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OAB 2010.

3 2ª FASE – DIREITO CIVIL

Professor Cristiano Sobral · Execução instantânea: é quando o


contrato é de execução imediata,
OAB Segunda Fase esgotando-se num só instante, mediante
uma única prestação, num único ato. Ex.:
Complexo de Ensino Renato Saraiva contrato de compra e venda à vista;
· Trato sucessivo/cativos/execução
continuada: quando um contrato vai ser
Dos contratos executado em vários atos, no momento
futuro, continuadamente. Ex.: contrato
Conceito de locação, contrato de crediário,
contrato de prestação de serviços; etc.
É o acordo de vontades, ou negócio jurídico, entre · Diferido: quando um contrato vai ser
duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas) com finalidade executado em um único ato, no momento
de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos de futuro. Ex.: contrato de compra e venda a
natureza patrimonial. Todos os contratos são atos jurídicos prazo com um único pagamento.
bilaterais, pois resultam de uma conjugação de duas ou · Comutativos: as prestações de ambas
mais vontades. as partes são certas, podendo seu
montante ser avaliado já no ato da
O contrato hoje pode ser conceituado como um conclusão do contrato. Ex.: compra e
instrumento de tutela à pessoa humana, um suporte para o venda.
livre desenvolvimento de sua existência, inserindo-se a · Aleatórios: a prestação de uma ou de
pessoa em sociedade em uma diretriz de solidariedade (art. ambas as partes depende de um evento
1º, III, CF), na qual o “estar para o outro” se converte em futuro e incerto. Ex.: compra de produção
linha hermenêutica de todas as situações patrimoniais da próxima safra de laranja, com preço
(Nelson Rosenvald, Função Social do Contrato, cit, p. 82). fixado. No momento da celebração do
contrato o preço é fixado, mas se ignora a
Requisitos de validade quantidade da produção, e mesmo se
haverá produção. Há, pois, um risco: a
a) agente capaz; álea. Esta álea pode se referir tanto à
b) objeto lícito e possível e economicamente quantidade quanto à própria existência da
apreciável; coisa.
c) forma prescrita ou não vedada em Lei; · Principais: possuem vida autônoma.
Ex.: compra e venda.
Classificação · Acessórios: sua existência está
subordinada a de outro contrato: Ex.:
· Unilaterais: nascem obrigações fiança.
apenas para uma das partes; uma única · Intuito personae: o consentimento é
vontade. Ex.: testamento, mútuo. dado em razão da pessoa do outro
· Bilaterais: geram obrigações para contratante.
ambas as partes; duas manifestações de · Impessoais: não importa a pessoa do
vontade. Ex.: contrato de compra e outro contratante.
venda. · Nominados (típicos): estão tipificados
· Plurilaterais: várias manifestações de em lei.
vontade. Ex.: contrato social de uma · Inominados (atípicos): ainda não
sociedade mercantil. foram regulamentados. São os contratos
· Onerosos: são aqueles em que uma criados pelas partes, dentro do princípio
das partes assume o ônus e a outra da liberdade contratual e que não
assume as vantagens, ou ambos assumem correspondem a nenhum tipo previsto no
o ônus e as obrigações. O direito de uma Código Civil. Devem respeitar a função
parte é o dever da outra parte. Ex.: social.
contrato de compra e venda; contrato de · Contratos paritários: quando as
locação, etc. partes são colocadas em pé de igualdade
· Gratuitos: Quando existe somente discutindo amplamente e fixando todas as
uma prestação. Ex.: contrato de doação suas cláusulas.
sem encargos; testamento, comodato; · Contratos de adesão: quando uma
etc. das partes se limita aceitar as cláusulas e
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condições previamente estipuladas pela Princípio da obrigatoriedade da convenção (pacta sunt


outra. Aqui vale observarmos a regra servanda).
disposta do CDC. Tal princípio decorre da liberdade de contratar,
visando fazer com que aquilo que foi contratado se torne
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas lei entre as partes. Assim podemos afirmar que as partes
tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou ficaram obrigadas ao conteúdo contratual, o que gera
estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos limitação. Entretanto, tal fundamentação está sendo
ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou mitigada pela doutrina mais moderna, bem como, pela
modificar substancialmente seu conteúdo. jurisprudência. A visão atual é pela defesa da permanência
do princípio, só que não mais como regra geral. Caso
§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a venhamos a estar diante de uma cláusula abusiva o
natureza de adesão do contrato. contrato poderá ser revisado, pois a função social permite
tal ocorrência. Veja o art. 51, § 2º do CC/02.
§ 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula
Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos
resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao
consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo
Tal princípio encontra limitações na legislação
anterior.
vigente. Hoje o contrato não gera efeitos somente para as
o partes, sendo possível afirmar que terceiros poderão sofrer
§ 3 Os contratos de adesão escritos serão redigidos em
seus efeitos. Estamos diante de uma via de mão dupla,
termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo
terceiros não podem sofrer em razão do contrato realizado
tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo
entre os parceiros contratuais e esses terceiros ou terceiro
a facilitar sua compreensão pelo consumidor. (Redação
não podem criar problemas para esses parceiros
dada pela nº 11.785, de 2008)
contratuais. Exemplos modernos: art. 17 do CDC e art. 608
do CC/02.
§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do
consumidor deverão ser redigidas com destaque, Princípio da boa fé
permitindo sua imediata e fácil compreensão.

· Não solenes (não formais): a lei não


exige uma forma preestabelecida para
reger estes contratos. A regra é a
utilização dos contratos não solenes ou
não formais. Consiste em um dever de probidade entre as
· Solenes: a forma especial deve estar partes, de transparência e lisura. Deve ser observado em
expressa em lei. Ex.: contrato de compra todas as fases do contrato. A boa-fé objetiva não está
e venda de bem imóvel; pacto ligada ao ânimo interior das pessoas envolvidas na relação;
antenupcial; contrato de locação em verdade, constitui um conjunto de padrões éticos de
residencial; doação de imóvel etc. comportamento, modelo ideal de conduta que se espera de
todos os integrantes de determinada sociedade.
Princípios contratuais
Princípio da função social
Princípio da autonomia da vontade Tal princípio está fundamentado no art. 421 CC/02, e
Segundo este princípio a pessoa poderá regular seus vale informar que o mesmo não limitou a liberdade de
direitos, ou seja, seus interesses próprios. Através de sua contratar e sim legitimou a liberdade contratual.
liberdade de contratar a pessoa realiza suas contratações.
Fato que deve ser mencionado é a questão da limitação O conteúdo contratual será submetido a um
dessa liberdade em razão da ordem pública. As pessoas controle de merecimento, averiguando se o mesmo se
possuem liberdade de contratar, só que a questão encontra de acordo com uma ordem social.
contratual fica limitada a função social.
Maria Celina Bodin de Moraes relata muito bem o
assunto afirmando que, “o negócio jurídico, no direito

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contemporâneo, deve representar, além do interesse Ocorrendo, aceitação fora do prazo, com adições,
individual de cada uma das partes, um interesse prático que restrições, ou modificações, importará nova proposta.
esteja em consonância com o interesse social e geral”
(Maria Celina Bodin de Moraes. A causa dos Contratos. 3ª) Contrato preliminar: apesar de não ser de regra
Revista Trimestral de Direito Civil. RJ. Padma, n. 21, jan/mar obrigatória tal fase vincula as partes. Deve conter todos os
2005, p.100). elementos do contrato definitivo, exceto quanto a forma.
Pode assumir duas formas: (a) compromisso
unilateral/contrato de opção (apenas uma das partes
Formação dos contratos assume o compromisso, apesar de ambas assinarem o
documento); (b) compromisso bilateral (ambas assinam,
1ª) Negociações preliminares: fase de debates. Não ambas assumem). O contrato preliminar em síntese
existe formalização de contrato. Em regra tal fase não apertada: contrato preliminar ou pacto de contrahendo
vincula as partes a realização da contratação, mas defendo nada mais é do que uma convenção provisória, contendo os
a vinculação ao deveres anexos a boa-fé objetiva. Por faltar requisitos do art. 104 do NCC, e os elementos essenciais ao
regulamentação de tal fase no atual Código a doutrina contrato (res, pretiutn e consensum), tem por objeto
explica que não haverá vinculação, porém concretizar um contrato futuro e definitivo, assegurando
excepcionalmente pode ser sustentada a responsabilidade pelo começo de ajuste a possibilidade de ultimá-lo no
civil extracontratual ou aquiliana, fundada no princípio de tempo oportuno. Os requisitos para a sua eficácia são os
que os interessados na celebração de um contrato deverão mesmos exigidos ao contrato definitivo, excetuada a forma.
comportar-se de boa-fé (Maria Helena Diniz, Curso..., p.46). Nesse sentido: Súmula 413 do STF: “O compromisso de
compra e venda de imóveis, ainda que não loteados, dá
2ª) Fase de proposta: aqui existe formalização, direito à execução compulsória, quando reunidos os
sendo chamada de fase de policitação. Tal fase vincula as requisitos legais”. Ele se distingue da simples oferta ou
partes. Pode se dar entre presentes (facilidade na proposta ou das negociações preliminares em preparo de
comunicação) e pode ocorrer entre ausentes (dificuldade contrato.
na comunicação). Atenção!!! Pode ser indagado no
concurso o seguinte: QUAL É A TEORIA QUE SE APLICA NOS A lei o admite como contrato inicial ou incompleto,
CONTRATOS ENTRE AUSENTES. VAMOS LÁ!!!!! Regra: a exigir a celebração do definitivo, desde que dele não
TEORIA DA AGNIÇÃO NA SUBTEORIA DA EXPEDIÇÃO conste cláusula de arrependimento e tenha sido levado ao
(expedição de resposta positiva). Exceção: TEORIA DA registro competente (art. 463 do NCC), a tanto que tal
AGNIÇÃO NA SUBTEORIA DA RECEPÇÃO (casos previstos exigibilidade permite o suprimento judicial da vontade da
nos incisos do art. 434 do CC/02). parte inadimplente, salvo se a isto se opuser a natureza da
obrigação (Art. 464 do NCC). Aquele que efetua a quitação
Deixará de ser obrigatória a proposta quando: e depois invoca a cláusula de arrependimento estaria
a) se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi violando a legítima expectativa da outra parte, podendo se
imediatamente aceita. Considera-se também presente falar em venire contra factum proprium.
a pessoa que contrata por telefone ou por meio de
comunicação semelhante; A sentença judicial que supre a declaração de
b) se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver vontade do contratante inadimplente em tutela específica
decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao da obrigação substitui o contrato definitivo. Dispõe, a
conhecimento do proponente; propósito, o art. 639 do CPC: “Se aquele que se
c) se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a comprometeu a concluir um contrato não cumprir a
resposta dentro do prazo dado; obrigação, a outra parte, sendo isso possível e não excluído
d) se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao pelo título, poderá obter uma sentença que produza o
conhecimento da outra parte a retratação do mesmo efeito do contrato a ser firmado”. Em regra, o da
proponente. obrigação (v.g., promessa de casamento), o contrato é
resolvido em perdas e danos, operando-se o disposto no
A oferta ao público equivale a proposta quando art. 465 deste Código.
encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o
contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Pode Da Estipulação em favor de terceiro.
revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação,
desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. A estipulação em favor de terceiro (pactum in favo
reiri tertii),consiste em um contrato através do qual

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convenciona-se que a prestação deverá ser cumprida pelo


promitente em favor de um terceiro alheio a relação Vícios redibitórios (art. 441 ao Art. 446 CC/02)
contratual. Exemplo clássico da estipulação é o contrato de
seguro de vida, onde o estipulante elege o beneficiário São vícios que geram a impropriedade do bem
(terceiro). tornando o mesmo inadequado ao fim destinado ou lhe
diminuindo o seu valor. Tal vício é o conhecido como vício
São os personagens envolvidos: oculto, assim pode ser afirmado que o Código Civil só deu
proteção ao vício oculto. De forma diversa o Código de
a) Estipulante: aquele que estipula em favor de Defesa do Consumidor, além de defender o adquirente em
terceiro face dos vícios ocultos, o protegeu também na ocorrência
b) Promitente: aquele que assume a obrigação de de vícios aparentes ou de fácil constatação.
cumprir a prestação em favor de terceiro.
c) Beneficiário: é o terceiro que, embora alheio à Diante da impropriedade que recai sobre o bem
relação contratual, é o destinatário da prestação a adquirido, a indagação que surge é a seguinte: o que o
ser cumprida pelo promitente. adquirente pode fazer?

Tal contrato excepciona o princípio da relatividade 1º) Poderia o mesmo propor ação redibitória em
contratual, pois o terceiro, ora beneficiário, terá vantagens, face do alienante visando retornar ao seu estado primitivo.
inclusive a de exigir do promitente o cumprimento da Tal ação só será cabível se o vício for substancial.
obrigação. 2º) Caso o vício não seja substancial, pode o
adquirente propor ação estimatória ou quanti minoris em
Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode face do alienante visando um abatimento no preço.
exigir o cumprimento da obrigação.
Numa palavra: quando o vício não for expressivo,
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se ou seja, de grande extensão, só será cabível a ação
estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, estimatória.
ficando, todavia, sujeito às condições e normas do
contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos Caio Mário diz que o fundamento dos vícios
termos do art. 438. redibitórios é o “princípio da garantia, sem a intromissão de
fatores exógenos, de ordem psicológica ou moral” (Caio
Mário da Silva Pereira. Instituições..., p. 123).
Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o
contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução,
É importante mencionar que tal vício já deve ser
não poderá o estipulante exonerar o devedor.
existente ao tempo da tradição. O professor Gustavo
Tepedino, afirma que não haverá responsabilização do
Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de
alienante caso a perda tenha se dado por caso fortuito,
substituir o terceiro designado no contrato,
ainda que a coisa apresentasse defeitos ocultos, uma vez
independentemente da sua anuência e da do outro
que não existisse, no caso, relação, de causa e efeito entre
contratante. o vício e o perecimento (Código Civil Interpretado conforme
a Constituição da República, Ed. Renovar, 2006, Vol II, p.
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato 69).
entre vivos ou por disposição de última vontade.
Poderá o adquirente demandar em face do
Da promessa de fato de terceiro alienante cumulando a ação com perdas e danos se provar
que o mesmo vendeu o bem sabendo que ele apresentava
José Acir Lessa Giordani, nos ensina que a promessa vício. Caso não fique provado que o alienante conhecia o
de fato de terceiro não consiste necessariamente em um vício, só será devolvido o valor pago pelo bem, sem que
contrato, pois pode se tratar de um ato meramente haja a cumulação com perdas e danos.
unilateral. (José Acir Lessa Giordani, Contratos, p. 83). Não
se trata de uma exceção ao princípio da relatividade dos Os prazos para a propositura da ação estão
contratos, pois quem se obriga é o promitente, e não o mencionados no art. 445 do CC/02 e os mesmos possuem
terceiro, que somente passa a se vincular perante o natureza decadencial.
promissário quando expressa o seu consentimento.

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Serão de 30 dias tratando-se de bens móveis e de bem durável e de vício de fácil percepção, impõe aplicar-se
1 ano se o bem for imóvel, contados da entrega efetiva. Se o prazo decadencial de 90 dias para deduzir a reclamação,
o adquirente já estava na posse do bem o prazo contados, em regra, da entrega efetiva do bem (art. 26, §
mencionado será contado reduzido a metade, ou seja, 15 1º, do mesmo código). Sucede que existe a peculiaridade
dias para bens móveis e 6 meses para bens imóveis, de que a montadora concedera ao veículo a garantia
contados da alienação. Percebam que aqui observamos a (contratual) de um ano, que é complementar à legal (art. 50
modalidade de tradição ficta, traditio brevi manu, que da citada legislação). Diferentemente da garantia legal, a lei
significa que aquele que possui em nome de outrem passa não fixou prazo de reclamação para a garantia contratual,
a possuir em nome próprio. todavia a interpretação teleológica e sistemática do CDC
permite estender à garantia contratual os mesmos prazos
Questão complicada surge quando estamos diante de reclamação referentes à garantia legal, a impor que, no
do parágrafo único do art. 445, pois a lei menciona que caso, após o término da garantia contratual, o consumidor
quando o vício só puder ser conhecido mais tarde o prazo tinha 90 dias (bem durável) para reclamar do vício de
passa a ser de 180 dias tratando-se de bens móveis e de 1 inadequação, o que não foi extrapolado. Dessarte, a Turma,
ano se for imóvel. ao renovar o julgamento, aderiu, por maioria, a esse
entendimento. O voto vencido não conhecia do especial
Indaga-se: como fica o prazo para a propositura por falta de prequestionamento. Precedentes citados: REsp
das ações edilícias (redibitória/ estimatória)? 442.368-MT, DJ 14/2/2005; REsp 575.469-RJ, DJ 6/12/2004,
e REsp 114.473-RJ, DJ 5/5/1997. REsp 967.623-RJ, Rel. Min.
O enunciado 174 da III Jornada de Direito Civil nos Nancy Andrighi, julgado em 16/4/2009.
responde. Vejamos:
Evicção (art. 447 ao art. 457, CC/02)
174 – Art. 445: Em se tratando de vício
oculto, o adquirente tem os prazos do A evicção se dá pela perda da coisa, adquirida em
caput do art. 445 para obter redibição contrato oneroso (cuidado muitos concursos mencionam,
ou abatimento de preço, desde que os contratos gratuitos), por força de decisão judicial, ou
vícios se revelem nos prazos apreensão administrativa,mesmo se aquisição for hasta
estabelecidos no parágrafo primeiro, pública. O entendimento anterior era a adoção da evicção
fluindo, entretanto, a partir do somente nos casos de sentença judicial, mas hoje vigora o
conhecimento do defeito. conceito acima. Segue fundamentação de acordo com
julgado do STJ.
Por fim é importante mencionar que se for dado
prazo de garantia contratual pelo alienante, não serão CIVIL. EVICÇÃO. O direito de demandar
contados os prazos da lei, isso significa que os prazos pela evicção não supõe,
decadenciais ficam suspensos. Realizando diálogo com o necessariamente, a perda da coisa por
CDC e citando a jurisprudência do STJ, a questão fica dessa sentença judicial. Hipótese em que,
forma nos tribunais. tratando-se de veículo roubado, o
adquirente de boa-fé não estava
Garantia= Garantia Contratual + Garantia Legal. obrigado a resistir à autoridade
policial; diante da evidência do ato
INDENIZAÇÃO. CDC. GARANTIA CONTRATUAL. criminoso, tinha o dever legal de
O recorrente adquiriu um automóvel utilitário (zero colaborar com as autoridades,
quilômetro), mas, quando da retirada, logo notou pontos devolvendo o produto do crime.
de corrosão na carroceria. Reclamou 11 meses depois; Recurso especial não conhecido.(REsp
contudo, apesar da realização de vários reparos pela 69496/SP, Rel. Ministro Ari
concessionária, a corrosão alastrou-se por grande parte do Pargendler, Terceira Turma, julgado
veículo, o que levou ao ajuizamento da ação de indenização em 09/12/1999, DJ 07/02/2000, p.
por danos morais e materiais em desfavor da 149).
concessionária e da montadora. No caso, está-se diante de
vício de inadequação (art. 12 do CDC), pois as imperfeições Evicção ou evincere = privação total ou privação parcial.
apresentadas no produto impediram que o recorrente o
utilizasse da forma esperada, porém sem colocar em risco Partes na evicção:
sua segurança ou a de terceiros, daí que, tratando-se de

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a) evicto ou evencido – é a pessoa que perde a Uma regra que deve ser mencionada e de suma
coisa;adquirente. importância é a do art. 199 III do CC/02, que prevê que não
b) alienante – é a pessoa que transferiu; corre prescrição, pendendo a ação de evicção, mas
c) evictor ou evencente – pessoa que ganha a coisa somente após o trânsito em julgado da sentença a ser
por decisão judicial. proferida na ação em que se discute a evicção.

Uma indagação bastante interessante em Questão tormentosa é a denunciação da lide na


concursos é a seguinte: Os bens arrematados em hasta evicção. O art. 456 do CC/02 informa que para que o evicto
pública estariam garantidos contra a evicção? exerça seu direito, deverá ele notificar do litígio o alienante
imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe
determinarem as leis do processo. Seria a denunciação da
Posição moderna: “o art. 447 do CC/02 consolida lide obrigatória, pela leitura do artigo sim, porém o STJ não
posição doutrinária no sentido de estender a evicção à utiliza tal fundamentação afirmando que a mesma será
pessoa que adquire por arrematação judicial em processo facultativa.
de execução” (Bezerra de Melo. Novo Código Civil anotado,
vol. III, t. I, p. 60.). Evicção. Indenização. Denunciação da
lide (falta). 1. Por não se ter
Podem as partes por cláusula expressa reforçar, denunciado, quando reivindicada a
diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção? coisa por terceiro, não impede se
pleiteie "a devolução do preço de coisa
Segundo a leitura do art. 448 do CC/02, tal vendida, se não provado que o
possibilidade é perfeitamente cabível, porém entendo que alienante sabia do risco dessa evicção
somente nas hipóteses em que o contrato não seja de ou, em dele sabendo, que não o
adesão, pois poderia ser alegada a regra do transcrito no assumira". Em tal sentido, precedentes
art. 424 do CC/02. do STJ: REsp´s 9.552 e 22.148, DJ´s de
03.8.92 e 05.4.93. 2. "A pretensão de
Qual será o valor a ser indenizado ao evicto? simples reexame de prova não enseja
recurso especial" (Súmula 7). 3.
O art. 450 do CC/02, responde a indagação Recurso especial não conhecido. (REsp
informando que será restituído o evicto do valor integral do 132258/RJ, Rel. Ministro Nilson Naves,
preço ou das quantias que pagou e ainda aos frutos que Terceira Turma, julgado em
tiver sido obrigado a restituir, a indenização pelas despesas 06/12/1999, DJ 17/04/2000, p. 56).
dos contratos e pelos prejuízos sofridos, as custas judiciais
e aos honorários do advogado por ele constituído. O Seria admissível a denunciação por saltos, ou seja,
problema se dá quando o § único do artigo menciona que o pode ao adquirente denunciar a lide a quem lhe vendeu o
preço será o dá época em que a coisa se evenceu e bem ou a quem vendeu a quem lhe vendeu? Pergunta
proporcional ao desfalque sofrido no caso de evicção complicada, não é!
parcial. Como se fará o cálculo da indenização neste caso?
O STJ firmou um precedente no REsp nº 248423. Vejamos: 1ª) 29 I CJF - Art. 456: a interpretação do art. 456
do novo Código Civil permite ao evicto a denunciação direta
INDENIZAÇÃO. PERDAS E DANOS. de qualquer dos responsáveis pelo vício.
EVICÇÃO. Perdida a propriedade do
bem, o evicto há de ser indenizado
com importância que lhe propicie Contratos aleatórios
adquirir outro equivalente. Não
constitui reparação completa a simples Significa que o contrato é de risco, ou seja, de uma
devolução do que foi pago, ainda que expectativa da ocorrência de evento incerto e casual.
com correção monetária. (REsp Carvalho dos Santos aduz que contrato aleatório é aquele
248423/MG, Rel. Ministro Eduardo que “nasce de esperanças e receios” (Carvalho dos Santos.
Ribeiro, Terceira Turma, julgado em Código Civil, p. 413).
27/04/2000, DJ 19/06/2000, p. 146).
Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a
coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um

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dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber é feito por qualquer modo, independente de forma diversa
integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua pela qual se realizou o contrato desfeito.
parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do
avençado venha a existir. Trata-se da venda empito A resilição unilateral é meio de extinção da relação
spei/venda da esperança. O exemplo clássico: uma pessoa contratual, admitida por ato de vontade de uma das partes,
compra toda a colheita de uma fazenda em determinado em face da natureza do negócio celebrado, terminando o
período e a fazenda nada produz. vínculo existente por denúncia do contrato, mediante
notificação.
Já se assumir o adquirente tomando a si o risco de
virem a existir em qualquer quantidade, terá também b) cláusula resolutiva
direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte
não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir O contrato se resolve pela cláusula resolutiva
em quantidade inferior à esperada. Aqui observamos a expressa, diante de obrigação não adimplida de acordo
venda, empito rei speratae/venda da esperança em relação com o modo determinado. A cláusula expressa promove a
a quantidade. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação rescisão de pleno direito do contrato em face do
não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido. inadimplemento.
Exemplo clássico: safra futura. Quando não houver sido expressa a cláusula
resolutiva, o contratante prejudicado deverá notificar a
Estando de frente com coisas já existentes, mas parte inadimplente acerca da sua decisão de resolver o
expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá contrato em face da inadimplência do outro. E ínsita a todo
igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a pacto bilateral a cláusula resolutória tácita.
coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do
contrato. Exemplo: passo um navio por 500 mil sabendo c) exceção de contrato não cumprido
que o mesmo vale uns 2 milhões de reais. Poderiam pensar
que sou louco, ocorre que o navio está afundando, e o O princípio exceptio non adimpleti contractus,
vendo pelo um valor inferior já sabendo que o comprador decorrente da dependência recíproca (prestações
irá assumir um grande risco, pois a coisa está exposta a simultâneas) das relações obrigacionais assumidas pelas
risco. partes, é exercido pelo contratante cobrado, recusando-se
à sua exigibilidade (satisfazer a sua obrigação) por via da
Numa palavra: o dispositivo trata do risco sobre a exceção do contrato não cumprido; quando a ela instado,
existência da coisa, retratando a emptio spei (venda da invoca o inadimplemento da obrigação do outro. O
esperança, a probabilidade de a coisa existir), caso em que princípio tem incidência quando ocorre uma
o alienante terá direito a todo o preço da coisa que venha a interdependência, pela simultaneidade temporal de
não existir, como sucede no exemplo clássico da venda de cumprimento (termos comuns ao adimplemento) entre as
colheita futura, independente de a safra existir ou não, obrigações das partes, ou seja, as obrigações devem ser
assumindo o comprador o risco da completa frustração da recíprocas e contemporâneas.
safra (inexistência), salvo se o risco cumprir-se por dolo ou
culpa do vendedor. Caio Mário, afirma que “se ambas as prestações
são sucessivas, é claro que não cabe a invocação da
exceptio por parte do que deve em primeiro lugar, pois que
Extinção do contrato a do outro ainda não é devida; mas, ao que tem de prestar
em segundo tempo, cabe o poder de invocá-la, se o
a) distrato primeiro deixou de cumprir” (Caio Mário da Silva Pereira.
Instituições, p. 160). Aqui podemos afirmar que haverá
O distrato é negócio jurídico que objetiva a exceção de insegurança, regra prevista no art. 477 do
desconstituição do contrato, extinguindo os seus efeitos. E CC/02. Vejamos o caso em que a mesma é aplicada
o desfazimento do acordo de vontades, da relação jurídica segundo a lei.
existente, através da manifestação recíproca dos
contratantes (resilição bilateral), quando ainda não tenha Art. 477. Se, depois de concluído o
sido executado o contrato. Os seus efeitos operam-se sem contrato, sobrevier a uma das partes
retroatividade (efeito ex nunc). A forma do distrato contratantes diminuição em seu
submete-se à mesma forma exigida por lei para o contrato patrimônio capaz de comprometer ou
para ter a sua validade. Não obrigatória a forma, o distrato tornar duvidosa a prestação pela qual

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OAB 2010.3 2ª FASE – DIREITO CIVIL

se obrigou, pode a outra recusar-se à aspectos subjetivos” (Leonardo Medeiros Garcia. Direito do
prestação que lhe incumbe, até que Consumidor, Código Comentado e Jurisprudência, cit., p.
aquela satisfaça a que lhe compete ou 62).
dê garantia bastante de satisfazê-la.

Se o cumprimento for defeituoso, estaremos


diante do descumprimento parcial da obrigação (exceptio
non rite adimpleti contractus).

Orlando Gomes diz que a diferença entre a


exceptio non adimpleti contractus (descumprimento total) e
a exceptio non rite adimpleti contractus diz respeito ao
ônus da prova, pois “havendo inadimplemento total,
incumbe a prova ao contraente que não cumpriu a
obrigação. Havendo exceção incompleta, deve prová-la que
invoca a exceção, pois se presume regular o pagamento
aceito” (Orlando Gomes. Contratos, p. 92).

OBS.: Quando houver sido pactuada a cláusula


solve et repete, opera-se a renúncia ao emprego da
exceptio non adimpleti contractus.

d) onerosidade excessiva

Teoria da imprevisão: diz-se onerosidade excessiva


o evento que embaraça e torna dificultoso o adimplemento
da obrigação de uma das partes, proveniente ou não de
imprevisibilidade da alteração circunstancial (evento
extraordinário e imprevisível), impondo manifesta
desproporcionalidade entre a prestação e a
contraprestação, com dano significativo para uma parte e
conseqüente vantagem excessiva (enriquecimento sem
causa) para a outra, em detrimento daquela, a
comprometer, destarte, a execução equitativa do contrato.

Trata-se de manifestação clara do princípio do


equilíbrio econômico. Atenção, pois é comum em provas
objetivas o examinador utilizar onerosidade excessiva como
sinônima da teoria da imprevisão.

A teoria da imprevisão difere da teoria adotada


pelo CDC (teoria da base objetiva do negócio jurídico), pois
nesta última teoria é desnecessário investigar sobre a
previsibilidade do fato econômico superveniente. Assim, o
fato pode até ser previsível, porém não é esperado.

Leonardo Medeiros Garcia citando Karl Larenz diz


que “não interessa se o fato posterior era imprevisível, o
que realmente interessa é se o fato superveniente alterou
objetivamente as bases pelas quais as partes contrataram,
alterando o ambiente econômico inicialmente presente.
Isto é, para essa teoria, não interessa se o evento era
previsível ou imprevisível, não se prendendo, então, a

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