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Resumos de 10 º. ano em www.filosofia11.sebenta.pt
III – R
acionalidade argumentativa e Filosofia
da lógica silogística
1. Argumentação e lógica formal
1.1 D
istinção entre validade e de é uma propriedade das proposições. Assim,
verdade dizemos que os argumentos são válidos ou invá-
lidos, mas não verdadeiros ou falsos. Ao passo
Através dos argumentos os filósofos apre-
que dizemos que as proposições são verdadeiras
sentam razões a favor das suas ideias ou teorias.
ou falsas, mas não válidas ou inválidas.
Mas o que é um argumento? Pode-se caracteri-
zar razoavelmente um argumento dizendo que
consiste num conjunto de proposições em que se
1.2 Lógica Silogística
procura defender uma delas – a conclusão – com
Aristotélica
a base nas outras – as premissas.
– opção A
Para se discutir mais facilmente as teorias
Para analisar a validade de argumentos com-
e argumentos da filosofia é conveniente fazer a
postos com proposições universais e particulares
reconstituição dos argumentos que surgem na-
podemos recorrer à lógica silogística criada por
turalmente ao longo de um texto, tornando-os
Aristóteles. A lógica aristotélica lida com quatro
mais claros e formulando-os na sua representa-
formas proposicionais categóricas, constituídas
ção canónica (ou seja, explicitando quais são as
por termos gerais, nomeadamente:
premissas e qual é a conclusão).
Um dos trabalhos principais da lógica é exa-
minar se um argumento é válido ou inválido. Num niversais afirmativas – tipo A –
U
argumento dedutivo válido, necessariamente, se “Todo o S é P”.
as premissas forem verdadeiras, a conclusão niversais negativas – tipo E –
U
também será verdadeira. Num argumento indu- “Nenhum S é P”.
tivamente válido, provavelmente, se as premis- articulares afirmativas – tipo I –
P
sas forem verdadeiras, a conclusão também será “Algum S é P”.
verdadeira. articulares negativas – tipo O –
P
“Algum S não é P”.
Um bom argumento, além de ser válido, é
também sólido e cogente. Um argumento é só-
lido se, além de ser válido, tem de facto as pre- Pode caracterizar-se um silogismo como uma
missas verdadeiras. Um argumento é cogente se, forma de argumentativa dedutiva que é cons-
além de ser válido e sólido, tem premissas mais tituída por duas premissas e uma conclusão,
plausíveis ou mais aceitáveis do que a conclusão. com proposições somente do tipo A, E, I ou O, e
Quanto à distinção entre verdade e validade, com apenas três termos, nomeadamente: ter-
é importante observar que a validade é uma pro- mo maior, termo menor e termo médio. O termo
priedade dos argumentos, ao passo que a verda- maior é o termo com maior extensão.
1.2 L
ógica Proposicional
UNIVERSAL
2.1 O
domínio do discurso mentador) pode explorar para reforçar a credibi-
argumentativo – a procura de lidade da sua mensagem e dos seus argumen-
adesão do auditório tos. Aristóteles considerava o ethos, o pathos e
o logos três aspetos fundamentais do discurso
Distinção entre demonstração e argumentativo que podem ser explorados como
argumentação técnicas de persuasão. Vejamos, em seguida, em
que consiste cada um deles:
Por lógica formal entende-se o estudo dos
O ethos respeita ao caráter do orador, isto é,
aspetos da estrutura dos argumentos relevantes
à sua honestidade intelectual, à capacidade
para a sua validade. Por sua vez, a lógica infor-
de dialogar e à sua credibilidade científica.
mal ocupa-se do estudo dos aspetos informais
da argumentação relevantes para a sua força O pathos define-se como a adequação que o
persuasiva. orador faz do discurso ao auditório, estabe-
lecendo com ele uma empatia, um acordo e
Para compreender os fatores de que depende
uma afinidade e apelando às suas emoções.
a força persuasiva de um argumento devemos
atender à distinção entre demonstração e argu- O logos diz respeito à estrutura lógica dos
mentação. A demonstração estabelece de for- argumentos, isto é, se estão ou não bem
ma definitiva a verdade de uma proposição, de- construídos do ponto de vista lógico.
rivando-a dedutivamente de outras proposições
indisputáveis. Ao passo que, a argumentação
tem por objetivo a adesão a uma determinada 2.2 O
discurso argumentativo –
proposição, partindo de premissas disputáveis e principais tipos de argumen-
com diferentes graus de aceitação. Assim, para tos e de falácias informais
que um argumento seja persuasivo não basta
que se trate de uma demonstração, pois a maio- Argumentos não dedutivos
ria das vezes não dispomos de premissas indis-
Existem argumentos dedutivos e não dedu-
putáveis a partir das quais podemos deduzir a
tivos. A validade de um argumento dedutivo de-
verdade da nossa conclusão.
pende exclusivamente da sua forma lógica. Num
argumento dedutivamente válido, se as premis-
relação necessária ao auditório no
A
sas forem verdadeiras, a conclusão não poderá
discurso argumentativo
ser falsa. Contudo, o poder persuasivo dos argu-
Um bom argumento (ou um argumento per- mentos não-dedutivos não é detetável através
suasivo) é válido (ou seja, é impossível que as da sua forma lógica. Num bom argumento não-
suas premissas sejam verdadeiras e a conclusão -dedutivo, a verdade das premissas torna ape-
falsa), sólido (ou seja, para além de ser válido nas provável a verdade da conclusão.
tem premissas verdadeiras) e cogente (ou seja, De entre os argumentos não-dedutivos, des-
para além de ser sólido tem premissas mais cre- tacam-se os argumentos indutivos (generaliza-
díveis do que a conclusão). ções e previsões), os argumentos por analogia
e os argumentos de autoridade.
Aristóteles e a retórica
Num argumento indutivo por generalização,
Para além da cogência dos seus argumentos extraímos uma conclusão geral (que inclui casos
existem outros aspetos que um orador (ou argu- de que não tivemos experiência), a partir de um
(1) Cada um dos portugueses que responde- Num argumento de autoridade recorre-se à
ram ao meu inquérito gosta de chocolate. opinião de um perito ou de um especialista para
reforçar a aceitação de uma determinada propo-
(2)
Logo, todos os portugueses gostam de
sição. Por exemplo:
chocolate.
(1) Albert Einstein é um físico de renome e ele
Num argumento indutivo por previsão, basea-
defende a existência de átomos.
mo-nos num conjunto de premissas referentes a
alguns acontecimentos observados no passado (2) Logo, os átomos existem.
para inferir uma conclusão acerca de um aconte-
cimento futuro. Por exemplo: Um bom argumento de autoridade identifica
claramente as suas fontes, cita autoridades que,
(1) Sempre que bebi leite com chocolate senti- para além de serem reconhecidamente especia-
-me melhor. listas no assunto em questão, são igualmente
(2) Logo, da próxima vez que beber leite com imparciais e isentas e cuja opinião não é dispu-
chocolate vou sentir-me melhor. tada por outros peritos igualmente qualificados.
3. Argumentação e Filosofia
A retórica fornece um conjunto de instrumen- e aproveita-se das suas falhas (através do apelo
tos para persuadir as pessoas e pode ser usada às emoções e do recurso a falácias) para impor
para dois fins diferentes: as suas ideias.
manipulação, Na persuasão racional, ou bom uso da retóri-
ca, o orador visa convencer o auditório a aceitar a
persuasão racional.
verdade de uma determinada proposição, por meio
Na manipulação, ou mau uso da retórica, o de razões. Assim, podemos considerar que a retóri-
orador não encara o auditório como um fim em si ca tanto pode servir para inculcar ideias nos outros,
mesmo, desrespeita a sua autonomia intelectual independentemente da sua veracidade, como pode
O problema da indistinção vigília-sono tam- Para além disso, não é fácil explicar a inte-
bém desaparece, porque, uma vez provada a exis- ração entre coisas de natureza mental e coisas
tência de Deus e afastada a hipótese do Génio de natureza física. Descartes aponta a glândula
Maligno, já podemos confiar nas nossas evidên- pineal como o local no cérebro onde se dá essa
cias atuais e passadas e não corremos o risco de interação, mas dizer onde ocorre não é suficiente
cometer erros devido à indistinção vigília-sono. para explicar como ocorre.
Isto, porque: 1. quer estejamos a dormir quer Também o Argumento da Marca é alvo de
estejamos acordados, se concebemos algo de fortes e sérias objeções. Contrariamente ao que
modo claro e distinto, a sua verdade está assegu- é assumido no Argumento, há quem defenda
rada; 2. nos sonhos acontecem coisas demasiado que: i) não podemos compreender a perfeição de
insólitas para serem reais. Deus; ii) duvidar é mais perfeito do que saber; iii)
Mas se Deus assegura a fiabilidade da nossa causas mais simples podem originar coisas mais
razão e das nossas experiências, então por que complexas; iv) podemos formar a ideia de per-
razão erramos? O erro é da nossa inteira respon- feito por oposição à ideia de imperfeito, sem que
sabilidade. Deus, uma vez que é sumamente bom, isso implique a existência de um Ser Perfeito.
criou-nos com livre-arbítrio, e isso acarreta a A principal objeção ao fundacionalismo carte-
possibilidade de fazer más escolhas, como optar siano ficou conhecida como Círculo Cartesiano e
por dar o nosso assentimento a coisas que não consiste em acusar Descartes de incorrer numa
concebemos clara e distintamente. Deste modo, petição de princípio, pois procura estabelecer a
quando os sentidos nos enganam, é porque nos existência de Deus raciocinando a partir de ideias
precipitamos a dar o nosso assentimento a coi- claras e distintas, mas admite que só podemos
sas que não concebemos clara e distintamente, estar certos de que as nossas ideias claras e dis-
mas apenas de modo confuso e indistinto. Para tintas atuais e passadas são verdadeiras porque
compreender a verdadeira natureza das coisas Deus existe.
devemos proceder a uma análise matemática e
geométrica das mesmas. B. O Fundacionalismo Clássico
(ou Empirista)
Objeções ao fundacionalismo cartesiano Tal como Descartes, David Hume recorre a
A consciência de que existe pensamento não é uma abordagem fundacionalista para responder
o suficiente para demonstrar a existência de um ao desafio cético. No entanto, contrariamente ao
(3) Logo, os paradigmas são incomensuráveis. Segundo a objeção baseada no crescente su-
cesso da ciência:
Kuhn complementa estes argumentos com a
seguinte premissa: (1)
Se os paradigmas são incomensuráveis,
então não podemos dizer que as teorias
(4) Se os paradigmas são incomensuráveis,
científicas atuais estão mais próximas da
então não podemos saber se as teorias
verdade do que as suas antecessoras.
científicas atuais estão mais próximas da
verdade do que as suas antecessoras. (2) Mas as teorias científicas atuais têm uma
maior capacidade de prever o comporta-
De modo a concluir o seguinte: mento da natureza do que as suas ante-
(5) Logo, não podemos saber se as teorias cessoras.
científicas atuais estão mais próximas da (3) Se as teorias científicas atuais têm uma
verdade do que as suas antecessoras. maior capacidade de prever o comporta-
Assim, podemos considerar que Kuhn pensa mento da natureza do que as suas ante-
que o progresso científico se limita ao aperfei- cessoras, é porque estão mais próximas
çoamento do paradigma dominante num deter- da verdade do que as suas antecessoras.
minado período de ciência normal, sendo pos- (4) Logo, os paradigmas não são incomensu-
teriormente interrompido por uma revolução ráveis.
científica que resulta na substituição do velho
Apesar destas críticas, a teoria da Kuhn cha-
paradigma por um novo e incomensurável, dei-
mou a atenção dos teóricos da ciência para al-
tando por terra toda a esperança de aprofundar
gumas características fundamentais desta ati-
a nossa compreensão da realidade, num sentido
vidade. Por exemplo, a ideia de que a ciência é
cumulativo.
influenciada não apenas por fatores objetivos,
Apesar dos argumentos apresentados a fa- mas também por fatores subjetivos, e o retrato
vor da tese da incomensurabilidade, este é um do cientista, não como um explorador do desco-
dos aspetos mais controversos da perspetiva de nhecido, mas como um solucionador de puzz-
Kuhn. Podem apresentar-se pelo menos dois ar- les, profundamente comprometido com uma
gumentos contra esta ideia: a objeção baseada na determinada visão do mundo, ditada pela sua
resolução de anomalias e a objeção baseada no adesão praticamente incondicional a um para-
crescente sucesso da ciência. digma.