Você está na página 1de 2

O Construtivismo e os Jogos Infantis

No livro “A formação do símbolo na criança”, Jean Piaget nos apresenta um estudo sobre os jogos
infantis. Piaget classifica os jogos que a criança apresenta em três tipos: jogos de exercícios, jogos
simbólicos e jogos de regras.
Jogos de exercício são os primeiros a aparecer. Surgem antes mesmo do aparecimento da
linguagem. A principal característica deste estágio, que Piaget classifica como período sensório-
motor, é obter a satisfação de suas necessidades. Com a ampliação dos esquemas, a criança vai
cada vez se tornando mais consciente de suas potencialidades, colocando em ação um conjunto de
condutas, sem modificar as estruturas, onde as ações ficam dirigidas somente para atingir seu
objetivo maior que é o prazer. Predominam nos dois primeiros anos, mas reaparecem durante toda
a infância e mesmo no adulto, pois o prazer deve estar sempre presente em tudo que fazemos.
Piaget divide os jogos de exercício em duas categorias:
a) jogos de exercício simples – que conservam puramente atividades sensório-motoras como:
correr, pular e jogar bola, que consistem em movimentos pelo movimento, em manipulação pela
manipulação;
b) jogos de exercício que envolvem o próprio pensamento: fazer perguntas só por perguntar ou pelo
prazer de combinar as palavras e os conceitos, é um brinquedo que envolve o pensamento, a
inteligência refletida.
Jogos simbólicos são brincadeiras em que um objeto qualquer representa um objeto ausente.
Segundo Piaget, estes jogos fazem parte da fase pré-operatória (dos dois aos seis anos de idade),
onde a criança, além do prazer, começa a utilizar a simbologia. A função simbólica já está
estruturada e começa a fazer imagens mentais, já dominando a linguagem falada.
Muitos dos jogos simbólicos desempenham uma função compensatória. Pelo jogo, a criança não
apenas copia a vida real, mas a corrige: manifesta emoções, satisfaz desejos e elimina conflitos.
Piaget também notou o simbolismo coletivo, nos jogos em que as crianças brincam juntas,
desempenhando diferentes papéis que se ajustam. Esse tipo de jogo resulta do progresso da
socialização e vai se transformando rapidamente numa imitação objetiva da vida real. Entre os 7 e
os 11 anos percebe-se uma coordenação cada vez mais estreita dos papéis em um florescimento
total da socialização.
Jogos de regras são os jogos de combinações sensório-motoras (corridas, saltos, futebol, jogos de
bola de gude, etc.), ou de combinações intelectuais (cartas, xadrez, damas, etc.), com competições
entre os indivíduos, o que torna a regra necessária. De acordo com Piaget, este jogo acontece a
partir dos sete anos de idade, no período operatório concreto - a criança aprende a lidar com
delimitações no espaço, no tempo, o que pode e o que não pode fazer. Ao invés de símbolo, a
regra supõe relações sociais, porque a regra é imposta pelo grupo e sua falta significa ficar de fora
do jogo.
São regulados por normas transmitidas de geração para geração ou por acordo momentâneo
estabelecido pelos participantes. Nele ainda estão presentes as formas anteriores de jogo, portanto
a fantasia e vôos de imaginação não estão excluídos nesta fase. Os jogos com predominância de
regras levam a criança a compreender a diferença que há entre trabalho e brincadeira, fundamental
para sua atuação enquanto aluno.
É o tipo de jogo que surge mais tardiamente na vida do indivíduo, mas, em compensação, ele
subsiste e desenvolve-se durante toda a vida adulta (esportes, xadrez, jogos de cartas, etc.),
enquanto os jogos de exercícios e simbólicos, que se apresentam mais cedo, aparecem mais
raramente no adulto. Este jogo só é possível após certo desenvolvimento da inteligência e é
característico do indivíduo socializado.
Cada estágio do desenvolvimento descrito por Piaget tem uma seqüência que depende da evolução
da criança, do nascimento até o final da vida. Uma fase se interliga com a outra de forma que o final
de uma se confunde com o começo de outra. A evolução começa com a fase puramente reflexiva,
passando pela assimilação, pelo simbolismo até chegar à acomodação.
Os jogos infantis apresentam uma evolução: a criança vai, aos poucos, se tornando mais exigente
com seus símbolos, procurando cada vez mais aproximá-los do real. Passam dos símbolos da
realidade à imitação desta. Isso leva à transformação dos jogos de exercício e simbólicos em jogos
de construção, que mais tarde, serão o trabalho. Piaget afirma que somente os jogos de regras
escapam a essa lei de involução e desenvolvem-se com a idade, sendo os únicos que subsistem no
adulto.

Você também pode gostar