Você está na página 1de 7

A PROBLEMÁTICA DA MÃO-DE-OBRA ESTRANGEIRA NO BRASIL E SUAS

IMPLICAÇÕES

Maria Carolina Matias Morales

Toda a regulamentação existente em torno da contratação de mão de obra


estrangeira para trabalho em território nacional, visa única e exclusivamente a proteção do
trabalhador nacional.

A Coordenação-Geral de Imigração, adota uma linha tripartite – qualquer


proposta é sempre discutida entre Governo / Empregado / Empregador.

É de extrema importância que o empregador comprove ao Ministério do Trabalho


e Emprego a real necessidade de se contratar um estrangeiro, vez que a prioridade do Ministério
é a manutenção do emprego dos trabalhadores nacionais, que encontram-se, atualmente, em sua
quase maioria, cerca de 50%, na informalidade. O que significa quase metade de uma população
de trabalhadores sem acesso à previdência social, saúde, FGTS.

O tratamento dado aos expatriados fere o principio constitucional da igualdade e o


primeiro ponto em que percebemos isso é na diferença salarial percebida pelo estrangeiro.
Muitas vezes a justificativa dada sobre a discrepância dos salários é a “exigência” para a
concessão dos vistos.

É certo que ao Conselho de Imigração só interessa a vinda de profissional


estrangeiro que tenha a finalidade de transferir conhecimento acumulado ao trabalhador
nacional, desde que sua vinda seja essencial para a empresa, que o profissional seja altamente
qualificado e que o trabalhador estrangeiro venha por um período temporário, prorrogável uma
única vez por um mesmo período.
Os critérios que realmente devem ser levados em consideração para a concessão
do visto de trabalho do estrangeiro são a QUALIFICAÇÃO e a ESSENCIALIDADE DA MÃO
DE OBRA ESTRANGEIRA.

A concessão de visto para a entrada e permanência de um estrangeiro no Brasil


poderá ser de: i) trânsito; ii) turista; iii) temporário; iv) permanente; v) cortesia; vi) oficial; e vii)
diplomático. Dentre essas modalidades, o visto temporário é o que será utilizado em viagens de
negócios, e o visto permanente para aqueles que pretendam se fixar no território nacional.

O visto permanente será concedido por um período de um, dois ou no máximo


cinco anos e deverá obedecer exigências especiais da Coordenação-Geral de Imigração, órgão do
Ministério do Trabalho e Emprego, estabelecidas por resoluções. Os vistos por um ou dois anos,
serão concedidos aos expatriados com contrato de trabalho entre pessoa jurídica nacional e
estrangeiro regido pela CLT, acordos de cooperação internacional, assistência técnica, convênio
ou instrumento similar sem vínculo empregatício com pessoa jurídica nacional. Já o visto por um
período de cinco anos, será concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil exercer a função
de administrador, gerente, diretor ou executivo de sociedade comercial ou investidor, pessoa
física.

As resoluções dispõem os documentos do estrangeiro e da empresa que deverão


ser apresentados, mas poderá o Conselho Nacional de Imigração e o Ministério do Trabalho e
Emprego, solicitar outros documentos não listados. A política imigratória é ajustada por cada
país, dependendo do momento político que se vive. Daí as constantes mudanças dos critérios na
análise dos pedidos de regularização de mão-de-obra estrangeira no Brasil.

É importante ressaltar, a necessidade de a cada novo pedido de visto para um


estrangeiro, verificar-se as alterações das resoluções, tendo em vista que a concessão de vistos
permanentes para estrangeiros se ajusta aos parâmetros ditados pelas certezas e incertezas do
momento político/econômico vivido.
A estipulação de um salário mínimo para o estrangeiro, bem superior ao salário
mínimo vigente no país, é uma medida arbitrária utilizada pelo Ministério do Trabalho e
Emprego, para a concessão do visto. Defende o Ministério do Trabalho e Emprego que a alta
qualificação do profissional estrangeiro, implica em alta remuneração, pois acredita o Conselho
Nacional de Imigração que somente o profissional altamente remunerado é capaz de transferir
conhecimento acumulado.

Dentre os diversos requisitos que serão analisados quando for pedido um visto
permanente, certamente o que será minuciosamente analisado será o salário que o estrangeiro irá
receber, bem como sua forma de pagamento e os benefícios que poderão lhe ser concedidos. São
utilizadas as tabelas salariais européias para tomar por base os rendimentos que o Conselho
Nacional de Imigração entende devidos aos estrangeiros altamente qualificados.

Havendo recusa na concessão do visto, é possível o pedido de reconsideração, no


entanto deverá a empresa apresentar novos documentos e FATOS que comprovem a necessidade
de se trazer um estrangeiro ao país, sendo que é um risco muito grande para a empresa e para o
empregado, empregar o estrangeiro sem a autorização do Ministério do Trabalho e Emprego.

A maioria da mão de obra estrangeira utilizada pelo Brasil é originária dos USA,
Inglaterra e da Alemanha, um profissional altamente qualificado.

Diante da grande demanda de Vistos para Trabalho – obrigatório para o exercício


de atividade remunerada em território nacional, no decorrer dos últimos anos, a postura do
governo brasileiro vem se tornando mais rígida em relação à imigração, em todos os seus
aspectos.

É importante esclarecer que, a partir do ingresso em território brasileiro, todo


controle da vida do estrangeiro é feito pelo Ministério da Justiça, através de seus vários
departamentos. Assim, todo o histórico da permanência do estrangeiro é mantido nos arquivos
do Ministério da Justiça, que, quando do pedido de prorrogação ou transformação de visto, fará
toda a confrontação de dados e informações fornecidas pelos requerentes.

Daí a importância das informações prestadas pelos requerentes serem de total


transparência, a fim de afastar todo e qualquer indício de má-fé que possa ser apontado pelo
Ministério da Justiça.

Exemplo típico de falta de transparência de informações, é a mudança de


empregador não autorizada, ao Ministério da Justiça, o que implica em deportação do estrangeiro
por infração à Lei 6.815/80, Lei de Estrangeiros.

Nos processos de renovação de vistos são verificadas todas as condições de estada


do estrangeiro no país, portanto alerta-se para os seguintes itens:

- Redução Salarial: inadmissível pois o salário foi elemento fundamental de


análise para aprovação do Visto pelo Ministério do Trabalho e Emprego;
- O Contrato de Trabalho deve ser mantido nos arquivos da empresa
requerente, vez que a qualquer momento o Ministério da Justiça pode exigir sua
apresentação.

Os pedidos de prorrogação da estada no país para estrangeiro com visto de


trabalho por um, dois ou cinco anos, não se processam mais de forma automática, como em um
passado recente quando bastava um simples requerimento ao Ministério da Justiça por parte da
empresa contratante. Atualmente, o Ministério da Justiça analisa estes pedidos com absoluto
rigor, devendo a empresa requerente embasar sua solicitação com o maior número de provas
possível quanto à essencialidade da permanência do estrangeiro no país.
Caso exista extrema necessidade de extensão do período de permanência do
estrangeiro no Brasil, a empresa poderá requerer a transformação para visto permanente. Estes
pedidos devem ser muito bem detalhados, pois as transformações só serão concedidas em casos
realmente excepcionais. São elementos mínimos obrigatórios nos pedidos de prorrogação e
transformação:
- Qualificação da empresa;
- Qualificação do empregado;
- Justificativa da contratação: porquê este estrangeiro veio ao Brasil / o que
fez durante este período / demonstrar o trabalho que o estrangeiro desenvolveu
detalhadamente;
- Qual seria o prejuízo (em concreto) que a empresa sofreria se o estrangeiro
tivesse de regressar ao país de origem;
- Demonstrar a transferência de tecnologia ocorrida. (O principal elemento
da importação da mão-de-obra deve ser a transferência de “know-how” aos trabalhadores
nacionais – este elemento deve ser demonstrado ao Ministério da Justiça) .

Outro ponto que deve ser tratado com muito cuidado é a utilização inadequada
dos vistos de negócios e turismo por estrangeiros que venham ao país para o exercício de
atividade remunerada.

Esta prática, por falta de sistema de fiscalização eficaz da Delegacia da Polícia


Federal, vem sendo utilizada por muitas empresas nacionais e estrangeiras, que colocam no
mercado muitos estrangeiros trabalhando com Visto de Negócios ou Turismo.

A Polícia Federal solicita a colaboração das empresas no sentido de proibir o


trabalho através destas modalidades de visto em suas dependências.

O visto de negócios, em algumas situações, permite a assinatura de


documentos pelo estrangeiro – entretanto, os documentos assinados por quem detenha
visto de turista não tem valor legal. Assim todos os atos praticados pelo estrangeiro serão
nulos de pleno direito.

Quanto à hipótese, muito freqüente de técnicos que venham ao país apenas checar
trabalho, alerta-se que, tecnicamente trata-se de trabalho – depende de como o pedido é
formalizado.

A problemática da questão é que a distinção entre trabalho e negócios é muito


sutil, o que acaba dificultando o enquadramento pelo requerente.

Frisamos, a diferença muito grande e pouco observada também entre os visto de


PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS TÉCNICOS e ASSISTÊNCIA TÉCNICA, o primeiro visa a
prestação de serviços única e exclusivamente, sem ensinar nada aos trabalhadores brasileiros,
ligada a atividade fim da empresa. O segundo visa ensinar métodos para a execução de serviços,
é sem dúvida é o mais utilizado e necessita de uma avaliação do mercado internacional, o prazo
máximo concedido para esses vistos são de cinco anos, prorrogáveis por mais um único período
de mais cinco anos.

O Ministério do Trabalho e Emprego estabeleceu a seguinte gradação na ordem


das concessões dos Vistos:

♣ Visto Temporário de Trabalho – Item V: permanência por dois anos


(concedido mediante rigorosa avaliação de cumprimento dos atuais critérios)
♣ Prorrogação de Prazo Temporário – 02 anos – concedido em caráter
excepcional, desde que o requerimento esteja amplamente sustentado.
♣ Transformação para Permanente: concedida em casos
excepcionalíssimos (restritos a casos especiais).
A concessão dos vistos de trabalho para estrangeiros no Brasil, está sujeito a
restrições bem maiores de acordo com o momento político/econômico. Por sermos bons
anfitriões, o grande problema que enfrentamos é que após a concessão do visto de trabalho por
um período um ou dois anos, 90% dos estrangeiros requerem sua transformação em permanente,
não querem ir embora do País, então para se evitar a imigração desenfreada há a necessidade de
limitações, de forma a garantir emprego e oportunidade aos trabalhadores nacionais.

Os pedidos de vistos de trabalho para estrangeiros vem crescendo ano a ano, em


1993, 2.600 pedidos de visto de trabalho foram encaminhados ao Conselho de Imigração, já em
1997, com a estabilização do Plano Real a solicitação de vistos saltou para 14.000, em 2000
foram 17.000 pedidos e em 2001, 20.000 solicitações.*

Atualmente a análise de um processo leva em média 30 dias, entretanto alguns


necessitam ser corrigidos, por falta de documentos essenciais quando de sua apresentação, no
geral demoram no máximo 90 dias para serem deferidos ou indeferidos. Em cada processo será
analisado o currículo e a essencialidade do trabalhador estrangeiro, sendo que hoje cerca de
3.000 processos são analisados por mês.*

* Fonte: Coordenador Geral de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego em 2002, Sadi Assis Ribeiro Filho.

Você também pode gostar