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Cultura Documentos
pensar
o
entre
expediente
equipe
editorial
discentes
Bruno
Rodrigues
Catallani
Natanael
Andrade
Guimarães
email
de
contato
alpendre@labin.pro.br
editoria.alpendre@labin.pro.br
editorial
O
desenvolvimento
de
uma
pesquisa
que
tem
como
objetivo
a
elaboração
e
construção
Rafaela
Caris
Perinelli
de
u m
m aterial
c ientífico
p or
m eio
d e
u ma
r evista
a cadêmica
gerida,
p rincipalmente
p elo
Talita
Tiemi
Semura Ø
corpo
discente,
é
de
grande
importância
para
o
fortalecimento
do
ensino
e
da
relação
Victor
Locatelli
Garcia http://www.alpendre.arq..br de
aprendizagem
entre
aluno
e
professor.
A
elaboração
de
uma
linha
editorial
para
tal
Yoná
Beltran
Marcelino
Brandão
Ribeiro periódico
t orna-‐se
a
p rópria
b usca
d e
f ortalecimento
d as
d isciplinas
o ferecidas
n o
c urso
Ƥ
de
a rquitetura
e
u rbanismo
b em
c omo
d as
q uestões
r elevantes
a dvindas
d o
c orpo
d iscente
Colaboradores.
Alpendre
No.1 Profa.M.sc.
Maria
Julia
Barbieri sobre
o
universo
da
arquitetura
e
áreas
afins
tais
como
o
design,
a
fotografia,
a
arte,
a
Mário
Prata
.
jornalista
e
colunista
do
Estado
de
São
Paulo
filosofia,
a
p oesia,
e ntre
o utras.
O
e ditorial
a inda
e ntende
a
i mportância
d e
a presentar
o s
identidade
visual
e
logotipo
Prof.Dr.
Igor
Guatelli
.
professor
titular
da
FAU
Rogério
de
Souza
Silva processos
de
criação
e
pensamento
no
desenvolvimento
de
algumas
matérias
e
projetos
Mackenzie/SP expostos
n a
r evista,
q ue
s e
p or
u m
l ado
i lumina
a s
q uestões
r eferentes
à
e xperimentação
e
Prof.Dra.
Helena
Câmara
Lacé
Brandão.
professora
Ø
liberdade
d e
i deias
e
p rocessos
d iversos,
p or
o utro
f az
f luir
o
p rocesso
s ubjetivo
i ndividual
UFRJ Marcosuel
–
editoração
arquivos
audiovisuais como
a specto
importante
p ara
o
c rescimento
e
a madurecimento
p rofissional.
Profa.Dra.
Angela
Moreira
.
professora
UFRJ Prof.
M.sc.
André
Teruya
Eichemberg
Felipe
Morozini
.
diretor
de
arte/fotógrafo
Profa.
M.sc.
Maria
Júlia
Barbieri
Henrique
Oliveira.
artista
Rogério
de
Souza
Silva.
Estudande
de
Publicidade
O
a lpendre
é
u ma
g radação.
N ão
é
s omente
u m
e spaço
s ingular,
c omo
t ambém
u m
t empo
Unifev. revisão
Profa.
M.sc.
Maria
Júlia
Barbieri que
se
estende
diante
nossos
olhos.
Podemos
compreendê-‐lo
como
um
ambiente
de
João
Vitor
Barros.
Estudante
de
Jornalismo
.
Unifev.
Julie
Ane
Silva
Paulon
.
estudante
de
arquitetura
.
gradação
e ntre
o
i nterno
e
o
e xterno,
a
l uz
e
a
s ombra,
o
r uído
e
o
s ilêncio,
o
s util
e
o
d enso.
Unifev. apoio
técnico O
alpendre
é
uma
suspensão,
que
f lutua
entre
o
racional
e
o
sensível,
uma
interface
de
Núcleo
de
Arquitetura.
Núcleo
de
Pesquisa. mediação
e ntre
o
h omem,
a
n atureza
e
o
e difício.
H á,
d e
c erta
f orma,
u ma
g radação
i nfinita
docentes
responsáveis Laboratório
Integrado.
LAB.In.
de
tons
afetivos
presentes
em
cada
ser,
em
cada
objeto,
em
cada
movimento
expresso
e
Prof.M.Sc.
André
Teruya
Eichemberg Curso
de
Arquitetura
e
Urbanismo
Site.blog
Monolitho.
impresso
nesse
ambiente;
do
sujeito
cambaleante
virando
a
esquina,
da
senhora
que
Prof.M.Sc.
Maria
Júlia
Barbieri observa
a
b anda
p assar,
a s
c onversas
a nimadas
d e
d omingo,
d os
c achorrinhos
q ue
b rincam
Centro
Universitário
de
Votuporanga.
UNIFEV/SP
seções
da
revista
ÀƤ
ǡǡØ
ǡ
de
a mor
e ntre
o
m eio
f io
e
a
r ua.
A ntes
d e
s er
u ma
p roposta
e spacial
c ujo
v ínculo
h istórico
ǡ Ƥ
ǡǡ periodicidade é
e ncontrado
e m
muitas
c idades
d o
interior
e
p resentes
na
c asa
bandeirista
e
c olonial,
o
Entrevista,
Criação
artística Semestral alpendre
é
u ma
p ossibilidade
e stética/ética
d e
u m
e spaço
e ntre
d ois
d iferentes,
n em
f ora
nem
dentro,
mas
ao
mesmo
tempo
lá
e
cá.
O
alpendre
é
o
indecidível,
pois
depende
da
UNIFEV
CIDADE
UNIVERSITÁRIA vida
p ara
fazer
s entido.
Alpendre
é
um
periódico
online
com
periodicidade
semestral,
de
Núcleo
de
Arquitetura.
Bloco
5
-‐
Revista
Alpendre.
±
Ǧ
ÀƤ
ǡ
Av.
Nasser
Marão,
3069
-‐
Pq.
Industrial
I
por
discentes
e
docentes
da
UNIFEV
com
temas
que
abordam
o
CEP
15503-‐005
-‐
Votuporanga/SP
ƤǤ
sumário Ƥ
ǣThe
Last
Floor
Project.
Felipe
Morozini
A
Varanda
e
o
Alpendre.
Mário
Prata
/
Natanael
Guimarães
(leitura
Ƥ
Ȍ
Conto
sobre
um
projeto
na
cidade.
Guilherme
Vendramini
Koghi
ENSAIOS ÁUDIOVISUAISTEXTUAIS Vídeo:
No
alpendre
com
a
Sra.
x
Talita
Tiemi
Semura
A
marquise
do
Parque
Ibirapuera
e
manifestação
do
conceito
derridiano
“entre”:
arquitetura
como
suporte
de
ações.
Prof.
Dr.
Igor
Guatelli
alpendre No.1
Sou
Fujimoto
e
Junya
Ishigami:
entre
o
futuro
primitivo
e
a
natureza
ambígua
do
espaço.
Prof.
M.sc.
André
Teruya
Eichemberg;
Profa.
M.sc.
Maria
Júlia
Barbieri ARTIGOS
Entrevista
com
Felipe
Morozini.
Yoná
Beltran
Brandão
No
horário
das
primeiras
novelas...
o
alpendre
ENTREVISTA João
Vitor
Barros
09
ȋ͢͜Ȍǡ
Ǥ
Em
sua
casa,
simples
e
tradicional,
ainda
são
preservados
os
ares
de
casa
do
interior.
A
grade
do
portão
é
baixa,
o
revestimento
é
rústico,
pequenos
pedaços
de
cerâmica
vermelha
e
o
desnível
em
relação
à
rua,
conferem
um
charme
à
casa
de
dona
Nadir.
Seu
alpendre,
com
duas
cadeiras
de
área,
é
simples,
mas
cheio
de
receptividade.
Dona
Nadir
senta-‐se
à
frente
de
sua
casa
“na
hora
das
primeiras
novelas,
que
não
assisto”
e
é
ali
que
ela
passa
boa
parte
de
seu
tempo
do
início
da
noite.
A
aposentada
é
simpática,
de
DzƤ
ǡǤ
Muitas
param,
conversam,
tornam-‐se
amigos,
que
passam
a
freqüentar
minha
casa”,
conta,
tranquilamente.
O
hábito
de
se
sentar
no
alpendre
começou
com
a
mãe.
Dona
Nadir
acompanhava
sua
mãe,
ǡǤ
Ƥ
ǡǡ
Ƥ
Ǥ
Ƥ
ǡDzƤ
Ǥ2
casa
de
dona
Nadir.
Ela
acabou
se
tornando
amiga
dos
universitários.
Em
dias
de
chuva,
por
eu
gosto
dela
assim,
me
acostumei”.
E
parece
que
a
paisagem
urbana
também
se
acostumou
ǡØǤ
à
presença
de
dona
Nadir
bem
ali.
Para
a
aposentada,
“antigamente
as
pessoas
costumavam
se
sentar
em
seus
alpendres,
fazer
Para
pessoas
como
essa
simpática
aposentada,
a
vida
corre
em
um
ritmo
diferente,
passa
hora,
passar
algum
tempo.
Eu
moro
sozinha
e
observo
que
muitas
casas
ao
redor
da
minha,
junto
com
os
carros,
os
pedestres
na
rua,
as
mudanças,
as
reformas
ao
seu
redor.
Ela
está
hoje
são
totalmente
fechadas,
com
muros
altos
e
portões
lacrados.”
Mesmo
assim,
para
sempre
ali,
observando.
No
caso
de
pessoas
que
ainda
sabem
valorizar
a
tranquilidade
de
ela
o
convívio
e
a
interação
são
importantes
no
alpendre.
“Não
sinto
medo
de
assaltos
um
alpendre
e
a
importância
de
relaxar
e
aproveitar
mais
sua
vida.
O
alpendre
ainda
é
uma
²
Ǥ×
ǡÀƤ
janela
importante
de
conexão
com
a
parte
exterior.
E
mantém
aquela
sua
função
colonial,
ǡ
ǡÀ Ƥ
Ǥdzǡ
liga
o
interno
ao
externo,
conecta
as
duas
realidades
e
mantém
a
vivacidade.
dona
Nadir.
ǡ²
ǣDzƤ
pra
dentro
de
casa
e
os
bandidos
na
rua”,
observa.
Sobre
sua
casa,
sentada
confortavelmente
cmyk
22 13 31 0
experience
The Last Floor Project
Por Felipe Morozini
Felipe
Morozini
é
diretor
de
arte
e
fotógrafo.
Desenvolve
trabalhos
para
editoriais
de
moda,
publicidade
e
intervenções
artísticas.
Recentemente
ganhou
um
prêmio
em
New
York
com
sua
obra
vídeo
Jardins
Suspensos
ØǤƤElevado
3.5,
Morozini
apresenta
seu
Ǧ Ƥ
The
Last
Floor
Project
sobre
o
Elevado
Costa
e
Silva.
24
alpendreentrevista 25 sta
alpendreentrevi
Alpendre: As outras questões sensoriais se perderam com esta nova formação?
Felipe:
Hoje,
em
São
Paulo
onde
moro,
os
grandes
condomínios
e
edifícios
estão
ampliando
suas
sacadas
e
renomeando-‐as
de
alpendre
para
encontrar
sua
antiga
relação
e
substituindo
suas
fechadas
muradas
e
gradeadas
por
vidros,
que
fez
melhorar
muito
a
qualidade
da
paisagem
urbana.
Eu
não
acredito
que
a
sensorialidade
se
perca
pelo
vidro,
por
exemplo,
porque
quando
você
enxerga
uma
nova
realidade
e
experimenta
uma
nova
sensação
através
de
objeto
ou
gente,
faz
com
que
aguce
sua
curiosidade.
Tudo
é
troca
de
experiências.
Alpendre:
Você
procura
fazer
com
que
os
outros
experimentem
outras
sensações
além
dos
conceitos
formados
apenas
pelo
campo
visual?
E
como?
ǣ×Ǥ2
˱
pode
me
fotografar
assim
como
eu
através
de
uma
das
milhares
de
janelas.
Quero
cultivar
através
destes,
novos
olhares
e
mostrar
que
apesar
dessas
novas
relações
urbanas,
ainda
somos
os
mesmos.
Você
tem
grande
familiaridade
com
o
Minhocão
e
buscou
através
do
projeto
“Jardim
Ødz ǤǤǤ
Felipe
Morozini
é
um
voyeur,
que
através
de
sua
janela
observa
tudo
o
que
acontece
em
Alpendre:
Qual
foi
a
reação
das
pessoas
durante
e
após
a
realização
do
projeto?
seu
redor,
guardando
uma
história.
Mas,
devido
à
formação
da
cidade
local,
cultivou-‐
se
de
certo
modo
novos
tipos
de
alpendre,
com
relações
distantes
mais
não
menos
Felipe:
Juntei
vinte
amigos
que
adoraram
a
idéia
e
logo
de
dispuseram
a
ajudar.
Tentamos
indiscretas. ƪÀ
Ǥ
moradora
havia
feito
uma
denúncia
reclamando
que
estavam
pichando
o
Minhocão.
Minha
ǣ DzǦ
ƪǫdzǡ
que
era
cal,
logo
sairia
e
eles
deixaram
o
local.
Depois
de
pronto,
as
crianças
correram
26
alpendreentrevista 27 sta
alpendreentrevi
ƪ
ǡ
ï
Ǥ é
cheio
de
objetos
antigos
ou
velhos
mesmo,
que
eram
da
minha
avó
e
eu
tento
achar
simples
faz
toda
a
diferença.
Todos
nós
podemos
e
devemos
reclamar
ou
evidenciar
o
um
novo
uso
para
eles.
Tive
que
propor
um
ambiente
para
um
amigo,
mas
não
cabia
um
que
quisermos,
mas
não
demore
porque
a
idéia
passa.
Dias
depois
minha
mãe
me
ligou
sofá,
muito
menos
o
que
eu
queria;
logo
imprimimos
um
adesivo
e
colamos
na
parede.
avisando
que
meu
trabalho
havia
saído
como
capa
de
uma
revista
conceituadíssima
e
Na
verdade
ele
constrói
um
ambiente
mesmo
não
sendo
tridimensional
e
esse
é
o
grande
que
era
“Um
dos
motivos
para
morar
em
São
Paulo”. barato.
Alpendre: Como foi a experiência em Milão e qual o motivo da intervenção? ǣ2ǡDzdz͟͞ǫ
Felipe:
Fui
convidado
para
a
Semana
do
Design
de
Milão
através
do
projeto
do
Minhocão.
Felipe:
Pode
ser,
hoje
nossas
cidades
são
bem
inventivas,
muito
se
é
permitido
e
a
grande
ǡƪ
parte
dos
assuntos
estão
em
nossas
mãos.
Geralmente
na
forma
mais
simples,
é
só
nos
outro
tomado
por
grandes
edifícios
modernos,
envidraçados
e
monumentais
que
está
dispormos
a
participar.
Ǥƪ
desapercebido. Pudemos
sentir
o
perfume
do
Jardim
Suspenso,
valeu
Felipe!
ƪ
ǡ ±Ǥ
da
cal
também
repercute
em
questões
passíveis
de
transformações,
recicláveis...
Alpendre:
Seria
esta
uma
solução
de
renovação
do
espaço
urbano
ao
invés
de,
por
exemplo,
colorir
a
rua
ou
o
entorno?
Felipe:
Claro,
a
cal
foi
pensada
de
modo
a
não
ferir
aquela
superfície
já
tão
saturada.
Acredito
no
efêmero
e
na
importância
do
momento,
é
fundamental
que
o
ambiente
se
Ƥǡ×
Ǥ
colorir,
revitalizar,
toda
intervenção
é
válida,
tanto
que
sempre
convido
novos
artistas
ou
interessados
a
propor
novas
intervenções,
seja
na
cidade,
em
casa
ou
dentro
de
cada
um.
Alpendre: Como este trabalho contribui para a construção de um espaço?
Felipe:
Eu
gosto
e
acredito
na
validade
da
reutilização
dos
materiais.
Meu
apartamento
alpendreensaios
A varanda, o
Me
disse
um
amigo,
todo
orgulhoso: Ƥ
͙͢͝ǫ±
²
ǫ
Você
acha
que
vai
ver
alguma
pinta-‐brava?
alpendre e a
-‐
Com
varanda!
Pessoa
suspeita;
cafajeste.
Ele
alugou
um
apartamento
no
11º
andar,
pinta-brava com
varanda.
Pra
que
varanda
se
não
tem
pinta-‐brava?
Entendeu
o
que
é
pinta-‐brava?
Por Mário Prata
E
você
já
viu
os
anúncios
de
apartamentos
Aquelas
-‐
estamos
no
interior
-‐
que
são
faladas.
De
uma
maneira
ou
outra,
é
falada.
Mas
para
vender?
Eles
fazem
questão
de
falar
na
isso
não
tem
a
menor
importância
para
quem
olha,
do
alpendre.
O
que
importa
é
que
falam
varanda.
Tem
uns
com
uma
para
cada
privada. Ǥ2ǦǡǤ
Estou
olhando
aqui
pela
minha
janela.
Tem
A
gente
conhecia
todas
das
cidade
e
sabia
onde,
em
que
rua
passavam
e,
principalmente,
vários
apartamentos
em
volta,
com
varandas.
a
hora.
Ficávamos
nos
alpendres.
Ou
íamos
ver
pinta-‐brava
em
alpendre
dos
amigos.
Todas
vazias.
Claro,
varanda
para
olhar
o
quê?
Todos
os
alpendres
eram
territórios
livres.
Quem?
Se
pelo
menos
tivesse
alguém
na
varanda
do
outro. ǣǡƤ
Ǧ
28 tinha
só
um
quarteirão,
pouquíssimo
movimento
e,
além
do
mais,
se
chamava
Rua
Gago
29
Esse
pessoal
acha
que
varanda
é
a
mesma
Coutinho.
Pinta-‐brava
que
se
preze
não
passa
numa
rua
com
esse
nome.
Difícil
pintar
uma
coisa
que
alpendre.
Seria,
no
máximo,
um
pinta-‐brava
por
ali.
Pensando
bem,
a
casa
do
Caio
nem
tinha
alpendre.
resquício
do
alpendre.
Não
é
a
mesma
coisa,
não. Ǥ2Ǥ
ǣǨƤ
À
Vamos
ao
Aurélio: da
calçada.
Mas
só
um
pouquinho.
Com
uma
certa
altura
-‐
digamos,
de
uma
escadinha
de
dez
degraus.
Varanda:
Balcão,
sacada.
Terraço.
Gradeamento
de
sacadas
ou
de
janelas
rasgadas
ao
nível
do
Como
eu
invejava
o
alpendre
do
César,
onde
reinava
absoluta
a
dona
Helia.
A
dona
Helia
pavimento. dominava
quatro
ruas
num
mover
de
olhos.
Sabia
de
tudo.
Alpendre:
Espaço
coberto,
reentrante,
e
Tinha
alpendre
tão
grande
que
as
festas
eram
nele.
Só
nele.
Ninguém
entrava
na
casa.
aberto
na
fachada
de
uma
casa,
que
dá
acesso
ǡ
ØǤǡǦ
Ǧ
ao
interior. varanda
de
frente
para
a
outra
varanda.
O ESTADO DE S. PAULO. 14/03/2001
Mas
a
diferença
básica
é
a
seguinte:
você
vai
No
alpendre
se
noivava
até
que
o
pai
tossisse
pela
segunda
vez
na
sala.
alpendreensaios
Véspera
de
feriados
chegava-‐se
a
quatro
espirros.
Ƥ ǡǫǡǤ±Ƥ Ǥ
Ali
pecava-‐se
com
os
pensamentos.
Ali
não
se
respeitava
mulher
do
próximo
que
passava
indo
para
o
cinema,
de
sombrinha
e
tudo.
ǣǡ
²Ƥ
ǡǡ
Ƥ
±ǡ
ǡ
Ǥ
esses
mais
estimulantes
para
a
imaginação.
Talvez
venha
daí
a
dor-‐de-‐cotovelo.
A
dor
de
só
olhar,
cobiçar.
Agora achei a palavra certa: os alpendres foram feitos para a cobiça também.
Pois
também
era
dali
que
a
gente
via
os
garotos
de
pais
mais
ricos,
passarem
com
um
Aero
Willys
zero.
Mas
o
que
importava
eram
mesmo
as
pintas-‐bravas.
A
gente
pensava:
30
-‐
Olha
a
pinta-‐brava!
Onde
será
que
essa
pinta-‐brava
vai
a
uma
hora
dessas?
As
bundas
passaram
pelo
nosso
alpendre
e
pela
nossa
memória
como
um
dos
grandes
momentos
do
século
passado.
² Ø Ǥ
ǡ ǡ±ǡØǡǤ
o
que
era
um
alpendre.
E,
muito
mais
ainda,
uma
boa
duma
pinta-‐brava.
ARTE henrique
oliveira
57
62 63
Igor
Guatelli
é
arquiteto
e
mestre
pela
FAUUSP
(“O
discurso
da
Desconstrução
em
Arquitetura:
ͥ͢͜͝ ͥͥ͜͝ǫdzȌ
Ǧ
DzȋȌ
ȋȌ
contemporânea
–
arquitetura
e
pós-‐
estruturalismo
francês”.
Professor
das
universidades
Mackenzie
e
UNIP
além
de
professor
convidado
da
UNICAMP.
Divagacoes processuais sobre o entre
Yoná Beltran Marcelino Brandão Ribeiro
Fujimoto e Ishigami traduz
seu
original
pensamento
da
relação
intrínseca
entre
arquitetura
e
natureza.
Ishigami
trabalhou
durante
anos
no
escritório
de
Kazuyo
Sejima
-‐
SANAA
e
agora
desenvolve
seu
Entre o futuro primitivo e a natureza ambígua do pensamento
em
trabalhos
audaciosos
e
instigantes.
Suas
obras
mesclam
o
universo
da
arte,
design,
arquitetura
e
paisagem,
espaço como
podemos
perceber
em
Table
de
2005,
uma
mesa
com
9,5
André Teruya Eichemberg e Maria Júlia Barbieri metros
de
largura
e
apenas
3
milímetros
de
espessura,
em
Ballon
de
2007,
uma
instalação
de
um
balão
de
14
metros
de
altura
e
͝ ƪ
Ambos,
Sosuke
Fujimoto
e
Junya
Ishigami
fazem
parte
da
nova
Kanagawa
Institute
of
Technology
em
2008
que
contém
305
geração
de
arquitetos
japoneses
que,
além
deles,
inclui
outros
delgadas
colunas
dispersas
aleatoriamente
criando
uma
leveza
importantes
nomes,
como
Tezuka
Architects,
Shigeru
Ban
e
e
transparência
singulares
ao
edifício.
Sanaa-‐Kazuyo
Sejima,
todos
com
visões
instigantes
e
inovadoras
ØØ
ǡÙ Arquitetura
antes
da
arquitetura
de
Sou
Fujimoto
entre
arquitetura
e
cidade.
O
que
destaca
os
dois
primeiros
é
a
inusitada
e
difícil
incursão
de
pensar
a
arquitetura
a
partir
do
seu
A
arquitetura
de
Sou
Fujimoto
nos
transporta
para
uma
À
ǡƤ
²
86 87 ²
Ƥ
ǡ
arte
do
construir. estabilizada
entre
os
limites
da
visão
de
mundo
convencional,
ainda
não
dobrada
dentro
de
nós
como
uma
potencialidade
O
escritório
Sou
Fujimoto
Architects,
localizado
em
Tóquio,
que
talvez
jamais
se
materialize.
Pelo
contrário,
vivenciamos,
Japão,
lançou
recentemente
o
livro
Primitive
Future,
que
além
de
início,
o
silêncio
exuberante
e
solene
que
enche
o
interior
de
apresentar
os
principais
projetos
do
grupo,
discorre
sobre
da
caverna
e
a
virtualidade
pura
diante
de
nós.
Em
seguida,
a
estimulante
e
fecunda
concepção
de
futuro
primitivo.
Esse
disposições
de
elementos
que
são
ora
piso
ora
teto,
ora
ambos,
conceito
parte
da
dicotomia
entre
a
caverna
e
o
ninho,
a
primeira
ora
alçapão
ou
clarabóia,
mas
também
ambos.
Entre
uma
enquanto
concepção
criativa
e
libertadora
no
espaço
e
o
segundo
linha
projetual
e
a
cor
branca
não
há
distância,
pois
é
a
própria
enquanto
exercício
funcional
e
preciso
do
espaço,
e
dá
corpo
a
Ǥ
Ƥ
Ø
aos
limites
das
suas
funções
bem
conhecidas,
pois
a
percepção
dicotomia. ainda
sonda
as
possibilidades
da
caverna,
e
a
arquitetura
ainda
terá
de
esperar
séculos
para
nascer.
Já
o
jovem
e
promissor
Junya
Ishigami
ganhou
destaque
após
ser
o
arquiteto
responsável
pela
obra-‐instalação
do
Japão
na
11ª
Fujimoto
apoia-‐se
em
seu
conceito
de
futuro
primitivo,
cuja
Bienal
Internacional
de
Arquitetura
de
Veneza
de
2009
com
seu
proposta
é
de
se
instaurar,
criativamente
e
projetualmente,
no
trabalho
Natureza
Extrema:
paisagem
de
espaços
ambíguos,
que
momento
antes
do
surgimento
da
arquitetura.
Sua
arquitetura
feitas
de
blocos
de
madeira.
A
Wooden
Final
House
parte
de
um
módulo
básico,
um
bloco
de
madeira
de
35
centímetros
quadrados,
que
em
conjunto
fazem
a
função
de
estrutura
e
dos
possíveis
espaços
de
comer,
sentar,
deitar,
contemplar,
descansar,
estudar,
etc.
maquetes Ƥ
Ǥ ǡ À
ǡ E
no
projeto
T-‐House,
o
arquiteto
projeta
o
mesmo
sentido
dentro,
ora
sala,
ora
estrutura,
ora
vegetação...
o
projeto
instala-‐ de
ambiguidade
espacial,
mas
numa
típica
habitação
de
Wooden House
Christiani Garcia Gardini, se
na
incerteza
das
funções
e
formas.
Essa
primordial
relação
dimensões
pequenas.
Para
Ishigami,
o
projeto
seria
como
estar
Marília Vilela Pupim, entre
universo
espacial
construído
e
o
delicado
e
belo
tratamento
ƪǡ
À
ǡ
Rafaela Caris Perinelli e
da
paisagem
foram
obtidas
pelo
trabalho
em
conjunto
com
o
e
o
morador
estaria
totalmente
imerso
nesse
ambiente.
Yoná Beltran Brandão
N House botânico
Hideaki
Ohba. Podemos
perceber
suas
intenções
levadas
quase
às
últimas
Daniel e Cantoia, Jéssica consequências
entre
arquitetura
e
a
natureza,
pois
as
funções
Pascoalato, Rodolfo
ǡ ǡ Ƥ
Murasse Ƥ
Ù± 90 91 em
edifícios
separados
no
terreno,
interligados
apenas
pelas
e
interno,
pois
natureza
e
construção
são
o
mesmo,
participam
de
referências bibliográficas uma
mesma
matéria
informe
e
enigmática.
São
as
gradações
entre
ÙǡƪǤ
FUJIMOTO, Sou. Primitive diversas
escalas
que
interessam
para
Ishigami,
além
da
relação
Future. Contemporary gradativa
entre
natureza
e
edifício
que
os
torna
indistinguíveis
± Ƥ
Architects Concepts entre
si. da
obra
e
pensamento
destes
promissores
arquitetos
para
o
Series, vol 1. Inax Publishing, mundo
da
arquitetura.
Em
um
mundo
cuja
palavra
de
ordem
2008.
Os
processos
de
representação
de
Ishigami
também
nos
chamam
é
a
obsolescência,
resta
sim,
um
conjunto
de
inovadoras
Revista 2G, n. 50. Sou a
atenção
pela
delicada
e
afetiva
rede
de
associações
entre
a
ideias
para
um
pensamento
ético
e
estético
na
arquitetura
Fujimoto, 2009.
natureza
e
o
homem.
Desenhos
pequeninos,
rabiscados
como
que
compreende
a
natureza
fugidia
e
ambígua
do
mundo
ISHIGAMI, Junya. Small
ǡǡƪǡ contemporâneo.
Images. Contemporary aqui
também
não
há
distinção
ou
hierarquia,
pois
para
Ishigami,
Architects Concepts
Series, vol 2. Inax tanto
o
homem,
o
edifício
e
a
planta
estão
num
mesmo
patamar
Publishing, 2009. de
importância.
93
VIDEO.
Dona
Cida
e
o
Alpendre.
Autora:
Talita
Tiemi
Semura,
2010,
10
min.
cor,
Digital.
ENTRE A RAZÃO E A SENSIBILIDADE
projeto de uma habitação contemporânea
por
Julie
Ane
Silva
Paulon
A varanda como espaço privado e Ƥ
ǡ
ǡ
ǤƤǤǣǡȋȌǤ Desenvolvimento
pela
Université
de
Paris
I,
professora
e
pesquisadora
do
curso
ǣ×
ȋͥ͢͝͡Ǧͥͥ͝͡ȌǤ ǣ
ǡ͜͜͢͞ǡǤ͜͝͡Ǥ de
Mestrado
e
Doutorado
do
PROARQ/FAU/UFRJ.
32
CERTEAU,
Michel
de.
A
invenção
do
cotidiano
2
–
morar
e
cozinhar.
2ª
ed.
Petrópolis:
Vozes,
1998,
p.
203.
33
VERNANT,
Jean-‐Pierre.
Mito
e
pensamento
entre
os
gregos:
estudos
de
psicologia
histórica.
2ª
ed.
Rio
de
Janeiro:
Paz
&
Terra,
2002.
34
2ǤǤ
ǤǡǤͣ͟͝Ǧͤ͟͝Ǥ
ENTRE MATÉRIAS
Victor Garcia Locatelli A forma segue função, como já dizia nosso avô Louis Sullivan.. Mas de que formas o
mundo é feito? De superfícies eu diria. A superfície é a interface entre volume e sua
forma, é a interface do visual com o funcional, é o que está entre os volumes, isto é,
entre matérias, o que a torna a parte mais importante do objeto.
Na nossa dimensão, toda a matéria esta sujeita a isso, e um fator decisivo, é uma
das condições primordiais da matéria, a gravidade. Já se imaginou num mundo,
onde os objetos com massa não exercessem atração uns sobre os outros? Ao in-
vés de estantes, por exemplo, utilizaríamos objetos de compressão, como morsas
ou cordas para unir os livros uns aos outros, a fim de que não se perdessem no
espaço. As camas poderiam ser como cápsulas, ou casulos, redes que man-
tivessem-nos no lugar durante o sono. Podemos imaginar ainda, que tudo o que
existe, estaria amarrado ou parafusado, para que por fim, pudesse constituir uma
rede global de objetos interligados. A mesma superfície que nos protege do sol,
poderia ser a mesma superfície que caminhamos, isto é, poderíamos caminhar
na sombra do próprio piso, poderíamos nos proteger à sombra da própria camin-
hada, entre outras tantas multifunções da forma primitiva.
Mas voltando à Terra, contamos com a gravitação universal, o que, uns acreditam
ser graças a Deus, aquilo que nos põe os pés no chão.
Uma vez com os pés no chão, observamos que diferentemente daquele mundo
sem gravidade que imaginamos à pouco, no nosso caso, contamos com objetos
que separam e suspendem, a fim de preservar o espaço entre os objetos, con-
stituído por ar. São estes, pilares, pernas de camas, mesas, cadeiras, entre outros
inúmeros apoios. Poderiam estes, constituir superfícies que não se restringem ao
uso para o qual foram concebidos?
Uma criança com pouco tempo de vida ainda não intoxicada por informações,
Marcel Duchamp e Sou Fujimoto, diriam que sim. E vindo de tal (e não me refiro
a nenhum dos dois últimos), trata-se de uma afirmação que merece atenção. Pensar a forma primitiva, é uma maneira de avaliar as possibilidades da fun-
Em tempos de reciclagem, a multifuncionalidade é aquilo que sintetiza a ne- ção, observar a que ela se abre. A arquitetura e o design em geral, distorcem
cessidade e a importância da matéria e do espaço na Terra para o homem. a matéria de acordo com sua necessidade. E neste momento, precisamos de
muitas coisas diferentes.
Por hora contamos com o restante dos 510,3 milhões km² ainda não ocupados, e
com um crescimento populacional desenfreado. Concluímos assim que o m² em
qualquer parte do mundo, tende a sofrer valorizações de acordo com a veloci-
dade que o espaço que nos resta é ocupado. O que fazer, antes que seja possível
ocupar outros lugares na nossa galáxia senão incorporar muntifuncionalidade a
tudo o que fazemos, dizemos e projetamos?