se
desenvolver, o mesmo não se passa com esta. Não obstante, a pós-
modernidade reflete-se atualmente no quotidiano social, coexistindo de forma
mais ou menos pacífica, com a modernidade e a tradição.

5
“Ciência ou estudo dos fins ou da finalidade; por extensão, a finalidade, isto é, a ação diretora que o fim exerce sobre
os meios; doutrina, oposta ao mecanicismo, segundo a qual há no mundo uma finalidade que se sobrepõe à
causalidade eficiente.” In J. Almeida Costa e A. Sampaio e Melo (s/ data), Dicionário da Porto Editora. Porto: Porto
Editora. 6ª Edição.
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Giddens (2000) resolve as contradições deste conceito, recorrendo a um


outro: o de sociedade pós-tradicional. Uma sociedade global (...) no sentido de
espaço indefinido. Uma sociedade em que os laços sociais têm de ser
construídos, ao invés de herdados do passado (...). Uma ordem social
descentralizada em termos de autoridades, mas recentralizada em termos de
oportunidades e dilemas (p. 103). Na verdade, uma sociedade com todos os
elementos que caraterizam a sociedade pós-moderna, pelo que se entende
não haver diferenças relevantes entre pós-modernidade e pós-tradicionalismo
que justifiquem o uso separado dos conceitos. A intensificação do processo de
globalização exige uma justificação para tudo o que tradicionalmente era aceite
pela típica frase do "é assim porque é".

Devemos entender a pós-modernidade como o conflito permanente


entre o um e o todo, o eu e os outros, um conflito que gera perturbações
sociais, familiares, profissionais, económicas, políticas e individuais. A vivência
pós-moderna tem um alcance inimaginável, visto que mesmo as sociedades
onde a liberdade de expressão é restrita, onde o interesse coletivo se impõe
sobre o individual, são diretamente atingidas por processos económicos e
políticas globais, ditadas por indivíduos que encerram em si, este processo
dialético. Hoje, em qualquer parte do mundo, o indivíduo que se sente
ameaçado pelo todo, pode exprimir-se livremente, recorrendo a sistemas de
rede, montados a uma escala mundial. Pode denunciar a violação dos direitos
da humanidade, os crimes contra o ambiente, ou simplesmente manifestar o
seu descontentamento em relação ao quotidiano. A pós-modernidade tem tudo
de bom e tem tudo de mau, porque depende do resultado da relação de forças
que se estabelece entre o eu e o nós e da capacidade que os indivíduos têm
para a manter.

As mudanças sociais são, hoje em dia, suficientemente maciças e


portadoras de desentendimentos futuros, para serem consideradas
globalmente, simultaneamente na sua importância e na sua novidade. Fazem
parte de um processo pós-moderno em marcha, que não se sabe nem como se
desenvolverá, nem quando estará concluído. A pós-modernidade dá
visibilidade ao conflito entre os interesses individuais e os interesses coletivos.

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O entendimento que cada um faz do que o rodeia e as decisões que toma em


nome individual, chocam frequentemente com o bem comum, seja ele político,
económico, social, de direito (público/privado), familiar, profissional, ou
conjugal.

1.7. A influência da globalização na saúde.

Uma das preocupações das sociedades dos dias de hoje, tem a ver com
a distribuição de riqueza a nível mundial. As regiões ricas que se situam
sobretudo no hemisfério norte do planeta, contrapõem-se zonas de extrema
pobreza localizadas no hemisfério sul. Esta situação agrava-se com o
crescimento da população atual. Este é um dos dilemas com que nos iremos
debater ao longo século XXI. Há países que se debatem com uma forte baixa
de fertilidade, como é o caso de Portugal, incapaz de assegurar a reprodução
da sua população. Há outros que vêem a sua população crescer a um ritmo
incomportável, como é o caso de regiões africanas, que não conseguem fazer
face à falta de recursos. Um dos principais motivos para que tal aconteça, para
além da falta de informação sobre o planeamento familiar, está no fato das
crianças serem o principal capital dos pobres. No mundo rural são usados
como mão-de-obra nos campos e no mundo urbano são usadas para fins de
mendicidade, de prostituição e para pequenos trabalhos.

“Conscientes do problema que constitui o crescimento demográfico


incontrolado, alguns países pobres tomaram medidas. A China e a Índia são um
exemplo disso. Na China estabeleceu-se a política de um filho por casal, que já
contribui para diminuir o crescimento demográfico em determinadas zonas.
Porém, contribuiu também para um novo fenómeno social negativo: o aumento
do infanticídio feminino e do abandono de raparigas. (…) Dada a organização
social tradicional chinesa e as representações mentais que a orientam, os pais
esforçam-se por ter um rapaz. Quando nasce uma rapariga, abandonam-na e
voltam a tentar. (…) de maneira geral os programas de controlo de natalidade no
Terceiro Mundo” não têm produzido os resultados esperados. (…) O fato de a
filiação e de os direitos de propriedade serem definidos de modo patrilocal-
patrilinear faz com que os filhos continuem a ser preferidos em relação às filhas,
o que, por sua vez contraria qualquer sistema de planeamento familiar (se as
pessoas não tivessem preferência por um dos géneros, teriam menos filhos, pois

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não precisariam de continuar a tentar até terem na família o número de rapazes


considerado “suficiente”)(Batalha, 2005, pp. 354-355).

A globalização tem tido um impacto negativo na vida quotidiana e na


saúde da população. Se por um lado, há avanços positivos no campo da
comunicação e da biotecnologia, por outro lado, tem implicações muito mais
negativas a nível mundial, pois a pobreza está intimamente ligada às condições
e expectativas de saúde. Dos 6 biliões que havia no mundo em 2001, 2,8
bilhões (quase metade) viviam com menos de 2 dólares por dia e 1,2 bilhões
(um quinto), vivia com menos do que um dólar (A. L. d. Silva, 2008). Das
doenças que ocorrem no mundo, 90% estão localizadas nos países pobres,
que detêm apenas 10% dos recursos existentes a nível mundial, para as
poderem combater.

A globalização, ao acelerar o comércio transnacional, tem implicações


na difusão das doenças, como é o caso por exemplo da hepatite B, que
aumenta com o comércio internacional de produtos do sangue. Também as
doenças associadas à alimentação aumentam com o comércio internacional
(encefalopatia espongiforme bovina e a Creutzfeld-Jakob para os seres
humanos). Outra consequência da globalização, está associada à
degradação do ambiente físico, provocadas pelas elevadas taxas de consumo
dos países desenvolvidos. Daí a necessidade de um programa estratégico de
desenvolvimento sustentável.

A urbanização contribui, por sua vez, para prejudicar a saúde, devido à


ameaça de propagação rápida de doenças e outros problemas associados à
exclusão social e à violência.

A boa saúde depende de políticas de qualidade e que implicam muitas


vezes fortes investimentos, o que exclui logo à partida, os países sem recursos
financeiros e sem recursos humanos qualificados. Estes países são excluídos
das organizações internacionais onde são tomadas as decisões que os vão
afetar direta ou indiretamente.

Face a este contexto adverso à saúde, a enfermagem tem novos


desafios: deve fortalecer as suas bases epistemológicas que terão repercussão
na prática profissional quer a nível local, quer a nível global e a nível científico
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deve:

- Formar cientistas competentes, com habilidade para pensar criticamente, para


definir as prioridades sociais, quando escolhem o seu objeto de estudo;

- Produzir conhecimento inovador e com impacto substancial na realidade


social e na saúde e bem-estar dos indivíduos, das famílias e das comunidades,
sobretudo das populações mais carentes;

- Usar novas metodologias, associadas às novas tecnologias;

- Formar técnicos com uma postura pró-ativa na liderança, sendo sempre os


primeiros a detetar as oportunidades de melhorar a saúde e a transmiti-las de
forma a criar políticas adequadas às realidades. É um processo que requer
formação social, capacidade para lidar com a diferença e capacidade para
construir pontes entre os indivíduos.

A formação dos enfermeiros deve ser emancipadora, virada para o


mundo, para a compreensão da sua História e sempre sob uma perspetiva
crítica que os incentive à mudança e à ação. Depois de formados, os
enfermeiros devem ser capazes de:

- Conhecer a realidade local e global, a nível do perfil da saúde da população


regional, nacional e mundial;

- Atuar nas diferentes dimensões da saúde individual e coletiva, com


responsabilidade social e cidadania;

- Desenvolver práticas que respeitem as diferenças ao nível do género, da


raça, da orientação sexual, entre outros aspetos;

- Construir o conhecimento a partir de uma formação constante e de um


diálogo com a realidade.

O cuidado aos outros centra-se nas pessoas, orientando-as para a


autonomia e para a emancipação e tornando-as capazes de pensar e agir de
forma crítica em relação às suas vidas. A saúde no futuro, tem sempre que
passar por uma lógica de solidariedade, de justiça e de dignidade humana.

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1.8. Uma perspetiva sociológica sobre Portugal: a mudança social


portuguesa entre 1960 e 1995.

Nas últimas cinco décadas Portugal sofreu mudanças rápidas e


profundas. É hoje uma sociedade plural e aberta, com um grau de
indeterminação elevado. O nosso país fez em vinte, ou trinta anos, o que
noutros países tinha demorado cinquenta ou sessenta. Ao nível económico,
Portugal não ficou ao nível dos nossos vizinhos mas ao nível social,
demográfico e cultural, os portugueses aproximaram-se definitivamente dos
países europeus (Barreto, 1996).

A população cresceu pouco, mas a sua estrutura mudou. A natalidade


diminuiu muito, sendo hoje uma das mais baixas da Europa. A esperança de
vida aumentou para os níveis europeus; a mortalidade infantil reduziu
drasticamente passando de 80‰ para 7‰; o envelhecimento demográfico foi
rápido e o grupo de idade dos indivíduos com mais de 65 anos nos anos 90,
está prestes a ultrapassar o de menos de 15. Diminuiu muito a fecundidade das
mulheres, assim como a dimensão média da família, deixando de haver a
regeneração das gerações. Aumentaram as uniões de fato, os divórcios, os
casamentos não católicos e os filhos nascidos fora do casamento. A
concentração das residências em aglomerados urbanos aumentou de forma
acelerada, paralelamente ao esvaziamento das regiões do interior
(desertificação). A partir dos anos 90, não voltará a haver reposição de
gerações sem uma mistura com outros povos, outras etnias e outras
nacionalidades.

A emigração tem sido um fenómeno muito importante para Portugal. Nos


anos 60, o emigrante português abandonou a América do Sul como principal
destino e passou a dirigir-se de forma volumosa para a Europa, sobretudo até
1974, esvaziando o território português. No entanto, em 1975, com a
descolonização, chegaram cerca de 600 000 a 700 000 pessoas, o que
contribui para o rejuvenescimento da população. A partir dos anos 80, a
emigração continuou, mas a um ritmo mais brando e paralelamente, inicia-se

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um processo de imigração africana, brasileira e europeia. O saldo migratório


nos anos 90 é positivo porque são mais os estrangeiros que chegam do que os
portugueses que partem.

No que diz respeito ao setor de atividade predominante, passou a ser o


terciário. O setor primário decresceu de 40% para 10%. Nos anos 80, cerca de
meio milhão de pessoas abandonaram as atividades do setor primário. O setor
dos serviços ocupa nos anos 90, mais de 50% da população total.

A presença das mulheres na população ativa modificou-se radicalmente.


De cerca de 15% da população feminina a trabalhar nos anos 60, passamos
para 50% ou mais das mulheres profissionalmente ativas. Maioritariamente
ocupam funções na Administração Pública, sobretudo nos setores da educação
e da saúde. São igualmente maioritárias entre os estudantes do ensino
superior e entre aqueles que o concluem.

Ao nível da educação Portugal foi incapaz, até aos anos 60, de


escolarizar a população, de evitar o analfabetismo e de proporcionar aos
cidadãos um grau satisfatório de instrução. A partir dos anos 60, dá-se uma
explosão escolar. Até aos anos 90 o analfabetismo dos jovens foi eliminado e
de forma geral passa de 18%, para 9% da população. No ensino secundário
público (10º a 12º ano) a frequência passou de 8.000 para 300.000! e o número
de estudantes do ensino superior aumentou de 24.000 para 290.000!
Entretanto a frequência escolar começou a refletir as mudanças demográficas:
o número de alunos que frequentam o ensino básico diminui nos anos 80 e 90.
O ensino primário regista uma diminuição de meio milhão de crianças.

A saúde foi um dos setores onde as alterações podem ser menos exatas
em virtude dos critérios estatísticos e administrativos terem sido
constantemente mudados, não permitindo muitas comparações. No entanto, há
mudanças que se verificam e são importantes realçar. A primeira diz respeito
às três principais ações públicas sanitárias: a generalização das vacinações
obrigatórias, com especial incidência nas crianças a frequentar as escolas; as
campanhas de luta contra a tuberculose; e a assistência materno-infantil pelo
menos nos partos.

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Nos anos 90, estão classificados 200 estabelecimentos como hospitais e


380 como centros de saúde, para além de 2052 extensões. O número de
camas hospitalares disponíveis é de 40.000. Atualmente, este número parece
diminuir, mas pode ser devido, não a uma quebra de serviços ou da sua
cobertura mas a mudanças na prática médica e hospitalar.

Os médicos passaram de 7.000 em 1960, para 30.000 em1997 e para


40.095, em 2009 (Portugal. Instituto Nacional de Estatística, 2010). Este
aumento ocorre sobretudo depois de 1975, altura em que triplicam. A relação
entre os habitantes e os médicos evolui no mesmo sentido. Em 1960 havia um
médico para 1256 habitantes e em 1995, para o mesmo número de habitantes
já havia quatro. Paralelamente e com o mesmo ritmo de crescimento situam-se
os dentistas, os odontologistas, os técnicos de diagnóstico e os técnicos de
terapêutica. Os enfermeiros passaram de 9.541 em 1960 para 37.467 em1997.
A relação entre os habitantes e os médicos evolui no mesmo sentido. Em 1960
havia um enfermeiro para 932 habitantes e em 1997, para o mesmo número de
habitantes já havia quatro. Comparativamente com a Europa, Portugal é em
finais da década de 90, o país que concentra mais habitantes, para cada
enfermeiro. Por exemplo, em 1995, enquanto cada enfermeiro português deve
tratar em média 278 habitantes, o finlandês tem apenas 83 habitantes, o
francês tem 144, o espanhol tem 227, o sueco tem 122. Os enfermeiros gregos
são os que se aproximam mais dos portugueses com 273 habitantes em
média, para tratar.

Entre 1960 e 1995, os internamentos passaram de 464.000 para


1.108.000, as consultas em estabelecimentos de saúde passaram de 8 milhões
para mais de 33 milhões, e as urgências de 588.000 para quase 10 milhões.
Os partos em hospitais passaram de 15% a 99% do total, sendo certo que os
restantes têm assistência no domicílio. Nos anos 90, há em média mais de uma
urgência anual por habitante e mais de três consultas anuais por habitante. A
despesa pública com a saúde passou de 1% para 5% do PIB. Números como
estes, significam uma indiscutível cobertura nacional, mas não deixam de
levantar sérios problemas relativamente à eficácia, à organização e à
funcionalidade dos serviços públicos de saúde.

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Os suicídios baixaram. Passaram de 774 em 1960, para 628 em 1997


com incidência masculina. Na Europa somos o país com menor taxa de
suicídio, juntamente com os gregos e os irlandeses. A maior localiza-se na
França, seguida pela Finlândia.

Uma alteração significativa ocorreu na balança alimentar: aumenta o


consumo de óleos e gorduras, leite e derivados, ovos e carnes, açucares,
raízes e tubérculos. Os portugueses reduziram o consumo de cereais, de
leguminosas secas e de produtos hortícolas, enquanto que o consumo de
bebidas alcoólicas, de pescado e fruta é errático. De forma mais
pormenorizada aumenta o consumo de trigo, de arroz, de batata, de carne de
porco, de carne de frango, de carne bovina, de peixe fresco, de crustáceos e
moluscos, de ovos, de leite, de queijo, de manteiga, de margarina e de cerveja.
E diminui o consumo de milho, de centeio, de azeite e de vinho. O regime
alimentar dos portugueses corresponde hoje aos padrões de consumo urbano
das sociedades ocidentais.

Relativamente à justiça, nos últimos trinta anos, aumentaram os


tribunais, os magistrados judiciais, os magistrados do Ministério Público, os
advogados e os processos movimentados. Cresceu o nível de formalização das
relações, com o número de contratos, o que revela um aumento da consciência
coletiva dos direitos e dos deveres.

Na Segurança Social, todos os sistemas de proteção social se


universalizaram. Os pensionistas passaram de 60.000 para 2,5 milhões. Em
1995, há 1,7 ativos para cada pensionista. A despesa pública com a Segurança
Social passou de 1% para 3% do PIB.

Os proprietários de alojamento próprio atingiram os 65% dos agregados


familiares, uma das taxas mais elevadas da Europa. Os serviços básicos (água
canalizada, eletricidade e esgoto) cobrem mais de 90% dos alojamentos,
quando há trinta anos cobriam apenas 40%. Os bens de consumo durável mais
importantes (fogão, frigorífico, rádio, televisão, telefone) estão presentes em
80%, a 95% dos alojamentos. O automóvel está em 55% dos agregados
familiares.

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Portugal pode ainda estar longe dos restantes países europeus, mas
isso só reflete o imenso atraso em que se encontrava na década de sessenta.
As mudanças referidas foram profundas e rápidas e devem-se entre outros,
aos seguintes fatores: à emigração, ao turismo, ao livro comércio entre países
da AELE/EFTA, ao investimento estrangeiro até aos anos sessenta. A
democracia nos anos setenta e a integração na União Europeia nos anos
oitenta, são dois outros fatores determinantes no desenvolvimento português.

1.9. Uma perspetiva antropológica em Portugal: os saberes da


gravidez, do parto e do pós-parto.

O imaginário coletivo está cheio de recordações sobre os saberes


associados ao momento do parto que chocam com a realidade dos dias de
hoje. A maternidade é atualmente uma contradição entre as ideias
preconcebidas, construídas ao longo de gerações e as práticas atuais
associadas à saúde e ao bem-estar da grávida e ao momento do parto. O ato
de ser mãe é cada vez menos inserido socialmente: o contexto que envolve o
nascimento é técnico e parte de um imaginário impregnado de tecnologia, de
distância entre os corpos, em ecrãs que fazem a leitura, e o contorno
imaginário de um corpo (Joaquim, 1992, p. 49). Mas associada à mãe continua
a lógica do cuidado que leva as mulheres durante séculos a ocuparem-se dos
corpos, dos alimentos, dos nascimentos e das mortes. O cuidar vai para além
do alimento: é o alimento e o gosto; a fala e o canto; a comida e o calor; o
vestir e o cobrir. Esta lógica tem sido gradualmente desvalorizada porque não é
racional, não é quantificável. Atualmente, a mulher desloca o seu centro de
interesses, ser mãe não é a única ocupação na vida, não chega para lhe dar
sentido. O imaginário que limita as mulheres à sua natureza é posto de lado.
Cortar com o passado é difícil para não dizer, impossível e as ideias
associadas ao parto mantêm-se vivas na memória das mulheres. É com as
recordações que moldam a maternidade que a ciência dialoga. Torna-se
importante conhece-las.

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No saber do senso comum, a gravidez está cheia de regras (Joaquim,


1983) como por exemplo, a de que no seu início esta deve ser ocultada, pois é
uma altura em que são temidos os abortos. A partir do terceiro mês e até ao
final, há um conjunto de interditos tais como o de que a mulher não deve comer
lebre, coelho, polvo porque a criança pode nascer com a forma do polvo, ou
com o beiço rachado da lebre ou do coelho, ou cheio de pelo como o coelho.
Entre o oitavo e o nono mês a mulher transporta um corpo pesado e
estabelecem-se um conjunto de procedimentos que facilitam o parto: tome
caldos de galinha gorda, deitando no cozimento grãos pretos e uma lasca de
canela; quando se assentar, seja ficando o corpo direito e pés estendidos;
quando se deitar, seja de costas. Suba e desça escadas muito atento, porque
assim toma a criatura melhor queda para nascer (Joaquim, 1983, p. 65). A
mulher deve fazer exercício físico e acreditar no poder da magia religiosa:
passar debaixo de uma procissão ou andar com bocados de pedra de ara 6 ao
pescoço. No entanto, em algumas regiões, como em Moncorvo e em Santo
Tirso, tocar nesta pedra quando não se está grávida, pode causar esterilidade.
De forma geral, tudo o que a mulher grávida toca representa o toque na criança
que ainda não nasceu.

Para ter um parto feliz a mulher deve enfiar na cabeça um boné do


marido, este deve dar o maior número possível de nós na fralda da camisa,
monta num cavalo de pau e antes, tem de pôr um chapéu na cabeça da
mulher. Algumas destas práticas vão sendo realizadas ao longo da gravidez,
outras mais próximo do parto. Ao parto está sempre associada a dor, há
registos de expressões como parir é dor e criar é amor ou o que é duro de
passar é doce de lembrar. A dor no parto é uma passagem tanto para a mãe
como para a criança: a mãe deixa de estar grávida e o filho entra noutro
mundo.

À volta da gravidez e do parto que constituem um todo, há um conjunto


de ritos de purificação da mulher associados à religião, ao sexo e à
alimentação que existem porque a mulher é impura. A mulher tem excesso de

6
A pedra de ara, é a pedra benta sobre a qual durante a Missa, o Sacerdote põe o cálice e a hóstia. Costume referido
por Teófilo Braga em 1885.
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sangue que retém durante a gravidez, o que provoca desejos estranhos. A


criança também é um ser impuro e precisa por exemplo, dos rituais do primeiro
banho e do batismo.

Uma prática associada ao parto é o toque do sino. Em Arcos de


Valdevez o marido deve dar nove badaladas nos sinos de Nª Sra. Da Lapa. No
Porto, é um parente que dá vários toques no sino de uma igreja, se a mulher
estiver com dificuldades no parto. Em Idanha-a-Nova, dão-se nove badaladas
no sino da torre e todas as mulheres que ouvem rezam nove ave-marias. Há
também práticas contrárias a esta como por exemplo a que diz que se uma
mulher grávida puxar a corda de um sino e ele tocar não consegue ter um parto
sem que o marido puxe a corda de um sino com os dentes. Se se toca o sino
para facilitar o parto, quer dizer que o badalo ao mexer-se faz mexer a criança
colocando-a numa boa posição para nascer.

José Leite de Vasconcelos, em 1907, citado por Teresa Joaquim (1983),


fala do uso de um fio para apressar o parto. Deve cortar-se em pedacinhos,
embebe-lo em vinho e a seguir, dá-lo à doente. Há sempre uma mistura do
sagrado e do profano nestes rituais: a fita tem um valor sagrado e o vermelho
está associado ao sangue e tem um valor profano.

Para apressar o parto, a grávida deve tomar chás e bebidas como vinho
misturado com dente de cão pulverizado que têm não só a sua própria eficácia
como um efeito psicológico positivo. Nos séculos XVIII e XIX, utilizam-se as
receitas de Mme. Fouquet que afirmam que as grávidas devem comer caroços
de Dactiles, cascas de laranja seca, e beber vinho branco com cal. A
respiração no parto tem regras: em Santo Tirso, a grávida deve soprar numa
garrafa vazia para provocar espirros e provocar a expulsão do bebé.

O parto é normalmente realizado entre mulheres, numa atmosfera tensa,


na maior parte dos casos em casa, com a ajuda das vizinhas e das comadres
que têm experiência, já tiveram filhos e normalmente um pouco devotas, de
língua destravada mas não insolente. O pai vai participando de forma indireta,
chama a parteira quando a mulher tem “as dores”. Não há registos da sua
presença durante o parto. O saber da parteira, consiste no seu jeito maternal
porque também é mãe. Não podem ser parteiras as mulheres solteiras, nem as
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mulheres estéreis, que não sabem o que é dar a luz. Ser parteira é um trabalho
de corpos, de natureza, ela só age no parto com as suas mãos, não utiliza as
tenazes ou os ferros. A parteira tem as funções de lavar a criança, de a vestir,
de a levar à Igreja para ser batizada, ou de batizar a criança à pressa se vir que
ela não vai sobreviver.

O nascimento das raparigas é considerado mais difícil que o dos


rapazes (“parto ruim, filha ao fim”), o que está associado à desvalorização do
sexo feminino. Ter uma filha aparece com um significado negativo, como uma
má-hora.
Mal hajas tu mulher
Mais a tua parição
Sete filhos que tiveste
Sem nenhum ser varão7.
As horas têm superstições especiais, o parto é entendido pela chegada
da hora ou da horinha. Deseja-se às grávidas uma boa hora no momento do
parto, porque há as boas e as más horas. O meio-dia, por exemplo, é uma hora
amaldiçoada. A maldição pode vir de vários acontecimentos para além da hora,
tais como nascer com o cordão umbilical ao pescoço que é sinal de morte por
desastre. A hora do parto é condicionada pela lua, ao entrar no nono mês de
gravidez as grávidas entre os 14 e os 25 anos têm os filhos entre a lua nova e
o quarto crescente; entre os 25 e os 35, têm os filhos do quarto crescente até à
lua cheia; e dos 35 até aos 45, entre a lua cheia e o quarto minguante8.

O pós-parto está igualmente e durante séculos, cheio de rituais e de


superstições. O ditado diz quinze dias na cama, quinze dias no lar depois a
mulher vai trabalhar. Para expulsar as páreas, os lóquios, há práticas de
carácter mágico-religioso. No Marco de Canaveses a mulher deve soprar no
gargalho de uma garrafa e dizer “em nome de Santa Margarida que não está
prenha nem parida”. É comum também pôr-se um ovo estrelado na barriga da
parturiente. A roupa interior deve ser mantida durante um mês depois do parto:
as mulheres paridas não devem mudar de roupa branca durante um mês9,
porque se acredita nos seus poderes. Se durante o primeiro mês a seguir ao

7
Jaime Lopes Dias (1926-71), citado por Teresa Joaquim (1983).
8
Manuel da Sylva Leitão (1738), citado por Teresa Joaquim (1983).
9
Augusto César Pires de Lima (1947), citado por Teresa Joaquim (1983, ). Ditado do Douro Litoral.
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parto, a mulher mudar de roupa, deve vestir uma camisa usada do marido. A
primeira roupa que a mulher deve vestir depois do parto deve ser defumada
com loureiro verde e grãos de trigo e devem ser postas em cima do peito as
calças dos homens.

A alimentação no pós-parto é muito importante por causa do leite


materno. É costume as mulheres alimentarem-se de galinhas (trinta dias, trinta
galinhas), que muitas vezes são oferecidas pelas parentes e mulheres da
mesma aldeia. Para as mulheres o pós-parto era uma oportunidade de comer
por dois e também de se alimentarem de forma mais rica e variada, pois
frequentemente comiam mal e a comida não era abundante. A solidariedade é
grande nas aldeias e carateriza-se por estas ofertas, pelas trocas e por outras
ofertas simbólicas como os grãos de trigo e os ovos. Já no século XVIII, os
registos falam de chocolates (um produto raro na altura), de açúcar e de ovos.
No campo, as mulheres comem um pires de pão fervido a que elas costumam
chamar açorda de parida10. Trata-se de pão fervido com manteiga, ovo e
açúcar cobiçado mais pelas mulheres do campo, menos pelas das cidades e
menos ainda pelas da Corte. As mulheres da cidade jantam meia galinha das
maiores, uma malga grande de sopa, marmelada, tudo isto com vinho ou água.
Para terem leite devem beber vinho do Porto e não devem comer leite e carne
de porco e de vaca, assim como hortaliças que são considerados veneno.

Depois do parto, a mulher não deve assistir a enterros que pode causar
a esterilidade, nem deve ter relações sexuais porque traz graves
consequências, sobretudo para o homem que pode ficar gravemente debilitado,
ansioso e durante a gravidez, os filhos podem nascer fracos e não sobreviver.
Os casados devem esperar para não se destruírem nem perturbar as suas
mulheres.

Surge entretanto um outro parto, que é um ato medicalizado, sem dor,


passado entre a mulher e o médico, em que a comunidade não tem nada a
dizer. O rigor técnico afasta a emoção e entende-a como um sinal de
ignorância. Os saberes do povo tornam-se excessivos e descontrolados. Os
médicos ficam chocados com os gritos, a quantidade de pessoas, a sua

10
Manuel da Sylva Leitão (1738), citado por Teresa Joaquim (1983, p.114).
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ignorância. O saber das parteiras mostra muitas falhas, cometem erros que
causam a morte de crianças e de mulheres. O saber médico começa por
eliminar as parteiras do espaço dos partos e não compreende a sua função
social. A medicina luta contra os preconceitos populares, na verdade luta
contra o seu próprio passado.

Em Portugal passou a ser obrigatório as parteiras fazerem um exame a


partir de 1631, diante dum cirurgião-mor, mas estas parteiras tinham uma
intervenção reduzida, limitada às cidades. Nos campos, os hábitos
permanecem os mesmos durante muito tempo assim como as técnicas,
práticas, recomendações dos médicos dos séculos XVII e XVIII, se mantêm até
aos dias de hoje, em muitos meios, porque o saber não se espalha ao mesmo
tempo por todo o lado.

Os progressos do século XX, verificados na pesquisa médica eliminam


as elevadas taxas de mortalidade materno-infantil, é o século da maternidade
científica. Aumentam as informações disponíveis para as mães, desde os
termómetros, às vitaminas, aos antibióticos e as mulheres passam a estar na
dependência de peritos. As tarefas tradicionalmente simples, ainda que
imbuídas de superstições, começam a tornar-se complexas: amamentar é um
momento que depende do relógio, preparar uma sopa é quase uma arte, arejar
o quarto do bebé um exercício demorado. A maternidade reproduzida
geracionalmente dá lugar a uma outra, baseada nos princípios científicos.
Estes vão sendo aceites graças à intervenção de setores especializados que
trabalham nas diferentes áreas sociais: secretarias de infância, organizações
privadas e revistas de mulheres.

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SOCIOANTROPOLOGIA

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2019-2020
1º ANO / 1º SEMESTRE
MARIA JOANA PATEL

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