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História Do Pensamento Geográfico
História Do Pensamento Geográfico
2 A Geografia moderna
e a questão nacional na Europa. 1.3 As principais correntes metodológicas da Geografia
Para Moraes (2005), a relação entre a geografia e o colonialismo do século XIX é siamesa,
pois se tratava de promover o levantamento sistemático do mundo extraeuropeu, identificando
riquezas potenciais necessárias à evolução do capitalismo que se afirmava em sua fase imperialista
por meio da expansão industrial que necessitava matérias-primas e novos mercados para seus
produtos.
A Conferência Internacional de Geografia, convocada pelo rei da Bélgica, Leopoldo II, em
1876, na qual compareceram representantes de um saber ainda difuso adquirido e difundido pelas
sociedades geográficas, diplomatas e exploradores, tinha por objetivo, segundo discurso do próprio
monarca, “a tarefa de debruçar-se sobre o continente africano com o intuito de abrir à civilização a
única parte do nosso globo em que ela não havia ainda penetrado...”.
O colonialismo no século XIX, longe de se restringir ao entesouramento do ouro e da prata
do período mercantilista de expansão colonial anterior, agora necessitava de fontes renovadas de
recursos naturais e, portanto, de identificar novos caminhos e eventuais restrições para apoiar o
projeto geopolítico de hegemonia financeira e industrial dos países da Europa Ocidental frente às
novas forças econômicas que surgiam tanto na Rússia, como, secundariamente, na América do
Norte. Nesse contexto, a síntese geográfica associada ao projeto de observação sistemática da Terra,
seja a partir do ponto de vista de um determinismo natural, e/ou inserida em uma visão possibilista,
adaptativa da geografia humana, e/ou mesmo de uma interpretação mais próxima à geopolítica,
serviu como instrumento afiado para promover a avaliação “científica” do potencial de expansão do
colonialismo europeu naquele momento histórico.
Até o final do século XVIII, não é possível falar de conhecimento geográfico, como algo
padronizado, com um mínimo que seja de unidade temática, e de continuidade nas formulações.
Designam-se como Geografia: relatos de viagem, escritos em tom literário; compêndios de
curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de órgãos de administração; obras
sintéticas, agrupando os conhecimentos existentes a respeito dos fenômenos naturais; catálogos
sistemáticos, sobre os continentes e os países do Globo etc. Na verdade, trata-se de todo um período
de dispersão do conhecimento geográfico, onde é impossível falar dessa disciplina como um todo
sistematizado e particularizado.
A sistematização do conhecimento geográfico só vai ocorrer no início do século XIX. E nem
poderia ser de outro modo, pois pensar que a Geografia como um conhecimento autônomo,
particular, demandava um certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão
suficientemente maturadas. Estes pressupostos históricos da sistematização geográfica objetivam-se
no processo de produção. Assim, na própria constituição do modo de produção capitalista.
Ao início do século XIX, a malha dos pressupostos históricos da sistematização da
Geografia já estava suficientemente tecida. A Terra estava toda conhecida. A Europa articulava um
espaço de relações econômicas mundializado, o desenvolvimento do comércio punha em contato os
lugares mais distantes. O colonizador europeu detinha informações dos pontos mais variados da
superfície terrestre. As representações do Globo estavam desenvolvidas e difundidas pelo uso cada
vez maior dos mapas, que se multiplicavam. A fé na razão humana, posta pela Filosofia, abria a
possibilidade de uma explicação racional para qualquer fenômeno da realidade. As bases da ciência
moderna já estavam assentadas. As ciências naturais haviam constituído um cabedal de conceitos e
teorias, do qual a Geografia lançaria mão, para formular seu método. E, principalmente, os temas
geográficos estavam legitimados como questões relevantes, sobre as quais cabia dirigir indagações
científicas.
Sistematização da Geografia: Humboldt e Ritter
Ritter: define o conceito de “sistema natural”, isto é, uma área delimitada dotada de uma
individualidade. A geografia deveria estudar esses arranjos individuais e compará-los. Cada arranjo
abarcaria um conjunto de elementos, representando uma totalidade, onde o homem seria o principal
elemento.
Diferenças:
Semelhanças:
Ratzel publica suas obras no último quartel do século XIX. Enquanto Humboldt e Ritter
vivenciaram o aparecimento do ideal de unificação alemã, Ratzel vivenciou a constituição real do
estado germânico e suas primeiras décadas. A geografia ratzeliana foi um instrumento poderoso de
legitimação dos desígnios expansionistas e imperialistas alemães.
Em sua principal obra, Ratzel definiu o objeto geográfico como o estudo da influência que
as condições naturais exercem sobre a humanidade. A natureza influenciaria a própria constituição
social, pela riqueza que propicia, por meio dos recursos do meio em que está localizada a sociedade.
Para ele, a sociedade é um organismo que mantém relações duráveis com o solo, manifestadas, por
exemplo, nas necessidades de moradia e alimentação. O progresso significaria maior uso dos
recursos do meio, o que ensejaria maio necessidade de manutenção de posse.
Para Ratzel, a perda do território seria a maior prova de decadência da sociedade. Por outro
lado, o progresso implicaria a necessidade de aumentar o território, logo, de conquistar novas áreas.
Justificando essas colocações, Ratzel elabora o conceito de espaço vital (Lebensraum): uma posição
de equilíbrio entre a população de uma sociedade e os recursos para suprir essas necessidades,
defendendo assim suas necessidades de progredir. O Lebensraum era uma justificava geográfica
para o avanço territorial alemão na Europa central.
Para Hartshorne não há fenômenos particulares à Geografia, assim como também não há um
objeto de estudo que lhe seja específico. Para ele, as ciências se definem, sobretudo, por seus
métodos próprios de investigação, e menos segundo a determinação de objetos particulares de
estudo. Afirma que não cabe à Geografia investigar a gênese e desenvolvimento dos fenômenos. O
olhar do geógrafo deve estar dirigido para a apreensão do caráter das áreas, não se confundindo com
o olhar do historiador, interessado nos processos em si. Isso porque, cabe ao geógrafo entender a
diferenciação das áreas da superfície terrestre.
Renovação
Geografia crítica
Desse modo, será a leitura qualitativa da realidade concreta revelada pelo espaço geográfico
com suas tensões e contradições derivadas das relações sociais, econômicas e políticas que irá
marcar a geografia crítica e os novos horizontes conceituais e metodológicos a ela associada. Essa
corrente defendia, sobretudo, uma geografia menos “neutra” e, portanto, mais engajada com os
princípios da justiça social, diminuição das desigualdades sociais e regionais. Ela se consolidou no
contexto de forte revisão de ideias e de valores das décadas de setenta e oitenta do século XX
influenciadas pelos movimentos de maio de 1968 (na França), das lutas civis, do fim da guerra do
Vietnã, dos movimentos feministas nos Estados Unidos e na Europa, do acesso à terra na América
Latina e do surgimento da Ecologia. Espaço como fonte de conflito.
Geografia humanista
A Geografia Humanista enfoca as relações com o lugar. Os significados das relações com o
espaço são o veículo de entendimento do mundo humano, os sentimentos e ideias a respeito de
determinado espaço (lugar=espaço vivido)