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Capítulo 3 - Confronto das Idéias de Popper e Kuhn

3.1
Critério de Demarcação entre Ciências Empíricas e Metafísicas

Como vimos, Popper se preocupa logo no início de suas reflexões com a


questão da demarcação entre ciência e não ciência ou entre proposições científicas
e pseudo-científicas. Para Popper o problema da demarcação consiste no:

“... problema de estabelecer um critério que nos habilite a distinguir entre


as ciências empíricas, de uma parte, a matemática e a lógica, bem como
os sistemas metafísicos, de outra”. (Popper, 1985, p.35)

Propõe como como critério que separa os enunciados das ciências empíricas
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das pseudo-ciências empíricas a possibilidade do enunciado científico ser


falseável pela experiência.

Na epistemologia popperiana o problema da demarcação foi considerado


“objetivamente importante” e relevante à construção de sua metodologia racional
crítica (Popper, 1999, p.39-40). Contrário ao caráter subjetivo e especulativo de
algumas teorias epistemológicas contemporâneas, este problema leva Popper a
rejeição simultânea da lógica indutiva, assim como, da crença em dados
observacionais puros, desprovidos de teoria. E a concluir que a verificação de
todo o conhecimento é apenas provisória, e a destacar em sua abordagem crítica
da ciência o caráter conjectural e objetivo das teorias científicas.

Por outro lado, para Thomas Kuhn o critério de demarcação não chega a
constituir um problema epistemológico ao estabelecer como critério de validação
de um sistema científico a aplicabilidade do paradigma, capaz de orientar a
resolução dos problemas científicos. A despeito de Kuhn concordar com Popper
quanto à inadequação do método indutivo como prática da ciência, recusa a
proposta do racionalismo crítico popperiano ao dizer que a história nos mostra que
as teorias e suas aplicações geralmente são aceitas não por sua consistência lógica
ou embasamento empírico, mas também por razões sociais, pelo consenso
adquirido na comunidade científica.
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Kuhn, não ofereceu na Estrutura das Revoluções Científicas um critério


explícito de demarcação para as ciências, embora reconhecesse a existência de
diferenças relevantes entre os praticantes das assim reconhecidas ciências
empíricas, também denominadas por ele de ciências maduras ou desenvolvidas e
as pseudo-ciências, distinguindo-as pela maneira como os cientistas de diferentes
comunidades compartilham tipos de elementos denominado por ele como
“paradigma”, ao propor:

“... atualmente eu consideraria muitos dos atributos de uma ciência


desenvolvida (que acima associei a obtenção de um paradigma) como
consequência da aquisição de um tipo de paradigma que identifica os
quebra-cabeças desafiadores, proporciona pistas para sua solução e
garante o sucesso do praticante realmente inteligente”. (Kuhn, 2006, p.
225)

Os cientistas de Kuhn normalmente se empenham em realizar testes com o


objetivo de testar suas soluções. Durante a prática da ciência normal abandonam o
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discurso crítico, tendo por meta primeira a articulação do paradigma. Esta idéia de
ciência normal seria entendida em Popper como reveladora de uma atitude não-
científica, na qual a ciência crítica é substituída por uma metafísica defensiva, e
neste sentido Popper sugere como divisa da ciência a “Revolução Permanente”.
Assim, pode-se entender, a exemplo de Watkins, que:

“O que é genuinamente científico para Kuhn mal chega a ser ciência para
Popper, e o que é genuinamente científico para Popper mal chega a ser
ciência para Kuhn”. (Lakatos e Musgraves, 1979, p. 38)

3.2
O Papel do Cientista

Segundo a visão popperiana, anteriormente mencionada, os cientistas


apresentam uma conduta única, são pesquisadores críticos e estão sempre
dispostos a resolver problemas procurando colocar suas teorias à prova com o
objetivo de testá-las constantemente. O cientista idealizado em Popper deve
apreciar criticamente suas propostas de solução de problemas e estar
constantemente abertos a alterar ou rejeitar sua própria inspiração (Popper, 1985,
p. 32), estando sempre disposto a por em questão a validade e veracidade da teoria
vigente.
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Kuhn, por sua vez, contesta Popper ao afirmar que normalmente o cientista
guiado por um paradigma resiste a toda e qualquer nova teoria, classificando
como ingênua a imagem do homem de ciência explorador, de personalidade
inquieta e mente sempre aberta à crítica e à busca da verdade. Contrariando esse
ponto de vista, em Kuhn, o cientista na prática da ciência normal, protege sua
teoria, procurando eliminar do caminho todos os possíveis obstáculos que
coloquem em dúvida sua eficácia, na esperança de conseguir instrumentos mais
aperfeiçoados e medições mais exatas que antes a reafirmem do que a refutem.
Esta sua divergência com Popper é corroborada por Kuhn ao escrever:

“... e esse é o meu único desacordo genuíno com Sir Karl a respeito da
ciência normal – que tendo à mão uma tal teoria já se passou o tempo
para a crítica constante e a proliferação de teorias”. (Kuhn, 2003, p.274)

É na ocasião da crise, ou da ciência revolucionária de Kuhn, que se pode


observar similaridades entre a atuação do cientista crítico e pioneiro, prescrito em
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Popper, e a atitude crítica do cientista revolucionário kuhniano. A crise gerada por


sucessivos fracassos na resolução de problemas pela ciência normal e pela
emergência de um novo paradigma, desperta na comunidade científica um
sentimento de inadequação que, por sua vez, busca a renovação tanto da teoria
quanto dos instrumentos da pesquisa normal. Neste momento, Kuhn afirma que o
cientista deixa de ser reacionário e passa a revolucionário pela insatisfação de não
ter podido resolver os enigmas.

No entender de Thomas Kuhn, Lakatos critica Popper por caracterizar toda


a atividade científica como revolucionária (Lakatos e Musgrave, 1979, pp.11-12),
fato que o levou a observações inconsistentes sobre o papel do cientista. Para
Kuhn a maior parte do trabalho, desenvolvido pelo cientista, é característico da
ciência normal, tendo como principal objetivo a resolução de quebra-cabeças.
Neste caso são os cientistas e seus instrumentos que são postos à prova e não a
efetividade da teoria vigente.

Em resumo, pode-se afirmar, então, que para Popper o trabalho do cientista


é norteado por um método crítico e racional, no qual os aspectos sociológicos não
são considerados como decisivos ao progresso científico. Já para Kuhn, cuja
epistemologia advoga o emprego de fatores fundamentalmente sociológicos e
psicológicos para explicar a prática científica, o fator determinante para a
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consecução do progresso da ciência e de sua explicação está na própria prática da


comunidade científica, cujas estruturas de escolha, não podem ser cerceadas por
regras ideais, ao escrever:

“Seja lá o que for o progresso científico, temos de explicá-lo


examinando a natureza do grupo científico, descobrindo o que ele
valoriza, o que tolera e o que desdenha”. (Kuhn, 2003, p.164)

3.3
A Escolha entre Teorias Concorrentes

A descrição oferecida por Kuhn a propósito dos procedimentos pelos quais


os cientistas escolhem entre teorias concorrentes, recebe inúmeras críticas
qualificadas como: “irracionalidade”, “império das multidões” e “relativismo”
(Kuhn, 2003, p.192). A despeito de tais críticas, Kuhn argumenta que na escolha
entre teorias alternativas, a força da lógica não pode em princípio ser compulsória,
atribuindo aos cientistas praticantes nesta ou naquela ciência, a tarefa de decidir
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sobre tais questões, como o mais alto tribunal de apelação. Entre os critérios
determinantes da escolha se encontram a habilidade e a capacidade do novo
paradigma de resolver um maior número de problemas do que o paradigma
anterior, a precisão quantitativa superior, ou ainda argumentos que suscitam um
sentimento de maior “clareza”, “adequação” ou “simplicidade” do novo
paradigma. Tais fatores são os que podem levar os cientistas à rejeição do velho
paradigma em favor de outro. A transferência de adesão de um paradigma a outro
ocorre, diz Kuhn, por meio de uma experiência de conversão que pode se dar na
ausência de provas, por meio de técnicas de persuasão e argumentação ou ainda
por questões como preferências, idiossincrasias, crenças religiosas, reputação
dentre outras questões de caráter psicológico ou sociológico (Kuhn, 2006, p.185-
202).
Kuhn também rejeita o critério da verossimilhança, elaborado por Popper
como alternativa à escolha entre teorias ao comentar que:
“ A comparação de teorias históricas não fornece nenhuma indicação de
que suas ontologias estejam se aproximando de um limite...De qualquer
modo, a evidência da qual devem ser tiradas as conclusões a respeito de
um limite ontológico não é a comparação de teorias em seu todo, mas a
comparação de suas consequências empíricas”. (Kuhn, 2003, p.200)

Kuhn pontua ainda outra provável objeção à lógica popperiana, ao não


aceitar a verdade como critério de escolha aplicada na comparação entre teorias,
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até que seja resolvido o problema de uma linguagem observacional neutra. Para
Kuhn não existe uma linguagem de “caráter universal” que permita aos
proponentes de teorias concorrentes compartilharem de maneira unívoca relatos
de suas observações.
Em síntese, Popper privilegia os aspectos lógicos em detrimento das
questões psicológicas e sociológicas de Kuhn ao propor uma alternativa racional
ao problema da escolha entre teorias, ao dizer:
“Optamos pela teoria que melhor se mantém, no confronto com as
demais; aquela que, como na seleção natural, mostra-se a mais capaz de
sobreviver. Ela será não apenas a que já foi submetida a severíssimas
provas, mas também a que é suscetível de ser submetida a provas da
maneira mais rigorosa. Uma teoria é um instrumento que submetemos a
prova pela aplicação e que julgamos, quanto à capacidade, pelos
resultados das aplicações”. (Popper, 1985, p. 116)

Pode-se, assim, conceber que Kuhn diverge de Popper ao dizer que o


problema da escolha de uma teoria nunca se restringe ao emprego exclusivo da
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lógica e dos experimentos (Kuhn, 2006, p. 125-128).


Com relação à epistemologia, Popper (1985, pp. 31-32) estabelece que sua
tarefa é a de fundamentar um método das ciências empíricas que possa explicar e
justificar a lógica do desenvolvimento do conhecimento científico. Elimina toda a
espécie de psicologismo, e se atribui a história da ciência algum papel, é o da
reconstrução lógica e racional dos processos pelos quais os cientistas realizam
provas sistemáticas de uma teoria (contexto da prova), e não o de reconstruir os
processos que levam o cientista à criação das hipósteses enquanto proposta de
solução de problemas (contexto da descoberta).

3.4
O Papel da Experiência

Como vimos antes ao pretender uma definição aceitável de “ciência


empírica”, Popper recusa o método indutivo, e propõe como alternativa lógica o
seu método dedutivo da prova, no qual “A experiência apresenta-se como um
método peculiar por via do qual é possível distinguir um sistema teorético de
outros” (Popper, 1985, p. 41). É a experiência que nos permite, em Popper,
identificar o sistema que melhor representa nosso “mundo real”, ou seja, o nosso
mundo de experiência, quando resiste às provas a que foi submetido o sistema.
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Além disso, como vimos, Popper define a falseabilidade como critério que
demarca um sistema teórico empírico, embora não admita que um sistema
científico seja passível de verificação definitiva, em sentido positivo. Para ele, a
validação de um sistema científico através de recurso a provas empíricas deve ser
considerada provisória mesmo que resista aos testes concebidos na tentativa de
refutá-lo. Assim sendo, pode-se dizer que a experiência em Popper, assume a
função de refutar ou corroborar temporariamente uma teoria, quando escreve:
“Podemos dizer que uma teoria que não seja, de fato, refutada pelos
testes a que são submetidas aquelas novas, audaciosas e improváveis
previsões a que dá origem, será uma teoria corroborada por estes mesmos
testes”. (Popper, 2003, p. 299)

O chamado “teste” na ciência normal não é teste de teorias, e sim parte de


uma atividade de solução-de-enigmas, quando mal-sucedido atingirá
desforavelmente, apenas o experimentador. A experiência anômala em Thomas
Kuhn pode ser vista como um quebra-cabeça ou contra-exemplo. No período da
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ciência normal ela é sempre considerada como quebra-cabeça.


Em Kuhn a experiência mal-sucedidade nem sempre é um determinante da
refutação de uma teoria (paradigma), pois depende de como o cientista a entende.
A experiência anômala, só e vista como contra-exemplo no momento da ciência
extraordinária, neste caso, Kuhn admite que a teoria dominante é posta a prova.
Nesta ocasião podemos dizer que ocorrem os testes autênticos da teoria, como
descritos por Popper. O resultado negativo de um teste na ocasião da ciência
extraordinária, passa a ser considerado um contra-exemplo, capaz de atestar o
fracasso da teoria (Lakatos e Musgrave, 1979, p.36).
Já em Popper a experiência sempre será o fator determinante da aceitação
ou recusa de uma teoria. Toda a experiência que contradiz uma teoria, é vista
como contra-exemplo capaz de refutá-la.

3.5
A Questão da Verdade

Para Popper a ciência não é episteme, conhecimento certo e indubitável, e


nem pode ter a pretensão de alcançar a verdade inconteste. Entretanto, Popper
defende a idéia da verdade objetiva, verdade como correspondência aos fatos
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mesmo que não disponhamos de critérios que nos permita reconhecê-la como tal.
Assim escreve:
“... nós procuramos a verdade, mas podemos não saber quando é que a
encontramos; que não temos nenhum critério de verdade, mas somos, não
obstante, guiados pela idéia de verdade como princípio regulador (como
Kant ou Pierce poderiam ter dito); e que, apesar de não existirem
quaisquer critérios gerais pelos quais possamos reconhecer a verdade –
exceto, talvez, a verdade tautológica – existem critérios de progresso em
direção à verdade”. (Popper, 2003, p. 307)

Nesta acepção distingue a ciência aplicada da ciência pura. No primeiro


caso o objetivo é a busca de poder, ou seja, de instrumentos poderosos. Podemos
mesmo admitir a utilização, na prática, de teorias reconhecidamente falsas. Na
ciência pura, ao contrário, a busca é por teorias que estejam mais próximas da
verdade que outras, ou por aquelas que correspondam melhor aos fatos. Por
conseguinte a verdade no sentido objetivo assume em Popper o papel de princípio
regulador, contrapondo-se, assim, quer ao dogmatismo quanto as teorias
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epistemológicas relativistas ou céticas (Popper, 2003, pp. 305-309).


Kuhn discorda de Popper quando põe em causa a idéia de verdade como
correspondência aos fatos e de considerá-la como meta final da ciência. Kuhn
admite que a verdade de uma teoria só pode ser estabelecida nos limites de cada
paradigma, sendo intra-paradigmática. Admite até ser chamado de relativista, por
não aceitar a idéia de que as teorias são representações da natureza, e por recusar a
existência de enunciados que possam descrever com exatidão os fenômenos
naturais. Thomas Kuhn nem mesmo vê sentido ou validade no dizer que uma
teoria tem maior aproximação à verdade do que a sua predecessora (Kuhn, 2003,
p. 199-200).
De acordo com a epistemologia popperiana a avaliação dos enunciados
teóricos da ciência se dá pelo método dedutivo de prova que tem como último ato
a submissão desses enunciados ao teste experimental. Já na epistemologia
kuhniana a aceitação ou rejeição de uma teoria científica se faz por recurso aos
critérios sociológicos, históricos e psicológicos, através da convicção e fé
subjetivas da comunidade científica. Nesta perspectiva, a verdade é definida pela
visão e prática dos cientistas num dado momento histórico. Deve ser entendida
como ponto a partir do qual a pesquisa científica se desenvolve, e não como uma
verdade permamente fixada (Kuhn, 2006, p.217).
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3.6
Progresso Acumulativo ou por Rupturas

Para Popper o caráter progressivo do conhecimento científico é essencial à


natureza da ciência. Tanto assim que um campo de estudo deixa de ser científico
quando cessa de progredir. O progresso é o aval da sua racionalidade, pois é
resultado da atividade crítica e racional do cientista, empenhado continuamente na
tarefa de aumentar o conhecimento científico (Popper, 2003, p.325). Segundo
Popper nosso conhecimento não pode partir de uma “tabula rasa”, nem tão pouco
da pura observação. Por conseguinte, seu avanço consiste, predominantemente, na
modificação do conhecimento anterior.
Em última análise, o progresso científico, segundo Popper, ocorre de forma
cumulativa e progressiva com a escolha racional da teoria, que apresente maior
conteúdo de informação e maior força explanativa tendo resistido aos testes mais
rigorososo, sendo capaz de resolver os problemas não solucionados pela anterior e
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de propor novos problemas relevantes (Popper, 1973, p. 43-45).


Thomas Kuhn, por sua vez, distingue o progresso que ocorre no período da
ciência normal do progresso que ocorre pós ciência extraordinária que culmina
com as revoluções científicas.
Na ocasião da prática da ciência normal, Kuhn constata a existência de um
progresso contínuo e cumulativo, essencial ao empreendimento científico que leva
inevitavelmente ao reconhecimento do progresso das teorias vigentes.
Após o período extraordinário da ciência, admite um tipo diferente de
progresso, de natureza revolucionária, ao supor importantes descontinuidades
conceituais, que se dão por meio de revoluções. Estas mudanças revolucionárias
envolvem descobertas que não podem ser acomodadas ao paradigma anterior.
Assim, por exemplo, na transição da física aristotélica para a física newtoniana,
que conduziram à mudanças significativas das leis da física, o desenvolvimento
científico não se dá de maneira cumulativa (Kuhn, 2003, p.25). Como dissemos,
Kuhn argumenta que não se pode passar do antigo para o novo conhecimento
simplesmente por uma correção ou acréscimo ao que já era conhecido. Da mesma
forma não acredita que se pode descrever inteiramente o novo no vocabulário do
velho ou vice-versa. Assegura que os proponentes de paradigmas divergentes
praticam seus ofícios em mundos distintos, onde estes dois grupos diferentes de
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cientistas podem olhar para um mesmo ponto numa mesma direção e ver coisas
diferentes. Nesta acepção, uma nova teoria não é apenas incompatível como
também incomensurável com a anterior, deste modo a comunicação entre estes
dois grupos só pode ocorrer através da conversão por um dos grupos ao paradigma
do outro. A transição entre incomensuráveis, ou entre paradigmas divergentes,
segundo Kuhn, ocorre de maneira abrupta tal qual a mudança de forma visual
(gestalt), não podendo ser entendido como um processo evolutivo e gradual, tal
qual a prática da ciência normal.
O processo kuhniano de desenvolvimento científico, como vimos, rejeita a
idéia de evolução teleológica, orientada para um objetivo, “evolução-em-direção-
ao-que-queremos-saber”, e propõe substituí-la pela evolução a partir de um início
primitivo, “evolução-a-partir-do-que-sabemos” (Kuhn, 2006, pp. 215-216).
As opiniões de Popper são ainda mais dissoantes às de Kuhn no que diz
respeito ao processo de mudança científica. Em Popper a ciência se acha, de um
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modo básico e constante, potencialmente à beira da revolução, estado que


Willians chama de “Revolução permanente!”. Basta que uma refutação seja
suficientemente significativa para constituir uma revolução dessa ordem. Kuhn, de
forma diversa, sustenta que a maior parte do tempo do empreendimento científico
é dedicado ao exercício da ciência normal, assim sendo, uma revolução científica,
para Kuhn, é um episódio esporádico (Lakatos e Musgrave, 1979, p.60).

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