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Resumo-Robbins - Varios Capitulos PDF
Resumo-Robbins - Varios Capitulos PDF
BIOPATOLOGIA
VITOR MARTINS
Baseado em:
Kumar V., Abbas A. K., Fausto N., “Robbins Patologia Básica”, Saunders, Tradução da 8ª Edição
Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Índice
Índice 1
Capítulo I: Lesão celular, morte celular e adaptações 8
Introdução à patologia 8
Visão geral das respostas celulares ao stress e aos estímulos nocivos 8
Adaptações celulares ao stress 10
Hipertrofia 10
Relações entre células miocárdicas normais, adaptadas, lesadas de modo
Reversível e mortas 10
Hiperplasia 11
Atrofia 11
Metaplasia 12
Visão geral da lesão celular e morte celular 13
Causas da lesão celular 14
Morfologia da lesão celular e da lesão tecidual 14
Lesão reversível 15
Necrose 16
Respostas subcelulares à lesão 18
Mecanismos da lesão celular 19
Depleção de ATP 19
Danos na mitocôndria 20
Influxo de cálcio 21
Acumulação de radicais livres derivados do oxigénio 21
Defeitos na permeabilidade da membrana 23
Danos no DNA e nas proteínas 23
Exemplos de lesão celular e necrose 24
Lesão isquémica e hipóxica 24
Lesão de isquémia-reperfusão 24
Lesão química 24
Apoptose 25
Causas da apoptose 25
Mecanismos da apoptose 26
Acumulação intracelular de substâncias 29
Vitor Martins FMUL/UMa 1
Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Degeneração gordurosa 29
Colesterol e ésteres de colesterol 30
Proteínas 30
Glicogénio 30
Pigmentos 31
Calcificação patológica 32
Calcificação distrófica 32
Calcificação metastática 32
Envelhecimento celular 33
Capítulo II: Inflamação aguda e crónica 34
Visão geral da inflamação 34
Inflamação aguda 35
Alterações vasculares 35
Alterações no fluxo e calibre vasculares 35
Alterações da permeabilidade vascular 35
Resposta dos vasos linfáticos 37
Eventos celulares: recrutamento e activação dos leucócitos 38
Recrutamento dos leucócitos 38
Activação dos leucócitos 41
Lesão tecidual induzida por leucócitos 43
Resolução da inflamação aguda 44
Padrões morfológicos da inflamação aguda 46
Mediadores químicos da inflamação 47
Inflamação crónica 48
Células e mediadores da inflamação crónica 48
Inflamação granulomatosa 50
Efeitos sistémicos da inflamação 50
Capítulo III: Reparo tecidual: regeneração, cicatrização e fibrose 51
O controlo da proliferação celular 51
Ciclo celular 51
Capacidade proliferativa dos tecidos 52
Células-tronco 52
A natureza e os mecanismos de acção dos factores de crescimento 53
Mecanismos de sinalização dos receptores dos factores de crescimento 53
Matriz extracelular e interacções entre a célula e a matriz 54
Vitor Martins FMUL/UMa 2
Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Morfologia 137
Curso clínico 137
Vasculite 138
Vasculite não-infecciosa 138
Vasculite associada a complexo imune 138
Anticorpos anticitoplasma de neutrófilos 138
Anticorpos anticélulas endoteliais 139
Classificação e características de vasculites imunomediadas seleccionadas 140
Vasculite infecciosa 141
Fenómeno de Raynaud 141
Veias e linfáticos 141
Veias varicosas 141
Tromboflebite e flebotrombose 142
Síndromes das veias cavas superior e inferior 142
Linfangite e linfedema 143
Tumores 143
Classificação dos tumores vasculares e condições tumoriformes 144
Patologia das intervenções vasculares 145
Capítulo 1
Lesão Celular, Morte Celular e Adaptações
Introdução à Patologia
Patologia – estudo do sofrimento. Abrange a ciência básica e a prática clínica e envolve a
etiologia e patogenia das doenças, que resultam em sinais e sintomas presentes no paciente;
- A morte celular é um dos eventos cruciais na evolução da doença, assim como, um processo
essencial e normal na embriogénese, no desenvolvimento dos órgãos e na manutenção da
homeostase;
O stress extracelular e a lesão celular não afectam apenas a morfologia, mas também o estado
funcional das células e dos tecidos;
Ex.: Miócitos lesados de modo reversível não estão mortos e podem assemelhar-se aos
miócitos morfologicamente normais. Entretanto, eles estão transitoriamente não-contráteis,
podendo levar a um impacto clínico letal.
Qualquer stress extracelular que provoque adaptação ou cause lesão reversível ou irreversível
nas células e tecidos, vai depender não apenas da natureza e gravidade do stress, mas
também de várias outras variáveis que incluem o metabolismo celular, o suprimento
sanguíneo e o estado nutricional.
Fig. 1
Hipertrofia
Hipertrofia – é um aumento do tamanho das células que resulta num aumento do tamanho do
órgão;
- Não existem células novas, apenas células maiores, aumentadas devido a um aumento da
quantidade de proteínas estruturais e de organelos;
Pode ser fisiológica ou patológica e é causada pelo aumento da demanda funcional ou por
estimulação hormonal específica;
A hipertrofia e a hiperplasia podem ocorrer juntas, resultando num órgão aumentado
(hipertrófico);
Ex.: Durante a gravidez, o aumento fisiológico maciço do útero ocorre como consequência da
hipertrofia e hiperplasia do músculo liso estimulado pelo estrogénio.
Hiperplasia
Hiperplasia – resposta adaptativa em células capazes de replicação;
Pode ser fisiológica ou patológica;
- Os dois tipos de hiperplasia fisiológica são:
Hiperplasia hormonal, por exemplo, proliferação do epitélio glandular da mama
feminina na puberdade e durante a gravidez;
Hiperplasia compensatória, ocorre quando uma porção de um tecido é removido ou
lesado (ex.: Remoção parcial do fígado);
Atrofia
Atrofia – diminuição do tamanho da célula pela perda de substância celular;
Embora as células atróficas tenham a sua função diminuída, elas não estão mortas;
As causas da atrofia incluem a diminuição da carga de trabalho (ex.: imobilização de um
membro para permitir o reparo de uma fractura), a perda da inervação, a diminuição do
suprimento sanguíneo, a nutrição inadequada, a perda da estimulação endócrina e o
envelhecimento (atrofia senil);
- Embora alguns desses estímulos sejam fisiológicos (ex.: perda da estimulação hormonal na
menopausa) e outros patológicos (ex.: desnervação), as alterações celulares fundamentais são
idênticas. Representam uma retracção da célula para um tamanho menor no qual a sobrevivência
é ainda possível;
- Um novo equilíbrio é adquirido entre o tamanho da célula e a diminuição do suprimento
sanguíneo, da nutrição ou da estimulação trófica;
Vitor Martins FMUL/UMa 11
Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Metaplasia
Metaplasia – é uma alteração reversível na qual um tipo celular adulto (epitelial ou
mesenquimal) é substituído por outro tipo celular adulto;
Nesse tipo de adaptação celular, as células sensíveis a um determinado stress são substituídas
por outros tipos celulares mais capazes de suportar o ambiente hostil;
Acredita-se que a metaplasia surja por uma “reprogramação” genética de células-tronco e
não da transdiferenciação de células já diferenciadas;
Exemplo de metaplasia epitelial: epitélio respiratório em fumadores;
- Mudança de um epitélio pseudo-estratificado cilíndrico ciliado para um epitélio pavimentoso
estratificado, mais resistente;
- Deficiência de vitamina A pode induzir também a metaplasia escamosa;
- Embora o epitélio escamoso metaplásico possua vantagens de sobrevivência, os importantes
mecanismos de protecção são perdidos, tais como a secreção de muco e a remoção pelos cílios,
de materiais particulados;
- As influências que induzem a transformação metaplásica, se persistirem, podem predispor a
transformação maligna do epitélio .
Lesão reversível
As duas principais características morfológicas da lesão celular reversível são:
- Tumefacção celular – é resultado da falência das bombas de iões na membrana
plasmática, dependentes de energia, levando a uma incapacidade de manter a homeostase
iónica e de fluido;
É a primeira manifestação de quase todas as formas de lesão celular;
Quando afecta muitas células de um órgão, causa alguma palidez e aumento do turgor e
do peso do órgão;
Em microscopia pode revelar vacúolos pequenos e claros no citoplasma (segmentos
distendidos e separados do RE). Não é letal e designa-se por alteração hidrópica ou
degeneração vacuolar;
Necrose
Necrose – alteração que acompanha a morte celular, que resulta da acção degradativa de
enzimas nas células lesadas letalmente;
As células necróticas exibem um aumento da eosinofilia (aumento da ligação da eosina às
proteínas citoplasmáticas desnaturadas e perda de basofilia conferida pelo RNA no citoplasma);
As células mortas são substituídas por grandes massas espiraladas compostas por fosfolípidos,
chamadas figuras de mielina, as quais são derivadas das membranas celulares danificadas;
As células mortas podem tornar-se calcificadas (precipitados fosfolipídicos posteriormente
degradados em ácidos gordos, que calcificam e originam os sabões de cálcio);
As alterações nucleares assumem um dos três padrões, todos devidos à quebra da cromatina e
do DNA:
- Cariólise: basofilia da
cromatina pode
empalidecer;
- Picnose: retracção
nuclear e aumento da
basofilia. O DNA
condensa-se;
- Cariorrexe: núcleo
picnótico sofre
fragmentação.
Fig. 4
Alterações mitocôndriais
- As alterações em número, tamanho e forma das mitocôndrias são vistas em diversas
adaptações e respostas à lesão crónica (ex.: Hipertrofia celular há aumento do número de
mitocôndrias; atrofia celular há redução do número de mitocôndrias; na doença hepática
alcoólica, as mitocôndrias têm uma forma muito aumentada).
Anormalidades cito-esqueléticas
- Algumas drogas e toxinas interferem no arranjo e nas funções dos filamentos do cito-esqueleto
(ex.: Colchicina impede a polimerização dos microtúbulos e é útil no tratamento da gota) ou
resultam na acumulação anormal de filamentos (ex.: Síndrome de Kartagener, resulta do defeito
da mobilidade do cílios no epitélio respiratório).
Fig. 5
Depleção de ATP
As principais causas de depleção de ATP são a redução do suprimento de oxigénio e
nutrientes, o dano mitocondrial e as acções de algumas toxinas (ex.: cianeto);
Os tecidos com maior capacidade glicolítica (ex.: fígado) são capazes de sobreviver melhor à
perda de oxigénio e ao decréscimo de fosforilação oxidativa do que os tecidos com capacidade
limitada para a glicólise (ex.: cérebro)
A depleção de ATP a menos que 5% a 10% dos níveirs normais tem amplos efeitos em muitos
sistemas celulares críticos (Fig. 6):
- A actividade da bomba de sódio na membrana plasmática dependente de energia é
reduzida, resultando num acumular intracelular de sódio e o efluxo de potássio;
O ganho de soluto é acompanhado de um ganho isosmótico de água, causando
tumefacção celular e dilatação do RE;
Fig. 6
- A depleção prolongada ou crescente de ATP causa rompimento estrutural do aparelho
de síntese proteica, manifestado como desprendimento dos ribossomas do RER e
dissociação dos polissomas em monossomas, com consequente redução da síntese proteica;
- Por fim, há um dano irreversível nas membranas mitocondriais e lisossomais e a
células sofre necrose.
Danos na mitocôndria
As mitocôndrias podem ser danificadas por aumento
de CA2+ citosólico, por espécies reactivas de oxigénio
e privação de oxigénio, sendo sensíveis a virtualmente
todos os estímulos nocivos, incluindo hipóxia e
toxinas;
Há duas consequências principais aos danos
mitocondriais (Fig. 7):
- É comum a lesão mitocondrial resultar na formação
de um canal de alta condutância na membrana
mitocondrial (poro de transição de
permeabilidade mitocondrial);
Fig. 7
Influxo de cálcio
A isquémia e certas toxinas causam um aumento da
concentração do cálcio citosólico, de início por
causa da libertação de Ca2+ armazenado
intracelularmente e, mais tarde, do cálcio que resulta
do influxo aumentado através da membrana
plasmática;
- O aumento do cálcio citosólico activa um
número de enzimas, com efeitos celulares
potencialmente prejudiciais (Fig. 8);
O aumento dos níveis de Ca2+ intracelular resultam,
também, na indução da apoptose; Fig. 8
A importância do Ca2+ na lesão celular foi estabelecida na descoberta de que a depleção de
Ca2+ extracelular retarda a morte celular após hipóxia e exposição a certas toxinas.
Fig. 9
Vitor Martins FMUL/UMa 22
Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Existem três reacções particularmente relevantes para a lesão celular mediada por radicais livres:
- Peroxidação lipídica das membranas;
- Ligação cruzada das proteínas: resulta no aumento na perda de actividade enzimática;
- Fragmentação do DNA.
Lesão de isquémia-reperfusão
A restauração do fluxo sanguíneo pode resultar em restauração das células se forem lesadas de
modo reversível;
No entanto, sob certas circunstâncias, essa restauração para tecidos isquémicos,
mas viáveis, resulta, paradoxalmente, em lesão acentuada e acelerada;
Como resultado, os tecidos continuam a perder células, além daquelas que foram lesadas de
modo irreversível no fim do episódio isquémico;
Vários mecanismos podem ser responsáveis pela exacerbação da lesão celular resultante da
reperfusão dentro dos tecidos isquémicos:
- Uma nova lesão pode ser iniciada durante a reoxigenação em virtude de uma
produção aumentada de ERO pelas células endoteliais, do parênquima e dos leucócitos
infiltrantes sobretudo porque a lesão mitocondrial leva a uma redução incompleta do oxigénio e
também por causa da acção das oxidases dos leucócitos, das células endoteliais ou do
parênquima;
- Os mecanismos de defesa anti-oxidantes celulares podem, também, ser
comprometidos pela isquémia;
- A lesão isquémica está associada a inflamação, a qual pode aumentar com a reperfusão
devido ao influxo aumentado de leucócitos e proteínas plasmáticas;
A activação do sistema complemento também contribui para a lesão isquémia-
reperfusão.
Apoptose
Apoptose – via de morte celular, induzida por um programa de suicídio rigorosamente
regulado, no qual as células destinadas a morrer activam enzimas capazes de degradar o seu
próprio DNA e as proteínas nucleares e citoplasmáticas;
A membrana plasmática da célula apoptótica permanece intacta, mas é alterada de tal maneira
que a célula e os seus fragmentos tornam-se alvo para os macrófagos;
Rapidamente a célula morta é removida, antes que o seu conteúdo extravase e, por isso, a morte
celular por essa via não induz uma reacção inflamatória.
Causas da apoptose
Apoptose em situações fisiológicas
- A morte por apoptose é um fenómeno normal que funciona para eliminar as células que não
são mais necessárias e para manter, nos tecidos, um número constante das várias populações
celulares, sendo importante nas seguintes situações fisiológicas:
Destruição programada de células durante a embriogénese;
Involução de tecidos hormono-dependentes sobr privação da hormona (ex.: células
endometriais);
Perda celular em populações celulares proliferativas (ex.: epitélio de cripta intestinal);
Morte de células que já tenham cumprido o seu papel (ex.: neutrófilos);
Eliminação de linfócitos auto-reactivos potencialmente nocivos;
Morte celular induzida por linfócitos T citotóxicos.
Mecanismos da apoptose
Morfologia
- Em tecidos corados pelo H&E, as células apoptóticas aparecem como massas ovais ou
redondas com citoplasma intensamente eosinófilo;
- Os núcleos exibem vários estágios de condensação e agregração da cromatina e, finalmente,
carriorrexe (fragmentação do DNA);
- Rapidamente as células retraem, formando brotos citoplasmáticos e fragmenta-se em corpos
apoptóticos compostos por vesículas envolvidas por membrana contendo citosol e organelos
(Fig. 2), que rapidamente são expulsos e fagocitados.
Fig. 11
Proteínas
Podem ocorrer acumulações de proteínas porque os excessos são apresentados às células ou
porque as células sintetizam quantidades excessivas;
Ex.:
- Síndrome nefrótica: gotículas de reabsorção de proteína nos túbulos contornados proximais de
cor hialina rósea;
- Acumulação de imunoglobulinas recentemente sintetizadas nos RER de alguns plasmócitos –
corpúsculos de Russell (redondos e eosinófilos).
Glicogénio
Excessivos depósitos intracelulares de glicogénio estão associados a anormalidades no
metabolismo da glicose ou do glicogénio;
Ex.: Diabetes mellitus: acumula-se no epitélio tubular renal, nos miócitos e nas células β dos
Ilhéus de Langerhans.
Pigmentos
São substâncias coloridas que são exógenas, originando-se fora do corpo ou endógenas,
sintetizadas dentro do próprio corpo;
Pigmentos
Pigmento exógeno mais comum;
Quando inalado, é fagocitado pelos macrófagos alveolares e transportado
Carbono
através de canais linfáticos para os nódulos linfáticos tráqueo-brônquicos;
(indigerível)
Os agregados do pigmento escurecem os nódulos e o parênquima pulmonar
(antracose).
Pigmento endógeno, designado por “pigmento do desgaste”;
Produto de degradação da peroxidação lipídica;
Material intracelular granular, castanhi-amarelado, que se acumula em vários
tecidos (ex.: coração, fígado e cérebro) como consequência do
Lipofuscina
envelhecimento ou da atrofia;
(indigerível)
Não é nociva à célula, mas é importante como marcador de lesão antiga
por radical livre;
O pigmento marrom, quando presente em grandes quantidades, confere ao
tecido uma aparência que é chamada de atrofia marrom.
Pigmento endógeno, preto-acastanhado;
Sintetizada exclusivamente pelos melanócitos localizados na
Melanina epiderme e actua como protector contra a radiação UV prejudicial;
Os queratinócitos basais adjacentes da pele podem acumular o pigmento (ex.:
sardas), assim como os macrófagos da derme.
Pigmento granular derivado da hemoglobina, amarelo a castanho-
dourado, que se acumula nos tecidos onde há um excesso de ferro, local ou
sistémico;
Normalmente, o ferro é armazenado no interior das células em associação
com a aproferritina, formando as micelas de ferritina;
Este pigmento representa grandes agregados dessas micelas de ferritina,
facilmente visualizados em MO pela reacção histoquímica do azul-da-prússia;
Os excessos locais de ferro e, consequentemente, de hemossiderina, resultam
de hemorragia;
Ex.: Equimose comum:
Hemossiderina - Os iões ferro da hemoglobina acumulam-se como hemossiderina amarelo-
dourado;
Sempre que há uma sobrecarga sistémica de ferro, a hemossiderina é
depositada em muitos órgãos e tecidos – hemossiderose (com a progressão
da acumulação, as células parenquimatosas tornam-se “bronzeadas” (fígado,
pâncreas, coração e órgãos endócrinos, sem lesão no tecido);
- Ocorre nas condições de absorção aumentada de ferro alimentar, uso
comprometido de ferro, anemias hemolíticas e transfusões;
Acumulação de ferro mais extensa é visto na hemocromatose hereditária,
com lesão no tecido, incluindo fibrose hepática, falência cardíaca e diabetes
mellitus.
Calcificação patológica
Implica o depósito anormal de sais de cálcio, em combinação com pequenas quantidades de
ferro, magnésio e outros minerais;
Existem dois tipos de calcificação: calcificação distrófica e calcificação metastática;
Calcificação distrófica
O depósito de cálcio ocorre nos tecidos mortos ou que estão morrendo, que ocorre na
ausência de desarranjos metabólicos do cálcio (ex.: com níveis séricos normais de cálcio);
É encontrada em áreas de necrose de qualquer tipo
Ex.: Ateromas da aterosclerose avançada;
Calcificação distrófica das valvas aórticas é causa importante da estenose aórtica nos idosos;
A patogenia da calcificação distrófica envolve a iniciação (ou nucleação) e a propagação,
ambos podendo ser intra ou extracelulares, sendo o produto final a formação de fosfato de
cálcio cristalino;
- A iniciação extracelular ocorre em vesículas revestidas por membrana originadas de células
degeneradas, na calcificação patológica;
- A iniciação intracelular ocorre nas mitocôndrias de células mortas ou que estão morrendo;
- A formação dos cristais depende da concentração de Ca2+ e do PO4- nos espaços
extracelulares, da presença de inibidores do mineral e do grau de colagenização, o qual aumenta
a taxa de crescimento do cristal;
Morfologia
- Os sais de cálcio são vistos macroscopicamente como grânulos finos brancos ou
agregados, muitas vezes palpáveis como depósitos arenosos;
- Histologicamente, a calcificação aparece como depósitos basófilos intra ou
extracelulares;
- Com o tempo, pode ser formado osso heterotípico no foco da calcificação.
Calcificação metastática
Depósito de sais de cálcio em tecidos normais, reflectindo quase sempre algum distúrbio
no metabolismo do cálcio (hipercalcemia);
As quatro principais causas da hipercalcemia são: secreção aumentada da hormona da
paratiróide, destruição óssea, distúrbios relacionados com a vitamina D e insuficiência renal;
Morfologia
- Pode ocorrer em todo o corpo, mas afecta sobretudo os tecidos intersticiais da mucosa
gástrica, rins, pulmões e da vasculariação;
- Os depósitos de cálcio lembram os descritos na calcificação distrófica;
- Não costumam causar disfunção clínica, mas calcificações maciças nos pulmões podem gerar
déficits respiratórios e nos rins (nefrocalcinose) podem causar lesão renal.
Envelhecimento celular
Envelhecimento celular – é o resultado do declínio progressivo do tempo de vida e da
capacidade proliferativa das células e dos efeitos da exposição contínua a factores exógenos que
causam acumulação de lesões moleculares e celulares;
Vários são os mecanismos conhecidos ou suspeitos de serem responsáveis pelo envelhecimento
celular (Fig. 12):
- Lesão do DNA: defeitos no mecanismo de reparo de DNA; o reparo do DNA pode ser
activado pela restrição calórica (conhecida por prolongar o envelhecimento em organismos-
modelo, mais propriamente, impõe um nível de stress que activa as proteínas Sir2, que
funcionam como uma diacetilase de histona);
- Decréscimo da replicação celular: conhecido por senescência replicativa, consiste na
capacidade reduzida de divisão celular resultante de quantidades descrescentes de telomerase e
encurtamento progressivo dos telómeros;
- Capacidade regenerativa reduzida das células-tronco nos tecidos: acumulação da
proteína p16 nas células-tronco, fazendo com que elas percam progressivamente a capacidade
de auto-renovação;
- Acumulação de lesões metabólicas: radicais livres;
- Outros factores: prováveis papéis dos factores de crescimento que promovem
envelhecimento em organismos-modelo.
Fig. 12
Capítulo 1I
Inflamação Aguda e Crónica
Fig.13
Vitor Martins FMUL/UMa 34
Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Inflamação aguda
Inflamação aguda – é uma resposta rápida e de curta duração à lesão ou a micróbios e outras
substâncias estranhas, que é designada a levar leucócitos e proteínas plasmáticas para os locais da
lesão;
A inflamação aguda possui dois componentes principais: alterações vasculares e eventos
celulares.
Estímulos para a inflamação aguda: infecções, trauma, agentes químicos e físicos, necrose
tecidual, corpos estranhos e reacções imunológicas.
Alterações vasculares
Alterações vasculares: alterações do calibre vascular que resultam num aumento do fluxo
sanguíneo (vasodilatação) e alterações estruturais que permitem que as proteínas plasmáticas
deixem a circulação (aumento da permeabilidade vascular).
Fig. 14
Vários mecanismos podem contribuir para o aumento da permeabilidade vascular nas reacções
inflamatórias agudas:
- Contracção da célula endotelial, formando lacunas intercelulares nas vénulas pós-
capilares:
Causa mais comum do aumento da permeabilidade vascular, sendo um processo
reversível;
Resposta transitória imediata: contracção rápida após a ligação dos mediadores
histamina, bradicinina, leucotrienos e outros aos receptores específicos, geralmente de
curta duração;
Alterações do cito-esqueleto induzidas por citocinas (TNF e IL-1), provocam uma
contraação mais lenta e prolongada;
- Lesão endotelial:
Resulta no extravasamento vascular, causado por necrose e desprendimento da célula
endotelial;
Resposta contínua imediata: o extravasamento começa imediatamente após a lesão e
persiste por várias horas (ou dias) até que os vasos danificados sejam trombosados ou
reparados;
Extravasamento prolongado tardio: começa após um certo tempo (de 2 a 12 horas),
durando várias horas ou dias, e envolve vénulas e capilares (ex.: queimadura solar que
aparece ao anoitecer, após um dia no sol);
- Trancitose aumentada:
Ocorre via canais formados pela fusão de vesículas intracelulares, aumentando a
permeabilidade vascular após exposição a certos mediadores (ex.: VEGF);
2. Adesão e transmigração
- A adesão firme às superfícies endoteliais é mediada pelas integrinas expressas nas
superfícies celulares dos leucócitos;
Têm baixa afinidade até que haja activação dos leucócitos por quimiocinas
(citocinas quimioatraentes secretadas por várias células, nos locais de inflamação, e ligam-
se a proteoglicanos na superfície do endotélio);
3. Quimiotaxia
- Após o extravasamento, os leucócitos migram em direcção ao local da lesão ou infecção, ao
longo de um gradiente químico (quimiotaxia);
- Substâncias exógenas e endógenas podem actuar como factores quimiotáticos para os
leucócitos e incluem: produtos bacterianos (N-formilmetionina); citocinas (quimiocinas);
componentes do sistema complemento (C5a); produtos do metabolismo do ácido araquidónico
(leucotrieno B4);
- A ligação dos quimioatraentes aos receptores específicos na superfície celular resulta em
eventos de transdução de sinal mediados pela proteína G-7, alguns dos quais elevam o cálcio
Vitor Martins FMUL/UMa 39
Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Fig. 15
1. Fagocitose
- A fagocitose consiste em três etapas distintas, mas inter-relacionadas (Fig. 16):
1. Reconhecimento e fixação da partícula ao linfócito fagocítico;
Os leucócitos possuem receptores de superfície específicos que reconhecem os
componentes do micróbios e células mortas ou as proteínas do hospedeiro (opsoninas),
que revestem os micróbios e os torna alvos para a fagocitose (opsonização);
Principais opsoninas: IgG (ligam-se ao receptor Fc, chamado de FcγRI); fragmentos 1 e
3 do complemento (ligam-se aos receptores CR1 e 3); colectinas (ligam-se a
receptores C1q);
2. Invaginação, com subsequente formação de um vacúolo fagocítico;
A ligação de partículas opsonizadas desencadeia a invaginação e induzem a activação
celular que aumenta a degradação dos micróbios ingeridos;
Os pseudópodes estendem-se em torno do material, formando um vacúolo
fagocítico;
De seguida, a membrana do vacúolo funde-se com a membrana de um grânulo
lisossómico, formando um fagolisossoma;
3. Destruição e degradação do material ingerido;
As etapas-chave nesta reacção são a produção de substâncias microbicidas dentro
dos lisossomas e a fusão dos lisossomas com os fagossomas, expondo,
selectivamente, as partículas ingeridas aos mecanismos destruidores dos leucócitos;
As substâncias microbicidas mais importantes são as espécies reactivas do oxigénio e
as enzimas lisossómicas;
Fig. 16
Fig. 17
Inflamação crónica
Inflamação crónica – é a inflamação de duração prolongada (semanas a meses ou anos) na
qual a inflamação activa, destruição tecidual e reparação ocorrem simultaneamente;
Caracteriza-se por:
- Infiltração de células mononucleares, incluindo macrófagos, linfócitos e plasmócitos;
- Destruição tecidual, francamente induzida pelos produtos das células inflamatórias;
- Reparo, envolvendo proliferação de novos vasos (angiogénese) e fibrose;
A inflamação aguda pode progredir para inflamação crónica quando a resposta aguda não pode
ser resolvida, ou devido à persistência do agente lesivo ou por causa da interferência com o
processo normal de cura;
A inflamação crónica origina-se nos seguintes contextos:
- Infecções persistentes por microrganismos difíceis de erradicar (ex.: micobactérias,
Treponema pallidum), que causam infecções persistentes e suscitam uma resposta imune mediada
por linfócitos T (hipersensibilidade tardia);
- Doenças inflamatórias imunomediadas (distúrbios de hipersensibilidade);
- Exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos.
Fig. 19
Embora os neutrófilos sejam a marca clássica da inflamação aguda, muitas formas de
inflamação crónica podem continuar a mostrar extensos infiltrados neutrofílicos,
como resultado da persistência das bactérias e células necróticas ou dos mediadores produzidos
pelos macrófagos.
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Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Inflamação granulomatosa
Consiste num padrão distintivo da inflamação crónica, caracterizada por agregados de
macrófagos activados que assumem uma aparência epitelial;
Ex.: tuberculose, hanseníase, sífilis, doença de Crohn;
Efectivamente, a formação de um granuloma “encerra” o agente ofensor e, portanto, é um
mecanismo útil de defesa, mas nem sempre isto acontece e em algumas doenças (ex.:
tuberculose) a inflamação granulomatosa com fibrose subsequente pode ser a principal causa da
disfunção do órgão;
Morfologia
- Nas preparações com H&E, as células epiteliais nos granulomas exibem um citoplasma
granular róseo com limites celulares indistintos;
- Os agregados de macrófagos epiteliais são circundados por um colar de linfócitos;
- Normalmente, são encontradas células gigantes multinucleadas nos granulomas;
- Nos granulomas associados com certos microrganismos infecciosos (bacilo da tuberculose), a
combinação de hipóxia e lesão por radical livre leva a uma zona central de necrose com
aparência granular caseosa macroscopicamente (necrose caseosa).
Capítulo III
Reparo tecidual: regeneração, cicatrização e fibrose
Ciclo celular
Os processos-chave na proliferação das células são a replicação do DNA e a mitose;
- A proliferação celular é regulada por ciclinas que, quando conjugadas com CDK’s, regulam a
fosforilação de proteínas envolvidas na progressão do ciclo celular, levando à replicação do
DNA e à mitose;
O ciclo celular consiste numa série de etapas nas quais a célula confere a precisão dos
processos e instrui a si mesma a prosseguir para a próxima etapa;
É rigorosamente regulado por estimuladores e inibidores e contém pontos de controlo
intrísecos para evitar a repicação de células anormais.
- Tecidos estáveis
Possuem células quiescentes (estão na fase G0 do ciclo celular);
Possuem somente uma actividade replicativa mínima no seu estado normal;
Estas células são capazes de proliferar em resposta a uma lesão ou perda de
massa tecidual;
Ex.: parênquima da maioria dos tecidos sólidos; células endoteliais, fibroblastos e as
células musculares lisas;
Com a excepção do fígado, estes tecidos possuem uma capacidade limitada para se
regenerar após uma lesão.
- Tecidos permanentes
As células destes tecidos são consideradas terminalmente diferenciadas e não-
proliferativas na vida pós-natal;
Ex.: neurónios e miócitos;
Uma lesão no cérebro ou no coração é irreversível e resulta numa cicatriz.
Células-tronco
Os tecidos que se dividem continuamente (tecidos lábeis) contêm células-tronco que se
diferenciam para repor as células perdidas e manter a homeostasia tecidual;
As células-tronco são caracterizadas por duas propriedades importantes: capacidade de auto-
regeneração e replicação assimétrica;
As células-tronco de embriões (células estaminais) são pluripotentes; os tecidos adultos,
particularmente a medula óssea, contêm células-tronco adultas capazes de gerar múltiplas
linhagens celulares.
A maioria dos factores de crescimento possui efeitos múltiplos, como a migração celular,
diferenciação celular, estimulação da angiogénese e da fibrogénese, além da proliferação celular.
Fig. 20
Angiogénese
Os vasos sanguíneos são desenvolvidos por dois processos:
- Vasculogénese: a rede vascular primitiva é estabelecida a partir dos angioblastos
(precursores de células endoteliais) durante o desenvolvimento embrionário;
- Angiogénese ou neovascularização: vasos pré-existentes emitem brotos capilares para
produzir novos vasos;
As principais etapas que ocorrem na angiogénese a partir de vasos pré-existentes estão listadas a
seguir:
1. Vasodilatação em resposta ao NO e aumento da permeabilidade dos vasos pré-
existentes induzido pelo VEGF;
2. Migração de células endoteliais em direcção à área de lesão tecidual;
3. Proliferação de células endoteliais logo após as células migratórias iniciais;
4. Inibição da proliferação da célula endotelial e remodelagem dos tubos capilares;
5. Recrutamento de células periendoteliais (pericitos para os pequenos capilares e células
musculares lisas para os grandes vasos) para formar o vaso maduro;
FGF
- FGF-2 estimula a proliferação das células endoteliais, promove a migração de macrófagos e
fibroblastos para a área danificada;
- FGF-7 (factor de crescimento dos queratinócitos) pode participar na cicatrização de feridas
por intensificar a proliferação e migração de queratinócitos e pode proteger a integridade do
epitélio da cavidade oral e do TGI.
PDGF
- Causa migração e proliferação de fibroblastos e células musculares lisas e macrófagos.
Fig. 21
Capítulo IV
Desordens hemodinâmicas, trombose e choque
Edema
Edema – extravasamento de líquido dos vasos para o espaço intersticial;
- O líquido pode ser pobre em proteínas (transudato) ou rico em proteínas (exsudato);
O edema resulta de qualquer uma das seguintes desordens:
- Aumento da pressão hidrostática causada pela redução do retorno venoso (como na
insuficiência cardíaca);
- Redução da pressão osmótica do plasma (hipoproteinemia) causada por uma redução na
concentração plasmática de albumina (devido à redução da síntese, como ocorre nas doenças
hepáticas, ou aumento da perda, como ocorre nas doenças renais);
- Obstrução linfática ocasionando a redução da remoção do líquido intersticial (como ocorre
nos processos de cicatrização, tumores ou determinadas infecções);
- Retenção renal primária de sódio (na insuficiência renal);
- Aumento da permeabilidade vascular (na inflamação).
Fig. 22
O edema é mais reconhecido na visão macroscópica;
Sob o ponto de vista microscópico, o edema reflecte, basicamente, no clareamento e na
separação dos elementos da matriz extracelular com um discreto edema celular;
Apesar de qualquer órgão ou tecido ser afectado, é mais frequente no tecido
subcutâneo, pulmões e cérebro;
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Robbins, Patologia Básica 2008/2009
- Edema subcutâneo
Na insuficiência cardíaca ou renal é importante sobretudo porque indica uma doença de
base;
Quando é significativo, pode dificultar a cicatrização de feridas ou o combate a infecções;
- Edema pulmonar
Pode causar morte por interferir na função normal de ventilação;
O líquido pode acumular-se nos septos alveolares em torno do capilares, impedindo a
difusão do oxigénio;
A presença de líquido nos alvéolos cria um ambiente favorável para infecções bacterianas;
-Edema cerebral
Pode ser rapidamente fatal;
Ser for grave, pode causar herniação (extrusão do cérebro) através do forame magno;
O suprimento sanguíneo do tronco cerebral pode ser comprimido pelo edema, causando
um aumento na pressão intracraniana.
Congestão
- Processo passivo resultante de um retorno
venoso ineficiente;
- Pode ser sistémico ou local; Fig. 23
Hemorragia
Hemorragia – extravasamento de sangue dos vasos para o espaço extravascular;
A hemorragia pode ser externa ou restrita a uma tecido; qualquer acumulação de sangue é
chamado de hematoma;
Hemorragias diminutas na pele, mucosas ou serosas, designadas por petéquias, estão
tipicamente associadas a aumentos localizados de pressão intravascular, reduzido número de
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Hemostasia e trombose
Hemostasia normal – é uma consequência de processos rigorosamente controlados que
mantêm o sangue num estado fluido e livre de coágulos nos vasos normais e também induz a
rápida formaçao de um tampão hemostático localizado no local de lesão vascular;
Trombose – é a forma patológica de hemostasia, que envolve a formação de coágulos
sanguíneos (trombos) em vasos que não foram danificados ou a oclusão de um vaso por um
trombo após uma lesão relativamente leve;
Tanto a hemostasia quanto a trombose envolvem três componentes: a parede vascular,
plaquetas e a cascata da coagulação.
2. Efeitos anticoagulantes
a) As moléculas semelhantes à heparina
agem de forma indirecta;
- Actuam como co-factores que permitem
que a antitrombina III desative a
trombina (factor Xa);
b) A trombomodulina também actua de
forma indirecta; Fig. 25
- Liga-se à trombina, convertendo-a num factor anticoagulante capaz de activar a
proteína C (anticoagulante);
- A proteína C activada inibe a coagulação por meio da clivagem proteolítica dos factores
Va e VIIIa (requer a presença da proteína S); ambas dependentes da vitamina K.
3. Propriedades fibrinolíticas
a) Células endoteliais sintetizam o activados do t-PA, promovendo a actividade
fibrinolítica que elimina os depósitos de fibrina da superfície endotelial.
Propriedades pró-trombóticas
- As células endoteliais podem ser estimuladas pela lesão directa ou através de diversas citocinas
que são produzidas durante a inflamação;
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- Tal estimulação resulta na expressão de proteínas coagulantes (ex.: factor recidual e FvW)
que contribuem para a formação localizada do trombo;
- A perda da integridade endotelial expõe o factor de von Willebrand (FvW), sintetizado
pelo endotélio normal, e o colagénio da membrana basal, substratos para a agregação
plaquetária e formação de trombos;
- O factor tecidual activa a via extrínseca da coagulação;
- As células endoteliais também secretam inibidores do activador do plasminogénio
(PAIs), inibindo a fibrinólise.
Plaquetas
Na sua forma inactiva têm a forma de um disco, expressam diversos receptores de glicoproteína
da família das integrinas e contêm dois tipos de grânulos:
- Grânulos α: expressam a molécula de adesão P-selectina na sua membrana e contêm
fibrinogénio, fibronectina, factores V e VIII, factor plaquetário 4, PDGF e TGF-α;
- Grânulos ou corpos densos: contêm ADP e ATP, cálcio ionizado, histamina, serotonina e
epinefrina;
Após a lesão vascular, as plaquetas entram em contacto com os constituintes da MEC e
proteínas adicionais (FvW), sofrendo três reacções: adesão e alteração do seu formato;
secreção (reacção de libertação); e agregação.
1. Adesão plaquetária
- Apesar das plaquetas poderem aderir directamente à MEC, a associação FvW-GpIb é
necessária para superar as forças de separação do fluxo do sangue;
- O defeito no processamento do FvW causa a púrpura trombocitopénica trombótica
(microangiopatia trombótica).
3. Agregação plaquetária
- As plaquetas activadas expõem complexos de fosfolípidos que fornecem uma superfície
importante para a activação das proteínas da coagulação;
- O ADP libertado estimula a formação de um tampão hemostático primário (reversível)
por meio da activação dos receptores GpIIb-IIIa que, por sua vez, facilitam a ligação e
reacção cruzada do fibrinogénio;
- A formação do tampão hemostático secundário definitivo (irreversível) também requer
a activação da trombina para clivar o fibrinogénio e formar fibrina polimerizada através da
cascata da coagulação.
Cascata da coagulação
A cascata da coagulação é, essencialmente, uma série amplificadora de conversões
enzimáticas;
Cada etapa no processo cliva proteoliticamente uma pró-enzima inactiva para formar uma
enzima activa, culminando na formação de trombina, a enzima mais importante na regulação
do processo de coagulação;
- A trombina converte o fibrinogénio, uma proteína plasmática solúvel, em monómetro de
fibrina que se polimerizam para formar um gel insolúvel que envolve as plaquetas e outras
células circulantes no tampão hemostático secundário definitivo;
Os polímeros de fibrina são estabilizados pela actividade de ligação cruzada de transglutaminase
do factor XIIIa;
A coagulação é normalmente restrita aos locais de lesão por:
- Limitar a activação enzimática a complexos de fosfolípidos fornecidos pelas plaquetas activadas;
- Anticoagulantes naturais elaborados no local da lesão endotelial ou durante a activação da
cascata da coagulação;
- Induzir as vias fibrinolíticas envolvendo a plasmina através da actividade de diversos PAs;
A fibrinólise deve-se principalmente à actividade enzimática da plasmina que degrada a
fibrina e interfere na sua polimerização;
Para evitar que o excesso da plasmina lise trombos de modo indiscriminado em
qualquer parte do corpo, a plasmina livre forma com rapidez complexos com a
α2-antiplasmina circulante, sendo desactivada.
Trombose
Três influências primárias estão envolvidas na formação do trombo (chamadas de tríade de
Virchow): lesão endotelial; estase ou turbulência do fluxo sanguíneo; e
hipercoagulabilidade do sangue.
Lesão endotelial
É importante sobretudo na formação do trombo no coração ou na circulação arterial,
onde as taxas de fluxo normalmente altas podem dificultar a coagulação prevenindo a adesão
plaquetária ou diluindo os factores de coagulação;
É importante salientar que não é preciso que ocorra desnudamento ou lesão física do endotélio
para que contribua com o desenvolvimento de trombose;
- Qualquer distúrbio no equilíbrio dinâmico entre as actividades pró-trombóticas e
antitrombóticas do endotélio pode influenciar eventos locais de coagulação (ex.: toxinas e
hipertensão).
Hipercoagulabilidade
É qualquer alteração nas vias de coagulação que predispõe à trombose e pode ser dividida em:
- Estados primários (hereditários)
Mais comuns: mutações no gene do factor V de Leiden e da pró-trombina;
- Muito frequente em pacientes com trombose venosa profunda recorrente;
Menos comuns: deficiência de antitrombina III, de proteína C e S;
- Típico em pacientes com trombose venosa e tromboembolismo recorrente na
adolescência ou no início da idade adulta;
- Estas mutações são importantes porque:
Morfologia
Os trombos arteriais ou cardíacos têm início nos locais de lesão endotelial ou turbulência,
enquanto que, os trombos venosos são característicos em locais de estase;
Ambos tendem a se propagar na direcção do coração;
- A porção em propagação de um trombo tende a apresentar uma ligação fraca com o restante
do trombo e, portanto, com uma tendência e se fragmentar, gerando um êmbolo;
Os trombos apresentam laminações aparentes, denominadas linhas de Zahn que representam
camadas pálidas de plaquetas e fibrina que se alternam com camadas mais escuras ricas em
eritrócitos;
Trombos murais
- Formam-se nas câmaras cardíacas ou na luz da aorta;
- Ex.: Contracção anormal do miocárdio, lesão endomiocárdica;
- Placas aterosclecróticas ulceradas e aneurismas promovem a trombose aórtica;
Trombos arteriais
- São oclusivos, sendo produzidos por plaquetas e activação da coagulação;
- Rede friável de plaquetas, fibrina, eritrócitos e leucócitos em degeneração;
- Podem embolizar e até mesmo causar enfarto tecidual a jusante, sendo o seu papel na
obstrução vascular em locais críticos muito mais significativo do ponto de vista clínico;
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Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Trombos post-mortem
- São gelatinosos, com uma porção dependente vermelha, onde os eritrócitos depositaram-se
pela acção da força da gravidade, um sobrenadante amarelo, semelhante à “gordura de galinha” e,
em geral, não estão ligados à parede do vaso;
Destino do trombo
Se o paciente sobrevive à trombose inicial, nos dias ou semanas que se seguem os trombos
sofrem uma combinação dos quatro eventos a seguir:
- Propagação: trombos acumulam mais plaquetas e fibrina, até causar obstrução do vaso;
- Embolização: trombos soltam-se ou fragmentam-se, sendo transportados para qualquer vaso
sanguíneo;
- Dissolução: trombos são removidos pela actividade fibrinolítica;
Nos trombos mais velhos, a extensa polimerização da fibrina torna-os muito mais
resistentes à proteólise e a lise é ineficaz;
- Organização e recanalização: trombos induzem inflamção e fibrose (organização) e, por
fim, são recanalizados ou podem ser incorporados como uma parede espessa do vaso.
Embolia
Um êmbolo é formado por uma massa sólida, líquida ou gasosa carregada pelo sangue até um
local distante da sua origem;
A grande maioria dos êmbolos desprendeu-se de trombos;
Os êmbolos situam-se em vasos muito pequenos para permitir a sua passagem, resultando em
oclusão vascular parcial ou total.
Tromboembolia pulmonar
Os êmbolos pulmonares originam-se, basicamente, da trombose venosa profunda dos
membros inferiores;
O seu efeito depende do seu tamanho;
O paciente que desenvolve uma embolia pulmonar apresenta maior risco de apresentar outros
episódios;
A maior parte dos êmbolos pulmonares é silenciosa sob o aspecto clínico, pois são pequenos;
- Organizam-se e incorporam a parede vascular e, em alguns caos, a organização de um êmbolo
resulta numa rede fibrosa e delicada;
Pode ocorrer morte súbita, insuficiência do ventrículo direito (cor pulmonale) ou
colapso cardiovascular quando 60% ou mais da circulação pulmonar está obstruída;
A obstrução embólica das artérias de calibre médio pode causar hemorragia
pulmonar, em geral não causando enfarto em virtude da dupla circulação pulmonar, e a
circulação arterial brônquica intacta continua a fornecer sangue para a área;
- Um êmbolo semelhante na vigência de insuficiência cardíaca esquerda (resultando num fluxo
sanguíneo lento na artéria pulmonar) pode causar um enfarto de grandes dimensões;
Em geral, a obstrução de ramos arteriolares terminais da artéria pulmonar por êmbolos
geralmente leva ao enfarto pulmonar;
A ocorrência de diversos êmbolos durante um determinado período pode causar hipertensão
pulmonar com insuficiência do ventrículo direito.
Tromboembolia sistémica
Êmbolos sistémicos originam-se, sobretudo, de trombos murais cardíacos ou valvulares,
aneurismas aórticos ou placas ateroscleróticas;
O desenvolvimento do enfarte depende do local da embolia e da presença de circulação
colateral;
Vitor Martins FMUL/UMa 73
Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Uma fracção muito pequena dos êmbolos sistémicos poarece ter origem nas veias, mas acaba
ganhando acesso à circulação arterial através de defeitos interventriculares – êmbolos
paradoxais.
Embolia gordurosa
A gordura entra na circulação devido à ruptura dos sinusóides da medula óssea ou das
vénulas do tecido traumatizado;
A síndrome de embolia gordurosa é caracterizada por insuficiência pulmonar, sintomas
neurológicos, anemia e trombocitopenia;
Os sintomas são: taquipneia súbita, dispneia, taquicardia, irritabilidade e agitação (progride para o
coma).
Embolia gasosa
Uma forma especial de embolia gasosa ocorre quando um indivíduo é exposto a mudanças
bruscas na pressão atmosférica – doença de descompressão;
Nos pulmões, as bolhas de ar (azoto) na corrente sanguínea causam edema, hemorragia e
atelectasia focal ou enfisema, ocasionando insuficiência respiratória (sufocações);
Uma forma mais crónica da doença de descompressão é denominada de doneça do caixão, em
que a persistência de êmbolos gasosos nos ossos causa múltiplos focos de necrose isquémica.
Enfarto
Os enfartos são áreas de necrose isquémica, em geral de coagulação, causadas por
oclusão arterial ou, mais raramente, venosa;
Os enfartos são causados, com mais frequência, pela formação de trombos arteriais oclusivos ou
embolização de trombos arteriais ou venosos;
Os enfartos causados por oclusão venosa ou em tecidos fracos com suprimento sanguíneo
duplo (ex.: pulmões e intestino delgado) são tipicamente hemorrágicos (vermelhos), enquanto
que, os causados pela oclusão arterial em tecidos compactos (ex.: órgãos sólidos como o
coração, baço e rins) são pálidos (brancos);
Podem ser sépticos, quando vegetações bacterianas de uma válvula cardíaca embolizam ou
quando microrganismos colonizam uma área de tecido necrótico ou estéreis;
- Nestes casos sépticos, o enfarto é convertido em abscesso, com um processo inflamatório
maior.
Choque
O choque causa hipoperfusão sistémica em virtude da redução do débito cardíaco ou do
volume de sangue circulante;
As causas mais comuns de choque são:
- Choque cardiogénico – falência da acção de bomba do coração devido, por exemplo, ao
enfarto do miocárdio;
- Choque hipovolémico – por causa de perda sanguínea;
- Choque séptico – decorrente de infecções;
Mais raramente:
- Choque neurogénico – perda de tónus vascular e acumulação de sangue na periferia;
- Choque anafilático – vasodilatação sistémica e aumento da permeabilidade vascular causadas
por uma reacção de hipersensibilidade (IgE);
O choque séptico é consequência da resposta imunológica natural do hospedeiro a maoléculas
bacterianas ou fúngicas (com mais frequência a endotoxina), com a produção sistémica de
citocinas, como o TNF e a IL-1, que actuam na activação endotelial e inflamatória;
- Hipotensão, CID e distúrbios metabólicos constituem a tríade clínica do choque séptico;
O choque de qualquer etiologia induz lesão pela hipoxemia prolongada;
O choque tende a evoluir em três estágios gerais:
- Estágio inicial, não-progressivo, durante o qual mecanismos reflexos compensatórios são
activados e a perfusão dos órgãos vitais é mantida;
O efeito final consiste em taquicardia, vasoconstricção periférica e retenção renal de
líquidos;
- Estágio irreversível, que tem início depois que o corpo sofreu lesões celulares e teciduais
tão graves que, mesmo que os defeitos hemodinâmicos sejam corrigidos, a sobrevivência não é
possível.
Os rins exibem, tipicamente, necrose tubular aguda, de forma que oligúria, anúria e distúrbios
electrolíticos dominam o quadro clínico;
O TGI pode apresentar hemorragia e necrose focal da mucosa;
Os pulmões são raramente afectados no choque puramente hipovolémico, pois têm uma certa
resistência à lesão hipóxica;
- Quando o choque é causado por septicemia bacteriana ou trauma, podem ocorrer alterações
relativas ao dano alveolar difuso, conhecido como pulmão de choque;
Capítulo V
Doenças do sistema imunológico
Alergias – são doenças causadas por respostas imunológicas incomuns a uma variedade de
antigénios não-infecciosos e inócuos aos quais somos expostos, mas apenas alguns apresentam
reacção;
O problema nestas doenças é que a resposta é desencadeada e mantida impropriamente,
tendendo a se tornarem crónicas, denominadas doenças inflamatórias mediadas pelo
sistema imunológico.
Reacções tardias
- Fase tardia que se inicia após 2 a 8 horas, podendo durar por vários dias, sendo caracterizada
por inflamação e destruição tecidual, com a lesão das células epiteliais das mucosas;
- Os leucócitos inflamatórios são responsáveis pela maior parte da lesão espitelial na
hipersensibilidade imediata.
Inflamação
- Anticorpos e complexos imunes podem depositar-se nos tecidos ou vasos sanguíneos,
desencadeando uma reacção inflamatória aguda pela activação do complemento e libertação
dos produtos da sua clivagem ou ligando-se aos receptores Fc dos leucócitos;
- A reacção inflamatória causa lesão tecidual;
- Morfologia
A aparência morfológica da lesão causada pelos complexos imunes é dominada pela
vasculite necrosante, microtrombos e necrose isquémica superposta, acompanhados
de inflamação dos órgaõs afectados;
A parede necrótica do vaso sanguíneo desenvolve uma aparência eosinofílica borrada
chamada de necrose fibrinóide, causada pelo depósito de proteínas.
Fig. 28
Rejeição de transplantes
A principal barreira para o transplante de órgãos de um indivíduo para o outro da mesma
espécie (aloenxerto) é a rejeição imunológica do tecido transplantado.
4. Rejeição crónica
- Dominada pela aterosclerose, é provável que esse tipo de rejeição seja causada pela
reacção das células T e secreção de citocinas, que induzem proliferação das células do
músculo liso vascular, associada a fibrose do parênquima.
contra ele, resultando na activação das células T CD4+ e CD8+, gerando respostas HR e
CTL;
GVHD aguda: causa necrose de células epiteliais em três órgãos principais: fígado, pele
e intestino;
- Imunodeficiências
Ocorrem em pacientes que receberam transplantes de medula óssea;
Inclui a reconstituição lenta do SI do hospedeiro, que em geral é destruído ou
suprimido, para permitir que o enxerto peque, e uma incapacidade de regenerar por
completo todas as células necessárias do SI, levando a uma maior susceptibilidade de
infecções.
Doenças auto-imunes
Tolerância imunológica
É a ausência de resposta a um antigénio induzida pela exposição de linfócitos específicos àquele
antigénio;
Autotolerância – refere-se a uma ausência de resposta aos antigénios próprios;
É uma propriedade fundamental do sistema imunológico e a sua ruptura é a base das doenças
auto-imunes;
Tolerância central
- Linfócitos imaturos que reconhecem auto-antigénios nos órgãos linfóides centrais (geradores)
sofrem apoptose;
- Na linhagem de células B, alguns dos linfócitos auto-reactivos trocam os seus receptores por
outros que não são auto-reactivos;
Tolerância periférica
- Células T auto-reactivas que escapam da selecção negativa no timo podem ser eliminadas ou
eficazmente controladas:
Anergia
- Refere-se à desactivação funcional dos linfócitos induzida pelo encontro com
antigénios em determinadas condições;
Mecanismos da auto-imunidade
As variáveis que levam à ruptura da autotolerância e ao desenvolvimento de doenças auto-
imunes incluem: herdar genes de susceptibilidade que podem interferir em diferentes vias
de tolerância e infecções e alterações teciduais que podem expor auto-antigénios ou activar
APCs e linfócitos nos tecidos.
Doenças auto-imunes
O LES é uma doença sistémica auto-imune, causada pela
produção de anticorpos contra diversos auto-antigénios e pela
formação de complexos imunes;
Os principais anticorpos, responsáveis pela formação de complexos
imunes circulantes, são direccionados contra antigénios nucleares;
Outros anticorpos reagem com eritrócitos, plaquetas e vários
complexos de fosfolípidos com proteínas;
Lúpus eritematoso
sistémico As manifestações da doença incluem nefrite, lesões cutâneas e
artrite, (causadas pelo depósito de complexos imunes) e
anormalidades hematológicas e neurológicas;
A principal causa de ruptura da autotolerância no LES é desconhecida.
Pode incluir um excesso ou persistência de antigénios nucleares,
diversos genes de susceptibilidade herdados e desencadeadores
ambientais (ex.: radiação UV, que resulta em apoptose celular e
libertação de proteínas nucleares).
A AR é uma doença inflamatória crónica que afecta sobretudo
as articulações, especialmente as pequenas articulações, mas pode
afectar diversos tecidos;
A doença é causada pela resposta auto-imune contra auto-antigénio(s)
desconhecido(s), causando reacções das células T na articulação,
Artrite reumatóide levando à produção de citocinas que activam as células fagocitárias
que danificam tecidos e estimulam a proliferação de células sinoviais
(sinovite);
O TNF desempenha um papel fundamental nesta doença e o uso de
antagonistas do TNF é altamente benéfico;
Os anticorpos também podem contribuir para a doença.
É uma doença inflamatória que afecta basicamente as glândulas
salivares e lacrimais, causando secura da boca e dos olhos;
Síndrome de Sjögren Acredita-se que a doença seja causada por uma reacção auto-imune
das células T contra um, ou mais, auto-antigénio(s) desconhecido(s)
expresso nestas glândulas, ou reacções imunológicas contra os
antigénios de um vírus que infecciona os tecidos.
Muitas vezes chamada de esclerodermia, é caracterizada pela
fibrose progressiva da pele, do TGI e de outros tecidos;
A fibrose pode resultar da activação dos fibroblastos pelas citocinas
produzidas pelas células T, mas o factor que desencadeia respostas
Esclerose sistémica
das células T ainda é desconhecido;
É comum a presença de lesão endotelial e doença vascular nas
lesões da esclerose sistémica, talvez causando isquémia crónica, mas a
patogenia da lesão vascular é desconhecida.
Capítulo VI
Neoplasia
Nomenclatura
Neoplasma – massa anormal de tecido, cujo crescimento é descontrolado e ultrapassa o do
tecido normal, persistindo da mesma maneira excessiva após o término dos estímulos que
provocaram a alteração;
Alterações hereditárias (genéticas) que permitam a proliferação excessiva e
desregulada independente de estímulos fisiológicos reguladores do crescimento são
fundamentais para a origem de todos os neoplasmas;
Os neoplasmas possuem um certo grau de autonomia e um aumento de tamanho mais ou
menos constante e indiferente ao seu ambiente local e ao estado nutricional do hospedeiro;
- No entanto, esta automonia não é completa, pois alguns neoplasmas necessitam de
suporte endócrino;
- Todos os neoplasmas dependem do hospedeiro para a sua nutrição e suprimento
sanguíneo;
Na terminologia médica comum, um neoplasma é muitas vezes reportado como um tumor,
sendo o estudo dos tumores chamado de oncologia.
Tumores benignos
Um tumor é classificado como benigno quando as suas características microscópicas e
macroscópicas são consideradas relativamente inofensivas, sugerindo que permanecerá
localizado, não poderá disseminar-se para outros locais e será acessível à remoção cirúrgica
(paciente geralmente sobrevive);
No entanto, podem produzir mais que uma massa localizada, e algumas vezes são responsáveis
por doenças sérias;
Em geral, são designados pela ligação do sufixo –oma ao nome do tipo celular do qual o
tumor se origina.
Tumores malignos
São colectivamente reportados como cancros, derivado da palavra caranguejo, pois aderem de
maneira obstinada a qualquer parte que conseguem agarrar, semelhante ao comportamento do
caranguejo;
A lesão pode invadir e destruir estruturas adjacentes e disseminar-se para locais distantes
(metástase) e causar a morte;
A nomenclatura dos tumores malignos segue essencialmente a mesma dos tumores benignos,
com algumas adições e excepções.
Diferenciação e anaplasia
Referem-se somente às células parenquimatosas, que constituem os elementos transformados do
neoplasmas;
Os tumores benignos assemelham-se ao tecido de origem e são bem diferenciados;
- Existem evidência de diferenciação morfológica e funcional;
- Nos tumores benignos bem diferenciados, as mitoses são extremamente limitadas em
número e são de configuração normal;
Os tumores malignos são pouco diferenciados ou completamente indiferenciados
(anaplásicos, significa “formação inversa”);
- A anaplasia implica uma desdiferenciação ou perda da diferenciação funcional e
estrutural das células normais;
- As células anaplásicas apresentam:
Pleomorfismo marcante (variação de tamanho e forma);
Núcleo hipercromático (coloração muito escura) e aumentado;
- A sua proporção para o citoplasma pode aproximar-se de 1:1;
- Cromatina grosseira e aglomerada;
- Nucléolo pode estar espantosamente grande;
Células gigantes;
Mitoses frequentemente numerosas e atípicas;
As células anaplásicas não desenvolvem padrões reconhecíveis de orientação de uma para
a outra (ex.: perdem a polaridade normal);
- A anaplasia é o distúrbio mais extremo do crescimento celular encontrado no espectro das
proliferações celulares;
Displasia – termo utilizado para descrever uma proliferação desordenada, mas não-neoplásica;
- É encontrade, principalmente, no epitélio;
- Consiste na perda de uniformidade das células individuais e da sua orientação arquitectónica;
- Exibem pleomorfismo considerável e frequentemente possuem núcleos hipercromáticos
(anormalmente grandes para o tamanho da célula);
Taxas de crescimento
Os tumores benignos crescem lentamente, enquanto que, os tumores malignos
geralmente crescem mais rápido;
No entanto, existem muitas excepções para esta generalização e alguns tumores benignos
crescem mais rapidamente do que alguns cancros (ex.: velocidade do crescimento de leiomiomas
do útero é influenciada pelos níveis de estrogénio circulantes);
Em geral, a taxa de crescimento dos tumores malignos correlaciona-se com o seu nível de
diferenciação, ou seja, tumores que crescem rapidamente tendem a ser pouco
diferenciados (menor capacidade funcional especializada);
Tumores malignos que crescem rapidamente muitas vezes contêm áreas centrais
de necrose isquémica porque o suprimento sanguíneo do tumor, derivado do hospedeiro, é
incapaz de sustentá-lo com o oxigénio necesário para a expansão da massa de células.
Invasão local
Os tumores benignos são bem circunscritos e podem possuir um cápsula;
- A cápsula deriva, provavelmente, do estroma do tecido do hospedeiro à medida que as células
parenquimatosas atrofiam sob a pressão do tumor em expansão;
- Nem todas as neoplasias benignas são encapsuladas (ex.: leiomioma do útero);
Os tumores malignos são pouco circunscritos e invadem o tecido normal
circundante;
- Crescem por infiltração progressiva, invasão, destruição e penetração dos tecidos circundantes;
- Os patologistas cirúrgicos examinam cuidadosamente as margens do tumor retirado para
garantir que elas estejam isentas de células cancerosas (margens limpas);
- Depois do desenvolvimento de metástases, a invasão local constitui a característica mais
confiável que diferencia os tumores malignos dos tumores benignos.
Metástase
Metástase – desenvolvimento de implantes secundários (metástase) separados do tumor
primário, em tecidos distantes;
Os tumores benignos permanecem localizados no seu sítio de origem, enquanto que,
os tumores malignos são invasivos localmente e metastatizam-se para locais
distantes;
Carcinomas basocelulares da pele e a maioria dos tumores primários do sistema nervoso central
são altamente invasivos no seu local prímario de origem, mas raramento metastatizam;
Os sarcomas osteogénicos (ósseos), normalmente, mestatatizam para os pulmões ao mesmo
tempo da descoberta da manifestação inicial;
Em geral, quanto maior e mais anaplásica for a neoplasia primária, mais provável é a
disseminação metastática, mas podem existem algumas excepções;
- Esta disseminação prejudica enormemente a possibilidade de cura da doença;
As neoplasias malignas disseminam-se por uma das três vias seguintes:
- Disseminação por implantação
Neoplasias invadem as cavidades corporais naturais (ex.: cancro do ovário);
- Disseminação linfática
É mais característica dos carcinomas;
- Algumas excepções de carcinomas que se disseminam por via hematogénica: carcinoma
de células renais e carcinomas hepatocelulares;
Metástase saltatória – as células cancerosas parecem atravessar os canais linfáticos
dentro dos nódulos linfáticos imediatamente próximos para serem aprisionadas nos
nódulos linfáticos subsequentes;
“Nódulo linfático sentinela” – primeiro nódulo linfático numa bacia linfática regional
que recebe o fluxo linfático a partir do tumor primário;
Embora o aumento dos nódulos linfáticos próximos da neoplasia primária possa
despertar fortes suspeitas de disseminação metastática, não significa sempre
envolvimento canceroso;
- Os produtos necróticos da neoplasia e os antigénios tumorais muitas vezes provocam
alterações reactivas nos nódulos linfáticos, tais como, aumento e hiperplasia dos folículos
(linfadenite) e proliferação de macrófagos no seio subcapsular (histiocitose sinusal);
- Disseminação hematogénica
É a consequência mais temida de cancro;
Ela a principal via de disseminação dos sarcomas;
O fígado e os pulmões são os locais secundários mais frequentemente envolvidos na
disseminação hematogénica (invasão venosa).
Epidemiologia
A incidência do cancro varia de acordo com a idade, etnia, factores geográficos e condições
genéticas;
- Os cancros são mais comuns nos dois extremos de idade;
- As variações geográficas resultam, na maioria das vezes, de exposições ambientais diferentes;
A maioria dos cancros é esporádica, mas alguns são familiares;
- A predisposição para cancros hereditários pode ser autossómica recessiva, geralmente
associada a defeitos no reparo do DNA (ex.: xeroderma pigmentoso);
- Também pode ser autossómica dominante, comumente ligada à hereditariedade de uma
mutação na linhagem germinativa dos genes supressores de tumor (ex.: retinoblastoma da
infância, polipose adenomatosa familiar);
Os cancros familiares tendem a ser bilaterais e a aparecer mais precocemente do que a sua
contraparte esporádica.
Fig. 29
- A perda somática de ambos os alelos do gene APC é vista, aproximadamente, em 70% dos
cancros do cólon esporádico.
Evasão da apoptose
A apoptose pode ser iniciada pelas vias intrínseca ou extrínseca;
Ambas as vias resultam na activação de uma cascata proteolítica de caspases que destrói a célula;
A permeabilidade da membrana externa mitocondrial é regulada pelo equilíbrio entre as
moléculas pró-apoptóticas (ex.: BAX, BAK) e as anti-apoptóticas (BCl-2, BCl-XL);
As células BH3-only (ex.: BAD, BID e PUMA) activam a apoptose por provocar um
desequilíbrio em favor das moléculas pró-apoptóticas;
Em 85% dos linfomas de células B foliculares, o gene anti-apoptótico BCl-2 está
activado por uma translocação t(8;14).
2. Degradação da MEC;
- A degradação das membranas basais e da matriz
intersticial é mediada por enzimas proteolíticas
secretadas pelas células tumorais e células estromais,
como as MMPs e as catepsinas;
O BCRA1 e o BCRA2, que estão mutados nos cancros de mama familiares, estão
envolvidos no reparo do DNA;
- Apesar do BCRA1 e do BCRA2 estarem inactivos nos cancros de mama familiares, esses genes
raramente estão inactivos em casos esporádicos de cancro de mama, sendo diferentes de outros
genes supressores de tumores, que são inactivados tanto nos cancros familiares como nos
esporádicos.
Os genes supressores de tumor e os genes de reparo do DNA também podem ser silenciados
por alterações epigenéticas, as quais envolvem alterações hereditárias reversíveis na
expressão do gene que ocorrem, não por mutação, mas por metilação do promotor.
Helicobacter pylori
A infecção pelo H. pylori está envolvida no surgimento do adenocarcinoma gástrico e do
linfoma MALT;
O mecanismo de indução do cancro gástrico pelo H. pylori é multifactorial e inclui a inflamação
crónica mediada imunologicamente, a estimulação da proliferação das células gástricas e a
produção de espécies reactivas de oxigénio que danificam o DNA;
Os genes de patogenicidade do H. pylori, como o CagA, podem contribuir também por
estimular as vias do factor de crescimento;
Acredita-se que a infecção pelo H. pylori leve a proliferações policlonais de células B e que
consequentemente um tumor de células B monoclonal (linfoma MALT) surja como
resultado da acumulação de mutações.
- Antigénios oncofetais
O antigénio carcinoembrionário (CEA) e a α-fetoproteína, são expressos durante a
embriogénese, mas não nos tecidos adultos normais;
A reactivação dos genes que codificam estes antigénios causa a sua reexpressão nos
cancros de cólon e hepático.
Macrófagos
- Os macrófagos activados podem eliminar os tumores por meio de mecanismos semelhantes
àqueles utilizados para eliminar os microrganismos.
Mecanismos humorais
- Não existe evidência dos efeitos protectores dos anticorpos antumorais contra tumores
espontâneos;
- A administração de anticorpos monoclonais contra células tumorais pode ser terapeuticamente
efectiva.
Vigilância imune
Os pacientes imunossuprimidos apresentam um risco aumentado de cancro;
Nos pacientes imunocomprometidos, os tumores podem evitar o sistema imune por meio
de vários mecanismos, inclusivé por formas variantes de antigénios negativos do crescimento
selectivas, perda ou expressão reduzida dos antigénios de histocompatibilidade e
imunossupressão mediada pela secreção de factores (ex.: TGF-β) a partir do tumor.
O perfil molecular dos tumores por arranjos de cDNA pode determinar a expressão de
segmentos grandes do genoma de uma só vez e pode ser útil na estratificação molecular de
diferentes tumores sob todos os outros aspectos idênticos, com o propósito de tratamento e
prognóstico.
Capítulo VIII
Doenças ambientais
Poluição ambiental
Poluição atmosférica
Poluição atmosférica ao ar livre
- Ozono
É um dos poluentes do ar mais comuns, que em combinação com óxidos e material
particulado forma o smog;
A sua toxicidade relaciona-se com a produção de radicais livres que lesam as células
epiteliais ao longo do TR e as células alveolares tipo I;
Mercúrio
- A principal fonte de exposição ao mercúrio é o peixe contaminado;
- O cérebro em desenvolvimento é altamente sensível ao metilmercúrio, que se acumula no
cérebro e bloqueia canais iónicos;
- A doença de Minamata resultante da exposição a altas concentrações de mercúrio pode
incluir paralisia cerebral, surdez e cegueira.
Arsénio
- É encontrado naturalmente no solo e na água e é um componente de alguns conservantes de
madeira e herbicidas;
- Excesso de arsénio interfere com a fosforilação oxidativa mitocondrial e causa efeitos
tóxicos no TGI, SNC e sistema cardiovascular;
- A exposição a longo prazo causa lesões da pele e carcinomas.
Cádmio
- Pode contaminar o solo a partir de baterias de níquel-cádmio e fertilizantes químicos;
- A principal fonte de contaminação é o alimento e, em excesso, causa doença pulmonar
obstrutiva e lesão renal;
- Doença “itai-itai” nas mulheres pós-menopáusicas (osteoporose, osteomalacia e doença renal).
Vitor Martins FMUL/UMa 114
Robbins, Patologia Básica 2008/2009
Efeitos do tabaco
O tabagismo é a mais evitável causa de morte humana;
O fumo do tabaco contém mais de 2 000 composto;
- Entre estes estão a nicotina, que é responsável pelo vício do fumo, e carcinogénios
potentes, principalmente hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, nitrosaminas e aminas
aromáticas;
Fumar cigarros é responsável por 90% dos cancros do pulmão;
Também causa cancros da cavidade oral, laringe e faringe, e cancros do esófago e estômago;
Associa-se com o desenvolvimento de carcinomas da bexiga e do rim e algumas leucemias;
Parar de fumar reduz o risco de cancro de pulmão;
Tabaco “sem fumo” é uma causa importante de cancro oral;
O consumo de tabaco interage com o álcool para multiplicar o risco de cancro da laringe e
aumenta o risco de cancro pulmonar por exposições ocupacionais ao asbesto, urânio e outros
agentes;
Efeitos do álcool
Abuso agudo do álcool causa sonolência a níveis sanguíneos de aproximadamente 200 mg/L;
- O coma desenvolve-se com níveis mais altos;
O álcool é oxidado a acetaldeído no fígado pela álcool desidrogenase, pelo sistema do
citocromo P-450 e pela catalase (de pequena importância);
- O acetaldeído é convertido em acetato nas mitocôndrias e utilizado na cadeira respiratória;
- Oxigenação do álcool pela álcool desidrogenase esgota NAD+, levando à acumulação de
gordura no fígado e acidose metabólica;
Os principais efeitos do consumo crónico de álcoo são: fígado gorduroso (deficiência de
NAD+), hepatite alcoólica e cirrose, a qual causa hipertensão porta e aumenta o risco de
desenvolvimento de carcinoma hepatocelular;
O consumo crónico de álcool pode causar sangramento de gastrite e úlceras gástricas,
neuropatia periférica associada com deficiência de tiamina e, cardiomiopatia alcoólica, e aumenta
o risco de pancreatite aguda e crónica;
O consumo crónico de álcool é um importante factor de risco de cancros da cavidade oral,
faringe, laringe e esófago;
- O risco é grandemente aumentado pelo fumo ou uso de tabaco sem fumo concomitantes.
Paracetamol
- O paracetamol é metabolizado em compostos inactivos por combinação com ácido glicurónico
e sulfato, sendo uma pequena parte metabolizada pelo sistema de enzimas citocromo P450
2E1. Os citocromos oxidam o paracetamol para produzir uma substância intermediária muito
reactiva, N-acetil-p-benzoquinoeimina (NAPQI). Em condições normais a NAPQI é neutralizada
pela acção do glutatião;
- Em situações de toxicidade por paracetamol, as vias metabólicas do sulfato e do ácido
glicurónico ficam saturadas e, portanto, maior quantidade de paracetamol é desviada para o
sistema do citocromo P450 2E1, onde se produz NAPQI. Consequentemente a quantidade de
glutatião é esgotada pela NAPQI, que pode reagir livremente com as membranas celulares,
causando muitos danos e morte de muitos hepatócitos, resultando em seguida a necrose
hepática aguda. Em estudos efectuados em animais, determinou-se que é necessário consumir-
se 70% do glutatião hepático antes de ocorrer a hepatotoxicidade;
Aspirina
- As principais consequências adversas são metabólicas;
De início, desenvolve-se alcalose respiratória, seguida por uma acidose metabólica
que frequentemente se comprova fatal antes que possam aparecer alterações anatómicas;
Toxicidade crónica por aspirina (salicilismo) pode desenvolver-se em pessoas que
tomam 3g ou mais diariamente;
- Manifesta-se por cefaleias, tonturas, zumbido, dificuldade auditiva, confusão mental,
sonolência, náuseas, vómitos e diarreia;
Alterações no SNC podem progredir para convulsões e coma;
Uma tendência hemorrágica pode aparecer concomitantemente com a toxicidade crónica
porque a aspirina acetila a COX das plaquetas e bloqueia a capacidade de fabricar
tromboxano A2, um activador da agregação das plaquetas.
Lesão térmica
Queimaduras térmicas
A importância clínica das queimaduras depende das seguintes variáveis importantes:
- Profundidade da queimadura;
- Percentagem da superfície corporal comprometida;
- Possível presença de lesões internas por inalação de fumo e vapores quentes e tóxicos;
- Prestação e eficácia da terapia, especialmente reposição hídrica e electrolítica e prevenção
ou controlo de infecções das feridas;
Uma queimadura de espessura total consiste na destruição total da epiderme e derme, com
perda dos apêndices dérmicos que teriam provido células para regeneração epitelial
(queimaduras de grau 3 e grau 4);
- Macroscopicamente, são brancas ou carbonizadas, secas e anestésicas (por causa da destruição
das terminações nervosas);
Nas queimaduras de espessura parcial, pelo menos as partes mais profundas dos apêndices
dérmicos foram poupadas (queimaduras de grau 1 e grau 2);
- Macroscopicamente, são róseas ou mosqueadas com vesículas e são dolorosas;
Histologicamente, o tecido desvitalizado revela necrose coagulativa, adjacente a tecido com
vitalidade que rapidamente acumula células inflamatórias e pronunciada exsudação;
A falência de sistemas de órgãos resultante da infecção da queimadura continua a ser a
principal causa de morte em pacientes queimados (microrganismo mais comum: Pseudomonas
aeruginosa);
Outro efeito fisiopatológico muito importante das queimaduras é o desenvolvimento de um
estado hipermetabólico, com excessiva perda de calor e uma necessidade aumentada
de suporte nutricional.
Hipertermia
A exposição prolongada a temperaturas ambientes elevadas pode resultar em:
- Cãimbras de calor: resultam da perda de electrólitos pelo suor;
- Exaustão pelo calor: resulta de uma falha do sistema cardiovascular em compensar a
hipovolémia, secundária à depleção de água;
- Golpe de calor (intermação): associa-se com altas temperaturas ambientes e alta humidade.
Os mecanismos de termorregulação falham e a temperatura corporal central eleva-se.
Hipotermia
Exposição prolongada à baixa temperatura ambiente conduz à hipotermia, condição vista muito
frequentemente em pessoas sem lar;
Alta humidade, roupa molhada e dilatação dos vasos sanguíneos superficiais ocorrendo como
resultado da ingestão de álcool aceleram a queda da temperatura corporal;
A cerca de 32,2 ºC, ocorre perda de consciência, seguida por bradicardia e fibrilação atrial a
temperaturas centrais mais baixas.
Lesão eléctrica
Podem originar-se de correntes de baixa voltagem ou de correntes de alta voltagem a partir de
linhas de alta voltagem ou raio;
As lesões são de dois tipos: queimaduras e fibrilação ventricular ou falha dos centros
cardíaco e respiratório, resultantes da interrupção dos impulsos eléctricos normais.
Capítulo X
Vasos sanguíneos
Vasos normais
As paredes arteriais são mais espessas do que as das veias correspondentes no mesmo
nível de ramificação, de forma a acomodar melhor o fluxo pulsátil e as pressões sanguíneas mais
altas;
As veias possuem maior diâmetro e lúmen do que as artérias correspondentes;
A aterosclerose afecta, principalmente, as artérias elásticas e musculares, a hipertensão afecta as
artérias musculares pequenas e arteríolas, e tipos específicos de vasculite envolvem,
caracteristicamente, somente vasos de determinado calibre;
As células endoteliais (CEs) e as células musculares lisas (CMLs) constituem a parte celular
principal da camada vascular; o restante da parede é composto por matriz extracelular
(MEC), incluindo elastina, colagénio e glicosaminoglicanos;
As paredes vasculares organizam-se em três camadas concêntricas:
- Íntima: monocamada de CEs sobrejacentes a uma delgada camada de CMLs;
Esta é separada da camada média pela lâmina elástica interna;
- Média: composta, predominantemente, por CMLs e MEC;
Esta é separada da camada adventícia pela lâmina elástica externa;
- Adventícia: tecido conjuntivo relativamente frouxo, fibras nervosas e vasos menores (vasa
vasorum);
As artérias são divididas em três tipos básicos:
- Artérias de grande calibre ou artérias elásticas
Alto conteúdo de fibras elásticas na camada média;
Ex.: aorta e seus grandes ramos;
Capilares
- Representam o nível vascular de ramificação após as arteríolas;
- São constituídos apenas por endotélio;
- Têm fluxo lento, sendo ideais para que ocorra a rápida troca de substâncias difusíveis
entre o sangue e os tecidos;
O sangue flui dos leitos capilares em direcção às vénulas pós-capilares e, então,
sequencialmente, para as vénulas colectoras e, progressivamente, para as veias maiores;
- Na vigência de uma inflamação, o extravasamento vascular e a saída leucocitária ocorrem,
preferencialmente, nas vénulas pós-capilares;
As veias são mais predispostas à dilatação, compressão e penetração por processos tumorais e
inflamatórios;
A pressão venosa e a velocidade do fluxo venoso tem que fluir contra a gravidade,
sendo o retorno do fluxo evitado por válvulas;
- O sistema venoso tem uma enorme capacidade de armazenamento do sangue sistémico
(2/3);
Linfáticos
- Canais de parede delgada e delimitados por endotélio, que drenam o excesso de fluido
intersticial, eventualmente, levando-o de volta para o sangue via ducto torácico;
- O fluxo linfático também contém células inflamatórias mononucleares e proteínas;
- Estes canais também podem disseminar doenças, ao transportar microrganismos ou células
tumorais e, eventualmente, para a circulação sistémica.
Anomalias congénitas
Entre as anomalias congénitas que são particularmente significativas, embora não
necessariamente comuns, temos:
- Aneurismas saculares ou do desenvolvimento ocorrem em vasos encefálicos, localizados
no polígono de Willis;
- Fístulas arteriovenosas são conexões anormais e directas, normalmente pequenas, entre
artérias e veias, que desviam dos capilares interpostos;
- Displasia fibromuscular é um espessamento irregular focal das paredes das artérias
musculares grandes e médias, incluindo as renais, carótidas e vertebrais.
Fig. 33
Arterioesclerose
Significa “endurecimento das artérias”, ou seja, reflecte espessamento da parede arterial e
perda da elasticidade;
Três padrões são reconhecidos, com diferentes consequências clínicas e patológicas:
- Arterioesclerose: afecta pequenas artérias e arteríolas;
As duas formas anatómicas: hialina e hiperplásica, associam-se a espessamento da parede
vascular e estreitamento do lúmen, podendo causar lesão isquémica à jusante;
Associa-se mais frequentemente à hipertensão e/ou diabetes mellitus;
- Esclerose medial calcificada de Mönckeberg: caracteriza-se por depósitos calcificados nas
artérias musculares, geralmente em indivíduos com mais de 50 anos de idade (não são
clinicamente significativas);
- Aterosclerose: “endurecimento”, é o padrão mais frequente e clinicamente mais importante.
Aterosclerose
Caracteriza-se por lesões da íntima chamadas ateromas, placas ateromatosas ou placas
ateroscleróticas que fazem protusão para o interior do lúmen vascular;
Uma placa ateromatosa (Fig. 34) consiste numa lesão sobrelevada com um centro pouco
consistente, amarelado e grumoso, cheio de lípidos, coberto por uma cápsula fibrosa, firme e
branca;
Além de obstruir o fluxo sanguíneo, as placas ateroscletóricas enfraquecem a média
subjacente e podem romper, causando uma importante trombose vascular aguda.
Fig. 34
Epidemiologia
É muito menos prevalente na América do Sul, América Central, África e Ásia;
Os factores de risco associados têm um efeito multiplicativo;
FACTORES DE RISCO PARA A ATEROSCLEROSE
Principais factores constitucionais de risco para a cardiopatia isquémica
Idade
Género
- Enfarto do miocárdio e outras complicações da aterosclerose são incomuns nas mulheres
na pré-menopausa, a menos que elas já sejam predispostas à diabetes, hiperlipidémia ou
hipertensão grave, sendo muito mais frequente nos homens;
Genética (História Familiar)
Principais factores de risco modificáveis para a cardiopatia isquémica:
Hipercolesterolemia (LDL)
Hipertensão
Tabagismo
Diabetes Mellitus
Factores de risco adicionais para cardiopatia isquémica
Inflamação e proteína C reactiva
Hiper-homocisteinemia
Lipoproteína a (forma alterada de LDL)
Factores que afectam a hemostasia
Outros factores (falta de exercício, estilo de vida stressante e obesidade)
Patogenia
A visão actual da aterogénese é expressa pela hipótese da resposta à lesão;
Este modelo vê a aterosclerose como uma resposta inflamatória crónica da parede
arterial à lesão endotelial;
A progressão da lesão ocorre através de
interacções de lipoproteínas modificadas,
macrófagos derivados de monócitos, linfóticos T e
constituintes celulares normais da parede arterial;
Os seguintes aspectos são essenciais para esta
hipótese (Fig. 35):
- Lesão endotelial crónica, com disfunção
endotelial resultante, causando aumento da
permeabilidade, adesão leucocitária e trombose;
- Acumulação de lipoproteínas (principalmente
LDL e suas formas oxidadas) na parede vascular;
- Adesão de monócitos ao endotélio,
acompanhada por migração para a íntima e
transformação em macrófagos e células
espumosas;
- Adesão plaquetária;
- Libertação de factor das plaquetas activadas,
macrófagos e células da parede vascular, induzindo
recrutamento de CML, tanto da média como
dos precursores circulantes;
- Proliferação de CML e produção de MEC;
- Acumulação de lípidos tanto
extracelularmente como dentro das células
(macrófagos e CMLs); Fig. 35
A acumulação de macrófagos contendo lípidos na íntima dá origem às “estrias gordurosas”;
Com a evolução, forma-se um ateroma fibrogorduroso, consistindo de CML proliferativas,
células espumosas, lípidos extracelulares e MEC.
Lesão endotelial
As duas causas mais importantes de disfunção endotelial são os distúrbios hemodinâmicos e a
hipercolesterolemia, sendo que a inflamação também contribui de forma significativa;
Distúrbio hemodinâmico
- As placas ateroscleróticas tendem a ocorrer nos foramens dos vasos existentes, nos pontos de
ramificação e ao longo da parede posterior da aorta abdominal, onde existem padrões alterados
de fluxo;
- Estudos in vitro demonstram que o fluxo laminar não turbulento leva à indução de genes
endoteliais cujos produtos de facto protegem contra a aterosclerose nessas zonas;
Lípidos
- Os lípidos dominantes nas placas ateromatosas são o colesterol e ésteres de colesterol;
- Defeitos genéticos na captação lipoproteica e no metabolismo que causam a
hiperlipoproteinemia associam-se à aterosclerose acelerada;
- Outras doenças genéticas ou adquiridas (ex.: Diabetes Mellitus) que causam
hipercolesterolemia levam à aterosclerose prematura;
- A hiperlipidemia crónica, particularmente, a hipercolesterolemia, pode impedir directamente a
função das CEs pelo aumento da produção local de espécies reactivas de oxigénio;
Inflamação
- Embora as células inflamatórias não se liguem aos vasos normais, as CEs arteriais disfuncionais
expressam moléculas de adesão precocemente na aterogénese, estimulnado a adesão lecucitária;
A molécula 1 de adesão vascular celular (VCAM-1) liga particularmente monócitos e
células T;
Após tais células aderirem ao endotélio, elas podem migrar para a íntima sob a influência
de quimiocinas produzidas localmente.
Morfologia
Estrias gordurosas: são compostas por células espumosas cheias de lípidos, mas não são
significativamente sobrelevadas e, portanto, não causam qualquer distúrbio ao fluxo sanguíneo;
Placa aterosclerótica
- Os principais eventos da aterosclerose são o espessamento da íntima e a acumulação de
lípidos;
- As lesões ateroscleróticas geralmente envolvem uma única porção de uma parede arterial;
- Os vasos mais extensivamente envolvidos são a aorta abdominal inferior, as coronárias, as
artérias popliteias, as carótidas internas e os vasos do polígono de Willis;
- Os vasos das extremidades superiores geralmente são poupados, assim como as artérias
mesentéricas e as artérias renais, excepto nos seus óstios;
- Têm três componentes principais: células, incluindo CMLs, macrófagos e células T; MEC,
incluindo colagénio, fibras elásticas e proteoglicanos; e lípidos intra e extracelulares;
- Divisão da placa aterosclerótica:
Capa fibrosa: superficial, constituída por CMLs e colagénio denso;
“Ombro”: em baixo e ao lado da capa, contendo macrófagos, células T e CMLs;
Centro necrótico: profundo, contém lípidos, restos de células mortas, células
espumosas, fibrina, trombos e outras proteínas plasmáticas;
- Na periferia das lesões, geralmente, existe neovascularização;
- Os ateromas, frequentemente, sofrem calcificação;
- As placas ateroscleróticas são susceptíveis às seguintes alterações patológicas de significado
clínico:
Ruptura, ulceração ou erosão da superfície luminal das placas ateroscleróticas:
expõe à corrente sanguínea substâncias altamente trombogénicas, induzindo a formação
de trombos;
Hemorragia no interior de uma placa;
Ateroembolismo: ruptura da placa pode descarregar restos na corrente sanguínea,
produzindo microêmbolos compostos pelo conteúdo da placa;
Formação de aneurisma: a pressão induzida por aterosclerose ou por atrofia
isquémica da média subjacente, com perda de tecido elástico, causa fraqueza da parede
vascular e desenvolvimento de aneurismas que podem romper.
Fig. 36
Prevenção da doença vascular aterosclerótica
Os três principais factores que contribuem para a melhoria desta doença são:
1. Prevenção da aterosclerose através do reconhecimento dos factores de risco e de mudanças
no estilo de vida (prevenção primária);
2. Métodos melhores para o tratamento do enfarte do miocárdio e outras complicações da
cardiopatia isquémica (prevenção secundária);
- Uso de aspirina, estatinas e β-bloqueadores, assim como intervenções cirúrgicas;
3. Prevenção de recidivas em pacientes que sofreram, anteriormente, graves eventos clínicos
relacionados à aterosclerose.
RESUMO – Aterosclerose
A aterosclerose é uma lesão baseada na íntima, organizada numa capa fibrosa e um
centro ateromatoso (com consistência amolecida) composto por CMLs, MEC, células
inflamatórias, lípidos e restos necróticos;
A aterogénese desenvolve-se pela alternância entre inflamação e lesão nas células da
parede vascular;
Muitos factores de risco conhecidos influenciam a disfunção das CEs, assim como, o
recrutamento e o estímulo das CMLs;
As placas ateroscleróticas acumulam-se lentamente durante décadas, mas podem
causar sintomas adugos devido à ruptura, trombose, hemorragia ou embolização;
O reconhecimento dos factores de risco e a sua redução podem reduzir a incidência
e a gravidade da doença relacionada com a aterosclerose.
Fig. 37
Os rins (primariamente) e as supra-renais (secundariamente) são os principais órgãos na
regulação da pressão sanguínea, interagindo entre si para modificar o tónus vascular e o volume
sanguíneo, conforme descrito a seguir:
- A renina é um importante regulador da pressão sanguínea normal, sendo secretada pelos rins
em resposta à pressão arteriolar aferente reduzida ou à filtração glomerular de sódio;
- A renina converte o angiotensinogénio em angiotensina I, que por sua vez, é convertida em
angiotensina II;
- A angiotensina II regula a pressão sanguínea pelo aumento da contracção vascular das
CMLs e pelo aumento da secreção de aldosterona para aumentar a reabsorção renal de
sódio;
Quando a função excretora renal está impedida, o aumento da pressão arterial é um mecanismo
compensatório que pode ajudar a restaurar o equilíbrio dos líquidos e o equilíbrio electrónico;
Outros tecidos também podem influenciar o volume e a pressão sanguíneos;
- O péptido natriurético atrial, secretado pelo átrio cardíaco em resposta à expansão de
volume inibe a reabsorção de sódio nos túbulos distais e causa a vasodilatação global.
Patogenia da hipertensão
A hipertensão essencial (Fig. 38) representa 90% a 95% dos casos de hipertensão e é uma
doença complexa, multifactorial, resultando, mais provavelmente, dos efeitos combinados entre
mutações ou polimorfismos ao nível de vários loci génicos (ex.: reabsorção de sódio, sistema
renina-angiotensina, aldosterona) em associação a várias influências ambientais;
A hipertensão secundária é causada por doenças dos rins e das glândulas endócrinas;
A maior parte do restante da “hipertensão benigna” é secundária à doença renal;
Na chamada hipertensão acelerada ou maligna, a síndrome clínica é caracterizada por
hipertensão grave, insuficiência renal, hemorragias e excusato na retina, com ou sem papiledema.
Fig. 38
Fig. 39
Morfologia
Geralmente posicionado entre as artérias renais e acima da bifurcação da aorta, o AAA pode ser
sacular ou fusiforme, chegar a 15 cm de diâmetro e ter 25 cm de comprimento;
Existe aterosclerose grave complicada, com destruição e estreitamento da média subjacente;
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Aneurisma sifilítico
O T. pallidum tem uma predilecção por pequenos vasos sanguíneos na adventícia aórtica (vasa
vasorum), desenvolvendo endocardite obliterante;
- Os vasos afectados mostram um estreitamento e obliteração da luz, cicatrização da parede
vascular (“casca de árvore”) e um infiltrado denso de linfócitos e plasmócitos que se estende
para a média (aortite sifilítica);
O envolvimento do vasa vasorum da aorta é particularmente devastador;
- Resulta numa lesão isquémica da média da aorta, levando à dilatação aneurismática da
aorta e do anel aórtico e, eventualmente, à insuficiência valvar e hipertrofia por
sobrecarga maciça de volume no ventrículo esquerdo (cor bovinum);
A maioria dos pacientes morre por insuficiência cardíaca, devido à incompetência valvar aórtica.
Os aneurismas aórticos torácicos (independente da etiologia) causam sinais e sintomas:
1. Compressão de estruturas do mediastino;
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Dissecção aórtica
A dissecção aórtica é um evento catastrófico no qual o sangue disseca os planos laminares da
média para formar um canal cheio de sangue dentro da parede aórtica;
- Esta canal, frequentemente, rompe através da adventícia para vários espaços, onde causa
hemorragia maciça ou tamponamento cardíaco;
A dissecção da aorta pode ou não estar associada à dilatação aórtica;
Ocorre, principalmente, em dois grupos epidemiológicos:
- Homens entre 40 e 60 anos de idade, com hipertensão prévia;
- Pacientes mais jovens com anomalias sistémicas ou localizadas do tecido conjuntivo afectando a
aorta;
Não é usual na presença de aterosclerose significativa, provavelmente em virtude da fibrose da
média inibir a propagação do hematoma dissecante.
Patogenia
A hipertensão é o principal factor de risco para a dissecção aórtica;
Aortas de pacientes hipertensos mostram hipertrofia da média do vasa vasorum, associada a
alterações degenerativas da MEC e perda variável de CMLs da média, sugerindo que a
lesão mecânica relacionada à pressão e/ou à lesão isquémica (devido ao fluxo diminuído no vasa
vasorum) contribui de alguma forma;
Uma vez que ocorra laceração da íntima, o fluxo sanguíneo sob a pressão sistémica disseca
através da média, permitindo a progressão do hematoma da média;
- Assim, a terapia agressiva de redução da pressão pode ser eficaz para limitar a dissecção em
evolução.
Morfologia
Na grande maioria das dissecções espontâneas, a laceração da íntima que marca o ponto de
origem da dissecção é encontrada na aorta ascendente;
Tais lacerações são, geralmente, transversais ou oblíquas e têm 1 a 5 cm de extensão, ao
longo da aorta;
O hematoma dissecante espalha-se caracteristicamente ao longo dos planos laminares da
aorta, geralmente entre os terços médio e externo;
Em algumas situações melhores, o hematoma dissecante entra novamente no lúmen da aorta,
produzindo uma segunda laceração distal da íntima e um novo canal vascular dentro da média da
parede aórtica (resultando numa “aorta de dupla luz” com um canal falso);
- Isto impede uma hemorragia extra-aórtica fatal;
- Com o tempo, canais falsos podem endotelizar e ser reconhecidos como dissecções crónicas;
Degeneração cística da média (CMD)
- Lesão histológica mais frequentemente detectada;
- Caracteriza-se por fragmenteção do tecido elástico e separação dos elementos elásticos e
das CMLs da média por espaços císticos cheios de MEC rica em proteoglicanos amorfos;
- A inflamação está ocasionalmente ausente;
- Geralmente acompanha a Síndrome de Marfan.
Curso clínico
As dissecções aórticas são, geralmente, classificadas em dois tipos:
- Dissecção tipo A: lesões mais comuns, perigosas e proximais, envolvendo a aorta ascendente
apenas, ou ambas, ascendente e descendente (tipos I e II de DeBakey);
- Dissecção tipo B: lesões distais não envolvendo a parte ascendente e, geralmente,
começando distalmente à artéria subclávia esquerda (tipo III de DeBakey).
Sintomas clínicos: dor lancinante de início súbito, geralmente, començando na parte anterior
do tórax, irradiando para o dorso, entre as escápulas e, para baixo, conforme a dissecção
progride;
- A dor pode ser confundida com a do enfarte de miocárdio;
As manifestações clínicas incluem: tamponamento cardíaco, insuficiência aórtica e enfarte do
miocárdio ou extensão da dissecção em direcção às grandes artérias do pesçoco ou em direcção
às coronárias, renais, mesentéricas ou ilíacas;
A causa mais comum de morte é a ruptura da dissecção em direcção a uma das três
cavidades corporais (pericárdica, pleural ou peritoneal).
Vasculite
A vasculite é uma inflamação da parede vascular;
Embora frequentemente existam manisfestações sistémicas (incluindo febre, mal-estar, mialgias e
artralgias), sintomas específicos dependem do leito vascular qu está envolvido;
A vasculite pode resultar de infecções, porém, mais comumente tem uma base imunológica
como um depósito de complexo imune, ANCAs ou anticorpos anti-CEs;
É possível prever que infecções também podem causar, indirectamente, uma vasculite não-
infecciosa, gerando, por exemplo, complexos imunes ou provocando reactividade cruzada.
Vasculite não-infecciosa
Vasculite associada a complexo imune
Depósito de complexo imune subjacente à vasculite associada à hipersensibilidade a drogas;
Na vasculite secundariamente associada a infecções virais, anticorpos contra as proteínas virais
podem formar complexos imunes detectáveis no soro e nas lesões vasculares.
- ANCAs reagem com neutrófilos marcados com citocinas circulantes e, tanto causam lesão
directa (ex.: endotelial) como induzem a activação (ex.: nos neutrófilos);
- Os neutrófilos activados por ANCA desgranulam, causando lesão pela libertação de espécies
reactivas de oxigénio, o que leva à toxicidade nas CEs e a outras lesões teciduais directas.
Vasculite infecciosa
As infecções vasculares podem enfraquecer as paredes arteriais e dar origem a aneurismas
micóticos ou podem induzir a trombose e enfarte.
Fenómeno de Raynaud
Resulta de vasoconstricção exagerada das artérias e arteríolas digitais;
Induzem uma palidez paroxísdica ou cianose dos dedos das mãos ou dos pés;
Caracteristicamente, os dedos envolvidos mostram alterações da cor: vermelho-branco-azul, da
porção proximal para a mais distal, correlacionando com vasodilatação proximal, vasoconstricção
central e cianose mais distal;
O fenómeno de Raynaud primário reflecte um exagero nas respostas vasomotoras centrais
e locais, ao frio ou à emoção, sendo geralmente, benigno;
O fenómeno de Raynaud secundário refere-se à insuficiência vascular das extremidades no
contexto da doença arterial, causada por outras entidades (ex.: doença de Buerger).
Veias e linfáticos
Veias varicosas
São anormalmente dilatadas e tortuosas, produzidas por aumento prolongado da pressão
intraluminal e por perda do suporte da parede vascular;
As veias superficiais da coxa e da perna estão geralmente envolvidas;
- Quando as pernas ficam pedentes por longos períodos, as pressões venosas nestes locais
podem ficar muito elevadas e podem levar à estase venosa e a edema no pé;
A obesidade e a gravidez aumentam o risco de aparecimento de veias varicosas;
Morfologia
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Robbins, Patologia Básica 2008/2009
- As veias varicosas mostram estreitamento da parede nos pontos de dilatação máxima com
hipertrofia do músculo liso e fibrose da íntima nos segmentos adjacentes;
- A degeneração do tecido elástico e as calcificações focais na média (fleboesclerose)
também ocorrem;
- A trombose intraluminal focal (devido à estase) e as deformidades valvares venosas
(enrolamente e encurtamento) são comuns;
Tromboflebite e flebotrombose
Afectam as veias profundas das pernas, na sua grande maioria;
Os factores clínicos predisponentes mais importantes na trombose venosa profunda (TVP)
são: insuficiência cardíaca congestiva, neoplasia, gravidez, obesidade, estados pós-operatório e
repouso acamado ou imobilização;
- Em pacientes com cancro, as tromboses aparecem de um lado, desaparecem e voltam a
reaparecer noutras veias – tromboflebite migratória (sinal de Trousseau);
Trombos nas pernas tendem a produzir poucos, quando produzem, sinais e sintomas;
- Em alguns casos, a dor pode ser percebida pela pressão exercida sobre as veias afectadas,
comprimindo os músculos da barriga da perna ou forçando a flexão dorsal dos pés (sinal de
Homan), sendo que, a ausência destes achados não exclui TVP;
Embolia pulmonar é uma sequela comum e grave da TVP.
- A obstrução induz um edema importante das extremidades inferiores, à distensão das veias
colaterais superficiais do abdómen inferior e, com envolvimento da veia renal, à proteinúria
maciça.
Linfangite e linfedema
As doenças primárias dos vasos linfáticos são extremamente incomuns;
Linfangite
- Inflamação aguda que ocorre quando infecções bacterianas espalham-se no interior dos
linfáticos (ex.: estreptococos β-hemolíticos do grupo A);
- Os linfáticos afectados ficam dilatados e cheios de exsudato de neutrófilos e monócitos;
- A linfangite é reconhecida por estrias vermelhas e dolorosas, subcutâneas, com aumento
doloroso dos nódulos linfáticos de drenagem;
- Se as bactérias passaram para a circulação venosa pode resultar numa bacteriémia ou sépsis;
Linfedema
- Linfedema primário: defeito congénito associado ou doença familiar de Milroy;
- Linfedema secundário: acumulação de líquido intersticial após o bloqueio de um linfático
anteriormente normal. Tal obstrução pode resultar de:
Tumores malignos, procedimentos cirúrgicos, fibrose pós-irradiação, filariose, trombose
pós-inflamatória e cicatrização;
- O linfedema aumenta a pressão hidrostática nos linfáticos anteriores à obstrução e causa
aumento do líquido intersticial;
- A persistência deste edema leva ao depósito aumentado de tecido conjuntivo intersticial, com
expansão tecidual, aparência de induração castanha ou casca de laranja na pele
sobrejacente e eventuais úlceras provocadas por perfusão tecidual inadequada;
- A acumulação de linfa em vários espaços são chamados de ascite quilosa (abdómen), quilo-
tórax e quilopericárdio.
Tumores
Neoplasias dos vasos podem derivar tanto dos vasos sanguíneos como dos linfáticos e podem
ser compostas por CEs (hemangioma, linfagioma, angiossarcoma) ou células vasculares de
sustentação (tumor glómico ou hemangiopericitoma);
Tumores vasculares são predominantemente benignos (ex.: hemangiomas), mas também podem
ser lesões intermediárias, localmente agressivas (ex.: sarcoma de Kaposi) ou, raramente,
neoplasias altamente malignas (ex.: angiossarcoma);
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Tumores benignos geralmente formam canais vasculares óbvios revestidos por CEs de
aparência normal;
Os tumores malignos são mais tipicamente sólidos e celulares, sem vasos bem organizados e
com citologia atípica.