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MÁFIA, HONRA E OMERTÀ: MORTE AOS DELATORES

Vanessa Cristina Chucailo

Resumo: Considerada uma sociedade criminosa organizada e ainda pouco


estudada, a Máfia conhecida também por Cosa Nostra, assume características tanto
como um fenômeno social como histórico. O presente trabalho pretende analisar
alguns aspectos referentes a organização mafiosa, utilizando para essa discussão
autores de obras específicas dessa temática, tais como Salvatore Lupo, Giovanni
Falcone, John Dickie, entre outros. Estruturada sob uma hierarquia piramidal, a
Máfia como um todo pode ser entendida como um complexo de redes sociais,
aliados aos tradicionais laços de honra, amizade e forjada dentro das condições da
Omertà, a lei do silêncio. São valores, regras e compromissos que ligam o indivíduo
mafioso a sua família mafiosa, uma espécie de grupo de afinidade. O ponto central
dessa discussão é compreender como se dá a entrada ou a iniciação do indivíduo
1
para a Máfia, especialmente os rituais simbólicos de passagem e os juramentos
buscando inseri-la num contexto de sociedade secreta “política”, mas com
características que a aproximam das sociedades secretas de “iniciaç~o”. Como
sociedade secreta, a ideia de segredo segundo Georg Simmel é discutida no
contexto mafioso como sendo representado pela Omertà. Logo a discussão dá
espaço à outra questão fundamental: o segredo pode ou não ser revelado, e quais
as consequências da quebra desse silêncio no contexto mafioso. Para essa
discussão entram em cena alguns casos de pentiti, ou arrependidos: aqueles
indivíduos que se filiaram a Máfia, e posteriormente desobedeceram aos princípios
da lei do silêncio, delatando a organização, seus filiados, negócios, crimes, etc. Para
a Máfia, não existem ex-mafiosos, filiar-se a organização é um compromisso de
“subordinaç~o eterna”, que gira ao redor da Omert{. Caso a lei do silêncio venha a
ser desobedecida, as consequências podem ser tanto a morte do indivíduo quanto
de pessoas ligadas a ele, como uma forma de represália, chantagem ou por
vingança.

Palavras Chave: Máfia, Omertà, Pentiti.


INTRODUÇÃO

A Máfia é inegavelmente, um fenômeno intrigante e misterioso.


Essa organização hoje chamada de Cosa Nostra1, possui diferentes
nomes, em diferentes épocas e sob diferentes regimes, se mantém ativa
há muitos anos. É velha, mas não teme a modernidade (LUPO, 2002).
Assume características tanto como um fenômeno cultural, quanto
social e histórico, erguida sob uma estrutura piramidal e hierárquica, e
diretamente ligado a violência, tráfico, corrupção, ou seja,
praticamente todos os tipos de negócios ilícitos. Tudo em troca de
dinheiro, demonstração de poder e domínio territorial, tendo como
marca registrada a intimidação. Considerando que a Máfia teve seu
início na ilha da Sicilia, Itália, a origem desse fenômeno criminoso
relaciona-se com as formas de exploração de latifúndios através da
formação de milícias privadas que cobravam dos moradores e 2
latifundi|rios, “taxas” (gabella) em troca de proteção e outros
benefícios. Essas “milícias” eram organizadas de maneira rigidamente
piramidal, estabelecendo relações que iam dos proprietários aos
arrendatários e camponeses (MASTROPAOLO, 1998).

Ao estudar os espaços de atuação e práticas mafiosas, por


diversas vezes cometem-se erros ao tentar interpretá-las. Uma

1 O termo Cosa Nostra, surgiu na imprensa no ano 1960, aparecendo nas escutas do
FBI, confirmadas por Joseph Varlachi em 1964. “Ao ser questionado sobre o nome
da organização, Varlachi diz que Máfia é o termo utilizado pelas pessoas “de fora”.
E que a real forma que era chamada a organização era Cosa Nostra, sendo usado
num sentido de substantivo comum.” Como uma “coisa nossa”. (p. 208) GAVIOLLI,
Ivan Luiz. Origem, significado e utilização do termo Máfia. In: Colóquios. Vol. 1, nº
01, junho de 2008. Anais III Colóquio Nacional de História e Historiografia no Vale
do Iguaçu. União da Vitória: Colegiado de História. Não cabe a este artigo discutir
as delimitações para o termo Máfia, bem como suas particularidades ou seus
“verdadeiros” nomes. Tratarei de M|fia como sendo uma “organizaç~o secreta” e
criminal.
confusão comum é estudar a Máfia e a mentalidade mafiosa, e a Máfia
como uma organização ilegal e simples maneira de ser. É a conhecida
dupla moral, onde se pode assumir uma mentalidade mafiosa sem ser
um criminoso. Essa é uma herança da alma siciliana do tempo em que a
região da Sicilia, como um grupo étnico particular precisou defender-
se das ameaças do mundo exterior de modo a construir um jeito
próprio, resistindo aos ocupantes adaptando-se a eles ou fingindo. Foi
esse modo de ser característico dos sicilianos, que os mafiosos aplicam
em nível criminal (FALCONE; PADOVANI, 1993, p. 68).

Mais que um fenômeno de natureza violenta, a Máfia como um


todo pode ser vista como um complexo de redes sociais, em pratica
conjunta com tradicionais laços de honra, parentesco e uma “amizade”,
intimamente forjada dentro das condições da Omertà, - a lei do
silêncio. A importância de um indivíduo ao adentrar ao mundo da 3
Máfia estende-se muito além de uma brincadeira, um ritual, um
juramento de segredo, fidelidade, descrição e honra. São valores e
compromissos que ligam diretamente o mafioso a sua Família mafiosa
- espécie de grupo de afinidade, a qual o mafioso deve dirigir-se
sempre que necessário. “A ‘família’ da m|fia é o primeiro degrau na
filiação [...]” (PANTALEONE, 1962, p. 39).

A entrada, ou melhor, a iniciação para a Máfia é repleta de


momentos simbólicos e ritualísticos. Falcone (1993) compara a
admiss~o na M|fia { convers~o religiosa quando diz que “[...] n~o se
deixa nunca de ser padre. Mafioso, também n~o” (p. 81).

Não é qualquer pessoa que faz parte da organização, não basta só


querer. Precisa ter uma série de pré-requisitos que o qualificaram
como apto ou não a fazer parte desse ambiente cultural. Mais do que
assumir responsabilidades perante um código de honra ou uma lista de
regras, ser mafioso, ser um “homem de honra” significa assumir uma
nova identidade, adentrando em um universo moral diferente (DICKIE,
2006, p. 34).

Esta pesquisa busca inserir a Máfia no âmbito de uma sociedade


secreta “política”, segundo a definição de Serge Hutin (1959) onde as
sociedades secretas podem ser entendidas como agrupamentos que
procuraram escapar à atenção pública, e que podem ser divididas em
sociedades secretas “políticas” e sociedades secretas de “iniciaç~o”. A
primeira caracteriza-se por agir à margem dos órgãos oficiais ou
contra o poder existente. Hutin defende ainda, que por mais
organizada e hierarquizada sejam as sociedades secretas “políticas”,
elas têm por característica uma limitada duração. Ao analisarmos a
Máfia, é preciso entender que ela não age contra o Estado, o que se
observa é um poder paralelo. A Máfia não assume propriamente a
figura de um antiestado, mas aproveita as falhas deste, levando sempre 4
em consideração o seu comportamento, e modificando-se da maneira
que melhor lhe favorecer, a fim de se infiltrar e se estabelecer nas
estruturas econômicas e sociais. Já as sociedades secretas de
“iniciaç~o”, n~o procuram se esconder ou mascarar suas ações (exceto
em casos de perseguições), sua existência, sua história, seus locais de
reuni~o e até alguns de seus filiados. O “segredo” que permeia esse tipo
de sociedade secreta está relacionado às suas cerimônias.
“Diferenciam-se da simples sociedade “fechada”, porque conferem uma
“iniciaç~o” aos seus adeptos, possuem ritos mais ou menos
complicados e celebram uma espécie de culto.” (HUTIN, 1959, p. 9) O
sentido de iniciação neste caso assume para essas sociedades um
sentido mais amplo e complexo. Mas isso não significa que a iniciação
como ela é entendida nesse tipo de sociedade, não possa ser observada
com certo grau de diferenciação, na iniciação a organização mafiosa.
De um modo geral, podemos definir iniciação como:
um processo destinado a realizar psicologicamente
no indivíduo, a passagem de um estado do ser,
considerado inferior, para um estado superior, a
transformaç~o do “profano” em “iniciado”. Através
de uma série de atos simbólicos, de provas físicas e
morais, procura-se infundir ao indivíduo a sensação
de que o mesmo “morre”, a fim de “renascer” para
uma vida nova [...] (HUTIN, 1959, p. 9)

Já foi dito anteriormente que ao adentrar ao “mundo” da M|fia, o


indivíduo deixaria de ser um “homem vulgar”, para assumir uma nova
identidade enquanto “homem de honra”. O processo de iniciaç~o e o
ritual propriamente dito serão analisados mais adiante. O importante
aqui é saber que para ser um mafioso, pertencer e servir à Máfia o 5
indivíduo precisa atender a alguns pré-requisitos, e que nesse processo
também há um ritual de iniciação.

A obediência aparece como a primeira obrigação jurada por um


iniciado a Máfia (DICKIE, 2006). Sua honra aumentará a medida de sua
capacidade de obedecer a ordens. Dentro da organização a honra e o
prestígio de um homem são medidos pela sua capacidade de executar
um crime ordenado pela família ou por um superior (FALCONE;
PADOVANI, 1993). Além é claro, das suas outras obrigações: dizer a
verdade a outros homens de honra, manter-se sempre leal aos
interesses de sua Família. “Honra significa portanto um sentido de
valor profissional, um sistema de valores e um totem de identidade de
grupo para uma associação que se considera para além do bem e do
mal” (DICKIE, 2006, p. 39).

Outro termo relevante a ser considerado nesta pesquisa é a


noç~o de “segredo” que de certo modo, pode caracterizar as
“sociedades secretas”. Para isso, os estudos sociológicos de Georg
Simmel acerca do segredo se fazem pertinentes, e merecem uma breve
análise para melhor definição do tema a ser desenvolvido. Para
Simmel, o segredo relaciona-se a toda uma dinâmica comunicativa ou
não, que ao deparar-se com a sua oposição - a revelação -, perde o seu
sentido assumido e pode tomar a forma de uma traição significativa
para a sociedade e a cultura a qual se está integrada. A grande questão
ao analisar o “segredo” é “[...] pensar também dualisticamente as
relações sociais em geral [...]” (SIMMEL, 2009).

Ao analisar uma organização cujo caráter consiste em assumir


um código básico de honra e fidelidade, regido pela Omertà – a lei do
silêncio e do segredo chega-se a um embate quando o mafioso decide
quebrar esse código, na maioria dos casos tornando-se uma
testemunha do Estado, revelando as verdades que cabe a ele dentro da
instituição e da Família a qual pertence. Ou seja, o segredo que envolve 6
a Máfia, gira ao redor da Omertà, que, no entanto pode ou não ser
obedecida.

[...] Quem rompe a Omertà morre. Esteja numa


prisão, esteja foragido, a Máfia o encontra e se
vinga. [...] Mas não é o medo que determina o
silêncio: é mais por ser a Omertà o traço distintivo
do mafioso. Porque ser mafioso é ser diferente. Na
atitude, na roupa, na linguagem. [...] são cheios de
símbolos: aquele que fala é morto (GALLO, 1973, p.
24-25).

Os pentiti, “arrependidos” ou delatores da Máfia ao serem


iniciados sabem perfeitamente que viverão sob regras de obediência e
silêncio. Cabe a cada mafioso optar por aceitar essa “subordinaç~o
eterna”, ou abandonar toda uma densa teia de amizades e laços
familiares, incorrendo a uma pena de morte automática (DICKIE, 2006,
p. 39).
Antes de prosseguir com uma descrição mais significativa dos
rituais de iniciação mafiosa, ou o rito de passagem de um simples
delinquente para um homem de honra, além da análise de alguns casos
de quebra da Omertà, e as consequências desse ato, buscarei descrever
rapidamente o funcionamento geral da estrutura hierárquica mafiosa.
Creio que uma breve explicação sobre a forma organizacional dessa
“sociedade secreta” se faz necess|rio para melhor uma compreens~o
dos “poderes” atribuídos a cada cargo dentro da instituiç~o.

ESTRUTURA HIERÁRQUICA MAFIOSA

Sua estrutura hierárquica é claramente piramidal, tanto na


estrutura da Família mafiosa, quanto na estrutura geral que compõe a
Cosa Nostra com um todo. Vale ressaltar neste ponto, assim como
DICKIE (2006, p. 11-12) também o faz, que os laços familiares de 7
sangue nada têm haver com os laços das Famílias da Máfia.

Cada Família controla uma porção de território, funcionando


como uma célula base da organização e “[...] sobre o qual nada pode
acontecer sem o consentimento prévio do chefe” (FALCONE;
PADOVANI, 1993, p. 84). A força de uma Família é medida tanto pelo
número de componentes quanto pelas amizades de importância social
que o seu chefe conseguiu estabelecer. Quanto maiores e mais
qualificadas forem essas relações, maior será a consideração e o
respeito conquistado pelos adeptos dessa Família (PANTALEONE,
1962, p. 40).

Nessa estrutura organizacional centralizada em pirâmide de uma


Família mafiosa, observamos no topo o chefe da Família, o Capo
Famiglia, ou Don. Este responde pelas grandes decisões, resolve os
problemas internos da Família mantendo tudo sempre em ordem. O
Capo Famiglia deve estar sempre livre do contato ou vínculos com a
base da pir}mide. “O Don é superior a todos. Ele fala pouco. Raramente
age por si mesmo. Não precisa ser pessoalmente muito rico. Mas ele
pode tudo” (GALLO, 1973, p. 25).

Abaixo dele se encontram o Vice Capo, uma espécie de subchefe


da Família, responsável pela execução das decisões tomadas pelo Don.
Deverá transmitir aos subordinados a ordem, ou trabalho a ser
executado. Existe ainda o Conselheiro, ou melhor, o Consigliere. Seu
papel é o de aconselhamento do Capo. Cabe a ele legitimar as decisões
tomadas pelo superior, assegurando que elas sejam “justas”.

Abaixo deles encontramos o Capo Decina, o chefe de dezena,


espécie de gerente que comanda em geral um grupo de dez
subordinados. Cada Capo Decina controla uma atividade ilegal dentro
da Família. São responsáveis pelos resultados dentro das suas áreas.
8
Quase na base da pirâmide encontram-se os Uomini d’Onore, ou
os “homens de honra”, os soldados. Cabe a eles fazer todos os trabalhos
sujos, sem jamais envolver o nome dos seus superiores em suas ações.
Todos os mafiosos ingressam na carreira começando nesta categoria.
São esses homens que interessam nesse artigo, e que serão discutidos
adiante de forma mais abrangente.

Ao final da estrutura piramidal da Família mafiosa encontramos


os “associados”, as parcerias. Aquelas pessoas que participam
indiretamente dos benefícios. São políticos, empresários, juízes,
sindicatos, e uma série de parcerias que podem prestar algum tipo de
serviço ou manter negócios que beneficiam a Máfia, mas sem pertencer
diretamente à organização.

Além da estrutura interna da Família mafiosa tipicamente


siciliana, existe uma estrutura ainda maior e mais poderosa: a
estrutura da Cosa Nostra. Sobre esta outra escala de hierarquia temos:
[...] os chefes das várias famílias de uma província
siciliana (Catano, Agrigento, etc.) nomeiam o chefe
de toda a província, que é chamado representante
provincial. Isso vale para todas as províncias salvo
para a de Palermo, onde os chefes das diversas
famílias contíguas num território – geralmente em
número de três – são controlados por um capo
mandamento, espécie de chefe de bairro, que é um
dos membros da famosa Comissão, ou Cúpula
Provincial. Esta nomeará, por sua vez, um
representante que irá, por sua vez, fazer parte da
Comissão Regional, composta por todos os
responsáveis provinciais da Cosa Nostra: é o 9
verdadeiro governo da organização. Os homens de
honra também a chamam de Região, por referência
à unidade administrativa do Estado. A Região edita
decretos, vota leis (como aquela que proíbe os
seqüestros de pessoas na Sicília) e resolve de
pronto todos os conflitos entre províncias. É ela
também que toma as grandes decisões estratégicas.
(FALCONE; PADOVANI, 1993, p. 84 - 85).
Figura 1: Organograma da estrutura geral da Cosa Nostra. Fonte:
COSTA JR., P. J. da; PELLEGRINI, A. Criminalidade Organizada. São 10
Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 1999.

DO “HOMEM VULGAR” AO UOMO D’ONORE: A ENTRADA PARA A


MÁFIA

Pode-se sorrir a idéia de que um criminoso, de


coração duro como pedra, já tendo cometido muitos
delitos, empunhe uma imagem religiosa, jure
solenemente defender os fracos e não olhar para a
mulher dos outros. Pode-se sorrir como se fosse um
cerimonial arcaico ou uma trapaçaria. Trata-se, no
entanto, de assunto muito sério e que compromete
um indivíduo por toda a vida (FALCONE;
PADOVANI, 1993, p. 81).
Como foi dito ainda na introdução deste artigo, a entrada, ou a
iniciação para a Máfia se compara a um sacerdócio, e é repleta de
momentos simbólicos e de rituais, que podem variar dependendo do
local ou da Família a qual o mafioso será iniciado. O que precisamos
saber é que normalmente essa associação a Máfia tem seu início
sectário e conspiratório (LUPO, 2002).

De modo geral, o ritual que se segue é esse: o candidato é levado


para uma sala escura onde se encontra o representante da família e
alguns outros “homens de honra”. O representante da família anuncia
ao “novato” as regras da organizaç~o e que ele pode naquele momento
não aceitar filiar-se à organização mafiosa, e o que ele conhece como
Máfia na realidade chama-se Cosa Nostra. Essa questão do verdadeiro
nome da organização, como já foi dito no início, não será discutido.
11
O futuro uomo d’onore é lembrado de suas obrigações, as quais
ele deve se comprometer se quer pertencer à organização:

[...] não explorar a prostituição; não matar outros


homens de honra; evitar qualquer denúncia à
polícia; não ter discussões com outros homens de
honra; apresentar sempre comportamento correto
e sério; guardar silêncio absoluto sobre a Cosa
Nostra com estranhos; evitar apresentar-se sozinho
a outros homens de honra [...] (FALCONE;
PADOVANI, 1993, p. 81 - 82).

Esse código é uma espécie de analogia aos “Dez Mandamentos”


da Igreja Católica. Para os mafiosos esses regulamentos se comparam a
um código de conduta, norteando o comportamento de seus
integrantes.
Essas normas de conduta foram encontradas pela polícia italiana
de Palermo no esconderijo de um poderoso chefão da máfia,
considerado até então um dos criminosos mais procurados do país,
Salvador Lo Piccolo, preso em 05 de novembro de 2007, depois de 25
anos foragido (FOLHA ON LINE, 2007). O título do documento
“Deveres e Direitos”, s~o regras que os membros da organizaç~o
devem seguir para adquirir honra perante a sua Família, e manter a
ordem interna impondo a fidelidade e a obediência. São regras
bastante contraditórias, afinal proíbem o mafioso de jogar, mentir,
trair sua mulher, exagerar no vinho, apresentar denúncias, ou
apropriar-se dos negócios de outra Família. É a partir desse código que
os mafiosos estabelecem vínculos e demonstram sua seriedade perante
a sua Família.

Explicado todos esses “mandamentos”, o novato afirma sua 12


vontade em fazer parte do grupo, então ele é convidado pelo
representante para escolher um padrino (padrinho) entre os Uomini
d’Onore (homens de honra) presentes. Feito isso, se dá o início à
cerimônia de juramento. Nem sempre todo o cerimonial de iniciação é
feito calmamente, passo a passo. Como já foi dito, existem pequenas
variações de província para província.

O representante pergunta a cada iniciado com que mão ele atira,


ao passo que fura seu dedo indicador com uma agulha e pinga o sangue
sobre uma imagem sagrada de madeira (geralmente Nossa Senhora da
Anunciação, considerada padroeira da Cosa Nostra), que depois é
passada para as mãos do iniciado. Em seguida ateia-se fogo à imagem.
Suportando a dor o futuro mafioso jura solenemente obedecer e ser fiel
as regras da Cosa Nostra, e que caso ele falhe que a sua carne seja
queimada assim como a imagem. “No momento em que o indicador do
iniciado é picado, o representante recomenda-lhe com ênfase velar
para não ser traído, porque se entra na Cosa Nostra pelo sangue e não
se sai dela sen~o pelo sangue” (FALCONE; PADOVANI, 1993, p. 82). Ao
final da cerimônia, o representante passa a apresentar ao novo homem
de honra as hierarquias da Família.

Mais do que qualquer outra coisa relacionado a Máfia, seu ritual


de iniciação reforça o mito da antiguidade da organização e o seu
caráter confidencial, bem característico de “sociedade secreta”. Assim
como a maioria das associações ou organizações criminosas do mundo
inteiro, a Máfia adquiriu um conjunto de linguagem bem particular, dos
quais seus membros se servem para tornar sua fala quase que
incompreensível. Essa linguagem própria é carregada de significados, e
em geral é acompanhada de gestos feitos com as mãos, com a boca,
com a cabeça, os olhos, os pés. O mafioso é capaz de fazer um discurso
sem ao menos abrir a boca; ou falar durante longo tempo sem que
nenhum dos presentes consiga entender o que ele diz, exceto o 13
interlocutor a quem a mensagem é dirigida (PANTALEONE, 1962, p. 42
– 43). As palavras de um mafioso podem ser um aviso, uma ameaça ou
até mesmo anunciar a morte. “É necess|rio saber que tudo é
mensagem, tudo é extremamente carregado de significação no mundo
da Cosa Nostra, que nenhum pormenor nunca é inútil” (FALCONE;
PADOVANI, 1993, p. 43).

As simbologias do ritual de iniciação também assumem


características próprias. Segundo Salvatore Lupo (2002, p. 87) e John
Dickie (2006, p. 57), o ato do “padrinho” da cerimônia de iniciaç~o
picar o dedo indicador do aspirante a mafioso, manchando com o
sangue escorrido uma imagem sagrada, e posteriormente queimando a
imagem, simboliza a “eliminaç~o” do afiliado que pretendesse trair a
organização. Outro procedimento que indiretamente profere ameaças
contra os traidores, é o fato de em algumas cerimônias o iniciado
penetra de olhos vendados num ambiente secreto (simbologia de
renascimento), jurando com o próprio sangue e sobre o fogo.
Por fim, a utilização de uma imagem religiosa durante a iniciação
acaba por revelar certo conservadorismo religioso por parte da Cosa
Nostra, submetendo seus membros a padrões mais rígidos que a média
dos cristãos. (FALCONE; PADOVANI, 1993, p. 64). Entretanto, vale
ressaltar que a religião da Máfia não é a mesma que a da Igreja como
instituição. A religião vista pelos mafiosos, tenta criar um sentimento
de pertença, proteção e confiança além de um conjunto de regras
flexíveis que utiliza palavras buscando a crença católica e a moralidade
cristã. Ela tenta ajudar o mafioso a justificar seus atos, perante si,
perante os outros ou perante suas famílias. “Os mafiosos gostam
muitas vezes de pensar que estão a matar em nome de algo mais nobre
do que o dinheiro ou o poder, e as duas palavras a que normalmente
recorrem são ‘honra’ e ‘Deus’.” (DICKIE, 2006, p, 38). Entender o modo
de pensar da Máfia é compreender as regras da honra misturadas ao
logro calculado e uma selvajaria na mente de cada um dos seus
14
membros, expresso em termos religiosos, ou na linguagem da honra, e
sempre subordinados aos interesses da organização (DICKIE, 2006, p.
39).

OMERTÀ E PENTITI: ENTRE A HONRA E A VENDETTA

“Por que alguém se arrepende? Antes de mais nada porque


perdeu, porque pretende com outro método continuar a batalha e
perseguir a vingança” (LUPO, 2002, p. 393). Sabemos que significa a
Omertà, mas não sobre o sentido se mantê-la, ou quebrá-la. O que é
fundamental entender, é que ela não é um guia para as ações dos
mafiosos. Seria mais um modelo ideal de comportamento dentro da
Máfia. Logo, por diversas vezes tiveram mafiosos que colaboraram com
o Estado. Esses “colaboradores” foram rotulados como pentiti,
“arrependidos”. Discutia-se anteriormente, que nunca se deixa de ser
um mafioso, mesmo que se resolva quebrar a lei do silêncio. “A ênfase
da mídia e o pequeno conhecimento da história da máfia não ajudam a
compreender o fenômeno do arrependimento” (LUPO, 2002, p. 390).

A maioria dos mafiosos, que de alguma forma delataram fatos ou


pessoas, não se consideram arrependidos. Logo, se analisarmos uma
das questões sobre as regras internas da organização, nos deparamos
com a regra de que um mafioso só deve dizer aquilo que lhe cabe
dentro da instituição. Nesse contexto, a quebra da Omertà pode ser
entendida não como um arrependimento, mas interpretada como uma
forma de vendetta, uma “vingança”. Esses pentiti falam com a polícia,
dirigindo palavras geralmente, contra seus adversários, diretamente
ou através de cartas anônimas e conversas confidenciais.

O arrependido é diferente do clássico informante


anônimo, do colaborador da polícia que é utilizado 15
para as investigações, sem, entretanto, nunca
aparecer no decorrer dos processos; o arrependido
cria, portanto, novos problemas para a magistratura
e a opinião pública: é certo que, acusando os outros,
ele acusa e si mesmo. Também é certo que pede
para se protegido [...] (FALCONE; PADOVANI, 1993,
p. 52 – 53)

Sempre a quebra da Omertà será considerada uma atitude


incorreta, mesmo quando dirigida a um rival. Se um mafioso errou,
precisa pagar. Dependendo do grau da sua falta de conduta, o “traidor”
é submetido a um julgamento, e a sentença pode ser a morte do
indivíduo. “E mesmo se o veredito n~o for pena m|xima, existem
outras punições, que deixam a pessoa angustiada [...] atingem também
quem n~o tem culpa” (BUSCETTA apud BIAGI, 1987, p. 93).

Para dar continuidade, e exemplificar todas essas questões até


então discutidas, relatarei casos de alguns pentiti abordando os
seguintes pontos: quem foram, o que delataram, e quais foram as
consequências sofridas ao optarem testemunhar a favor do Estado.

JOE VALACHI, O PRIMEIRO A QUEBRAR O SILÊNCIO

Joseph Michael Valachi nasceu em 22 de setembro de 1904, em


East Harlem, Nova York. Filho de uma família de imigrantes
napolitanos muito pobres. Convivia com um pai bêbado e violento, o
que serviu de justificativa para a entrada no mundo do crime (MAAS,
1986, p, 35 – 35).

Valachi iniciou sua carreira no


mundo do crime em uma pequena
gangue conhecida como “The
Minutemen”, conhecida por realizar 16
fazer roubos e escapar em menos de um
minuto. Valachi ganhou grande
reputação dentro do bando por
conseguir realizar fugas rápidas, o que
lhe possibilitou mais tarde a ascensão
dentro da Máfia. Foi preso em 1923,
depois de uma sequência de roubo mal
sucedido. Declarou-se culpado e foi
condenado a 18 meses de prisão (MAAS,
1986, p. 38 - 43).

Foi no inicio de 1930, que Valachi foi apresentado a Cosa Nostra


ou a Máfia por intermédio de Dominick Petrilli, iniciando a carreira
mafiosa, como um soldado na Família Lucchese, juntamente com
Petrilli. Após a Guerra Castellammarese 2, Petrilli permaneceu na

2A Guerra Castellammarese ocorreu entre 1929 e 1931. Foi assim chamada porque
um dos lados era dominado por mafiosos oriundos de Castellammare del Golfo.
Família Lucchese, enquanto Valachi juntou-se a Família Genovese,
chefiada por Charles “Lucky” Luciano, entrando na equipe de Anthony
Strollo, permanecendo nessa Família até ser preso, tornar-se um
informante do governo, em 1963.

Valachi foi o primeiro homem da Máfia, a quebrar o silêncio.


Entre as suas revelações estavam a confirmação da existência de cinco
Famílias do crime em Nova York, e uma em Nova Jersey, além de várias
outras revelações sobre a organização, rituais, crimes, negócios.
Valachi tornou público os sistemas de filiação da Cosa Nostra
americana e foi o primeiro a revelar ao mundo que os mafiosos nos
Estados Unidos referiam-se à sua organização como Cosa Nostra
(LUPO, 2002, p. 328).

Valachi foi rodeado de enorme publicidade quando 17


testemunhou perante uma subcomissão do
Congresso para o crime organizado em 1963.
Robert Kennedy, nomeado ministro da Justiça pelo
seu irmão presidente, descreveu o depoimento de
Valachi como <<a maior conquista dos serviços
secretos até ao momento no combate ao crime
organizado e à extorsão nos Estados Unidos>>
(DICKIE, 2006, p. 238).

Resumiu-se numa luta pelo controle da Máfia ítalo-america, entre os partidários de


Joe Masseria e os de Salvatore Maranzano. A Família vencedora foi a de Maranzano,
que se declarou “Capo di tutti capi” (chefe de todos os chefes), o chefe supremo da
estrutura hierárquica mafiosa. Mas Maranzano foi logo assassinado por outra
Família de jovens liderados por Charles “Lucky” Luciano. Este por sua vez instituiu
uma forma de liderança mais “democr|tica”, estabelecendo uma Comiss~o que
incluía os Capi das Famílias de Nova York e mais uma de fora, e dessa forma evitar
guerras futuras (DICKIE, 2006, p. 245 – 251).
Entretanto, ao depor, Valachi não foi uma testemunha muito
convincente. Como mero soldado não participou das conversas e
negócios de alto nível dentro da organização, não sendo considerado
um elemento importante da Máfia italiana. (DICKIE, 2006, p. 238). A
principal contribuição de Valachi, talvez tenha sido fazer com que o FBI
de J. Edgar Hoover encarasse o crime organizado como um problema
sério:

Em 1959, a secção do FBI de Nova Iorque tinha 400


agentes a investigar o comunismo americano e
apenas quatro a trabalhar no crime organizado.
Valachi provocou uma mudança de prioridades: em
1963, a secção de Nova Iorque tinha já 140 pessoas
na sua equipe do crime organizado (DICKIE, 2006,
p. 337). 18
Joe temia ser morto na prisão pelos seus antigos sócios,
acreditava que seus antigos companheiros teriam ordenado sua morte
pela grave traição. (DICKIE, 2006, p. 238). Em 1966, Valachi tentou
suicídio enquanto estava preso, se enforcando com o um cabo de luz.
Mas só veio a falecer em 03 de abril de 1971, de um ataque cardíaco.

LEONARDO VITALE, UM “LOUCO” PARA SER LEVADO A SÉRIO

Leonardo Vitale nasceu em 27 de junho de 1941, em Palermo, na


Sicilia. Filho de Francesco Paolo, sobrinho de Giovan Battista Vitale,
Leonardo provinha de uma antiga tradição familiar de mafiosos, tanto
no sentido consangüíneo quanto no sentido de quadrilha. Iniciado pelo
tio, Leonardo nasceu predestinado ao mundo do crime, mas não se
sentia plenamente seguro de sua condição.
Trata-se de um rapaz cheio de fragilidade emotiva,
órfão desde pequeno, fascinado pela figura do tio ao
qual tem que demonstrar que é “homem” até para
afastar a suspeita de homossexualidade que oculta
em si mesmo. Daí o grande conformismo em relação
ao meio e ao grupo mafioso que o circunda, a
incapacidade de perceber-se como indivíduo, sobre
o que mais tarde refletir|: “n~o me importava nem
um pouco comigo, com a minha vida... ou seja, eu só
dava import}ncia aos outros”, “admirava todos os
outros” (LUPO, 2002, p. 327 – 328).

Ou seja, Vitale tornou-se mafioso principalmente para não


decepcionar seu tio, e por sentir-se pressionado a não corromper o
tradicionalismo e a honra de sua família consanguínea. Torna-se 19
mafioso, por querer pertencer a um grupo, um bando, sentir-se
gregário (LUPO, 2002, p. 328).

Leonardo Vitale foi preparado e iniciado pelo próprio tio, para


ser um homem de honra da mesma Família a qual seu tio servia a de
“Altarello di Baida”. Mas para demonstrar-se à altura e digno de ser
iniciado, Vitale passa por testes de “honra”. Discutiu-se anteriormente
que a honra de um mafioso é medida pela sua capacidade de obedecer
às ordens, logo, Vitale recebe ordens de seu tio para que primeiro
matasse um cavalo a sangue frio, e depois um ser humano, um tal de
Vicenzo Mannino, que recolhia tributos sem a permissão do chefe.
Para “avaliar” sua postura enquanto futuro “homem de honra” e digno
de pertencer ao grupo, seu tio envia dois outros “homens de honra”
para acompanhá-lo, Inzerrillo Salvatore e La Fiura Emanuele. Vitale
abate Mannino com um tiro de revolver, quando este saia da missa.
Realizou tudo isso sem saber ao certo o porquê, tendo apenas como
justificativa que era isso que se esperava dele (BIAGI, 1987; FALCONE,
2003; LUPO, 2002).

Após esse feito, Vitale provou ser digno de ser um “homem de


honra” e foi iniciado { M|fia, segundo o ritual j| descrito
anteriormente, sofrendo claro, algumas pequenas variações. Na
cerimônia de iniciação estavam presentes Inzerrillo Salvatore, seu tio
Giovan Battista Vitale, e alguns outros homens de honra. Picaram-lhe o
dedo com um espinho de laranja amarga, e deixaram escorrer seu
sangue em uma imagem sagrada, queimando-a, enquanto fazia o
juramento de fidelidade a organização. Em seguida ele foi convidado
dar o beijo na boca 3 em todos os presentes, tornando-se assim
oficialmente parte da Família de Altarello di Baida (FALCONE, 2003).

Após um período de crimes, extorsões, e novos assassinatos, 20


Vitale entra em uma crise, segundo ele mesmo, espiritual, mas que foi
interpretado como início de loucura. Em 29 de março de 1973,
caminha até uma delegacia e se declara mafioso confessando inúmeros
atos ilícitos e criminosos. Contou aos policiais como a Máfia era
estruturada, revelando a existência de uma Comissão organizada. Seus
depoimentos levaram a prisão de centenas de mafiosos. Entretanto, as

3 O beijo dentro da organização não assume um sentido sexual, e sim uma


demonstração de reconhecimento do outro enquanto mafioso, uma forma de
saudação, como se fosse uma senha, só que mais pessoal. Não é uma regra, mas é
um costume bastante tradicional e carregado de significados. “Essa é a M|fia real.
Durante anos os tiras e os repórteres de jornais exaltaram a cerimônia de
juramento com a agulha, a foto sagrada em chamas e o cara fazendo perguntas.
Todos eles gostam de saber muito. A soma de tudo isso é zero. O beijo é diferente.
Ele provém da força e do propósito. Se a gente beija, é porque faz parte da turma. A
gente vê um cara no bar e o beija. A gente se encontra num lugar qualquer e se
beija. Como homem. Não importa quem está olhando. Supõe-se que haja gente
olhando.” BRESLIN, J. O Traidor: a verdadeira história da m|fia americana. S~o
Paulo: Larousse do Brasil, 2008. p. 9 – 11.
suas confissões não foram suficientes, além de largamente ignoradas,
tendo resultados desanimadores: a maioria das pessoas acusadas
foram absolvidas. E por estar sofrendo de uma insanidade mental,
Vitale acabou não sendo levado tão a sério, sendo o mais afetado por
seus atos e revelações, e quase o único a ser condenado (FALCONI,
2003).

Durante o período de sua prisão, completamente atormentado,


Vitale passou a maior parte do tempo internado em um manicômio
onde começou a se auto mutilar, cobrindo-se de excrementos segundo
ele, para purga-se dos pecados, além de manter outros hábitos bem
estranhos (DICKIE, 2006; LUPO, 2002).

Mesmo sendo rotulado como “louco” ao ser afetado por uma


doença mental, Vitale não perdeu sua capacidade de lembrar e narrar 21
fatos conhecidos a ele. Mas a confiabilidade de suas declarações só veio
muito posteriormente, principalmente com as declarações de
Tommaso Buscetta (FALCONE, 2003).

Em junho de 1984, Leonardo foi considerado são, e liberado. Mas


ao sair do manicômio está completamente fora da lógica mafiosa, e é
nessas condições que ele acaba como alvo da Máfia. Em 02 de
dezembro do mesmo ano, foi morto a tiros em uma calçada quando
saía de uma igreja após assistir a uma missa com sua mãe e irmã.
Ninguém foi condenado pelo assassinato, mas restam pouquíssimas
dúvidas de que ele teria sido assassinado por consequência de seus
atos, a pedido da Máfia (BIAGI, 1987; LUPO, 2002).

Sobre os acontecimentos ocorridos com Vitale, de modo geral,


Giovanni Falcone (2003) revela que:
A differenza della Giustizia statuale, la Máfia há
percepito l’importanza delle propalazioni di Vitale
Leonardo e, nem momento ritenuto più opportuno,
lo há inesorabilmente punito per avere violato la
legge dell’omert{. È augurabile che, almeno dopo
morto, Vitale trovi il credito che meritava e che
merita. 4

O caso de Leonardo Vitale é um exemplo clássico e prático da


aplicação do código de conduta de um mafioso, mas especialmente, a
lógica e a função da Omertà. Aquele que não segue as regras e não é
capaz de respeitar a lei do silêncio, deve pagar com a vida.

TOMMASO BUSCETTA
22
Nascido em 13 de julho de 1928 nos subúrbios a leste de
Palermo, na Sicília, Tommaso Buscetta, caçula de uma família de
dezessete filhos, não pode se queixar de não ter outras oportunidades
na vida a não ser optar pelo crime. Seu pai possuía uma oficina de
espelhos decorativos, que empregava 15 pessoas (DICKIE, 2006, p.
296).

Foi na adolescência que começou contrabandear produtos, e


efetuar pequenos roubos. Juntou-se a um grupo de aproximadamente

4 “Ao contr|rio da Justiça Estadual, a Máfia tem percebido a importância das


revelações de Leonardo Vitale, e no momento considerado mais adequado, é
inexoravelmente punido por violar a lei da Omertà. Espera-se que, pelo menos
após a morte, Vitale encontre os créditos que merecia e que merece.” Sobre essa
ultima frase, Falcone refere-se as declarações feitas por Vitale, e que foram
ignoradas, ou pouco valorizadas pela Justiça, e só mais tarde reconhecidas e
confirmadas nos depoimentos de outros pentiti. Falcone atribui um
reconhecimento e uma valorização ao testemunho de Leonardo Vitale.
50 jovens rebeldes que foram a Nápoles combater os nazis. Após
alguns meses, retorna a Sicília, com uma forte reputação. Buscetta
começa então a ser abordado por alguns homens que lhe pareciam
mistérios e cautelosos, sempre a vigiá-lo, a avaliá-lo. Um em especial,
Giovanni Andronico, polidor de móveis, sempre sondava as atitudes de
Buscetta para com a polícia e os juízes, a moral da família e a lealdade
aos amigos. Foi dele que partiu a proposta de filiação de Tommaso
Buscetta (DICKIE, 2006, p. 296).

Foi então que em 1945, Buscetta foi iniciado na Família de Porta


Nuova, um grupo relativamente pequeno, com aproximadamente 25
homens de honra, mas extremamente seletiva. Antes de ser iniciado, o
nome de Buscetta foi enviado para todas as Famílias de Palermo, para
eu estas pudessem investigar a conduta de Buscetta, bem como
garantir que ninguém de sua família (consanguínea), nem ele próprio 23
tinha ligações com a polícia. Concluídas as investigações, o próprio
Andronico foi quem picou o dedo de Buscetta, e realizou a cerimônia
de iniciação (DICKIE, 2006, p. 297).

John Dickie (2006, p. 320), discute que existem essencialmente


dois tipos de carreira dentro da Máfia: a da política e a dos negócios. A
primeira diz respeito a política interna e a estrutura da organização,
onde um homem de honra pode ascender de cargo internamente,
passando de soldado para capo decina, consigliere ou até capo famiglia.
A segunda refere-se à ideia de que esse mesmo homem de honra pode
optar por desenvolver seus interesses comerciais, claro, fora do
território de sua Família, percorrendo o mundo atrás das inúmeras
oportunidades de negócios que a rede criminosa da Máfia proporciona.
Buscetta é exatamente o tipo de mafioso que optou pela segunda
carreira. Apesar de a imprensa o retratar como sendo um chefe, e de
inspirar um enorme respeito dentro da Máfia, Buscetta nunca subiu
acima do posto de soldado.
Dedicou-se aos negócios de contrabando, principalmente de
tabaco, tendo realizado inúmeras viagens durante anos ao longo de sua
carreira mafiosa. Foi considerado o “boss dei due mondi” (chefe dos
dois mundos), “[...] pelo seu constante movimento entre a Europa, a
América do Sul e a América do Norte, procurado pela polícia de meio
mundo como narcotraficante de alto nível [...]” (LUPO, 2002, p. 373), o
que para ele, não passava de um rótulo vendido pela imprensa.

Quando interrogado sobre o seu envolvimento com contrabando


de drogas, Buscetta negou até a sua morte qualquer tipo de
envolvimento (LUPO, 2002). “Contradizendo-se, Buscetta afirmava
também: ‘N~o h| ninguém na Cosa Nostra que n~o esteja ligado ao
tr|fico de droga’.” (DICKIE, 2006, p. 313). Claro que todas as suas
afirmações sobre esse caso, se tratam de mentiras estratégicas e
intencionais, que demonstram a habilidade dos homens de honra 24
sicilianos em falar por mensagens subliminares. Qualquer pessoa que
soubesse decodificar sua mensagem saberia que Buscetta estava não
somente mentindo, como também, não estava disposto a revelar sobre
uma coisa evidentemente importante.

Buscetta teve várias aventuras amorosas. Casou-se três vezes,


teve seis filhos. Sua conduta moral não era considerada a mais
adequada para os padrões mafiosos, mas Buscetta não se incomodava
com isso.

Em julho de 1984, Buscetta foi preso no Brasil. No dia 7 de julho


de 1984, foi retirado do presídio de São Paulo por policiais italianos,
para seguir, primeiro para o Rio de Janeiro, e depois para Roma, onde
seria adequadamente interrogado pelo famoso juiz Giovanni Falcone,
conhecido pelo seu trabalho no combate a Máfia. Durante esse trajeto,
Buscetta tenta suicidar-se ingerindo estricnina. Mas foi rapidamente
levado para um hospital, devidamente tratado, e acaba salvo,
desiludido com a Máfia, resolve tornar-se um colaborador nas
investigações contra o crime organizado (BIAGI, 1987).

Ao ser interrogado por Falcone, Tommaso Buscetta fornece, não


somente informações sobre a Máfia, mas sim um método de
investigação. Para Falcone (1993, p. 36), algumas revelações de outros
pentiti foram mais importantes que as de Buscetta, pelo conteúdo. Mas
só ele, forneceu um método, uma visão interna, global, larga e
extensiva do fenômeno mafioso. O maior problema enfrentado pelas
autoridades ao interrogar mafiosos, era saber interpretar o que eles
diziam. Buscetta forneceu essa possibilidade de interpretação essencial
de uma linguagem especifica mafiosa. “É difícil hoje perceber o quanto
não se sabia acerca da máfia antes de Tommaso Buscetta decidir falar
com Giovanni Falcone” (DICKIE, 2006, p. 19).
25
Buscetta forneceu várias informações a polícia, em troca de
proteção. Foi ele que pela primeira vez falou código de honra da Máfia.
Revelou sobre o nome dado à organização pelos seus membros: Cosa
Nostra. Até então, esse nome não havia sido levado a sério, presumindo
que só se aplicava a Máfia americana. E que a Máfia siciliana e Máfia
americana possuíam estruturas semelhantes, mas que eram
organizações independentes. Falou da estrutura hierárquica mafiosa,
revelando detalhes sobre a formação e a função das Comissões
(conselhos provinciais, interprovinciais). A principal função de
organizar uma Comissão seria tomar decisões importantes sobre os
homens de honra e seus negócios, bem como conciliar domínio
territorial e negócios ilícitos. Buscetta relata que a Comissão foi criada
para ser um instrumento de paz e moderação interna, uma espécie de
parlamento de criminosos. Mas acaba como instrumento de luta
interna da Cosa Nostra (DICKIE, 2006). Buscou explicar exatamente o
que os homens de honra pensavam e como agiam (FALCONE;
PADOVANI, 1993). “Buscetta denuncia os crimes dos inimigos e
esconde os dos amigos além dos seus, e, nesse sentido, é verdade que
além do “sentir mafioso” ele conserva consigo também o “agir”
mafioso” (LUPO, 2002, p. 393).

As inúmeras revelações de Buscetta renderam ao juízes Giovanni


Falcone e Paolo Borsellino, 8607 páginas de provas, para o famoso
maxiprocesso, ou megajulgamento. Iniciou-se a 10 de fevereiro de
1986, em um tribunal subterrâneo, a prova de bombas, construído
especialmente para a ocasi~o. “A sala principal era verde e octogonal,
com trinta celas em redor, destinadas aos 208 arguidos mais
perigosos.” (DICKIE, 2006 , p. 411). Depois de 22 meses, a 16 de
dezembro de 1987, dos 474 acusados, 342 mafiosos foram declarados
culpados, condenando a um total de 2665 anos de prisão (DICKIE,
2006). Para Falcone, o megajulgamento representava um bom ponto
de partida na luta contra a Máfia. 26
Mesmo sendo um delator, Buscetta foi ouvido durante o
megajulgamento em absoluto silêncio, uma vez que os cárceres
estavam cheios de mafiosos. Poucos saberiam o real significado
daquele silêncio, que revelava uma extravagante racionalidade das
normas que regem a Cosa Nostra.

Por um lado, Buscetta gozava de grande prestígio


pessoal na organização; e, por outro, embora fosse
arrependido e, portanto, “infame”, tinha sido vítima
de um erro inadmissível: tinham matado dois filhos
seus, que nem se quer eram homens de honra. O
silêncio que rodeou suas declarações dava razão a
Buscetta, quando insistia em que era, ele, o
verdadeiro homem de honra, enquanto os
corleoneses eram a escória da Cosa Nostra.
(FALCONE; PADOVANI, 1993, p. 51).
O destino de Buscetta após todas as colaborações possíveis e
cabíveis a ele foi viver sob um programa de proteção a testemunhas o
resto de sua vida. Ele tinha consciência de que estava condenado a
morte, por ter quebrado a Omertà. Mas em momento algum, durante
esse processo, considerou-se um pentiti, um arrependido.

Pretendo esclarecer, antes de mais nada, que não


sou um espião e aquilo que digo não é ditado pelo
fato de que espero valer-me dos favores da justiça.
E também não sou um arrependido: as minhas
revelações não nascem de um interesse calculado.
Fui mafioso e cometi erros, estou disposto a pagar
integralmente as minhas dívidas, sem pretender 27
descontos nem abonos. Quero contar o que é de
meu conhecimento sobre aquele câncer que é a
máfia, a fim de que as novas gerações possam viver
de modo digno e mais humano (BUSCETTA apud
BIAGI, 1987, p. 188-189).

A Máfia, não conseguiu chegar até Buscetta diretamente. Mas o


seu caso revela outro exemplo típico de vingança mafiosa decorrente
da quebra da lei do silêncio, a morte de familiares, como forma de
represália. Buscetta, além de dois filhos, perdeu um irmão, um
sobrinho, um genro e um cunhado. Todos sem qualquer envolvimento
com a Máfia.

Benedetto foi o primeiro filho homem de Buscetta com


Melchiorra, sua primeira esposa. Nasceu doentio, sofreu muito, e era o
preferido de Buscetta. O outro era Antonio, um rapaz muito bom, mas
que tinha ciúmes por causa da preferência que o pai demonstrava pelo
irmão. Nunca pediu nada ao pai, acabou indo servir o Exército nos
Estados Unidos. Os dois irmãos moravam próximos, certo dia saíram
de casa juntos, e desapareceram (BIAGI, 1987, p. 43).

Pouco tempo depois, foi a vez de seu genro, Giuseppe Genova e


dois primos dele, “pagarem” por Buscetta. Casado com a filha mais
velha de Buscetta, Felicia, Giuseppe era proprietário de um pequeno
restaurante. Certa noite, dois rapazes entram no local e fazem um
pedido a Felícia, que está atrás no caixa. Giuseppe estava cuidando do
forno, e dois primos seus Orazio e Antonio D’Amico, ajudavam como
garçons. Passado quinze minutos, o pedido está pronto, os supostos
“clientes” pedem a conta, e pedem para falar com o propriet|rio,
possivelmente para cumprimentá-lo. Felícia mostra-lhes o caminho. Os
dois desconhecidas sacam as pistolas. O primeiro a morre foi Antonio,
o irmão Orazio, e Giuseppe tentam fugir por uma porta que dava
acesso a rua, mas a maçaneta estava trancada pelo outro lado. Ambos 28
morrem ali, de encontro a saída que foi possível abrir. Os dois
assassinos saem, sem tocar em Felícia, apenas dizendo que “n~o
matavam as mulheres” (BIAGI, 1987, p. 184).

Em Palermo, outras duas vítimas pagaram pelas escolhas de


Buscetta. Seu irmão Vicenzo Buscetta, e o sobrinho Benedetto,
chamado de Benny. Vicenzo era vidraceiro. Naquele dia, que ficou
conhecido como “a chacina de Santo Estev~o”, entraram em sua f|brica
dois clientes, querendo comprar um espelho de banheiro. Vicenzo com
quase setenta anos, apanha uma caneta para tirar o recibo e nem
sequer teve tempo de escrever, tiros explodem no seu rosto e peito.
Benny ouve os tiros e corre em direção ao escritório, no caminho
encontra com os dois “clientes” que lhe matam com as ultimas balas
(BIAGI, 1987, p. 184-185).

A ultima vítima da vingança contra Buscetta foi o cunhado, Pietro


Busetta, comerciante de eletrodomésticos e casado Serafina, irmã de
Buscetta. As vésperas da Festa de Nossa Senhora das Dores, em
Bagheria, na Itália, Pietro e a esposa, estão voltando para casa, pelas
escuras ruas da periferia da cidade. O assassino, desce de um Fiat 500,
e aguarda na sombra. Pietro caminha poucos passos a frente de
Serafina, e a meio metro do alvo, o assassino não hesita, apontando
para a altura de um homem, e efetua disparos rápidos. Serafina grita,
enquanto o corpo de Pietro fica estendido na calçada. O assassino se
afasta tranquilamente até o automóvel, que o aguarda com o motor
ligado. Serafina não conseguiu se consolar pela perda do marido,
culpando Buscetta de arruinar sua vida (BIAGI, 1987, p. 185-186).

Buscetta viveu seus últimos anos nos Estados Unidos. Morreu de


câncer aos 71 anos, em 4 de abril de 2000 (DICKIE, 2006, p. 461).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
29
Mesmo com tantos outros delatores além dos que foram citados
neste trabalho, a Máfia ainda hoje se constitui como um modelo bem
sucedido no mercado das organizações criminosas. Conta com a
participação de vários membros do poder público tendo como
finalidade básica o enriquecimento rápido, nem que para isso seja
necessário utilizar de meios ilícitos. Esse sucesso tão grande da
organização, talvez se deva a sua estrutura hierárquica precisamente
organizada, com regras precisas de comportamento e normas de
conduta, mas que necessariamente não precisam ser obedecidas.

Através dessa pesquisa foi possível observar que as regras


existem, e precisam ser levadas a sério. Entretanto, isso não significa
dizer que elas são sempre cumpridas. O exemplo e, objetivo desse
trabalho, foi apresentar uma discussão sobre a regra da Omertà e o
qual o seu significado para o homem de honra. Dentro a Máfia, ela se
constitui uma lei, a lei do silêncio. Mas como foi possível observar no
decorrer do texto, ela nem sempre foi obedecida. Bem como, optar por
desobedecê-la implica numa série de consequências desagradáveis
para os pentiti, ou os arrependidos, aqueles que desobedecem a lei do
silêncio, também chamados de delatores.

As consequências desse ato, como foram exemplificadas no texto,


podem ser tanto a morte do delator, como foi o caso do Leonardo
Vitale, quanto a morte de familiares ou pessoas próximas quando
quem se quer atingir, está fora de alcance. Neste caso, o exemplo
analisado foi o de Tommaso Buscetta.

Sobre a discussão a cerca do segredo, pode-se concluir que, o


grande segredo que a Máfia sempre tentou esconder, não diz respeito
apenas aos seus ritos de iniciação, a sua estrutura hierárquica, os seus
membros, mas o segredo que revela a sua própria existência. Esse foi o
maior segredo da Máfia, a revelação da sua existência, e de uma forma
definitiva. Uma existência que ao longo da História, foi negada por 30
muitas pessoas (DICKIE, 2006, p. 462).

A tentativa de esconder-se ou até negar a sua existência,


consequentemente, reforçou outro lado da organização, a sua
capacidade de misturar-se a sociedade, nem que para isso seja
necessário recorrer a violência e a intimidação. A Máfia, sempre
aparece de alguma forma nova, adaptando-se aos anos de um jeito
lógico, racional, funcional e implacável. “A Cosa Nostra é um mundo em
si que é preciso compreender como um todo [...]” (FALCONE;
PADOVANI, 1993, p. 51). Ela de fato, existe e possui uma história.

É uma organização diferente do Estado, mas quer queira, quer


não, deve viver em meio a estruturas (supostamente) mais fortes que a
sua. Trabalha não pra o bem comum, mas para uma sociedade
emergencial que desenvolve suas atividades em prol dos seus próprios
membros, solidificando seus negócios e penetrando cada vez mais nas
entranhas da sociedade.
REFERÊNCIAS

BIAGI, E. O Chefão está Só. Buscetta – a verdadeira história de um


verdadeiro padrinho. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
DICKIE, J. Cosa Nostra: história da máfia siciliana. Lisboa: Edições 70,
2006.
FALCONE, G. L'importanza di Leonardo Vitale. Antimafia Duemila,
junho, 2003.
FALCONE, G., PADOVANI, M. Cosa Nostra: O juiz e os homens de honra.
São Paulo: Bertrand Brasil, 1993.
GALLO, M. Máfia S. A. Rio de Janeiro: Cedibra, 1973.
HUTIN, S. Sociedades Secretas. São Paulo: Difusão Européia, 1959.
LUPO, L. História da Máfia: das origens aos nossos dias. São Paulo:
UNESP, 2002.
MAAS, P. Valachi the Papers. New York: Pocket Books, 1986. (p. 16 – 31
43)
MASTROPAOLO, A. Máfia. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO,
G. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
1998. vol. 1. p. 726 – 727.
PANTALEONE, M. Mafia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1962.
SIMMEL, G. A sociologia do segredo e das sociedades secretas. Trad.
MALDONADO, S. C. In: Revista de Ciências Humanas. Florianópolis:
EDUFSC, Volume 43, Número 1, p. 219-242, Abril de 2009.
Endereço eletrônico:
FOLHA ON LINE, da BBC Brasil. Policia descobre dez mandamentos
da máfia siciliana. Data de publicação 08/11/2007. Acesso em
25/10/2009. Registrado no endereço eletrônico:
http://www1.folha.uol.com.br/folho/bbc/ult272u343852.shtml

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