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Texto: Elementos de Teoría Política.

Autor: Giovanni Sartori

Capítulo 10:

Politica

1- A ideia de politica

Hoje estamos habituados a distinguir o politico do social, o estado e a sociedade, mas


essas distinções e contraposições, somente se consolidaram, com os significados atuais, no
século XIX. Se ouve ainda dizer que enquanto no pensamento Grego o politico incluía o
social, nos inclinamos a incluir a esfera da politica dentro da esfera da sociedade, todavia
esse discurso não poderia ser proposto no pensamento Grego. Em primeiro lugar o social
não é de modo algum a sociedade, por outro lado e sobretudo o substantivo politica não
tem de modo algum o significado do termo grego politiké, assim como falamos de um
homem politico que é o oposto de um animal politico de Aristóteles.
Se para Aristóteles o homem era um zoon politikón (animal politico), desse modo o
autor define o homem na ala politica, somente por que o homem vive na polis e a polis
vive nele, visto que o homem se realiza completamente de tal forma. Ao dizer animal
politico Aristóteles expressava a concepção grega de vida, uma concepção Grega de vida.
Uma concepção que fazia da Polis a unidade constitutiva e a dimensão completa da
existência, portanto no viver politico e no politico, o Grego não via um aspecto da vida,
via toda a essência.
O homem não politico era um ser defeituoso um ídion (idiota), um ser carente, cuja
insuficiência estava em haver perdido ou em não haver adquirido a dimensão e a plenitude
da simbiose ( vida em comum) na polis. Em resumo um homem não politico era um ser
inferior ou menos que homem. Aristóteles observa que o homem é um ser que
necessita de coisas e dos outros, sendo, por isso, um ser carente e imperfeito,
buscando a comunidade para alcançar a completude. E a partir disso, ele deduz que
o homem é naturalmente político, sendo assim um animal politico. Além disso, para
Aristóteles, quem vive fora da comunidade organizada (cidade ou Pólis) ou é um ser
degradado ou um ser sobre-humano (divino).
Conforme Aristóteles, o conceito de cidadão varia de acordo com o tipo de
governo. Isso porque o cidadão é aquele que participa ativamente da elaboração e
execução das leis, sendo estas elaboradas pelo rei (monarquia), por poucos
(oligarquia) ou por todos os cidadãos livres (democracia).
No entanto, nem todos os que moram na cidade são cidadãos. Aristóteles
diferencia habitante de cidadão, pois aqueles apenas moram na cidade, não
participam dela, enquanto que esses dos que realmente pensam sobre ela tem o
direito de deliberar e votar as leis que conservam e salvam o Estado. Dito de outro
modo, cidadão é aquele que tem o poder executivo, legislativo e judiciário.
OBS: A antiga civilização grega quando estava em processo de desenvolvimento viveu um momento que é
destacado por historiadores como um dos principais da Antiguidade, o surgimento da Pólis. A Pólis pode ser
entendida basicamente como uma junção de várias Cidades-Estado constituintes do território grego, que
aconteceu entre o fim do Período Homérico e início do Período Arcaico. . Porém, logo mais essas
associações passaram a ter outras importâncias, as tribos juntamente com os Eupátridas vieram a determinar
a formação das primeiras Cidades-Estado, as pólis gregas.As pólis em sua maioria vieram a se povoar em
torno da acrópole, o qual era situado no ponto mais elevado da cidade e nesse ambiente se reuniriam os
palácios e templos da sua respectiva pólis. Com a fundação da pólis, determinou-se também a criação de
uma aristocracia que seria responsável pelo propósito político de sua população. Historicamente, significou
um espaço onde se fixariam diversas formas de organização, e também foi a partir dela que políticas foram
criadas e desenvolvidas. A democracia só surgiu em 510 a.C., com Clístenes . Essa mudança alterava a
divisão antiga da cidade, em torno de tribos, o que garantia o poder à aristocracia. Clístenes ampliou a Bulé
para 500 membros, e a Eclésia, uma assembleia com seis mil cidadãos de todas as classes, passou a ter
maiores poderes de decisão, como ampliação da fiscalização e do poder de votação sobre as propostas da
Bulé. Para evitar que a democracia fosse atacada, criou-se o ostracismo, a ação de exilar uma pessoa que a
estivesse ameaçando, o que era uma função da Bulé. A decisão de exilar a pessoa ocorria depois de escrever
o nome dela em uma concha ou pedaço de cerâmica. Em grego a palavra ostrakon significa concha do mar
ou pedaço de cerâmica, de onde derivou a palavra ostracismo. A democracia na Grécia era direta e não
representativa como a nossa atual. Mas não eram todos que participavam e nem todos tinham a
mesma importância. Cidadão em Atenas eram apenas os homens, filhos de pais e mães atenienses,
com mais de 18 anos. E quem tinha renda maior tinha também uma importância maior na
participação na Bulé e na Eclésia. Não eram cidadãos as mulheres, os escravos e nem os estrangeiros
(metecos), ou seja não tinham participação politica.

De acordo com as concepções Gregas de homem, o animal politico, não se distingue


de modo algum do animal social, do ser que denominamos societário ou sociável. O viver
politico era ao mesmo tempo o viver coletivo, o viver associado e mais intensamente o
viver em Kiononia em comunhão em comunidade.
Nesse sentido para Aristóteles os termos o social e politico, eram pra ele um só termo,
ou seja tinham o mesmo significado. São Tomás de Alquino que traduziu a expressão zoon
politikon, como animal politico e social, observando que é da natureza do homem viver
em sociedade de muitos.
Mas não é tão simples, Egídio Romano, citava Aristóteles dizendo que o homem é um
politicum animal et civile, onde os gregos diziam polites os romanos diziam civis e polis
se traduz em latim como civitas, mas a civitas romana não era uma agregação humana
qualquer, mas uma agregação baseada na lei (o que permite substituir o politico pelo
jurídico, a civilis societas se resume, se resume a uma iuris societas).
Já nos tempos de Cicero no qual estamos próximos de uma civilitas, que não tem
quase nada de politico, no sentido grego do termo, E o ciclo se fecha com Séneca, que
para visão estoica de mundo, o home não é um animal politico, pelo contrario e um animal
social, contrario a visão de Aristóteles, para os estoicos o homem perdeu a polis e é
estranho a ela.
Se no mundo antigo inclui sua própria parábola deixando para a posterioridade, não só
a imagem de um animal politico, mas também de um animal social, essas duas
configurações não prefiguram de modo nenhum desdobramento e a dualidade entre a
esfera social e esfera politica que caracteriza o debate do nosso tempo.
A primeira diferença, que no nosso tempo o animal politico não coexiste com o social,
esse termos não são sinônimos, não se referem a facetas do mesmo homem, como no
conceito de Aristóteles, a segunda diferença é que no discurso desenvolvido atualmente
politica e politico não se percebem verticalmente, em uma projeção aritmética que associa
a ideia de politica, com a ideia de poder, mando e no ultimo termo de um Estado
subordinado a sociedade.
Por outro lado Maquiavel é o primeiro a utilizar a palavra Estado na acepção moderna.
A conclusão que podemos extrai é que a ideia de politica não esta impregnada, por
completo e de forma permanente a palavra. A politica de Aristóteles era, ao mesmo tempo
uma antropologia indissoluvelmente vinculada a polis.
Com fim da polis, o politico se atenua se desenvolvendo de diferentes formas ou se
transformando em outra coisa. Por um lado a politica se faz, mas jurídica se
desenvolvendo na direção indicada pelo pensamento Romano. Por outro lodo a politica se
teologiza primeiro se adaptando a visão Cristã de mundo, despois com respeito a luta entre
papado e império e finalmente em função da ruptura entre catolicismo e protestantismo,
mas em todo caso o discurso sobre politica se se configura começando por Platão- por um
discurso ao mesmo tempo indissoluvelmente ético politico. A ética em questão pode ser
naturalista, psicológica, uma ética teleológica, ou inclusive jurídica que debate o problema
do bem em nome do justo e de leis iguais.
A doutrina do Direito natural em suas fases e versões resume bastante bem este
amalgama de normatividade jurídica e moral. Por todos esse motivos e também por outros
é certo que até Maquiavel a politica não se configura com suas especificidade e
autonomia.

A autonomia da politica

Quando se fala de autonomia politica, não se deve entender o conceito dela de modo
absoluto, mas sim em sentido relativo. A esse respeito se pode manter quatro teses:

1- A politica é distinta;
2- A politica e independente, segue suas próprias leis;
3- Autossuficiente, basta para explicar a si mesma;
4- Uma causa primeira, tendo supremacia a todo o resto.

A partir desses conceitos surge a questão a politica é distinta de que? .De que modo ?.E
até que ponto?

Com Maquiavel a politica é distinta da moral e da religião, existindo uma primeira


diferenciação Clara. Nesse sentido é Maquiavel e não Aristóteles que descobre a politica.

O descobrimento da sociedade

O passo mais difícil e que nos atormenta é o de realizar a diferença entre Estado e
Sociedade. A Locke se atribui uma primeira formulação da ideia de sociedade, essa atribuição
afeta a distribuição dos contratualista entre pactum subiectionis e pactum societatis. A ideia de
sociedade não se formula e afirma nos acontecimentos revolucionários e mais uma ideia de
paz que pertence a face tardia contratualista da escola do direito natural, não é a revolta contra
o soberano, mas sim o contrato social, com o soberano que realizado em nome de um
contratante chamado sociedade. Esta sociedade formada por um contrato social é ficção
jurídica?
A verdade é que autonomia da sociedade em suas relações com o Estado pressupõe a
separação da esfera econômica, a divisão entre social e politico parte da separação entre
politica e economia. A sociedade não é apenas um sistema autônomo, distinto independe e
autossuficiente da politica é algo mais é o sistema social que gera o sistema politico.

A identidade da politica
A politica é distinta da moral, da economia e não inclui dentro de sí mesma o sistema
social. Além disso, se rompe entre os vínculos entre politica e Direito, uma vez que um
sistema politico não se compreende como um sistema jurídico. Dessa forma a politica mostra-
se distinta de tudo, mas o que ela é, em si mesma e tomada por si mesma?

A respeito disso, o autor cita três teses:

1- Heteronímia;
2- Autonomia;
3- Ofuscamento, não potencialização.

Carl Schmitt e as modalidades do politico


Carl Schmitt, volta sua atenção para o conceito de politica, para as questões anteriormente no
tópico acima. Para o autor a politica se baseia na oposição entre amigo e inimigo. O objetivo
do autor é decantar o fenômeno politico separá-lo dos demais, separar o que é exclusivamente
politico. Segue pontos essências para Schmitt:

1- A essência do Estado pressupõe a existência do politico;


2- A guerra não é um objetivo da politica mas uma possibilidade que essa cria;
3- O politico não possui um ideologia própria, ele age e se adequa a situação;
4- O liberalismo promove uma despolitização na medida que, enfraquece o estado e retira
seu poder, sem um estado forte não existe o politico. A soberania é necessária para a
existência do politico;
5- O politico usa como critério a distinção entre amigo inimigo;
6- Tudo é politico, nada foge do politico;
7- O conceito de inimigo muda de acordo com a situação e os interesses o inimigo de
hoje pode ser o aliado de amanhã;
8- Para existir politicamente o estado deve declarar seus amigos e inimigos;
9- Se um país não usar o critério amigo inimigo ele vai ser dominado por outros Estados,
renunciando seu papel politico;
10- Na medida que, o politico e social se misturam os elementos neutros como religião,
cultura e economia deixam de ser neutros e surge um Estado total em que tudo é
politico;
11- O conceito de inimigo não é dado a qualquer um, não pode haver critérios pessoais
nem estéticos.

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