Você está na página 1de 6

1 - Conceitos básicos de Agroecossistemas

Atualmente o termo Agroecossistema ganha espaço nos meios acadêmicos e


jornalísticos como a solução perfeita, refere-se a um ecossistema biológico onde pelo
menos uma população pertencente ao ecossistema tem finalidade agrícola, seja
para produção de alimentos ou outros fins primários. O pensamento sustenta todo o
entendimento agroecológico como meio de produção e se apresenta como uma
alternativa aos modelos produtivos tradicionais que historicamente vem exaurindo o
solo e promovendo uma serie de impacto ambientais desagradáveis.

No decorrer da história a obtenção e posteriormente a produção de alimentos


sempre foram os principais balizadores de crescimento populacional e ocupação de
territórios, em função de alimento e água, guerras foram travadas, e o
desenvolvimento do conhecimento floresceu. O domínio tecnológico para sua
obtenção sempre foram fatores de diferenciação, no entanto o mundo dito “civilizado”
afatou-se gradativamente dos conceitos milenares preconizados pelos povos mais
antigos, como evidencia Norgaard (1999) “La metodología y práctica de la
agroecología proviene de distintas raíces filosóficas que difieren de aquellas de las
cuales proviene la ciencia agrícola convencional”.

A produção agroecológica identifica-se segundo seus principais autores como


uma tentativa de resgate dos conhecimentos primordiais, associado as mais
recentes descobertas, onde os povos buscavam a maior produtividade possível
associada com o menor impacto ambiental associado. Este objetivo para ser
alcançado parte de algumas remissas norteadoras, o entendimento que os
agroecossistemas não são mecânicos e deterministas, pelo contrário precisam ser
considerados de forma holística, integrado com os diferentes recursos biológicos,
minerais, sociais e políticos nos quais se inserem, a perspectiva de que seus
resultados são provenientes de diversas interações que precisam ser construídas de
forma plural com os diversos componentes do sistema, em última análise
poderíamos aduzir que no sistema agroecológico a soma das partes nunca será
exatamente o resultado final, uma vez que se bem estruturado as partes se
potencializam em suas relações e interações, desta forma seus resultados se
exponencializam em padrões e resultados nunca antes imaginados.
2 - A evolução dos agroecossistemas e seus impactos econômicos,
sociais e ambientais.

A revolução técnica cientifica da agricultura brasileira historicamente


testemunhou três momentos de ruptura e grande impulso à saber, o primeiro ocorre
na década de 50 com a forte importação de implementos agrícolas para
mecanização do campo e a adoção massiva de adubo químico NPK, o segundo é
marcado pela implantação de setores industriais de bens de produção e insumos
agrícolas, com destaque a industrialização nacional do primeiros tratores e a criação
do sistema de credito rural, o terceiro merece destaque o protagonismo do setor
industrial que fortaleceu o setor primário, por um lado agregando valor aos produtos
e por outro disponibilizando insumos e equipamentos a produção agrícola.

Estes aspectos foram os pontos centrais de uma estratégia de


desenvolvimento capitaneada pelo governo federal, nesta estratégia tínhamos
também a figura do ramo de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para o
campo, para o qual foi desenvolvida de forma centralizada e estatal na figura da
EMBRAPA e o serviço de assistência técnica e extensão rural , que buscava a
difusão das tecnologias no campo através da EMBRATER – extinta em 1990 pelo
governo Collor.

Estas estratégias de desenvolvimento serviam a econômicos, sociais e


ambientais em uma conjuntura macro, no entanto não conseguiram ser
implementadas de maneira uniforme em todo território nacional, e esta fragilidade de
implementação fez agravar ainda mais as disparidades entre as diversas regiões do
país.

No eixo Sudeste-Sul conseguiu surtir os efeitos planejados, neste ambiente


foi encontrada a existência de uma vocação produtiva, uma malha logística que
favorecia a integração rápida entre os diversos centros, a disponibilidade de mão de
obra, inclusive mão de obra estrangeira que introduziu novas técnicas e novo vigor
a atividade agrícola.

Em meados da década de 60 e 70 presenciamos a implementação estratégica


de programas que objetivavam a integração nacional, a defesa da soberania nacional
e o estabelecimento de fronteiras, principalmente tentando a ocupação da região
norte do Brasil, partindo da região centro oeste, favorecida neste processo com
aporte considerável de recursos, a região passou a atrair agricultores e pecuaristas
da região Sul do Brasil que migraram para o Centro-Oeste em busca de terras
baratas e crédito agrícola. O relevo do Brasil Central se adequou perfeitamente às
culturas que exigem grande mecanização, com destaque para a cultura de soja, o
que alavancou a atividade a um patamar internacional.

A região Norte por sua vez, não conseguiu implementar as mesmas


estratégias adotadas no restante do país, como consequência os resultados não
podem ser analisados sob o mesmo prisma. Em virtude de um território de
dimensões continentais, uma serie de conjunturas naturais como clima, relevo,
hidrografia e temperatura são tão diferentes que parecem pertencer a outro país.
Portanto o modelo agrícola adotado no restante do país não conseguiu lograr o
mesmo êxito, chegando mesmo a ser considerado inadequado à região como
alternativa de integração e desenvolvimento.

A história tem demonstrado de forma cabal que replicar modelos


preconcebido nas regiões mais temperadas não podem simplesmente ser
implementadas neste quinhão, além dos aspectos naturais acima citados, temos
ainda o componente de infraestrutura extremamente precários e não menos
importante o componente cultural da região, este último, fator chave para
implementação de qualquer estratégia de forma exitosa.

Desenvolver a Amazônia passa por dirimir uma série de conflitos de interesse,


necessitam da elaboração de políticas públicas adequadas que valorizem a
Amazônia como a grande fronteira do capital natural. Este processo precisa repensar
o modelo agrícola adotado no país, culturalmente o homem da floresta já possui uma
serie de conhecimentos que conciliados com modernas ferramentas podem ser a
inovação tecnológica que precisamos para produzir alimentos na floresta. No
entanto, necessitamos desenvolver outras matrizes econômicas, com destaque a
exploração de recursos florestais não madeireiros, bem como a utilização mais
racional dos ativos ambientais disponíveis. Portanto, possuímos os meios
necessários para reverter a trágica realidade da população que reside em uma das
regiões mais ricas do planeta, e em contrapartida é a população mais vulnerável do
país.
3 - Sustentabilidade e sua aplicação na sociedade moderna.

A polêmica reside no fato do termo Sustentabilidade nas últimas décadas vir


sendo usada como modismo, socialmente aceitável uma vez que transmite algum
grau de responsabilidade com o planeta e o meio ambiente a alguma atividade ou
empreendimento.

O termo que apareceu pela primeira vez no relatório da reunião de Estocolmo,


desenvolvido pela primeira ministra norueguesa Harlen Brundtland, iniciava ali um
intenso debate sobre seu significado e os desdobramentos como alternativa para
qualificar o desenvolvimento responsável, exprimindo a possibilidade e a esperança
de que a humanidade poderá sim se relacionar com a biosfera de modo a evitar os
colapsos profetizados nos anos anteriores Nascimento (2012).

Deste momento em diante a ideia de sustentabilidade ganha corpo e


expressão política na adjetivação do termo desenvolvimento, uma resposta aos
medos de colapso ambiental plantados no seio da sociedade desde os experimentos
nucleares e os impactos ocasionados a povos além das fronteiras políticas, passava-
se à compreensão que o planeta é um sistema único e integrado, portanto os reflexos
e impactos das ações antrópicas não passariam impunes, nem tampouco atingiria
apenas seus causadores.

Presenciamos nesta história a evolução do conceito que deixou de se


concentrar apenas em aspectos ambientais e migrou para aspectos econômicos e
depois sociais, no entanto a próximo desafio é inserir outras perspectivas no debate
como os aspectos tecnológicos e culturais, uma vez que a tríade estabelecida não
responde satisfatoriamente as demandas modernas da sociedade.`

No decorrer deste aprendizado se desenvolveram três prováveis caminhos,


um caminho tecnológico, um caminho cultural e a terceira via, a mais pessimista que
seria a não resposta, esta a menos improvável, tendo em vista que a espécie
humana quando posta a beira do precipício é capaz de feitos inimagináveis. No
entanto é necessário deixar claro que em um cenário tao diverso e complexo a
resposta não seria única e universal, precisamos sim experimentar diversas
possibilidade e ir adequando as melhores práticas a cada realidade Otrom (2012).
4 - Um desenvolvimento sustentável é possível? Quais os caminhos?

A agenda internacional tenta alinhar suas estratégias em torno da promoção


do desenvolvimento sustentável, no entanto um relevante desafio consiste na
dificuldade de integrar ações isoladas dos diversos players sociais em uma coalizão
que possa ser chamada de estratégia. Este obstáculo não se restringe à Amazônia,
seus desdobramentos seus desdobramentos se fazem presentes nos quatro cantos
do planeta.

Regionalmente a desigualdade no acesso à educação, à moradia, a


condições urbanas dignas, à justiça e à segurança – necessidades expressas na
base da pirâmide das necessidades de Maslov, se refletem na dificuldade de adesão
massiva dos players sociais, o caráter econômico em virtude disso sobrepõe-se as
necessidades ambientais e culturais como mais prementes, como alternativa
prevalece entre os agentes econômicos a idéia central de que a produção de
commodities (fundamentalmente carne, soja e madeira de baixa qualidade), minérios
e energia é a vocação decisiva da região, o absurdo é constatar que a Amazônia
dispute no mundo por suas commodities e não por aquilo que lhe é único a riqueza
de sua biodiversidade Widmer (2010).

A força deste pensamento se reflete nos constantes ataques aos mecanismos


de preservação ambiental, nos mais diferentes seguimentos da sociedade. Em
virtude disso, concentra-se energia em disputas ideológicas em detrimento ao
verdadeiro debate que deveria está sendo estabelecido, vale notar que uma reserva
extrativista, por exemplo, é um território em que a produção de soja não pode
avançar, mas onde os potenciais de uso, com base em produtos não madeireiros da
floresta, são extraordinários. Além dos produtos, os serviços ambientais das florestas
podem ser uma fonte de riqueza muito mais consistente do que as modalidades até
aqui que predominam em seu uso e que, na maior parte das vezes, conduzem à sua
destruição, a existência de promissores mercados voltados à valorização dos
serviços ecossistêmicos prestados pelas florestas: conservação da biodiversidade,
seqüestro de carbono, proteção das bacias hidrográficas e exploração das belezas
naturais Abramovay (2010). Infelizmente isso ocorre no vácuo, pois as políticas
públicas não cumprem o papel decisivo de antecipar a estratégia do uso sustentável
da biodiversidade, no entanto, certamente reside aí uma grande oportunidade.
5 - Qual o papel da agroecologia na sustentabilidade de agroecossistemas?

Quando se incluem os custos ambientais e sociais em um cálculo de


rentabilidade agrícola, as práticas agroecológicas se mostram mais competitivas que
as práticas convencionais Caporal (2006), esta afirmativa enche de esperança que
estamos no caminho da produtividade associada à sustentabilidade, no entanto, sair
de um estado de projeção utópica à uma concreta mudança de realidade é um
incerto e tortuoso caminho que não temos mas a opção de postergar.

As regras estabelecidas estão mais claras do que nunca: Redução da


pobreza; Conservação e recuperação de recursos naturais (solo, água,
biodiversidade, etc...); Segurança e a soberania alimentar em nível local e regional;
Empoderar as comunidades rurais para que participem e decidam sobre os
processos de desenvolvimento; Alianças institucionais que facilitem os processos
participativos e o estabelecimento de políticas públicas (agrícolas e agrárias) que
favoreçam o desenvolvimento sustentável, assim como os mercados locais e
regionais. No entanto equalizar estas diferentes demandas é o desafio a ser
superado.

A agroecologia figura neste processo de forma a colaborar com seu


pensamento integrativo na perspectiva que em seu processo cognitivo tenta alinhar
na construção de suas soluções a dimensão ecológica, técnico agronômica,
socioeconômica, cultural e a dimensão sócio-política. Estas dimensões não são
isoladas. Na realidade concreta elas se entrecruzam, influem uma à outra, de modo
que estudá-las, entendê-las e propor alternativas supõe, necessariamente, uma
abordagem inter, multi e transdisciplinar Caporal (2009).

A perspectiva que no médio e longo prazo esta forma de pensar estabeleçam


padrões de produção e consumo menos agressivos, nos diversos aspectos sociais
e ambientais. Pretende-se estabelecer uma mudança cultural que deixe claro que
usufruir é mais importante que consumir, e que o seu direito termina onde inicia o
direito do próximo. Neste processo de construção todos precisam ter a oportunidade
de ofertar sua contribuição. Só desta forma pode-se construir uma sociedade mais
igualitária em condições e justa em oportunidades.

Você também pode gostar