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diálogo sociaL 2
A importância
da Justiça
na Democracia
Antônio Jorge Pereira Júnior
Sumário
1. A importância da Justiça na Democracia...........................................................20
Referências...............................................................................................................31
1.
A importância
da Justiça na
Democracia
1.1.
Duas acepções clinando-o a agir conforme a dignidade
de Justiça e sua humana. O ato de justiça se manifesta
como um ato livre, ou seja, de autodeter-
conexão com a minação ao bem.
A justiça é a virtude social por ex-
democracia celência. Por ela, cada pessoa respeita a
“Justiça” é termo equívoco, tendo diver- ordem da divisão dos bens entre os indi-
sas conotações. Vale examinar dois de- víduos, garantindo-lhes o gozo pacífico
les. Enquanto virtude, justiça é o hábito do que lhes pertence, sejam as coisas
de dar a cada pessoa o que lhe é devido. dispostas pela natureza ou repartidas
Uma predisposição da vontade que pau- mediante pactos condizentes com a dig-
ta a conduta e aperfeiçoa o seu autor, in- nidade humana.
Assim, quando uma pessoa contra-
ta com outra, se o acordo está dentro de
parâmetros razoáveis e conforme à digni-
dade humana, é justo que o compactua-
do seja cumprido. Esse procedimento de
respeito ao que cabe a cada um está na
base de todas as relações sociais, a partir
das quais surgem direitos e deveres.
Justiça natural
e lei positiva
Muitas vezes as divisões e atribui-
ções de deveres decorrem de situações
derivadas da natureza dos acontecimen-
tos. Por exemplo, é de justiça natural que
o pai ou mãe cuidem do filho; mas tam-
bém é justo por lei positiva, uma vez que
se fez constar assim do direito posto;
também é de justiça natural que o Esta-
do zele pelo bem comum, que igualmen-
te é prescrito pela lei. O direito positivo
torna mais fácil a realização daquilo que
é devido, na medida em que esclarece as
regras de convivência consideradas es-
senciais à viabilidade e sustentabilidade
da vida social.
2.
social que permeia inúmeros dispositi-
cazmente o que só a ela compete, porque
vos da Constituição de 1988: o princí- só ela o pode fazer: dirigir, vigiar, urgir e
pio da subsidiariedade. O conceito reprimir, conforme os casos e a neces-
foi propalado de modo especial sidade requeiram. Persuadam-se todos
os que governam: quanto mais perfeita
pela doutrina social católica e
pode ser lido na encíclica Quadra- Acesso à justiça e ordem hierárquica reinar entre as varias
agremiações, segundo este princípio da
gesimo anno, de Pio XI, de 1931 3.
O excesso de competências para o desenvolvimento função « supletiva » dos poderes públi-
cos, tanto maior influência e autoridade
Estado gera desequilíbrio nas contas e social terão estes, tanto mais feliz e lisonjeiro
será o estado da nação.” (PIO XI)
prestações estatais, com consequências A justiça é requisito do desenvolvi-
gravosas para a vida em sociedade. Aqui mento social. A injustiça, por sua vez,
se compreende de modo preclaro a má- quebra a coesão social e gera instabi-
xima da subsidiariedade: aquilo que os lidade, elementos necessários para o
indivíduos ou sociedades menores têm progresso. Assim, a justiça é elemento
aptidão para realizar por conta e inicia-
2.1.
minorias. É fato que nem sempre há bens
suficientes para todas as demandas.
Disso nasce o dever de a autoridade
avaliar com prudência a quem, como e
Três categorias de quando atender em face da escassez, e
saber lançar mão, quando oportuno, do
Justiça: Comutativa, conceito de “reserva do possível”, invo-
cado quando o magistrado precisa de-
Distributiva e Legal cidir uma lide em face de necessidades
O desenvolvimento social se consolida prementes e preterir interesses em ra-
quando as relações sociais fluem con- zão do conflito inconciliável entre tais.
forme a dignidade e a natureza social e Em razão da limitação de recursos,
individual do ser humano, em conformi- nem todos os interesses poderão ser
dade com o que é próprio de sua condi- igualmente contemplados ou aprecia-
ção. Nesse contexto, há três acepções dos na mesma medida.
clássicas para as relações de justiça se- É comum de ocorrer quando alguém
gundo as peculiaridades das situações pleiteia do ente federativo, por exemplo,
por elas criadas: justiça comutativa, jus- em nome do direito à saúde, medica-
tiça distributiva e justiça legal. mento cujo valor ultrapassa limites de
A Justiça Comutativa e a Justi- gastos previstos no orçamento público
ça Distributiva abrangem relações nas de Saúde da respectiva circunscrição,
quais importam algumas particularidades que contempla despesas com remédios de serviços, como o alistamento militar,
e subjetividade das partes envolvidas. variados para atender necessidades de a convocatória para atuar como jura-
Por isso se diz que são modalidades de grande contingente populacional. As- do no Tribunal do Júri, para ser mesário
“justiça particular”. Enquanto isso, há si- sim, ao determinar o magistrado que se nas eleições, etc. Pela Justiça legal, im-
tuações nas quais interessam menos as dê atenção e se direcionem recursos ao põem-se deveres aos cidadãos para a
especificidades das partes e há prepon- tratamento mais caro para atender de- manutenção do Estado e dos serviços
derância do ente estatal como sujeito na terminado interesse, pode ele gerar ris- estatais, em favor do bem comum.
relação. Neste sentido, as relações se co de deixar a descoberto maior grupo
destacam pelo dever dos cidadãos co- de cidadãos, que gozam igualmente do
direito à saúde. A insuficiência dos re-
A hermenêutica
laborarem com o Estado, para que este
possa agir em prol do bem comum. As cursos impõe, nesses casos, um duro e adequada a cada
relações que envolvem prestação do ci- difícil juízo. Portanto, a justiça distributiva categoria de Justiça
dadão perante o Estado estão classifica- deve ser aplicada com vistas ao que seja
das como de “Justiça legal”. possível, para atender a quem precisa, Nesse sentido, cabe compreen-
A “Justiça distributiva” é aquela na sem prejudicar, por isso, maiores contin- der que há critérios hermenêuticos em
qual o ente estatal deve, tal como sugere gentes populacionais. cada categoria de relação de justiça –
o termo, “distribuir” bens conforme uma Por Justiça legal, por fim, tem-se comutativa, distributiva e legal - de acor-
proporcionalidade razoável, orientada aquela de natureza geral, que impõe do com as particularidades das situações
pelas necessidades dos cidadãos, a par- deveres na relação dos cidadãos com o descritas, que também devem pautar a
tir do montante arrecadado pelo esforço Estado, permanecendo todos igualmen- atividade jurisdicional realizada em cada
colaborativo dos cidadãos, mormente te obrigados a colaborar, segundo pa- âmbito, conforme o contexto dos interes-
por meio de impostos, taxas e demais drões objetivos e comuns, em razão de ses particulares e públicos envolvidos nas
modalidades tributárias. incidência legal tributária. Mas também diversas circunstâncias, sob risco de se
O Estado deve primeiro atender às os deveres perante o Estado assumem provocar injustiça mediante interferência
demandas gerais e comuns de todos natureza diversa, mediante prestação antidemocrática.
3.1.
de participação popular que afetam a Conselho de Direitos da Criança e do
tarefa legislativa. Adolescente como mecanismo de par-
ticipação popular: análise de sua inci-
dência na implementação de políticas
Mecanismos de par- públicas. Dissertação de Mestrado. Uni-
Mecanismos de versidade de São Paulo: Escola de Artes,
ticipação popular no Ciências e Humanidades. Programa de
participação popular Mestrado em Análise de Políticas Públi-
Poder Judiciário cas. 2016.
no Poder Executivo Por fim, quanto ao Poder Judiciário, 8 “Acredita-se que as agências regula-
No que se refere ao Poder Executivo, sem doras representam um avanço na con-
há abertura para a participação, substi-
cretização da democracia participativa,
prejuízo de outras situações nas quais se tutiva, complementar ou auxiliar na ta- mesmo que não tenham ainda consegui-
pode identificar a ação do cidadão na refa jurisdicional, mediante a ação do do alcançar um nível desejável de parti-
conformação da vontade política do Es- cidadão no júri popular, na arbitragem, cipação efetiva”. RODRIGUES, Cristiana
Espírito Santo. Participação popular
tado, contam-se o voto nas eleições de na conciliação por juízes leigos, na me- no âmbito das agências reguladoras
prefeitos, governadores e presidente da diação junto a particulares, vinculado ou brasileiras. Dissertação de Mestrado.
República (CF, art. 14); a presença ativa e não a órgãos jurisdicionais e, ainda a par- Universidade de Fortaleza: Programa de
deliberativa de cidadãos nos conselhos 7 ticipação em audiência pública 11 ou na Pós-graduação em Direito Constitucio-
nal, 2011.
de natureza política em todas as esferas posição de amicus curiae.
de governo, bem como nas agências re- Mediante audiência pública no Ju-
guladoras 8; a presença intensa em con- diciário, oferece-se aos magistrados a
selhos de caráter administrativo, como o possibilidade de escutar a população ou
“conselho tutelar”, de âmbito municipal, a sociedade civil organizada para decidir
na área dos direitos da criança e do ado- sobre temas de relevante apelo social.
lescente; a participação em órgãos de De rigor, em qualquer esfera judicial se-
controle e direcionamento do orçamento ria possível realizarem-se escutas po-
público, etc. pulares. Mas o mais comum ainda são
audiências no âmbito do STF. Há quem
critique o modo como se tem empregado
essa ferramenta de participação popular,
pela restrição de convite a expertos que
4.
analíticas positivas e negativas da ação de participação popular característico
exorbitante do magistrado, que não deve de democracias que embora estrutu-
ser confundida com o caso de interpre- radas sob um regime representativo
possuam mecanismos de participação
tação por lacunas na lei. direita. Dentre os diversos instrumentos
Em geral, o ativismo decorre da apa-
Imparcialidade e
existentes, será apresentado e estuda-
rente ou real invasão em competência do do o veto popular previsto no artigo 59,
inciso V da Lei orgânica do município de
efetividade na pres- poder legislativo ou de outra esfera de
poder estatal. O caso da criminalização
Fortaleza/CE” Cf. ACIOLY FILHO, Evaldo
Ferreira. Análise do veto popular como
tação jurisdicional da homofobia pelo STF em 2019 é em- mecanismo de aperfeiçoamento da
Como se dizia, nos anos 1990 houve am- blemático 12. Todavia, dada a limitação democracia brasileira. Dissertação de
Mestrado. Universidade de Fortaleza:
plo debate sobre a “crise do Judiciário”, de espaço, não será aqui analisado.
Programa de Pós-Graduação em Direito
que redundou em uma “Reforma do Ju- Constitucional, 2019.
diciário”, por meio de alteração de legis-
lação processual, abertura para novos Os limites éticos do 11 Para melhor análise desse tema, suge-
re-se ler A participação popular nas au-
atores participarem das tarefas jurisdi- magistrado diências públicas judiciais: verdade ou
engodo?, de Robson Louzada Lopes.
cionais (arbitragem, juízes leigos, con-
Quanto aos limites éticos, a palavra Segundo o autor, seu trabalho “busca
ciliadores e mediadores) e a criação do estabelecer a importância de se concre-
de ordem é a “imparcialidade”. O magis-
Conselho Nacional de Justiça, por meio tizar a democracia e a cidadania, enquan-
trado não pode tomar partido em uma
de emenda constitucional. A ideia era to regime político e direito fundamental,
dada causa, que seria papel do advoga- junto ao poder judiciário, analisando
aprimorar a efetividade do Judiciário.
do. Isso não significa neutralidade, até centralmente se as aberturas operadas
Ao final de 2019, assiste-se à nova pelos tribunais por meio das audiências
porque deve ele assumir a vontade da
onda de reforma, desta vez para blindar públicas se constituem método eficaz ou
lei e os valores do sistema jurídico. Se o se trata de engodo. A linha de pesquisa
o sistema judiciário em face de estraté-
magistrado nota que sua isenção pode abarcada é denominada no programa de
gias procrastinatórias empreendidas por
correr risco por relação prévia com al- pós-graduação strictu sensu da Faculda-
réus que se aproveitam da amplitude re- de de Direito de Vitória como “Jurisdição
guma das partes, espera-se que ele se
cursal para ocupar o Judiciário até pres- constitucional e concretização dos direi-
afaste do juízo, declarando-se suspeito. tos e garantias fundamentais” e se resu-
crever a aplicação da lei penal antes de
Também a lei previu situações de impe- me em pesquisar “o papel da sociedade
se consumar a “coisa julgada”. e os caminhos não estritamente estatais
dimento, em que não seria necessário o
Outro desafio ou oportunidade de para a efetivação dos direitos fundamen-
magistrado declarar-se suspeito, porque
aprimoramento diz com a conduta do tais da população em geral”. As referên-
há um dispositivo legal que impede que cias completas de acesso estão ao final
magistrado na realização de sua tarefa.
ele atue, como acontece em casos nos desse texto.
Aqui entra o tema dos limites hermenêu-
quais haja um vínculo ostensivo dele
ticos e éticos do juiz.
com alguma das partes 13.
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