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Impresso no Brasil
Edição: 2015
Tiragem: 250 exemplares
CONSELHO EDITORIAL
CDD: 363.7
1ª Edição
Os organizadores
Sumário
Apresentação ......................................................................................................................... 5
Parte I – Elaboração e Implementação de Planos Ambientais Municipais ........................... 9
1 OS PLANOS AMBIENTAIS NA GESTÃO MUNICIPAL ........................................ 11
2 ELABORAÇÃO DE PLANOS AMBIENTAIS MUNICIPAIS .................................. 13
2.1 Ações Prévias ........................................................................................................ 13
2.2 Elaboração de Planos Ambientais ......................................................................... 16
2.3 Publicação e Divulgação do Plano ........................................................................ 19
3 IMPLEMENTAÇÃO DE PLANOS AMBIENTAIS MUNICIPAIS ........................... 20
Parte II – Fundamentos para Diagnósticos .......................................................................... 25
4 COMPONENTES ABIÓTICOS .................................................................................. 27
4.1 Clima ..................................................................................................................... 27
4.2 Geologia e Relevo Brasileiros ............................................................................... 31
4.3 Solos ...................................................................................................................... 34
4.4 Água ...................................................................................................................... 36
5 COMPONENTES BIÓTICOS ..................................................................................... 43
5.1 Flora ....................................................................................................................... 43
5.2 Fauna ..................................................................................................................... 46
5.3 Áreas Verdes Urbanas ........................................................................................... 50
5.4 Unidades de Conservação ...................................................................................... 53
6 DIAGNÓSTICO ECONÔMICO E SOCIAL ............................................................... 62
6.1 Indicadores Socioeconômicos ............................................................................... 62
6.2 Evolução dos Indicadores Socioeconômicos Brasileiros ...................................... 65
6.3 Mitigação de Impactos Ambientais na Indústria, Comércio e Serviços ................ 68
6.4 Patrimônio Histórico-cultural e Paisagístico ......................................................... 72
7 DIAGNÓSTICO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS I ................................................. 78
7.1 Queimadas e Incêndios Florestais ......................................................................... 78
7.2 Impactos Ambientais da Agropecuária ................................................................. 79
7.3 Poluição Sonora ..................................................................................................... 82
7.4 Poluição do Ar ....................................................................................................... 87
8 DIAGNÓSTICO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS II ............................................... 94
8.1 Saneamento Básico: uma Introdução .................................................................... 94
8.2 Saneamento Básico no Brasil ................................................................................ 96
8.3 Coleta Seletiva ..................................................................................................... 101
8.4 Resíduos Relacionados a Agrotóxicos, Óleos Lubrificantes, Lâmpadas, Pneus,
Pilhas, Baterias e Equipamentos Eletroeletrônicos ................................................... 104
8.5 Resíduos de Saúde ............................................................................................... 112
8.6 Resíduos da Construção Civil.............................................................................. 116
Parte III – Tópicos de Gestão .............................................................................................. 127
9 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................... 129
10 O MEIO AMBIENTE E A GESTÃO MUNICIPAL ............................................... 134
11 PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO ........................................................ 140
12 GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS ............................................. 147
13 REMEDIAÇÃO DE LIXÕES E ATERROS CONTROLADOS ............................ 160
14 PLANEJAMENTO AMBIENTAL NO MEIO RURAL ......................................... 168
15 GESTÃO DA BIODIVERSIDADE ......................................................................... 175
16 GESTÃO AMBIENTAL EM ECOSSISTEMAS AGRÁRIOS ............................... 181
Checklist para a elaboração de planos ambientais ............................................................. 191
Qualificações dos Autores ................................................................................................. 193
Parte I – Elaboração e Implementação de Planos Ambientais
Municipais
Esta primeira parte do livro é composta por três tópicos, onde o tópico 1 apresenta e
contextualiza os planos ambientais municipais no arcabouço legal e institucional da gestão
municipal brasileira. Os tópicos 2 e 3, instrumentais, visam subsidiar o planejamento da
elaboração e implementação dos planos ambientais nos municípios brasileiros.
11
ambientais, é desejável que contemplem aspectos sociais e econômicos, sob pena da perda
da condição de “sustentabilidade” do instrumento. Esta é uma importante justificativa para
a sua construção ocorrer de forma participativa, de modo que diferentes pontos de vista
relacionados a aspectos ambientais, econômicos e sociais sejam trazidos à discussão pelos
diversos segmentos da sociedade. Neste sentido, além da qualificação do instrumento, tem-
se o desenvolvimento do empoderamento social, resultando na evolução das práticas de
governança.
Cabe perceber que os planos municipais de meio ambiente são desenvolvidos de
forma “transversal” ao conjunto de políticas públicas, influenciando e sendo influenciado
pelo planejamento de áreas como saúde, educação, desenvolvimento urbano e turismo.
Este fato, além de reforçar a necessidade da construção aberta e participativa, confere
caráter de complexidade na sua elaboração, exigindo disposição, persistência e
determinação das partes envolvidas neste processo de construção coletiva. Portanto,
dificilmente o produto final deste processo complexo e multifacetado poderá ser avaliado
como “ótimo” na sua primeira construção, podendo esta condição a ser almejada pelo
“bom” plano inicial mediante mecanismos de melhoria contínua a serem instituídos no
corpo do próprio documento.
Na interface com as diversas políticas públicas municipais, por um lado evitando
sombreamentos e contradições, e, por outro, otimizando esforços e recursos, é conveniente
que a elaboração dos planos municipais de meio ambiente observe e incida, entre outros,
com o (i) Plano Diretor Municipal; (ii) Agenda 21 local; (iii) Código Municipal de Meio
Ambiente; (iv) Zoneamento Ecológico-Econômico local; (v) Plano Municipal de
Saneamento Básico; (vi) Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e com
o (vii) Plano Plurianual do município (PPA). O Quadro 1 explica a finalidade destes
instrumentos.
Quadro 1 – Alguns instrumentos de planejamento municipal
Instrumento Finalidade
Plano Diretor Conjunto de princípios e regras orientadoras da ação dos agentes que
Municipal constroem e utilizam o espaço urbano (Lei 10257/2001)
Agenda 21 Local Instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis,
estabelecida pelo capítulo 28 da Agenda 21 Global. Esta formulada na
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(CNUMAD), a Rio 92
Código Municipal de Formulados em cumprimento ao artigo 5º da Política Nacional de Meio
Meio Ambiente Ambiente (Lei 6938/1981)
Zoneamento Instrumento de organização do território, estabelece medidas e padrões de
Ecológico- proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos
Econômico (ZEE) hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade. Foi instituído pelo
Local artigo 9º da Lei 6938/1981 e regulamentado pelo Decreto 4297/2002, alterado
pelo Decreto 6288/2007
Plano Municipal de Planos instituídos pela Lei 11.445/2007 visando o planejamento dos serviços
Saneamento Básico de saneamento: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário,
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo de águas
pluviais urbanas
Plano Municipal de Plano instituído pela Lei 12.305/2010 visando planejar a gestão municipal dos
Gestão Integrada de resíduos sólidos de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
Resíduos Sólidos instituída pela Lei 12.305
Plano Plurianual Previsto pelo artigo 165 da Constituição Federal para os três entes federados,
(PPA) Governo Federal, Estadual e Municipal, com periodicidade quadrienal.
Sistematiza as diretrizes, objetivos, metas e resultados que a gestão pública
pretende alcançar naquele período. Serve de base para outras duas leis
orçamentárias previstas na Constituição, a Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA)
Fonte: o autor, a partir dos instrumentos legais referenciados no texto.
13
1
O termo “diagnóstico”, neste texto, refere-se ao conjunto de informações sobre a situação atual do aspecto
estudado; e “prognóstico” as percepções sobre cenários e tendências, incluindo a visão coletiva de futuro.
Enseja a situação desejada, a ser atingida a partir de programas de ações estabelecidos no Plano Ambiental.
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Programas ambientais
a coordenação das ações e levantamento dos recursos necessários para o alcance dos
objetivos propostos, articulando-se, para tanto e sempre que possível, com os programas
federais e estaduais, visando a sinergia nas ações e a otimização no dispêndio dos recursos
(ARAÚJO, 2009).
De modo a evitar sombreamento e conflitos com outros planos ou legislações
existentes do munícipio é relevante o conhecimento prévio dos outros instrumentos da
gestão pública municipal de interface ambiental, como os relacionados no Quadro 1, e do
arcabouço legal relacionado aos programas pretendidos, tanto em nível federal como
estadual e municipal.
A definição, pelo fórum, da situação desejada comparativamente à situação atual,
pressupõe o estabelecimento de objetivos e metas. Por sua vez, o acompanhamento do grau
de atingimento destes objetivos e metas durante a fase de implementação dos programas
pode ser facilitado mediante a definição de indicadores. Por exemplo: um município possui
65% da sua área urbana atendida pelo serviço de coleta seletiva de materiais recicláveis e o
fórum deliberou para a realização de programa visando a cobertura de 100% da área
urbana no prazo de três anos. Neste caso, basta o acompanhamento do indicador –
percentual de área atendida pelo serviço – para ter-se a ideia do grau de atingimento da
referida meta ao longo do período estabelecido.
Os programas podem abranger uma ou um conjunto de ações, em cada qual
definidos aspectos que a literatura chama 5W2H, a saber: what (o que fazer); why (por que
fazer); where (onde); when (quando); who (quem); how (como); e how much (a que custo).
Por exemplo: o cronograma das ações está inserido no “quando” e a identificação e o
orçamento de recursos - logísticos, técnicos e financeiros – em “a que custo”. No
cronograma as ações podem ser apresentadas como de curto, médio ou longo prazos, sendo
estes lapsos temporais definidos pelo Fórum.
Consema (2000b) orienta para que a estrutura programática dos projetos ambientais
apresente os seguintes elementos: objetivos do projeto, metodologia utilizada, plano de
trabalho, equipe alocada, cronograma de implantação e resultados esperados.
Araújo (2009) relaciona como exemplos de programas comumente presentes em
planos ambientais, o (i) monitoramento de controle da poluição e da qualidade ambiental;
(ii) monitoramento de transporte e armazenamento de cargas perigosas; (iii) coleta,
tratamento e disposição de resíduos sólidos (domésticos, serviços de saúde e industriais);
(iv) proteção da biodiversidade e dos ecossistemas, como planos de manejo e estruturas de
visitação em Unidades de Conservação; (v) educação ambiental; (vi) uso e conservação do
solo e da água; (vii) proteção de mananciais, como a conservação e recuperação de
matas ciliares e áreas de recarga hídrica.
Ainda, Consema (2000b) classifica os projetos constantes dos Planos ambientais
como de quatro naturezas: controle ambiental, monitoramento e fiscalização, manejo
florestal e educação ambiental, cujas orientações para elaboração constam do Quadro 2.
Como os programas ambientais comumente emergem de acaloradas discussões,
muitas vezes não estão resultam plenamente detalhados, podendo ser oportuno, neste caso,
o estabelecimento de um programa específico, constante no próprio documento, com o
objetivo específico de elaborar os detalhamentos faltantes e submetê-los à apreciação do
fórum.
Após definidos os programas, cabe ao Fórum a formalização no documento, dos
mecanismos de gestão, a serem praticados na etapa de implementação, como a definição de
um comitê gestor, periodicidade e forma da divulgação dos indicadores dos programas,
assim como da sua revisão.
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a participação dos diferentes atores; (iii) a definição do sistema de gestão do Plano; e (iv) a
definição de instrumentos para o acompanhamento e atualização do Plano, visando a
melhoria contínua dos aspectos ambientais do município.
A pactuação relacionada à aprovação do plano constitui oportunidade para o
comprometimento para a implementação, dos atores envolvidos na elaboração. E a
publicização, em oportunidade para novas adesões, agora voltadas para os esforços de
implementação.
Os mecanismos de gerenciamento do Plano podem constituir-se em programas
estabelecidos no próprio documento. O Plano Ambiental de Pelotas, por exemplo,
estabeleceu como programas: (i) a “formulação de instrumentos para a implementação das
diretrizes e programas do Plano Ambiental”, com o objetivo de “harmonizar os programas
do Plano através da dotação de instrumentos que permitam a sinergia das ações e
eliminação de conflitos”; (ii) a “comunicação do Plano Ambiental”, com o objetivo de
“permitir que os gestores municipais, bem como a população, possam conhecer o
andamento da implementação do Plano Ambiental ..., participando das decisões
relacionadas às readequações que se tornarem necessárias”; e (iii) a “definição de
indicadores e metas, monitoramento, avaliação e adequação do Plano Ambiental”, com o
objetivo de “permitir o acompanhamento da implementação do Plano Ambiental e ...a
promoção das ações corretivas, quando necessárias” (SATTE ALAM et al., 2013).
Araújo (2009) propõe a elaboração de uma “matriz de acompanhamento”, para cada
estratégia definida no Plano Ambiental, informando seu objetivo, resultado esperado e
programas associados, a eles associando os indicadores, elementos de verificação e
pressupostos. Porém, como estes elementos estão apresentados no corpo do Plano
Ambiental, o acompanhamento pode resultar de instrumentos sintéticos, que relacionem os
programas com seus indicadores, mostrando a evolução durante a implementação,
conforme exemplo apresentado na Figura 3.
........
Fonte: elaboração do autor
_____. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001 – Estatuto das Cidades - Diretrizes Gerais da
Política Urbana. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: 13 dez.
2013.
______. Lei 11.079, de 30 de dezembro de 2004. Institui normas gerais para licitação e
contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Disponível
em: <www.sintunesp.org.br/refuniv/Lei%2011079-04_30-12-04%20-%20PPP.htm>.
Acesso em: 28 out. 2008.
______. Lei 11.107, de 06 de abril de 2005. Dispõe sobre normas gerais de contratação de
consórcios públicos e dá outras providências. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11107.htm>. Acesso em: 26
out. 2008.
4 COMPONENTES ABIÓTICOS
Este quarto tópico, dedicado aos componentes abióticos dos planos ambientais, está
dividido em quatro seções: clima, geologia e relevo, solos e água.
4.1 Clima
controlados pelo Protocolo de Quioto deverão atingir 685 partes por milhão (ppm)
equivalentes em CO2 em 2050 e mais de 1000 ppm em 2100, quantidades
significativamente superiores aos 450 ppm necessários para estabilizar a temperatura num
crescimento limitado a 2ºC em relação a 1750, meta assumida pelos países na COP-16 –
Cancun, em 2010 – para cumprimento até 2020. As previsões são de acréscimos entre 2
– 2,8ºC até 2050 e entre 3,7 e 5,6ºC até o final deste século, comparativamente aos níveis
pré-industriais.
Se a temperatura do planeta está crescendo em ritmo acelerado e as medidas
mitigadoras adotadas pelos países até o momento mostram-se insuficientes, quais seriam as
consequências de um acréscimo de 3 a 4ºC na temperatura média do planeta até o final
deste século? O atual nível do conhecimento sobre a projeção dos impactos das mudanças
climáticas abrange as alterações relacionadas com a ocorrência de eventos climáticos
extremos, alterações nos recursos hídricos, ecossistemas, produção de alimentos, fibras e
produtos florestais. Inclui os impactos nos sistemas costeiros e áreas de baixa altitude,
indústria, assentamentos humanos, sociedade e saúde. As projeções procuram captar as
transformações resultantes da interação dinâmica das diversas variáveis climáticas –
precipitação, temperatura, concentração atmosférica de GEE, etc. – diferenciadas por
região geográfica e nos efeitos, que podem resultar como positivos, negativos ou mistos,
sendo que a amplitude dos efeitos dependerá, em grande parte, da capacidade de mitigação
e adaptação de cada país, decorrente da disposição política para as ações, e das limitações
impostas pelas suas capacidades econômicas.
Com relação aos eventos climáticos extremos, ao longo do século XXI é muito
provável a ocorrência de alterações nas suas frequências, áreas de abrangência e
intensidades, conforme demonstra o Quadro 3.
Pode-se dizer, simplesmente, que geologia é a ciência que analisa a forma interna e
externa do globo terrestre. Assim, a geologia encarrega-se de estudar as matérias que
formam o globo e o respectivo mecanismo de formação, além de enfocar as alterações que
estas matérias têm sofrido desde a sua origem e o atual estado da sua colocação
(BRANCO, 2014).
Seffrin (2010, p.29) chama a atenção para a importância da Geologia e do
profissional da área na elaboração dos planos ambientais:
muitos outros casos. Requer uma atenção especial, pois é nele que acontecem todas as
relações sociais.
O homem, através do trabalho físico e intelectual, tem transformado o espaço
geográfico mundial ao longo da história, alterando drasticamente seu conjunto de
paisagens. Desse modo o relevo, que é um dos mais notados elementos da paisagem,
também é extremamente transformado. Para atender seu interesse o homem constrói
estradas em relevos acidentados, cava túneis, retira morros, aterra lugares de depressão e
constrói moradias em locais inadequados. Um exemplo disso é a ocupação dos morros da
cidade do Rio de Janeiro, onde a vegetação foi substituída por moradias precárias.
O estudo do relevo pode reduzir os impactos ambientais provenientes das ações
antrópicas (provocadas pelo homem), a exemplo da construção de hidrelétricas e obras
públicas, como estradas e túneis, pois nesses casos é necessário o conhecimento da
declividade e espessura do solo (MUNDO EDUCAÇÃO, 2014).
Os escorregamentos, também conhecidos como deslizamentos, são processos de
movimentos de massa envolvendo materiais que recobrem as superfícies das vertentes ou
encostas, tais como solos, rochas e vegetação. Constituem-se em importante processo
natural que atua na dinâmica das vertentes, fazendo parte da evolução geomorfológica em
regiões serranas. Os principais fatores que contribuem para a ocorrência dos
escorregamentos são os relacionados com a geologia, geomorfologia, aspectos climáticos e
hidrológicos, vegetação e ação do homem relativa às formas de uso e ocupação do solo.
Estão presentes em várias partes do mundo, principalmente naquelas onde predominam
climas úmidos. No Brasil, são mais frequentes nas regiões sul, sudeste e nordeste
(TOMINAGA, 2009b).
O crescimento da ocupação urbana indiscriminada em áreas desfavoráveis, sem o
adequado planejamento do uso do solo e sem a adoção de técnicas adequadas de
estabilização, está disseminando a ocorrência de acidentes associados a estes processos,
que muitas vezes atingem dimensões de desastres. As metrópoles brasileiras convivem
com acentuada incidência de escorregamentos induzidos por cortes para implantação de
moradias e vias de acesso, desmatamentos, atividades de mineração, lançamento de águas
servidas e de lixo, causando expressivos danos (TOMINAGA, 2009b).
É expressivo o aumento nos últimos anos do número de acidentes associados a
escorregamentos nas encostas urbanas brasileiras pela ocupação desordenada de áreas com
alta suscetibilidade a escorregamentos. Neste caso, cabe aos gestores municipais ações
visando prevenir ou mitigar os riscos.
A identificação e qualificação do risco provê suporte técnico para operação de
planos preventivos. O mapeamento de riscos é efetuado com o propósito de fornecer
subsídios à Defesa Civil e às prefeituras municipais para a identificação e gerenciamento
de situações de risco relacionadas a escorregamentos e inundações em áreas urbanas de
municípios. Utiliza-se procedimento de avaliação qualitativa conjugado com observações
de campo, de forma a permitir uma rápida implementação de ações de prevenção e
mitigação em áreas prioritárias (MARCHIORI-FARIA et al., 2005, apud TOMINAGA,
2009a).
Sugere-se os seguintes procedimentos (TOMINAGA, 2009b, p. 160): (i) definir o
fenômeno em potencial (localização, dimensão, mecanismos) e as ocorrências anteriores
(mapa de inventário ou cadastro); (ii) análise e mapeamento dos fatores condicionantes do
meio físico e dos tipos de uso e ocupação do solo, os quais interferem, aumentando ou
reduzindo a probabilidade de ocorrência do processo potencialmente perigoso (mapas de
perigo); (iii) análise do risco das áreas de perigo em conjunto com a vulnerabilidade e dano
potencial do elemento em risco (mapas de risco).
A magnitude dos riscos associados a fatores morfológicos do solo, associados às
ocupações desordenadas presentes nos municípios brasileiros, evidencia a necessidade do
34
4.3 Solos
4.4 Água
Referências Bibliográficas
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Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade : Contribuição do Grupo de Trabalho II ao Quarto
Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima : Sumário
para os Formuladores de Políticas. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/pdf/reports-
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm>. Acesso em
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COHEN, T. Can participatory emissions budgeting help local authorities to tackle climate
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(org.). São Paulo: Instituto Geológico, 2009.b
VIEGAS FILHO, J. S.. A Gestão dos Recursos Hídricos e o Papel das Microbacias
neste Contexto. [2004]. Disponível em:
<http://www.upf.br/coaju/index.php/informacoes/downloads/artigos?download=710:Artig
o&start=20 >. Acesso em 22 dez. 2014.
43
5 COMPONENTES BIÓTICOS
Este quinto tópico, dedicado aos componentes bióticos dos planos ambientais, está
dividido em quatro seções: flora, fauna, áreas verdes urbanas e unidades de conservação. O
tema gestão da biodiversidade é aprofundado no tópico 15.
5.1 Flora
5.2 Fauna
Introdução
Passo 1. Situar o município em relação aos seis biomas terrestres brasileiros, a saber,
Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal.
O município poderá estar localizado inteiramente em um dos biomas mencionados
ou estar em área de contato entre alguns deles. Por exemplo, há muitos municípios
brasileiros que apresentam cobertura vegetal típica da Mata Atlântica e do Cerrado, ou da
Mata Atlântica e da Caatinga, entre outras associações. A definição da localização em
relação aos biomas é fundamental, pois isso ajudará no passo seguinte, a revisão
bibliográfica. Além disso, todos os biomas apresentam espécies próprias a eles, as
chamadas espécies endêmicas. Quando se fala que uma espécie é endêmica da Mata
Atlântica, isso significa que ela só ocorre na Mata Atlântica.
Considerações finais
O novo Código Florestal conceitua áreas verdes urbanas como “espaços, públicos
ou privados, com predomínio de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou
recuperada, previstos no Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do
2
Portarias nºs. 444 e 445, de 17 de dezembro de 2014. Diário Oficial da União nº 245, de 18 de dezembro de
2014.
51
O ser humano sempre fez uso de recursos naturais como forma de subsistência, mas
com o passar do tempo intensificou-se, de maneira desordenada, a exploração destes
recursos, acarretando em diversas consequências negativas, como a poluição do ar, da
água, do solo, e extinção de espécies da flora e fauna.
O Brasil possui as maiores reservas de água doce do planeta, além de uma das mais
ricas biodiversidades do mundo. Para proteger toda essa riqueza natural o governo instituiu
pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, o Sistema Nacional de Conservação da Natureza
(SNUC), estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e gestão de unidades
de conservação (UCs). Segundo aquela legislação, Uma UCs é um “espaço territorial e
seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e
limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias
adequadas de proteção” (BRASIL, 2000, Art. 2º).
Estes espaços territoriais podem ser instituídos pelas três esferas do Poder Público
(municipal, estadual e federal), buscando a proteção da natureza em diferentes níveis,
desde a proteção integral até o uso sustentável. Por proteção integral entende-se a
“manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana,
admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais” e por uso sustentável, a
“exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais
renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos
ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável” (BRASIL, 2000, Art.
54
2º).
A Lei do SNUC é instituída pelo poder público nas três esferas (federal, estadual e
55
municipal), e foi feita para assegurar o planejamento das UCs, para que o mesmo
represente de forma adequada e significativa os ecossistemas.
Segundo Brasil, 2000, Art. 4, são objetivos do SNUC:
Parques Nacionais São áreas exclusivamente de posse pública, tendo como objetivo a
preservação dos ecossistemas naturais de grande importância ecológica e
beleza cênica. É permitida a realização de turismo ecológico, recreação,
pesquisas científicas
Monumentos São áreas que permitem a presença de propriedades particulares que tenham
Naturais os mesmo objetivos da unidade. Tem como objetivo preservar sítios
naturais raros, singulares e/ou de grande beleza cênica, com permissão para
a realização de pesquisas científicas e visitação pública
Refúgio de Vida Tem como objetivo a preservação de uma ou mais espécies ou comunidade
Silvestre da flora local e da fauna existente, podem ter na unidade áreas particulares
que tenham os mesmos objetivos. Sendo permitida a visitação pública e
pesquisas científicas
Fonte: Brasil, 2000, artigos 8 a 13.
As UCs de uso sustentável têm como objetivo conciliar o uso sustentável dos
recursos naturais e a conservação da natureza. O Quadro 7 relaciona os tipos de UCs de
uso sustentável com suas principais características.
Referências bibliográficas
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Janeiro: Museu Nacional, 2007.
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Disponível em:
<http://www.conservation.org.br/publicacoes/files/annotated_checklist_of_brazilian_mam
mals_2nd_edition.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2015.
Ipeadata Social abrange temas como renda per capita, desigualdade na distribuição de
renda dos indivíduos e domicílios, desempenho educacional, condições de saúde e
habitação, inserção no mercado de trabalho e situação dos direitos humanos da população.
Sempre que possível, apresenta séries históricas, desagregadas segundo a localização dos
domicílios (rural ou urbana), cortes etários, níveis de desempenho educacional, anos de
escolaridade, sexo e cor dos indivíduos (IPEA, 2014).
De forma similar ao IDH-M tem-se o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal
(IFDM), divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN).
Trata-se de índice obtido por métodos de análise multivariada, de periodicidade anual,
onde 12 variáveis são grupadas em três áreas, utilizando apenas dados oficiais, obtidos
junto aos ministérios do Trabalho, Educação e Saúde. Para posicionar o município quanto
à dimensão emprego e renda, considera a geração e estoque de emprego formal, e os
salários médios do emprego formal. Quanto à educação, a taxa de matrícula na educação
infantil, taxa de abandono, taxa de distorção idade-série, percentual de docentes com
ensino superior, média de horas-aula diárias e resultados do Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB). Na perspectiva saúde as variáveis utilizadas são o número de
consultas pré-natal, óbitos infantis por causas evitáveis e óbitos por causas mal definidas
(SISTEMA FIRJAN, 2010).
Além de simplesmente informar, cabe ao plano ambiental a análise crítica dos
diversos indicadores, em especial a evolução histórica de indicadores como o IDH-M e
IFDM, de modo a apontar virtudes e carências socioeconômicas, bem como oportunidades,
frente à comparação com outros municípios de porte e vocação econômica similares.
3
Parcela de valor adicionado, descontados os impostos líquidos sobre produtos, cuja contabilização ocorre à
parte.
66
cabeças de caprinos e ovinos. Por outro lado, ocorreram significativas evoluções na área de
pastagens plantadas, quantidade de tratores, efetivo de bovinos e de aves, além da
produção de leite de vaca e ovos de galinha.
Fonte: elaborado a partir de BCB (2014) e CIA ([2012], apud IndexMundi, 2015).
Apesar do Governo Federal estar ampliando ao longo dos últimos anos sua
arrecadação de impostos frente ao PIB, concomitantemente ao aumento no estoque da
dívida pública, ainda está em dificuldades para gerar algum superávit que possa ser usado
para o pagamento da Dívida Pública. Tanto que o compromisso legal de superávit
primário4 para 2014, prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) – Artigo 2º da Lei
12.919/2013 – precisou ser “flexibilizado” pela Lei 13.053/2014 (BRASIL, 2013; 2014).
Para piorar ainda mais este cenário, o Brasil é um dos países que, pelo menos
durante as últimas duas décadas, vem oferecendo as maiores taxas de juros para
remuneração dos títulos da Dívida Pública. A taxa básica de juros da economia brasileira
em dezembro de 2014, de 11,75% a.a., supera em mais de 5% a taxa de inflação prevista
para o ano, de 6,5%. Segundo publicação do site Moneyou de dezembro de 2014, o Brasil
ocupava a 2ª colocação, atrás apenas da Rússia, numa comparação de 40 países em termos
de taxas de juros (MONEYOU, 2014).
Como o cenário apresentado não é casual ou de rápida reversão, mas consistente na
tendência de agravamento e de lenta reversão, caso o Governo Federal passe a adotar
4
Conceito que exclui despesas e receitas de juros.
68
As limitações dos mecanismos de C&C podem ser superadas pela utilização dos
instrumentos econômicos, através da internalização das externalidades que não seriam
normalmente imputadas ao agente poluidor. Segundo May et al. (2003), entre as vantagens
dos instrumentos econômicos estão: (i) permitir a geração de receitas por cobranças não
alcançadas pelos C&C; (ii) permitir tratar desigualmente os desiguais, como aplicação de
tarifas diferenciadas em função de práticas ambientais adotadas pelos agentes econômicos;
(iii) permitir a redução da despesa fiscal para atividades menos intensivas na utilização de
recursos naturais, e (iv) atuar no início do processo de uso de bens e serviços ambientais.
Estes instrumentos incluem as taxas e tarifas (taxas sobre efluentes, taxas sobre o usuário,
taxas sobre produtos), subsídios (subvenções, empréstimos subsidiados, incentivos fiscais)
e licenças de poluição comercializáveis (como certificados de redução de emissões). São
exemplos de instrumentos econômicos os empréstimos subsidiados para que agentes
70
Durante o ano de 1989, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), introduziu o conceito de produção mais limpa (P+L) para definir a aplicação
contínua de uma estratégia ambiental preventiva e integral, envolvendo processos,
produtos e serviços, de maneira que se previnam ou reduzam os riscos de curto ou longo
prazo para o ser humano e o meio ambiente (DIAS, 2011).
72
e Artístico Nacional:
Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e
imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (BRASIL, 1937).
arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles
estão divididos em bens imóveis, como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e
paisagísticos e bens individuais; e bens móveis, como coleções arqueológicas, acervos
museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e
cinematográficos. Todo este patrimônio pode ser acessado por meio eletrônico, o Arquivo
Noronha Santos, ou pelo Arquivo Central, setor do IPHAN responsável pela abertura,
guarda e acesso aos processos de tombamento, de entorno e de saída de obras de artes do
país (IPHAN, 2015e).
Para integrar os dados sobre o patrimônio cultural, com foco nos bens de natureza
material, o IPHAN desenvolveu o Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão – SICG.
Trata-se de uma base única informações sobre cidades históricas, bens móveis e
integrados, edificações, paisagens, arqueologia, patrimônio ferroviário e outras ocorrências
do patrimônio cultural do Brasil, cujos módulos: conhecimento, gestão, cadastro e
exemplos de aplicação, estão disponíveis naquele endereço eletrônico (IPHAN, 2015e).
Em janeiro de 2015 o IPHAN possuía 77 conjuntos urbanos tombados em todo o
País5. De inegável importância para a preservação da história brasileira, estes locais
precisam ser preservados ou conservados, demandando projetos de acessibilidade e
mobilidade, reabilitação de áreas degradadas, normatização e produção de planos de
desenvolvimento locais. Segundo aquele Instituto, na maior parte das cidades brasileiras
muitas questões ainda não estão resolvidas, constituindo-se em um grande desafio a
compatibilização das intervenções necessárias com a preservação do patrimônio tombado.
Além de não produzirem a descaracterização do patrimônio cultural, é desejável que as
intervenções visando acessibilidade e mobilidade resultem em impacto positivo,
propiciando maior contato com o patrimônio e inclusão socioespacial através de
facilidades de circulação de pessoas e adequação de equipamentos urbanos (IPHAN,
2015a).
Uma das ações intergovernamentais voltadas ao patrimônio material é o PAC2
Cidades Históricas, programa que abrange 44 cidades em 20 estados brasileiros, com
recursos voltados à obras públicas – restaurações e requalificações urbanísticas – e
financiamento a proprietários de imóveis tombados (IPHAN, 2015c).
Considerada a obrigação constitucional para a proteção do patrimônio cultural e a
sua relevância para a atual e futuras gerações, compete também aos municípios incluí-la,
em especial os sítios arqueológicos, paisagísticos e núcleos urbanos, no seu planejamento
ambiental.
Referências Bibliográficas
5
A relação dos conjuntos urbanos tombados, por região do País, está disponível no site do IPHAN (IPHAN,
2015a).
75
MAY, P.H. et al.. Economia do Meio Ambiente: teoria e prática./May, P. H., Lustosa, M.
C. e Vinha, V. (org.). Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
et al., 2008).
Dentre os impactos ambientais da agropecuária, a emissão de gases de efeito estufa
(GEE) vêm preocupando os países de forma crescente, devido às mudanças climáticas.
Segundo Oliveira e Barbosa (2007, apud Freitas e Araldi, 2011), o setor agropecuário foi o
responsável por 18% das emissões de gases do efeito estufa, sendo 9% do gás carbônico
emitido por fontes antrópicas, decorrentes de desmatamentos para áreas de pastejo ou
produção de grãos; 37% do metano, na maior parte devido à fermentação ruminal; e 65%
de todo gás nitroso emitido.
A preocupação com a redução dos GEE vem ao encontro da Lei 12.187, de 29 de
dezembro de 2009, instituiu no Brasil a Politica Nacional sobre Mudança do Clima
(PNMC), estabelecendo o compromisso voluntário de redução de emissões de gases de
efeito estufa de 36,1% a 38,9% das emissões projetadas até 2020. O Decreto 7.390/2010,
que regulamentou a Lei, projetou em 3.236 milhões tonCO2eq as emissões de GEE para o
ano de 2020, composta pelas projeções para os seguintes setores: (i) mudança de uso da
terra: 1.404 milhões de tonCO2eq; (ii) energia: 868 milhões de tonCO2eq; (iii)
agropecuária: 730 milhões de tonCO2eq; e processos industriais e tratamento de resíduos:
234 milhões de tonCO2eq (BRASIL, 2009; 2010).
Segundo Ferreira Filho e Rocha (2004), a pecuária de corte é uma das maiores
emissoras de GEE, estando suas emissões associadas principalmente ao elevado nível de
atividade. Isto porque a fermentação entérica é a responsável pela produção de gás metano
no rúmen bovino, eliminado através da eructação. A produção desse gás esta muito ligada
à qualidade da alimentação que o animal ingere. Pastagens pobres em nutrientes levam a
uma maior quantidade de ingestão pelo animal, como forma de compensação, resultando
em maior massa a ser digerida, e consequente maior a emissão de metano. Portanto,
melhorias nutricionais na dieta resultam em uma menor emissão de metano por animal
(OLIVEIRA; BARBOSA, 2007 apud FREITAS; ARALDI, 2011).
No Brasil, a rede de pesquisa Pecus avalia a dinâmica de GEE e o balanço de
carbono em sistemas de produção agropecuários de seis biomas (Mata Atlântica, Caatinga,
Pantanal, Pampa, Amazônico e Cerrado), visando contribuir para a competitividade e
sustentabilidade da pecuária brasileira, pela estimação da participação dos sistemas de
produção agropecuários nos GEE e identificação de alternativas de mitigação
(EMBRAPA, 2015).
O governo brasileiro, através do Programa Agricultura de Baixa Emissão de
Carbono (ABC), proporciona aos produtores práticas, tecnologias e linhas de crédito para
sistemas produtivos que contribuem para a redução dos GEE (CNA, 2012). Neste sentido,
foi elaborada a cartilha Cordeiro et al. (2012), resultado parceria entre o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha
(FEBRAPDP), iniciada no primeiro Seminário Nacional de Sensibilização do Plano ABC,
ocorrido em Brasília, em setembro de 2010.
Segundo CNA (2012), a contribuição das atividades agropecuárias para o
atingimento das metas brasileiras da PNMC podem ser feita, principalmente, por meio da
fixação de carbono a partir do aumento das áreas de florestas plantadas e da ampliação do
uso de sistemas de produção com distúrbio mínimo do solo. No caso da agricultura foram
selecionadas as tecnologias apresentadas no Quadro 12.
As técnicas relacionadas no Quadro 12, aplicadas de forma combinada, geram
efeito sinérgico. Tomando-se o caso da iLPF e dos sistemas agroflorestais (SAFs),
contribuem para a recuperação de áreas degradadas, manutenção e reconstituição da
cobertura florestal, adoção de boas práticas agropecuárias (BPA), melhoria das condições
sociais, pela geração de emprego e renda. Ainda, contribuem para a adequação da unidade
produtiva à legislação ambiental e à valorização dos serviços ambientais oferecidos pelos
81
agroecossistemas, como: (i) conservação dos recursos de solo e água; (ii) abrigo de insetos
e animais polinizadores e de controle natural de pragas e doenças; (iii) fixação de carbono
e nitrogênio; (iv) redução da emissão de GEE; (v) reciclagem de nutrientes; (vi)
biorremediação do solo e (vii) manutenção e uso sustentável da biodiversidade (CNA,
2012).
A Poluição sonora é hoje, com certeza, uma das demandas de maior crescimento
nas nossas cidades, pois causam prejuízo não somente aos moradores próximos, mas para
toda a coletividade e, segundo o psicólogo norte-americano George A. Kelly, os cidadãos
se preocupam com problemas relacionados com o crime, porém muitas vezes os problemas
relacionados à qualidade de vida podem ser mais importantes para seus níveis de conforto
diário.
Considera-se a poluição sonora como sendo a perturbação que envolve maior
número de incomodados e, diante dos danos dramáticos causados, ocupa a terceira
prioridade entre as doenças ocupacionais. Sendo assim, constitui-se em mais um dos
fatores de risco de grande parte das pessoas do país, agravando as doenças
cardiovasculares e infecciosas, interferindo na recuperação dos enfermos e tornando mais
fácil o adoecer dos sãos. Para Hungria (1995), a poluição sonora dos grandes centros
urbanos afeta o psiquismo de seus habitantes, principalmente em indivíduos com
predisposições, acarretando instabilidade de humor, irritabilidade, alterações emocionais
(depressões e excitações), redução da memória e estresse. Acrescenta ainda Lacerda (1976)
que graves prejuízos poderiam advir para a audição e a saúde em geral de milhares de
pessoas, em consequência da poluição acústica causada pelos ruídos excessivos dos
grandes centros urbanos. Tanto que Dowgherty e Welsh (apud Lacerda, 1976), estimavam
que a contaminação da atmosfera urbana pelo ruído se converteu em ameaça à saúde
pública nos Estados Unidos.
O controle de risco do ruído nem sempre é fácil, principalmente tratando-se dos
padrões de determinação do processo saúde/doença. Segundo a Organização Mundial da
Saúde, pelas reações fisiológicas conhecidas, o ruído até 50 decibéis – dB(A)6 pode
perturbar, mas é adaptável. A partir de 55 dB(A) considera-se o início do estresse auditivo,
causando dependência e gerando durável desconforto. Efetivamente, o estresse
degradativo inicia-se em torno de 65 dB(A) com o desequilíbrio bioquímico, elevando o
risco de infarto, derrame cerebral, infecções, osteoporose e outros. Em torno de 80 dB(A) o
organismo já libera morfinas biológicas no corpo, provocando prazer e completando o
quadro de dependência. Por volta de 100 dB(A) pode ocorrer perda imediata da audição
(CARMO, 1999).
Vê-se em Caldas et al. (1997) que as opções de lazer se transformam em hábitos
adquiridos por influência de modismos e pelas representações sociais, passando o lazer a
ser compreendido como uma agressão à saúde socialmente aceitável.
Atualmente as novas atividades de lazer oferecem riscos e tendências ascendentes
de doenças crônico-degenerativas, entre elas a surdez. Tais atividades incluem prática de
tiro; a mecânica amadorística de motores; uso de motocicletas; frequência à casas de
danças (discotecas); equipamentos estereofônicos individuais (walkman); concertos de
rock/pop; equipamentos de som instalados no interior de automóveis; e, não se pode
esquecer, da aplicação excessiva de sons musicais abusivos nas festas, bailes, reuniões,
cinemas, teatros e os chamados trios elétricos.
Segundo Saliba e Corrêa (2002, p. 34), “o ruído pode ser controlado de três formas:
na fonte, na trajetória (medidas de controle no ambiente) e no homem”. É necessário
utilizar todas as formas possíveis para redução de ruídos, sendo que a maneira mais efetiva
de preveni-lo é combatê-lo na sua origem.
E, como medida preventiva, foca-se no controle da fonte emissora, evitando com
isso incômodos futuros de eventos, bailes e festas, realizados em ginásios de esportes,
6
dB(A): nível de pressão sonora (SPL), ponderada pela curva A, que simula a resposta do ouvido humano a
40 dB-SPL (NEIVA, 2013).
83
casas noturnas, etc., e mesmo ao ar livre, onde poderá ocorrer a emissão de ruídos em
níveis superiores aos legalmente permitidos. Para isso, também se faz necessário que o
órgão responsável pelo meio ambiente no município esteja devidamente capacitado para
mensurar estas emissões sonoras, fazendo as devidas medições dos “níveis de pressão
sonora” com o equipamento técnico apropriado (sonômetro, conhecido como
decibelímetro), sendo este devidamente calibrado por laboratório licenciado pelo
INMETRO, com funcionários treinados e utilizando metodologia apropriada.
Sobre a poluição sonora no Brasil, temos registros da época do Imperador D. Pedro
I, que baixou uma portaria, em 1825, na qual determinava ao intendente de polícia no Rio
de Janeiro “as mais terminantes ordens proibindo a incomoda chiadeira dos carros dentro
da cidade”. Após, sucederam no Brasil diversas leis sobre ruído, como na época do
Presidente Getúlio Vargas, o Decreto-lei 1.259/1939 e o Decreto-lei 3.688/1941. Este
último conhecido como Lei das Contravenções Penais, no seu Art. 42, define como
contravenção “perturbar alguém com ruídos”. Portanto, considera a poluição sonora uma
contravenção referente à paz pública, prevendo a proteção da sociedade brasileira
(BRASIL, 1939; 1941). Estabelecia:
A definição do que é poluição está expressa pelo Inciso III, do Art. 3º da Lei nº
6.938, de 31 de agosto de 1981 (BRASIL, 1981):
A Lei nº 6.938/81, que “dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus
fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências” tem sido acatada
como regulamento da Constituição Federal no campo do meio ambiente, detalhando a
distribuição de competências entre os entes da Federação.
A emissão de sons e ruídos em níveis que causam incômodos às pessoas e animais
e que prejudicam, assim, a saúde e as atividades humanas, enquadra-se perfeitamente no
conceito de poluição legalmente aceito no Brasil, o qual é, também, de consenso do meio
técnico.
A nossa legislação ambiental disciplina o controle da poluição de um modo geral.
As atividades que sejam efetiva ou potencialmente poluidoras, como as que emitem
elevados níveis de sons, ruídos e vibrações, são obrigadas a terem o respectivo
licenciamento ambiental.
Como a poluição sonora pode causar danos à saúde humana, aquele que provocar
emissões além do permitido, poderá ser enquadrado no disposto nesse artigo 54 da lei nº
84
No que diz respeito a ruído, a tutela jurídica do meio ambiente e da saúde humana é
regulada pela Resolução do CONAMA 001, de 08 de março de 1990, que considera um
problema os níveis excessivos de ruídos bem como a deterioração da qualidade de vida
causada pela poluição (BRASIL, 1990a).
Esta Resolução adota os padrões estabelecidos pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) através da Norma Brasileira Regulamentar (NBR) 10.151, de
junho de 2000, reedição. Cabe ressaltar que somente a versão do ano 2.000 é válida, de
modo que laudos baseados na versão anterior, de 1987, referentes à “resposta da
comunidade ao ruído”, não podem ser mais aplicados (ABNT, 2000a).
Previamente ao uso da referida resolução CONAMA, cabe verificar a existência de
referências estaduais. Quando o município possuir legislação própria, como Código de
Posturas, normalmente se adota a legislação municipal, por ser mais restritiva.
Segundo a resolução CONAMA 001/1990, o som é considerado poluição sonora
quando a medição dele indica níveis excessivos. O maior valor predeterminado pela
legislação, o “ruído de fundo”, é adotado como Nível Critério de Avaliação (NCA). Ocorre
poluição sonora, e consequentemente dano ambiental, quando o nível de pressão sonora
medido for superior ao NCA. A Tabela 5 apresenta os NCA estabelecidos pela NBR
10151/2000 e adotados pela Resolução.
Tabela 5 - Nível de critério de avaliação (NCA) para ambientes externos e internso, em dB(A)
Tipo de área Externas Internas
Janelas Janelas
Abertas Fechadas
Diurno
Noturno
Diurno
Noturno
Diurno
Noturno
Sítios e fazendas 40 35 30 25 25 20
Estritamente residencial urbana, hospitais, escolas 50 45 40 35 35 30
Mista predominante residencial 55 50 45 40 40 35
Mista vocação comercial e administrativa 60 55 50 45 45 40
Mista vocação recreacional 65 55 55 45 50 40
Predominante industrial 70 60 60 50 55 45
Fonte: ABNT, 2000a
Alguns ruídos, por suas características, têm tratamentos especiais na norma. São os
85
ruídos impulsivos (bate-estacas, tiros, etc.) e os ruídos com componentes tonais (apitos,
zumbidos, etc.).
O horário em que é produzido o ruído é muito importante para determinar os
valores de referência. Para os municípios que não têm regulamentação própria a norma da
ABNT estipula: horário diurno: das 7h às 22h e horário noturno: das 22h às 7h, à exceção
dos domingos ou feriados: das 22h às 9h.
O Quadro 13 relaciona considerações a serem observadas para as medições dos
níveis de pressão sonora.
Equipamentos Identificar quais são os tipos de equipamentos que emitem os ruídos: máquinas,
emissores compressores, amplificadores e caixas de som, serras, etc., sua localização, a
disposição das fontes no prédio, o entorno do prédio e sua relação com o
logradouro público e com o imóvel objeto da reclamação.
Materialize com Identificar a localização exata da fonte poluidora em relação à vizinhança,
imagens materializando através de fotos ou croquis.
Legislação Identificar se o município possui legislação sobre poluição sonora e se é mais
Municipal restritiva.
Fonte: Huyer, 2004
Além da NBR 10.151, tem-se a NBR 10.152, que trata dos níveis de ruídos para
conforto acústico, estabelecendo os limites máximos em decibéis a serem adotados em
determinados locais. Exemplificando, em restaurante o nível de ruído não deve ultrapassar
os 50 decibéis (ABNT, 2000b).
O CONAMA, considerando que o crescimento demográfico descontrolado
ocorrido nos centros urbanos acarreta uma concentração de diversos tipos de fontes de
poluição sonora, sendo fundamental o estabelecimento de normas, métodos e ações para
controlar o ruído excessivo que possa interferir na saúde e bem-estar da população,
estabeleceu a Resolução 002, de 08 de março de 1990, que veio a instituir o Programa
Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora – Silêncio, cuja coordenação do
Programa Silêncio é de responsabilidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Renováveis (IBAMA), que deverá contar com a participação de Ministérios do
Poder Executivo, órgãos estaduais e municipais do Meio Ambiente (BRASIL, 1990b).
Para o controle da poluição sonora, dentro da gestão municipal, devemos estar
focados na sua localização nas áreas urbanas e nas atividades que à causam, cuidado
intrinsecamente ligado ao planejamento e controle do uso do solo e das funções urbanas e,
portanto, de competência exclusiva do poder municipal pois, conforme o Art. 30 da
Constituição Federal, entre as competências atribuídas aos municípios, entre as quais estão
as de legislar sobre assuntos de interesse local, prestar serviços públicos de interesse local
e promover, no que couber, o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e
controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano (BRASIL, 1988).
Apesar da competência constitucional, a experiência tem demonstrado que as
ocorrências de poluição sonora nas áreas urbanas só acontecem com o consentimento do
poder público municipal, pelo desconhecimento, omissão, ineficiência ou negligência.
O ordenamento territorial urbano, através do disciplinamento do uso do solo e das
atividades, é definido por leis municipais de ordenamento urbano e pelos códigos
municipais de obras e de posturas, sendo um ótimo instrumento de prevenção, devendo ser
usado como uma importante ferramenta à disposição dos Gestores Ambientais como
medida mitigadora da poluição sonora, pois vincula o uso do solo com as restrições em
determinadas áreas, horários e locais em que podem funcionar atividades naturalmente
barulhentas, como bares, boates, obras civis, o uso de buzinas, de carros de som, de
espetáculos musicais, eventos esportivos etc., pois a competência de legislar sobre esse
tema é, naturalmente, do Município.
O exercício do poder de polícia administrativa determina a competência dos
Municípios para fiscalizar e controlar a poluição sonora. Para isso deve-se definir os
limites de ruídos que estão incluídos entre os sujeitos ao controle da poluição ambiental,
cuja normatização e estabelecimento de padrões compatíveis com o meio ambiente
equilibrado e necessário à sadia qualidade de vida, é atribuída ao CONAMA, de acordo
com que dispõe o inciso II, do artigo 6º da Lei 6.938/81 (BRASIL, 1981).
Com a adoção destas medidas, os municípios podem efetivamente ter instrumentos
para trabalhar no ordenamento territorial definindo parâmetros de prevenção para o
combate aos sons abusivos, superiores aos padrões ambientais, que pela nossa legislação
87
7.4 Poluição do Ar
Introdução
danoso aos materiais, à fauna e flora; (iv) prejudicial à segurança, ao uso e gozo da
propriedade e às atividades normais da comunidade” (Art.1º) (CONAMA, 2015).
O Art. 2º daquela Resolução define como Padrões Primários de Qualidade do Ar as
concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. E
Padrões Secundários de Qualidade do Ar as concentrações de poluentes abaixo das quais
se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem-estar da população, assim como o mínimo
dano à fauna, à flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Com base nestas
definições, em seu artigo terceiro, estabeleceu padrões para partículas totais em suspensão,
fumaça, partículas inaláveis, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio e dióxido
de nitrogênio.
Ao tempo em que estabelece os padrões de qualidade do ar como objetivo a ser
atingido mediante estratégias de controle presentes em Planos Regionais de Controle de
Poluição do Ar, em seu artigo 5º define que o monitoramento da qualidade do ar deve ser
atribuição dos estados.
O Quadro 16 relaciona resoluções do CONAMA vinculadas ao Programa Pronar.
intervenção antropogênica; (ii) Classe II: Áreas onde o nível de deterioração da qualidade
do ar seja limitado pelo padrão secundário de qualidade; (iii) Classe III: Áreas de
desenvolvimento onde o nível de deterioração da qualidade do ar seja limitado pelo padrão
primário de qualidade. Estabeleceu que as áreas Classe I e Classe III são estabelecidas por
resolução específica do CONAMA, e as demais consideradas Classe II.
A Resolução CONAMA nº 18/1986 Criou o Programa Nacional de Controle da
Poluição por Veículos Automotores (PROCONVE) e o Programa de Controle da Poluição
do Ar por Motociclos e Veículos Similares (PROMOT), com os objetivos de: (i) reduzir os
níveis de emissão de poluentes por veículos automotores visando o atendimento aos
Padrões de Qualidade do Ar, especialmente nos centros urbanos; (ii) promover o
desenvolvimento tecnológico nacional, tanto na engenharia automobilística, como também
em métodos e equipamentos para ensaios e medições da emissão de poluentes; (iii) criar
programas de inspeção e manutenção para veículos automotores em uso; (iv) promover a
conscientização da população com relação à questão da poluição do ar por veículos
automotores; (v) estabelecer condições de avaliação dos resultados alcançados; (vi)
promover a melhoria das características técnicas dos combustíveis líquidos, postos à
disposição da frota nacional de veículos automotores, visando a redução de emissões
poluidoras à atmosfera (Alínea I).
Além do Pronar e Proconve, existe um terceiro programa para controle da poluição
do ar, no qual o CONAMA atua em parceria com o Conselho Nacional de Trânsito
(CONTRAN), chamado Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso (I/M).
As diretrizes básicas e padrões de emissão para o I/M foram estabelecidos pela Resolução
CONAMA 7/1993. No ano seguinte, a Resolução CONAMA 15/1994 vinculou a
implantação de programas I/M à elaboração, pelo órgão ambiental estadual, de um Plano
de controle de Poluição por Veículos em Uso (PCPV).
A exemplo do estabelecido pela Resolução nº 5/1989 ao referir-se às Gestões
Públicas, a existência de interfaces com os diferentes setores da sociedade, que se criam
durante o estabelecimento e a aplicação de medidas de controle da poluição do ar, cabe aos
gestores públicos das diversas esferas manter um canal permanente de comunicação
visando viabilizar a solução de questões pertinentes. Para tanto, os planos ambientais
podem ser de grande valia.
Referências Bibliográficas
_____. NBR 10.152. Níveis de ruídos para conforto acústico. Rio de Janeiro, 2000.b
BERNDT, A. Impacto da pecuária de corte brasileira sobre os gases do efeito estufa. In:
VII Simpósio de Produção de Gado de Corte, 2010, Viçosa. Anais... Viçosa. Disponível
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CALDAS, N.; LESSA, F.; NETO, S.C. Lazer como risco à saúde: O ruído dos trios
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<http://www.unicruz.edu.br/seminario/artigos/saude/IMPACTO%20AMBIENTAL%20D
A%20EMISS%C3%83O%20DE%20GASES%20PELA%20PECU%C3%81RIA.pdf>.
Acesso em: 20 jan. 2015.
Agradecimento:
Este tópico está dividido em seis seções, abordando os temas saneamento básico,
coleta seletiva, resíduos relacionados a agrotóxicos, óleos lubrificantes, lâmpadas, pneus,
pilhas, baterias e equipamentos eletroeletrônicos, além de resíduos da saúde e da
construção civil. Os temas gestão integrada de resíduos sólidos e remediação de lixões e
aterros controlados são abordados nos tópicos 12 e 13, respectivamente.
realizado, até janeiro de 2015 não havia sido prorrogado (BRASIL, 2010c).
Esta seção procura mostrar a situação atual do saneamento básico no Brasil a partir
do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), publicado em dezembro de 2013.
Revisa o documento, resgatando informações que possam contribuir para a discussão e
implementação de Planos Ambientais pelos municípios.
Para a caracterização do déficit em saneamento básico, o Plansab adotou uma
amplitude conceitual que contemplou, além da infraestrutura, aspectos socioeconômicos e
culturais e a qualidade dos serviços ofertados ou da solução empregada. Devido às diversas
situações de atendimento relacionadas ao saneamento, o documento apresentou de forma
esquemática o que chamou de déficit em saneamento básico. Este esquema é apresentado
na Figura 7.
7
Valores atualizados pelo IGP-DI de dezembro de 2012.
100
Esta seção traz uma abordagem dos temas coleta seletiva e logística reversa de
resíduos sólidos voltada aos gestores públicos municipais.
Em termos conceituais, coleta seletiva é “a coleta de resíduos sólidos previamente
segregados conforme sua constituição ou composição” (BRASIL, 2010c, Art. 3-V).
Segundo a pesquisa Ciclosoft 2014, última edição de uma pesquisa bianual
realizada pela associação Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), 927
102
municípios brasileiros operam serviços de coleta seletiva, sendo que 81% deles estão
concentrados nas regiões Sudeste (416) e Sul (337). A população atendida é de
aproximadamente 28 milhões, equivalente a 13% dos brasileiros (CEMPRE, 2014).
Quanto aos modelos de coleta seletiva adotados para a operacionalização do
serviço, aquela pesquisa encontrou 80% utilizando o serviço porta-a-porta; 45% utilizando
pontos de entrega voluntária (PEVs) e em 76% deles há o apoio ou a contratação de
cooperativas de catadores como parte integrante da coleta seletiva. Em 43% das cidades
pesquisadas, a coleta seletiva é realizada pela própria prefeitura em 43%; 37% delas
contratam empresas particulares; e em 51% dos casos a prefeitura apoia ou mantém
cooperativas de catadores como agentes executores da coleta seletiva municipal8. O apoio
às cooperativas ocorre através de maquinários, galpões de triagem, ajudas de custos,
caminhões, capacitações, divulgação e educação ambiental.
O custo médio da coleta seletiva nas cidades pesquisadas por Cempre foi de R$
439,26 por tonelada, frente a um valor médio de R$ 95,00 para a tonelada da coleta regular
de lixo, resultando em 4,6 vezes mais.
O Gráfico 2 apresenta a composição gravimétrica da coleta seletiva informada
pelos municípios pesquisados por Cempre em 2014. Os plásticos apresentaram a seguinte
proporção em massa: PET (34%), PEAD (20%), PEBD (19%), Mistos (16%), PP (6%), PS
(3%) e PVC (2%)9.
Com base na gravimetria obtida pela pesquisa Ciclosoft e os preços de mercado dos
principais recicláveis, disponíveis para consulta em fevereiro de 2015 no site da Cempre, a
Tabela 8 calcula a receita bruta pela comercialização de uma tonelada destes materiais.
Para tanto, foram calculados os preços médios de mercado de cada reciclável, informados
por nove cidades brasileiras, de cinco diferentes estados.
Sopesadas as limitações metodológicas e a simplicidade dos cálculos, o resultado
de comercialização obtido, de R$ 512, comparado com o custo médio da coleta seletiva, de
R$ 439, resulta em superávit de apenas R$ 73 por tonelada, valor inadequado para a
remuneração dos demais elos da atividade, compreendidos entre a coleta e a
8
Os percentuais informados não são excludentes, visto que os municípios podem adotar mais de um modelo
e utilizar mais de um agente executor para a coleta seletiva.
9
PET=Politereftalato de etileno ; PEAD=Polietileno de alta densidade ; PEBD=Polietileno de baixa
densidade; PP=Polipropileno; PS=Poliestireno; PVC=Cloreto de polivinila.
103
parágrafo quarto da cláusula terceira, que: “as ações deverão observar os princípios
financeiros estabelecidos no Estudo de Viabilidade Econômica e Impactos
Socioambientais elaborado pela LCA (empresa de consultoria), sendo que a viabilidade
econômica do presente Acordo Setorial depende, essencialmente, da existência de
incentivos do mercado suficientes para viabilizar o crescimento expressivo de volume de
triagem e recuperação dos resíduos equiparáveis. [...]¨ (MMA, 2014).
Corrobora este entendimento a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), ao afirmar que, “se essa proposta for aprovada,
todo o ônus para a implantação e operação do sistema de logística reversa de embalagens
em geral recairá sobre os serviços municipais de limpeza pública, o que vai contra a PNRS
e ao conceito de logística reversa” (ABRELPE, 2014).
Dada a complexidade das negociações no âmbito deste Acordo Setorial, pela
multiplicidade de entidades representativas dos diversos segmentos de embalagens e os
interesses econômicos envolvidos, não se vislumbra, a curto prazo, o compartilhamento
adequado desta responsabilidade.
Está disponível no tópico 12 do livro uma visão holística e sistêmica da coleta
seletiva, no contexto da gestão integrada de resíduos sólidos.
dos produtos e embalagens reunidos ou devolvidos nas formas previstas no § 3o. Aos
fabricantes e importadores, a destinação ambientalmente adequada aos produtos e às
embalagens reunidos ou devolvidos, sendo o rejeito encaminhado para a disposição final
ambientalmente adequada, na forma estabelecida pelo órgão competente do Sisnama e, se
houver, pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos. Por fim, cabe ao
titular do serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, por acordo
setorial ou termo de compromisso firmado com o setor empresarial, encarregar-se de
atividades de responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes
nos sistemas de logística reversa dos produtos e embalagens, devidamente remunerados, na
forma previamente acordada entre as partes (BRASIL, 2010c, grifo nosso).
Por fim, o artigo 34 estabelece que acordos setoriais firmados com fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes podem ter abrangência nacional, regional,
estadual ou municipal, onde os compromissos de âmbito nacional têm prevalência sobre os
firmados em âmbito regional ou estadual, e estes sobre os firmados em âmbito municipal.
Onde acordos de menor abrangência geográfica podem ampliar, mas não abrandar, as
medidas de proteção ambiental de maior abrangência geográfica.
O Decreto 7.404/2010, que regulamentou a Lei 12.305/2010, entre outras
determinações, institui, pelo art. 3º, o Comitê Interministerial da Política Nacional de
Resíduos Sólidos (CORI), com a finalidade de possibilitar o cumprimento das
determinações e das metas previstas na Lei 12.305/2010, e pelo art. 33, o Comitê
Orientador para Implantação de Sistemas de Logística Reversa. Seu art. 15 define que os
sistemas de logística reversa serão implantados por meio de acordos setoriais,
regulamentos expedidos pelo poder público ou termos de compromisso. Segundo seu art.
17, a definição dos produtos e embalagens a serem incluídos nos sistemas de logística
reversa devem considerar a viabilidade técnica e econômica, a ser aferida pelo Comitê
Orientador (BRASIL, 2010b).
A exemplo do grupo de trabalho(GT) “Embalagens em geral”, referido na seção
anterior, foram criados no âmbito do Governo Federal os seguintes GTs e seus respectivos
ministérios coordenadores: descarte de medicamentos (Ministério da Saúde); Embalagens
de óleos lubrificantes e seus resíduos (Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento); lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista
(Ministério do Meio Ambiente); e eletroeletrônicos (Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior) (MMA, 2015). Quando da redação deste texto – fevereiro
de 2015 – não estavam em funcionamento as logísticas reversas relacionadas a lâmpadas,
eletroeletrônicos e medicamentos. Observava-se, de um lado, a paralisia dos governos
estaduais e municipais, a espera de uma solução federal, e a pressão do Ministério Público
para que os municípios não tomem para si o ônus da logística reversa, visto que não há
amparo legal para tal. De outro, a pressão e busca de orientação dos consumidores junto ao
poder público municipal sobre o que fazer com suas lâmpadas e eletroeletrônicos usados,
sem alternativa de destinação ambientalmente correta.
A seguir são apresentadas referências legais e a situação dos seis resíduos elencados
pelo artigo 33 da Política Nacional de Resíduos Sólidos, e a situação dos acordos setoriais,
quando for o caso.
reversa, mediante retorno dos produtos após seu uso (BRASIL, 2010, Art.33, Inciso I).
Para a implementação de um posto de recebimento e central de recebimento destas
embalagens há necessidade da obtenção de licenciamento ambiental junto ao órgão
ambiental competente, conforme disposto no Decreto 4.074/2002 (Art. 56). Assim, estes
estabelecimentos devem cumprir com o disposto na Resolução CONAMA nº. 334/2003,
que dispõe sobre os procedimentos de licenciamento ambiental de estabelecimentos
destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos (BRASIL, 2002;
CONAMA, 2008).
A revisão da legislação brasileira sob o prisma normativo relacionado à logística
reversa de embalagens de agrotóxicos mostra um caminho evolutivo de 25 anos, se
considerada a Lei 7.802/1989 como o marco inicial do processo. Possivelmente em razão
das obrigações impostas pela legislação, observa-se elevado nível de organização deste
sistema no Brasil, sob a gestão do INPEV, instituição sem fins lucrativos fundada em
2001, participação de 90 empresas fabricantes e cerca de 260 associações de distribuidores
e cooperativas, além de nove parceiros recicladores e cinco incineradores. O sistema reúne
mais de 400 unidades de recebimento de embalagens, entre centrais e postos, localizados
em 25 estados e no Distrito Federal. As unidades são geridas por associações e
cooperativas, na maioria dos casos com apoio do Instituto. Nos últimos anos tem-se
verificado relevante crescimento nas quantidades de embalagens de agrotóxicos pós-
consumo coletadas no Brasil: de 28,8 mil t em 2009 para 37,4 mil t em 2012. Este
crescimento é atribuído ao crescimento na demanda, combinado com a conscientização dos
envolvidos na cadeia reversa, principalmente dos produtores, e à implementação de novos
postos de recebimento espalhados pelo Brasil. As embalagens recebidas são destinadas à
reciclagem (92%) ou à incineração (8%) (INPEV, 2012; 2013).
10
Enquanto em 2006 foram licenciados no Brasil 1.927.738 veículos (leves, caminhões e ônibus), em 2012
este número aumentou para 3802071 (ANFAVEA, 2012).
108
Pneus
Embora relacionado pelo artigo 33 da Lei 12.305/2010, os pneus não são objeto de
acordo setorial. Não há sentido em acordo setorial neste caso, pois o Artigo 1º da
Resolução Conama 416/2009 estabelece que “os fabricantes e os importadores de pneus
novos, com peso unitário superior a dois quilos, ficam obrigados a coletar e dar destinação
adequada aos pneus inservíveis existentes no território nacional, na proporção definida
nesta Resolução” (BRASIL, 2009).
A Resolução 416/2009 revogou as 258/ 1999 e 301/2002, tornando-se a principal
legislação sobre a prevenção à degradação ambiental causada por pneus inservíveis e sua
destinação. Seu artigo 3º estabelece que, para cada pneu novo comercializado para o
mercado de reposição, as empresas fabricantes ou importadoras deverão dar destinação
adequada a um pneu inservível, assim chamado pela Resolução o pneu “usado que
apresente danos irreparáveis em sua estrutura não se prestando mais à rodagem ou à
reforma” (Art. 2-V).
O controle é exercido pelo IBAMA, através do Cadastro Técnico Federal de
Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais (CTF).
Segundo o artigo 8º, “os fabricantes e os importadores de pneus novos, de forma
compartilhada ou isoladamente, deverão implementar pontos de coleta de pneus usados,
podendo envolver os pontos de comercialização de pneus, os municípios, borracheiros e
outros”.
O artigo 10º veda o armazenamento de pneus a céu aberto e o 15º, a disposição
final no meio ambiente, tais como o abandono ou lançamento em corpos de água, terrenos
baldios ou alagadiços, a disposição em aterros sanitários e a queima a céu aberto. Por outro
lado, o artigo 14º veda a destinação final de pneus usados “que ainda se prestam para
processos de reforma, segundo normas técnicas em vigor”.
No Brasil os pneus inservíveis são utilizados em: coprocessamento em fornos de
cimento; coprocessamento na usina de xisto betuminoso; asfaltamento/pavimentação de
vias; quadras esportivas, como gramas artificiais; fabricação de artefatos de borracha;
fabricação de granulados e pós de borracha; e para regeneração da borracha. Porém
existem diversas dificuldades, a exemplo das emissões quando do coprocessamento em
cimenteiras, pelas emissões de Dioxinas e Furanos, onde o padrão no Brasil é 0,5 µg,
pouco rigoroso comparado com a União Europeia, onde o limite é de 0,1 µg. Além de
apenas dois laboratórios estarem habilitados para estes ensaios no Brasil (VELOSO, [201-
?]).
O site do Reciclanip, criada em março de 2007 por fabricantes de pneus novos,
informa que desde 1999, quando começou a coleta dos pneus inservíveis pelos fabricantes,
110
Pilhas e baterias
As pilhas e baterias estão arroladas no artigo 33 da Lei 12.305/2010, mas não fazem
parte de negociações relacionadas a acordos setoriais.
O alcance regulatório sobre estes resíduos se dá pela Resolução CONAMA
401/2008, que “estabelece os limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e
baterias comercializadas no território nacional e os critérios e padrões para o seu
gerenciamento ambientalmente adequado”, Inclui pilhas e baterias portáteis, das baterias
chumbo-ácido, automotivas e industriais e das pilhas e baterias dos sistemas
eletroquímicos níquel-cádmio e óxido de mercúrio (BRASIL, 2008).
As instruções normativas relacionadas a esta Resolução são objeto da Instrução
Normativa 8/2012 do IBAMA.
A exemplo dos pneus, exige a inscrição dos fabricantes e importadores no CTF,
controlado pelo IBAMA (Art.3).
Por força dos artigos 4 a 6 desta Resolução, a logística reversa destes produtos é
obrigatória, posto que “os estabelecimentos que comercializam os produtos mencionados
no art. 1º, bem como a rede de assistência técnica autorizada pelos fabricantes e
importadores desses produtos, deverão receber dos usuários as pilhas e baterias usadas,
respeitando o mesmo princípio ativo, sendo facultativa a recepção de outras marcas, para
repasse aos respectivos fabricantes ou importadores” (art. 4). “Para as pilhas e baterias não
contempladas nesta Resolução, deverão ser implementados, de forma compartilhada,
programas de coleta seletiva pelos respectivos fabricantes, importadores, distribuidores,
comerciantes e pelo poder público” (art. 5). “As pilhas e baterias mencionadas no art. 1º,
nacionais e importadas, usadas ou inservíveis, recebidas pelos estabelecimentos comerciais
ou em rede de assistência técnica autorizada, deverão ser, em sua totalidade, encaminhadas
para destinação ambientalmente adequada, de responsabilidade do fabricante ou
importador (art. 6) (BRASIL, 2008, grifo nosso).
A Resolução proíbe a disposição final de baterias chumbo-ácido e as de níquel-
cádmio e óxido de mercúrio em qualquer tipo de aterro sanitário, bem como a suas
incinerações (art. 10 e 13). Esta exigência não inclui as pilhas e baterias de pilhas elétricas
zinco-manganês e alcalino-manganês.
Depreende-se que, por limitar os teores de mercúrio, cádmio e chumbo, os
legisladores não viram necessidade de estender a proibição de incineração e aterramento
sanitário para este produto. Até porque incluíram estes produtos na obrigatoriedade da
111
logística reversa (art.4). Ocorre que não há controle sobre estes produtos quando a sua
entrada no País ocorre de forma ilícita. Segundo Costa (2009),
Estima-se que 40% das pilhas vendidas são contrabandeadas ao país e estão fora
dos padrões de segurança ambiental. Ests pilhas são em geral fabricadas na
Ásia, especialmente na China, contêm concentrações de cádmio e chumbo cerca
de 10 vezes superiores que a permitida pela resolução Conama 257/1998.
Enquanto isso, os teores de zinco e manganês, que são os elementos ativos das
pilhas, têm concentrações mais baixas que o mínimo exigido pela mesma
legislação, o que reduz a vida útil do produto e aumenta o descarte e,
consequentemente, a poluição.
Uma vez coletadas via logística reversa, as pilhas e baterias, ou são objeto de
reciclagem ou são encaminhadas para aterros industriais (IBAMA, 2012). Portanto,
havendo baixa disposição dos fabricantes e importadores para o cumprimento do artigo 4
da Resolução 401/2008, cabe à sociedade e ao poder público atuarem para a efetividade
desta logística reversa no País.
Brasil vir a possuir um sistema satisfatório de logística reversa para REEE. Até lá, cabe ao
cidadão e às lideranças políticas buscar meios de sensibilização do Comitê Orientador para
ações concretas, seja através de acordos setoriais, regulamentos expedidos pelo poder
público ou termos de compromisso (BRASIL, 2010b, art.15), mantidas as consultas
públicas (BRASIL, 2010b, art.26).
representando o total de RCC gerado nos municípios, esta parcela é a única que possui
registros confiáveis” (ABRELPE, 2013, p. 84).
Sem um gerenciamento adequado, os RCC representam um grave problema em
muitas cidades brasileiras, pelo acumulo em margens de rios, terrenos baldios ou outros
locais inapropriados, gerando problemas de ordem estética, ambiental e de saúde pública
(BRASIL, 2011). A principal normativa federal sobre o tema é a Resolução Conama
307/2002, posteriormente alterada pelas resoluções 348/2004, 431/2011 e 448/2012, em
seu Artigo 4º, além de proibir a disposição em “aterros de resíduos sólidos urbanos, em
áreas de "bota fora", em encostas, corpos d'água, lotes vagos e em áreas protegidas por
Lei”, Estabelece que “os geradores deverão ter como objetivo prioritário a não geração de
resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem, o tratamento dos
resíduos sólidos e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” (BRASIL,
2002).
A Resolução Conama 307/2002 classifica os RCC conforme o Quadro 22.
sustentável.
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Parte III – Tópicos de Gestão
Esta parte traz sete tópicos de gestão, procurando aprofundar a contribuição aos
gestores ambientais, equipes de projeto e componentes de fóruns, nos seguintes temas:
educação ambiental (tópico 9), o meio ambiente e a gestão municipal (tópico 10),
planejamento ambiental urbano (tópico 11), gestão integrada de resíduos sólidos (tópico
12), remediação de lixões e aterros controlados (tópico 13), planejamento ambiental no
meio rural (tópico 14), gestão da biodiversidade (tópico 15) e gestão ambiental em
ecossistemas agrários (tópico 16).
129
9 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
realização dessa importante tarefa. Isto confirma Loureiro e Layragues (2013), quando
definem que a educação ambiental passou a ser vista como um processo continuado de
aprendizagem, onde indivíduos e grupos tomam consciência do ambiente, por meio da
produção e transmissão de conhecimentos, valores, habilidades e atitudes. E que, assim, no
Brasil, a educação ambiental se volta para a formação humana e para a formação política.
No Brasil, ninguém cogita a respeito de ações singelas, como aquelas adotadas
pelos japoneses do exemplo acima. Ao contrário, continuamos a crer que trabalhar em prol
de conservação e melhorias é indigno de pessoas que pretendem ser bem situadas na vida.
Dessa forma, nossas cidades continuam a ser infestadas com lixo e os prédios são
impiedosamente pichados por vândalos, que se consideram artistas e causam contínuos
prejuízos ao erário público e aos demais cidadãos.
Sem ações adotadas com determinação e vontade efetiva, não poderemos pretender
solucionar nossos problemas, gerados pela má gestão de resíduos e efluentes indesejados.
Mas as autoridades, nos três níveis, nada poderão conseguir sem a participação ativa e
decidida da sociedade, que precisa ser orientada e educada para agir em prol do bem
comum.
Assim sendo, se desejarmos buscar soluções ou mitigar os problemas ambientais,
há a inadiável necessidade de começarmos a elaboração de programas e ações que
conduzam ao entendimento da importância da participação de todos, em ações que
resultem em um ambiente melhor administrado e limpo, para o benefício geral da
população. E isso, naturalmente, implica em uma mudança radical de atitudes diante do
problema que cresce descontroladamente, mesmo em localidades de pequena população. É
importante ressaltar que o tamanho da população é sempre proporcional à disponibilidade
de recursos materiais e financeiros que se utilizará para enfrentar quaisquer desafios de
administração pública. Em uma metrópole de milhões de habitantes, se disporá de recursos
proporcionais a sua economia e importância. Em um município de população menor, os
recursos disponíveis serão, também, proporcionais ao seu tamanho. Então, de acordo com
sua grandeza, cada município encontrará problemas e dificuldades semelhantes para
resolver.
Como foi dito acima, a mudança de atitude dos diversos atores envolvidos, para se
conseguir uma guinada decisiva no caminho para a busca de uma convivência mais
saudável com o ambiente que nos cerca, dependerá fundamentalmente do grau de
compreensão e decisão de cada indivíduo que compõe a sociedade. A escola, certamente, é
o marco zero da caminhada em busca da educação ambiental. Cada criança, tocada pela
importância de uma atitude ambiental mais correta, influenciará também os membros
adultos de sua família, bem como será, mais adiante, um adulto transformado em agente de
melhorias ambientais.
Sabe-se que a condição social e econômica de cada cidadão é também importante
para que se atinjam as metas desejadas. Em condições sociais e econômicas melhor
resolvidas, encontraremos pessoas mais receptivas à educação ambiental. Então,
caminhando ao lado da necessária mudança de atitude, há a necessidade de que, pessoas ou
famílias, em situação de vulnerabilidade social, sejam atingidas por ações de melhoria de
sua condição de dificuldades com problemas fundamentais de cidadania. Embora nosso
país seja literalmente um gigante econômico, reconhecido como tal pelos outros países,
grande parte de nossa população vive em um limbo educacional, inconsciente dos
problemas que se assomam sobre todos os integrantes da sociedade, que em futuro
próximo estará às voltas, lidando com poluição ambiental, escassez de recursos hídricos e
alimentos de qualidade comprometida pelas mazelas do descuido com que se tratam tão
importantes questões.
Mudar o panorama atual significa um grandioso e indispensável trabalho de
educação ambiental, ao longo do tempo, em todos os patamares da sociedade brasileira. E
132
seu início terá de ser levado a efeito a partir da escola fundamental, de forma decidida e
contínua, com programas, ações e exemplos que até podem ser singelos, mas certamente
nos conduzirão para resultados importantes no futuro.
O problema ambiental como um todo é gigantesco e não será vencido
imediatamente, embora possamos utilizar nisto muitos recursos. Nem será vencido com
programas mirabolantes, sem bases bem constituídas e terá de ser construído com vontade
firme, por muito tempo. E somente quando a maioria da sociedade estiver consciente e
preparada para agir diante das questões ambientais, poderemos imaginar que começaremos
uma caminhada profícua naquilo que imaginamos que seja educação ambiental.
O Governo Federal, através da Lei nº 9795, de 27 de abril de 1999, dispõe sobre a
educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, cujo artigo 8º é
reproduzido a seguir:
As atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental devem ser
desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das
seguintes linhas de atuação inter-relacionadas:
I - capacitação de recursos humanos;
II - desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações;
III - produção e divulgação de material educativo;
IV - acompanhamento e avaliação.
§ 1º Nas atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental
serão respeitados os princípios e objetivos fixados por esta Lei.
§ 2º A capacitação de recursos humanos voltar-se-á para:
I - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e
atualização dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino;
II - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e
atualização dos profissionais de todas as áreas;
III - a preparação de profissionais orientados para as atividades de gestão
ambiental;
IV - a formação, especialização e atualização de profissionais na área de meio
ambiente;
V - o atendimento da demanda dos diversos segmentos da sociedade no que diz
respeito à problemática ambiental.
§ 3º As ações de estudos, pesquisas e experimentações voltar-se-ão para:
I - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à incorporação
da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, nos diferentes níveis e
modalidades de ensino;
II - a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações sobre a questão
ambiental;
III - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à participação
dos interessados na formulação e execução de pesquisas relacionadas à
problemática ambiental;
IV - a busca de alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na área
ambiental;
V - o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção
de material educativo;
VI - a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, para apoio às ações
enumeradas nos incisos I a V.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Lei 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental e institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em:
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10 set. 2014.
REIGOTA, M.. O que é Educação Ambiental. Editora Brasiliense. São Paulo, 2009, 2ª
edição.
Nesse encontro de Estocolmo foi erigido o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA), momento em que foi firmada pelos chefes de Estados,
presentes na Conferência, uma declaração com vinte e seis princípios propostos para servir
como diretriz objetiva para pautar o comportamento e responsabilidades dos povos, bem
como para nortear os processos decisórios públicos de relevância ambiental. A declaração
de Estocolmo sacramentou a necessidade da cooperação internacional e assunção de
responsabilidades para realização da proteção ambiental. As matérias debatidas na
conferência serviram de base para elaboração do direito fundamental ao meio ambiente
135
No ano de 1992, o Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) com o objetivo de possibilitar a demonstração
de resultados alcançados na proteção ambiental devida a partir de Estocolmo. Evidenciou-
se que a degradação ambiental havia aumentado, sendo que suas causas e efeitos haviam se
136
11
A falta de licenciamento do órgão ambiental competente configura o delito do art. 60 da Lei 9.605/98:
“Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional,
estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos
ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes” (BRASIL,
1998).
138
Referências Bibliográficas
_____. Supremo Tribunal Federal. Despacho de 8 de abril de 2010. Disponível em: <
http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 15 jun. 2012.
VENOSA, S. S. Direito Civil: Parte Geral. V. 1. 4. Ed. São Paulo : Atlas, 2004.
140
Sabemos que o crescimento das cidades ocorre de forma não planejada e sem
considerar aspectos ambientais. Exemplo disso são construções que convivem
frequentemente com o risco. O crescimento desordenado e a falta de planejamento urbano
coloca o meio ambiente em situação frágil e refletem em inúmeros acidentes como
desabamentos e inundações.
Em geral a ocupação territorial se dá de forma a atender as necessidades do homem,
sejam elas, de moradia, busca de água e de alimentos, entre outras, ocorrendo de forma
descomedida, o que posteriormente pode trazer consequências indesejáveis. Observam-se
ocupações em áreas impróprias, em encostas, próximas a afluentes, etc., que podem
ocasionar em desmoronamentos e alagamentos ocasionando transtornos à população.
Aspectos trazidos neste “Guia para Planos Ambientais Municipais”, como os
Componentes Abióticos (Clima, Geologia e Relevo, Baia Hidrográfica, Solos),
Componentes Bióticos (Flora, Fauna, Áreas Verdes Urbanas, Unidades de Conservação),
Diagnóstico econômico e social (Indicadores Socioeconômicos, Produção Agrícola e
Agropecuária, Patrimônio histórico-cultural e paisagístico, Indústria, Comércio e
Serviços), Diagnóstico dos impactos ambientais (Poluição sonora, Poluição do ar,
Resíduos sólidos, Efluentes e esgotos, Queimadas, Impactos da Agropecuária), bem como
outros aspectos relevantes e tópicos de gestão abordados neste Guia devem ser reputados
ao pensar no planejamento ambiental urbano.
Sobre o mapeamento de biótopos, Melo e Zuccas (2009) consideram este como:
isto porque tais fatores são fundamentais para ser estipulado o parque industrial do
município. Dependendo do tipo de indústria a ser estabelecida, a exemplo, indústrias com
emissões atmosféricas, este aspecto é interessante, visto a dispersão e/ou aprisionamento
de poluentes. Também podem ser considerados aspectos da topografia, como declividades
do relevo, para a determinação do local da Estação de Tratamento de Água - ETA e da
Estação de Tratamento de Esgoto - ETE, beneficiando-se destes aspectos para o
estabelecimento do tipo de estação adequada e do processo necessário.
Portanto, considera-se importante mapeamentos relacionados às questões
ambientais, pois estes
futuras gerações;
II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações
representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e
acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;
III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da
sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social;
IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da
população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua
área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento
urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;
V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços
públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às
características locais;
VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:
a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;
b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;
c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em
relação à infraestrutura urbana;
d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como
polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente;
e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou
não utilização;
f) a deterioração das áreas urbanizadas;
g) a poluição e a degradação ambiental (BRASIL, 2009, p. 10-11).
Para atingir seus objetivos, e a propriedade urbana cumprir sua função social, o
Estatuto das Cidades prevê o uso de instrumentos como o Plano Diretor, que se constitui
como “instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana” (BRASIL,
2009, Art. 40 - p.31).
O texto “A Rio+20 e a construção de cidades sustentáveis” aponta que, as cidades
exercem um importante papel de “como fazer” para buscarmos a sustentabilidade tão
almejada. São necessárias políticas públicas efetivas que integrem saneamento, disposição
de resíduos, gestão de solos, acesso às políticas sociais, construções, arborização e áreas
verdes, segurança, comunicação, mobilidade, entre outras. Atualmente, vivemos em um
mundo globalizado, podemos lançar mão de tal fato de forma benéfica, a citar o uso de
consórcios municipais para alcançar propósitos (A RIO+20, p. 2). No referido texto,
encontramos sugestões direcionadas aos governos para a construção de cidades
sustentáveis, como incentivar a preservação e recuperação da natureza, estabelecer
programas de coleta seletiva e reciclagem, mobilidade urbana, dentre outros, a citar
algumas deles:
[...]
• Promover a integração e articulação de políticas de habitação, saneamento,
mobilidade, adaptação às mudanças climáticas, proteção de mananciais,
promoção do desenvolvimento e do bem‐estar humano.
[..]
• Implementar políticas nacionais de regularização urbanística e fundiária e
urbanização de favelas e outras formas de ocupações.
[...]
• Criar políticas de acesso à água potável e proteção aos mananciais de
abastecimento de água, incorporando a saúde humana, a qualidade da água e
uso sustentável como valores centrais na cadeia de produção da água para
abastecimento.
[...]
• Incentivar a bicicleta como meio de transporte e criar condições para seu uso
144
Nonoai, Osório, Guaíba e Pelotas (OSMARIN et al, [2004?]; OLIVEIRA et al., 2006;
BECKER et al., 2010; SATTE ALAM et al., 2013).).
O objetivo deste trabalho foi contribuir à reflexão do que é necessário ser
considerado no planejamento ambiental urbano ao elaborar um plano ambiental urbano.
Esperamos com este trabalho contribuir com a reflexão acerca da necessidade do
planejamento das cidades, bem como com a qualificação do gestor público para que este
avalie as reais necessidades ambientais das cidades.
Referências Bibliográficas
_____. Estatuto da Cidade: guia para implementação pelos municípios e cidadãos. 2 ed.
Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2002. Disponível em:
<http://polis.org.br/publicacoes/estatuto-da-cidade-guia-para-implementacao-pelos-
municipios-e-cidadaos/>. Acesso em: 28 jan. 2015.
_____. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade. 2. ed., Brasília : Câmara
dos Deputados, 2009. Disponível em:
<http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2444/estatuto_cidade_2ed.pdf?seq
uence=1>. Acesso em: 28 jan. 2015.
qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica; e não perigosos,
aqueles não enquadrados nas referidas características de periculosidade (BRASIL, 2010b,
Art. 13).
Ao tempo em que o “poder público, o setor empresarial e a coletividade são
responsáveis pela efetividade das ações voltadas a assegurar a observância da Política
Nacional de Resíduos Sólidos” (Art. 25), cabe ao titular dos serviços públicos de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos a responsabilidade pela organização e prestação
direta ou indireta desses serviços (Art. 26). Porém, estes titulares não tem plena liberdade
para a gestão destes serviços, visto que o artigo nono determina que seja observada a
seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento
dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (BRASIL,
2010b).
A exigência legal desta hierarquia remete ao conceito anteriormente apresentado da
GIRS, pela preocupação dos legisladores em incorporar na Lei as premissas do
desenvolvimento sustentável, onde a não geração é preferível à redução, que é desejável
em relação à reutilização, e assim por diante.
Contribui para os municípios colocarem em prática a GIRS da forma como
preconizada na legislação o aprofundamento do entendimento da atividade como um
sistema inserido em um contexto mais amplo, o macroambiente que circunda este
“conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos”. A Figura 9
apresenta uma visão sistêmica da GIRS.
Fonte: o autor
Em seu macro e micro ambientes, a GIRS afeta e é afetada por aspectos sociais e
culturais, técnicos, econômicos, políticos e legais. Influi e é influenciada pelos seus
diversos stakeholders, assim chamados todos os atores que com ela interagem, como os
usuários dos serviços, funcionários, sindicatos e a sociedade em geral. Neste contexto,
relaciona-se com outros sistemas como de abastecimento de água, esgotos, pluviais,
paisagísticos e de mobilidade urbana. A atuação da GIRS, estabelecida pela legislação
como de âmbito municipal, tem sua atuação influenciada por outras escalas, desde o
comportamento de indivíduos e famílias, pelos hábitos de consumo e geração de resíduos,
150
como nas escalas regional, estadual, nacional e internacional. Na escala regional têm sido
comuns sindicatos de municípios na busca de soluções comuns. Como exemplo da
dependência de soluções em nível nacional temos os acordos setoriais relacionados à
logística reversa, como de lâmpadas, embalagens e medicamentos, em negociação pelo
Ministério de Meio Ambiente. O desempenho da GIRS pode ser influenciado pela adoção
de tecnologias e práticas de gestão experimentadas nos países desenvolvidos. Outro
aspecto que caracteriza a GIRS como sistema é o fator tempo, visto que as interações
anteriormente referidas se inter-relacionam de forma dinâmica.
Embora possam ser influenciadas pelas ações de educação ambiental da GIRS, a
minimização, compreendida pela não geração, redução e reúso, diz respeito a cada
indivíduo, através de mudanças nos hábitos de consumo e atitudes, e as organizações, pela
racionalização no uso de matérias-primas e processos industriais, escolha de materiais para
fabricação dos produto e embalagens, etc.
Segundo Cooper (1999), é consenso que a minimização está no topo da hierarquia
da gestão de resíduos, mas estranhamente não vem recebendo a devida atenção por parte
dos setores públicos. Segundo aquele autor, os planejamentos públicos no âmbito da GIRS
costumam aceitar e projetar o volume atual de resíduos, “esquecendo” de incluir as ações
de minimização. Já no setor industrial a minimização é a principal medida na busca da
redução dos resíduos.
Programas de governo tentam reduzir a geração de resíduos, a exemplo da Waste
Strategy 2013-2020, em implementação pela cidade de Londres, que pretende reduzir a
geração de resíduos em 1% ao ano, com base em 2010/2011, quando esta geração foi de
754 kg/habitante/ano. Para tanto vem implementando campanhas de sensibilização da
população, como a “Real Nappies”, “No Junk Mail” e “Smarter Shopping”, de desestímulo
às fraldas descartáveis, papelarias de propagandas e consumismo; além de engajar-se nos
esforços regionais, como a Semana Europeia de Redução de Resíduos (European Week of
Waste Reduction) (CITY OF LONDON, 2014). Entre as medidas passíveis de incentivo
pela GIRS estão o estimulo à compostagem doméstica e a redução no uso de fraldas
descartáveis e sacolas plásticas em compras.
O planejamento da coleta e transporte começa pelo conhecimento das
características e volumes dos resíduos, sofrendo a influência de fatores como a renda,
clima, costumes e nível educacional da população (GRIPPI, 2006).
A coleta de resíduos sólidos pode ser feita de “porta a porta” (ou domiciliar), por
postos de entrega voluntária (PEV), em postos de troca ou por catadores. O lixo pode estar
misturado ou com os materiais recicláveis (papel, vidro, metais e plásticos) separados para
uma coleta seletiva.
A coleta e transporte dos resíduos sólidos permite otimizações e ganhos de escala,
como a racionalização nas distâncias percorridas pela coleta e utilização de veículos de
maior capacidade de carga. Ao invés de cada distrito ou município transportar seu lixo até
uma “estação de transbordo” ou aterro utilizando veículos menores, podem utilizar uma
menor quantidade de veículos de maior capacidade, com redução nas distâncias totais
percorridas, resultando em ganhos econômicos e ambientais, como a redução na emissão
de poluentes decorrentes do transporte.
A Figura 10 ilustra possibilidades de carregamento para transporte com diferentes
níveis de eficiência. Enquanto na situação à esquerda há necessidade de um terceiro
veículo para executar o carregamento, na situação ao centro o carregamento é direto,
porém com perda de eficiência pela falta da compactação, obtida na situação à direita.
A cidade de Belo Horizonte é exemplo de racionalização na logística da GIRS, pois
passou a obter uma economia de 15%, sobre uma despesa mensal de R$ 150 mil, na
operação de uma nova estação de transbordo de resíduos, onde o lixo da coleta
convencional, coletado por caminhões compactadores, com capacidade de 15 m3, passou a
151
ser transbordado para carretas, com capacidade de 50 m3, racionalizando o transporte até a
disposição final em aterro. A estação exigiu investimentos de R$ 5,98 milhões e foi
concluída com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), numa parceria
daquela Prefeitura com o Governo Federal, viabilizada pelo programa “Saneamento para
Todos”, do Ministério das Cidades. O galpão é coberto e permite a descarga simultânea de
até 24 caminhões coletores compactadores em oito carretas (EVANS, 2009).
Pela via físico-química, o óleo de fritura, ácidos graxos, gordura animal e escuma
de esgotos podem ser utilizados para a produção de biodiesel pelo processo da
trasesterificação. Embora a quantidade disponível desses insumos residuais seja pequena13
comparativamente ao consumo de óleo diesel, apresenta vantagens como: reduzidos, ou até
negativos, custos de obtenção; poderem ser utilizados imediatamente; estarem
permanentemente disponíveis nos grandes centros urbanos; e, por serem poluentes, seu
consumo caracterizar-se como uma forma de tratamento sanitário (OLIVEIRA, 2004).
A via bioquímica ocorre pelo aproveitamento energético do biogás, resultado da
digestão anaeróbia da matéria orgânica existente nos esgotos, excrementos de origem
animal (bovinos, suínos, aves, etc.) e fração orgânica dos RSU, para utilização em motores
de combustão interna ou turbinas a gás.
Exemplo de iniciativa para a utilização do biogás resultante da digestão anaeróbia
de esgotos foi a parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pelo seu
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), com
a Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE), em projeto de avaliação da
viabilidade econômica da recuperação energética do biogás oriundo do processo de
tratamento dos esgotos da ETE Alegria. Antes da iniciativa o biogás gerado naquela
Estação era queimado e o lodo descarregado na baia da Guanabara. O projeto foi dividido
na avaliação do aproveitamento de três subprodutos da ETE: gordura (escuma), para a
produção de biodiesel; lodo, para geração de biogás através de biodigestor; e lodo digerido,
para geração de bio-óleo. Para a avaliação da viabilidade econômica, o biogás passou a ser
medido e qualificado, além de testado em tipos diferentes de motores, quanto ao custo
operacional e eficiência. O objetivo é avaliar os custos e benefícios do processo,
considerado o investimento inicial, a redução nos gastos com energia elétrica e os ganhos
pela exportação à rede de distribuição. A ETE Alegria recebe 1.700 litros de esgoto por
segundo, com a geração de 25 mil m3 de biogás por dia, 70% de metano, que pode ser
utilizado para gerar 2,5 MWh de energia elétrica ou substituir o gás natural como
combustível dos caminhões da CEDAE que recolhem gordura em restaurantes (LOBO,
2008).
Está prevista a utilização da digestão anaeróbia em grande escala no Paraná, onde a
cidade de Curitiba e região metropolitana formaram o consórcio Sistema de Tratamento e
Processamento de Resíduos (SIPAR), ao amparo das leis nº 11.079/04 e 11.107/05. O
projeto prevê o tratamento de 2.400 t/dia com deposição máxima de 15% em aterro
sanitário, exclusiva para aqueles materiais que não contam com tecnologia disponível para
tratamento. Dos 85% restantes, pretende-se o aproveitamento na biodigestão,
compostagem, reciclagem ou transformação em insumos energéticos. No edital da PPP há
exigência da não geração de chorume, nem descarte de efluentes líquidos, que deverão ser
reutilizados dentro da planta. Pela proposta, os 17 municípios integrantes do SIPAR farão a
coleta e encaminharão o material para a usina, onde o lixo passará por triagem mecanizada,
antes da triagem humana (USINA ..., 2009).
A recuperação energética dos resíduos pela via termoquímica pode ocorrer através
de processos como a incineração (combustão direta), gaseificação e pirólise. Na combustão
direta o calor gerado é utilizado para gerar vapor d’água, utilizado para mover turbinas a
vapor. No chamado “ciclo combinado14”, o gás resultante da combustão também é
aproveitado para mover turbinas a gás. Na gaseificação, o “gás de síntese” ou “syngas”,
pode ser utilizado em motores de combustão interna ou turbinas a gás, e o resíduo sólido
(char) resultante do processo, ser aproveitado para combustão direta. Na pirólise, além do
13
De cerca de 1% do consumo total (500 milhões de litros por ano) (OLIVEIRA, 2004).
14
Nas centrais de ciclo combinado, o ar que sai da turbina a gás, ainda aquecido, é encaminhado a uma
caldeira de recuperação, na qual o calor nele contido converte água em vapor. A combinação dos dois
ciclos praticamente dobra o rendimento na geração (PINTO JUNIOR et al., 2007)
155
gás de síntese e do char, pode-se obter também resíduo líquido, um óleo combustível, que
pode ser utilizado para acionar motores de combustão interna (TOLMASQUIM et al.,
2004). Enquanto a incineração é largamente utilizada em nível mundial 15, a gaseificação,
pirólise, e outras tecnologias com a fusão/vitrificação, possuem uso comercial mais
restrito, utilizada especialmente no Japão.
As indústrias cimenteiras estão começando a aproveitar energeticamente os RSU
para reduzir o seu custo com energia, que representam cerca de 30% dos gastos totais. É o
caso do município de Cantagalo (RJ) que destina parte do lixo urbano para os fornos da
cimenteira Lafarge. Segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), na
Europa e nos EUA os resíduos industriais e urbanos já representam 98% da demanda de
energia de algumas plantas de cimento (BARROS, 2009).
Outro exemplo é a Prefeitura de Corumbá (MS), que vai destinar os materiais de
origem vegetal, oriundos da varrição urbana e podas de árvores, para a empresa Cerâmica
Bela Vista produzir tijolos, no projeto “Tijolo Verde” (ARRUDA, 2009). Também no
Estado do Amazonas as olarias têm apostado em novas fontes de energia ambientalmente
corretas. O projeto do Polo Oleiro e Ceramista dos municípios de Iranduba e Manacapuru,
desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE),
incentiva o uso de materiais, como sobras de madeiras e resíduos do açaí, para combustão
em substituição à madeira nativa (CAROÇO..., 2009). Mas, para que a incineração dos
RSU nos exemplos citados traga reais benefícios ambientais, suas emissões precisam ser
filtradas, de modo a respeitar a Resolução CONAMA 316/2002.
A primeira Waste-to-Energy brasileira – Unidade de Reaproveitamento Energético
(URE) – está prevista para entrar em funcionamento em 2015, através de PPP entre a
prefeitura de Barueri e a empresa Foxx Inova Ambiental. A empresa Foxx investirá R$ 160
milhões na unidade, com Licença de Instalação está em andamento. A URE terá
capacidade para tratar cerca de 825 toneladas de resíduos por dia, gerando 17 MW de
energia. Situada junto à ETE Aldeinha, utilizará como água de reúso os efluentes da
própria ETE que, por sua vez, tratará os efluentes da URE (UREBARUERI, 2014).
Os rejeitos são entendidos como os “resíduos sólidos que, depois de esgotadas
todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis
e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final
ambientalmente adequada” (BRASIL, 2010b, Art. 3º-XV). A solução considerada
tecnologicamente correta para esta disposição são os aterros sanitários.
Devido aos significativos custos necessários à instalação de aterros sanitários, em
diversas regiões do País os municípios estão formando consórcios, de acordo com a lei
11.107/2005, para a utilização conjunta de aterros sanitários e outras ações de melhoria, a
exemplo de 12 municípios do sertão alagoano (PREFEITOS ..., 2009).
Os gases resultantes da decomposição anaeróbia da fração úmida dos RSU
depositados em aterros sanitários produzem o chamado gás do lixo (GDL), rico em
metano, gás de efeito estufa cuja queima, ao tempo em que representa medida mitigadora
do aquecimento global, pode ter aproveitamento energético.
A simples queima do GDL habilita os aterros sanitários a pleitear créditos de
carbono em mercados como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL),
institucionalizado pelo Protocolo de Quioto. Exemplo neste sentido vem da gaúcha Sil
Soluções Ambientais Ltda , operadora de aterro situado no município de Minas do Leão
(SIL, 2014)
Ao invés da simples queima, a captura e limpeza do GDL permite seu
aproveitamento como combustível, em substituição ao gás natural ou gás liquefeito de
15
Aproximadamente 78 milhões de toneladas de RSU remanescentes da prevenção, reuso e reciclagem
foram tratados em usinas Waste-to-Energy na Europa em 2012, gerando 31 bilhões de kWh e de
eletricidade e 78 bilhões de kwh de calor (CEWEP, [2013]).
156
petróleo (GLP), ou ainda para mover motores ou turbinas visando a geração de energia
elétrica. O Brasil possui exemplos de aproveitamento elétrico do GDL, como o da
Prefeitura Municipal de São Paulo, que assinou contratos de concessão para exploração
dos gases dos aterros sanitários Bandeirantes16 e São João, com geração de energia elétrica
suficiente para iluminar 10% das residências daquela Capital (BARROS, 2007). O aterro
Bandeirantes ostenta a condição de ser a maior utilização mundial de GDL para a produção
de energia elétrica: trata-se de exploração pela empresa Biogás Energia Ambiental S/A,
com potência líquida de 20 MW, suficiente para abastecer uma cidade de 400 mil
habitantes durante 10 anos (BIOGÁS ENERGIA AMBIENTAL S/A, 2014).
Se, por um lado, a adequação da gestão dos resíduos sólidos ainda representa um
importante desafio a ser atingido pelos municípios brasileiros, por outro, em países
desenvolvidos como a Alemanha mostram o caminho a ser trilhado. Naquele País 65% dos
RSU são reciclados ou compostados e 35% incinerados com geração de energia (CEWEP,
2012). Cabe aos municípios, como gestores do serviço, avançarem na direção da
sustentabilidade da GIRS, quiçá o mais rápido possível.
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16
O Aterro Sanitário Bandeirantes funcionou de 1976 a 2007, chegando a receber 7 mil toneladas de
resíduos/dia, produzidos na cidade de São Paulo, armazenando 30 milhões de toneladas de lixo.
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lindeiras do local. Pode ser utilizado o método racional para o dimensionamento da chuva de
projeto, com 10 anos como tempo de retorno
20 Cubagem dos resíduos – deverá ser calculado o volume, em metros cúbicos, dos resíduos
dispostos no aterro, com base na topografia e nas sondagens realizadas
21 Drenagem de líquidos lixiviados - deverá ser avaliado o sistema de drenagem horizontal
existente, e possíveis alterações necessárias, compatíveis com o projeto de recuperação a ser
executado
22 Drenagem de gases – deverá ser avaliado o atual sistema de drenagem de gás existente
(ponto a ponto), prevendo, se necessário, a instalação de novos drenos de gás e seu potencial
de reaproveitamento energético
23 Desenvolvimento do memorial descritivo das propostas para os processos de recuperação,
contendo orientações para execução dos serviços de reconformação geométrica, selagem do
lixão, drenagem das águas pluviais, drenagem dos gases, drenagem e tratamento dos
lixiviados
24 Impermeabilização superficial - deverão ser avaliadas as condições de impermeabilização e
isolamento das áreas superficiais e taludes do aterro, bem como a recomposição de camada
final do maciço do aterro com solo argiloso compactado de baixa permeabilidade nas áreas
com baixo teor de argila
Fontes: Lanza (2009); Sanep (2012); Beli et al. (2005); Perini (2014)
Nota: o número de sondagens e análises a serem realizadas deverá estar de acordo com as normas
da ABNT, podendo ocorrer em número maior do que o normatizado se os estudos necessitarem.
são variáveis e dependem de fatores como a situação atual da área, técnicas a serem
aplicadas e dos recursos financeiros disponíveis. Cabe à Prefeitura, com apoio de
assessoria técnica especializada, a elaboração do respectivo projeto, que deve definir os
custos e cronograma para implementação das referidas medidas de recuperação e
reabilitação da área.
Recomenda-se, ainda, a realização de reuniões sistemáticas, mensais, ou
extraordinárias, quando necessárias, com a participação do Coordenador do projeto e
membros da equipe da empresa contratada para a realização de serviços técnicos
especializados, com o objetivo de avaliar os resultados do trabalho, fazer ajustes,
alterações ou complementações, quando necessários. A proposta de remediação deve
adotar o princípio de que devem ser restauradas as condições ambientais necessárias para
uso futuro da área, considerando ainda que os resíduos aterrados ainda permanecerão em
processo de decomposição após o encerramento das atividades por períodos relativamente
longos, normalmente superiores a 10 anos.
Referências Bibliográficas
ANTIGO lixão será recuperado 13 anos após fechamento. Diário Grande ABC. Publicado
em 21 de julho de 2013. Disponível em:
<http://www.dgabc.com.br/Noticia/470392/antigo-lixao-sera-recuperado-13-anos-apos-
fechamento?referencia=navegacao-lateral-detalhe-noticia>. Acesso em: 12 set. 2014.
BELI, E. et al.. Recuperação da área degradada pelo lixão de Areia Branca de Espírito
Santo do Pinhal – SP. Eng. Ambiental – Espírito Santo do Pinhal, v.2, n. 1, p.135 – 148,
jan/dez 2005.
_____. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001 – Estatuto das Cidades - Diretrizes Gerais da
Política Urbana. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: 13 dez.
2013.
_____. Lei 12.305, de 12 de agosto de 2010. Política Nacional dos Resíduos Sólidos.
Disponível em: < www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2010/lei/l12305.htm>.
Acesso em: 24 nov. 2013.
MAJOER, J. D. Fauna studies and land reclamation technology: review of the history and
need for such studies. In: Animals in primary succession: the role of fauna in reclaimed
lands. London : Cambridge University Press, 1989. p. 3-33.
RECUPERAÇÃO de área do lixão de Gramacho deve demorar ao menos 15 anos. UOL Notícias. Rio
de Janeiro, 03/06/2012. Disponível em:<http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-
noticias/2012/06/03/fechado-lixao-de-gramacho-precisara-de-ao-menos-15-anos-para-ser-
recuperado.htm>. Acesso em: 12 set. 2014.
167
Introdução
O espaço rural
Legal. Já a ausência do registro da Reserva Legal no CAR pode gerar restrições de direitos,
tais como: impedir a venda, transferência, doação, desmembramento e unificação do
imóvel rural, bem como a restrição do acesso a financiamentos bancários, entre outras
sanções (BRASIL, 2012).
As condições ainda dominantes de uso e ocupação no meio rural no Brasil são
muito primitivas, onde os meios e os métodos de produção ainda continuam ostentando as
formas extrativistas características do período colonial. Desta forma, a crescente
produtividade agropecuária ostentada pelo Brasil vem sendo proporcionada, em sua maior
parte, pela expansão da fronteira agrícola (REBOUÇAS, 2001), sem haver um
planejamento para uso racional das áreas.
Em 2010, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a participação de mais de trezentos
pesquisadores e professores de diferentes instituições iniciaram ações para identificar
formas sustentáveis de viabilizar as atividades de propriedade rural, desenvolvendo o
Projeto Bioma. O intuito é pesquisar formas de utilizar árvores em APPs, área de Reserva
Legal ou mesmo em áreas de produção agrícola/pecuária nos seis biomas brasileiros. A
extensão de projetos como este em municípios de intensa atividade agrícola representa uma
maneira de por em prática os preceitos de sustentabilidade em um plano ambiental.
Um exemplo de como se aplica pode ser ilustrado na região Centro-Oeste do Brasil,
que desde 1999 vem implementando um sistema para monitoramento dos desmatamentos
em propriedades rurais utilizando o sensoriamento remoto, uma técnica de obtenção de
imagens dos objetos da superfície terrestre sem que haja um contato físico de qualquer
espécie entre o sensor e o objeto. Tal ferramenta representa um importante instrumento de
gestão ambiental nas áreas rurais por prover os órgãos gestores de informações precisas da
situação de qualquer área do continente. Desta maneira, formas de degradação ambiental
comumente praticadas nas áreas rurais poderão ser identificadas para aplicação das
medidas cabíveis. Fica evidente a limitação do método quando questionada a sua eficiência
preventiva, não sendo possível evitar o desmatamento de uma área de floresta, por
exemplo, através da observação de imagens já registradas. Neste sentido, as ações de
educação ambiental em zonas rurais representam uma estratégia adequada a ser
considerada no planejamento ambiental de uma localidade. Tais ações podem ser previstas
tanto na esfera da educação básica quanto no fomento a produtores rurais, envolvendo este
em tempo real, dificultando o estabelecimento de situações de degradação ambiental no
campo. A real situação no Brasil é que a maior parte das propriedades rurais não atendem
os requisitos ambientais legais principalmente pela dificuldade de adequação, custos e falta
de informação.
A averbação da Reserva Legal, um exemplo macro das diretrizes estabelecidas no
Código Florestal Brasileiro, implica na preservação na área de floresta nas propriedades
rurais, representando 80% da área total em propriedades situadas no bioma Amazônia,
35% no Bioma Cerrado e 20% da área em propriedades localizadas nas demais regiões do
Brasil. Apesar da área a ser destinada como reserva legal ficar a cargo do proprietário, a
aprovação da área pelo órgão ambiental ocorre quando o produtor atende os critérios de
proximidade com outras áreas de mata (reserva legal de vizinhos, por exemplo),
proximidade de áreas de conservação ou cursos d’água, objetivando a conservação
ambiental. Definida á área de Reserva Legal, a mesma deverá ser averbada (registrada) no
Cartório de Registro de Imóveis para que conste na matrícula do imóvel. A partir deste
estágio, a área não poderá ser mais alterada, mesmo que seja vendida ou dividida. Em nível
municipal, o artigo da lei poderá ser posto em prática através de ações extensionistas
envolvendo secretarias municipais e autarquias estaduais e/ou federais, devendo estas
estarem previstas no planejamento ambiental do município.
Outro ponto frágil que envolve as áreas rurais diz respeito às APP. De acordo com a
171
Lei 12.651/12 (BRASIL, 2012), as APP representam áreas com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade,
facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas. No meio rural é comum a observação de tais áreas principalmente
por muitos destes espaços se manterem inalterados ou com mínimas modificações em
comparação ao meio urbano. Não é incomum observar-se cidades crescendo em direção
aos morros ou em margens de rios. As APPs são tanto de domínio público quanto de
domínio privado, e limitam constitucionalmente o direito de propriedade, levando-se em
conta, sempre, a função ambiental da propriedade. No entanto, é desnecessária a
desapropriação da APP, pois a localização da mesma em área de propriedade privada não
inviabiliza totalmente o exercício do direito de propriedade, desde que possíveis alterações
ou supressões sejam comprovadamente de utilidade pública, interesse social do
empreendimento ou baixo impacto ambiental (art. 8º da Lei 12.651/12).
Licenciamento ambiental
Comitês de Bacia Hidrográfica; além dos órgãos dos poderes públicos federal, estaduais,
do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de
recursos hídricos e as agências de água.
A outorga de direito de uso da água é um instrumento que autoriza o produtor rural
a utilizar este recurso em atividades que alterem as condições quantitativas e qualitativas
da água como, em exemplos de maior frequência no meio rural, a irrigação de pastagens ou
lavouras, a dessedentação de animais e a construção de barragens. É com este instrumento
que o Estado exerce, efetivamente, o domínio das águas preconizado pela Constituição
Federal, regulando o compartilhamento entre os diversos usuários (RIO GRANDE DO
SUL, 2014).
Em abril de 2014, a ANA, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA) e o Instituto CNA (ICNA), assinaram um Acordo de Cooperação Técnica
(ACT) para o aprimoramento da gestão integrada de recursos hídricos. O ACT busca
desenvolver estratégias para atuação em áreas de conflito potencial envolvendo o uso da
água pela agricultura irrigada e apoiar estudos e a estruturação de informações sobre a
agricultura irrigada no Brasil. Além disso, o ACT visa a promover a participação dos
atores da agricultura irrigada no SNGRH.
O Programa Produtor de Água (ANA, 2014) preconiza a redução da erosão e do
assoreamento de mananciais no meio rural, propiciando melhor qualidade da água e o
aumento das vazões médias dos rios em bacias hidrográficas de importância estratégica
para o País. Trata-se de um programa com adesão voluntária de produtores rurais que se
proponham a adotar práticas e manejos conservacionistas em suas terras com vistas à
conservação de solo e água. Considerando que os produtores que aderem ao programa
estendem benefícios “além porteira”, atingindo a população urbana beneficiada pela
mesma bacia, advindos dessas práticas ultrapassam as fronteiras das propriedades rurais e
chegam aos demais usuários da bacia, os mesmos são remunerados pelo serviço ambiental
prestado. Os serviços ambientais com o selo “Produtor de Água”, são monitorados para
avaliação do desempenho. O monitoramento do abatimento da erosão é avaliado através da
estimativa do Percentual de Abatimento de Erosão (PAE), indicador projetado pela ANA, e
também através de modelos matemáticos que possam simular o efeito esperado das
alterações no uso do solo e recuperação de cobertura florestal nativa ao longo do tempo do
projeto.
Ao município, compete: (i) propor, anualmente, no Orçamento Geral do Município,
a consignação dos recursos necessários à execução do Programa Produtor de Água; (ii)
apoiar a elaboração dos projetos das propriedades rurais que aderirem ao programa; (iii)
planejar a readequação das estradas vicinais que cortam a bacia proposta, identificando
aquelas que forem fonte de sedimento para os mananciais, e readequá-las, através da
implementação de projeto apropriado; (iv) desenvolver, por meio da empresa de
saneamento que faz uso do manancial da bacia selecionada, campanhas de monitoramento
da quantidade e da qualidade da água bruta captada, desde o início do Programa até cinco
anos após seu término, mantendo o registro dos mesmos e disponibilizando-os quando
solicitados; (v) desenvolver programa de educação ambiental voltado ao controle da
poluição difusa rural e à proteção de mananciais; (vi) acompanhar a implantação dos
projetos em suas fases críticas, de acordo com cronograma previamente definido; (vii)
divulgar o Programa no âmbito do Município.
A situação confortável de ser um grande reservatório de água doce, que o Brasil
vivia há algum tempo, torna-se preocupante nos dias atuais pela falta de administração
deste recurso. Especialmente no meio rural, a disponibilidade hídrica define o sucesso e o
fracasso da produção de carnes, grãos e hortifrutigranjeiros. Ainda assim, a maioria da
população inserida neste setor de expressiva participação na economia do país conta com a
imprevisibilidade em ocorrência de chuvas para garantir a oferta alimentar no mercado.
173
Considerações finais
Referências Bibliográficas
MARQUES, M. I. M.. O conceito de espaço rural em questão. Terra Livre, São Paulo,
n.19, p.95-112, 2002.
SILVA, J.G. Velhos e novos mitos do rural brasileiro. Estudos Avançados, v.15, n.43, p.
37-50, 2001.
SILVA, J. F. G.; HOFFMANN, R.. O novo rural brasileiro. Revista Pesquisa FAPESP,
v.04, n.01, 2000. Disponível em: < http://revistapesquisa.fapesp.br/2000/04/01/o-novo-
rural-brasileiro>. Acesso em: 29 out. 2014.
175
15 GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Introdução
Uma vez definida a área a ser preservada, o passo seguinte é a escolha da categoria
da futura UC, fator determinante para o uso público da mesma. O Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) define 12 categorias, organizadas em dois
grupos fundamentais. Esses grupos são: (1) Unidades de Conservação de Proteção Integral
e (2) Unidades de Conservação de Uso Sustentável. As unidades de Proteção Integral têm
como objetivo fundamental a proteção da natureza, com normas restritivas que permitem
178
apenas o uso indireto dos recursos naturais. As unidades de Uso Sustentável, por sua vez,
visam conciliar a conservação ambiental com o uso sustentável dos recursos naturais.
As unidades de Proteção Integral englobam cinco categorias, a saber: (a) Estação
Ecológica, (b) Reserva Biológica, (c) Parque Nacional, Parque Estadual ou Parque Natural
Municipal, (d) Monumento Natural e (e) Refúgio de Vida Silvestre. As características
gerais de cada uma dessas categorias são apresentadas no Quadro 32.
Considerações finais
Seja qual for a motivação de uma municipalidade para a criação de uma UC, é
importante que todas as decisões sejam baseadas em critérios sólidos e objetivos. A
primeira e mais importante das decisões é o local de implantação da reserva, sendo aí que a
governança local deveria investir mais esforços. Para tanto, é fundamental a formação de
uma equipe multidisciplinar de trabalho, com profissionais reconhecidamente competentes.
179
Essa equipe pode ser constituída por consultores ambientais, sendo que no mercado
180
Referências Bibliográficas
EKEN, G. et al.. Key biodiverity areas as site conservation targets. Bioscience 54, pp.
1110-1118, 2004.
O Neolítico iniciou 12.000 anos antes de Cristo e foi a idade da pedra trabalhada.
Nela, o homem era caçador e coletor, começava a fabricar instrumentos, praticar o cultivo
e a criação de animais. Aconteciam, assim, as primeiras mudanças dos ecossistemas. Na
atualidade, através da Etnoecologia, estudo e descrição de sistemas de conhecimento de
grupos étnicos rurais indígenas sobre o mundo natural (ALTIERI, 2002), pode-se adentrar
em um universo imenso que revela conhecimentos antigos e valiosos, entre estes estão
práticas de cultivo baseadas na percepção da natureza.
Uma estratégia para a produção de alimentos muito interessante, valiosa e utilizada
até hoje é a cultura da milpa (milho), desenvolvida há aproximadamente cinco mil anos,
durante épocas pré-colombianas e usada desde o México até o Chile. Nas culturas
mesoamericanas são cultivados milhos, abóboras e feijões no mesmo espaço: o milho
fornece a haste para os feijões escalarem; os feijões fornecem o nitrogênio ao solo; a
abóbora impede a competição da vegetação não desejada e protege as raízes rasas do
milho. Nutricionalmente, estas três espécies se complementam: o milho fornece
carboidratos, o feijão a proteína e a abóbora vitaminas e carotenóides. Muitos povos
nativos incluem referências às “Tres Hermanas” (três Irmãs) em histórias de suas culturas,
considerando as três espécies como presentes sagrados, e isto faz da Milpa um dos
agroecossistemas mais ricos e complexos da agricultura latino-americana (GLIESSMAN,
2000).
Como testemunha da diversidade genética dos hortos familiares surge os dados de um
levantamento florístico dos hortos de Yucatán (México), onde foram identificadas 339
espécies, delas 87 eram medicinais, 46 melíferas, 45 comestíveis, 43 ornamentais, 41 fontes
de combustível e outras 100 de usos diversos. Também no México, Zamora e Nieto (1992)
acharam 237 espécies de plantas medicinais em 57 povoados rurais dos estados de Oaxaca,
Veracruz e Puebla, das quais são extraídos 399 produtos curativos que combatem 57 doenças.
Os saberes sobre solos, climas, vegetação, animais e ecossistemas comumente
resulta em estratégias produtivas multidimensionais (isto é, múltiplos ecossistemas com
múltiplas espécies), proporcionando assim, dentro de certos limites ecológicos e técnicos, a
autossuficiência alimentar dos agricultores em uma determinada região. O conhecimento
etnobotânico de certos campesinos no México é tão profundo que os maias do Tzetal,
P’urepecha e Yucatán conseguem identificar mais de 1.200 espécies de plantas (TOLEDO
et al., 1985). Também no México, no estado de Oaxaca, foi identificada uma ampla
biodiversidade de espécies em pequenas superfícies dos hortos familiares, conforme
mostra o Gráfico 3 (TRAVERSA, 1996).
No último meio século a agricultura conseguiu aumentos produtivos expressivos,
através da chamada “Revolução Verde”, embora esta revolução tenha trazido impactos
negativos, custos de produção crescentes e alta dependência do petróleo e de insumos
químicos. O meio ambiente está seriamente afetado pelo uso de agrotóxicos e da
mecanização e o agricultor é a parte mais vulnerável deste pacote verde chamado
agronegócio. Dentro dos impactos deste modelo moderno se acham: contaminação e
poluição dos recursos hídricos e do solo; erosão e diminuição da fertilidade do solo;
aumento das áreas desmatadas; perda da biodiversidade e desequilíbrios na cadeia biótica;
aumento de alimentos geneticamente modificados; dependências dos agricultores aos
pacotes tecnológicos das grandes corporações; e, por fim, desigualdades socioeconômicas.
182
A chamada Revolução Verde surgiu no Brasil em meados dos anos sessenta como
solução para a fome. Baseada neste discurso, grandes corporações transnacionais sediadas
nos Estados Unidos e Europa, e ligadas à produção agrícola e de produtos alimentícios,
começaram a desenvolver e a padronizar um modelo de produção a ser adotado em todo
mundo. Os agricultores brasileiros deveriam aderir aos pacotes tecnológicos (sementes
modificadas, monoculturas, maquinarias em grande escala e insumos químicos) para se
inserirem nesse novo mercado da produção alimentícia em escala global.
Mais recentemente, se apresenta um retrato preocupante dos efeitos nocivos de
pesticidas e outros compostos químicos persistentes na gordura de quase todos os
organismos vivos. Dos 51 químicos sintéticos identificados por romper mecanismos
hormonais, mais da metade resistem à decomposição natural (químicos de vida longa). A
combinação entre a baixa solubilidade em água e a alta capacidade de adsorção na matéria
orgânica leva ao acúmulo desses compostos ao longo da cadeia alimentar, especialmente
nos tecidos ricos em gorduras dos organismos vivos (TORRES, 1998).
O comércio de agrotóxicos no Brasil cresceu 190% entre os anos de 2000 e 2010.
Este crescimento se deu também pela incorporação de transgênicos, pois estes organismos
geneticamente modificados são elaborados para receber grandes quantidades de veneno.
As sementes modificadas são de propriedade privada das multinacionais, que as detém,
através da proteção por patentes. Os produtores devem pagar a empresa que as produziu,
caso contrário podem ser processados e obrigados a pagar centenas a mais em relação ao
valor da licença determinada pelas empresas. Assim, muitos agricultores perderam o
controle de sua produção, seus produtos diminuíram o valor comercial, a mão de obra
reduziu, o conflito por terras agravou-se e muitas pessoas imigraram para as cidades
(êxodo rural), ocasionando subemprego ou desemprego, que substituiu anos de saberes
tradicionais sustentáveis. Ou seja, o agronegócio chegou com várias promessas, mas, de
fato, não concretizou nenhuma delas (PAULUS et al., 2000).
todo. Este sistema representa o quadro comum que identifica estruturas, elementos, relações e
interdependências (PADILLA, 1987). A hierarquia sistêmica é uma maneira de conceituar a
complexidade física e biológica. O conceito de hierarquia é usado em Biologia para
diferenciar os níveis de organização em células, tecidos e órgãos; em Sociologia, o conceito é
usado com indivíduos, famílias, comunidades e sociedades. Em ciencias de sistemas
agroflorestais, a hierarquia se acha em: pequenas areas de cultivo, unidades de produção e
regiões geográficas (CATIE, 1986). O sistema não é concebido como isolado do ambiente,
visto que o contato com o último influencia sua condição (PADILLA, 1987).
A introdução de espécies florestais nos cultivos é base dos sistemas agroflorestais
(SAFs). Assim, consistem na combinação deliberada de plantas lenhosas perenes: árvores,
arbustos e palmeiras, com culturas ou animais domésticos, seja em forma simultânea ou
sequencial (espaço ou tempo) (HEÜVELDOP; LAGEMANN, 1981). Os sistemas
agroflorestais têm os atributos de qualquer sistema: limites, componentes, interações, relações
hierárquicas, entradas, saídas e uma dinâmica temporal (CATIE, 1986). A concepção holística
é por um novo atributo chamado retroalimentação, que implica no equilíbrio entre entradas e
saídas, conforme demonstra a Figura 11.
propriedades medicinais.
Já em relação ao componente animal dos hortos familiares, a produção de esterco
fornece nutrientes para as plantas, tais como: nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio,
vitaminas e antibióticos. Dependendo de sua origem, o esterco tem em geral 70% matéria
orgânica e 1,5% a 2,5% nitrogênio seco, conforme apresentado na Tabela 9 (ABALDE,
2000).
Considerações finais
Referências bibliográficas
CATIE. Sistemas Agroforestales: Principios y aplicaciones en los Trópicos. San José, 1986.
FRANZEL, S. et al.. Scaling up the impact of agroforestry: Lessons from three sites in
Africa and Asia. Agroforestry Systems 61: 329–344.
HARVEY, C.; HABER, W. Remnant trees and the conservation of biodiversity in Costa
Rica pastures. Agroforestry System 44: 37-68, 1999.
Ações prévias
Elaboração do Plano
Implementação do Plano