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3JECIVBSB
3º Juizado Especial Cível de Brasília
SENTENÇA
Dispensado o relatório, nos termos do artigo 38, "caput", da Lei Federal nº 9.099, de 26 de setembro de
1995.
DECIDO.
O feito comporta julgamento antecipado, conforme inteligência do art. 355, inciso I, do CPC.
A relação jurídica estabelecida entre as partes é de natureza cível, devendo a controvérsia ser solucionada
sob o prisma do sistema jurídico instituído pelo Código Civil.
A ré, de seu turno, sustenta que publicou reportagem divulgando dados disponíveis em notas da Secretaria
Estadual de Saúde de Pernambuco.
Pelo teor da reportagem, não se afigura presente o "animus injuriandi et diffamandi", vez que a parte ré
não ultrapassou os limites aceitáveis do exercício da liberdade de imprensa.
É cediço que a verdadeira missão da imprensa, mais do que simplesmente informar e divulgar fatos, é
difundir conhecimentos, disseminar cultura, iluminar a consciência, canalizar os anseios da população.
Vale dizer: é o direito de crítica constitucionalmente assegurado.
No caso em questão, entendo que o direito subjetivo reivindicado deve ser avaliado à luz do ordenamento
constitucional, que, ao mesmo tempo em que assegura a inviolabilidade à honra, à vida privada (art. 5º,
X) e a proteção à imagem (art. 5º, XXVII), também prevê que a manifestação do pensamento, a expressão
da informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão nenhuma restrição (art. 220).
A publicação indica que a deputada publicou que “a morte de um homem por um estouro de pneu em
Recife havia sido contabilizada pela Secretaria de Saúde como coronavírus, o que teria inflado o número
de mortes pela doença”.
Embora a requerente demonstre que o vírus não foi a causa da morte em questão, não há qualquer
evidência de que, antes da publicação da autora, a morte teria sido contabilizada nas estatísticas da
Secretaria de Saúde do Estado. Assim, pelo teor da reportagem, não se atribui a inflação de “fakes” ao
erro constatado no atestado de óbito, mas na contabilização da morte como coronavírus, o que não restou
demonstrado.
Os documentos juntados tornam evidente que a matéria divulgada não se afastou do mero noticiar de
fatos, sem extrapolar os limites do razoável, razão pela qual a requerida não cometeu ofensa moral, não
havendo nada que reparar.
Ademais, deve ser levado em conta o relevante interesse público nos fatos noticiados. As liberdades de
expressão e a de imprensa são percebidas não apenas com relação ao indivíduo que as exerça, mas em
correlação à sua funcionalidade, que guarda incontornável perfil político e social. Têm escopo pessoal e
social.
Assim, levando em consideração os fatores citados, a matéria jornalística publicada pela ré ostenta caráter
informativo, em que se faz presente uma dimensão de interesse público.
Não verifico, portanto, o ato ilícito ou abusivo capaz de fundamentar a retirada da matéria do site ou
indenização por danos morais.
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos iniciais e declaro extinto o processo, com
resolução de mérito, o que faço com fundamento no art. 487, I, do CPC.
Sem custas processuais e honorários advocatícios, conforme determinação do artigo 55, "caput", da Lei
Federal nº 9.099/95.
Publique-se. Intimem-se.
Juíza de Direito