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Hermenêutica do Novo Testamento

Rodrigo P. Silva, ThD


Introdução
Um grupo de pessoas estava reunido numa espécie de ‘pequeno grupo’ que um
pastor distrital tinha acabado de inaugurar. Eles se propuseram a estudar o livro de
Daniel. Este fato aconteceu com o Ronald D. Worden, professor de Bíblia no Houston
Graduate School of Theology. Ele diz que o pastor iniciou conduzindo um estudo sobre
a festa de Belsazar. Então pediu que cada um ali presente comentasse sobre a história e
seu significado. Um dos irmãos sugeriu que o centro do texto era a irreverência para
com as coisas de Deus, a saber os vasos sagrados do templo. Outros prontamente
retornaram a discussão para o que os vasos significariam hoje. Ora, Paulo diz que nós
somos os vasos de Deus (vasos para honra ou para desonra, II Tim. 2:20-22), logo os
vasos sagrados do templo são pessoas. A chefe do departamento infantil, não tardou em
dizer que as crianças eram os vasos mais puros e mais negligenciados de hoje e que
muitos pais, professores e membros de igreja, como o rei babilônico da historia
desonram esses pequenos vasos através da negligencia, do abuso infantil, etc. Tudo
muito lindo, gerando muitos pontos de vista interessantes. O único problema: fugiram
por completo da historia real do livro. Como o próprio professor Worden concluiu:
‘Talvez o senso intuitivo de pessoas espirituais as levaram para uma aplicação até válida
da Palavra de Deus aos nossos dias. Mas ao custo de fugir por completo daquilo que o
livro de Daniel teria a nos dizer desde sua perspectiva histórica real’.
Certamente devemos nos perguntar o que o texto diz para nós e que aplicação ele
teria em nossos dias, mas essa pergunta será muito mais satisfatoriamente respondida se
incluir métodos hermenêuticos de interpretação que tenham a ver, especialmente, com o
contexto histórico e literário no qual o livro foi produzido. Afinal, os próprios autores da
Bíblia trabalharam suas narrativas dentro de uma perspectiva histórica de compreensão
da realidade.
Veja esta interessante citação de Daniel B. Wallace:
“Aqueles que estão no ministério precisam fechar a brecha existente entre a
Igreja e o mundo acadêmico. Nós temos que educar os crentes. Ao invés de ficar
tentando isolar (isolate) os leigos da crítica acadêmica, o que precisamos é isolá-las
(insulate) deles. Eles precisam estar prontos para as barreiras, porque elas certamente
virão. A intencional tendência de baixar o padrão [intelectual] por amor do
preenchimento de bancos vazios pode resultar numa perda de afeição por Cristo.” 1 O
ideal não é alienar a igreja das discussões acadêmicas, mas prepará-la para enfrentá-las.
Pressuposições Hermenêuticas
Aqueles que desejam aprofundar-se num estudo mais acadêmico das Escrituras
se deparam com termos técnicos que precisam ser bem definidos para não serem usados
erroneamente. Nalgumas situações cria-se a errônea impressão de que alguns termos são
sinônimos perfeitos, o que nem sempre é verdade. É o caso, por exemplo, da confusão
que alguns fazem entre Hermenêutica do Novo Testamento e Teologia do Novo

1
Citado por R. Price, Searching for the Original Bible, (Eugene: egon, 2007),19.
1
Testamento. Embora uma pressuponha a outra, ambas são disciplinas distintas. Uma
correta hermenêutica é fundamental para a construção de uma Teologia Bíblica do Novo
Testamento (e para todas as disciplinas relacionadas à Bíblia), mas o contrário não é
verdadeiro. Afinal, se a Teologia anteceder à Hermenêutica, corre-se o sério risco de
impor à Revelação outros elementos distintos e talvez até contrários a ela.
Outro problema está com a questão dos pressupostos de cada autor. O mesmo
termo pode ter uma conceituação diferente de um manual para o outro. Das dez
principais “Teologias do Novo Testamento” lançadas entre 1967 e 1976, não é possível
encontrar sequer dois autores que estejam em concordância quanto à natureza, escopo,
propósito ou método desta disciplina.2 E mesmo em anos recentes, especialmente na
última década do século XX, a diversidade de abordagens ao Novo Testamento mostra
que o consenso nesta área é algo que está longe de existir.3 Logo, é importante ao
pesquisador conhecer os autores com os quais está lidando e, ao mesmo tempo, definir
precisamente o que se pretende com o uso de determinadas ferramentas ou
nomenclaturas.
Veja o caso ilustrativo da dubiedade por detrás da expressão “Teologia Bíblica”.
Alguns autores a definem de uma maneira bem conservadora, enquanto outros nem
tanto. A ala liberal alemã, por exemplo, representada por E. Kasemann4, estava tão
impregnada pela hipótese documentária que chegou a negar a existência de uma
“Teologia Bíblica” preferindo falar de “Teologias” no plural, a saber: Teologia
Deuteronômica, Sacerdotal, Sapiencial, Comunidade Joanina, Comunidade Mateana etc.
Esta abordagem teológica nega por completo o conceito de inspiração e a unicidade das
Escrituras, especialmente no que diz respeito à sua autoria divina. No dizer do próprio
Kasemann “A Tendência agora é reconhecer que não existe nenhuma ‘teologia’, quer
seja do Antigo ou Novo Testamento, muito menos da Bíblia como um todo”5. Nesta
declaração, o autor está respondendo justamente ao chamado movimento da Teologia
Bíblica que floresceu e declinou entre 1940 até à primeira década de 1960.
Esta situação derivava da velha escola alemã de G. L. Bauer6 e W. Wrede7 que
apresentavam a Teologia Bíblica como disciplina totalmente independente da Teologia
Dogmática e até contrária a ela. Mas não se trata de uma cisão como aquela proposta
pela Reforma em que a Hermenêutica da Sola Scriptura deveria se independer do
dogma da tradição a fim de encontrar as verdades bíblicas. Aqui, a Teologia Bíblica
seria o estudo científico da Bíblia (vista apenas como peça literária da antiguidade) em
completa ruptura com a Teologia Dogmática que seria a sistematização de “doutrinas da
fé” incompatíveis com a abordagem acadêmica. Assim nega-se por exemplo a realidade

2
Donald A. Carson, Teologia Bíblica ou Teologia Sistemática? Unidade e diversidade no Novo
Testamento, (São Paulo: Vida Nova, 2001) 13; G. F. Hasel, Teologia do Novo Testamento,questões
fundamentais no debate atual, (Rio de janeiro: JUERP, 1988), 10 e 11.
3
Veja um resumo destas abordagens em Donald A. Carson e Douglas J. Moo, An Introduction to the new
Testament, (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2005), 59-76.
4
E. Kasemann, 'Neutestamentliche Frage von heute', ZTK 54 (1957) 18. Cf. J. Barr, 'Trends and
Prospects in Biblical Theology', JTS 25 (1974) 270, 'The tendency now is to say that there is no one
theology, either of the Old Testament or of the New, and still less of the entire Bible'.
5
Idem.
6
G.L. Bauer, Theologie des Alten Testaments (Leipzig: Weygand,1796); Biblische Theologie des Neuen
Testaments (Leipzig: Weygand, 1800-2 ).
7
W. Wrede, Uber Aufgabe und Methode der sogennanten neutestamentliche Theologie (Gottingen,
Vandenhoeck & Ruprecht, 1897); tradução em Inglês de R. Morgan, The Nature of New Testament
Theology (London, SCM 1973), 69.
2
redentora da morte de Cristo relegando a temática a “um símbolo de fé apenas” (nunca
uma história real empiricamente verificável). A ressurreição, assim como o chamado
Cristo da Fé, pertence à liturgia e à confessionalidade das igrejas mas não ao
departamento de Novo Testamento ou ao Instituto Bíblico cujo foco é estudar a História.
Esta é a abordagem da famosa escola da História das Religiões (Religionsgeschichte).
Neste sentido entende-se a definição dada por Wrede de que a teologia do Novo
Testamento é puramente histórica e descritiva e “totalmente indiferente a todos os
dogmas e à toda a Teologia Sistemática”8.
Na sequência das rupturas propostas, foi sugerido ainda um distanciamento entre
a Teologia do Antigo e do Novo Testamento que também se tornaram disciplinas
autônomas com departamentos separados em diversas universidades americanas.
Algumas optaram por mudar o nome do departamento para “Estudos em Religião”
(tendência seguida hoje em algumas universidades brasileiras que oferecem o título de
Ciência da Religião ao invés de Teologia). Na Europa a separação foi ainda mais radical
criando uma independência (e até alguns conflitos) entre o Seminário de Teologia
Dogmática e os Institutos Bíblicos como é o caso da Universidade Gregoriana e do
Pontifício Instituto Bíblico de Roma (as mais renomadas instituições teológicas da
Igreja Católica).
Na ala mais conservadora, autores como Donald A. Carson9 e B. B. Warfield10
chegam a considerar inútil a distinção entre Teologia Sistemática e Teologia Bíblica.
Afinal argumentam eles, toda teologia digna do nome deverá ser apresentada de um
modo “sistemático” e nenhum sistematizador cristão de teologia gostaria de pensar que
sua obra é algo menos que “bíblica”. Logo, as definições “bíblica/sistemática” acabam
se tornando uma tautologia impertinente.
Por outro lado, autores igualmente conservadores como Elmer A. Martens11,
Charles H. H. Scobie 12 e G. F. Hasel13 preferem não abandonar a clássica expressão, mas
antes definir corretamente o seu papel. Para eles a “Teologia Bíblica” deveria ser uma
norteadora e corretora da Teologia Sistemática, principalmente nos momentos em que
seu discurso for tentado a emergir de uma categoria filosófica estranha às Escrituras.
Por isso, a expressão deveria, em última instância, referir-se a qualquer teologia que
busque ser fiel à Bíblia, então compreendida como legítima Palavra de Deus. Qualquer
abordagem teológica que não correlacione seus temas de um modo bíblico é perigosa
8
Idem. W. Wrede, de fato, usava como título de seu ensaio o termo “teologia do Novo Testamento”, mas
tanto ele como outros que o seguiram não foram consistentes no uso da expressão e a empregavam numa
abordagem historicista apenas.
9
Donald A. Carson, Teologia Bíblica ou Teologia Sistemática?, 26.
10
B.B. Warfield, “The Idea of Systematic Theology” publicado originalmente em 1896 e republicado em
The Necessity of Systematic Theology [Editado por J. J. Davis] (Washington, DC: University Press of
America, 1978), 99.
11
Elmer A. Martens, “Tackling Old Testament Theology” in Journal of the Evangelical Theological
Society 20 ( 1977), 123-132.
12
Charles H.H. Scobie, “New Directions in Biblical Theology,” Themelios 17.2 (Jan/Fev)
1992), 4-8. A mesma idéia Scobie repete com mais detalhes em seu recente livro The Ways of Our God:
An Approach to Biblical Theology, (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing, 2003), 3 ss.
13
Hasel escreveu: “A degree of systematizing the material content of the biblical books and groups of
writing is inevitable, but the principles for systematizing must derive inductively from Scripture itself”
G.F. Hasel, 'The Relationship Between Biblical Theology and Systematic Theology', Trinity Journal 5
(1984) 126. Veja ainda G. F. Hasel, “The Future of Biblical Theology” in Perspectives on Evangelical
Theology [Ed. Por K. Kantzer e S. N. Gundry] (Grand Rapids, MI: Baker, 1979), 179-194
3
não pode ser considerada “Teologia Bíblica”. Neste sentido, R. B. Gaffin foi mais
radical ao sugerir que se abandone a nomenclatura “sistemática ou dogmática” e que se
fale apenas de Teologia Bíblica.14 G. Vos, por sua vez, havia bem antes de Gaffin,
desconsiderado o valor da expressão Teologia Bíblica por considerá-la redundante (para
ele seria algo como “Deus Divino”). A seu ver deveria se manter apenas a expressão
“Teologia Sistemática” (por conveniência acadêmica) e substituir a outra por “história
da revelação especial”.15
A discussão, portanto, está longe do fim. É por isso que J. L. Mckenzie definiu
mais recentemente a Teologia Bíblica como “uma disciplina ou subdisciplina no campo
da Teologia que carece de princípios, métodos e estrutura que sejam aceitos de modo
geral.” E admitiu: “Não há sequer uma definição universalmente aceita do que seria seu
propósito e escopo.”16
Para fins de nossa disciplina, é importante ao pesquisador notar que este título
(Teologia Bíblica) pode ser usado por alguns de um modo tanto conservador, como de
um modo completamente humanista, sem nenhum interesse de confessar a origem
divina da Sagrada Escritura.
Embora esta classe objetive a apresentação de um exercício exegético sobre o
Novo Testamento (e, portanto, menos Sistemático/Dogmático em sua abordagem), é
importante apresentar o conceito de Teologia Bíblica com o qual trabalharemos para que
o aluno não se perca no emaranhado de propostas apresentadas.
Em primeiro lugar, preferimos manter a nomenclatura “Teologia Bíblica” apenas
por razões convencionais e acadêmicas. Neste sentido ela deve ser vista como anterior,
mas não como superior à Teologia Sistemática, muito menos como eliminadora de seu
papel. Afinal, não se trata de uma disciplina fechada em si mesma. Seu papel é
descortinar exegeticamente a menor porção das Escrituras oferecendo às Teologias
Sistemática, Aplicada e Histórica elementos sólidos para se organizar o corpo
doutrinário da Igreja e proporcionar um diálogo saudável entre as crenças cristãs e as
correntes filosófica, antropológica, sociológica etc. sem a perda da identidade
confessional que é de natureza inegociável.
A fonte da Teologia Bíblica é, portanto, unicamente as Escrituras. Não obstante,
lança-se mão de estudos arqueológicos, contextuais e lingüísticos (especialmente de
idiomas pertinentes ao chamado mundo bíblico) cuja finalidade é iluminar o ambiente
histórico ao qual a Bíblia se refere e em meio ao qual foi produzida. Mas estas
ferramentas são limitadas por sua natureza e não devem estar em pé de igualdade com o
texto fornecido pela Revelação.
A distinção entre Teologia do Antigo e Teologia do Novo Testamento, também é
pertinente para fins acadêmicos desde que não se criem rupturas ou superioridade de
uma em relação à outra. Existe uma falsa noção, mesmo entre autores mais
conservadores de que o Novo Testamento é a Nova Aliança, superior ou até
desconectado do Antigo. Ainda que de modo inconsciente, os autores que assim
14
R. B. Gaffin “Systematic Theology and Biblical Theology” in Westminster Theological Journal 38
(1975/6), 281-299.
15
G. Vos, Biblical Theology: Old and New Testament (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing,
1948), 23.
16
J. L. Mckenzie, 1974, 15. Para uma discussão mais extensiva dos problemas de definição veja J. Barr,
1999.
4
trabalham seguem uma filosofia marcionita que deveria ser evitada. R. de Vaux foi feliz
ao declarar que “para o acadêmico cristão que trabalha à luz de sua fé, não existe
Teologia do Antigo Testamento separada da Teologia do Novo testamento, há apenas
uma Teologia Bíblica fundamentada em dois testamentos e ambos contêm a Palavra de
Deus”17. É claro que existe uma influência Bartiana nestas palavras, de modo que seria
mais correto dizer que “ambos são a Palavra de Deus”18. Contudo, salvaguardada esta
observação, o posicionamento assumido por Vaux é pertinente e deveria ser observado.
Portanto, o que queremos dizer é que a Teologia Bíblica, pode contemplar
especialistas em Antigo e Novo Testamento que devem trabalhar em conjunto fazendo
um estudo técnico dos livros inspirados dentro de um contexto canônico de
continuidade e cumprimento, mas nunca de supressão. Este esforço hermenêutico, nas
palavras de Hasel, “Deve integrar a Teologia do Antigo e do Novo Testamento de um
modo dinâmico que supere a presente justaposição sugerida”19.
Respeitando a individualidade de cada autor inspirado, é possível subdividir
ainda mais a disciplina falando de Teologia Paulina, Sinótica, Joanina, etc. Afinal, existe
por detrás do fenômeno da inspiração um autor humano que, orientado por Deus,
debruça sobre o que lhe é apresentado e reflete sobre a situação. Doutro modo cairíamos
na inspiração verbal ou no conceito de inerrância. Não obstante, essas diferenças
constituem “particularidades” do autor e seu tempo, mas não “contradições” bíblicas
conforme sugerido por alguns. O conceito de inspiração que advogamos demonstra que
Deus respeita a individualidade do profeta, mas impõe-lhe limites que visam proteger o
conteúdo principal da mensagem não permitindo que conceitos humanos maculem
aquilo que a Providência decidiu revelar à humanidade.
História da Interpretação do Novo Testamento
Como bem apontou G. Hasel, a “Igreja pós-NT dos primeiros séculos do
cristianismo não desenvolveu nenhuma teologia bíblica nem do NT.”20 Trata-se,
portanto, de um conceito novo, próprio da modernidade e posterior ao século 18.
Contudo, isto não significa que não houvesse uma hermenêutica ou uma interpretação
bíblica anterior a essa época. O que diferenciava o exercício era o contexto particular de
cada situação.
Os cristãos primitivos não se deparavam com as atuais questões de crítica textual
a respeito da Bíblia. Por muitos anos após a morte e ressurreição de Cristo eles ainda
participavam do culto sinagogal com os judeus, interpretando as Escrituras nos mesmos
moldes judaicos, exceto no fato de que viam a Jesus de Nazaré como legítimo
cumpridor das profecias messiânicas. A Torá e os Profetas eram então lidos na língua
original hebraica, embora também houvesse espaço para um largo uso da versão dos
LXX especialmente nos escritos de Paulo.
Nem todos, é claro, tinham acesso à língua hebraica (especialmente os judeus da
diáspora). Por isso, ao lado das LXX havia também os Targuns que eram paráfrases
17
R. de Vaux, 'A propos de la Theologie Biblique', ZA W 68 (1956), 226.
18
Quase dos séculos antes do movimento da Neo-ortodoxia, Salomo Semler, diretor da faculdade de
Teologia da Universidade de Halle já havia preparado uma obra em cinco volumes indicando as
limitações da autoridade bíblica e sua inspiração. Sua tese era a de quem nem todas as porções das
Escrituras foram orientadas por Deus. Portanto, elas apenas contêm a palavra de Deus.
19
G.F. Hasel, 'Biblical Theology: Then, Now and Tomorrow', HBT 4:1 (1982), 74.
20
G. F. Hasel, Teologia do Novo Testamento, 13.
5
aramaicas (muitas vezes seguidas de comentários) de longos ou curtos trechos da Bíblia
Hebraica.
Embora prevaleça uma compreensão de que Cristo e os primeiros cristãos
usaram maiormente o texto grego da LXX em suas citações do Antigo Testamento,
alguns autores evidenciam a possibilidade de que Cristo e seus discípulos tivessem
privilegiado o uso do Texto Hebraico (e não do grego) e feito paráfrases targúnicas no
momento de citá-lo em seus ensinamentos públicos. Isto de fato é uma possibilidade,
mas não uma certeza e lança luz sobre a hermenêutica dos tempos do Novo
Testamento.21
O problema é que a versão targúnica refletia muito a interpretação midrástica da
Tanakh, e acabou favorecendo as interpretações excessivamente alegóricas das
Escrituras como aquelas encontradas em Orígenes (c. 185 — 253 d.C.) e seus
seguidores, por volta do fim do segundo e início terceiro séculos da era cristã. Essa
interpretação foi combatida por Luciano de Antioquia no IV século, que fundou a
Escola Antioquena de interpretação literal.
Contudo, é importante notar que já em Ireneu de Lion encontramos o primeiro
sinal de que havia um trabalho crítico textual do Novo Testamento, pelo menos por
volta de 177 d.C. quando ele possivelmente escreveu sua obra Adversus Haereses. Ali
ele preferiu uma determinada leitura do Apocalipse ao invés de outra. É que alguns mss
traziam o número da Besta como sendo 616 e não 666. Sobre isso Ireneu diz preferir
666 que é o número que aparece “em todas as mais antigas e e aprovadas cópias ... além
de ser atestado por aqueles que viram João face a face”.22
Igualmente Jerônimo (345-420 d.C.) pesquisou em vários mss latinos a fim de
produzir o texto da Vulgata. Em seu método ele simplesmente dava prioridade a um mss
mais velho23.

21
Sobre esta discussão veja G. L. Archer e G. C. Chirichigno, OId Testament Quotations in the New
Testament, A Complete Survey (Chicago: Moody Press, 1983), ix-xii; “As far as we know, diz
Geldenhuys, He [Cristo] read in Hebrew and translated into Aramaic, the common spoken language at
that time…G. Dalman finds reflections of the traditional Aramaic paraphrase (Targum) in the present
passage in Luke [4:18 ff.].” Norval Geldenhuys, The New International Commentary on the New
Testament, The Gospel of Luke (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publ, Co., 1979), 167. Cf. ainda
Robert H. Stein, The New American Commentary, Luke (Nashville, Broadman Press, 1992), 155; Craig A.
Evans, New International Biblical Commentary, Luke (Peabody, MA: Hendrickson Publ., 1990), 73; and
William Manson, The Moffatt New Testament Commentary, The Gospel of Luke (London: Hodder and
Stoughton, Ltd., 1955), 41.
22
Irenaeus. "Book V, Chapter XXX.". Adversus Haereses. In May 2005, it was reported that scholars at
Oxford University using advanced imaging technique had been able to read previously illegible portions
of the earliest known record of the Book of Revelation(a 1,700 year old papyrus), from the Oxyrhynchus
site, Papyrus 115 or P115, dating one century after Irenaeus. The fragment gives the Number of the Beast
as 616 (chi, iota, stigma), rather than the majority text 666 (chi, xi, stigma). The other early witness
Codex Ephraemi Rescriptus (C) has it written in full: hexakosiai deka hex (lit. six hundred sixteen).
http://news.nationalgeographic.com/news/2005/04/0425_050425_papyrus.html. Significantly, P115 aligns
with Codex Alexandrinus (A) and Codex Ephraemi Rescriptus (C) which are generally regarded as
providing the best testimony to Revelation. Thus, P115 has superior testimony to that of P47 which aligns
with Codex Sinaiticus and together form the second-best witness to the Book of Revelation. This has led
some scholars to conclude that 616 is the original number of the beast.
http://en.wikipedia.org/wiki/Number_of_the_Beast.
23
Eldon J. Epp, “Issues in New Testament Textual Criticism: Moving from the Nineteenth Century to the
Twenty-First Century” in Rethinking New Testament Textual Criticism, Ed. David A. Black (Grand
Rapids, MI: Baker, 2002), 21.
6
Origenes e a Escola Alexandrina
Alexandria era a capital intelectual do império romano de cultura grega24. Lá
estava a maior biblioteca da antiguidade e a mais famosa escola de crítica textual (o
Museion e o Serapion). A razão disto estava em que a partir do III século a.C., os
estudiosos gregos dali tentaram restaurar os textos dos poetas e proseadores gregos. Foi
nesse centro cultural que a versão da LXX veio à luz, entre cerca de 280 e 150 a.C.
Ali também se enraizou uma curiosa escola de interpretação helenística que
atraiu gramáticos, retóricos e filósofos. Era o método alegórico de interpretação
utilizado sobretudo nas epopéias e outras obras veneradas pelos gregos.
No período helenístico, quando o divino foi, aos poucos, equiparado ao logos
racional, a linguagem mítica não podia mais ser concebida em seu sentido literário,
exigindo então uma interpretação alegórica. Nesse contexto, os estóicos elaboraram uma
interpretação alegórica dos mitos. Essa prática já era conhecida, mas eles buscavam
encontrar, atrás do sentido literal, um significado mais profundo. Enfatizavam que se
devia partir do sentido literal das palavras e para ordená-lo corretamente, utilizavam a
etimologia. Para eles, a etimologia fornecia indicações sobre a direção do significado
oculto que ultrapassa o sentido literal. Por isso etimologia é uma palavra que vem do
grego étymos (real, verdadeiro) + logos (estudo, descrição, relato)25. Para eles a suposta
origem natural das palavras foi modificada (mitologizada) para satisfazer os
requerimentos de cada período da história, assim como os mitos, que também foram
formados para explicar ritos que não eram mais compreensíveis ao povo.

24
“En Alejandría llegó a haber hasta 14.000 estudiantes. Allí vivieron los famosos gramáticos
alejandrinos que determinaron las leyes de la retórica y la gramática, los famosos geógrafos que diseñaron
mapas del mundo y los famosos filósofos cuyo grupo acabó fundando una especie de religión. Entre los
grupos de sabios se encontraban personajes tan famosos en la Historia como Arquímedes (ciudadano de
Siracusa), Euclides que desarrolló allí su Geometría, Hiparco, que explicó a todos la Trigonometría, y
defendió la visión geocéntrica del Universo; enseñó que las estrellas tienen vida, que nacen y después se
van desplazando a lo largo de los siglos y finalmente, mueren; Aristarco, que defendió todo lo contrario,
es decir, el sistema heliocéntrico (movimiento de la Tierra y los planetas alrededor del sol), Eratóstenes,
que escribió una Geografía, compuso un mapa bastante exacto del mundo conocido, consiguiendo medir
la circunferencia terrestre con un error inferior al 1%. Herófilo de Calcedonia, un fisiólogo que llegó a la
conclusión de que la inteligencia está en el cerebro y no en el corazón, Apolonio de Pérgamo, gran
matemático, Herón de Alejandría, un inventor de cajas de engranajes y también de unos aparatos de vapor
asombrosos; es el autor de la obra Autómata, la primera obra que conocemos en el mundo sobre los
robots. Y más tarde, ya en el siglo II, allí mismo trabajó y estudió el astrónomo y geógrafo Claudio
Ptolomeo y también Galeno que escribió bastantes obras sobre el arte de la curación y sobre la anatomía;
sus enseñanzas y sus teorías fueron seguidas hasta muy entrado el Renacimiento.”
http://es.wikipedia.org/wiki/Alejandr%C3%ADa
25
Buscar a origem da língua era descobrir a origem do mundo. Havia duas escolas de pensamento, sobre
a origem da língua: a dos anomalistas (ou da língua natural) a que pertencem sobretudo os filósofos
estóicos e os gramáticos da escola de Pérgamo; e a dos analogistas (ou da língua convencional), dos
gramáticos de Alexandria, sobretudo Dionísio da Trácia e Apolônio Díscolo. Os anomalistas insistiam na
frequência das exceções e na presença de diversos tipos de analogias dentro de uma mesma classe de
palavras. Estabeleceram que a língua não podia depender da convenção do homem; se assim fosse deveria
ser mais regular, porque a lógica prevaleceria sobre a irregularidade. Resulta que a língua nasce da
natureza, revelada no uso. A resistência à criação de línguas planejadas, que acontece ainda em tempos
modernos, apresenta-se como um resíduo recessivo do anomalismo estóico. Admitiam os estóicos uma
relação entre o significado da palavra e seu portador material, de cuja forma natural este significado
derivava. Ainda que o uso corrompesse a palavra natural, ela permanecia, podendo ser procurada. Em
consequência estimularam os estóicos a ciência da etimologia para estudo dos étimos (étymos =
verdadeiro, real, étimo).
7
Os estóicos não utilizavam a palavra alegoria, mas, sim, uponoia, que é uma
forma de comunicação indireta, que diz algo, para dar a entender algo diverso. Foi o
Pseudo- Heráclito (séc. I d.C.) que forjou a palavra alegoria, definindo-a como um
elemento retórico, que possibilita dizer algo e, ao mesmo tempo, aludir a algo diverso.
Esse ambiente influenciou em muito os intelectuais judeus que viviam em
Alexandria. Destes, um destaque especial vai para Filo de Alexandria, um filósofo
judeu-helenista , considerado o maior representante judeu dos primórdios da filosofia
neoplatônica e que entrou para a história por ter tentado a fusão da filosofia grega e a
teologia mosaica, criando a filosofia mosaica.
Ele tentou uma interpretação do antigo testamento à luz das categorias
elaboradas pela filosofia grega e da alegoria. Foi autor de numerosas obras filosóficas e
históricas, onde expôs a sua visão platónica do judaísmoComo viveu no tempo em que
atuava Jesus Cristo (25 a. C. – c. 50 d. C.), não demorou o contato dos cristãos, com
seus ensinos, dos quais possivelmente assimilaram algumas de suas idéias para
desenvolvimento de uma nova teologia. Escreveu numerosas obras entre as quais
destaca-se Comentário alegórico do Pentateuco, uma série de tratados sobre episódios
bíblicos. Clemente de Alexandria (250 d.C.) chegou fazer a seguinte afirmação acerca
de Filo: “Como a lei formou os hebreus, Filo formou os gregos para Cristo”.
Alexandria se tornou um centro de expansão do cristianismo durante os
primeiros séculos da igreja, posição que conservou até o surgimento do islamismo, no
século VII. Alguns supõem que essa cidade seria o centro de atividade intelectual, na
tentativa de restaurar o texto da Bíblia antes de 325. Todavia, não houve basicamente
nenhuma crítica textual verdadeira do Novo Testamento durante esses séculos. Foi,
antes, um período de reduplicação de manuscritos, e não de avaliação de textos. No
entanto, em contraposição a Alexandria, na Palestina, de 70-100 d.C, estudiosos
rabínicos efetuaram diligente trabalho textual no Antigo Testamento.
Origenes nasceu em Alexandria por volta do ano 185 da Era Cristã. Tornou-se
asceta e procurou criar um lugar de honra para o cristianismo em meio ao ambiente
alexandrino.
Seguindo os passos de Filo, Orígenes desenvolveu uma interpretação alegórica
da Bíblia desta vez dentro de uma leitura cristã e, fora isso, seu método não tem nada de
original. É na verdade o mesmo dos gramáticos de Alexandria que foram seus mestres,
produzindo, portanto, os mesmos resultados.
Mas houve nem tudo foi alegorização. Orígenes produziu um excelente trabalho
de crítica textual com sua imensa sinopse do Antigo Testamento, a chamada Héxapla.26
Para produzi-la, ele dispôs seu manuscrito em seis colunas. Na primeira transcreveu o
texto hebraico, transliterado em letras gregas na segunda. A seguir vinham quatro
diferentes versões gregas: a de Áquila, extremamente literal; a de Símaco, muito mais
elegante, a LXX e, finalmente, a de Teodocidão, que é apenas uma revisão da LXX
harmonizada com a tradução de Áquila27.
26
Segundo alguns, ela deveria ter perto de 6.500 páginas.
27
O trabalho original atualmente está perdido, mas há fragmentos que foram publicados em diversas
edições, como a de Frederick Field em 1875.Os fragmentos estão sendo novamente editados (com novo
material descoberto desde a edição Field) por um grupo internacional de pesquisadores da Septuaginta. O
trabalho é conhecido como The Hexapla Project e é patrocinado pela The International Organization for
Septuagint and Cognate Studies e dirigido por Peter J. Gentry (Seminário Teológico Batista do Sul -
8
À Hexapla Orígenes acrescentou uma gigantesca coleção de comentários do
Antigo e Novo Testamento totalizando 257 volumes. Todos, é claro, inspirados na
exegese de métodos alexandrinos que consistiam, como vimos, em descobrir o suposto
significado oculto e alegórico por detrás do texto bíblico. O Antigo Testamento servia
de alegoria para o segundo, por exemplo: os dois seios da mulher de cantares seriam o
Antigo e o Novo Testamento; os três poços (de Isaque, Jacó e José) seriam a Trindade, a
água seria a graça, as ovelhas dos patriarcas, o povo de Deus e assim por diante.
Poliglota Complutense e Textus Receptus
Depois da invenção da impressa, o primeiro Novo Testamento impresso em
grego foi a Bíblia Poliglota Complutense planejada em 1502 pelo Cardeal de Espanha
Francisco Ximenes de Cisneros (1437-1517). O Novo Testamento foi terminado em 10
de janeiro de 1514 e o Antigo em 1517. Traz o texto em hebraico, grego e latim
(tradução de Jerônimo) em colunas, mas o Pentateuco possuía um texto aramaico
(Targum Onkelos) e uma tradução latina no rodapé. O quinto volume era o texto grego
do Novo Testamento ladeado de uma tradução para o latim. O Sexto volume consistia
de um dicionário grego aramaico e hebraico. Foi feita na universidade de Alcalá (em
latim Universidade de Complutum). Das 600 cópias impressas hoje restam 123, estando
uma delas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Embora a Poliglota complutense fosse o primeiro novo Testamento Grego
impresso, não foi o primeiro publicado. O Novo testamento estava completo e impresso
em 1514, porém não se deu sua publicação enquanto trabalhava-se ainda no Velho
Testamento para que pudessem vir a luz como uma única obra. Por essa época, notícia
do projeto chegou até o conhecimento de Erasmo de Roterdã que produziu sua própria
edição impressa do Novo Testamento grego. Erasmo obteve do imperador Maximiliano
e do papa Leão X o privilégio de publicação exclusiva por quatro anos. Este texto
tornou-se o Textus receptus e suas edições posteriores foram a base para o Novo
Testamento da King James Version.
O Velho testamento complutense estava completo em 1517, mas por força do
privilégio obtido por Erasmo a publicação da Poliglota Complutense foi adiada até que
o papa Leão X pudesse sancioná-la em 1520. Acredita-se que sua distribuição foi
reduzida até 1522. O cardeal Cisneiros morreu em julho de 1517, cinco meses após o
término da obra e não chegou a ver sua publicação.
A primeira edição de Erasmo em 1516 estava cheia de erros tipográficos que ele
mesmo corrigiu nas edições seguintes (1519, 1522, 1527 e 1535). Mas o texto não foi
aperfeiçoado com aparato crítico.

EUA), Alison G. Salvesen (da universidade de Oxford e Bas ter Haar Romeny ( da universidade de
Leiden). http://www.hexapla.org.

9
Era da Reforma e dias atuais
Desde a época de Orígenes até ao período da Reforma, a interpretação Bíblica
do Novo Testamento não sofreu alterações a não ser oscilar entre o método literal e o
alegórico que, aliás, foi o mais utilizado pelos Pais da Igreja Ocidental e também por
Agostinho e Jerônimo.
Mas desde a época da Reforma Protestante, três métodos principais de estudo
bíblico têm sido seguidos pelos acadêmicos: o gramático-histórico, o crítico-histórico e
o estruturalista28.
Friedrich Schleiermacher (1768-1834), rejeitando a clássica distinção entre
Hermenêutica Secular e Hermenêutica Sagrada preferiu falar de uma Hermenêutica
Geral aplicável a toda a literatura, incluindo as Escrituras. Em virtude disto muitos
autores passaram a defender um estudo hermenêutico da Bíblia que apenas a partir de
um ponto de vista crítico-histórico sem nenhuma distinção de outros livros produzidos
28
Hoje existem autores que seguem outras abordagens alternativas como a abordagem narrativa, a
abordagem retórica, etc. Mas estes três segmentos ainda são os clássicos e modernos métodos se mostram
apenas como desdobramentos deles. Para uma visão geral das modernas abordagens veja J. A. Fitzmeyer,
Escritura, a alma da Teologia (São Paulo: Loyola, 1997), 43-55.
10
na antiguidade. Tal exercício, é claro, dilui o conceito de inspiração e revelação
assumidos pela doutrina cristã em relação à Bíblia Sagrada.
Assim é possível encontrar hoje uma gama de significados para a expressão
Hermenêutica Bíblica que justifica um esclarecimento acerca de qual conceito estamos
empregando. Para uns, a Hermenêutica Bíblica (contrária à exegese) seria o abandono
completo ou parcial do sentido original do livro e do autor (objetivo exclusivo da
exegese) com vistas a descobrir qual o seu real significado para os dias hoje. Para
outros, porém, a hermenêutica seria a teoria que normatiza a exegese.29
E ainda temos a chamada “Nova Hermenêutica” que deve ser distinta das
concepções anteriores. Expressa especialmente na teoria do Estruturalismo, esta é a
vertente mais pós-moderna do termo que nega a autonomia do texto acreditando que
qualquer interpretação só se dá a partir do leitor (e cada um tem uma interpretação
diferente).

Passos para a Interpretação do Novo Testamento

Pressuposições
Conforme já foi dito no início deste programa, conhecer os pressupostos
teológicos de um biblista é essencial para avaliar e compreender sua exegese. Neste
curso trabalharemos o texto do Novo com as seguintes pressuposições:
1 – A Bíblia com seus 66 livros mais do que “conter” identifica-se com a
legítima Palavra de Deus em linguagem humana.
2 – O Novo Testamento é a sequência natural do Antigo e nenhum dos dois pode
ser corretamente compreendido a não ser que ambos lancem luz um sobre o outro.
3 – Deus é o verdadeiro autor do Novo Testamento que se valeu de instrumentos
humanos sem, contudo, negar as características pessoais de cada autor. Trata-se,
portanto, de uma obra “inspirada” e não ditada ou copiada de um original divino.
4 – Sendo indivíduos com características pessoais, os autores humanos do Novo
Testamento imprimiram em seu texto as peculiaridades de sua personalidade, o que
permite visões particulares de uma mesma verdade que não implicam em contradição ou
perda de unidade. É somente dentro deste escopo que se aceita falar de Teologia
Paulina, Joanina etc.
5 – Os Evangelhos não constituem uma biografia de Jesus (no sentido moderno
da expressão), mas são um kerygma que pressupõe uma história real contrária à criação
de um mito ou de uma lenda particular. São a proclamação de algo que realmente
aconteceu na história e que fora confirmada por muitas testemunhas.
6 – Por mais importante que ela seja, a interpretação não constitui o totum do
trabalho exegético. Do contrário cairíamos no racionalismo teológico. O estudioso das

29
Walter C. Kaiser, Jr., Toward an Exegetical Theology (Grand Rapids: Baker, 1981), 47; David Stacey,
Interpreting the Bible (New York: Seabury, 1977)
11
Escrituras precisa trabalhar sob a iluminação do Espírito Santo que traz vida ao texto
impresso e o atualiza numa correta aplicação para os dias de hoje.
7 – O texto deve primeiramente ser analisado primeiramente dentro do matiz
histórico em que surgiu. Quem foi seu autor, os propósitos com os quais foi produzido,
a quem se dirigia etc. Somente a partir desta clarificação se pode exercitar uma
aplicação dos mesmos princípios ao nosso tempo completamente distanciado do tempo
bíblico. A aplicação moderna dos princípios antigos demonstra a vida da Palavra desde
que não se criem rupturas artificiais que obriguem o texto a dizer algo que
originalmente estaria completamente fora de seus propósitos imediatos ou não.
8 – Como princípio geral Bíblia interpreta a Bíblia. Contudo ciências auxiliares
como a arqueologia, papirologia, filologia e outros podem lançar valiosa luz sobre o
contexto em que determinado texto foi produzido. Mas aqui é preciso atentar para a
subjetividade interpretativa que varia de pesquisador para pesquisador. Exemplo, a
arqueologia mostra curiosas similaridades entre alguns episódios bíblicos e lendas pagãs
sumerianas. Contudo, não compete à arqueologia exercer juízo de valores quanto ao
porquê desta similaridade, ela apenas evidencia sua existência. Um pesquisador voltado
aos pressupostos do criticismo histórico entenderá que o autor bíblico plagiou estas
lendas anteriores, ao passo que outro pesquisador de orientação gramático-histórica
poderá compreender que as semelhanças não significam necessária interdependência,
mas fontes históricas comuns. Noutras palavras, tanto a Bíblia, quanto o Gilgamesh,
podem estar se referindo à mesma história do dilúvio, preservada de maneira diferente
em cada um dos compêndios e não que um tenha plagiado o outro. Isto, por outro lado,
não impede também que Moisés (tal qual Ellen White no uso de autores seculares)
possa ter lançado mão de uma ou outra informação contida em material prévio, evitando
porém os conceitos pagãos da fonte que consultara.
Passos para a exegese
Atenção: os passos a seguir são sugestivos. É possível encontrar
diferenças entre os manuais de Hermenêutica.
Lembrando que estamos diante de um exercício acadêmico, mas antes de tudo
espiritual (I Cor. 2:14) é natural que recorramos a Deus em oração antes mesmo de abrir
a Sagrada Escritura. Bíblia, lembremos, não é um livro para ser meramente lido. Antes é
um livro para ser estudando com diligente oração e desejo de se conhecer os planos de
Deus e se submeter a eles. Fora deste padrão de pesquisa, por mais perfeitamente
técnico que seja o trabalho do exegeta, sua hermenêutica não produzirá os frutos
desejáveis que deveria. Por outro lado, a interação entre oração, sincera submissão e
estudo exaustivo do texto resultará em elementos de bênção tanto para o indivíduo (o
exegeta) quanto para a comunidade de fé (a Igreja).
1 – Escolha do texto
A escolha de um texto pode surgir de vários ambientes ou situações:

 De uma conhecida passagem de difícil interpretação ou que


aparentemente está em contradição com outro dado da fé. Ex. Lc 16:16-18 diz que “a lei
e os profetas duraram até João” – uma passagem que parece, a princípio, invalidar
outras que demarcam a validade da Lei nos dias do Novo Testamento.

12
 De uma leitura casual (um ano bíblico ou estudo da lição) onde um texto
chama a atenção por sua peculiaridade ou dificuldade histórico-conceitual. Ex. O que
quis Jesus dizer com a expressão “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma
agulha que um rico entrar no reino do céu”? Seria esta uma expressão apenas espiritual
ou social?

 Da preparação de um sermão ou estudo Bíblico. Qual o significado real


da parábola do Rico e Lázaro? Qual o sentido da parábola do bom samaritano para os
nossos dias?

2 – Leia o texto nos originais e no maior número de versões que puder


Não se limite a ler apenas um ou dois versos, procure ler todo o capítulo no qual
sua passagem está inserida, embora a atenção evidentemente deverá estar direcionada
para aquela poção textual propriamente dita. Leituras, releituras memorização e
meditação na passagem serão importantes tarefas nesta etapa preliminar.
Uma vez que trabalhamos com línguas bíblicas (hebraico, aramaico e grego),
devemos ainda fazer uma tradução pessoal do texto que queremos analisar. Este é um
esforço muito importante e recompensador. A seguir podemos comparar nossa tradução
com outras já existentes. Assim conheceremos as várias compreensões possíveis do
mesmo original e verificaremos a existência ou não de possíveis impasses.
Caso não tenhamos domínio suficiente das línguas originais, poderemos recorrer
a textos interlineares ou limitarmos à comparação entre traduções disponíveis. De modo
limitado, esta alternativa também ajudará a perceber as dificuldades do texto original.
Mas na escolha de traduções, cuidado com os textos que são paráfrases (Living Bible)
ou textos que foram traduzidos não a partir dos originais mas de outras versões
modernas, especialmente em inglês (é o caso da Nova Versão Internacional30).
Geralmente hay dos tipos de tradução: a) formal o literal e (b) funcional o
dinâmica. A primeira (formal) procura respeitar a forma lingüística do original. Ela
renuncia à compreensão imediata para preservar o pensamento original (incluindo as
expressões idiomáticas), este tipo de tradução aparece também nas versões interlineares.
A segunda (dinâmica) visa diminuir as dificuldades que o leitor moderno tem ao se
deparar com um texto tão antigo e geograficamente tão distante de nós. Exemplos:
Gênesis 29:14
Hebraico: "Você é meu osso e minha carne"
Bíblia Nova Versão Internacional (NVI): "Você é sangue do meu sangue"
Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH): "E aí Labão disse: sim, de fato
você é da minha própria carne e sangue"
I Sam. 25:22 (“homem” lit. “o que urina no muro”)

30
A NVI diz ser uma tradução dos originais com a mesma “filosofia traduziológica da NIV. Mas alguns
textos como I Cor. 6:9-10 mostram que a versão em Português é apenas uma tradução do inglês que
alterou bastante o texto grego.
13
João 9:24
Grego: "Dá glória a Deus"
NVI: "Para a glória de Deus, diga a verdade"
NTLH: "Então os líderes judeus chamaram pela segunda vez o homem que tinha
sido cego e disseram: jure por Deus que você vai dizer a verdade. Nós sabemos que esse
homem é pecador".
Este é um passo sério que não pode ser negligenciado pois uma diferença de
tradução pode gerar grande diferença de interpretação. Veja este caso em especial:
Apocalipse 1:10 –
Grego: Egenomen en pneumati en te kyriake hemera kai ekousa opiso mou fonen
megalen
ALA:“Achei-me em espírito no dia do Senhor”
NTLH: “No dia do Senhor fui dominado pelo Espírito de Deus e ouvi atrás de
mim uma voz forte como o som de uma trombeta”
Bíblia Ucraniana: “arrebatado fui no dia da ressurreição”.
Bíblia Russa; ““Eu fui arrebatado em espírito, no dia da ressurreição”
Jerônimo “Fui in spiritu in dominica die [não “dies Domini”] et audivi post me
vocem magnam tamquam tubae” Ap 2.10. Dia senhorial (ref. Ao imperador comp. a
Cristo).
Sugeridas por vários comentaristas: “Arrebatado fui em espírito ao dia do
Senhor”.

3 - Reconstitua o texto original ou crítica textual 31–


3- reconstruya El texto original ES La crítica textual-
Apesar dos mais de 5.500 manuscritos do Novo Testamento, não possuímos
nenhum original bíblico. Todos se perdierom. Além disso temos o fato de que há muitas
variações entre as cópias, de modo que é preciso saber trabalhar com as chamadas
variantes textuais para se obter, ao máximo possível, a certeza de que estamos lendo o
texto do modo como saiu das mãos do autor inspirado sem as adições posteriores.
Para esse exercício é preciso que conheçamos duas importantes ferramentas
exegéticas: os principais textos críticos em grego e como avaliar os vários agrupamentos
de manuscritos do NT.
As duas edições manuais mais difundidas do Novo Testamento são o Novum
Testamentum Graece de Nestlé-Aland e The Greek New Testament da UBS. Na
31
Diferenças entre a crítica textual do Antigo e do Novo Testamento: 1) o tempo em que os mss do AT
foram copiados é muito maior que os do NT, 2) o hiato de produção entre eles e nós é muito maior 3) os
copistas do AT tinham técnicas diferentes de copiar o texto.
14
exposição que segue nos referiremos constantemente a estas duas edições. A diferença
entre ambas não são difíceis de entender, aliás, não seria errado chamá-las de “gêmeas”.
O Novum Testamentum Graece (atualmente na 27ª. Edição) 32 foi preparada para
exegetas, enquanto a Greek New Testament (atualmente na 4ª. Edição) foi preparada
para tradutores. O texto grego de ambas é o mesmo, mas o aparato crítico é diferente. O
Aparato crítico do Greek New Testament é menor que o de Nestlé-Aland, mas tem a
vantagem de oferecer uma classificação da leitura adotada quanto ao seu grau de certeza
(A,B,C, D), coisa que não aparece na sua congênere. O The Greek New Testament
também traz um aparato da pontuação, mostrando as subdivisões fraseológicas do texto
nas principais traduções modernas e uma lista de passagens bíblicas paralelas. (Veja
apêndices 1e 2). Para uma apresentação histórica dos textos gregos que antecederam o
Nestlé-Aland e o USB veja o apêndice 3.
Quanto ao agrupamento de famílias, como dissemos, os autógrafos do Novo
Testamento se perderam. Só temos cópias e antigas versões. Os manuscritos do NV
variam de 130 d.C. até ao século 16. Os principais são papiros do início do século 3 e
dois grandes códices do 4º. Século, o B (Codex Vaticanus) e o alef (Codex Sinaíticus).
Também possui relativa importância, embora seja um pouco problemático, o Codex
Bezae (D) e outros.
Em geral os especialistas falam de quatro tipos de manuscritos gregos:
a) Os papiros – os mais antigos, escritos em mayúscula, vão do século 2 ao
século 7.
b) Os pergaminhos Unciais que vão do século 4 ao século 9.
c) Os pergaminhos Minúsculos que vão do século 9 em diante
d) Os lecionários que geralmente apresentam a forma minúscula. Eram
trechos do Novo Testamento leídos semanalmente en las liturgias da igreja.
Além desses manuscritos há as antigas versões em siríaco, copta, latim, esloveno
e citações de pais da Igreja.

Uma das teorias propostas para o surgimento das famílias de manuscritos supõe
que quando se fundavam comunidades cristãs ao redor de grandes centros, como
32
Esta-se aguardando para 2009 a 28a. edição.
15
Alexandria, Roma etc., confiavam-se a elas cópias do Novo Testamento conforme o uso
local. Estas cópias começaram a servir de modelo para novas cópias e assim
apresentavam-se estilos próprios das comunidades de origem.
Assim nasceram as famílias de manuscritos ou “famílias textuais”, isto é, grupos
de manuscritos dependentes entre si e dos quais é possível reconstruir uma árvore
genealógica daquele tipo de texto. A crítica fala, portanto, de quatro tipos textuais
principais, aqui colocados por grau de importância:
a) Alexandrino ou também chamado “neutro” é considerado o mais
fidedigno. É mais breve que os demais e apresenta menos correções de caráter estilístico
ou gramatical. Alguns pensam que ele remonta ao século II.
b) Ocidental. É assim chamado por ter servido de base para a Vulgata latina
e para muitas citações de Pais da Igreja. Esta forma ama a paráfrase e os acréscimos, por
isso chega a ser 10% mais longo que o Alexandrino. Alguns acadêmicos consideram o
Ocidental um tipo importante, outros diminuem seu valor.O assunto é polêmico e
aberto.
c) Bizantino, também chamado de koiné ou antioquino, é mais atestado nos
tipos minúsculos, ele passou através da edição de Erasmo ao chamado “Textus
Receptus”. Tem adição de elementos explicativos, correção da linguagem (troca o
presente histórico pelo aoristo). Ao que tudo indica, este é um tipo especial de recensão
feito em Antioquia e completado em Bizâncio para harmonizar os textos correntes. Foi
usado muito no império Bizantino.
d) Cesarense. Este foi o mais antigo grupo a ser detectado. Possui um
número reduzido de leituras próprias e mostra afinidades com o tipo Alexandrino e o
ocidental. Mas, a despeito de sua antiguidade, é a redação mais descuidada e espinhosa
que temos, com freqüentes adições e omissões. (Veja apêndice 4)
Distribuição geográfica dos manuscritos33:

Possíveis relações entre os manuscritos e sua provável origem:

33
As duas ilustrações seguintes foram retiradas de Wilson Paroschi, Critica Textual do Novo Testamento,
(São Paulo: Vida Nova, 1993).
16
Outra proposta por Wescott e Hort

Outra proposta de B. H. Streteer agrupando os mss por “textos locais”, segundo


os diferentes centros da igreja onde eles teriam sido produzidos34.

34
“O texto Sírio”, disse Hort, “tem, de fato, que ser o resultado de uma ‘recensão’ no sentido próprio da
palavra, um tentativa de criticismo, deliberadamente realizado por redatores e não meramente por
escribas.” Uma Revisão autoritativa em Antioquia ... foi ela própria submetida a uma segunda Revisão
autoritativa que alcançou mais completamente os propósitos da primeira. Em que data entre 250 e 350 DC
o primeiro processo ocorreu, é impossível se dizer com confiança. O processo final foi aparentemente
completado em 350 DC ou ao redor disto. Hort tentativamente sugeriu Luciano (que morreu em 311)
como, talvez, o líder no movimento chamado recensão luciana, e alguns estudiosos subsequentes se
tornaram dogmáticos nesta tese.Cf. B.F. Westcott e F.J.A. Hort, The New Testament in the Original Greek
(2 Vols.; London: Macmillan and Co. Ltd., 1881), 133, 137.

17
Como não há dois manuscritos perfeitamente idênticos, os críticos resolveram
buscar a origem das cópias e agrupá-las por famílias. As variantes, é claro, podem ter
surgido por diversas questões: troca inconsciente de letras por parte do copista (um
duplo lambda parece-se com um Mü); erros de audição durante um ditado, adição de
glosas marginais (scholia), adaptação de textos paralelos etc.
Um exemplo paralelo em português. Levando-se em consideração o fenômeno
do scriptio continua, um texto poderia vir assim:
[ENCONTREIMECOMAMADOCASTELOBRANCO]
Poderia significar:
[ENCONTREI-ME COM AMADO CASTELO BRANCO.]
Ou
[ENCONTREI-ME COM AMA DO CASTELO BRANCO.].
Uma curiosidade: Veja no apêndice 5 uma cópia do codex Vaticanus do 4º.
Século (Epístola aos Hebreus), aonde o copista faz uma interessante observação entre as
colunas 1 e 2. Ele diz: “Oh insensato, desonesto, deixe o texto antigo, não o adultere!”
Suas palavras talvez se refiram a um predecessor que havia alterado o texto,
dificultando sua cópia.
Exemplos de erros comuns:
Em I Coríntios 5:8 Paulo diz que os cristãos deveriam tomar parte em Cristo, o
cordeiro pascal, e que não deveriam mais comer o “fermento velho, o fermento da
maldade e da perversidade”. Ora, a última palavra, perversidade, em grego é ponêras,
que alguns copistas confundiram com porneias, imoralidade sexual.
Apocalipse 22:14, nalguns manuscritos traz: “Bem aventurados os que lavam
suas vestes (makarioi hoi plunontes tas stolas autôn), enquanto noutros temos: “Bem
aventurados os que guardam os seus mandamentos (makarioi hoi poiountes tas entolas
auton). Como se vê a semelhança é grande e difícil decidir, neste caso, qual a leitura
correta.
Também em Apocalipse 1:5 alguns mss trazem lousanti, “lavou-nos de sossos
pecados, enquanto outros trazem lusanti, “livrou-nos de nossos pecados”.

18
Até bons manuscritos possuem variantes problemáticas. O Codex Vaticanus
cometeu uma omissão na frase de Cristo “não peço que os tires do mundo, mas que os
guardes do mal” (Jo. 17:15). Ele omitiu acidentalmente as palavras “mundo...do”, de
modo que a oração ficou estranhamente: “Não vos peço que os guardes do mal”.

Veja acima esse trabalho de crítica textual feito por Swanson.


Mas qual o critério para a escolha de uma leitura correta em meio a tantas
variantes textuais?
a) Colação textual – faça uma lista das mais diversas variantes que o texto
possui de acordo com os manuscritos que o contêm.
b) Crítica externa ou comparação entre mss – verifique o grau de
antiguidade do mss que traz a variante. Mas atenção: antiguidade não seja sinônimo de
“melhor manuscrito” (o grupo mais antigo, o cesarense, é o que tem mais problemas,
contudo, com o devido bom senso, o elemento de antiguidade pode ser um excelente
critério de desempate. A seguir faça a “atestação múltipla”, isto é, veja se vários
manuscritos trazem aquela expressão ou variante.
c) Veja se os melhores manuscritos (por ex. o Vaticanus) trazem aquela
variante. Aqui a qualidade prevalece sobre a quantidade.
d) Veja se a variante se repete em manuscritos independentes entre si do
ponto de vista genealógico. Por exemplo, se uma variante aparece num texto ocidental e
ao mesmo tempo num texto Alexandrino, aumentam-se as chances dela pertencer ao
original.
e) Crítica interna ou seja, buscar uma pista dentro do texto bíblico em si – A
lição mais difícil é preferível à mais fácil pois pode ser um indício de correção posterior
(lectio difficilior) .

19
f) A lição mais breve também é preferível à mais longa (lectio brevior)
g) Tem mais chance de ser original a lição que se harmoniza com as demais
do texto. Exemplo “bom mestre”, dito pelo Jovem Rico se encaixa melhor com “por que
me chamas bom”.
h) Verifique se aquela variante corresponde melhor ao vocabulário e estilo
do próprio autor bíblico em outras partes de seu livro.
Na prática pode acontecer uma tensão entre a crítica interna e externa. Por
exemplo, o codex B é considerado o melhor ms. E seu texto alexandrino é o melhor que
tipo que temos. Já o Bezae, D, é de qualidade inferior, porém, conserva leituras do texto
ocidental que foi muito difundido no cristianismo primitivo e que, à luz da crítica
interna, acaba se tornando o mais antigo texto alexandrino que dispomos (mais antigo
que B).
Veja esta situação: Mateus 5:47 traz esta variante: “não fazem os pagãos o
mesmo?”, ela é amplamente atestada pelos melhores manuscritos, o alef, o B, o D, etc. e
pelos tipos alexandrino, ocidental e parcialmente pelo cesariense (crítica externa). Já a
variante; “não fazem o mesmo os publicanos?”, aparece apenas em mss tardios (K L W)
e no tipo bizantino. Parece ser uma clara harmonização fraseológica dos versos 47 e 46.
Porém, se olharmos para a crítica interna, não há meios de dizer que a segunda está
adicionada pois o texto está perfeitamente harmônico com ela.

Exercício prático
Atos 6:8 –

20
A crítica externa favorece a primeira forma pois consta nos melhores e mais
antigos manuscritos e tem melhor atestação que as demais (cerca de 20 ocorrências). As
outras formas são menos atestadas e aparecem em mss mais recentes. A crítica interna
tentará explicar o que ocorreu: a forma 2 parece ser uma assimilação do verso 5 e a
forma 3 a confluência ou harmonização das lições anteriores e a forma 4 parece trazer
uma glossa (a palavra (de) Espírito) para tornar o texto mais trinitariano.
Lucas 11:2, quais seriam afinal as palavras de abertura da Oração do Senhor no
evangelho de Lucas? 35:
Vejamos as variantes de 11:2:

Veja que a evidência textual, em termos numéricos, sustenta a forma mais longa.
Mas observe que a grande quantidade de textos que traz a forma longa vem das famílias
bizantina e ocidental, além da Alexandrina secundária. Veja que a geografia da variante
é similar. Mas as citações patrísticas, o P75, Alef, o Vaticanus a vulgata e o texto
Alexandrino primário mostram que a versão curta parece ser mais antiga. Assim a
evidência externa favorece a leitura mais curta.
Se olharmos para a evidência interna, perceberemos que essa variante se parece
com a forma encontrada em Mateus 6:9-15, parece que o escriba de Lucas aumentou a
forma curta para acomodar-se liturgicamente a Mateus e assim surgiu a discrepância.
Mais alguns Exemplos do Novo Testamento36
Marcos 16.9-20 (KJV) apresenta-nos o problema textual mais grave, que nos
deixa mais perplexos, dentre todos. Esses versículos estão ausentes em muitos dos mais
antigos e melhores manuscritos, como o ‫(א‬Álefe), o B, o itk (Antiga latina), a Siríaca
sinaítica, muitos manuscritos armênios e al¬guns etíopes. Muitos dos antigos pais da
igreja não demonstram ter conhecimento desse problema, e Jerônimo admitia que essa
passagem havia sido omitida em quase todas as cópias gregas. Dentre as cópias que
con¬têm esses versículos, algumas também trazem um asterisco ou óbelo, a fim de
indicar que se trata de adição espúria ao texto. Há ainda outro final que ocorre em vários
unciais, em alguns minúsculos e em cópias de ver¬sões antigas. O longo final com que
estamos tão familiarizados, vindo da KJV e do texto recebido, encontra-se em grande
número de unciais (c, D, L, w e θ [Theta], na maior parte dos minúsculos, na maior
parte dos manuscritos da Antiga latina, na Vulgata latina e em alguns manuscritos
siríacos e coptas. No Códice w, o final longo expande-se depois do versículo 14.
35
Veja Scot Mcknight, Ed., Introducing New Testament Interpretation, (Grand Rapids, MI: Baker Book
House, 2000), 63 ss.
36
Exemplos adaptados de http://introduobiblica.blogspot.com/2007/11/aula-13-recuperao-do-texto-da-
bblia.html.
21
A decisão sobre qual desses finais é o preferível ainda é controvertida, visto que
nenhum dos finais propostos eleva-se como se fora o original, à vista das poucas
evidências textuais, por causa do sabor apócrifo e do estilo diferente do de Marcos,
perceptível em todos os finais. Assirn, se nenhum desses finais é autêntico, torna-se
difícil crer que Marcos 16.8 não é o final original. John W. Burgon fez uma defesa do
texto recebido (vv. 9-20) e, mais recentemente, M. van der Valk, ainda que se admita
que é muito difícil chegar a uma solução ou decisão sobre qual final é o original de
Marcos. Com base nas evidências textuais conhecidas, parece mais plausível admitir
que o final original do evangelho de Marcos é o versículo 8.
João 7.53 - 8.11 relata a história da mulher apanhada em adultério. Está inserida
entre parênteses nalgumas versões, com uma nota que diz que os manuscritos mais
antigos omitem essa passagem. A RSV coloca a passagem em questão entre parênteses,
no final do evangelho de João, com uma nota que diz que as antigas autoridades
colocavam-na ali, ou depois de Lucas 21.38. Não existe nenhuma evidência de que essa
passagem faça parte do evangelho de João porque 1) não está nos manuscritos gregos
mais antigos e melhores; 2) nem Taciano, nem o texto da Antiga siríaca, dão sinais de
tê-la conhecido, estando ausente também nos melhores manuscritos da Siríaca peshita,
nos da Copta, em vários da Gótica e da Antiga latina; 3) nenhum autor grego faz
referência a essa passagem senão no século XII; 4) seu estilo — e interrupção — não se
enquadram no contexto do quarto evangelho; 5) aparece inicialmente no Códide Bezae
em c. 550; 6) vários escribas colocam-na em outros lugares (e.g., depois de Jo 7.36; Jo
21.24; Jo 7.44 ou Lc 21.38) e 7) muitos manuscritos que incluem essa passagem
indicam haver dúvidas sobre sua integridade, marcando-a com um óbelo. O resultado é
que tal passagem pode ser preservada como se fora uma história verdadeira, mas da
perspectiva da crítica textual, deve ser colocada como apêndice de João, com uma nota
que diga que a passagem não tem lugar determinado nos manuscritos antigos.
1 João 5.7 está ausente nalgumas versões e entre colchetes em outras, mas sem
explicações. Todavia, existe uma explicação para essa omissão, a qual representa uma
historieta interessante sobre o processo da crítica textual. Quase não existe apoio textual
para a redação apresentada aqui referente á Trindade, em nenhum documento grego,
ainda que haja apoio na Vulgata. Então, quando Erasmo foi desafiado, e lhe
perguntaram por que ele não incluíra essa passagem em seu Novo Testamento grego, em
1516 e em 1519, o estudioso respondeu rapidamente que a incluiria na próxima edição,
desde que alguém lhe mostrasse pelo menos um manuscrito antigo que lhe desse apoio.
Descobriu-se um minúsculo grego do século XVI, o manuscrito de 1520, de um frei
franciscano. Erasmo cumpriu sua promessa e incluiu esse texto em sua edição de 1522.
A KJV seguiu o texto grego de Erasmo e assim foi: com base num único manuscrito
tardio, insignificante, desprezou-se todo o peso e autoridade de todos os demais
manuscritos gregos. Na verdade, a inclusão desse versículo como genuíno quebra quase
todos os cânones principais da crítica textual.
4 - Determine a delimitação da perícope (contexto literário imediato)
“Texto fora de contexto gera pretexto”, portanto, uma das qualidades da boa
exegese é a correta delimitação do texto. Isto é, estabelecer os limites para cima e para
baixo, aonde ele começa e aonde termina. Pode ser uma tentativa de encontrar os
parágrafos ou subtítulos originais ou como estariam se o autor escrevesse num estilo
moderno.

22
Critérios para a delimitação do texto:
a) Cuidado para não ser traído pela moderna divisão em capítulos e títulos
pois ela é em muitos momentos defeituosa. Exemplo: João 10:1-18 tem como título
“Jesus, o bom pastor”, mas este título ignora o verso 7 aonde ele diz ser a porta das
ovelhas. Igualmente os vv 19-21 não deveriam vir à parte, pois pertencem ao contexto
do capítulo 9.
b) Tempo e local – Estes são elementos muito importantes, principalmente
se estivermos trabalhando textos históricos como é o caso dos evangelhos. O tempo
pode indicar o início, a continuação, a conclusão ou a repetição de um episódio. O local
é o espaço físico aonde se processa a situação. (Ex. Marcos 16:1; Lucas 1:5)
c) Argumento: Há algumas partículas que podem indicar mudança de
assunto ou de argumentação. Ex. “por esta razão”, “finalmente”, “a propósito de” (I Cor.
12:1; II Tim. 4:6). Note que às vezes não haverá mudança de argumentação, mas de
perspectiva. Paulo, por exemplo, gosta de usar a chamada diatribe (criação de uma
discussão fictícia), veja Rom. 7:13; 11:1). Veja também Lucas 1:26 e depois o verso 39.
d) Anúncio de tema: alguns textos trazem, às vezes, a antecipação de
assuntos que tratarão a seguir. Exemplo: Hebreus 2:17-18 anuncia a próximo tema,
Jesus Cristo como sumo Sacerdote fiel e misericordioso, assunto que será tratado em
3:1-5:10.
e) Estrutura: perceba a organização física da unidade, se ela tem algum tipo
de estrutura definida (isto pode indicar inclusive sub-estruturas). É o caso do Quiasmo37
(Mateus 7:6), o paralelismo (Mateus 7:7), a retórica que usa recursos como metáfora
(João 15:1; 10:9; Mateus 5:13), sinédoque ([toma a parte pelo todo ou vice versa], I Cor.
11:26; Atos 24:5), ironia (II Cor. 11:5; 12:11 comp. Com 11:13), tipologia (Mat. 12:40;
João 3:14).
f) Composição: veja se há leitmotiv38 ou palavra-chave costurando o texto.
Aqui a palavra chave pode vir por repetição ou por sinônimos. Ex. Circuncisão, Judeu,
Lei em Romanos.
g) Fórmulas específicas: expressões que indicam o estilo da argumentação
ou do texto. Ex. Execração (“ai”), humor (“qual dentre vós”). De uma forma mais
simplificada, seriam estas as fórmulas literárias encontradas no Novo Testamento:
Nos evangelhos e nos Atos: ditos proféticos – onde Jesus condensa a doutrina da
salvação ou história da redenção (Lucas 12:32; Mateus 8:11-12). Ditos sapienciais
sentenças tipo provérbios (Marcos 6:4; Lucas 6:45; 11:28; Mateus 5). Ditos jurídicos
(Mateus 7:5; Mateus 10:10-12). Parábolas. Eu enfático, muitas vezes acompanhado do
verbo vir/ir, que expressa a consciência que Jesus tinha de sua missão e de sua
divindade (Mateus 10:35; Lucas 12:49); discursos retóricos; discursos de despedida.

37
John W. Welch, (ed.) Chiasmus in Antiquity: Structures, Analyses, Exegesis. Hildesheim: Gerstenberg
Verlag, 1981; idem, “Criteria for Identifying the Presence of Chiasmus.” Journal of Book of Mormon
Studies 4:2 (1995): 1-14.
38
Leitmotiv é uma palavra alemã para indicar uma imagem, qualidade, ação ou objeto que ocorre em toda
a narrativa, poema ou oráculo , é o que costura o tema, também se refere a um tema que se repete em
diferentes textos de um mesmo autor. Este palavra é muito usada num sentido mais filosófico que técnico.
Palavra-chav cabe melhor ao nosso intento.
23
Nas cartas: Hinos de origem cristã (Fil. 2:6-11; Col. 1:15-20; I Pedro 2:22-24);
confissões de fé (I Cor. 15:35; Pedr 1:8-21). Listas de vícios e virtudes lista de deveres
(I Tim. 3:1-13; Rom. 1:29-31; I Cor. 5:10-11).
Apocalipse: septenários,oráculos, midrash, cenas bélicas, elementos históricos
apresentados em linguagem surrealista para decodificar outros elementos ao longo da
história e da profecia.
Há estruturas maiores e menores e estruturas dentro de estruturas (i.e.
subdivisões estruturais). Descobrir um esboço maior seria interessante, mas devemos
tomar o cuidado de não forçar o texto como muitos fazem (há autores que propõem que
a bíblia inteira está em forma quiástica).
Exemplo de estrutura maior (mas que ainda não é o contexto amplo):
Lucas 15
1. Introdução: Jesus numa casa em festa com pecadores 15:1
2. O murmúrio dos escribas e fariseus à porta 15:2
a. Cena 1 Parábola da ovelha perdida fora do aprisco 15:3-7
b. Cena 2 Parábola da moeda perdida dentro de casa 15:8-10
c. Cena 3 Parábola dos dois filhos perdidos (dentro e fora) 15:11-21
3. Conclusão reflexiva: O pai em festa com o pecador 15:22-24
4. O murmúrio do filho mais velho à porta 15:25-32
Uma vez feita a delimitação, procure ver o que aquela unidade está dizendo.
Qual sua principal tese? Se for histórica, o que ela está afinal contando? Assim, em
relação ao contexto imediato, procure ver como essa passagem participa das temáticas
expressas nos capítulos que a antecedem e nos que seguem seu fechamento. As
passagens anteriores afetam a compreensão do texto? Sem elas, que impressões errôneas
poderíamos ter?
5 – Determine o contexto literário amplio
Informaciones históritcas que me alumbran El motivo Del libro. El libro en
donde está El texto. Cuando fue escrito. Quien lo escribió. Objetivo. Verifique qual a
contribuição, função ou papel daquela perícope dentro do livro no qual está inserida.
Para isso abre-se um parênteses para um importante estudo acerca do autor, data,
intenção etc. Esses elementos serão importantes. No caso dos sinóticos verifique
também se a passagem não tem paralelo noutro evangelho. Verifique também as
relações daquela porção com a Bíblia como um todo. É uma situação isolada? Há eco no
restante das Escrituras que permitam reconstruir uma base bíblica para aquele assunto?
Ex. Rebatismo em Atos 19:1-7. Mas atenção, veja se um autor bíblico não está usando a
mesma temática com um propósito diferente. É o caso da Nova Jerusalém descrita em
Isaías 65:17-25 e a de Apocalipse 21-22.
6 – Determine o contexto histórico

24
Cuando muestra Costumbres sociales alumbra um pasaje. Parte de este procedimento ya
fue hecho al buscarse la autoría del libro, data fecha, propósito etc. Sin embargo aqui si
va a un punto más específico para esclarecimiento de contextos y elucidação o confirmación de expresiones que
aparecen en el texto bíblico. Vea el caso del “Dios desconocido” de Atenas anunciado por Paulo y la filosofía de
Epimênides.
Esta parte, portanto, deveria incluir a contextualização histórica do texto. Procure
descobrir as características religiosas, culturais, políticas e sociais da época. Mas
atenção, cuidado com algumas reconstruções hipotéticas que acabam sendo
especulativas e cuidado também com os exercícios hermenêuticos que fazem da Bíblia
um mero produto del medio. Los que usan mucho el contexto histórico son los del
método histório crítico, por eso hay que tener cuidado.

7 – Análise gramatical –
Com o contexto histórico bem definido, podemos voltar ao texto e fazer uma
análise gramatical do mesmo. Aqui daremos atenção às frases e à sintaxe, bem como às
palavras e a semântica.
Alguns lembretes do gênio da língua grega como aparece na Bíblia (koiné),
serão úteis:
a) A sintaxe refere-se à relação entre as palavras dentro de uma sentença.
Mas atenção: não possuímos hoje uma completa gramática normativa do grego antigo
que aborde todos os casos e de fato normatize universalmente a língua na antiguidade39.
As que temos foram sistematizadas pela observação do comportamento mais comum
dos vocábulos dentro dos textos antigos. Mesmo assim, devemos estar prontos para
exceções que podem ser mais comuns do que esperaríamos.
b) Perceba que há hebraísmos que influenciam a forma grega de escrever
dos autores do NT. Veja por exemplo Paulo em Colossenses 1:5 e 6. A expressão
exageradamente genitiva “na palavra da verdade do evangelho daquele vindo até vós” é
um claro hebraísmo que usa o genitivo como adjetivo. O mesmo se dá com o dito de
Jesus em João 2:21 “Jesus estava se referindo ao templo do seu corpo”, em grego
clássico seria “ao templo, isto é, ao seu corpo”.
c) Uso do aoristo – este é um dos modos verbais mais mal compreendidos
do grego koiné. Sua intenção não é como muitos pensam falar de uma ação no passado.
Mas sim de uma ação completa, realizada. Ela pode até estar no future como a ordem de
I Cor. 5:7 “lançai fora o velho fermento”. Isto indica que é uma ação completa em si e
não algo para ser feito às prestações.

39
As mais antigas tentativas de elaboração de uma gramática da língua grega vêm de Dionísio da Trácia é
o autor da Téchné grammatiké, livro de quinze páginas e vinte e cinco sessões em que ele apresenta uma
explicação da estrutura do grego e cuja única deficiência é a omissão da parte de sintaxe. Sua gramática
descreveu duas unidades básicas: a sentença (lógos) e o vocábulo (léxis). Cuidou principalmente dos
vocábulos, que são "partes do discurso" (méros lógou), arrolando ao todo oito classes: artigo (árthron),
nome (ónoma), verbo (rhema), princípio (metoché), pronome (antonymía), advérbio (epirrhema) e
conjugação (súndesmoi). Três séculos mais tarde, Apolônio Díscolo completará os estudos de Dionísio
com o desenvolvimento da sintaxe, mostrando na oração a binaridade nome - verbo, e ainda apontando as
relações de concordância destas duas classes entre si e com as demais. Ainda que não alcançando uma
gramática plena, os trabalhos de Dionísio o Trácio e Apolônio Díscolo integram ainda hoje o sistema que
se apresenta como sendo o da língua. Os estóicos foram os que mais se ocuparam com os estudos da
gramática. Embora os escritos dos primeiros estóicos sobre gramática se tenham perdido, ficaram todavia
alguns dos seus resultados conhecidos por informações de terceiros.
25
d) Separe todas as conjunções e particípios da frase, isto ajuda a esclarecer
seu sentido original.
e) Identifique o tipo de sentença e o lugar de cada palavra na oração.
Lembre-se que é o verbo e/ou a partícula condicional que identificam a sentença em
grego. Pode ser uma sentença transitiva (o verbo é o objeto), intransitiva (o verbo tem
um objeto), passiva (o sujeito recebe a ação do verbo), condicional, interrogativa etc.
f) Identifique claramente (1) sujeito (2) verbo (3) objeto direto ou indireto,
se houver.
g) Separe em duas linhas os elementos subordinativos e os elementos ao
qual eles se referem. Exemplo: Gálatas 2:2b.
“[eu] lhes expus o evangelho (sujeito e verbo)
que prego (objeto, qualidade do evangelho)
entre os gentios (objeto alcance da pregação)
h) Na análise das palavras, cuidado com o método estruturalista e com a
alegorização do texto. Nós falamos de tipologia bíblica, nunca alegoria bíblica.
i) Atenção para alguns erros cometidos na análise de palavras40:

 Falácia etimológica, muitos pensam que a raiz da palavra sempre


determinará seu significado. Mas não é bem assim, veja que em inglês a palavra “nice”
vem do latim nescius que é a mesma raiz para “nescio”, “ignorante”. Como néscio
gerou “Nice” não sabemos ao certo, mas é um bom exemplo de não se firmar
demasiadamente em raízes etimológicas. Em I Coríntios 4:1 Paulo descreve a si mesmo
e outros líderes de “servos” de Cristo (hyperêtas). Ora alguns pensam que esta palavra
grega viria de “eressô” que quer dizer “remar” conforme encontramos em Homero no
8º. Século a.C. Mas aqui o sentido é “servo” e não “remadores de Cristo”. Outra
situação é com a palavra “monogenês” vertido (por causas etimológicas) para
“unigênito”, quanto deveria ser “único da espécie”, pois é assim que a palavra aparece
na LXX Salmo 22:20 (yâhid), [LXX: “minha única alma”] 21:21; [25: 16 LXX, estou
pobre e solitário].

 Anacronismo semântico – esquece-se que as palavras sofrem semântica e


se toma um significado posterior para elucidar um significado anterior ou vice-versa.
Devemos nos lembrar que a Bíblia levou 1.600 anos para ser escrita, muita coisa
acontece a um idioma durante este tempo! O mesmo se dá com palavras que hoje têm
um sentido diferente. Salvação hoje é sinônimo quase exclusivo de justificação na
mentalidade popular, mas no NT pode significar nalguns momentos justificação, noutros
santificação, noutros glorificação ou todos os elementos conjugados.

 Paralelomania verbal – é a crença de que a presença de um termo em


vários diferentes contextos automaticamente indica um paralelismo de idéias, um
empréstimo de idéias ou uma dependência literária. Exemplo: Filo e Heráclito falavam
do Logos, mas isso não significa que João tenha a mesma idéia de Logos ao empregar o
termo no prólogo de seu Evangelho.
40
Embora discordemos de alguns pontos, a nosso ver exagerados do autor, não deixa de ser muito útil a
obra de D. A. Carson, Exegetical Fallacies, (Grand Rapids, MI: Baker, 2004).
26
8 – Determine o como o texto foi interpretado a lo largo de los años
Este é um exercício negligenciado em muitos manuais, mas que tem tremenda
importância hermenêutica. Nalguns casos (como em teses por exemplo), ele vem na
seção de revisão de literatura e pode ser dividido em período patrístico, medieval,
moderno e contemporâneo. Sua própria interpretação deve ser comparada com aquela
encontradiça ao longo dos anos. Ane-nicene fatmers tomo 9. ES um índex buscar aça
para ver solo lo que dicen los padres de La iglesia com respecto AL texto.
9 – Sistematize suas conclusões e estabeleça a teologia do texto
Qual o significado daquela passagem dentro do todo relevado na Palavra de
Deus? Por exemplo, qual a contribuição do sermão da montanha para a temática da
justificação pela Fé? Em que sentido o texto confirma, corrige ou esclarece nossos
pressupostos filosóficos acerca da salvação? Finalmente aplique o texto à realidade da
Igreja.Procure ver o que a essência daquela passagem teria a dizer para o nosso
contexto. Quando Jesus disse: “Se teu inimigo te obrigar a andar uma milha, ande
duas”, usou recursos do imaginário da época (as leis romanas sobre os judeus
conquistados) para apresentar uma verdade. Que verdade é esta? Como se aplica a nós?
Se a encarnação ocorresse em nossos dias, que imagem de nosso cotidiano equivaleria a
essa declaração feita pelo Mestre? O que devíamos pregar a partir deste determinado
texto? Que lições podemos tirar dele?
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37
Apêndice 1

38
39
Nestlé-Aland –Novum Testamentum Graece

40
Greek New Testament (USB)

41
Apêndice 2 - Alguns dos Sinais do Nestlé-Aland

42
Alguns dos Sinais do The Greek New Testament

43
Apêndice 3

Understanding Greek Texts


Ronald J. Gordon
www.cob-net.org/compare_greektext.htm

There are over 5,300 Greek manuscripts in various forms: papyrus, uncial,
cursive - and no two are exactly the same. After the demise of the western half of the
Roman Empire in the Fifth Century and the subsequent destruction of their Latin
documents, the eastern half of the Empire and their Greek documents flourished for
another thousand years. In fact, most of what we know of the ancient world is derived
from Eastern manuscripts. In later centuries, with the threat of invasion to Eastern
capitals, merchants and scholars moved to the Latin West, bringing along their Eastern
Greek culture, and a profusion of documents (in some cases, the only surviving
documents) of many Old World classics, including biblical manuscripts in the original
Greek language of the New Testament. This produced a storm, a veritable explosion of
interest in learning. With this new influx of culture into the West, in the space of little
more than one century, history spawned these great events -- the Renaissance, the Bible
in Greek, an explosion of learning, the printing press, the Reformation, an explosion in
art (Michelangelo, Raphael), resurgence of astronomy (Copernicus), scientific
experimentation (Galileo), world exploration, and the discovery of the American
continent. Western Europe was punctually awakened from a thousand years of cultural
slumber. It was a seminal moment for Christianity as well, for great men of intellect and
theology such as Tyndale, Luther, and Beza were driven, as Wycliffe before them, to
place Holy Writ in the hands of the common populace for them to read and appreciate
for themselves. Jerome's Latin Vulgate was firmly entrenched in the West but it was
notably different from the manuscripts of Byzantium. As interest in these new Eastern
manuscripts greatly increased, men of learning - Textual Critics - attempted to
reconstruct what they believed to be the original text of God.
Significant Advances In Textual Criticism

A Textual Critic is a person who makes critical judgements while reviewing


the texts of a family of similar manuscripts, in order to determine what the original
scribe most probably had written. Naturally, the more dissimilar the set of manuscripts,
the more disciplined must be the science of Criticism. Various methods are used to
weigh the importance of the same reading in many different manuscripts. There must be
a reliable way of understanding how a reading might change over the years, and thus
account for the varied appearance of the same reading. Over the centuries, biblical
manuscripts started appearing from many other sources as dedicated researchers
combed the sands of Egypt or the shops of antiquities dealers, where Bedouins had
already deposited the fruits of their labors. In 1621, Cyril Lucar the Patriarch of
Alexandria was transferred to the Patriarchate of Constantinople, and along with the
transfer came a codex manuscript that would be called Alexandrinus. It was the first of

44
the great Uncials to become known to the scholarly world. He later sent it to England
and it is now a cherished glory in the British Museum. Arthur Hunt and Bernard
Grenfell began unearthing the city of Oxyrhynchus in 1896, and it soon yielded an
unbelievable treasure of ancient papyri: government orders, personal letters, school
exercises, bills of laden, tax receipts, random scribblings and even a possible list of
undocumented sayings of Jesus Christ (OXY 654). Distinctive biblical fragments were
also found here - P70 (OXY 2384) and P71 (OXY 2385). These discoveries are a
treasury of everyday life, which has given researchers a more lucid understanding of
early Egyptian language and customs. Once the third most important city in Egypt,
Oxyrhynchus has been called the “Wastepaper City” because of its astonishing yield of
documents.
Biblical fragments also began showing up, here and in many other Egyptian
archeological digs. New significant biblical finds were given a P number for
identification purposes only, since the order of their discovery can in no way
chronologically infer their antiquity. John Rylands acquired P52 (possibly the earliest)
after it was unearthed from an Egyptian tomb dating to about 115-120 AD. Presuming
20-30 years for such a copy to arrive in Egypt from the original place of writing
(Ephesus?), it would also validate the traditional date of 95 AD for the writing of the
fourth Gospel by Apostle John. Despite its rather small size, this portion of John (18:31-
33 and 37-38) is currently thought to be the earliest known biblical documentation.
Many fragments are small and contain little text but some are large and comprise many
New Testament books. Mining engineer Alfred Chester Beatty acquired several
fragments in 1930-31 - P45 (Gospels & Acts), P46 (Pauline Epistles & Hebrews), and
P47 (much of Revelation). Swiss collector Martin Bodmer acquired numerous
fragments and published them in 1955-56 - P66 (John), P72 (1-2 Peter & Jude), P74,
and P75 (much of Luke & John). The combined Bodmer and Beatty manuscripts permit
us to reconstruct nearly 90% of the New Testament from the 2nd to 3rd centuries.
(Excluded will be Philemon, Titus, 1-2 Timothy, James, 1-2 Peter, and 1-2-3 John).

Following is a brief overview of the more remarkable developments in the field of


biblical Textual Criticism. A subsequent list of many other notable Critics will follow
these short biographies, so that you may acquaint yourself with additional material that
extends beyond the scope and purpose of this auxiliary treatment.

Desiderius Erasmus 1466-1536


The first published edition of a printed Greek Testament was issued in 1516
by this Dutch Humanist monk who took vows in 1492 and began studying theology in
1495 at the University of Paris.
Erasmus disliked university life and soon departed but his quest
for classical learning and independent literary study only increased.
His residence in England garnered a professorship of divinity at
Cambridge University and friendships with leading British thinkers
such as Thomas More, John Colet, and William Grocynthe. Erasmus
traveled extensively in Europe and was offered numerous positions of
honor in the academic world. He was a practicing Catholic all his life
but a committed reformer at heart, rejecting the Latin Vulgate and
Erasmus
45
questioning the efficacy of monasticism. Erasmus is disparagingly called a Humanist
but Humanism in the 16th Century did not entail the varied colors of atheism that is
usually attached in the modern age. After settling in Geneva, he found the necessary
freedom to express his views more openly; and gained a reputation as one of the most
prominent scholars of Europe, regularly corresponding with over five hundred of the
most influential and powerful figures of his day. Although he forcefully strove to
regenerate humanity through education and purify the doctrines and practices of the
Church, he was never the target of any ecclesiastical body or official authority in the
Roman Church.
I would wish that all women — girls even — would read the Gospels and the
letters of Paul. I wish that they were translated into all languages of all people. To make
them understood is surely the first step. It may be that they might be ridiculed by many,
but some would take them to heart. I long that the husbandman should sing portions of
them to himself as he follows the plough, that the weaver should hum them to the tune
of his shuttle, that the traveler should beguile with their stories the tedium of his
journey.

Learning was the driving force behind Erasmus, and one of his passions was to
formalize the mammoth number of Byzantine Greek manuscripts into a single printed
Greek Text, the first such attempt to produce a Critical work. His first edition (1516)
was accomplished in about a years time but somewhat hastened because of a deadline
set by the publisher. Most of its notable disappointments were corrected in a second
edition (1519) and this one became the Greek Text used by translators Martin Luther
(1522) and William Tyndale (1525). A frequent criticism of Erasmus is that he used only
late manuscripts. In reality, he did have some access to early manuscripts but
disregarded readings bearing any resemblance to the Latin Vulgate. The Codex
Vaticanus was discovered by the Papal librarian Paulus Bombasius in the Vatican
Library in 1521, and he thoughtfully sent readings to Erasmus for consideration. Several
more editions were produced by Erasmus until his death and these became the
foundation for Theodore Beza's nine editions and the basis of French printer Robert
Estienne (Stephanus), who was the first to include a Critical Apparatus and subdivide
chapters into verses. The Greek Text of Erasmus has often been called the Textus
Receptus, a term which is actually derived from the second edition of Abraham and
Bonaventure Elzevir's Greek Text of 1633: "textum ergo habes, nunc ab omnibus
receptum..." (the text that you have is now received by all). Because of these many
close textual relationships, some biblical students innocently conclude that Textus
Receptus or Received Text, Erasmus, Beza, Stephanus, Byzantine Text, and King James
Bible all mean the same thing. Demonstrative variances exist but interpretively, they all
posture on the same side of the aisle.

Johann Griesbach 1745-1812

The awareness of text-types is largely due to this German textual Critic who studied
at Halle under Johann Semler and later became a professor of New Testament Studies at
Jena in 1775. Griesbach is also responsible for using the term “synoptic” in his
Commentarius Criticus of 1811. Although Johann Bengel appears to be the first to
demonstrate an interest in text typing, remarking that “manuscripts need to be classified
into companies, families, tribes, and nations” with further refinement on this notion by
46
Semler, it was Griesbach who put this idea on the scholarly map. Griesbach was one of
the first Critics to actually view and handle the Vatican Codex. He was permitted to
inspect it, but only without the use of writing materials and then only while under
immediate supervision. Griesbach would memorize vast amounts of Vaticanus and then
record its contents from memory back at his quarters each evening. After many years of
study, Griesbach reduced the numerous textual relationships to essentially three, which
he termed: Byzantine comprising perhaps 90%, Western primarily coming from the Old
Latin, and Alexandrian which was represented by only a few manuscripts. He published
several Greek New Testaments in 1775-1777, 1796-1806, and 1803-1807. Although
each one exhibited tenuous differences from that of Erasmus, Griesbach incorporated
new readings from other editors, and used the margins to note which ones he thought
were the best - even if he did not include them in the body of his own text. One
significant milestone was his use of the margin to cast warnings or approval concerning
variant readings. This innovation was a precursor to the {A} {B} {C} {D} evaluations
found in the United Bible Societies Greek New Testaments. Most future Critical editiors
would be corporeally influenced by the work of Johann Griesbach.

Karl Lachmann 1793-1851

A professor of Classical and German Philology in Berlin who issued three Greek
Texts (1831, 1842, 1850) that completely departed from the proliferating Textus
Receptus. Lachmann attempted to publish his text by using a small number of early
manuscripts and applying presumptive rules of examination that he had developed while
studying Greek classical literature (he was especially intrigued with Homer's Iliad). His
Critical efforts were influenced by two significant developments: the ascent of
Rationalism that questioned the inspiration of the Bible, and the methodology of
Altertumswissenschaft (Antiquity Science) which began to change how researchers
viewed ancient documents. Unlike biblical manuscripts which were usually produced
with some degree of reverent care for faithful preservation by the Church, Greek classic
manuscripts had garnered numerous alterations by reckless scribes that resulted in
regrettable to hopeless corruption. Lachmann and a few others (Wolf, Bekker)
developed rules of comparison which they believed would yield the original text
(autograph), and his crowning work using this method was an 1850 edition of the works
of the Roman poet, Lucretius. This process required diligence and guesswork to unravel
corrupted manuscripts, and Lachmann approached the New Testament with the same
presumption, that its huge number of manuscripts were as corrupted as the Classics. He
applied the same rules of critical examination to biblical manuscripts that he followed in
editing Classical manuscripts. This involved establishing a series of presuppositions and
systematic rules for hopefully arriving at the original text. Unfortunately, this effort did
not prove to be a true Critical production because he did not largely follow his own
methods of Textual Criticism. Lachmann committed a few grievous errors which
resulted in his text not being widely accepted, further exacerbated by his routine
practice of discarding one reading for another, which may only rest on a few
manuscripts. His intellectual arrogance is largely ignored by modern revisors, who
generally prefer to stress his determined effort to channel a new non-inspirational
approach to Textual Criticism.

Brooke Westcott 1825–1901 / Fenton Hort 1828-1892

47
Westcott was born in Birmingham, England and attended Trinity College in
Cambridge. He finished graduate school in 1851 and began teaching at Harrow School.
Westcott was Regius Professor of Divinity at Cambridge from 1870 to 1890, and
then Bishop of Durham until his death. He served in many prestigious ecclesiastical
appointments including one of thirty-six chaplains to the King of England. Hort was
born in Dublin, Ireland, and also attended Trinity College, beginning the same year that
Westcott began graduate school. These two Cambridge professors developed a
friendship which culminated in a mutual quest to
revise the Greek Text of the New Testament. Hort
seemed to always be the guiding voice in their
mutual work and especially of the Revision
Committee of 1881. Each man publically disdained
the Received Text and also observed glaring
differences between Lachmann and Tischendorf.
Even Tischendorf's own texts varied considerably.
In 1853, they set a course to assemble a Greek Text Brooke Westcott Fenton Hort
that would harmonize existing Texts and gain wide
scholarly acceptance. The Upper House of the
Convocation of the Province of Canterbury of the Church of England appointed a
Revision Committee in 1870 to initiate the first true revision of the Authorized Version
and both were appointed. Although Bishop Ellicott was chairman, he was no match for
Fenton Hort in Textual Criticism and Hort gradually displaced the others in prominence,
to become the main voice of the Revisionists. The Revised Version was issued in 1881
(New Testament) and 1884 (Old Testament). It was passionately literal, interpretatively
rigid, hopelessly preferential, and just plain hard to read, which explains why its verses
are rarely, if ever, quoted in any literary work. It may have been financially
disappointing but it was the first major translation to break with the Textus Receptus.

John Burgon 1813-1888


This son of a London merchant was born in Smyrna, an eastern province of
Greece, and could speak Greek at an early age when most future Textual Critics
were struggling to learn their own native tongue. He wanted to be a minister and
pursued studies at London University in 1829, and then enrolled at
Oxford in 1841 where he became Gresham Professor of Divinity in
1867, and appointed Dean of Chichester in 1876. Burgon was a natural
master of classical Greek, studying with ease the works of Thucydides,
Aeschylus, Herodotus, and Aristotle (his favorite). He preached twice
on Sundays and taught Bible Studies to the students at 7:00 AM.
Burgon never issued a Greek Text but he was a firebrand of learned
opinion in the area of Textual Criticism and Quotations of the Church
Fathers. Although generally ignored by modern Critics because of his
stress on Divine Preservation, some of his arguments have yet to be
successfully answered. For example, he dismissed Fenton Hort's John Burgon
Recension Theory of the Byzantine Text from the Fourth Century as
intellectual buffoonery, predicated entirely without evidence. Today,
most reputable scholars also disown this once widely held view, not because there
48
remains no evidence of such from Church Fathers or Church Councils, but largely
because far too many distinctive Byzantine readings have now been identified in the
Papyri - especially P46. The brilliant scholar Gunther Zuntz exhibits a steadfast
preference for the “text of the papyri” and questions both the true origin of the
Byzantine and the pure neutrality of the Alexandrian which he frequently regards as a
mixture of different sources. He does not revere Burgon or show himself a friend to
King James enthusiasts, but interestingly writes in The Text of the Epistles: “...a
number of Byzantine readings, most of them genuine, which previously were discarded
as late, are anticipated in P46 ... we are now warned not to discard the Byzantine
evidence en bloc ... the extant Old Uncials and their allies cannot be relied upon to
furnish us with a complete picture of the textual material which the Fourth and Fifth
centuries inherited from earlier times ... P46 has given us proof of that."

If Burgon was so skillful at Textual Criticism, why then is he so neglected or defamed


by modern Critics? It may be for the very same reason that he also lacked ecclesiastical
promotion during his life time - he rocked too many boats. Burgon wrote forcefully with
a confidence that often came across to his contemporaries as intemperate defiance, and
perhaps even elitist. If one is able to intellectually disassociate Burgon's personality
from his writing, many of his arguments are quite reasonable. For example, modern
scholars have now generally dispensed with Hort's 4th Century Recension Theory
regarding Lucian of Antioch, not because early Church Councils and Church Fathers are
silent to the matter, not because Lucian accepted the heresy of Arius, not because the
entire Athanasian Church could hardly accept a recension written by an Arian heretic,
rather because too many distinctive Byzantine readings have now been cataloged in the
Papyri. No matter how one desires to frame the argument - Burgon was correct on this
point.

The Revised Version of 1881 and its departure from the Received Text for that of
Westcott & Hort was received with dismay by many and immediately challenged by
Burgon, Cook, Beckett, Salmon, Malan, and perhaps the most eloquent Textual Critic of
the day, Dr. Frederick H. A. Scrivener. Burgon's response was published as The
Revision Revised in 1883. No stronger champion of the Textus Receptus can be found
in church history and for that reason he is immediately beloved or disdained in
accordance with one's textual predilection. F.F. Bruce writes in History of the Bible in
English: “Some scholars did attempt to reply to Burgon -- competently, like Professor
William Sanday of Oxford ... and less competently, like Bishop Ellicott, chairman of the
Revisers, who was no match for Burgon in Textual Criticism ... The one scholar who
could have answered Burgon conclusively -- Dr. Hort, chose to say nothing.” Of further
note to Burgon's credit but locked in the British Museum is his most ambitious and
unpublished work, a detailed catalog of more than 86,000 quotations of the early
Church Fathers, the only project of its kind and a companion effort to his being the only
Textual Critic to personally collate the Big Five Uncials.

Eberhard Nestle 1851-1913 / Erwin Nestle 1883-1972

All major Greek Texts would be nearly harmonized into one cohesive Critical Edition
by an unassuming yet meticulous scholar from Württemberg, Germany. Nestle was a
theologian, pastor, teacher, and Orientalist who studied at Tübingen (1869) and later
49
pursued studies at Leipzig, Berlin, London, and Ulm. In the late Nineteenth Century,
Textual Criticism was being tossed about in an oceanic storm, by the pounding waves of
two schools of transmission: the Traditional-Preservation school of Dean John Burgon
(Revision Revised) accompanied with the superior intellect of Frederick Scrivener
(Plain Introduction to the Text of the New Testament), and the Alexandrian-Neutral
school of Karl Lachmann, Constantin von Tischendorf, Brooke Westcott, and Fenton
Hort. Lachmann was the first to break with the Byzantine Text and Tischendorf's
discovery of the Codex Sinaiticus propelled Textual Criticism into an “oldest is always
best” manuscript mode, which was in direct opposition to the Burgon-Scrivener plea for
a preserved text against demonstrative corruption in the oldest manuscripts.

Nestle sided with Lachmann, Westcott, and Hort against Burgon, Scrivener, et.al. and
further tried to harmonize the variant concerns of the Neutral School, because Hort was
enamored with Vaticanus and Tischendorf with Sinaiticus. The first Edition of 1898 was
little more than a comparison of three sources: Westcott & Hort, Tischendorf, and
Weymouth. A majority reading from each source became the Nestle Text. When they
disagreed, an arbitrary decision became the accepted reading. Bernard Weiss was
substituted for Weymouth in the third Edition and with few changes, this was the Nestle
Text until the Twenty-Fifth Edition. For personal reasons, Nestle did not allow his name
to appear on this first edition issued by the Württemberg Bible Society but succumbed
to their persistence by the third Edition. In 1904, the British and Foreign Bible Society
adopted Nestle’s text, which garnered international awareness and acceptance for the
Nestle enterprise. Eberhard died in 1913 and his son, Erwin, made several changes
beginning with the 13th Edition in 1927, especially the addition of a true Critical
Apparatus.

Erwin Nestle is also accredited with making the Nestle Text a scholarly Text. Unlike
previous Critics who produced several editions that never seemed to dominate the field
or “cut through the noise,” Erwin worked devotedly towards producing not only a
scholarly Greek Text, but also a highly marketable Greek Text. This was accomplished
in large part by expanding the Manuscript Apparatus to include a wider range of
evidence, particularly over sincere promptings from the 1924 Magdeburg Conference.
This permitted translators and scholars the opportunity to make better and more
independent textual judgements by giving them a greater degree of information. He
further made use of Vod Soden's identification sigla. Kurt Aland became associated with
Nestle during the early 1950s and eventually became a joint-editor with his wife
Barbara Aland. Thus, it is presently called the Nestle-Aland Novum Testamentum
Graece. Aland decided to incorporate his own textual labors toward the new Nestle 26th
Edition which appeared in 1979. This would be the first Nestle Greek Text to have an
independently established text. New manuscript finds were also reflected. Eight verses
from Luke chapter 24 (3, 6, 9, 12, 36, 40, 51, 52) have been missing in modern
translations because of the supposed validity of Westcott and Hort's “Non-Western
Interpolation” theory (omissions or brevity in the otherwise paraphrasic Western Text
might be indicative of an original reading). With the discovery of P75, a near relative of
Vaticanus which included all eight verses by the original scribe, Nestle-Aland
reinstituted them in 1979 and most translations have done likewise (compare RSV-1948
and NRSV-1986).
Kurt & Barbara Aland Criteria For Textual Criticism

50
1. Only one reading can be original, however many variant readings there
may be.
2. Only the reading which best satisfies the requirements of both external
and internal criteria can be original.
3. Criticism of the text must always begin from the evidence of the
manuscript tradition and only afterward turn to a consideration of internal criteria.
4. Internal criteria (the context of the passage, its style and vocabulary, the
theological environment of the author, etc.) can never be the sole basis for a critical
decision, especially when they stand in opposition to the external evidence.
5. The primary authority for a critical textual decision lies with the Greek
manuscript tradition, with the Versions and Fathers serving no more than a
supplementary and corroborative function, particularly in passages where their
underlying Greek text cannot be reconstructed with absolute certainty.
6. Furthermore, manuscripts should be weighed, not counted, and the
peculiar traits of each manuscript should be duly considered. However important the
early papyri, or a particular uncial, or a minuscule may be, there is no single manuscript
or group or manuscripts that can be followed mechanically, even though certain
combinations of witnesses may deserve a greater degree of confidence than others.
Rather, decisions in textual criticism must be worked out afresh, passage by passage
(the local principle).
7. The principle that the original reading may be found in any single
manuscript or version when it stands alone or nearly alone is only a theoretical
possibility. Any form of eclecticism which accepts this principle will hardly succeed in
establishing the original text of the New Testament; it will only confirm the view of the
text which it presupposes.
8. The reconstruction of a stemma of readings for each variant (the
genealogical principle) is an extremely important device, because the reading which can
most easily explain the derivation of the other forms is itself most likely the original.
9. Variants must never be treated in isolation, but always considered in the
context of the tradition. Otherwise there is too great a danger of reconstructing a "test
tube text" which never existed at any time or place.
10. There is truth in the maxim: lectio difficilior lectio potior ("the more
difficult reading is the more probable reading"). But this principle must not be taken too
mechanically, with the most difficult reading (lectio difficilima) adopted as original
simply because of its degree of difficulty.
11. The venerable maxim lectio brevior lectio potior ("the shorter reading is
the more probable reading") is certainly right in many instances. But here again the
principle cannot be applied mechanically.
12. A constantly maintained familiarity with New Testament manuscripts
themselves is the best training for textual criticism. In textual criticism the pure
theoretician has often done more harm than good.

51
Bruce Metzger 1914-2007
North America entered the world of biblical Greek scholarship through a
young student from Mennonite heritage in Pennsylvania. Born in Middletown just south
of Harrisburg, Metzger first studied Greek and Latin at Lebanon Valley College and
then made plans to study at Louisville under A.T. Robertson, one of the leading
authorities of New Testament Greek. After learning of Robertsons death (1934), he
decided to study Greek, Hebrew,
and Syriac at Princeton Theological Seminary, where a few weeks prior to his
graduation in 1938, he was invited to begin teaching Greek at the Seminary. This began
a forty-six year career until he retired in 1984. His scholarly credentials are a litany of
international associations and recognitions: the International Greek New Testament
Project beginning in 1948 seated him as one of six members on their Executive
Committee, Metzger eventually became the driving force of the
United Bible Societies new series of Greek Texts (1966, 1968, 1975,
1993), the principal editor of the New Revised Standard Version
(NRSV 1989), elected to the advisory committee of the Institute for
New Testament Textual Research at Münster, West Germany, in 1964,
and numerous international speaking engagements such as addressing
the University of Cambridge Faculty of Divinity and Fellows of
Emmanuel College in 1981 for the Centenary Celebration of the 1881
publication of the Westcott-Hort Greek New Testament. One highlight Bruce Metzger
of his speech noted that modern scholars have about sixty times the
manuscript evidence as did the Revision Committee of 1881. Along
with his translation efforts, Metzger wrote a companion work to the United Bible
Societies Greek New Testaments, A Textual Commentary of The Greek New Testament
(1975) wherein he explains and reasons, verse by verse, for the textual decisions of the
Committee that totals over 2,000 variant readings. This went one step beyond Erwin
Nestle's evidentiary efforts by actually explaining the Committees thinking during the
process of selecting readings, thus allowing students to understand the “why” behind the
UBS Greek Text.
Bruce Metzger Criteria for Textual Criticism
I.EXTERNAL EVIDENCE, involving considerations bearing upon:
1. The date of the witness or, rather, of the type of text.
2. The geographical distribution of the witnesses that agree in supporting a
variant.
3. The genealogical relationship of texts and families of witnesses:
Witnesses are to be weighed rather than counted.
II.INTERNAL EVIDENCE, involving two kinds of probabilities:
i. Transcriptional Probabilities depend upon considerations of
palaeographical details and the habits of scribes. Thus:
1. In general the more difficult reading is to be preferred.
52
2. In general the shorter reading is to be preferred.
3. That reading is to be preferred which stands in verbal dissidence
with the other.
ii. Intrinsic Probabilities depend upon considerations of what the author was
more likely to have written, taking into account:
1. the style and vocabulary of the author throughout the book,
2. the immediate context,
3. harmony with the usage of the author elsewhere, and, in the
Gospels,
4. the Aramaic background of the teaching of Jesus,
5. the priority of the Gospel according to Mark, and
6. the influence of the Christian community upon the formulation
and transmission of the passage in question.

Other Notable Critics

This exercise is principally concerned with major developments or turning points in


the field of Textual Criticism, and not a biographical treatment of all who have pursued
this discipline. Following are notable Critics who have also gained recognition in this
field: Johann Bengel, Richard Bentley, Arthur Farstad, Casper Gregory, Fenton Hort,
Herman Hoskier, F.G. Kenyon, Kirsopp Lake, John Mill, A.T. Robertson, Frederick
Scrivener, Johann Semler, Hermann Freiher Von Soden, Constantin von Tischendorf,
Samuel Tregelles, Bernhard Weiss, and Brooke Westcott.

United Bible Societies


A world fellowship comprised of separate national Bible societies from
various countries, that are non-denominational organizations with the purpose of
translating and distributing affordable Bibles in various languages. A German Bible
Society was founded by Count Canstein in 1710 and others gradually followed:
Nuremberg (1804), Berlin (1806), Finland (1812), Russian (1812), Saxony (1813),
Netherlands (1813), Dennmark (1814), Norway (1815), United States (1816), Malta
(1817), and Paris (1818). One of the most influential has been the British and Foreign
Bible Society which was founded in 1804. When the BFBS refused to take a firm
position against Unitarianism, this conflict resulted in the formation of The Trinitarian
Bible Society in 1831. These national societies worked feverishly to populate the world
with Bibles in the language of indigenous people, but over the years they witnessed
their efforts overlapping and even conflicting. Predictably, there grew a desire for more
cooperation and mutual support. After World War I, the major players began seeking to
form a united organization that would more efficiently coordinate their energies. That
vision was delayed by World War II until 1946 when delegates from several countries
met at Haywards Heath, England, to found the United Bible Societies (UBS) on May 9.
53
Several remaining Societies were then invited to join and seventeen responded in the
first year. As of May 2001, the UBS has become a world fellowship of 137 national
Bible Societies working in over two hundred countries.

A new awakening in textual research occurred during the 1950s and the UBS
garnered a string of important Critical works: Eberhard Nestle’s Greek New Testament
(1898) revised by Kurt Aland (1979), Gerhard Kittel's Hebrew Old Testament (1937)
revised by Karl Elliger and Wilhelm Rudolph (1977), Alfred Rahlfs's Septuagint (1935),
and Robert Weber’s Vulgate (1969). A call was made for an international group of
textual experts to utilize this information and produce a new edition of the Greek New
Testament. Kurt Aland and the Institute for New Testament Research microfilmed over
a thousand previously unknown or unexamined new manuscripts. Additionally, a
reliable method of evaluating all this data was necessary, in order to catalog all variants
and establish a reasonable presumption for the transmission of the New Testament.
There are now four UBS Editions (1966, 1968, 1975, 1993), the original committee
being Kurt Aland, Matthew Black, Bruce Metzger, Arthur Vööbus, Allen Wikgren with
Carlo Martini joining for the second and third Editions, and the fourth Edition prepared
by Kurt Aland, Barbara Aland, Johannes Karavidopoulos, Carlo Martini, and Bruce
Metzger. Of special interest to many is the unique “italic” Greek font that was used in
the UBS 3rd Edition because they consider it to be a more readable typeface. Reference
material is richly incorporated, colorful topographical maps on the inside front and back
covers, an obligatory Greek-English dictionary, the usual manuscript organizational
charts, plus an expected bibliography.

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Apêndice 4

55
56
Apêndice 5

57
Apêndice 6
Síntese do Livro
HASEL, Gerhard F. Teologia do Novo Testamento. In: HASEL, Gerhard F.
Teologia do Antigo e Novo Testamento: questões fundamentais no debate atual. São
Paulo: Academia Cristã, 2007.

INTRODUÇÃO

Hasel inicia seu estudo sobre a teologia do NT (Novo Testamento), declarando a crise
desta nos dias contemporâneos, não pela falta de interesse, mas pela falta de
concordância em questões fundamentais. Cita teólogos que comprovam sua afirmação e
exemplifica a crise com o debate atual sobre a função da mensagem de Jesus na teologia
do NT.

CAPÍTULO 1: PRIMÓRDIOS E DESENVOLVIMENTO DA TEOLOGIA DO NT

Neste capítulo, o autor propõe um estudo sobre o desenvolvimento histórico da teologia


do NT, pois, isso auxilia na compreensão do debate contemporâneo sobre a natureza,
função, método e propósito dela. Apresenta a reforma como precursora da TB (Teologia
Bíblica), mas esta só tem seu início, como disciplina, um século depois, ainda
subserviente à dogmática.

Com o iluminismo, a TB é influenciada pelo racionalismo e se desenvolve o método


“histórico-crítico”. Assim, a TB recebe um enfoque histórico-descritivo que culmina na
ruptura com a sistemática, analisando o texto apenas em seu contexto antigo sem
relacioná-lo com os dias modernos. Outros enfoques surgem. O método da “história das
religiões” submete o texto ao princípio da religião universal. A escola “histórico-
positiva” mescla a metodologia histórica com a abordagem dogmática. E o enfoque da
“história da salvação” entende as Escrituras como proclamação da ação salvífica de
Deus dentro da história, especialmente em Jesus Cristo.

Após a Primeira Guerra, há a descrença no naturalismo evolucionista e na possibilidade


da “objetividade” científica. Surge a teologia dialética. Nesse contexto, emerge
Bultmann, influenciado pela história das religiões e pela filosofia existencialista de
Heidegger. A teologia do NT no meio católico se desenvolve no século XX. O enfoque
da Heilsgeschichte reaparece no cenário recente da teologia do NT.

CAPÍTULO 2: METODOLOGIA NA TEOLOGIA DO NT

O capítulo dois delineia as metodologias atuais mais importantes na teologia do NT. A


primeira é a abordagem temática, que pode tanto implicar no uso de temas dogmáticos
para a abordagem do NT ou no estudo longitudinal de conceitos e temas inerentes ao
NT.

A metodologia existencialista é fruto da influência heideggeriana na abordagem do NT.


Trabalha-se tanto com os métodos críticos na reconstrução dos escritos do NT, como
com a interpretação do significado dos textos para hoje. A teologia do NT é estudada
antropologicamente.

58
O enfoque histórico busca a compreensão dos autores do NT no próprio contexto deles
dentro da igreja primitiva. Trabalha-se na unidade existente entre os autores do NT e,
também, entre a proclamação de Jesus e da Igreja.

A abordagem da história da salvação, ainda que existam diferenças entre seus principais
expoentes, apresenta um entendimento da revelação bíblica como a descrição ou
interpretação do agir salvífico divino na história. Os autores bíblicos apresentam Deus
ativo na história, revelando-se e redimindo o homem.

Por fim, Hasel aborda aspectos fundamentais da teologia do NT. Na abordagem


temática mostra a limitação na seletividade de temas no estudo do NT, pois o NT possui
uma natureza variada de pensamento; aponta para a questão polêmica e indissolúvel se a
fé cristã do NT remonta ao próprio Jesus ou se é criação da igreja primitiva; lança a
questão se a empreitada da teologia do NT deve ser descritiva ou teológica; e,
finalmente, fala sobre o debate da separação ou união entre “o que queria dizer” o texto
e “o que quer dizer”.

CAPÍTULO 3: O CENTRO E A UNIDADE DA TEOLOGIA DO NT

Neste capítulo, Hasel levanta a questão da possibilidade de um centro do NT, no qual se


perceba uma unidade teológcia entre os autores e escritos. Ao mesmo tempo, há a crítica
do conteúdo que entende o centro do NT como o critério de “cânon dentro do cânon”.
Alguns como Bultmann e Braun vêem na antropologia o centro pelo qual se deve
estudar o NT. Acabam por enfatizar certos autores e escritos do NT e não dar
importância para outros, de acordo com o critério da antropologia existencialista.

Cullmann vê na “história da salvação”, isto é, o agir redentor e revelador de Deus na


história, como o centro unificador do NT. Outros centros são defendidos por diferentes
autores, inclusive o Pacto, mas nenhum deles consegue tratar de forma abrangente a
totalidade do NT.

Hasel apresenta uma discussão sobre a cristologia como o centro do NT e outras


propostas de centros no meio católico e luterano. Conclui que a cristologia pode ser
vista como o centro dinâmico e unificador do NT, mas não pode ser tida como uma
estrutura para se escrever uma teologia do NT. No final do capítulo, reserva sua atenção
para a discussão do “cânon dentro do cânon” e mostra que a diversidade de centros
como normas na “crítica do conteúdo” do NT evidenciam fraquezas insuperáveis e
arbitrariedade confessional.

CAPÍTULO 4: A RELAÇÃO DO NT E O AT

Nesta parte do livro, foca-se na questão de continuidade e descontinuidade entre o AT


(Antigo Testamento) e o NT, e a direção que a leitura das Escrituras de ter, se do AT
para o NT ou do NT para o AT, ou ambas. Marcião é um exemplo da descontinuidade e
desunião entre o AT e NT, já que considerava haver diferenças fundamentais entre os
dois. Tal pensamento teve sua continuidade em estudiosos que valorizaram o NT e
desprezaram o AT, tratando este como dispensável ou não cristão. Do outro lado, alguns
supervalorizaram o AT por enfatizarem um tema específico central como o “reino de
Deus” ou visualizaram questões tratadas no AT que não se encontram no NT.
59
Hasel propõe padrões de unidade entre os Testamentos. O primeiro é a “conexão
histórica”, já que ambos relatam a história contínua do povo de Deus e deste agindo de
forma redentora. Há a “dependência escritural” em que o NT cita o AT como
fundamento. Também, o “vocabulário” em que palavras chaves gregas do NT têm sua
origem em palavras hebraicas desenvolvidas no AT.
Dentre outras idéias, a de promessa-cumprimento evidencia um relacionamento inerente
entre os testamentos. Igualmente, a orientação para o futuro, em que o NT preenche
lacunas do AT e, ainda, lança o olhar mais para frente, na plenitude do fim dos tempos.

CAPÍTULO 5: PROPOSTAS BÁSICAS PARA UMA TEOLOGIA DO NT

Por fim, Hasel lança propostas básicas para uma teologia do NT. Defende a teologia do
NT como parte da TB e, por isso, deve ser vista como disciplina histórico-teológica,
trabalhando ao lado da exegese e se submetendo à experiência da fé proclamada pelos
autores bíblicos. Propõe o estudo de livros e blocos de escritos, separadamente, e, então,
a percepção das ligações bem como as diferenças entre eles. Dentro disso, deve-se
buscar mostrar a unidade da teologia do NT, destacando temas e conceitos longitudinais
nos livros e as relações intrínsecas dos escritos do NT, analisando o todo, não um grupo
de escritos escolhidos arbitrariamente.

Finalmente, por ser teologia do NT, ela está inserida no contexto maior do cânon bíblico
e deve ser estudado em seu relacionamento básico de unidade com o AT.

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