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PROVA 01

Questão
No prefácio da sua Antropologia, Kant enfatiza o seu enfoque “pragmático” em oposição
ao que ele chama ali de “teórico” ou “fisiológico”. Os parágrafos estudados até agora tratam da
“faculdade de conhecer”. Selecione, dentre os parágrafos 1 – 11, alguma análise de ato ou
faculdade de conhecer que exemplifique este enfoque pragmático e que ajude a esclarecer o seu
sentido. Exponha o argumento e os conceitos utilizados, com suas palavras, e mostre a relação
entre o prefácio da obra e o parágrafo que você escolheu.

A Antropologia de Kant tem como marca distintiva o seu caráter pragmático. Isso é
demonstrado pelo autor desde o prefácio, em que expõe o objetivo de tornar a Antropologia
Pragmática algo útil ao homem, uma vez que ele adquire consciência de seus sentimentos e
emoções e pode, desse modo, “ter o uso de todas as suas faculdades em seu poder para submetê-lo
ao seu livre-arbítrio”1. Assim, é possível atingir o ponto máximo da realização humana ao tornar-se
senhor de si e conquistar autonomia.
Nessa busca de auto-conhecimento, o homem desenvolve sua consciência como cidadão do
mundo, isto é, uma consciência global em que ele deixa de ser um observador passivo das ações da
natureza sobre si (conhecimento teórico ou fisiológico) e passar a ser um agente de construção de
sua própria identidade, à medida que descobre quem ele é (conhecimento pragmático). Nesse
sentido, ele não apenas conhece o mundo, mas principalmente, possui o mundo, pois toma parte
dele ao promover transformações em si e, conseqüentemente, na sociedade em que está inserido.2
No parágrafo 1, Kant demonstra como a consciência que o homem tem de si, diferencia-o
dos animais ao formar a sua identidade pessoal, seu “eu”. Essa consciência única, mesmo diante da
multiplicidade de experiências vividas, é o que faz do homem uma pessoa.
Entretanto, o exagero desse “eu” origina o egoísmo: a incapacidade de se colocar num ponto
de vista coletivo, visando só o benefício individual.
Em certa medida, todos são egoístas, o que gera empecilhos à formação da consciência de
cidadão do mundo, mas Kant defende que, ao se conhecer e reconhecer esse egoísmo, o homem
pode “controlar-se”, ou melhor, perfectibilizar-se. Disso trata o parágrafo 2.
O egoísmo pode apresentar-se de três formas: lógica, estética ou prática.

1
Immanuel Kant. Antropologia de um ponto de vista pragmático, § 8, p. 43.
2
Para Kant, o conhecimento do mundo não está dissociado do conhecimento do homem, pois entende que todos os
conhecimentos e habilidades buscados são aplicados ao próprio ser humano. Assim, conhecer o homem é conhecer o
mundo. (Adaptado do Prefácio).
O egoísta lógico considera como válida apenas a própria opinião, desprezando os juízos
alheios. Alguns buscam parecer raros, mas o que conseguem é se fazer passar por extravagantes ou
mesmo arrogantes, já que consideram a si mesmos como medida da verdade.
O egoísta estético assemelha-se ao lógico, diferindo apenas no fato de que concebe o seu
gosto como parâmetro da arte.
Já o egoísta moral é aquele que vê a sua satisfação pessoal como objetivo último e elevado
acima de todas as outras pessoas. Julga útil somente o que lhe serve e ético ou bom só o que é capaz
de fazê-lo feliz. Esse tipo de egoísmo é o que tem maiores implicações práticas, pois afeta outros
além do próprio egoísta, ocasionando sérios danos sociais. Sob esse ponto de vista, pode-se
entender que o mal é fruto do egoísmo.
Kant, então, propõe o pluralismo como forma de oposição ao egoísmo: uma forma de
entender que o homem, no mundo, é uma parte e não o todo, ou seja, a consciência global do que é
um “cidadão do mundo”.

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