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Mediunidade & Autoconhecimento

por Maísa Intelisano - maisa@maisaintelisano.com.br

Mediunidade é a capacidade de entrar em contato com outras


consciências ou espíritos, encarnados e desencarnados, e transmitir-
lhes o pensamento, os sentimentos, as idéias e as sensações, sob as
mais variadas formas. E médium é todo aquele que tem esta
capacidade, em maior ou menor grau. Embora haja outras variações
para estas definições, muitas válidas, estas são as mais conhecidas e
as mais relevantes para o assunto que pretendo tratar.

Captando e transmitindo pensamentos e sentimentos que vêm de fora


de si mesmo, o médium trabalha, o tempo todo, com o que não é seu,
com o que não lhe pertence e nem nasce dentro dele. Ele trabalha,
principalmente, com os conteúdos de outras mentes que,
aproveitando-se de sua capacidade, tentam se comunicar.

Uma das questões mais presentes nas pessoas que me procuram


para o curso de mediunidade é como distinguir o que é seu do que é
dos espíritos que se comunicam, como saber se o que está sendo
transmitido não é conteúdo do próprio médium, e não das
consciências ou entidades que se comunicam por intermédio dele,
especialmente porque se sabe que mais de 70% dos médiuns hoje
permanecem totalmente conscientes durante o fenômeno.

As entidades que se comunicam por um médium podem mudar e


variar muito de um trabalho para o outro, sendo quase impossível
prever com exatidão quem irá se comunicar a cada oportunidade ou
que tipo de conteúdos surgirão a cada trabalho. E esta questão se
complica ainda mais quando pensamos na sintonia, pois nenhum
fenômeno mediúnico ocorre sem que haja uma boa dose de
similaridade, de afinidade entre os conteúdos do médium e da
entidade comunicante, para que as idéias transmitidas sejam melhor
compreendidas e repassadas pelo médium.

Como saber, então, com segurança, o que é do próprio médium e o


que vem da entidade? Como distinguir entre coisas, às vezes, muito
parecidas, passando pelo mesmo canal? Além disso, como manter-se
isento e imparcial nas comunicações, quando, muitas vezes, o que
chega mobiliza o médium profundamente, tocando seus sentimentos e
emoções de maneira mais intensa?

Só podemos distinguir coisas quando as conhecemos bem, quando as


reconhecemos, quando as identificamos com certa facilidade. Não é
possível, portanto, ao médium, distinguir os seus conteúdos dos
conteúdos das entidades comunicantes se ele não conhecer algo
desses conteúdos, para poder identificá-los, compará-los e separá-los
adequadamente.

Não podendo controlar os conteúdos que lhe chegam, ao médium não


resta outra opção a não ser trabalhar naquilo que está mais próximo
dele, sobre o que ele tem muito mais controle e com o que está em
contato 24 horas por dia, 7 dias por semana: ele mesmo, seus
conteúdos, suas questões, seus padrões, sua luz e sua sombra.

Um bom médium, portanto, além de dominar o fenômeno e as


técnicas, precisa conhecer a si mesmo em profundidade, precisa
trabalhar constante e cuidadosamente o autoconhecimento. Um bom
médium, antes de se entregar aos fenômenos, precisa saber quais são
as suas próprias dúvidas e questões, as suas dificuldades e
limitações, as suas qualidades e necessidades, para, só então, poder
transmitir, com segurança, aquilo que lhe chega de outras mentes, por
intermédio de sua própria capacidade de comunicação psíquica, sem
o receio de estar misturando o que é seu com o que é de quem se
comunica ou de estar interferindo na comunicação.

Por isso, sempre friso muito nos meus cursos que estudar e praticar
mediunidade é, antes de tudo, um trabalho de autoconhecimento, um
estudo interno profundo, que deve nos colocar cara a cara com tudo o
que somos, com tudo o que sabemos e, principalmente, ainda não
sabemos de nós mesmos.

Não entendo que seja possível ser um médium consciente,


responsável e equilibrado se não houver autocontrole sadio das
próprias emoções, se o médium não for capaz de olhar para si mesmo
com autocrítica saudável, se não houver disposição sincera para
reconhecer as próprias características, trabalhando aquelas em que se
percebe desequilibrado ou confuso, limitado ou incômodo.
Num transe mediúnico, o médium entra em contato profundo com
muito do que as entidades sentem e pensam, e precisa estar seguro
do que ele próprio pensa e sente, para não se deixar confundir ou
mesmo enganar nos trabalhos que irá fazer.

Não se trata apenas de vigilância, ou de apenas observar, mas de


reconhecer o que se pensa e sente, por que isso acontece, o que isso
nos causa, em que circunstâncias acontece, etc.

Também não se trata de moralismo, de acomodar atitudes ao que


outros determinaram ser a melhor conduta, de seguir preceitos morais
religiosos, mas de consultar a própria consciência em busca da
verdade sobre si mesmo, em busca da essência do ser, em busca
daquilo que realmente identifica cada um de nós, independentemente
de rótulos, crenças, conceitos filosóficos, etc.

Quando um médium se conhece, ele não teme o contato com outras


mentes, pois está seguro do que está dentro dele e não será
facilmente desviado, desequilibrado ou enganado. Quando ele não se
conhece, no entanto, fica perdido em meio ao fluxo de sentimentos,
emoções e pensamentos que lhe chegam e pode ver-se perturbado
tentando separar o que percebe, ou questionando-se sobre o que está
acontecendo com ele.

O estudo e o exercício da mediunidade, portanto, exigem


autoconsciência, auto-análise, autocrítica, observação constante de si
mesmo, não como juiz ou carrasco, mas como testemunha lúcida e fiel
do que se passa interiormente, pronto para atuar naquilo que for
necessário para melhorar-se, quando solicitado.

Mediunidade é meio de comunicação. E toda comunicação fica muito


prejudicada quando há ruído, quando o sinal não é forte, quando o
meio que a transmite não consegue ser fiel, imparcial e ético na sua
função. O médium que cuida de manter isolados, embora não
escondidos ou anulados, seus conteúdos, mantém limpos e calibrados
os seus canais de comunicação, garantindo recepções e transmissões
de qualidade, tanto para ele quanto para quem se comunica através
dele.
Mediunidade é intercâmbio de idéias, sentimentos, pensamentos,
emoções e sensações e, quando está ciente disso e de seus próprios
conteúdos, o médium consegue não só receber informações e
orientações importantes para si mesmo e os que o acompanham,
como também pode colaborar com os seus próprios conteúdos,
conhecimentos e experiências, ajudando os que o buscam para a
comunicação, fazendo da mediunidade uma troca rica e construtiva.

Mediunidade é serviço de integração de dois mundos - ou, quem sabe,


mais até - que funcionam de forma diferenciada, em freqüências
distintas, com diferentes características e peculiariedades. E o médium
que sabe disso e procura conhecer a contento essas diferenças, bem
como as semelhanças que existem, consegue acompanhar todo
fenômeno de forma lúcida e com grande discernimento, sem se deixar
afetar negativamente por aquilo que lhe chega.

Mediunidade é oportunidade de trabalhar pelos outros, mas, antes de


tudo, por si mesmo, estudando-se e aplicando aquilo que aprende nas
comunicações em sua própria vida.

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