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III Encontro Regional nordeste da ABET / I Encontro Regional Norte da ABET

“Formação e Diálogos Interdisciplinares na Etnomusicologia Brasileira”


Salvador, 24 a 26 de outubro de 2012

Caracteristicas da cultura musical Semita na arte de trovar de Elomar Figueira Mello

Maria da Gloria Lemos de Ledezma


glorialemos44@gmail.com
UFBA

Resumo: O Trovadorismo Medieval marcou a sua presença no Trovadorismo Nordestino na obra


de Elomar Figueira Mello. Com a pesquisa bibliográfica desta temática, no campo Histórico, foram
encontrados traços marcantes da saga semita aqui no Brasil, com um estudo antropológico de Caesar
Sobreira. Os semitas como raiz cultural é formada pelo árabe e judeu com seu ritmo sincopado,
com as glosas, canções e romances que foram introduzidos no agreste nordeste marcando a nossa
cultura musical, o nordeste é semita pode-se afirmar e firmar com um estudo literário-musical, onde
encontramos Cantigas de Amor, de Amigo. Os modos nordestinos estão formados pelos modos árabes
e as vozes “nasaladas” dos vaqueiros e cantadores entoam os seus cânticos similares aos árabes
glosadores com os seus desafios e as vozes nostálgicas do judeu errante fugindo da perseguição e ao
fim encontra refúgio nas suas canções no sertão agreste.

Palavras-chave:. Trovadorismo. Medieval/ Nordeste. Semita.

Abstract: The Medieval Trovadorismo marked its presence in the Northeast in the work of
Trovadorismo Elomar Figueira Mello. With the literature of this subject in the History field, found
strong traces of Semitic saga here in Brazil, with an anthropological study of Caesar Sobreira. The
Semites and cultural root is formed by Arab and Jewish with its syncopated rhythms, with glosses,
songs and novels that have been introduced in rural northeastern marking our musical culture, the
northeast is Semitic can affirm and sign with a literary study-musical, where we find Songs of Love and
Friend,. The modes are formed by the northeastern Arabian modes and voices “nasaladas” Cowboys
and singers sing their songs similar to the Arabs glosadores with its challenges and nostalgic voices of
the wandering Jew fleeing persecution and find refuge in the end their songs in the backcountry wild.

Keywords: Trovadorismo. Mediaeval / Northeast. Semitic.

Subtítulo: A Saga Semita na musica trovadoresca do Sertão da Bahia

Os Semitas tiveram origem no Oriente Médio, onde ocuparam vastas regiões indo do Mar
Vermelho  até o planalto iraniano e estão intimamente ligados com a origem das três grandes religiões
monoteístas no mundo: o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo.
O termo semita tem como principal designação, o conjunto lingüístico composto por uma
família de vários povos e entre os quais se destacam os árabes e os judeus que compartilham as
mesmas raízes culturais. A cultura musical árabe e dos judeus sefaraditas estão entrelaçadas na sua
raiz semita dominante. Uma das causas do grande florescimento da cultura judaico-espanhola em
relação às novas formas poéticas tem grande contribuição do aprendizado da língua árabe. No início
do século XII foram encontradas cartas escritas em hebraico e romance com caracteres hebraicos,
que utilizaram um gênero poético peculiar à poesia árabe da Andaluzia, os muwwashah, escritos em
árabe clássico e terminando com uma estrofe em vernáculo popular, chamada kharja (uma pequena

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composição poética escrita em árabe ou hebraico) ou jaryas. Estas estrofes bilíngües são consideradas
como o início da lírica espanhola.
Os Trovadores e Troveiros medievais, nomes que têm o mesmo significado: descobridores e
inventores; eles eram poetas-compositores que se multiplicou em Provença, região que abrange o
Sul da França atual e escreviam em “Provençal” a chamada “Langue d’oc”. A sua arte, inicialmente
inspirada na cultura hispano-moura da vizinha Península Ibérica difundiu-se rapidamente para o
norte da França, em particular para as Províncias da Champagne e da Artésia, onde exerceram a sua
atividade ao longo de todo o século XIII, escreviam em “langue d’oil” o dialeto francês medieval e
essa arte é uma síntese de poesia e música cujas fontes de inspiração são primeiramente a realidade
tal como o poeta a viveu: a cruzada, a heresia cátara, os conflitos sociais e as agitações políticas.
Em relação à contribuição árabe no período trovadoresco, a musicóloga Natália Correia diz o seguinte:

É certo que no século XI os árabes da Andaluzia conheceram os temas primordiais


dos poetas occitânicos. (...). Note-se, contudo, que era na prosa ou nos poemas
clássicos, cuja estrutura não oferece paralelo com a canção provençal, e não jezel,
formalmente mais próximo daquela forma estrófica, que os poetas árabes derramavam
os acentos de um amor platônico, que expandindo entre as elites muçulmanas depois
das traduções dos sírios cristãos nos séculos XIII e IX, não deixa de coincidir com a
ascese amorosa dos trovadores do Sul da França.(CORREIA, 1998 p.13)

O historiador medievalista Jacques Le Goff, menciona a característica árabe no trovadorismo:

Essas novas formas de amor são elaboradas sobre o modelo dos ritos feudais (...).
No caso de amor cortês é a mulher a dama que tem o lugar do senhor. (...). Se é
verdade que o tema foi tratado, sobretudo pelos primeiros trovadores occitânicos e
que talvez, sofreu a influencia da poesia amorosa árabe. (LE GOFF, 2007, p.87)

Segundo Cabral-Scliar tradutora do livro: Romances e Canções Sefarditas (Séc.XV ao XX)

(...) uma das causas do grande florescimento da cultura judaico-espanhola no período


e, em particular, de novas formas poéticas, se deveu ao aprendizado e domínio da
língua árabe (...) utilizaram um gênero poético peculiar á poesia árabe da Andaluzia,
os muwwashah, escritos em árabe clássico e terminando com uma estrofe em
vernáculo popular, chamada kharja ou jaryas. (CABRAL, 1990, p.66)

Entre os trovadores galego-portugueses de suposta ascendência judaica, podemos citar:


Pero Meogo: o seu apelido “Meogo” que no português arcaico representa o “monachus latino
grego” indica que ele ou alguns dos seus ascendentes teria sido monge. Imagens bíblicas do AT
(Tanach) são encontradas nas suas cantigas no referente ao cervo e a cerva, onde é lembrada
também a presença da “gazela” nas kharjas moçárabes e pode-se observar que a raiz da palavra
gazela em árabe é comum também á amante e á denominação genérica arábico-persa de um
poema de amor, ghazal. E da sua predileção pelo tema do “cervo” e o seu interesse pela Tanach,
deduziu-se que a sua origem era judaica.

Ai cervos do monte vim-vos preguntar/ Foi s’o meu amig’, e, se alá tardar/Que farei velida?
Ai cervas di monte, vim - vo-lo dizer/ Foi s’o amig’ e querria saber/Que farei velida?(...)

E Vidal, Judeu de Elvas no qual a sua identificação de “poeta judeu”, foram pela rubrica
anteposta e a inclusão de imagens poucos usuais no conjunto das trovadorescas galego-portuguesas,

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como por exemplo, o uso da expressão: o cervo que brama pelas águas, considerando assim o poeta
quase o único entre os trovadores que utilizou reminiscências bíblicas em cantares de amor.

Faz-m’agora por si morrer/e traz-me mui coitado/mia senhor do bon parecer/e do


cos ben talhado;/a por que hei morte a prender/come cervo lançado,/que se vai do
mund’a perder/da companha das cervas./ E mal día non ensandecí/e pacesse das
hervas/ e non viss’u primeiro vi,/a mui fremosinha d’Elvas. (...)

Elomar Figueira Mello o trovador, o menestrel contemporâneo, baiano de Vitória da Conquista,


sendo cognominado de “Pensador e Poeta do Sertão”, dialoga com esta lírica trovadoresca, traduzindo-a
e trazendo-a numa atitude transcultural, ao sertão na sua obra musical, dialogando com os elementos
poéticos musicais do estilo trovadoresco medieval, com seu canto trovadoresco no falar sertanejo e com
uma construção poético-musical, similar à tradição oral que remonta a Idade Média européia. Houve uma
quantidade considerável de imigrantes lusitanos (cristãos novos) e árabes, que se estabeleceram neste
lugar, trazendo consigo uma bagagem cultural considerável, a um País que ainda não sancionava com
as proibições culturais e religiosas desta cultura étnica semita constituída por árabes de judeus, onde o
próprio Elomar afirma a sua identidade judaica, marcada na genealogia familiar, como um descendente
de cristão-novos que vindos da Península Ibérica (provavelmente Espanha), os quais foram os primeiros
conquistadores e desbravadores da região de Vitória da Conquista, que chegaram ao início do século
XVIII junto ao bandeirante João Gonçalves da Silva. São as famílias Gusmão, Oliveira e Figueira e os
Mellos de origem portuguesa vieram mais tarde (antes de 1840).
No prefácio do livro Nordeste Semita, Sobreira (2007) está registrado o seguinte texto escrito
por Marco Maciel, pernambucano, membro da Academia Brasileira de Letras:

O nordeste é herdeiro do amálgama étnico que forjou o homem ibero-brasileiro


ou ibero-nordestino ou luso-nordestino, é possível reconhecer e afirmar a herança
do sangue e da cultura judaica. (...). Árabes e Judeus pertencem originariamente á
mesma etnia e matriz lingüística. Os árabes reivindicam descendência histórica de
Ismael, um dos filhos de Abraão, considerado o iniciador do monoteísmo presente
tanto no judaísmo quanto no cristianismo e no islamismo. (SOBREIRA, 2007, p.19)

Evelina Hoissel, professora titular de Teoria da Literatura na UFBA, escreve o seguinte na


apresentação do livro Tramas do Sagrado: A Poética do Sertão de Elomar:

Elomar Figueira Mello, um bardo medieval que ressurge no nosso tempo, nas
agrestes terras nordestinas (...) o movimento que nos faz incursionar pelo passado
e pelo presente nas óperas e no cancioneiro de Elomar se processa a partir da
apropriação de uma tradição ibérica. O Sertão posto em diálogo com elementos
medievais de tradição. (GUERREIRO, 2007, pg12)

E SOLER, (1978, p.70), comenta sobre os judeus sefaraditas: “(...) traços judeus na racialidade
das populações sertanejas é um pressentimento de longa data, motivado pela observação das
características etnográficas, temperamentos e de hábitos (...)”.
Elenice Rosa na sua monografia com o título: Marcas da Lírica Trovadoresca na Cantiga de
Amigo de Elomar Figueira Mello escreve o seguinte:

Os trovadores medievais compunham e cantavam na linguagem dialetal galego-


portuguesa; Elomar, trovador do sertão da Idade ‘Mídia’ compõe e canta em linguagem
dialetal “sertaneza”. Cantiga de Amigo resulta, portanto, numa retomada do cantar

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medieval, no sentido de traduzir a tradição, não para repeti-la mimeticamente, não para
imitá-la simplesmente, mas para (re) traduzi-la, trazê-la para o nosso contexto e interferir
no seu texto, restabelecendo sincrônica e diacronicamente o contágio friccional e dos
critérios de seleção lexical inscritos em sua composição. (ROSA, 2007, p.31)

A poesia Trovadoresca nordestina reflete em suas tradições o épico e o lirismo literário português,
embora tenha características próprias, com uma identificação das múltiplas expressões traduzidas pelas
raízes culturais históricas e geográficas. O lirismo (cantiga de amor e cantiga de amigo) está presente no
Cancioneiro de Elomar Figueira Mello. João Paulo Cunha escreveu o seguinte no Cancioneiro elomariano:

(...) filho de sanfoneiro, Elomar ouviu grandes cantadores (...). A música dos
menestréis é um dos fios da arte do compositor, que quase sem que se perceba um
processo de amadurecimento, emerge primeiro momento já pronta, complexa, capaz
de exercitar as formas mais populares e os modelos eruditos (...). Ambientada numa
terra que não pede nada (...) a música de Elomar dá seqüência a um projeto que
pode ser irmanado ao de outros artistas da palavra como Guimarães Rosa, Ariano
Suassuna, José Lins do Rego e João Cabral de Melo (...) do pensamento, como
Gilberto Freyre e Euclides da Cunha. (...) (CUNHA,2008,p.13-14)

O diálogo entre: a Cantiga de Amigo de Pero Meogo, a Cantiga de Amor de Vidal


judeu d’Elvas e a Cantiga de Amigo de Elomar

Para a fundamentação teórica em relação á área da Lingüística, é importante traçar uma análise
textual das Cantigas de Amor e de Amigo encontradas no Cancioneiro Medieval e o Cancioneiro
Elomariano.
Vidal Judeu d’Elvas: Faz-m’ agora por si morrer (Cantiga de Amor de Refrão)

Faz-m’ agora por si morrer/ e traz-me mui coitado/mia senhor do bom parecer/ e do
cos bem talhado;/a por que hei morte a prender/come cervo lançado,/que se vai do
mund’ a perder/ da campanha das cervas/ E mal dia non ensandecí/ e pacesse das
hervas/ e non viss’u primeiro vi,/ a mui fremosinha d’Elvas,(...)

Elomar Figueira Mello o trovador do sertão da Bahia não escreveu especificamente no seu
Cancioneiro uma Cantiga de Amor. Mais fala de amor nesta Canção com o titulo “Cantada”:

Então desperto e abro a janela/ Ânsias de amores e alucinações/Desperta amada


que a luz da vela/ Ta se apagando chamando você/ Está chamando apenas para
vê-la/Morrer por teu viver/ (...)Ai namorada nesta madrugada/ Não haverá prantos
nem lamentações/ (...)/Mulher formosa nesta madrugada /

Pero Meogo (Cantiga d’Amigo)

Enas verdes ervas/ vi anda-las cervas, meu amigo/ Enos verdes prados/ vi os cervos
bravos meu amigo/ E com sabor d’elas lavei mias garcetas, meu amigo/ E com sabor
d’elos lavei meu cabelos meu amigo/ Dês que los lavei, d’ouro los liei meu amigo.(...)

Elomar: Cantiga de Amigo

Lá na Casa dos Carneiros/ onde os violeiros vão cantar louvando você/ Em cantigas
de amigo/ Cantando comigo/ Somente porque você é/Minha amiga mulher/ Lua

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nova do céu/ Que já não me quer/ (...) La na Casa dos Carneiros/Sete candeeiros/
Iluminam a sala de amor/Sete violas em clamores/ Sete cantadores/ São sete tiranas
de amor/Para amiga em flor / (...).

Carvalho Mello (2002), observou que alguns jornalistas e pesquisadores, relacionam o estilo
composicional de Elomar, ao estilo medieval, de forma figurativa e superficial, já que as semelhanças
com as tendências medievais são encontradas em grande parte, na estrutura literária e estão restritas
a uma pequena parte da obra, no que é pertinente ao Nordeste Brasileiro. O termo musica medieval,
não é definida com precisão, especialmente no aspecto musical, que mesmo encontrando-se pontos
coincidentes do modalismo, o compositor não se prende a forma regular a estas estruturas modais.
Mas existem algumas canções que fazem referencia aos gêneros da poesia cantada medieval: Cantiga
de Amigo, A Donzela Tiadora, Canção Catingueira entre outras.
Segundo Simone Guerreiro:

Elomar costuma destacar três canções autorais como cantigas ao modo da lírica
galego-portuguesa: Cantiga de Amigo, Incelença pro Amor Retirante e Canto do
Guerreiro Mongoió, não obstante, em alguns aspectos, elas se distanciam do modelo
ibérico e sofrem atualizações. Relaciona-as aos três principais gêneros da lírica
trovadoresca, de inspiração cortês. (GUERREIRO, 2007, p.193)

No Cancioneiro de Elomar, no referente á Donzela Tiadora, cuja história faz parte do conjunto
poético pertencente ao romanceiro tradicional de Portugal e de Espanha, com o nome “Donzela
Teodora” que segundo Câmara Cascudo:

(...) Esses romances trouxeram as figuras clássicas do tradicionalismo medieval (...)


da Donzela Teodora, da Princesa Magalona, episódios vindos de vinte fabulários, de
árabes, francos, sarracenos, germanos, ibéricos (...) A Donzela Teodora do Brasil,
nas tradições populares, em prosa e verso, trata-se de donzela em estado denunciador
de pureza física e de recato pessoal, enfrentando e transpondo todos os obstáculos
graças às forças de um espírito superior. (CASCUDO, 1984, p.28-30)

Com uma linguagem poética do sertão, Elomar tece a história da Donzela Tiadora:

E a donzela Tiadora/ qui nas asas da aurora/ Vei á sala do rei/ Infrentá sete sábios da
Lei/ Venceu sete perguntas/ E de boca - de- coro/Recebeu cumo prenda/Mili dobra
de oro/ Respondeu qui a noite/Discanso do trabai/Incobre malfeitores/E aqui do
anjericó/ Beleza de amores/E qui da velhice/Vestidura de dores/Na eterna mininice/
Foi-se num poldo bai/Isso vai muito longe/Foi no seclo do Pai.

As composições trovadorescas (em menor escala) na obra de Elomar a que melhor se


aproxima do universo trovadoresco é a Cantiga de Amigo, que tem muito do modelo clássico da
lírica trovadoresca incorporando-se com a cor local e abrasileirada com um cenário não de castelos
medievais e sim de uma fazenda iluminada por candeeiros. O próprio compositor comenta que a sua
música reflete o modalismo musical da região nordeste, relacionando-se com os elementos da musica
européia e africana sem ser radical nas estruturas musicais fixas ou tradicionais do folclore da região.
A estrutura melódica da música Nordestina pode representar três escalas distintas: duas modais em seu
formato moderno e uma exótica formada através do modo lídio. Na teoria musical as escalas exóticas são:
Cigana (maior e menor) Pentatônica, Hexacordal (utilizada na Idade Média) a Mouresca (possivelmente
judaica) onde foi encontrado o modelo da escala ou modo, em duas composições de Elomar Pulúxias e

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o Violeiro. E sendo feita uma analise, com os modelos gráficos musicais referentes também aos modes
árabes e aos modos reais e derivados nordestinos os resultados analisadas confirmam que os contornos
melódicos de ambas as composições têm a mesma estrutura do Modo1 Real Nordestino e o Mixólidio (nas
distribuições de tons e semitons) e uma estrutura melódica com base no Mode Rast (árabe) o qual é similar
ao modo 2 Real nordestino e o Lídio, e ao modo 2 derivado – Dórico nas distribuições de tons e semitons.
A Cantiga de Amigo tem uma estrutura melódica do Si menor primitiva, que é igual ao modo menor Eólio.
E a Donzela Tiadora tem um contorno melódico do modo Eólio. Como exemplos, são mostrados abaixo
os modos e escalas exóticas encontradas em algumas composições do cancioneiro elomariano:
Modos derivados Nordestinos

Modes árabes

Nakriz

Rast
Podemos concluir com estes argumentos históricos e científicos e analíticos musicais, nos
mostram a fundamentação de que sim existem traços, marcantes com características semitas em
algumas canções que fazem parte do Cancioneiro de Elomar Figueira Mello.

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Referências

CABRAL-SCLIAR, Leonor. Romances e Canções Sefarditas (Séc.XV ao XX). Massao Ohno


Editor. São Paulo: 1990

CASCUDO, Luis da Câmara. Vaqueiros e Cantadores. Ed. Itatiaia. São Paulo: 1984

CORREIA, Natalia, Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses. Lisboa: Editorial Estampa.


1998.

CUNHA, João Paulo. Elomar: cancioneiro. Belo Horizonte: Duo Editorial Ltda. 2008.

GROUT Donald G.; PALISCA Claude V. História da música ocidental. Trad. Ana Luísa Faria.
Lisboa: Gradiva Publicações, 1988.

GUERREIRO, Simone. Tramas do Sagrado: A Poética do Sertão de Elomar. Salvador:

Vento Leste. 2007.

LE GOFF, Jacques, As Raízes Medievais da Europa. 3.ed. Petrópolis:Editora Vozes 2010.

MED, Bohumil. Teoria da Música. 4. ed. Brasília: Musimed, 2001.

R0SA, Elenice. Marcas da Lírica Trovadoresca na Cantiga de Amigo de Elomar Figueira Mello.
Monografia. Sorocaba: Faculdade de Ciências e Letras. 2009, pgs 31,37-38

SOBREIRA, Caesar. Nordeste Semita: Ensaio sobre um certo nordeste que em Gilberto Freyre
também é semita. 1ª ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.

SOLER, Luis. As raízes árabes, na tradição poética: musical do sertão nordestino. Recife:
Universitária-UFEP, 1978.

FARAH, Antoun G. Solfeggio usado no Conservatório Nacional do Líbano. Disponível em:


<wwwcartage.org.lb/en/themes/arts/music/.../basics/.../modes.htm…>. Acesso em 15 mai. 2011.

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