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Organização e Administração
Escolar
Curso básico
8ª edição (reproduz o texto da 5a edição de 1970)
Brasília-DF
Inep/MEC
2007
COORDENAÇÃO-GERAL DE LINHA EDITORIAL E PUBLICAÇÕES
Lia Scholze
EDITOR EXECUTIVO
Jair Santana Moraes
PROJETO GRÁFICO/CAPA
F. Secchin
DIAGRAMAÇÃO/ARTE-FINAL
Raphael Caron Freitas
TIRAGEM
1.000 exemplares
EDITORIA
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A Leda e Ruy,
Sumário 7
8 Organização e Administração Escolar
Prefácio
Prefácio 9
Fluminense; Lauro Esmanhoto, da Universidade Federal do Paraná; Irmão Faustino João,
da Faculdade de Filosofia Católica do Rio Grande do Sul; padre Theobaldo Frantz, da
Faculdade de Filosofia Cristo Rei, de São Leopoldo; Lireda Facó, da Universidade Federal
do Ceará; Maria Antonieta Bianchi, da Universidade Federal de Minas Gerais; Antônio
Gomes Moreira Júnior, da Universidade Federal do Pará, entre outros. Apesar de toda a
sua destacada atuação no âmbito da Administração Escolar, Lourenço Filho não esteve
entre esses sócios nem chegou a participar da vida dessa sociedade acadêmica, embora o
pensamento do autor e o livro que ora se reedita já constasse nas bibliografias de traba-
lhos apresentados no III Congresso da Anpae, realizado em 1966, em Salvador, Bahia.
Afastado das atividades do magistério e da administração escolar desde 1957, Lourenço
Filho passava a dedicar parte significativa de seu tempo a escrever, ou seja, a sistematizar
suas idéias a partir da reflexão sobre a prática de toda uma vida dedicada à docência e à
administração no campo da educação, o que, certamente, motivou sua ausência física na
referida entidade, sem prejuízo da presença de suas idéias e de seus trabalhos. Aliás, nos
Anais do III Congresso da Anpae, Lourenço Filho consta da relação de autoridades e
professores convidados.
Em 1961, Lourenço Filho publicaria Educação comparada, que já inclui
capítulos dedicados às questões relativas à organização e funcionamento dos sistemas de
ensino, posteriormente mais desenvolvidos em Organização e Administração Escolar.
Esses livros foram traduzidos para o espanhol, o primeiro publicado no México (1963) e
o segundo, na Argentina (1965).
Certamente, a longa experiência de Lourenço Filho em cargos administrati-
vos, em todos os escalões do sistema de ensino, desde a unidade escolar até os mais altos
do Ministério da Educação, seria sistematizada e consolidada para a construção das ba-
ses teóricas da Organização e Administração Escolar, apresentadas na obra em questão.
De fato, Lourenço Filho foi, desde muito jovem, professor e administrador.
Sua experiência foi de fundamental importância para que pudesse conhecer o processo
educativo e então, como administrador, exercer o papel de reformador educacional.
Diplomado em 1914, pela Escola Normal de Pirassununga, iniciou sua carreira como
professor primário já em 1915, aos 18 anos, e, logo a seguir, foi docente da Escola Normal
de São Paulo e da Escola Normal de Piracicaba; diretor geral da Instrução Pública do
Ceará em 1922 e 1923; professor da cadeira de Psicologia da Escola Normal de São Paulo
entre outubro de 1930 e novembro de 1931 e responsável por sua reorganização; diretor
do Instituto de Educação do Distrito Federal de 1932 a 1937, onde lecionou Psicologia
Educacional até 1938; membro do Conselho Nacional de Educação de 1937 até sua extinção
em 1961; organizador e primeiro diretor do Inep, de 1938 a 1946; vice-reitor e reitor em
exercício da UDF entre 1938 e 1939; professor de Psicologia Educacional da Faculdade
Nacional de Filosofia, a partir de 1939; presidente da Comissão Nacional do Ensino Pri-
mário, em 1941; fundador da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, do Inep, em 1944;
diretor do Departamento Nacional de Educação, por duas vezes, a primeira em 1937 e a
segunda entre janeiro de 1947 e janeiro de 1951; presidente da Comissão Nacional Execu-
tiva do Centro de Formação de Pessoal para Educação Fundamental da América Latina, no
México, em 1951; presidente de Instituto Brasileiro de Educação, Ciências e Cultura (Ibecc),
órgão brasileiro da Unesco, em 1952.
Ao deixar o ensino universitário e as atividades administrativas, em 1957,
Lourenço Filho continua a se dedicar à ampliação de sua vastíssima obra acadêmica,
muito cedo iniciada e desenvolvida principalmente no âmbito da Psicologia Educacional,
Prefácio 11
Desde a primeira edição, em 1963, o livro Organização e Administração Es-
colar apresentou-se dividido em duas partes. Na primeira parte, o Autor contempla os
princípios da organização e da administração escolar e suas bases, reunindo conceitos e
instrumentos de análise necessários à compreensão dos fatos de estruturação e de gestão
dos serviços escolares. Fazendo uma síntese desta parte, assim se manifesta o Autor no
Prefácio da 2ª edição:
Prefácio 13
Nota da 5a edição
Em abril de 1970.
Trecho de artigo publicado no Jornal do Brasil, em 13 de julho de 1963, registrando o aparecimento da primeira edição.
Nota da 5ª edição 15
Prefácio da 4a edição
Prefácio da 4ª edição 17
conveniente programação dos objetivos do ensino, dos mais indicados procedimentos
para alcançá-los, e o mais que para isso se exija.
Que esse plano seja fundamental não se poderá contestar. Contudo, se por muito
tempo pôde ele bastar ao trabalho das escolas, já agora não será assim. Outrora, às escolas
apenas se dava a tarefa de ministrar certos conhecimentos e pequenas técnicas, tidos como
indispensáveis ao desenvolvimento de crianças e jovens. Aos mestres não cabiam maiores
cuidados pela formação geral dos alunos, pois essa formação era satisfatoriamente propor-
cionada nas relações da família e da vizinhança, bem como nas igrejas, nos grupos de recre-
ação e de trabalho. Problemas relativos a atitudes, propósitos e valores, de especial interesse
no ajustamento social, não figuravam nos programas escolares.
Não se deve, porém, obscurecer que, ainda no domínio das preocupações
didáticas, tais problemas começaram a ser propostos, e, em especial, desde o começo deste
século,* tendo dado origem a um extenso e fecundo movimento de renovação pedagógica.
Surgiu por se haver observado certo enfraquecimento das funções educativas da família na
ocupação das horas de lazer de crianças e jovens, na orientação profissional, na preparação
cívica e religiosa. A princípio, tal situação se apresentava apenas em grandes cidades de
alguns países, mas estendeu-se depois a núcleos urbanos menores e em todas as nações
ocidentais. Os renovadores do ensino passaram por isso a defender a idéia de que à escola
caberia exercer maiores encargos, em substituição aos que a família estivesse perdendo.
Desse movimento, trata o autor em outra de suas obras, “Introdução ao estudo da
Escola Nova”. Nele se explicam as razões históricas, a contribuição de novos conhecimentos
da Biologia, da Psicologia e de investigações sociais em campos muito variados; descrevem-
se também vários experimentos didáticos, esparsos, ou já estruturados em mais completos
sistemas, condizentes com uma nova filosofia social, da qual decorreriam também novos
esquemas de organização e gestão das instituições escolares, em toda a sua extensão.
Esse movimento, que os educadores atuais não podem desconhecer, já por si
propunha uma reorganização geral dos serviços do ensino, chamados, como estavam, e
estão sendo, a preencher novos encargos em relação à vida coletiva. Mas, para que esse
ponto bem se aclare, certas realidades do processo educacional, ou cultural, teriam de ser
mais a fundo revistas e reinterpretadas.
Tais realidades são no presente livro descritas para fundamentação de uma
nova Organização e Administração Escolar.
Procura-se aqui explicar, por exemplo, que as escolas, desde suas origens,
terão refletido desejos e aspirações comuns a vários grupos com interesse na formação
das novas gerações. Corporificaram-se elas em expectativas sociais mais claras, relativas
a diversas fases do desenvolvimento individual, dando origem aos graus de ensino. Ainda
depois, institucionalizadas por ação política crescente, levariam as escolas a adotar mais
rigorosa regulamentação, na forma em que hoje as podemos conhecer.
Desde sua instauração, na verdade, as escolas, em seu conjunto, constituíram
uma organização de fato, a qual mais tarde veio a receber padrões formais de estrutura e
Prefácio da 4ª edição 19
Desde que o desenvolvimento se instaure, em apreciável ritmo, observa-se
deslocamento de grupos da população dantes ocupados no setor primário da produção
(agricultura, pecuária, mineração), para as atividades do setor secundário (manufaturas e
fábricas); e, assim também, de grupos que são impelidos para o setor terciário (serviços
comerciais, de transportes, administração pública e privada, de segurança, distribuição
de justiça, defesa e preservação da saúde, do próprio ensino). Os aspectos mais visíveis
centralizam-se, porém, na industrialização.
Um deles consiste na maior oferta de empregos nas cidades, nas quais
normalmente se polariza a instalação de oficinas e fábricas. Num primeiro momento, o
recrutamento dos trabalhadores se faz de qualquer modo, ou sem maiores exigências de
seleção. Logo, porém, critérios menos incertos se estabelecem, relacionados com os de
instrução escolar. As expectativas em relação às escolas mostram-se então a elas favoráveis.
Qualquer que seja o seu trabalho, há rápido crescimento do número de alunos.
Logo, porém, mais severo juízo em relação à qualidade do ensino, ou de sua
maior correspondência com as necessidades reais do trabalho, vem a existir. Isso passa a
ter influência no trabalho direto dos mestres, o qual, para que melhor se ordene, vem a
exigir novos moldes de estruturação e gestão dos serviços escolares. Problemas antigos
vêm a destacar-se, e outros novos, a propor-se.
Entre esses, passam a figurar questões de vulto, como as de planejamento
regional e nacional dos serviços escolares, a exigirem o concurso de especialistas diver-
sos, os de demografia e economia, entre outros. Será preciso prever a mais longo termo,
melhor articular os graus de ensino, diferenciar os cursos, em especial os de grau médio.
Cumpre ao autor renovar seus agradecimentos a todos quantos sobre este seu
trabalho se têm manifestado, e, de modo especial, ao professor dr. Mark Hanson, da
Graduate School of Education, da Harvard University, Estados Unidos, o qual opina pela
conveniência de que se faça a tradução desta obra em inglês. Como o ilustre especialista
tem dado grande atenção a estudos sobre educação e desenvolvimento, essa opinião é, na
verdade, muito desvanecedora.
Prefácio da 4ª edição 21
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Lourenço Filho, diretor geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo – 1930.
Capítulo 1
As realidades da organização
e administração escolar e os diferentes
aspectos de seu estudo
[ a) O adjetivo “escolar”
Questões tão diversas, por sua natureza e elementos, poderão receber elaboração
conceitual, geral e comum, que a toda matéria imponha formulação orgânica e coerente?...
Eis aí uma nova dificuldade, que também poderá perturbar os principiantes.
Não será esse título comum, Organização e Administração Escolar, puramente conven-
cional, ou arbitrário, segundo a posição de cada autor que, de umas ou outras dessas
questões, venha a ocupar-se?...
Para que essa dificuldade como as demais se afastem, convirá esclarecer a
natureza dos fatos e situações que se devam entender como realidades da Organização e
Administração Escolar. Em outros termos, deve-se aqui perguntar: “Como distinguir e
classificar tais realidades a fim de que todas permitam elaboração conceitual coerente,
para vantagem em compreender-se a estruturação e a condução de serviços escolares, já
existentes, ou de serviços que se tenham de implantar?...”
Nas escolas e, portanto, nos moldes de sua estrutura e formas de gestão, assim queiramos
ou não, representa-se um contexto cultural, no qual se refletem condições ecológicas,
econômicas, lingüísticas, políticas, religiosas, estéticas, morais. A vida escolar de um
lugar qualquer e em qualquer tempo não resulta, em seu conjunto, do arbítrio de mestres
e administradores, nem das intenções particulares de cada aluno, nem das leis e
regulamentos existentes. A razão, fácil de compreender-se, é esta: tudo isso assenta numa
base comum, muito mais larga e profunda.1
1
Ver Introdução ao estudo da Escola Nova e Educação comparada, em que o Autor largamente examina o processo
educacional como realidade social. Cf. Havighurst e Neugarten (1957) e Durkheim (1955).
2
O mesmo se passa em relação aos demais domínios do estudo social. Há a história do direito, das instituições econômicas,
da arte, etc., que não se confundem com a Sociologia Jurídica, a Economia Social, a Sociologia da Arte, etc.
A segunda perspectiva nessa primeira se apóia, sem que com ela deva ser
confundida. Ao invés da filiação das instituições escolares na continuidade temporal,
que conduz a um tratamento predominantemente descritivo, estabelece-se a pesquisa
das razões da articulação geral ou dos fatores determinantes da existência das institui-
ções escolares, na forma de sistemas de ensino de cada povo ou de cada nação, numa
dada época. Mediante confronto entre condições e resultados, em diversos meios,
caracterizam-se variáveis, e retiram-se inferências de ordem geral.
Fatos e situações de estrutura e gestão dos serviços do ensino a tudo isso
interessam, representando mesmo a base geral para importantes indagações. Não consti-
tuem, contudo, ainda e também, o objeto das preocupações diretas dos organizadores e
administradores escolares. O que fazem é dar corpo a investigações de um ramo da análise
do processo educacional, ramo que tem o título de Educação Comparada.
Servem-se elas da legislação geral de cada país, bem como da legislação
específica de ensino, dos dados numéricos sobre o movimento das escolas em seus vários
graus e ramos, e, assim também, de subsídios da História, da Economia, da Política, da
Sociologia e da Filosofia da Educação. Representam grande domínio de estudos
interdisciplinares que não se identificam, porém, com os da Organização e Administração
Escolar como tal considerada (Lourenço Filho, 1965).
Quer dos estudos históricos, quer dos de feição comparativa, certo ponto
comum vem a ressaltar com referência aos serviços escolares em sua composição e
funções. É este: as escolas se constituem, desenvolvem-se e operam no pressuposto
da realização de objetivos determinados, o pressuposto de que produzam alguma coi-
sa, tida por certos grupos e classes, ou por certo consenso da vida coletiva em geral,
como útil, justa e necessária. Nem por outra forma se entenderia a existência, por
toda parte, das instituições de ensino na forma de amplos, complexos e custosos
empreendimentos.
Esses objetivos perderiam seu sentido prático se não estivessem apoiados
numa estruturação que, de modo satisfatório, os pudesse atender, e, com isso, numa
gestão de serviços que a tal estrutura mantivesse em razoável nível de eficiência. Para
que alcancem resultados que não sejam meras concepções de fantasia, têm as escolas
de empregar, portanto, meios hábeis, ou instrumentação adequada, com recursos
materiais e pessoais, regulados de modo racional em seu funcionamento. É isso que
permite pensar no planejamento de seu trabalho, na coordenação de tais elementos e
recursos, numa execução de tarefas que se aprimore pela experiência, e cujo
rendimento possa ser, enfim, ava-liado mediante critérios objetivos, de maior sentido
técnico.
[ c) Perspectiva de eficiência
[ a) Ação metódica
3
Autores há que pretendem separar de modo cabal a perspectiva “finalista” da “de eficiência”, como Mosher e Cimmino
(1950), sem que apresentem, no entanto, razões suficientes para isso.
[ b) Organização e Administração
[ Organizar e administrar
Órgão, na origem, significa instrumento. Em sentido amplo, organizar será
instrumentar, aparelhar, combinar ou dispor elementos, a fim de que algo bem funcione.
Na História Natural, falamos de corpos organizados e não-organizados, segundo a com-
posição ou estrutura em que um dia tenham funcionado, ou que funcionem. Na Biologia,
em particular, entendemos a organização como processo básico que, nos mais diversos
seres vivos, organismos, tem expressão, revelando-se em sua origem, crescimento,
diferenciação e afirmação autônoma.
4
Estas noções, fundamentais na matéria, serão por todo este volume desenvolvidas.
5
Cf. Gulick e Urwick (1937). Para visão prática das duas correntes primeiramente referidas podem ser vistos Dutton (1931)
e Tead (1951), que aqui se citam, em especial, por se encontrarem traduzidos em português.
[ a) A classe
[ b) Conjuntos e subconjuntos
Um grupo de escolas, qualquer que seja o seu tipo, poderá ser visto como um
novo e mais complexo conjunto. As escolas serão então suas partes, ou subconjuntos,
daquele agregado mais amplo. A mesma diferenciação das funções de organização e ad-
ministração aparecerá, deslocando a responsabilidade de muitas delas para outras pessoas,
além do diretor da escola.
Isso poderá ser observado num agrupamento de escolas, públicas ou
particulares, que entre si se articulem, tendo em vista certos objetivos gerais de trabalho,
que as levará a atender a determinadas linhas de coordenação geral.
No caso dos sistemas públicos, normalmente essas linhas se estendem por
áreas geográficas, chamadas distritos ou circunscrições de ensino. Nesses conjuntos, uni-
dades complexas poderão existir com linhas de coordenação diferenciadas, de um lado
para as instituições mantidas pelos poderes públicos, e, de outro, para as instituições
criadas e mantidas pela iniciativa particular. Ainda nessa hipótese, os distritos ou cir-
cunscrições normalmente se inserem em estruturas ainda mais extensas do ponto de
vista geográfico, na forma de sistemas regionais ou nacionais de ensino.
Formas definidas de organização e administração continuarão a existir em
todos esses conjuntos, ou unidades complexas, que uma dada estruturação geral
constituam. Segundo a visão dessas formas, cada unidade ao mesmo tempo poderá ser
compreendida como conjunto, ou como subconjunto. Em qualquer caso, professor, dire-
tor, inspetor e chefes de serviços gerais de orientação, manutenção e controle, tanto
exercerão funções práticas de organização como de administração.
Com freqüência assim não o entendem, exceto, os profissionais do ensino.
Se perguntarmos a um professor se ele administra a sua classe, ou se participa da
administração do conjunto em que trabalhe, será quase certo ouvirmos resposta negati-
va. Ele dirá que organiza a sua classe, não que a administra. É que, de seu trabalho
criador, elimina o que lhe pareça pertencer a esse último aspecto. Como organização ele
sentirá o preparo das lições, sua execução, o contato direto com os discípulos, tudo
enfim em que mais diretamente ponha alguma coisa de sua própria criação. “Adminis-
tração” serão as exigências do diretor ou do inspetor, “coisas afinal bastante aborrecidas”.
Também freqüentemente diretores e inspetores dirão que não imprimem à
organização de sua escola ou de seu distrito maior eficiência, como o desejariam, em virtu-
de de exigências “administrativas”. Ainda em escalões mais altos, em órgãos usualmente
chamados “técnicos”, muitas vezes essas queixas se repetem, dirigidas contra outros ór-
gãos, pejorativamente apelidados de “meramente administrativos”. Havemos de ver, a seu
tempo, os motivos dessa distorção de conceitos, até certo ponto justificada, na prática.
O que por ora convirá mostrar é que há conjuntos que se inserem uns nos
outros, e que assim determinam diferentes escalas na estruturação e gestão dos serviços
do ensino, pelo que estabelecem uma gradação a ser funcionalmente apreciada.
Em termos de descrição empírica, essa gradação assim se apresenta:
1) Classe de ensino – unidade básica, ou conjunto de 1º nível, pelo trabalho
cooperativo de um mestre e um grupo de alunos; no mestre confluem fun-
ções de organização e administração; no regime comum das escolas chama-
das isoladas, singulares ou nucleares, o mestre responde pela quase totali-
dade delas, o que já não ocorrerá nas escolas com ensino graduado;
2) Escola graduada – unidade complexa, ou conjunto de 2º nível, que se re-
presenta pela coexistência de várias classes, cada qual com um mestre,
num só estabelecimento; as responsabilidades de gestão, já diferenciadas,
criam a figura do diretor e de auxiliares da administração;
3) Rede de escolas – as quais tanto podem ser isoladas ou graduadas, e de um
só grau de ensino ou de todos. Assim se entendem conjuntos mais amplos,
que podem ser constituídos de estabelecimentos públicos ou particulares,
ou de ambas as espécies. Os nomes distrito, circunscrição ou círculo escolar
são aplicados a redes de escolas em área geográfica delimitada; referem-se
não apenas a uma organização de fato, mas formal, com características pró-
prias; essa organização poderá incluir escolas de vários tipos, umas e outras
diversamente relacionadas com certos órgãos gerais de chefia e controle;
4) Sistema local de ensino – compreensivo de vários distritos ou
circunscrições; poderá incluir estabelecimentos subordinados a certos ór-
gãos de direção e administração oficial, bem como órgãos coletivos de
representação popular, para efeitos consultivos ou deliberativos;
5) Sistema regional de ensino – de constituição similar à dos sistemas locais,
mais ampla e desses abrangentes, caracteriza-se antes de tudo por base
geográfica mais extensa, e serviços unificados de gestão, mais complexos;
6) Sistema nacional de ensino – normalmente conterá subsistemas regionais,
com modalidades variáveis, quanto aos esquemas de organização e
administração, tais sejam os princípios derivados da divisão político-
administrativa de cada país, sua filosofia social, e tendências gerais da vida
econômica, como de certas tradições culturais.
É possível estudar cada um desses conjuntos de per si, como unidades que
se caracterizem por objetivos mais ou menos delimitados, e pelas atividades que de-
vam exercer, admitindo-se maior ou menor apoio recíproco. O modo de raciocinar é,
então, o seguinte: “Mantendo-se tudo mais nas condições previstas, as coisas neste
conjunto limitado dever-se-ão passar, precisamente, nesta ou naquela forma, não em
outra”. Ou, mais resumidamente: “se... então”.
É possível estudá-los também em suas recíprocas relações, admitindo-se cada
conjunto como unidade definida, ao mesmo tempo que subconjunto de estrutura mais
ampla que se lhe siga e, assim, sucessivamente.
Ainda, sob feição teórica, poderão ser analisadas não só as relações estruturais
que nos levem a admitir a inserção de uns conjuntos em outros, até a maior família deles,
[ d) Setor
Nesse caso, não é a escala das realidades a estudar que diretamente importará,
mas certo setor, segundo o qual diferentes unidades de estudo se articulem entre si, agindo
e reagindo sobre as demais. Aspectos particularizados dos serviços poderão ser assim
tratados com relação a todos os tipos de escolas, quaisquer que sejam os graus e ramos em
que o ensino se apresente. Mas poderão também ser tratados para escolas de um só grau,
ou de um só ramo didático; ou, então, para aspectos particulares que exijam análise técni-
ca especial. Será o caso de um serviço de inspeção, unidade de função intermediária; ou
o de formação de professorado, unidade de função convergente.
É isso que dá motivo à pluralidade de ramos especializados com que a matéria
se apresenta em muitos textos. É comum tratar, de forma sistemática, como se vê em toda
uma vasta literatura nas mais diversas línguas, de questões de Organização e Administração
de um só grau de ensino: o primário, o médio, o superior. É também comum que se cuide
de um só e único problema, ou de um grupo de problemas afins, com relação a todos os
tipos de ensino, num mesmo grau, ou mesmo em dois, ou em todos. Dão eles matéria a
setores particularizados de estudo.7
Indagações sistemáticas de tal natureza tendem a estabelecer métodos gerais
de Organização e Administração aplicados a determinados problemas. Explicitamente
referem conceitos, enumeram elementos, recursos e condições. Terão maior sentido quan-
do logo indiquem, de modo preciso, os pontos de vista da análise das realidades de que
tratem e os instrumentos pelos quais essas mesmas realidades tenham sido
operacionalmente definidas. O que contenham poderá ser, então, utilmente aplicado.
[ e) Eficiência
7
É neste caso que se fala também de administração de pessoal, de material, de serviços auxiliares; ou, ainda, de administra-
ção de professores, administração de alunos, administração de edifícios, etc., como adiante se verá.
[ Síntese do capítulo
1 Pelo trabalho que realizam, as escolas não se acham desligadas umas das outras. Todas
têm funções comuns, que são antes de tudo as de favorecer o desenvolvimento indivi-
dual dos alunos. Mas esse desenvolvimento não se dá no vazio; dá-se num ambiente
social para que os alunos nele melhor se ajustem. Em termos práticos, as escolas existem
para atender ao que, das crianças e jovens, desejem e esperem as famílias, centros de
trabalho, instituições políticas, organizações cívicas e religiosas. O trabalho das esco-
las não compreende todo o processo educacional, mas apenas a parte dele que se
institucionaliza, quer dizer, a que se torna mais deliberada, gradual e sistemática.
4 Organizar, no sentido comum do termo, é bem dispor elementos (coisas e pessoas), dentro
de condições operativas (modos de fazer), que conduzam a fins determinados. Administrar
6 É fácil entender que esse estudo seja praticado em várias escalas de descrição; em
setores delimitados, quando isso convenha a fins práticos, como os do ensino em cada
nível, o primário, o médio, o superior; ou em planos que compreendam questões
comuns aos vários setores; é o que se dá em projetos de distribuição geral de recursos,
de articulação de programas de ensino, de construções e equipamento, ou de critérios
para controle geral. Isso explica a existência de ramos especiais da matéria, ainda que
todos tenham de utilizar os mesmos conceitos básicos, instrumentos de análise
similares e modelos de descrição e explicação, que bem se articulem entre si.
7 O fato de existirem ramos especiais pode levar os iniciantes a uma visão fragmentária
ou à incompreensão da unidade geral da matéria. Será, porém, evitada essa dificulda-
de, quando os estudantes partam de noções básicas que fundamentem uma concepção
integral, tal como neste volume se faz. Para isso, convirá o exame prévio das teorias
gerais de Organização e Administração, aplicáveis a quaisquer empreendimentos, sem
exclusão, portanto, daqueles que os serviços escolares formem. O capítulo a seguir
trata dessas teorias.
[ As teorias clássicas
Nas teorias clássicas, duas tendências se distinguem no desenvolvimento de
idéias intuitivas, até então existentes sobre a matéria.
Uma salienta a importância da divisão de tarefas, mediante observação das
atividades físicas dos trabalhadores, o que facilmente se compreende por haver surgido
em oficinas não ainda altamente mecanizadas. Outra põe em relevo as vantagens de maior
discriminação entre os problemas de execução direta dos serviços e os de sua coordenação,
mediante órgãos de gestão especializados. É o que, na técnica corrente, se tem chamado
de departamentalização, no sentido de especialização por setores.
[ a) Taylor
1
A conceituação de metodologia para os estudos de organização e administração escolar não exclui a investigação de
situações cíclicas ou de relações funcionais entre os fatos. Qualquer que seja, uma metodologia pode apresentar-se mais
ou menos racionalmente elaborada supondo sempre um modelo, ou construção teórica.
2
Descrição minuciosa do taylorismo encontra-se em Walther (1958).
Planning Planejar
Organizing Organizar, no sentido restrito de instrumentar
Staffing Selecionar, recrutar e bem dispor o pessoal
Directing Dirigir ou comandar
Coordinating Coordenar ou articular as diferentes partes
do trabalho
Reporting Relatar ou informar
Budgeting Tudo conferir, em função do financiamento
da empresa e dos benefícios
[ As teorias novas
Nas teorias chamadas clássicas, o pressuposto fundamental é o poder
motivador que uma estrutura formal por si mesma imponha a uma organização de fato.
Explícita ou implicitamente, essas teorias admitem que certas formas de especialização e
coordenação, racionalmente reguladas, acabam por oferecer um sistema de estímulos
suficientes e satisfatórios para que um empreendimento qualquer se articule e preencha
seus objetivos. As pessoas que deles participem são consideradas peças abstratas. O con-
ceito de rendimento ainda aí, de algum modo, se associa à idéia de produção mecânica.
É certo que, quando atentamente lemos os textos dos teoristas citados, mesmo os
de Taylor, verificamos que a transformação de tal idéia já nesses trabalhos se prenuncia, no
realce dado às organizações de trabalho como grupos sociais e humanos. Contudo, só em
teorias mais recentes é que essas questões claramente vieram a ser propostas e analisadas.
Seus autores não afirmam que as concepções clássicas sejam errôneas ou
inúteis. O que fazem é notar que são incompletas, porquanto não levam em conta de
forma explícita o fato de que as decisões, numa organização qualquer, não se apresentam
apenas no topo ou em certos escalões da hierarquia formal que se lhes imponha. Ao
contrário, dão-se em todos os níveis, e ainda na pessoa de cada trabalhador, em particular,
o que será necessário considerar.
[ b) Burocracia
Sob certos aspectos gerais, haverá ainda alguma coisa a considerar, de grande
importância. Um sistema hierárquico a que se dê simples índole formal pode criar uma
tendência para decisões estereotipadas, de caráter rígido e impessoal, com eliminação da
responsabilidade de seus agentes, com o que se prejudicam as finalidades da organiza-
ção. É a esse efeito, ou conjunto de efeitos, que se dá o nome pejorativo de burocracia,
gerado na observação deles nos serviços públicos, mas também ocorrentes em
empreendimentos particulares (cf. Lepawsky, 1960 – contém capítulo sobre a matéria).
Será preciso distinguir, porém, entre essa acepção que o nome tomou, e outra,
que investigadores sociais puseram em relevo, abrangente não apenas dos defeitos, mas
das vantagens de uma organização desse tipo.
O precursor desses estudos não foi um especialista em organização, mas o
sociólogo e filósofo alemão Max Weber. Seu mérito consistiu em lançar as bases de um
estudo objetivo da burocracia como forma social genérica que no Ocidente se contrapôs
ao feudalismo e modos derivados. Na burocracia, como sistema social, Weber viu o exem-
plo mais característico da possibilidade de racionalizar as relações humanas. Em sua
terminologia, os conceitos de burocracia e organização eficiente tornaram-se quase sinô-
nimos, em contraste com o uso mais comum de tais expressões (cf. Gerth, Mills, 1946).
No entanto, em qualquer das acepções, a hierarquização rígida e a centraliza-
ção das decisões produzem efeitos que interferem nos fatos e situações da organização,
sobretudo porque tornam ineficientes certas reações decisórias, em diversos planos. A
razão é simples. As decisões se estereotipam, estando como que preparadas de antemão
para casos abstratos. Há fórmulas esquemáticas de respostas que perdem grande parte de
seu valor funcional, senão mesmo todo ele, entravando os propósitos reais do trabalho.
Isso acontece porque o sistema burocrático passa a considerar um conjunto
de relações entre postos hierárquicos despersonalizados (o que é típico na administração
em linha), e não entre pessoas vivas com os seus naturais interesses e conflitos, nem
sempre passíveis de formulação racional, que permita elaboração axiomática, como
expressão a mais perfeita de eficiência mecânica.
As teorias novas tomam como ponto de partida a impropriedade de
formulações teóricas desse gênero. Pretendem que as concepções clássicas não consideram
a satisfação individual no trabalho, aspecto para o qual será necessário analisar as
[ c) Os modelos recentes
O controle central (de uma organização) vem cada vez mais significando a correlação de
muitos controles, e não de um controle sobreposto. (...) A atividade do chefe principal
num empreendimento qualquer bem administrado não é a de uma autoridade arbitrária
imposta de cima, mas a conjugação de muitas autoridades, situadas em diversos pontos
da organização. (...) Duas pessoas são senhoras de si próprias no limite da capacidade
que tenham de se constituírem numa só pessoa. Um grupo será sobre si mesmo soberano
na medida em que, constitua-se de poucos ou de muitos indivíduos, seja capaz de constituir
uma unidade. Um Estado somente é soberano quando tem o poder de criar uma unidade
na qual todas as demais acabem por ser contidas.
3
Na bibliografia norte-americana, esta obra marca o início de uma nova fase na Administração Escolar.
4
Doze anos antes que Sears tivesse aplicado a teoria de Fayol à Administração Escolar, um educador brasileiro já o
experimentara fazer, como se vê da tese Fayolismo na administração das escolas públicas, publicada pelo professor J.
Querino Ribeiro, em 1938. Da importância desse trabalho em nossa bibliografia pedagógica, faremos referência no capítulo
12, que trata do “Estudo e ensino da Organização e Administração Escolar no Brasil”.
[ Estudos especiais
Estudos especiais, constantes de publicações recentes, reafirmam essa conclusão.
A questão da peculiaridade dos fatos e situações dos serviços escolares é posta
em relevo em diversos estudos de Roald Campbell (1960). Com apoio em pesquisas
anteriormente realizadas por outros especialistas, destaca esse autor os seguintes pontos:
Cada uma dessas circunstâncias, e todas, em conjunto, não são elementos que se
possam somar. Na verdade, representam elementos integrados de uma configuração. Isso não
significa que não devam ser praticamente consideradas nos esforços da melhoria de organiza-
ção e administração. Podem e devem. Os três primeiros, na ordem em que aqui os resumi-
mos, Campbell classifica-os como de natureza propriamente técnica, ou de sentido instru-
mental. O seguinte participa desse caráter e dos problemas propriamente administrativos.
Mas, de qualquer modo, o administrador que não esteja suficientemente cuidando do aperfei-
çoamento integral dos mestres em serviço estará trabalhando contra si mesmo. Os últimos
pontos referidos serão, enfim, de nível institucional, decorrentes de uma filosofia social, ou
das situações da vida existentes em cada comunidade (Campbell, 1960).
Por sua vez, Hanlon (1961), procurando analisar os problemas específicos das
decisões administrativas, não só nos serviços escolares, mas em qualquer empreendimen-
to, insiste nessas conclusões. O direito de firmar decisões envolve a obrigação correlata de
outros em subordinar-se a elas e, para que isso se consiga, nas melhores condições, será
necessário que se distinga entre o exercício da autoridade, pura e simples, e o poder que se
justifique pela necessidade de coesão de cada grupo, pelo reconhecimento de líderes desse
grupo. Seu trabalho merece atenção especial porquanto, ao contrário do que faz a maioria
dos estudiosos da matéria em seu país, ele rejeita o conceito de uma administração mal
definida, e que se tende a qualificar, sem maior especificação, como democrática.
Para esclarecimento de seu pensamento, Hanlon destaca nas funções do
administrador atividades de três tipos: de direção, ou propriamente de comando, em que o
correlativo de subordinação não pode ser negada; de coordenação, em que a fusão de vonta-
des, por persuasão, se faz necessária; e, enfim, de co-participação, em que a iniciativa e a
responsabilidade pessoal serão sempre desejáveis, razão pela qual devem ser estimuladas.5
5
Ao assunto da administração com caráter democrático, ou não, voltaremos adiante, em vários pontos.
7
Este assunto será especialmente apreciado nos capítulos 7 e 8.
[ Síntese do capítulo
1 Dá-se o nome de teoria a uma série ordenada de generalizações, que procure explicar
fatos e situações entre si relacionados. Por definição, a teoria é uma construção abstra-
ta, que fornece um modelo simplificado da realidade a que se reporte. Essa é a razão
por que os dois nomes, teoria e modelo, são freqüentemente usados como sinônimos.
Ainda que tenham apresentação abstrata, as teorias desempenham incontestável fun-
ção prática. Permitem uma visão de síntese, que leva a compreender relações de
dependência entre os fatos que nos interessem em situações concretas.
5 Não rejeitando essa análise clássica, as teorias novas procuram completá-la com uma
visão funcional dos elementos pessoais, ou humanos, ressaltando a influência que nas
pessoas exerçam as condições formais de estruturação dos empreendimentos. Nas
teorias clássicas, havia a intenção de descrever o processo administrativo formal, ao
passo que, nas teorias novas, dá-se também atenção especial à motivação para o trabalho,
nos indivíduos e grupos que formem.
6 Não ainda completamente elaboradas, as teorias novas põem em relevo certas distorções
do treinamento em serviço, das técnicas de controle e das relações de poder, isto é, do
exercício da autoridade, consideradas as posições formais dos administradores e as con-
dições naturais de liderança. É evidente que tudo isso interessa muito de perto à estruturação
e gestão dos serviços escolares, porquanto os fatos e situações neles existentes são de
natureza e alcance educativos ou, afinal, da mesma natureza que os de formação humana.
[ a) Bens materiais
[ b) Serviços
[ As situações concretas
As situações concretas que os administradores escolares defrontam, deles
reclamando ação mais ou menos pronta, não diferem das situações que os administradores
de quaisquer outros empreendimentos encontram, atendido, é claro, o caráter próprio,
ou a feição distintiva já anteriormente ressaltada. Sobre elas existe, porém, certa feição
geral por onde devemos começar.
[ a) Conjuntura e problemática
3
Sobre o conceito de situação problemática, ver a última parte de Introdução ao estudo da Escola Nova (Lourenço Filho,
1967).
[ Planejar, programar
Atividades intencionais supõem, antes de tudo, plano, projeto ou programa.
Essas três palavras participam todas de uma conceituação dinâmica, de ação projetada no
futuro. Todas incluem previsão, idéia de um resultado a ser obtido com o emprego de
procedimentos racionais.
Assim, planejar, projetar e programar, empregam-se correntemente como termos
sinônimos.
Projetar, em sentido próprio, é atirar à distância, lançar longe. Por extensão,
define um intento caracterizado por alvos ou metas.
Planejar, ou planear, significa figurar por meios simbólicos as diferentes
posições e proporções das partes de alguma coisa que se queira construir ou que, já
construída, se tenha de descrever: o plano de um edifício, de uma cidade, de um livro.
Por extensão, prefigura algo que se pretenda executar passo a passo, mediante ação
disciplinada ou metodizada.
Programar ou programatizar, (no sentido etimológico, “escrever antes”), sugere
as minúcias daquilo que ordenadamente se deva fazer: o programa de uma cerimônia, de
uma festa, de um curso.
Autores há que subordinam a idéia de plano à de projeto, e a de programa à de
plano. Outros entendem que o verbo planificar, (traçar ou desenhar num só plano, ou em
vários deles, combinadamente), pode ser tomado como palavra que a tudo isso possa
abranger. A planificação subentenderia, portanto, um projeto inicial, um delineamento
4
As questões do planejamento integral, como veremos, relacionam-se hoje com os mais delicados problemas das atividades
governamentais.
[ Dirigir, coordenar
O planejamento ou programação, na forma exposta, pressupõe a existência de
um poder que continuadamente decida, dirimindo as situações problemáticas que se
apresentem, inclusive as de conflito. Esse poder se caracteriza pela influência de certas
pessoas na ação de outras, ou na capacidade de articular as atividades de muitos, as
quais, de outra forma, se desenvolveriam dispersas.
Tão importante é esse aspecto que, na linguagem comum, administrar,
sobretudo, significa dirigir, chefiar, comandar. Assim, nos órgãos chamados de direção,
praticamente admitimos se condensem as funções de decidir e, em conseqüência, as de
administrar.
Sem dúvida que o aspecto dinâmico, num empreendimento qualquer, por esses
órgãos mais visivelmente se expressa. Neles sentimos que há opções entre alternativas,
escolha entre vários caminhos possíveis. Não obstante, para que uma organização bem
funcione, será preciso que tais decisões não representem arbítrio, inspiração de momen-
to ou fantasia. Cada decisão deverá atender ao que se tenha previsto por planejamento ou
programação anterior. Não há direção consciente, sem plano.
Quando um empreendimento bem esteja constituído, o poder de decidir e,
portanto, de dirigir, torna-se harmônico em todos os níveis, de tal modo que parece fluir
de uma capacidade geral de autodeterminação das várias partes de cada conjunto.
Na direção do conjunto inicial nos serviços escolares, a classe de ensino,
funciona o mestre, pois ele aí coordena o trabalho dos alunos. Em cada estabelecimen-
to, o diretor coordena a ação dos mestres. Em mais amplos conjuntos, decide o chefe de
distrito, de região ou de todo um sistema. Para que tudo bem funcione, não se poderá
pensar num comando linear, mas em formas de estrutura funcionais e mistas. Com
relação aos serviços auxiliares, de manutenção, financiamento, recrutamento e forma-
ção de pessoal, formulação de programas parciais e critérios de controle, o mesmo se
deverá admitir.
Esse tipo de administração reduz, de uma parte, o número de hipóteses
possíveis, quanto a certos aspectos do trabalho programado. Assim, por exemplo, o da
escolha da sede dos serviços, do tempo de execução, da provisão do pessoal e material,
do alcance das atividades sobre determinada clientela. Mas, de outra parte, amplia as
hipóteses quanto às exigências de adaptação de cada conjunto (a classe, a escola, o distri-
to etc.), em situações emergentes, razão pela qual certo número de decisões passam a ser
Todos quantos tenham de dirigir devem aprender a orientar-se pelas razões de amplo
conhecimento, mas também pelo entusiasmo contagiante da empresa comum em que
operem. Isso será sempre mais importante que o seu grau de autoridade formal, legal ou
regulamentar. Os poderes e prerrogativas que lhe garantem a posição, ou o cargo, deverão
ser justificados pela sagacidade e compreensão humana com que realize o seu trabalho.
Deverá constantemente compreender que ele representa um todo, não uma parte ou fração,
motivo por que a preocupação de agir com eqüidade terá de existir. Ademais, ele não
representará apenas um conjunto funcional, a parte abstrata de um empreendimento,
mas toda a comunidade a que os serviços escolares devam atender.
O diretor de uma escola não pode pretender marchar mais rapidamente que os seus
professores, e assim também os chefes de distrito com relação aos diretores. Cada um
deverá considerar sua posição como educado do próprio conjunto pelo qual responda, se
é que deseje nele assumir condições de liderança.
5
Para uma visão prática do problema, cf. Roetchlisberger (1941).
Ainda quanto ao aspecto de boa percepção das diretivas nos serviços de ensino,
haverá a notar que, muitas vezes, empregam os administradores expressões muito vagas
ou de sentido geral, que não chegam a ser bem compreendidas. Por exemplo, espírito
democrático, plenitude de vida, escalas de valores, formação integral da personalidade,
ou outras similares. Ou, então, recorrem a locuções de certo pedantismo técnico, que não
concorrem senão para fixação de uma logomaquia sem maior proveito. É evidente que o
requisito fundamental da comunicação consiste em permitir uma percepção clara do que
se deseje alcançar e do que se deva fazer para isso.
Freqüentemente, belos programas concebidos do alto, com ignorância das
condições reais daqueles que os devam aplicar, tornam-se inócuos, senão
perturbadores. O teor geral de qualquer comunicação terá de levar sempre em conta
tais condições.
Em suma, a comunicação tem como objeto próprio influenciar as pessoas no
sentido da coesão estrutural e funcional de cada serviço. De modo geral, deve visar à
harmonia e equilíbrio entre o aspecto objetivo da organização, isto é, a sua estrutura for-
mal, e o aspecto subjetivo, isto é, o comportamento provável das pessoas encarregadas
dos diferentes níveis de serviços.
[ Síntese do capítulo
1 Num empreendimento qualquer, podem-se separar as atividades em dois grupos:
propriamente operativas e administrativas. Nos empreendimentos que produzam coi-
sas tangíveis (mercadorias), essa distinção será mais fácil; nos que produzam serviços, o
mesmo não acontece, visto que “serviços” subentendem relações entre pessoas, substan-
ciais também nas atividades administrativas. As escolas existem para produzir serviços
de desenvolvimento e ajustamento social. Desde a unidade básica, a classe de ensino, os
serviços escolares se fundam em relações humanas. A constituição de maiores conjun-
tos não anula esse ponto essencial, antes o acentua, devendo os administradores dar-lhe
atenção especial, mediante análise de seu próprio comportamento.
[ Os sistemas de ensino
No estudo sobre Organização e Administração escolar, que vimos fazendo,
três idéias capitais têm sido ressaltadas.
A primeira é esta: num trabalho cooperativo qualquer, ao mesmo tempo em
que dividimos as tarefas, devemos coordená-las, visando a resultados de crescente efici-
ência. A segunda é que, para isso, várias esferas de responsabilidade e níveis de autorida-
de devem estabelecer-se, segundo conjuntos estruturais e funcionais, de possível análise
autônoma. A terceira, enfim, é que a associação necessária entre esses conjuntos reclama
a compreensão dos objetivos gerais e integrados de cada empreendimento.
O comportamento administrativo, com vistas a tal resultado, atende a princí-
pios de planejamento, direção, comunicação e controle, como no capítulo anterior se
demonstrou.
Quando a todos esses pontos se dê a necessária atenção, as organizações assu-
mem a feição de um sistema. Isto é, estrutural e funcionalmente, suas partes se coorde-
nam de tal modo que o trabalho de umas sobre as demais influi, sem quebra da harmonia
geral. Um sistema é algo que apresenta um destino comum, quaisquer que sejam os ele-
mentos de sua composição.
Em serviços complexos (e tal é o caso dos de ensino), o termo muitas vezes se
aplica, para efeitos práticos, a conjuntos maiores ou menores, desde que seus elementos e
condições se unifiquem para a consecução de objetivos de um certo gênero, ou ainda de
vários, apreciados num mesmo grau operativo. Pode-se admitir que uma só escola consti-
tua um pequenino sistema; assim também, uma rede de estabelecimentos do mesmo nível
de ensino, ou conjunto mais diferenciado e abrangente de escolas de muitos graus e ramos,
desde que sirva a certa clientela delimitada, a de uma populosa cidade, ou de região deter-
minada. Com mais razão se dirá que um conjunto de numerosas escolas, entre si coordena-
das para que atendam às necessidades de todo um país, representará um sistema.
Daí, o uso corrente de expressões tais como sistema local, sistema regional e
sistema nacional de ensino.
[ Política e administração
Que se deve entender por filosofia política e ação política, e quais as relações
que tais conceitos apresentam com os problemas gerais de administração?
Em sentido amplo, uma filosofia política define intenções, propósitos, um dever-
ser. Para exemplificar: falará de finalidades e valores gerais, tais como “aperfeiçoamento do
homem e suas instituições”, “valor e desenvolvimento da personalidade”, “oportunidades
iguais a todos nos bens da civilização e da cultura”, “direito a receber educação”, “respeito
pelos direitos fundamentais do homem”, “transmissão de valores”, “aproveitamento das
capacidades individuais”, “distribuição de justiça”, ou princípios similares.
Tudo isso é fundamental como ponto de partida. Mas para que se traduza em
termos práticos, haverá necessidade de ação político-administrativa, ou seja, de meios
hábeis para que tais aspirações e valores possam ser realizados em face de situações
problemáticas variáveis, as que cada nação, ou partes de cada uma, em dado momento
apresentem. Por isso se diz, tomando-se o termo em sentido prático, que política signifi-
ca a arte de bem governar, tendo em vista o bem comum, representado num sistema
definido de valores.
Segundo a filosofia social adotada, as instituições de governo terão este ou
aquele sentido geral. Se democrática, as formas de governo serão democráticas. Se
aristocrática, ou oligárquica, outras serão elas. E, se totalitária, diversas terão de ser. Os
governos procuram comunicar a seus serviços, ou à administração pública em geral, o
espírito do regime que hajam adotado.
Não obstante, os domínios da formulação política não se confundem com os
da administração, em sentido estrito. A política assinala grandes diretrizes, aspirações
gerais, com sentido especialmente prospectivo. A administração a isso recebe, procura
compreender e objetivar, em planos e programas de operações, que bem articulem elementos
e condições, instrumentando e coordenando serviços.
Claro que entre o plano político e o da administração existem estreitas e íntimas
relações. Mas a perspectiva da administração, convirá relembrar, é a da eficiência dos
serviços, não a discussão das finalidades políticas que se tenham em vista por si mes-
mas. Quando não haja num povo suficiente nível de desenvolvimento, é certo que o nome
de política também se emprega para designar expedientes, legítimos ou não, utilizados
para a posse dos postos de mando, com o intuito de favorecer certos grupos ou de garan-
tir a continuidade da dominação de certas classes, mediante troca de favores ou emprego
da força. Os processos que então se empreguem já não corresponderão àqueles a que
antes nos referimos.
Deve-se notar que, em português, não temos senão uma só palavra, política, para designar
tanto politics como policy. Quando dissermos apenas política, referimo-nos a politics, ou
em outros termos, aos mais largos propósitos da administração, numa espécie caracterizada
de instituições, que são as do Estado. Mas, fazendo referência à administração de qualquer
outra espécie de instituições, temos sempre que usar de um adjetivo. Política educacional,
por exemplo, significa educacional policy no sentido mais amplo.
Há uma importante relação entre o modo em que uma organização qualquer se apresente
em seu aspecto estrutural e funcional, de uma parte, e as espécies de diretivas e decisões
que os administradores devam adotar. Os estudiosos da administração notam sempre que
o modo com que se dividam as funções, no âmbito de uma organização administrativa,
condiciona não só o como serão exercidas essas funções, mas também quais poderão ser
1
O conceito de diretriz será adiante exemplificado, como mais detidamente analisado no capítulo 10, em que se estuda a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
[ Administração e legislação
O instrumento geral de expressão política a ser seguido pelos órgãos de
administração pública é a legislação.
A esse ponto não fizemos até agora senão breves referências que demandam
mais detido estudo. Desde que os serviços escolares, ou os da educação, em geral, consti-
tuem um grande empreendimento público em relação ao qual, de uma ou outra forma, a
iniciativa particular vem a relacionar-se, é evidente que a legislação importa sempre aos
problemas de organização e administração escolar.
Mas importará a que título, ou sob que forma ou formas diferenciadas?...
Conterá a legislação as fontes primárias de todo o estudo de organização e
administração, como chegam a afirmar, sem maior propriedade, alguns expositores?...
Ou, ao invés disso, nela devemos distinguir elementos de duas espécies: uma referente a
finalidades gerais do trabalho intencional de educar, inseparáveis das que modelem a
existência do Estado e assim justifiquem seu reflexo nos esquemas práticos de educar; e,
outra, relativa à instrumentação mesma de certas providências de organização e
administração, segundo uma perspectiva técnica de eficiência?...
O que se deve dizer é que a legislação poderá conter várias coisas, sendo esse
termo de acepção muito vasta, na linguagem comum.
Todas as formas de direito positivo, ou objetivo, tomam expressão na lei,
entendida como forma normal pela qual o Estado estabelece regras de convivência dota-
das de significação imperativa. Entre as tendências e aspirações parceladas de grupos,
por vezes em manifesto conflito, apresentam-se as leis como macrodecisões que procu-
ram assegurar coesão e equilíbrio de todo o corpo social. Pressupõem relações jurídicas
como elemento mais profundo, ou se assim quisermos, instituições jurídicas, resultan-
tes da cultura de cada povo, já presentes em costumes, e que, por atuação do Estado,
assumem caráter imperativo.
Desse modo, a própria legislação, em suas variadas expressões, representa
um instrumento formal de organização e administração pública. Na verdade, a elaboração
jurídica possui os seus conceitos, princípios e instrumentos de análise, admitindo modelos
teóricos e esquemas práticos peculiares.
3
Do ponto de vista jurídico, esta questão é discutida em termos de delegação de poderes de parte do poder legislativo ao
executivo. O exame por esse aspecto excederia os limites deste compêndio. Deve-se observar, no entanto, como ensina
Temístocles Cavalcanti, que “há um sem-número de leis de natureza técnica que exigem certo número de normas que só
podem ser elaboradas por especialistas e que são deformadas na elaboração por um órgão tão numeroso como o Congresso
Nacional”. Assim pensam também outros mestres de direito. Cf. estudo de síntese da matéria, de autoria de A. Machado
Paupério (1962).
4
Centralização ou descentralização administrativa não se opera apenas no sentido da divisão territorial, ou das unidades
político-administrativas, mas também no sentido funcional, por critérios muito variados. Cf. Cillié (1940).
5
Os documentos e conclusões do Seminario sobre Planeamiento Integral de la Educación, realizado de 16 a 27 de junho de
1958, estão publicados na revista La Educación, órgão da União Panamericana, n. 11, 1958.
De modo geral, todos esses pontos refletem uma revisão dos ideais educativos
tradicionais que eram centrados apenas na idéia do desenvolvimento de cada indivíduo.
Sem prejuízo dessa idéia, hoje se admite mais ampla compreensão dos fatores sociais a
serem devidamente atendidos pelos serviços de ensino. Isso significa uma reafirmação
dos pressupostos de existência democrática, fundados num sistema de vida em que se
compreende no aperfeiçoamento individual um aprimoramento das virtudes cívicas, ou
a cooperação numa sociedade aberta, com satisfatórias condições de mobilidade entre
grupos e classes (Havighurst, Neugarten, 1957) .
Tais pressupostos determinam, na formulação geral dos sistemas, uma mudança
de perspectiva. Dantes, imaginava-se uma morfologia dos serviços escolares estabelecida
sobre princípios como que abstratos, sem maior análise das realidades sociais, econômicas
e políticas, ou das funções que a educação realmente desempenha. Hoje, busca-se melhor
definir as funções do ensino, diante de planos gerais, com conveniente programação. Assim,
sua morfologia, quer dizer o tipo e o número de serviços, a sua distribuição e articulação,
necessariamente, deverão ser fundados numa compreensão funcional.
Bem certo é que certos critérios fundamentais persistem na adequação dos
serviços escolares, tais como os dos graus de ensino, fundamentada nas fases gerais do
[ Síntese do capítulo
1 Na unidade básica dos serviços escolares (a classe de ensino), os problemas de
Organização e Administração confundem-se, na maior parte, com os de orientação
didática. Mas as classes formam escolas, e as escolas, conjuntos maiores, que exigem
agentes administrativos especiais, inclusive em serviços auxiliares. Grandes conjun-
tos, segundo o caso, podem ser entendidos como sistemas locais e regionais. Todos
vêm a constituir, por fim, um sistema nacional de ensino.
6 As cartas constitucionais e as leis gerais fixam o que se pode chamar de relações “de
definição”, dentro de concepções ideais de sentido jurídico. A ação administrativa
8 Em tudo isso, a legislação e sua complementação têm grande importância, não sendo,
porém, a fonte única, nem original, da ação de organizar e administrar as escolas. As
leis representam instrumentos, cuja utilização necessariamente variará nas mãos de
pessoas mais ou menos capacitadas para aplicá-las. As leis são feitas para durar, cui-
dando, por isso mesmo, de situações gerais, não da minudenciação de casos particula-
res. O exame das questões de administração em cada grau de ensino (primário, médio
e superior), a ser feito nos três capítulos seguintes, esclarecerá esse ponto, em seus
aspectos práticos.
[ Compreensão geral
O ensino de 1º grau normalmente se destina às crianças de 7 a 11 ou 12 anos,
ou mesmo, com maior extensão até 13 e 14 anos. Como aos demais graus antecede, é
chamado de primário, elementar ou fundamental. Em todos os países, legalmente se
define como gratuito e obrigatório. Representa a maior parte do ensino público, abran-
gendo, nos países com serviços educativos perfeitamente desenvolvidos, dois terços de
toda a matrícula escolar, e, nos de menor desenvolvimento, parcela ainda maior.
O adjetivo primário, que mais correntemente o designa, acentua a precedên-
cia que tem na ordem dos estudos individuais. Note-se que o mesmo qualificativo significa
primacial, ou básico, e assim realmente é o ensino primário na vida social.
Outrora, admitia-se que os objetivos do ensino primário se resumissem na
aquisição da leitura, escrita e noções de aritmética. Afinal, ensino de primeiras letras.
Hoje, entende-se que deva desempenhar funções muito mais amplas, as de oferecer con-
dições para desenvolvimento das capacidades de cada criança, de modo a contribuir
positivamente para a assimilação cultural das novas gerações.
Dessa forma, o papel do ensino primário é, em conjunto, homogeneizar. Essa
homogeneização se dá quanto ao uso da mesma língua, formação de certas atitudes sociais
e morais básicas, e aquisição de noções comuns sobre fatos naturais, costumes e tradições
locais, regionais e nacionais.
Certo que, em tudo isso, as técnicas elementares da cultura (leitura, escrita e
cálculo) apresentam importância, não, porém, como finalidade exclusiva. São simples
meios para que o processo de ajustamento à vida coletiva mais facilmente se encaminhe.
Por sua própria natureza, esse processo tem duas dimensões: o desenvolvi-
mento de cada criança e a normalidade de suas relações com pessoas e grupos. O
desenvolvimento reclama exercitação de capacidades naturais, a qual porém não se dá no
vazio, ou fora de um espaço social definido por grupos e instituições. O que se deve
desejar no ensino primário é o preenchimento de ambas as funções, dado que são
interdependentes.
[ Objetivos do ensino
Os objetivos do ensino primário prendem-se à ação familiar, com a qual es-
treitamente devem coordenar-se.
1
A denominação educação de base tornou-se mais corrente nos países latinos, e a de fundamental education nos de língua
inglesa. Ver as seguintes publicações da UNESCO: Fundamental education: common ground for all peoples (Report of a
Special Committee to the Preparatory Commission of the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation,
Paris, 1946), a qual, na edição francesa, do ano seguinte, aparece com o título L’éducation de base. Ver também: L’éducation
de bas: description et programme (1950); Jeunesse et éducation de base (1954). A publicação periódica Éducation de base
et éducation des adultes, na versão inglesa tem o título Fundamental education and adult education.
O ensino primário não deve ser considerado como uma seqüência de graus de
instrução verbal, com disciplinas isoladas, exercícios e exames formais. Há de constituir
um processo contínuo de desenvolvimento, mediante unidades de experiência amplas e
flexíveis, através das quais a criança possa dominar as artes da comunicação, adquirindo
uma personalidade equilibrada, tanto do ponto de vista mental quanto social, emocional
e moral. Visará assimilar as novas gerações a padrões culturais existentes, sem deixar de
prepará-las para mudanças culturais inevitáveis (Lourenço Filho, 1967).
De uma parte, esse modo de ver tem-se desenvolvido por mais perfeita
compreensão das condições evolutivas da infância; e, de outra, pela consciência das fun-
ções sociais que a escola primária pode desempenhar. Isso se tem refletido em novos pla-
nos e programas, no desenvolvimento dos procedimentos didáticos, e, conseqüentemente,
no de novas formas de organização e administração.
[ Clientela específica
Ainda que o ensino primário possa assumir a forma supletiva, dantes referida,
sua clientela normal é a das idades da chamada segunda infância, isto é, dos sete anos até
[ Tipos de escolas
Os tipos de escolas primárias são, fundamentalmente, dois, não diferenciados
quanto a objetivos e programas de ensino, mas, pelas condições gerais do trabalho.
O primeiro é o de escolas de uma só classe e um só professor, em unidades
chamadas isoladas, unitárias ou singulares. O segundo, o de escolas graduadas, nas
quais várias classes funcionam, cada qual com seu mestre, distribuindo-se por elas os
alunos, segundo vários graus, ou séries do curso. Nelas se atende ao princípio de divisão
do trabalho, como condição elementar de organização.
[ A escola isolada
2
A observação, que é universal, tem sido apurada por análise estatística em numerosos países, entre os quais o Brasil (cf.
Freitas, 1941; Assis, 1941; Lourenço Filho, 1941).
[ b) As escolas graduadas
A função capital da administração dos alunos, diz esse autor, é proporcionar satisfatórias
condições para o desenvolvimento normal de cada um e de todos, e de seu bem-estar na
escola. Tanto quanto possível, cada aluno deve constituir uma unidade de estudo, que
pode reclamar cuidados especiais de parte dos mestres e do diretor. Cada escola e, dentro
dela, cada classe, deverão organizar-se na forma de comunidades em miniatura, que possam
assegurar experiência real da vida social aos alunos, inspirando-lhes crescente sentimento
de responsabilidade.
4
Exame mais aprofundado das funções dos diretores de escola primária encontra-se em Spain et al. (1956).
5
É o que se tem dado nos Estados Unidos, como se vê no Bulletin nº 10 do Office of Education, sob o título Local school
unit organization in ten states (cf. Alves, Anderson e Fowlkes, 1938). Uma visão geral desse problema encontra-se no
abundante material histórico coordenado por Knight (1953).
6
Exame aprofundado encontra-se nas seguintes obras: Elsbree e McNally (1951), que examina o papel de diretor como
supervisor; McNerney (1951), que define a supervisão como “processo de dirigir e de fornecer critérios para avaliação do
trabalho do ensino, seus fundamentos e sua crítica”, não devendo limitar-se ao exame das capacidades profissionais de
cada professor; Briggs e Justman (1952), que definem a supervisão como “tratamento sistemático das questões de
inspeção, comunicação e controle no serviço do ensino”; e Willes (1955), que analisa os fatores da supervisão, consideran-
do-a também como instrumento de liderança, ou especialmente relacionada com os problemas de relações humanas.
7
Ver os trabalhos indicados na nota anterior, em especial os dois últimos citados.
[ Síntese do capítulo
1 Nos sistemas de cada país, as instituições de ensino mais numerosas são as do ensino
de 1º grau, ou primário. Isso facilmente se compreende pela função social que lhe
cabe, a de oferecer condições de homogeneização cultural às novas gerações. Tal fina-
lidade é obtida pelo ensino da leitura e escrita na língua nacional; o desenvolvimento
de boas atitudes em relação à vida do lar, às formas de recreação e de trabalho, e à
2 Em todos os países, o ensino primário é definido nas leis como gratuito e obrigatório,
dado o seu caráter de educação de base, a ser proporcionada pela escola, em articulação
com a que as crianças venham recebendo no seio de suas famílias. Sua clientela nor-
mal são as crianças de sete a doze anos, ou mesmo de pré-adolescentes, quando a
extensão aos estudos seja maior que seis anos. Também se ministra ensino primário,
em modalidade supletiva, nos países ou regiões em que, por deficiência da rede primá-
ria, nas idades próprias, haja elevada proporção de adolescentes e adultos analfabetos.
Ademais, em núcleos urbanos adensados, onde a ação educativa da família se enfraqueça
(em virtude de condições de habitação e trabalho feminino fora do lar), anexam-se às
escolas primárias classes de adaptação (pré-primárias) para crianças de seis ou mes-
mo de cinco anos. Também, nesse caso, há interesse em que se multipliquem
instituições de educação pré-primária (casas-maternais e jardins de infância).
4 Por definição legal, o ensino primário deve atender a todas as crianças nas idades de
matrícula e freqüência obrigatórias. Os cuidados de planejamento geral terão de ser
quantitativos antes de tudo, com previsão da expansão exigida pelo simples cresci-
mento demográfico. Há, porém, casos de população muito dispersa (zonas não-
escolarizáveis); e há, também, o caso de insuficiência de recursos ou de má aplicação
deles. Cuidados complementares de planejamento são os de formação de professores e
administradores, e os de construções escolares.
6 Para melhor articulação do trabalho com os planos gerais do sistema escolar, agentes
administrativos intermediários visitam os estabelecimentos (orientadores,
supervisores, inspetores em geral). Sua função capital deverá ser comunicar e pesquisar,
para que, de uma parte, atualizem as diretivas que estejam sendo seguidas no ensino;
e, de outra, para que bem possam informar os órgãos superiores de direção, quanto a
certas condições favoráveis ou prejudiciais à eficiência da vida escolar. Segundo os
países, formas muito variáveis de inspeção são utilizadas. Pelo número e mais difícil
acesso, são as escolas isoladas menos freqüentemente visitadas.
[ Preliminares
Os problemas de estrutura e gestão dos serviços de determinado grau de ensino
tornam-se claros quando, nas expectativas sociais a ele referentes, não haja maiores dis-
sensões. Então, traçam-se planos e programas a que as escolas respondem, combinando
elementos técnicos para o rendimento que se deseje, em certa quantidade e qualidade. Foi
o que vimos ao tratar do ensino primário, em relação ao qual essas expectativas são, a
bem dizer, unânimes.
Já o mesmo não ocorre com o ensino de 2º grau, ou médio, que às idades da
adolescência se destina. Questões numerosas e complexas, de ordem social, econômica e
política, nele se agitam. Em conseqüência, as linhas de organização e administração pare-
cem menos nítidas, não porque deixe de haver elementos técnicos satisfatoriamente
conhecidos, mas pela variedade de concepções com relação ao que se pretenda obter.
Muitos afirmam que o problema crucial da educação de nosso tempo está na
reorganização das escolas de 2º grau, o que parece certo. Para isso, uma redefinição das bases
culturais em que elas devam assentar o seu trabalho tem de ser feita. Não havendo maior
definição dessas bases, então ocorre que organizadores e administradores vêm a participar da
discussão delas, ou que à sua interpretação são atraídos, com isso agravando a situação.
Não se poderá negar que as expectativas desta época com relação à incorpora-
ção dos jovens aos quadros familiares, da vida cívica, do trabalho, das instituições soci-
ais em geral não são admitidas com unanimidade. Vivemos numa era de mudança de
civilização, na qual novas concepções se elaboram, em conflito mais ou menos agudo
com os esquemas da tradição. E isso necessariamente se reflete na estruturação dos serviços
escolares e normas de seu funcionamento.
Que o mundo atravessa esse momento de transição não se pode pôr em dúvida.
Como salienta Kandel (1955),
1
O A. refere-se ao século 19 (N. do E.).
[ Ciclos de ensino
A organização do ensino de 2° grau em dois ciclos, tem-se, com efeito, tornado
idéia vencedora na maioria dos países.
Em inquérito realizado em 1960, em 71 nações, pelo Bureau Internacional de
Educação, ficou demonstrado que em apenas três deles o ensino de 2° grau não se achava
assim dividido.
O 1º ciclo, chamado geral, básico-cultural, de exploração de capacidades e
aptidões, ou de orientação, geralmente abrange três anos de estudos, antecedidos de um
curso primário de seis. Onde a obrigatoriedade exceda aos estudos primários, esse ciclo
atende à parte final da obrigação escolar.
O 2º ciclo especialmente se caracteriza pela diversificação de seus cursos. Em
37 daqueles países, a duração era de três anos, e, em 28, de dois. Apenas quatro países
apresentavam no 2° ciclo maior extensão que três anos. Também se verificava que a espe-
cialização partia de uma base de estudos comuns ainda que, desde o início, disciplinas
optativas fossem oferecidas para maior satisfação de diferenças individuais.
Em qualquer hipótese, tal princípio de flexibilidade realmente predomina, a
fim de que os estudos possam consultar as variáveis capacidades e aptidões dos educandos
e as preferências das famílias, tudo mediante a organização e funcionamento adequado
de serviços de orientação educacional e profissional. A esses serviços tem-se procurado
emprestar a feição mediadora necessária, entre as conveniências de ordem individual e
social, ou seja, entre as preferências dos jovens e as necessidades do desenvolvimento
econômico de cada país, em todo o seu conjunto.
A opinião geral dos especialistas em planejamento de ensino é a de que não
poderá ele deixar de atender a esse último ponto, como se tem verificado em sucessivas
2
Esse trabalho, em resumo, foi dado a conhecer no Brasil com o nosso estudo “Educação para o desenvolvimento”,
preparado em 1960 para a Confederação Nacional das Indústrias, e publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos,
n. 81, jan. 1961. Posteriormente, o trabalho de Lipset foi divulgado na íntegra pela Revista Brasileira de Estudos Políticos,
da Universidade de Minas Gerais, n. 13, jan. 1962.
[ Tipos de escolas
Com a adoção de dois ciclos, tendem as escolas de 2° grau a apresentar um só
tipo de estrutura. Poderá ele ser completo, ou não, reduzindo-se ao primeiro, ou desta-
cando, ao nível do 2º, cursos diferenciados que busquem satisfazer mais urgentes
necessidades de preparação geral ou, logo, técnico-profissional.
Assim, embora mantidas certas linhas gerais de unificação, podem as escolas
apresentar conveniente flexibilidade. Normalmente, apresentam um curso básico geral, e
cursos subseqüentes, agrícolas, comerciais, industriais, de ensino normal, de adminis-
tração, de artes domésticas, de artes aplicadas, e outros.
Quando um mesmo estabelecimento inclua dois ramos diversificados é
chamado bivalente ou duplo (bilateral schools, na Inglaterra); quando a vários deles com-
preenda e com diferentes modalidades, será uma escola múltipla (comprehensive schools,
na Inglaterra e nos Estados Unidos).
Em muitos países, ainda que se admita articulação entre os estudos de preparação
geral, tanto no 1° como no 2° ciclo, certos estabelecimentos mantêm a denominação geral de
escola secundária. Em outros, conservada essa denominação, distinguem-se os cursos por
adjetivação: escola secundária geral, comercial, industrial, etc.
Desse modo, na prática, encontram-se os seguintes tipos:
a) escolas secundárias, ou de estudos gerais, mais ou menos uniformes, ou
diferenciados, ao redor de um núcleo constante;
b) escolas de endereço profissional, com satisfatório desenvolvimento de um
programa cultural, de modo a que possam manter articulação com os estudos
secundários gerais, a fim de facilitar a transferência de alunos;
c) escolas que, do ponto de vista da organização geral, tendem a maior
unificação, mediante um só curso básico ou de orientação, com ramos
diferenciados apenas no 2º ciclo;
d) estabelecimentos que só mantenham cursos do 2º ciclo, em diferentes ramos
ou modalidades.
3
Cf. Relatório do professor Armando Hildebrand, Diretoria do Ensino Industrial. Tb. Lourenço Filho (1954).
À administração das escolas de ensino médio, como aliás nas de outro grau
qualquer de ensino, compete velar pelas boas condições de conservação e asseio dos
edifícios escolares, suas instalações, material de ensino, escrituração, correspondência e
mais serviços auxiliares. Normalmente, conta o diretor para isso com auxiliares que lhes
são diretamente subordinados.
Nas escolas com cursos múltiplos, e nos que exijam laboratórios e oficinas,
serão esses auxiliares mais numerosos e, em certos casos agrupados em serviços es-
peciais, como os de almoxarifado e de manutenção de máquinas. O mesmo se poderá
dizer quando a escola mantenha serviço de assistência médica, de alimentação, de
transportes.
A noção de liderança democrática, tal como essa idéia tem sido aplicada na educação, tem
degenerado muitas vezes em logomaquia, concorrendo mais para imobilizar do que para
liberar pessoas com qualidades de líderes. Uma relação de liderança democrática entre
diretores e seus subordinados é boa desde que não esqueçamos que a responsabilidade
primacial do líder é conduzir, e que, assim fazendo, nem por isso ele se torna menos
democrático. Democracia é um conceito político que tem recebido tão diversas e frouxas
conotações que seu significado está longe de ser preciso, mesmo na esfera da vida política.
Não se pode deixar de dar razão a esse autor. O verdadeiro sentido de cooperação
democrática não leva a confundir as esferas de responsabilidade na condução de um
empreendimento qualquer e, em conseqüência, no aceitar os níveis de autoridade sobre
que repouse. O que se faz necessário é que os administradores escolares compreendam a
necessidade de esclarecer propósitos e métodos, e de fundar suas decisões em informa-
ções de interesse geral, informando-se também quanto às capacidades e motivos de seus
colaboradores e subordinados.
É nesse sentido que um sistema democrático deverá animar as atividades de
administração nas escolas, não em outro.
[ Síntese do capítulo
1 O ensino de 2º grau, destinado a adolescentes, foi iniciado nas universidades, como
preparação básica para estudos superiores. Destinava-se a uma minoria, especialmen-
te caracterizada pelas condições econômico-sociais das famílias. Sua função era seleti-
va. Em virtude, porém, de mudanças sociais e econômicas, veio a pouco e pouco a
assimilar certas formas de aprendizagem profissional; e, agora, apresenta-se com muitos
ramos, e uma nova função, distributiva. Procura aproveitar as capacidades e aptidões
individuais, articulando-se com os planos de modernização do trabalho. Começa a
tornar-se ensino comum, ou popular, na maioria dos países.
2 Nessa forma, seus objetivos são assim indicados: a) favorecer a auto-realização dos
jovens; b) desenvolver neles a capacidade de relações humanas; c) dar-lhes eficiência
4 É evidente que esses tipos de escolas dependerão das necessidades de cada país, ou
região, com maior ou menor diferenciação do ensino, quer no 1º ciclo quer no 2º. Isso
torna o planejamento geral do ensino médio tarefa bastante complexa, exigindo antes
de tudo informações satisfatórias sobre a vida econômica e social de cada país e cada
região; medidas de precisão, coordenação e controle geral, ainda que convenha varia-
ção regional nos modos de execução. Isso porque o ensino médio visa a diferenciar,
mantendo, porém, certa feição homogeneizadora mais alta que a do ensino primário.
[ Visão geral
Ensino de 3º grau é o que se dá nas escolas chamadas superiores, reunidas em
universidades ou isoladas. Teve origem em centros de estudos que se constituíram na Idade
Média, primeiramente para a formação profissional em Direito e Medicina, e mais comple-
to desenvolvimento de estudos teológicos. Passou depois a atender às necessidades de
formação de uma elite cultural em cada país. Hoje, exerce funções mais complexas.
Como relembra Harold Benjamim (1950), os primeiros centros universitários
valiam como resposta a desejos de segurança e liberdade, tendo assim manifesto sentido
democrático. O de Paris, por exemplo, era uma comunidade de mestres, de vários países;
o de Bolonha, uma comunidade de estudantes, que a essa cidade da Lombardia demanda-
vam, vindos de muitas regiões, porque maior liberdade de idéias nela se admitia. O nome
primitivo era Studium generale. A denominação Universitas, que veio a prevalecer para o
conjunto, designava a associação de professores ou de alunos, segundo fosse o caso, ou
associação mista, por uns e outros formada.
Mestres e estudantes, nesses grêmios autônomos, usavam processos
representativos para a escolha de seus administradores. Verdade se diga, adotavam re-
gras que hoje nos parecem estranhas. Assim, na Universidade de Paris, o reitor era eleito
apenas pelo exíguo prazo de seis semanas (Benjamin et al., 1950).
A preocupação central das universidades foi originariamente a formação
daqueles profissionais e sacerdotes. Para imprimirem certa uniformidade ao preparo bá-
sico dos estudantes, estabeleceram estudos menores, de caráter preparatório, os quais
deveriam constituir, de uma parte, o núcleo dos estudos secundários futuros; e, de outra,
um novo tipo de faculdade, chamada de artes, em que também se preparavam mestres. Só
com o correr do tempo, e por influência dessa nova faculdade, é que os estudos universi-
tários deixaram de ter estrito sentido profissional para admitirem finalidades culturais
ou de formação geral, desinteressada, nalguns ramos.
Tal orientação, bem marcada no século 14, conceituava o conhecimento numa
forma que se julgava a mais alta e mais pura, desligada do tempo e do meio, ou das
Quaisquer que hajam sido as falhas e erros de quem as tivesse de representar, registrava-
se um fato fundamental: a participação do cidadão nos assuntos de interesse coletivo em
nome do direito de todos os homens ao bem-estar, e o qual, segundo Toynbee, é a afirmação
da história contemporânea. Será preciso unir esse conceito ao da defesa social em face de
perigos internos ou externos que à coletividade ameacem. Será necessário ter ainda em
1
O A. refere-se ao século 19 (N. do E.).
A esse propósito, será conveniente salientar que nos países da América latina,
como em nações de outros continentes, igual tendência de expansão se tem observado,
com atenção a interesses práticos, ainda que com organização mais próxima dos esquemas
tradicionais.
De modo geral, a matrícula dobrou nesses últimos trinta anos, diversificando-
se em muitos tipos e ramos do ensino. A distribuição proporcional dos estudantes pelas
diferentes espécies de cursos também de muito se alterou.
Para estudar esse fato, de modo especial, com relação ao México, Gonzalo
Aguirre Beltrán classificou os cursos universitários em três categorias: de incremento da
cultura geral, em que coloca as faculdades de filosofia e letras, de ciência, pedagogia e
belas-artes; de serviço social, em que situa as faculdades de direito, medicina, enferma-
gem, odontologia e ciências políticas e sociais; e de desenvolvimento econômico, em que
reúne as escolas mais diretamente relacionadas com a produção industrial, as de enge-
nharia, química, economia, administração, veterinária e agronomia. No ano de 1928, a
proporção de alunos nesses três grupos se representava, na ordem em que foram enunci-
ados, com as taxas de 54 %, 31 % e 15 %. Já em 1948, porém, modificavam-se para 16 %,
53 % e 31 %. Em 1958, o incremento da matrícula era assim indicado: nas escolas de
cultura geral, apenas 12%; nas de serviço social, 40 %, e nas de desenvolvimento econômi-
co, 48 %. A mesma tendência geral de expansão do número de alunos nas escolas da
última categoria tem sido verificada na Argentina, Chile, Venezuela e Brasil (Aguirre
Beltrán, 1960a).
[ e) Estudantes
[ 1) Autonomia universitária
As universidades devem ser autônomas, para que possam cumprir a sua elevada missão
de cultura. Essa autonomia, compreendida como a faculdade de estabelecer seu próprio
estatuto jurídico, eleger suas autoridades, nomear professores e funcionários e aplicar
seus recursos financeiros, deverá, na medida do possível, consagrar-se como garantia
constitucional.
Como um dos meios mais adequados para garantir essa autonomia, devem as
universidades dispor de recursos financeiros suficientes. Poderão eles ser obtidos mediante
fixação constitucional de uma adequada percentagem da renda tributária, ou destinação
de dotações suficientes no orçamento de cada país.
A vinculação orgânica das universidades entre si, para coordenar e planificar a obra
cultural educativa nos planos de cada nação, e mesmo para objetivos internacionais, em
nada atinge a sua autonomia, antes a sustenta e robustece, além de contribuir para maior
entendimento e cooperação dos povos e dos homens no plano da inteligência e da cultura.
(Aguirre Beltrán, 1960b, p. 134)
[ 2) Extensão da universidade
2
Publicação original em espanhol. Tradução do A.
Qualquer solução que se queira dar ao problema criado pelo aumento da população
estudantil, encontra naturais obstáculos na insuficiência dos recursos financeiros. Enquanto
assim seja, e sem prejuízo de um maior esforço no sentido de soluções permanentes, as
universidades devem limitar suas atividades ao que permitam seus recursos materiais e
humanos. A universidade que receba maior número de alunos do que possam atender
seus professores, instalações e material didático ilude os próprios estudantes e a
coletividade. Enquanto a pressão por maior matrícula continue sendo grande, a
universidade deve estabelecer restrições, e, desde que estas se fundam na capacidade dos
professores e das instalações, a base de qualquer método seletivo não pode ser outra
senão a limitação da matrícula em cada curso.
Se a universidade limitar o seu trabalho à sua própria capacidade, está no dever de levar
a cabo suas tarefas de forma completa, mediante a máxima ou mais eficiente utilização de
seus recursos. Isso significa que estudantes e professores devem dar aos estudos a maior
dedicação possível. A presença obrigatória às aulas por parte dos primeiros é recomendável
e correlativa da dedicação completa por parte dos mestres. Para os estudantes cuja situação
econômica impeça maior dedicação aos estudos, a universidade pode combinar um bom
sistema de bolsas com a manutenção de horários especiais. No que toca aos professores,
[ 3) Missão da universidade
Deve fortalecer as atividades de extensão cultural a fim de que toda a sociedade por ela se
beneficie. Dessa projeção no meio social não se deverá concluir que a Universidade venha
a identificar-se com partidos políticos ou facções de qualquer índole, visto que deve ter
como postulado fundamental os ideais de igualdade, liberdade e justiça, sem os quais
não se concebe o desenvolvimento harmônico da sociedade. (Aguirre Beltrán, 1960b, p.
139-140)
Convém que haja um sistema educativo que corresponda com a maior fidelidade possível
às características e necessidades da comunidade. Dentro desses sistemas deveriam articular-
se os graus primário, secundário e superior, dedicando-se o primeiro à educação das
crianças, o segundo à educação dos adolescentes, e o terceiro à educação dos jovens e
adultos. Como, na maior parte dos casos, os dois primeiros graus inteiramente dependem
da ação do Estado, ao passo que a última é autônoma, seria aconselhável que se
estabelecesse uma vinculação permanente entre os órgãos governamentais que administram
a educação pública e as universidades, a fim de manter-se maior vinculação entre as
etapas do ensino secundário e do ensino superior. Se essa medida não for aplicável, ou
se os centros de ensino secundário não realizarem seu trabalho com eficiência, as
universidades deverão considerar a possibilidade de organizar estudos preparatórios para
No que respeita aos alunos universitários, é muito recomendável que se conceda igual
atenção à sua cultura geral, cultura profissional e especialização, de modo que se promova
um desenvolvimento harmônico de suas capacidades, e se lhes proporcione uma visão
integral do mundo, capacitando-os para que cumpram com dignidade e eficiência a sua
missão de homens, membros da comunidade e especialistas num ramo determinado das
atividades humanas. (Aguirre Beltrán, 1960b, p. 141-142)
[ 5) Planificação e tecnologia
[ Questões de planejamento
O planejamento dos serviços de ensino superior, como o de outros graus,
pode ser encarado quanto a suas funções globais, em relação a todo um país ou apenas a
uma parte.
[ a) Planejamento geral
[ b) As congregações
3
Fazemos menção a cursos especiais para diretores de escolas superiores e mesmo para reitores de universidades, existentes
nos Estados Unidos, no capítulo 12.
[ Síntese do capítulo
1 O ensino de 3° grau, ou superior, teve sua origem nas universidades medievais, as quais
davam formação profissional para carreiras liberais, funções de governo e sacerdócio.
Através do tempo, expandiu suas funções sociais e formas de ação prática correspon-
dentes. Não há, hoje, um só tipo de universidade, mas vários. Ademais, o ensino de 3°
grau pode ser feito em estabelecimentos isolados, que dêem formação numa só carreira,
como em grandes institutos técnicos, que preparam para muitas atividades afins.
5 O planejamento do ensino superior é agora visto como uma delicada tarefa, que bem
articule os planos do ensino com certos aspectos dos planos gerais de desenvolvimento
econômico e social em cada país. Isso reclama análise das condições da vida econômi-
ca e de mudanças sociais nelas previsíveis, a breve e a mais longo prazo; condições de
financiamento, tanto governamental como de instituições privadas; e melhor
articulação, enfim, entre os planos de estudos superiores e os do ensino médio.
[ Proposição geral
Depois de examinar os grandes princípios de Organização e Administração
Escolar, tratamos de aplicá-los ao planejamento, instrumentação e gestão dos serviços de
cada um dos graus de ensino.
Nesse estudo, uma perspectiva de ordem geral se manteve, a de eficiência,
por adequação prática dos meios disponíveis à consecução de objetivos determinados.
Tais objetivos não são inventados pelos educadores. Resultam de uma filosofia social, em
expectativas, intenções e propósitos, cuja compreensão técnica aos serviços de ensino
infunda maior unidade. Essa compreensão se traduz por uma política educacional, ou,
mais exatamente, pela política escolar que cada país adote, e, continuadamente, reafirme
e desenvolva.
Na escola, com efeito, uma parte do processo cultural se institucionaliza,
adquirindo feição formal, com certas vantagens e riscos. Como as demais instituições, a
escola pode deslocar suas preocupações para certas condições mecânicas de funcionamento,
tornando-se menos funcional.
Contra esse desvirtuamento, têm de lutar os organizadores e administradores
escolares. De que forma e em que justos limites? Atribuindo-se a si mesmos o encargo de
formular a política de educação?... É evidente que não. Essa política refere-se a questões
muito mais amplas que as da escola e mais amplas também que as de âmbito
administrativo.
Não obstante, seus termos têm de ser aplicados nas escolas a situações
concretas, a fim de produzirem rendimento certo. Aspirações gerais devem desdobrar-se
em objetivos definidos, mediante ação técnica coordenada e devidamente planejada para
que tudo alcance razoáveis níveis de eficiência. No estudo e apuro crescente de diretivas
de ação a esse respeito é que o papel dos organizadores e administradores torna-se
relevante, cada qual em sua esfera própria de responsabilidade e nível de autoridade.
Compreendidas essas condições, têm os administradores, como os próprios
mestres, de exercer certa função de interpretação criadora. Ela decorre da apreensão de
[ Educação e Economia
Para conveniente percepção das relações da educação com a vida econômica,
será preciso lembrar que os estudos econômicos em sua concepção atual não considera-
ram apenas os modos e formas de produção, mas assim também os de consumo e sua
distribuição. Seu conceito básico é o de um inelutável desnível entre uma coisa e outra, a
escassez dos bens, ou, em outros termos, o déficit entre o montante desses bens e o quantum
ideal que a todas as necessidades humanas possa satisfazer.
Tais necessidades não se apresentam em todos os indivíduos e grupos de
modo uniforme e constante. Mesmo as mais rudimentares (alimentação, habitação e
III) O orçamento não se resume, portanto, num simples arrolamento de despesas possíveis.
Deve referir-se a um plano educativo em termos de dotações bem calculadas e claramente
justificadas. Indicará de modo preciso a natureza dos gastos. As formas práticas para
isso variam de país a país. Em muitos deles, fundos especiais existem para serviços
determinados e será preciso respeitar as determinações legais a esse respeito existentes.
IV) A responsabilidade dos dados gerais para organização do orçamento e sua correta
interpretação recaem em primeiro lugar sobre os administradores escolares de mais
alto nível hierárquico. Ainda que todos os administradores de outros níveis devam
participar da elaboração orçamentária, a tarefa de coordenar as parcelas, explicá-las
e justificá-las a esses administradores compete. Quando isso se faça, poderá ocorrer
que certas dotações globais passem a ser especificadas em destaques menos
satisfatórios pelas câmaras legislativas. As autoridades escolares tudo devem fazer
para que essa prática pouco racional, ou arbitrária, seja evitada. Será necessário uma
justificação cabal do plano orçamentário em seu conjunto e das razões técnicas da
distribuição das despesas. Em muitos países, têm-se criado órgãos centrais para
exame do projeto dos orçamentos públicos, que reestudam certos critérios, verificando
a distribuição das despesas segundo as prescrições legais. Ao transitar o projeto
para as câmaras políticas, e havendo mais perfeita justificação das dotações, globais
ou parceladas, será menos provável que os legisladores, cedendo a interesses de
política regional, deturpem os planos que mais convenham ao progresso real dos
serviços escolares, como conjunto.
V) Para esse efeito, influirá também o planejamento por período maior que um só exercício
fiscal. Certas solicitações que a breve prazo pareçam menos fundadas (as de um plano
regulador de construções escolares ou de incremento da formação de professores, por
exemplo) passam então a justificar-se por si mesmas. Por igual, admitidos critérios objetivos
para que se contemplem ordenadamente as necessidades das várias regiões do país, os
representantes políticos compreenderão a utilidade de tal planejamento. Não deverá o
orçamento, por isso mesmo, ser remetido à última hora às câmaras que o devam apreciar.
Os legisladores têm o direito e o dever de criticar o orçamento, exigindo informações
minuciosas para que possam formar juízo próprio e votar com consciência.
[ Fontes de recursos
Até aqui, examinamos as normas gerais para a feitura dos orçamentos quanto
às despesas, não, porém, quanto às fontes de recursos. A razão dessa precedência expli-
ca-se pelo fato de que, nas finanças públicas, ao contrário do que se dá nas de caráter
particular, estima-se primeiro a despesa e, depois, a receita. É que os governos existem
para atender a necessidades gerais, estudando-as, e exercendo para satisfazê-las a
capacidade de tributação, que lhes é inerente. Essa capacidade de lançar e recolher im-
postos tem certamente limites teóricos e práticos, cuja fundamentação não interessará
aqui discutir.
De qualquer forma, eles existem, o que impõe naturais restrições aos
orçamentos de despesa. Quanto aos serviços de ensino, dada a consciência cada vez
maior de sua importância econômica, política e social em geral, numerosos países têm
estabelecido por lei e, por vezes, em suas próprias cartas políticas, a obrigação de serem
empregadas certas cotas mínimas das receitas de impostos nos serviços educacionais.
Muitas vezes se estabelece também a mesma obrigação para unidades político-
administrativas menores (Estados-membros, províncias, departamentos ou condados)
e para as unidades de administração local, comunas ou municípios. Assim se definem
as fontes de recursos.
No caso dos países com governo unitário, essa colaboração financeira
regional e local pode ser facilmente verificada quando haja um só orçamento, no qual
as cotas dessas circunscrições menores podem mesmo figurar como entradas da receita
geral.
O mesmo não se dá nos Estados federados, a não ser quando existam convênios
gerais a respeito dessa colaboração financeira. O normal, então, é que cada Estado-membro
prepare e faça executar o seu orçamento próprio, em virtude da autonomia de que desfrute.
Na técnica orçamentária, o inverso então poderá ocorrer: os orçamentos regionais é que
consignarão o importe de subvenções ou auxílios federais, como receita para aplicação
especial ao ensino.
Quando não haja maior planejamento dos serviços, pode acontecer que serviços
federais, estaduais e até mesmo municipais entre si entrem em concorrência disputando
a mesma clientela. É evidente que, para mais correta aplicação de recursos, essa prática
não será satisfatória.
As contribuições de origem local, regional e nacional variam de país a país.
Estarão na dependência, antes de tudo, da discriminação das rendas tributárias pelas
várias órbitas do poder. Onde aos governos locais corresponda maior parcela de tributa-
ção, torna-se justo e natural que a contribuição deles seja proporcionalmente maior que a
do governo regional e nacional.
Assim, nos Estados Unidos, os governos locais concorrem com 56% do
total das despesas do ensino primário e médio, seus Estados-membros com 40%, e a
União apenas com 4%. Na Venezuela, ao contrário, a contribuição federal é preponde-
rante, pois atinge a 82 %, ao passo que os Estados contribuem com 15%, e os municípios
tão-somente com 3%.
2
Um ilustrativo exemplo dessa atuação necessária é dada por Mascaro (1954).
3
Para o caso do ensino médio e superior, em nosso país, é o que faz notar Simonsen (1969).
Observação: Os chamados custos unitários poderão referir-se a unidades muito diversas; aluno-matriculado; aluno-ano;
aluno realmente freqüente às aulas; aluno-aprovado, etc., considerando-se todas as despesas, ou só a de manu-
tenção dos serviços, pelas dotações destinadas a pessoal e material de consumo. Poderão referir-se a aluno-pronto
de cada curso. Poderão referir-se ainda às despesas totais (inversão e custeio) de cada unidade-padrão considerada
em cada grau de ensino; por exemplo, despesas totais de cada escola isolada, em média, num país, ou numa região
desse país; despesa, em média, de cada classe nas escolas agrupadas, segundo seus vários tipos, etc.
[ Considerações finais
Digamos por fim que os problemas referentes à economia e às finanças da
educação, com que concluímos o exame dos princípios gerais de Organização e
Administração Escolar – objeto da primeira parte deste volume –, não visam reduzir a
perspectiva de eficiência dos serviços escolares a simples termos quantitativos de despesa.
O esclarecimento desses problemas apresenta, sem dúvida alguma, enorme
importância, pois sem que o tenhamos, não haverá base para perfeita justificação dos
sacrifícios que os serviços escolares crescentemente exigem do erário público, o que vale
dizer, do próprio povo.
[ Síntese do capítulo
1 Em capítulos anteriores, foram indicadas relações entre os serviços escolares e fatos
da economia local, regional ou nacional, salientando-se a importância da destinação
dos alunos para as diferentes espécies de trabalho. A questão é aqui retomada de modo
mais amplo, com demonstração das relações da educação, em todo o seu conjunto, por
um lado, e os fatos e situações da economia e das finanças públicas, também em con-
junto, por outro.
2 Investigações realizadas nestes últimos tempos têm comprovado que as despesas com
o ensino, sempre crescentes, já não devem procurar justificação em considerações de
simples caráter humanitário ou de vagas aspirações de ordem política. Segundo idéias
do economista Keynes, depois verificadas na prática por Benson e outros investigado-
res, tais despesas representam um investimento social, de feição altamente remunerativa.
Pesquisas nesse sentido têm sido feitas nos Estados Unidos, por seus economistas, e
em outros diversos países, por especialistas das Nações Unidas, todas confirmando
essa tese geral.
3 Contudo, não bastará destinar recursos à educação, sob qualquer forma. Ter-se-á de
fazê-lo de modo realmente eficaz, para que se justifique a aplicação de maiores somas
da riqueza pública em seus serviços, sobretudo nos do ensino. Essa matéria constitui
o objeto de estudos chamados da economia e das finanças da educação.
6 Uma vez aprovado o orçamento, os administradores devem dar-lhe fiel e cabal execução,
passando depois à análise dos resultados pelo aspecto financeiro. Para isso deverão
estudar as cotas de despesas e os gastos unitários, (por aluno-ano, por exemplo), de
modo a reunir índices que permitam a revisão e melhoria constante do planejamento
do ensino, para que as maiores necessidades locais, regionais e nacionais sejam aten-
didas. Na realização desse trabalho, deverão partir de uma especificação das despesas,
em diferentes grupos, que vêm indicados no capítulo.
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[ Preliminares
A primeira parte deste livro visou a dois pontos: estabelecer conceitos básicos
para análise das realidades de estruturação e gestão dos serviços escolares, e esclarecer
princípios operativos, de ordem geral, a esses serviços aplicáveis. Com isso pretendeu
formular um esquema lógico, adaptável a casos concretos quaisquer, ou as bases de uma
metodologia geral, sem que cuidasse das condições e circunstâncias de uma estrutura
particular, as do sistema de ensino de determinado país, região ou localidade.
Em seus trabalhos práticos, no entanto, os organizadores e administradores
escolares têm de enfrentar tais condições e circunstâncias, em situações concretas, para o
que deverão conhecê-las em seu conspecto e suas particularidades. Assim, para os que
no Brasil trabalham, é a estrutura geral das coisas de nosso país que diretamente interes-
sa, a fim de que saibam sobre o que tenham de informar-se, e do que devam decidir, e para
que, onde, quando e quanto isso se faça necessário.
Esta segunda parte de nosso estudo vem considerar essa estrutura. Os capítulos
a seguir destinam-se a fornecer elementos básicos que aos agentes da administração esco-
lar em nosso país permitam aplicar os princípios e normas metodológicas numa dada
situação concreta.
Podemos dizer que a primeira parte se ateve às relações de definição dos
problemas, para isso desenvolvendo um esquema lógico, sem dados determinados. Esta
segunda vem considerar esses dados, admitindo as relações de uma estrutura definida,
na qual as questões aparecem como realidades a exigir soluções.
Convirá lembrar que, ao esclarecer o domínio próprio da Organização e
Administração Escolar, afirmamos que ele realmente começa depois que se tenham deter-
minado uma filosofia social e uma ação política, de tal modo que os serviços regulares do
ensino se organizem para atender a objetivos determinados. Se assim não o for, não se
poderá falar dos recursos de organização e administração em termos de rendimento ou
eficiência.
o político, em seu trabalho, está acostumado a concentrar toda a atenção no poder, sendo
por isso muito natural para ele que tudo se possa conseguir desde que se disponha de
mando ou de poder político. Na realidade, os políticos chegam a crer que, pelo exercício
do poder, são eles capazes de proibir que ocorram as conseqüências lógicas e naturais de
seus próprios atos.
Por sua vez, aos administradores pode faltar a necessária habilitação de cultura
geral e técnica, a fim de que separem a ação que lhes caiba, na esfera própria de seus
serviços.
Graças ao desenvolvimento dos estudos de Organização e Administração, em
grande número de países, tais dificuldades têm-se atenuado, com melhor compreensão
das questões de interesse público, respeitantes à ação política e à ação educacional, em
particular. Onde já se tenham alcançado níveis de maior cultura geral, uma e outra apare-
1
Esse manifesto, redigido pelo professor Fernando de Azevedo, foi largamente divulgado pela imprensa e editado no livro
A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo (1932).
2
O texto acha-se publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 13, n. 36.
Da Educação e da Cultura
Art. 166 – A educação é direito de todos, e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana.
Art. 167 – O ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos poderes públicos e é livre
à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regulem.
Art. 169 – Anualmente, a União aplicará nunca menos de dez por cento e os Estados, o
Distrito Federal e os municípios nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos
impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino.
Parágrafo único. O sistema federal de ensino terá caráter supletivo, estendendo-se a todo
o país nos estritos limites das deficiências locais.
Art. 172 – Cada sistema de ensino terá obrigatoriamente serviços de assistência educacional
que assegurem aos alunos necessitados condições de eficiência escolar.
Art. 175 – As obras, monumentos e documentos de valor histórico e artístico, bem como
os monumentos naturais, as paisagens e os locais dotados de particular beleza ficam sob
a proteção do poder público.
[ Legislação ordinária
A matéria sobre Educação e Cultura, em 1946, referia-se à legislação ordinária
do ensino, para ela estabelecendo princípios (art. 168). Claro que esses pontos de organi-
zação deveriam ser enquadrados em todas as demais matérias expostas na Constituição e,
em especial, a de organização de poderes.
Os serviços escolares, para cuja legislação ordinária desde logo se fixaram
alguns pontos de estrutura e sentido programático, aí não apareciam como algo acessório
ou serviço que se pudesse cumprir em linhas arbitrárias. Ligado ao conceito mais amplo
da educação em geral, ou do processo educacional como um todo, representava elemento
de muito maior importância nos pressupostos da filosofia social e política que a
Constituição estabelecia.
Tais princípios não seriam desde logo aplicáveis, porquanto deveriam ser
traduzidos em leis que definissem as diretrizes e bases da educação nacional, a serem
votadas pela União, conforme a Constituição de 1946 também preceituava, (art. 5º,
inciso XV, alínea d). Seria necessário que se procedesse ao enquadramento geral dos
serviços de educação a princípios e normas do Direito Administrativo; quer dizer,
aos do Direito Público, que compreendessem as relações jurídicas decorrentes da
organização dos serviços do Estado, seus fundamentos, e relações que nascem das
atividades estatais, não diretamente compreendidas na esfera das funções legislativas
e judiciárias.
Opinam, ademais, os tratadistas da matéria que “há necessidade de encarar o
conceito do direito administrativo mais sob o aspecto técnico do que estritamente político”.
É como ensina Temístocles Cavalcanti (1958), quando escreve:
O direito administrativo, em seu sentido mais amplo, compreende toda a área das atividades
públicas que se enquadra na organização e no funcionamento dos órgãos e estrutura dos
serviços estatais. Não constitui privilégio do poder executivo, mas as suas normas e os
seus princípios são aplicáveis toda vez que se regulem as atividades próprias à
administração.
Ainda que a carta de 1946 não determinasse que a legislação ordinária sobre
diretrizes e bases da educação nacional devesse constar de uma só e única lei, primeira-
mente assim o entendeu a Câmara dos Deputados, por admitir que se tratasse, no caso, de
uma lei complementar à Constituição; depois, porque o Executivo assim preparou a ma-
téria num só projeto, que enviou à Câmara dos Deputados no ano de 1948 (Diretrizes...,
1948; Mariani, Aguiar, 1959). Essa Câmara logo iniciou o exame do assunto, interrom-
pendo-o, porém, por muito tempo. Realmente, somente treze anos depois, ou em 1961,
veio o Congresso Nacional a aprovar o desejado ato, subordinado à ementa: “Fixa as
diretrizes e bases da educação nacional”.
Poucos projetos de lei já terão suscitado tão variadas manifestações da opinião
pública ou, ao menos, de educadores, associações culturais, religiosas e outras. Não cabe
TÍTULO I
Dos fins da educação
TÍTULO II
Do direito à educação
TÍTULO III
Da liberdade do ensino
TÍTULO IV
Da administração do ensino
Art. 7º – Ao Ministério da Educação e Cultura incumbe velar pela observância das leis do
ensino e pelo cumprimento das decisões do Conselho Federal de Educação.
Art. 8º – O Conselho Federal de Educação será constituído por vinte e quatro membros,
nomeados pelo Presidente da República, por seis anos, dentre pessoas de notável saber e
experiência, em matéria de educação.
§ 1° Na escolha dos membros do Conselho, o presidente da República levará em conside-
ração a necessidade de neles serem devidamente representadas as diversas regiões do
país, os diversos graus do ensino e o magistério oficial e particular.
§ 2° De dois em dois anos, cessará o mandato de um terço dos membros do Conselho,
permitida a recondução por uma só vez. Ao ser constituído o Conselho, um terço de seus
membros terá mandato apenas de dois anos, e um terço, de quatro anos.
§ 3° Em caso de vaga, a nomeação do substituto será para completar o prazo de mandato
do substituído.
§ 4° O Conselho Federal de Educação será dividido em câmaras para deliberar sobre
assuntos pertinentes ao ensino primário, médio e superior, e se reunirá em sessão plena
para decidir sobre matéria de caráter geral.
§ 5° As funções de conselheiro são consideradas de relevante interesse nacional, e o seu
exercício tem prioridade sobre o de quaisquer cargos públicos de que sejam titulares os
conselheiros. Estes terão direito a transporte, quando convocados, e às diárias ou “jeton”
de presença a serem fixadas pelo Ministro da Educação e Cultura, durante o período das
reuniões.
Art. 9º – Ao Conselho Federal de Educação, além de outras atribuições conferidas por lei,
compete:
TÍTULO V
Dos sistemas de ensino
Art. 15 – Aos Estados que, durante cinco anos, mantiverem universidade própria com
funcionamento regular, serão conferidas as atribuições a que se refere à letra b do art. 9°,
tanto quanto aos estabelecimentos por eles mantidos, como quanto aos que posteriormen-
te sejam criados.
Art. 18 – Nos estabelecimentos oficiais de ensino médio e superior, será recusada a matrí-
cula ao aluno reprovado mais de uma vez em qualquer série ou conjunto de disciplinas.
Art. 21 – O ensino, em todos os graus, pode ser ministrado em escolas públicas, mantidas
por fundações cujo patrimônio e dotações sejam provenientes do Poder Público, ficando
o pessoal que nelas servir sujeito, exclusivamente, às leis trabalhistas.
§ 1º Estas escolas, quando de ensino médio ou superior, podem cobrar anuidades, fican-
do sempre sujeitas à prestação de contas, perante o Tribunal de Contas, e à aplicação, em
melhoramentos escolares, de qualquer saldo verificado em seu balanço anual.
Art. 22 – Será obrigatória a prática da educação física nos cursos primário e médio, até a
idade de 18 anos.
TÍTULO VI
Da educação de grau primário
Art. 23 – A educação pré-primária destina-se aos menores até sete anos, e será ministrada
em escolas maternais ou jardins-de-infância.
Art. 24 – As empresas que tenham a seu serviço mães de menores de sete anos serão
estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em cooperação com os poderes
públicos, instituições de educação pré-primária.
Art. 25 – O ensino primário tem por fim o desenvolvimento do raciocínio e das atividades
de expressão da criança, e a sua integração no meio físico e social.
Art. 27 – O ensino primário é obrigatório a partir dos sete anos e só será ministrado na
língua nacional. Para os que o iniciarem depois dessa idade poderão ser formadas classes
especiais ou cursos supletivos correspondentes ao seu nível de desenvolvimento.
Art. 29 – Cada município fará, anualmente, a chamada da população escolar de sete anos
de idade, para matrícula na escola primária.
Art. 30 – Não poderá exercer função pública, nem ocupar emprego em sociedade de
economia mista ou empresa concessionária de serviço público o pai de família ou respon-
sável por criança em idade escolar sem fazer prova de matrícula desta, em estabelecimen-
to de ensino, ou de que lhe está sendo ministrada educação no lar.
Parágrafo único. Constituem casos de isenção, além de outros previstos em lei:
a) comprovado estado de pobreza do pai ou responsável;
Art. 32 – Os proprietários rurais que não puderem manter escolas primárias para as crian-
ças residentes em suas glebas deverão facilitar-lhes a freqüência às escolas mais próximas,
ou propiciar a instalação e funcionamento de escolas públicas em suas propriedades.
TÍTULO VII
Da educação de grau médio
Art. 34 – O ensino médio será ministrado em dois ciclos, o ginasial e o colegial, e abran-
gerá, entre outros, os cursos secundários, técnicos e de formação de professores para o
ensino primário e pré-primário.
Art. 36 – O ingresso na primeira série do 1º ciclo dos cursos de ensino médio depende de
aprovação em exame de admissão, em que fique demonstrada satisfatória educação pri-
mária, desde que o educando tenha onze anos completos ou venha a alcançar essa idade
no correr do ano letivo.
Parágrafo único. Ao aluno que houver concluído a 6ª série primária será facultado o
ingresso na 2ª série do 1º ciclo de qualquer curso de grau médio, mediante exame das
Art. 37 – Para matrícula na 1ª série do ciclo colegial, será exigida conclusão do ciclo
ginasial ou equivalente.
Art. 46 – Nas duas primeiras séries do ciclo colegial, além das práticas educativas, serão
ensinadas oito disciplinas, das quais uma ou duas optativas, de livre escolha pelo
estabelecimento, sendo no mínimo cinco e no máximo sete em cada série.
§ 1° Deverá merecer especial atenção o ensino de português, nos seus aspectos lingüísticos,
históricos e literários.
§ 2° A terceira série do ciclo colegial será organizada com currículo diversificado que vise
ao preparo dos alunos para os cursos superiores e compreenderá, no mínimo, quatro e,
no máximo, seis disciplinas, podendo ser ministrada em colégios universitários.
Art. 48 – Para fins de validade nacional, os diplomas dos cursos técnicos de grau médio
serão registrados no Ministério da Educação e Cultura.
Art. 52 – O ensino normal tem por fim a formação de professores, orientadores, supervisores
e administradores escolares destinados ao ensino primário, e ao desenvolvimento dos co-
nhecimentos técnicos relativos à educação da infância.
Art. 55 – Os institutos de educação, além dos cursos de grau médio referidos no artigo 53,
ministrarão cursos de especialização, de administradores escolares e de aperfeiçoamento,
abertos aos graduados em escolas normais de grau colegial.
Art. 58 – Os que se graduarem nos cursos referidos nos artigos 53 e 55, em estabelecimentos
oficiais ou particulares reconhecidos, terão igual direito a ingresso no magistério primário
Art. 59 – A formação de professores para o ensino médio será feita nas faculdades de
filosofia, ciências e letras e a de professores de disciplinas específicas de ensino médio
técnico em cursos especiais de educação técnica.
Parágrafo único. Nos institutos de educação poderão funcionar cursos de formação de
professores para o ensino normal, dentro das normas estabelecidas para os cursos
pedagógicos das faculdades de filosofia, ciências e letras.
TÍTULO VIII
Da orientação educativa e da inspeção
Art. 62 – A formação do orientador de educação será feita em cursos especiais que atendam às
condições do grau do tipo de ensino e do meio social a que se destinam.
Art. 63 – Nas faculdades de filosofia será criado, para a formação de orientadores de educação
do ensino médio, curso especial a que terão acesso os licenciados em pedagogia, filosofia,
psicologia ou ciências sociais, bem como os diplomados em Educação Física pelas Escolas
Superiores de Educação Física e os inspetores federais de ensino, todos com estágio mínimo
de três anos no magistério.
TÍTULO IX
Da educação de grau superior
Art. 66 – O ensino superior tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências,
letras e artes e a formação de profissionais de nível universitário.
Art. 70 – O currículo mínimo e a duração dos cursos que habilitem à obtenção de diploma
capaz de assegurar privilégios para o exercício da profissão liberal...VETADO... serão fixados
pelo Conselho Federal de Educação.
Parágrafo único. VETADO.
Art. 71 – O programa de cada disciplina, sob forma de plano de ensino, será organizado
pelo respectivo professor, e aprovado pela congregação do estabelecimento.
Art. 74 – VETADO.
§ 1° VETADO.
Art. 75 – VETADO.
I – VETADO.
II – VETADO.
III – VETADO.
IV – VETADO.
V – VETADO.
VI – VETADO.
VII – VETADO.
§ 1º VETADO.
§ 2° VETADO
§ 3° VETADO.
§ 4º VETADO.
Art. 78 – O corpo discente terá representação, com direito a voto, nos conselhos
universitários, nas congregações, e nos conselhos departamentais das universidades e
escolas superiores isoladas, na forma dos estatutos das referidas entidades.
Art. 82 – ... VETADO ... Os recursos orçamentários que a União... VETADO... consagrar à
manutenção das respectivas universidades terão a forma de dotações globais, fazendo-se no
orçamento da universidade a devida especificação.
Art. 83 – O ensino público superior, tanto nas universidades como nos estabelecimentos
isolados federais, será gratuito para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos
(Art. 168, II, da Constituição).
TÍTULO X
Da educação de excepcionais
TÍTULO XI
Da assistência social escolar
Art. 90 – Em cooperação com outros órgãos ou não, incumbe aos sistemas de ensino,
técnica e administrativamente, prover, bem como orientar, fiscalizar e estimular os serviços
de assistência social, médico-odontológico e de enfermagem aos alunos.
Art. 91 – A assistência social escolar será prestada nas escolas, sob a orientação dos
respectivos diretores, através de serviços que atendam ao tratamento dos casos individuais,
à aplicação de técnicas de grupo e à organização social da comunidade.
TÍTULO XII
Dos recursos para a educação
Art. 93 – Os recursos a que se refere o art. 169, da Constituição Federal, serão aplicados
preferencialmente na manutenção e desenvolvimento do sis-tema público de ensino
de acordo com os planos estabelecidos pelo Conselho Federal e pelos conselhos esta-
duais de educação, de sorte que se assegurem:
1º) o acesso à escola do maior número possível de educandos;
2º) a melhoria progressiva do ensino e o aperfeiçoamento dos serviços de educação;
3º) o desenvolvimento do ensino técnico-científico;
4°) o desenvolvimento das ciências, letras e artes;
§ 1º São consideradas despesas com o ensino:
a) as de manutenção e expansão do ensino;
b) as de concessão de bolsas de estudos;
c) as de aperfeiçoamento de professores, incentivo à pesquisa, e realização de
congressos e conferências;
d) as de administração federal, estadual ou municipal de ensino, inclusive as que se
relacionem com atividades extra-escolares.
§ 2 ° Não são consideradas despesas com o ensino:
a) as de assistência social e hospitalar, mesmo quando ligadas ao ensino;
b) as realizadas por conta das verbas previstas nos arts. 199, da Constituição Federal
e 29, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias;
c) os auxílios e subvenções para fins de assistência e cultura (Lei nº 1.493, de 13/12/
1951).
Art. 95 – A União dispensará a sua cooperação financeira ao ensino sob a forma de:
a) subvenção, de acordo com as leis especiais em vigor;
b) assistência técnica, mediante convênio visando ao aperfeiçoamento do magistério, à
pesquisa pedagógica e à promoção de congressos e seminários;
c) financiamento a estabelecimentos mantidos pelos Estados, municípios ou
particulares, para a compra, construção ou reforma de prédios escolares e respectivas
instalações e equipamentos de acordo com as leis especiais em vigor.
§ 1º São condições para a concessão de financiamento a qualquer estabelecimento de
ensino, além de outras que venham a ser fixadas pelo Conselho Federal de Educação:
a) a idoneidade moral e pedagógica das pessoas ou entidades responsáveis pelos
estabelecimentos para que é feita a solicitação de crédito;
b) a existência de escrita contábil fidedigna, e a demonstração da possibi-lidade de
liquidação do empréstimo com receitas próprias do estabelecimento ou do mutuá-
rio, no prazo contratual;
c) a vinculação, ao serviço de juros e amortização do empréstimo, de uma parte
suficiente das receitas do estabelecimento; ou a instituição de garantias reais ade-
quadas, tendo por objeto outras receitas do mutuário; ou bens cuja penhora não
prejudique direta ou indiretamente o funcionamento do estabelecimento de ensino;
d) o funcionamento regular do estabelecimento, com observância das leis de ensino.
§ 2° Os estabelecimentos particulares de ensino, que receberem subvenção ou auxílio
para sua manutenção, ficam obrigados a conceder matrículas gratuitas a estudantes po-
bres, no valor correspondente ao montante recebido.
§ 3° Não será concedida subvenção nem financiamento ao estabelecimento de ensino que,
sob falso pretexto, recusar matrícula a alunos, por motivo de raça, cor ou condição social.
TÍTULO XIII
Disposições gerais e transitórias
Art. 97 – O ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é de
matrícula facultativa, e será ministrado sem ônus para os poderes públicos, de acordo
Art. 102 – Os diplomas de curso superior, para que produzam efeitos legais, serão previa-
mente registrados em órgãos do Ministério da Educação e Cultura.
Art. 104 – Será permitida a organização de cursos ou escolas experimentais, com currículos,
métodos e períodos escolares próprios, dependendo o seu funcionamento para fins de vali-
dade legal da autorização do Conselho Estadual de Educação, quando se tratar de cursos
primários e médios, e do Conselho Federal de Educação, quando de cursos superiores ou de
estabelecimentos de ensino primário e médio sob a jurisdição do Governo Federal.
Art. 105 – Os poderes públicos instituirão e ampararão serviços e entidades que mantenham,
na zona rural, escolas, ou centros de educação, capazes de favorecer a adaptação do homem
ao meio e o estímulo de vocações a atividades profissionais.
Art. 107 – O poder público estimulará a colaboração popular em favor das fundações e
instituições culturais e educativas de qualquer espécie, grau ou nível sem finalidades lucrati-
vas, e facultará aos contribuintes do imposto de renda a dedução dos auxílios ou doações
comprovadamente feitos a tais entidades.
Art. 108 – O poder público cooperará com as empresas e entidades privadas para o
desenvolvimento do ensino técnico e científico.
Art. 109 – Enquanto os Estados e o Distrito Federal não organizarem o ensino médio de
acordo com esta lei, as respectivas escolas continuarão subordinadas à fiscalização federal.
Art. 110 – Pelo prazo de 5 (cinco) anos, a partir da data da vigência desta lei, os estabele-
cimentos particulares de ensino médio terão direito de opção, entre os sistemas de ensino
federal e estadual, para fins de reconhecimento e fiscalização.
Art. 116 – Enquanto não houver número suficiente de professores primários formados
pelas escolas normais ou pelos institutos de educação, e sempre que se registre essa falta,
a habilitação ao exercício do magistério, a título precário e até que cesse a falta, será feita
por meio de exame de suficiência realizado em escola normal ou instituto de educação
oficiais, para tanto credenciados pelo Conselho Estadual de Educação. (O VETO a este
artigo não foi aceito pelo Congresso Nacional).
Art. 117 – Enquanto não houver número bastante de professores licenciados em faculda-
des de filosofia, e sempre que se registre essa falta, a habilitação a exercício do magistério
Art. 118 – Enquanto não houver número suficiente de profissionais formados pelos cur-
sos especiais de educação técnica, poderão ser aproveitados, como professores de disci-
plinas específicas do ensino médio técnico, profissionais liberais de cursos superiores
correspondentes ou técnicos diplomados na especialidade.
Art. 119 – Os titulares de cargos públicos federais que forem extintos, por se tornarem
desnecessários em face da presente lei, serão aproveitados em funções análogas ou
correlatas.
Art. 120 – Esta lei entrará em vigor no ano seguinte ao de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
Esse é o texto da Lei de Diretrizes e Bases, tal como ficou, em face de vetos do
Executivo, aceitos pelo Congresso Nacional, e também da recusa de aceitação de alguns
poucos deles.5
5
Publicado na revista do Conselho Federal de Educação, Documenta, nº 12, mar. 1963.
Art. 176 – A educação inspirada no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade
e solidariedade humana, é direito de todos e dever do Estado, e será dada no lar e na
escola.
§ 1º O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos Poderes Públicos.
§ 2° Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual
merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes Públicos, inclusive mediante bolsas
de estudo.
Art. 178 – As empresas comerciais, industriais e agrícolas são obrigadas a manter o ensino
primário gratuito de seus empregados e o ensino dos filhos destes, entre os sete e os
quatorze anos, ou a concorrer para aquele fim, mediante a contribuição do salário-educação,
na forma que a lei estabelecer.
Art. 179 – As ciências, as letras e as artes são livres, ressalvado o disposto no parágrafo 8º
do artigo 153.
Parágrafo único. Ficam sob a proteção especial do Poder Público os documentos, as obras
e os locais de valor histórico ou artístico, os monumentos e as paisagens naturais notáveis,
bem como as jazidas arqueológicas.
Nesse texto, duas modificações de fundo devem ser ainda notadas. Primeira,
a de maior extensão das idades a que se pode aplicar a obrigatoriedade do ensino
primário. O conjunto delas, que era de 7 a 12 anos, passou a ser, expressamente, de 7 a
14 anos.
O texto não declara que o ensino primário seja de oito anos de duração, e isso,
aliás, se comprova por admitir a Constituição o trabalho do menor desde os doze anos
(art. 165, inciso X).
Note-se, ademais, que “as empresas comerciais, industriais e agrícolas são
obrigadas a manter o ensino primário gratuito de seus empregados e o ensino dos
filhos destes, entre os sete e os quatorze anos, ou a concorrer para aquele fim, medi-
ante a contribuição do salário-educação, na forma que a lei estabelecer” (art. 178).
É evidente que, entre os sete e os quatorze anos não significa por todo o prazo dos 7
aos 14.
[ Síntese do capítulo
1 O domínio próprio da Organização e Administração Escolar, em cada país, começa
depois que se haja definido uma ação política, a fim de que se possam propor e discu-
tir os problemas de eficiência, em função de objetivos claros e determinados. O pri-
meiro enquadramento de proposições do tipo “Se ... então” assim o exige. Esse
enquadramento tem de partir do exame da carta política do país, a qual expõe uma
construção jurídica a aplicar-se a certa organização de fato, fundada numa conjuntura
ecológica e social (o território, a população, a vida econômica).
5 Na constituição promulgada em 1946, vigente até 1967 (com emendas, não, porém, na
parte da educação), houve um retorno à orientação geral da Carta de 1934. Não se
falava aí em “plano nacional”, mas em “diretrizes e bases da educação nacional”, idéia
similar. A educação era definida como “direito de todos”, devendo ser “dada no lar e na
escola, segundo princípios de liberdade e solidariedade humana”. O ensino de todos
os níveis seria mantido pelos poderes públicos e era livre à iniciativa particular, res-
peitadas as leis que o regulassem. As empresas industriais, comerciais e agrícolas,
com mais de cem trabalhadores, seriam obrigadas a manter ensino primário para seus
servidores e os filhos destes. Estabelecia a Carta de 1946 que a União deveria aplicar
no mínimo 10% e os Estados, o Distrito Federal e os municípios nunca menos de 20%
da renda resultante de impostos, na manutenção e desenvolvimento do ensino; e indi-
cava, enfim, que os Estados e Distrito Federal mantivessem sistemas de ensino, e a
União, um sistema federal com caráter supletivo.
6 De 1946 a 1961, a legislação federal do ensino distribuiu-se por várias leis orgânicas.
Ao fim desse último ano, foi essa legislação compendiada num diploma de ordem
geral, por sua ementa chamada de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, cujo
texto integral se transcreveu neste capítulo e de que se fará a análise a seguir. Terá essa
análise, ademais, de ser feita também à luz de novos princípios de filosofia social e
política, e de normas gerais de administração pública, estabelecidos pela Constituição
de 24 de janeiro de 1967, cujo texto foi emendado em 17 de outubro de 1969.
7 Ainda que a nova Carta haja mantido a maior parte da matéria relativa à educação,
apresenta inovações importantes. Entre essas está a da exclusão do dispositivo que
tornava obrigatório o emprego de certa quota da receita de impostos no ensino, de
parte da União, dos Estados e municípios. Assim, todo o Título XII, “Dos Recursos
para a Educação”, foi grandemente atingido. Ademais, a Constituição de 1967 ampliou
o conceito de “segurança nacional”, com isso alterando o espírito da lei de 1961. Atos
legislativos variados a têm por fim modificado em muitos pontos.
[ Conteúdo da lei
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tal como aprovada, é um
documento complexo. Seu exame pode ser feito atendendo-se a critérios muito diversos.
Assim, o histórico, o sociológico, o de direito público, o de técnica legislativa, o de técni-
ca pedagógica estrita, e mesmo o de correção lingüística. Mas poderá ter como objetivo
principal o papel que essa lei haja exercido e exerça como instrumento de organização e
administração dos serviços de ensino no país.1
Esta última forma não exclui, é evidente, apreciações por um ou outro dos
aspectos mencionados, sempre que elas se tornem necessárias à elucidação do texto.
Terão, no entanto, feição subsidiária.
A posição que aqui julgamos convir é realmente essa. A lei existe, tem sido
executada, e se executa, muito reclamando do trabalho dos organizadores e administra-
dores escolares. Como deverão eles compreender o documento para bem aplicá-lo, cada
qual em sua esfera de ação, afim de que se obtenham resultados de verdadeiro rendimento
ou eficiência?...
Esse é o problema prático que se propõe.
Em sua ementa, diz a lei que fixa as diretrizes e bases da educação nacional.
O verbo fixar não consta da Constituição vigente. Mas os dois nomes, diretrizes e bases,
sim, com a competência original da União para legislar na matéria, embora não exclusiva.
Isso quer dizer que de diretrizes e bases da educação poderão cuidar também os Estados
e o Distrito Federal, de forma supletiva ou complementar, no âmbito dos serviços de cada
qual, respeitadas as leis nacionais.
Um e outro desses nomes não pertencem à terminologia jurídica usual. A esse
respeito são vagos, pelo que o legislador ordinário, usando-os, poderia considerar a matéria
de modo variável.
1
Para os fins dessa análise, dão-se indicações metodológicas em vários capítulos da Parte 1 deste livro, bem como no
volume Educação comparada (Lourenço Filho, 1965).
2
Também do legislativo. Num de nossos grandes Estados, o seu Conselho de Educação tem revogado leis, por mais
estranho que isso pareça.
Ainda que no texto final aprovado pelo Legislativo, em 1961, várias partes da
revisão mencionada hajam sido profundamente alteradas, ou de todo desprezadas, a idéia
geral de plano permanece. De fato, se examinarmos o texto pelos aspectos de planificação
recomendados pela Unesco e pela OEA (longamente expostos no Capítulo 4, da Parte 1)
veremos que, ao menos em suas grandes linhas, estão eles considerados.
Relembremos esses aspectos capitais:
a) político-social – em que se considere para cada país em conjunto as grandes
aspirações ou ideais comuns, com sentido democrático; deverá esse aspecto
apoiar-se na filosofia social da carta constitucional respectiva;
b) político-administrativo – em que se considera a organização dos poderes
públicos, em sua hierarquia e nas de limitações geográficas (províncias,
Estados, municípios);
3
Dessa comissão faziam parte os professores Abgar Renault, Anísio Teixeira, Antônio de Almeida Jr., Joaquim Faria Goes,
Mário Paulo de Brito e o autor deste livro.
Um único aspecto não está aí atendido, nem o poderia ser, o quantitativo. Por que
razão? Porque é ele essencialmente variável, isto é, dependente de uma parte do crescimento
demográfico e da distribuição dos grupos de população; e, de outra, porque será sempre
dependente dos recursos com que se possa contar para a manutenção dos serviços.
Repetindo a Carta de 1946, diz a lei que os Estados e os municípios deverão
empregar 20% de sua respectiva renda de impostos, no mínimo, com serviços do ensino.
Quanto ao governo federal, a lei inova, pois ao invés de referir-se apenas ao emprego de
10% da mesma renda, no mínimo, fala em 12%, também no mínimo. Quanto à distribui-
ção de tais recursos, estabelece taxativamente que a União deverá empregar nove décimos
do conjunto dos recursos federais, em parcelas iguais, para a constituição de três fundos:
o Fundo Nacional do Ensino Primário, o Fundo Nacional do Ensino Médio e o Fundo
Nacional do Ensino Superior.
Quanto à distribuição dos recursos estaduais e municipais, a lei silencia, como
o faz também quanto ao décimo restante das despesas federais.
Figura 1 – Fontes de recursos para os serviços de ensino, na forma original da Lei de Diretrizes
e Bases, com fundamento na Carta de 1946.
*Toda essa parte, referente à receita e fundos, está ab-rogada.
Tal matéria é tratada no artigo 9º, e é certo que aí se declara que as funções
enumeradas se exercerão “além de outras”, ao Conselho Federal, atribuídas na lei. Mas,
como no 1º desse artigo as decisões do Conselho Federal se distinguem segundo a
Nada parece mais claro. No entanto, veio a Lei de Diretrizes e Bases e dispôs
o seguinte:
a) a União aplicará anualmente na manutenção e desenvolvimento do ensino
12%, de sua receita de impostos;
4
No discurso com que passou a pasta da Educação a seu sucessor, o Sr. Ministro Flávio Supplicy, claramente denunciou o
fato de má aplicação de recursos federais concedidos em auxílios e subvenções. Ver separata da Revista MEC, Rio de
Janeiro, v. 6, dez. 1964. Outras autoridades o têm feito, também.
Preceito de boa técnica legislativa, como, aliás, de lógica comum, é que num
escrito qualquer primeiramente se refiram aqueles pontos essenciais da matéria a ser
desenvolvida, de forma que tudo deles decorra de maneira orgânica. Seria lógico e natu-
ral que a lei começasse por descrever a estrutura dos serviços do ensino, indicando seus
graus e ramos. É o que fazem as leis similares de numerosos países.
1 – Isso não acontece, porém, na Lei de Diretrizes e Bases. Dessa estrutura, só
vem o texto a tratar nos Títulos VI a IX e, como os anteriores já se referem aos graus e
ramos do ensino, disso resultam muitas dificuldades. Ademais, nos primeiros títulos há
referência a programas, disciplinas obrigatórias, categorias de estabelecimentos, e mes-
mo pequenas normas sobre o regime escolar, como o da recusa de matrícula a alunos de
ensino superior reprovados por mais de uma vez.
Assim, uma boa regra de sistemática foi desprezada.
2 – Outro preceito, de importância capital nas leis administrativas, é que os
órgãos ou entidades têm de ser indicados, ou instituídos, se esse for o caso, antes que se
trate de suas funções ou encargos. A razão é que a criação de órgãos e a indicação de sua
competência são atos de império, os que a lei não pode delegar, ao passo que os modos de
funcionamento e relações de umas com outras entidades são atos normativos, de que
podem cuidar os regulamentos.
Na Lei de Diretrizes e Bases esse preceito também foi esquecido.
Senão, vejamos. Já no art. 5º, fala-se de aspectos da composição dos conselhos
estaduais de educação, órgãos de cuja origem e natureza só cuida a lei no art. 10. Por isso
mesmo, uma parte desse último dispositivo vem a repetir frases daquele primeiro,
redundância que poderia ser evitada.
Do mesmo modo, o art. 7º fala da importância das decisões do Conselho Federal
de Educação, antes de que seja ele definido, ou instituído, o que só se dá nos dois artigos
seguintes.
Um desses artigos, o 9°, em suas letras d, j e l, menciona o sistema federal de
ensino. Mas essa entidade só vem a ser explicada muitos artigos adiante, no Título V,
consagrado aos sistemas.
Aliás, a propósito de sistemas, cujo conceito é fundamental na estrutura da
lei, não houve o necessário cuidado da parte do legislador. De acordo com a Constituição,
os sistemas são de duas categorias, e só duas: estadual e federal. Subsidiariamente, ou
como expansão do sistema federal, haverá serviços de ensino federais nos Territórios
(arts. 170, 171 e 172 da Constituição).
5
Ver Diário Oficial, seção I, parte I, 22 de dezembro de 1961. Uma dezena dos pontos vetados não foram aceitos pelo
Congresso Nacional, como ficou indicado na transcrição da lei, no capítulo anterior.
Além dos cuidados da ordem da matéria, ou sistemática, a lei deveria ter dado
atenção especial à terminologia, em especial às de sentido técnico. Nesse particular, são
numerosos os deslizes.
1 – A lei começa por definir os fins da educação nacional, matéria que resume
num só artigo, o primeiro, com sete alíneas. Indicarão elas, realmente, as grandes finali-
dades da educação nacional, ou na forma em que estão redigidas, ora se referirão aos
próprios meios de que o mesmo processo se deva servir, e, ora, à finalidade de formação
7
No Brasil, experiências análogas têm sido feitas por vários investigadores com resultados similares. Num dos mais
recentes trabalhos, elaborado por técnicos do Instituto de Administração, da Universidade de São Paulo, é de notar este
trecho:
“Concluindo, parece-nos que as baixas correlações entre os resultados do teste CIA e as notas escolares se explicam pela
pequena correspondência entre as notas atribuídas, em aula, pelos professores, e o real aproveitamento dos alunos. Essa
falta de adequação entre nota de classe e aproveitamento do aluno não se atribuirá, totalmente, é claro, à intenção
deliberada dos professores de favorecerem determinados alunos e prejudicarem a outros, mas principalmente aos defeitos
já copiosamente analisados e conhecidos do tipo de prova empregado em nossas escolas para avaliação de aproveitamento.
Um estudo mais profundo desse problema talvez indicasse, entre nós, outros fatores determinantes de variação de critério
de notas, tais como maior rigor nos colégios oficiais que nos particulares, sistema de provas parciais, sistema diverso de
atribuição de notas mensais, adotado por escolas diferentes, etc.” (Andrade, Alves, 1962).
[ Síntese do capítulo
1 Na Constituição de 1946, diz-se que compete à União, não, porém, de modo privativo,
legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Isso significa que da matéria
poderão também tratar os legislativos dos Estados e do Distrito Federal, de forma deri-
vada, supletiva ou complementar, no âmbito dos serviços de cada qual. Esse preceito
ficou mantido na Carta de 1967.
8
Observações similares às que fazemos, e ainda outras, constam do estudo de Almeida Júnior (1962).
3 A constituição não determina que haja uma só lei sobre tal matéria, mesmo porque
isso seria de difícil realização. Quando o Código Civil disciplina o pátrio poder, está
tratando de educação; assim o fazem também numerosas outras leis sobre o trabalho,
diversões e responsabilidades penais. Ademais, o texto claramente distingue entre os
conceitos de educação, ação genérica de educar, e ensino, ação do educador, gradual e
sistemática, que se dá nas escolas. O legislador laborou num grave equívoco confun-
dindo as duas coisas. A lei chamada de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não
contém, na verdade, toda a matéria desse título, mas, apenas, diretrizes e bases referentes
aos serviços escolares.
5 A parte mais produtiva da lei é, sem dúvida, a que estabelece que se dê em todo o país
planejamento ao ensino (não à educação, em todas as suas demais formas). Os aspectos
fundamentais a atender, nesse ponto, seriam os de natureza político-social, político-admi-
nistrativo, quantitativo, qualitativo e financeiro. A lei trata de quatro deles, deixando de
parte o aspecto quantitativo, mesmo porque isso dependerá da adaptação das diretrizes
gerais (relações de definição) às situações variáveis da vida do país (relações de estrutura).
6 Para tal efeito, deveria ter bem estatuído, no entanto, as condições de articulação funcional
e de execução, entre os planos estaduais e um plano geral, de caráter nacional, a que a
lei alude, em dado dispositivo. Esse plano não se confunde com o que regule o sistema
federal, de caráter supletivo. Nesse ponto, não ficaram perfeitamente claras as funções
dos órgãos responsáveis pelo planejamento. Há pontos que podem ser argüidos de
inconstitucionais, como os da criação dos “conselhos estaduais de educação” por lei
federal. Isso poderia e deveria ser obviado pelo estabelecimento de um regime de con-
vênios entre a União e os Estados, com a exigência de organização de serviços como se
julgasse útil. Esse regime, porém, não foi estabelecido, mesmo para o caso dos auxílios
derivados dos fundos federais de ensino, o que tem ocasionado emprego inadequado,
a julgar por documentos oficiais, ultimamente divulgados. De qualquer forma, a Carta
de 1967 veio a declarar que é da competência da União “estabelecer planos nacionais
de educação”.
[ Lei de ensino
Fizemos uma apreciação geral da Lei de Diretrizes e Bases, indicando qualidades
e defeitos. Devemos dar agora aos estudantes de Organização e Administração Escolar
algumas indicações que lhes facilitem a apreensão das inovações que esse diploma trou-
xe ao ensino do país, como das modificações que já sofreu. Salvo quanto à parte
introdutória, que se contém em cinco artigos, os dos três primeiros títulos, a matéria de
que trata a lei é ensino, não outra coisa.
Nessas condições, sua matéria fundamental pode ser decomposta em três partes:
a) a que trata da organização geral do ensino, ou da estrutura dos estudos,
segundo os seus graus e ramos (Títulos VI, VII, IX e X);
b) a que trata dos sistemas de ensino e de sua administração (Títulos IV
e V, especialmente, e dispositivos vários que por outros títulos se
insinuam);
c) a que indica recursos para manutenção e desenvolvimento desses sistemas
e os modos de aplicação de tais recursos (Título XII), matéria essa alterada
pela Constituição de 1967, vigente.
[ Os sistemas de ensino
Assim definidos, em gênero, os serviços escolares devem constituir sistemas
de ensino (art. 11 e 12). É o que mandava a Carta de 1946, e a lei repete, desenvolvendo a
matéria no Título V, coincidente, aliás, com o que a Constituição de 1967 reproduz.
Em seu art. 171, a Carta de 1946 determinava que os Estados e o Distrito Federal
organizassem seus respectivos sistemas de ensino; e, no artigo anterior, que a União assim
o fizesse quanto ao seu próprio sistema (sistema federal) e aos dos territórios.
Uma ressalva: de acordo com o art. 110, “pelo prazo de cinco anos, os
estabelecimentos particulares de ensino médio terão direito de opção, entre os sistemas
de ensino federal e estadual, para os fins de reconhecimento e fiscalização”. Também diz
a lei, no artigo anterior, que, “enquanto os Estados e o Distrito Federal não organizarem o
ensino médio”, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, “as respectivas escolas
continuarão subordinadas à fiscalização federal”.
Tal situação se refletirá nas funções dos conselhos, por maior ou menor prazo.1
1
É de notar que a redação desse artigo, por ser ambígua, provocou interpretações contraditórias no seio do próprio Conselho
Federal de Educação.
[ Síntese do capítulo
1 Não trata a chamada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de toda a matéria
compreendida nesta expressão. Excetuados os cinco artigos iniciais nos três primei-
ros Títulos, toda a matéria restante apenas cuida de ensino e sua administração. Tal
matéria está assim distribuída: os Títulos VI, VII, VIII, IX e X definem os graus e
ramos de ensino; os Títulos IV e V referem-se aos sistemas de ensino (federal, estadu-
ais e dos territórios) e à sua administração, havendo ainda dispositivos sobre essa
matéria em outros títulos; o Título XII cuida das fontes de recursos do ensino e modos
de sua aplicação; o título III define a liberdade de ensino, e o XI regula os serviços de
assistência ao escolar.
2 Quanto à estrutura geral dos serviços escolares, ou a seus graus e ramos, a lei manteve
a situação dantes existente: ensino primário para a infância; ensino médio para
adolescentes; ensino superior com os objetivos de favorecer “a pesquisa, o desenvol-
vimento das ciências, letras e artes e a formação de profissionais em nível
universitário”. Faz breve referência ao ensino pré-escolar, ao supletivo e ao de excep-
cionais. Emprega, para o tratamento conjunto dos estudos secundários gerais e dos
que logo cuidem de preparação profissional, o nome ensino médio, não constante de
leis anteriores, ainda que elas já estabelecessem articulação entre todos os ramos do
ensino de 2º grau.
6 A lei não faz nenhuma referência ao ensino mantido pelos municípios, ainda que a
Carta de 1946 os obrigasse a aplicar 20% de sua renda de impostos em serviços da
espécie. Deve-se assim entender que a legislação estadual terá inteira liberdade para
tratar desse ponto. Não obstante, prevêem-se auxílios diretos da União aos municípi-
os, em matéria de ensino, o que não é constitucional.
7 Os planos estaduais de educação, diz a lei, deverão ser coordenados com um plano
geral, de alcance necessariamente nacional, e em razão do qual se deverá fazer a distri-
buição dos auxílios federais. Mas tão importante questão não foi definida de modo
satisfatório quanto à distribuição de recursos. Segundo documentos oficiais, após quase
seis anos de vigência da lei, os resultados não parecem corresponder à expectativa.
Num deles diz-se que “será preciso estabelecer normas que assegurem o emprego dos
recursos apenas em casos de incontestável interesse da educação, e, em cada caso, na
comprovada e estrita medida desse interesse”. Em linguagem mais simples e clara,
isso significa que a aplicação não tem correspondido ao interesse público. É de obser-
var, por fim, que a Constituição de 1967 não mais admite a vinculação de nenhum
tributo, ou certa quota dele, a qualquer órgão, fundo ou despesa (§ 3º do art. 65, dessa
Carta, promulgada a 24 de janeiro de 1967). Terão, assim, desaparecido os fundos fede-
rais, constantes da Lei de Diretrizes. Esse ponto, como outros, recomenda que se pro-
ceda a uma revisão geral dessa lei.
8 Logo após a vigência dessa lei, dever-se-ia ter feito uma reforma administrativa do
Ministério da Educação e Cultura, o que não se fez. Esse problema ora se apresenta
mais complexo, em face do Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1957, que “dispõe
sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma
Administrativa e dá outras providências”. Quanto ao Ministério da Educação, nesse
[ Preliminares
1
A determinação desses setores, em relação à vida econômica, foi esboçada por Sir William Petty, ainda no século XVII, mas
só convenientemente elaborada nos dois últimos decênios por Clark Colin (1940) e Jean Fourastié (1945). Para aplicação
da teoria resultante aos problemas do ensino, cf. Pierre Jaccard (1957) e também numerosos estudos da UNESCO.
2
A análise educacional, como a análise econômica, pode ser feita com o sentido de investigação das condições determinantes
dos processos pelos quais a educação e a economia se interpenetrem, mediante métodos comparativos; e faz-se também
sobre a situação concreta de cada país, num dado tempo, à luz dos resultados obtidos por aqueles métodos, para mais
precisa orientação de ação política racional. Cf. Educação comparada (Lourenço Filho, 1965), capítulo especial sobre
“Análise educacional”.
3
Os Anuários estatísticos, do IBGE, regularmente publicados desde 1939, contêm as seguintes partes: Situação física,
Situação demográfica, Situação econômica, Situação social, Situação cultural, Situação administrativa e política.
[ B) Fatores socioculturais
[ C) Fatores econômicos
6
A lei de janeiro de 1937, resultante de projeto elaborado pelo Ministro Gustavo Capanema representa um marco de
progresso na organização dos serviços públicos do país, havendo nesse sentido precedido os grandes trabalhos do DASP.
7
Durante esses anos, foi o Inep dirigido pelo autor deste livro. De 1945 a 1948, pelo saudoso professor Murilo Braga de
Carvalho. Teve, depois, em sua direção: Anísio Teixeira, Carlos Pasquale e Carlos Corrêa Mascaro. Atualmente é dirigido
pelo Dr. Guido Ivan de Carvalho [o A. refere-se à epoca da publicação da 5ª edição desta obra] .
8
Administração do professor Anísio Spinola Teixeira.
9
O livro de Anísio Teixeira foi depois reeditado com novo plano, e assim também o de A. Carneiro Leão; ao seu primeiro
trabalho, citado, Querino Ribeiro mais tarde viria a juntar o estudo Ensaio de uma Teoria da Administração Escolar
publicado em 1952 pela Faculdade de Filosofia, Universidade de São Paulo (Publicação nº 158).
a posição da Cadeira no currículo das diferentes faculdades e suas relações com as demais
disciplinas;
10
Ao imprir-se a 5ª edição, iniciavam-se novas modalidades de formação, segundo a Resolução nº 2, de 1969, do Conselho
Federal de Educação, a qual fixa a duração e a constituição do Curso de Pedagogia. O texto integral desse documento figura
no Anexo, devendo merecer atento exame de todos quantos se interessem pelas questões de Organização e Administração
Escolar em nosso país.
11
Essa Associação tem como presidente o professor A. Pithon Pinto, da Universidade da Bahia, sucessivamente reeleito.
5) Para admissão aos cursos, devem exigir-se condições de experiência anterior no ensino
e, em certos casos, já em trabalhos de administração escolar; todos os cursos devem
igualmente compreender estágios práticos, como parte integrante da formação
especializada que se tenha em vista.
[ Síntese do capítulo
1 Quaisquer que sejam as leis de ensino, para que seus objetivos se cumpram, será preciso
bem estruturar e fazer funcionar os serviços escolares, adaptados às condições da rea-
lidade de cada país, em dado momento, e readaptados a mudanças que se tenham
verificado e as que possam ser razoavelmente previstas. Para isso, será imprescindível
que, de uma parte, haja o conhecimento dessas realidades e mudanças; e, de outra, que
haja estudo das questões de Organização e Administração Escolar, e ensino dessa
especialidade, quer para melhor execução e controle de serviços existentes, quer para
satisfatória implantação de novos.
4 O estudo específico dela foi iniciado no Instituto Pedagógico, de São Paulo, em 1931,
num curso de aperfeiçoamento para professores; criaram-se depois cadeiras da especi-
alidade no Instituto de Educação, do Rio de Janeiro, em 1932, e, enfim, nas faculdades
de filosofia, ciências e letras, a partir de 1939. Em 1946, a lei orgânica de ensino nor-
mal, veio a estimular também a criação de cursos de administradores de ensino pri-
mário, em institutos de educação de vários Estados. Nesse período, publicaram-se
algumas obras expositivas e monografias relativas a problemas especiais. Em 1944, o
Inep divulgou um levantamento geral dos serviços de administração do ensino nos
Estados.
ANDRADE, Eugênia Morais de; ALVES, Dulce de Godoy. Estudos da relação entre os
resultados do CIA e Notas de aproveitamento escolar. São Paulo: Instituto de Administra-
ção da Universidade de São Paulo, 1962. (Publicação, n. 180).
ANUÁRIO estatístico do Ceará [referente ao ano de 1923]. Fortaleza: Tip. Moderna, 1926.
Capítulo: A reforma do ensino.
AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. [São Paulo?]: IBGE, 1943. (Houve uma
edição ampliada em 1944 e em 1958; tradução para a língua inglesa publicada pela edito-
ra Macmillan, de Nova York, em 1950).
_________. Novos caminhos e novos fins. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1931.
BARBOSA, Rui. Obras completas. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1937-1952. v.
IX, 1882, Tomo I: Reforma do ensino secundário e superior; v. X, 1883, Tomos I, II, III
e IV: Reforma do ensino primário e várias instituições complementares de instrução
pública.
BARROS, Roque Spencer Maciel de et al. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. São
Paulo: Pioneira, 1960.
_________. Questões do ensino: a reforma de 1920 em São Paulo. São Paulo, 1930.
EMERGING programs for improving educational leadership (a report of the Third Work
Conference of The National Conference of Professors of Educational Administration).
[S.d.].
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, n. 74 e 76, 1959; 77 e 78, 1960
RIBEIRO, Querino J. Ensaio de uma teoria da administração escolar. São Paulo: Faculdade
de Filosofia da Universidade de São Paulo, 1952. (Publicação n. 158).
SÃO PAULO (Estado). Diretoria Geral do Ensino. Estatística Escolar de 1930. São Paulo,
1931.
[VETOS à Lei de Diretrizes e bases]. Diário Oficial, seção I, parte I, 22 dez. 1961.
Resolve:
Anexo 295
§ 2º – Nas instituições de organização pluricurricular, a Sociologia Geral se integrará
no primeiro ciclo a que se refere o artigo 5° do Decreto-Lei nº 363, de 11 de fevereiro de 1969.
§ 3º – A parte diversificada compreenderá, segundo a modalidade de habilitação
específica e conforme as possibilidades de cada instituição, duas ou mais dentre as
seguintes matérias e atividades, na forma do artigo 3°:
Anexo 297
Art. 9o – As matérias e atividades fixadas para as habilitações pedagógicas poderão
ter desenvolvimento diverso conforme os objetivos específicos, a duração e o nível dos
estudos em cada caso.
Ação
administrativa, 69, 87, 91-94
educativa como serviço geral ver Serviços escolares
metódica, 37
política, 91, 101, 205, 206, 233
Action-research ver Pesquisa na ação
Administração
conceito de, 38-42
de material, 286
de pessoal, 62, 286
de serviços gerais, 115, 118
descrição estatística, 83, 105
do edifício e instalações, 123, 146, 149
do ensino, 213, 254, , 260-264, 283
dos alunos, 115, 116, 123, 140-142, 147, 149, 170
dos professores, 114, 116, 118, 123, 141, 142-147, 149
e legislação, 94-98
e organização escolar ver Organização e administração escolar
esquema de Fayol, 51, 59
estrutura de, 53, 120, 121, 145
geral da escola, 146
tática, 93
teorias, 49-58
Administradores
poder de decisão, 92
escolares
ação, 29, 67-88, 175
controle dos recursos, 112, 189-191, 193
Faculdade
de artes, 151
de filosofia, ciências e letras, 252
menores, 126
Família
cooperação com a escola, 137, 139
expectativas em relação aos filhos, 124, 131, 132
capacidade educativa do ambiente doméstico, 110
Fayolismo, 51, 59, 65-66
Federações de escolas e faculdades, 158
Filhos, expectativas das famílias, 124, 131, 132
Gestão
atos de, 96
interna das escolas, 123, 149
Ginásio
nível de ensino, 135, 139
de educação física, 113
Gratuidade do ensino, 90
Graus de ensino, LDB, 216, 217, 221
Grêmio recreativo, 122
Grupo
escolar, 113
solidário, 55
primário, 28
direitos do, 207
Herança cultural, 64
High schools, 135
Holanda, recursos para o ensino primário, 188
Homogeneização cultural, 104, 130, 187
Honduras, índices do produto nacional bruto, 189
Idade
anti-social, 110
escolar, 110
de ensino obrigatório, 111
Ideologia e educação, 279
Igualdade de oportunidades, LDB, 259
Impostos destinados ao ensino, 186, 264, 266
Índia, recursos para o ensino primário, 188
Indonésia, recursos para o ensino primário, 188
Inep ver Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
Informações para a tomada de decisão, 87
Inglaterra
Education Act, 166, 246
bilateral schools, 134
comprehensive schools, 134
ensino superior, 166
primary central schools, 127
recursos federais, 186
Quadrivium, 127
Tática, 92
Taylorismo, 50-51, 65
Técnicos de educação, carreira no MEC, 281
Teorias da organização
descrição geral, 50-57
aplicadas aos serviços escolares, 59-63
Testes, 115, 117, 140, 141, 145
Tipos de escola, 149
Trabalho escolar, abordagens, 34
Trabalhos de grupo no ensino superior, 164
Transferência de alunos na LDB, 228
Transporte de alunos, despesas, 183
Transportes, 146
Treinamento em serviço, 56, 66, 120, 285
Tributação
destinada ao ensino, 186, 194
capacidade de, 185