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OFÍCIO Nº 16/2020-PEM
Brasília, 02 de setembro de 2020.
Ao Senhor
Presidente FELIPE DE SANTA CRUZ OLIVEIRA SCALETSKY
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB
Brasília - DF
Senhor Presidente,
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A vítima relatou e a Juíza atestou a veracidade do relato, que Roberto de Figueiredo Caldas,
durante 13 anos, agrediu física, verbal e moralmente sua então companheira Michella Marys Santana
Pereira.
Os relatos constantes dos autos são contundentes e chocantes, porque aviltam a dignidade de
todas as mulheres. A gravidade dos fatos é impressionante. A Magistrada afirma que “o depoimento de
Michella, além de firme e coerente, está em total consonância com a robusta prova dos autos, não
deixando dúvidas quanto à dinâmica dos fatos e à prática dos delitos pelo acusado[2]”.
Ao dosar a pena, a conceituada Juíza afirmou que a “culpabilidade, a censurabilidade da
conduta do réu atingiu um grau de reprovabilidade superior àquela comum ao tipo em razão do cargo
que ocupava à época dos fatos, presidente da corte interamericana de direitos humanos, sendo exigível
que tivesse comportamento completamente diverso, respeitando o bem jurídico tutelado[3]”.
A conduta de Roberto de Figueiredo Caldas, uma vez confirmada em trânsito julgado, será
lamentável para a advocacia, máxime por se tratar de um advogado internacionalmente conhecido. A
indicação feita de um violento e irascível agressor de mulher terá sido um enorme equívoco,
especialmente para uma corte internacional de direitos humanos, pois, ao mesmo tempo que proferia
discursos contra a violência doméstica, submetia à própria esposa à tratamento cruel e desumano.
A Ordem dos Advogados do Brasil precisa, urgentemente, instaurar processo administrativo
disciplinar contra o agressor e, cautelarmente, suspender Roberto de Figueiredo Caldas do direito de
exercer a advocacia. A solução aqui propugnada ecoará na comunidade nacional a mensagem clara de
que a Ordem dos Advogados do Brasil não compactua com a violência doméstica.
Em data recente, a Comissão Nacional da Mulher Advogada, em caso envolvendo o então
Presidente da OAB, seccional do Mato Grosso, Leonardo Pio da Silva Campos, recomendou a
suspensão cautelar do causídico após se tornarem públicas acusações de violência doméstica.
Destaca-se do mencionado parecer, que segue anexo, os seguintes trechos:
Temos aqui mais do que uma mera acusação, mas condenação penal, que, ainda que passível de
recurso, traz alto grau de certeza quanto à prática da violência.
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, conforme salientado no Parecer adrede
mencionado, no julgamento que originou a Súmula 9/2019, estabeleceu que:
Como bem destacado na petição que deu início ao presente procedimento, a violência de
gênero deve ser alvo de atenção e reação de toda a sociedade. Não se pode aceitar tantas
e frequentes formas de violência. Não me refiro aqui apenas àquelas que retiram a vida ou
deixam marcas externas, mas também àquelas que, mesmo silenciosas, retiram o que mais
nobre há de ser preservado no ser humano: a dignidade.
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direitos humanos. O Brasil, perante toda a comunidade internacional, foi frontalmente humilhado e
escarnecido.
A prática de violência doméstica implica em inidoneidade para o ingresso e para o exercício
profissional, caracterizando, em tese, infração disciplinar insculpida no inc. XXVII do art. 34 da Lei
8.906/94 - EOAB, para a qual está prevista a pena de exclusão, na forma do art. 38, inc. II da Lei
8.906/94 - EOAB, obviamente atendidas as garantias do contraditório, da ampla defesa, bem como do
quórum qualificado para julgamento do pleito.
E, diante da profusão das provas, do escândalo público, do vexame internacional imposto ao país,
é possível e necessário a adoção de medida cautelar de suspensão, na forma do artigo 70, § 3º do
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, verbis:
Cabe, pois, a Ordem dos Advogados do Brasil, através da Comissão Nacional da Mulher e da
Seccional do Distrito Federal, esclarecerem se coadunam ou não com os atos praticados por Roberto de
Figueiredo Caldas, amplamente noticiados pela imprensa local e nacional.
Assim, a par de Vos cumprimentar, se requerer a adoção das providências pertinentes.
Atenciosamente,
Deputada Distrital JÚLIA LUCY
Procuradora Especial da Mulher da Câmara Legislativa do Distrito Federal
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00001-00029369/2020-28 0194701v4
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