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Popper e Kuhn PDF
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Capítulo 3 - Confronto das Idéias de Popper e Kuhn
3.1
Critério de Demarcação entre Ciências Empíricas e Metafísicas
Propõe como como critério que separa os enunciados das ciências empíricas
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710686/CA
Por outro lado, para Thomas Kuhn o critério de demarcação não chega a
constituir um problema epistemológico ao estabelecer como critério de validação
de um sistema científico a aplicabilidade do paradigma, capaz de orientar a
resolução dos problemas científicos. A despeito de Kuhn concordar com Popper
quanto à inadequação do método indutivo como prática da ciência, recusa a
proposta do racionalismo crítico popperiano ao dizer que a história nos mostra que
as teorias e suas aplicações geralmente são aceitas não por sua consistência lógica
ou embasamento empírico, mas também por razões sociais, pelo consenso
adquirido na comunidade científica.
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discurso crítico, tendo por meta primeira a articulação do paradigma. Esta idéia de
ciência normal seria entendida em Popper como reveladora de uma atitude não-
científica, na qual a ciência crítica é substituída por uma metafísica defensiva, e
neste sentido Popper sugere como divisa da ciência a “Revolução Permanente”.
Assim, pode-se entender, a exemplo de Watkins, que:
“O que é genuinamente científico para Kuhn mal chega a ser ciência para
Popper, e o que é genuinamente científico para Popper mal chega a ser
ciência para Kuhn”. (Lakatos e Musgraves, 1979, p. 38)
3.2
O Papel do Cientista
Kuhn, por sua vez, contesta Popper ao afirmar que normalmente o cientista
guiado por um paradigma resiste a toda e qualquer nova teoria, classificando
como ingênua a imagem do homem de ciência explorador, de personalidade
inquieta e mente sempre aberta à crítica e à busca da verdade. Contrariando esse
ponto de vista, em Kuhn, o cientista na prática da ciência normal, protege sua
teoria, procurando eliminar do caminho todos os possíveis obstáculos que
coloquem em dúvida sua eficácia, na esperança de conseguir instrumentos mais
aperfeiçoados e medições mais exatas que antes a reafirmem do que a refutem.
Esta sua divergência com Popper é corroborada por Kuhn ao escrever:
“... e esse é o meu único desacordo genuíno com Sir Karl a respeito da
ciência normal – que tendo à mão uma tal teoria já se passou o tempo
para a crítica constante e a proliferação de teorias”. (Kuhn, 2003, p.274)
3.3
A Escolha entre Teorias Concorrentes
sobre tais questões, como o mais alto tribunal de apelação. Entre os critérios
determinantes da escolha se encontram a habilidade e a capacidade do novo
paradigma de resolver um maior número de problemas do que o paradigma
anterior, a precisão quantitativa superior, ou ainda argumentos que suscitam um
sentimento de maior “clareza”, “adequação” ou “simplicidade” do novo
paradigma. Tais fatores são os que podem levar os cientistas à rejeição do velho
paradigma em favor de outro. A transferência de adesão de um paradigma a outro
ocorre, diz Kuhn, por meio de uma experiência de conversão que pode se dar na
ausência de provas, por meio de técnicas de persuasão e argumentação ou ainda
por questões como preferências, idiossincrasias, crenças religiosas, reputação
dentre outras questões de caráter psicológico ou sociológico (Kuhn, 2006, p.185-
202).
Kuhn também rejeita o critério da verossimilhança, elaborado por Popper
como alternativa à escolha entre teorias ao comentar que:
“ A comparação de teorias históricas não fornece nenhuma indicação de
que suas ontologias estejam se aproximando de um limite...De qualquer
modo, a evidência da qual devem ser tiradas as conclusões a respeito de
um limite ontológico não é a comparação de teorias em seu todo, mas a
comparação de suas consequências empíricas”. (Kuhn, 2003, p.200)
até que seja resolvido o problema de uma linguagem observacional neutra. Para
Kuhn não existe uma linguagem de “caráter universal” que permita aos
proponentes de teorias concorrentes compartilharem de maneira unívoca relatos
de suas observações.
Em síntese, Popper privilegia os aspectos lógicos em detrimento das
questões psicológicas e sociológicas de Kuhn ao propor uma alternativa racional
ao problema da escolha entre teorias, ao dizer:
“Optamos pela teoria que melhor se mantém, no confronto com as
demais; aquela que, como na seleção natural, mostra-se a mais capaz de
sobreviver. Ela será não apenas a que já foi submetida a severíssimas
provas, mas também a que é suscetível de ser submetida a provas da
maneira mais rigorosa. Uma teoria é um instrumento que submetemos a
prova pela aplicação e que julgamos, quanto à capacidade, pelos
resultados das aplicações”. (Popper, 1985, p. 116)
3.4
O Papel da Experiência
Além disso, como vimos, Popper define a falseabilidade como critério que
demarca um sistema teórico empírico, embora não admita que um sistema
científico seja passível de verificação definitiva, em sentido positivo. Para ele, a
validação de um sistema científico através de recurso a provas empíricas deve ser
considerada provisória mesmo que resista aos testes concebidos na tentativa de
refutá-lo. Assim sendo, pode-se dizer que a experiência em Popper, assume a
função de refutar ou corroborar temporariamente uma teoria, quando escreve:
“Podemos dizer que uma teoria que não seja, de fato, refutada pelos
testes a que são submetidas aquelas novas, audaciosas e improváveis
previsões a que dá origem, será uma teoria corroborada por estes mesmos
testes”. (Popper, 2003, p. 299)
3.5
A Questão da Verdade
mesmo que não disponhamos de critérios que nos permita reconhecê-la como tal.
Assim escreve:
“... nós procuramos a verdade, mas podemos não saber quando é que a
encontramos; que não temos nenhum critério de verdade, mas somos, não
obstante, guiados pela idéia de verdade como princípio regulador (como
Kant ou Pierce poderiam ter dito); e que, apesar de não existirem
quaisquer critérios gerais pelos quais possamos reconhecer a verdade –
exceto, talvez, a verdade tautológica – existem critérios de progresso em
direção à verdade”. (Popper, 2003, p. 307)
3.6
Progresso Acumulativo ou por Rupturas
cientistas podem olhar para um mesmo ponto numa mesma direção e ver coisas
diferentes. Nesta acepção, uma nova teoria não é apenas incompatível como
também incomensurável com a anterior, deste modo a comunicação entre estes
dois grupos só pode ocorrer através da conversão por um dos grupos ao paradigma
do outro. A transição entre incomensuráveis, ou entre paradigmas divergentes,
segundo Kuhn, ocorre de maneira abrupta tal qual a mudança de forma visual
(gestalt), não podendo ser entendido como um processo evolutivo e gradual, tal
qual a prática da ciência normal.
O processo kuhniano de desenvolvimento científico, como vimos, rejeita a
idéia de evolução teleológica, orientada para um objetivo, “evolução-em-direção-
ao-que-queremos-saber”, e propõe substituí-la pela evolução a partir de um início
primitivo, “evolução-a-partir-do-que-sabemos” (Kuhn, 2006, pp. 215-216).
As opiniões de Popper são ainda mais dissoantes às de Kuhn no que diz
respeito ao processo de mudança científica. Em Popper a ciência se acha, de um
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