Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FichaAvaliacao4 - U1 Padrão
FichaAvaliacao4 - U1 Padrão
4 — Ficha de avaliação
GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.
A
Leia com atenção o poema «Padrão», da obra Mensagem, de Fernando Pessoa.
Padrão
(1) Diogo Cão: navegador português do século XV. Enviado por D. João II de Portugal, realizou duas
viagens de descobrimento da costa sudoeste africana, entre 1482 e 1486.
ATO PRIMEIRO
Cena 2
TELMO
(chegando ao pé de Madalena, que o não sentiu entrar)
— A minha senhora está a ler?...
MADALENA
5 (despertando)
— Ah! Sois vós, Telmo. Não, já não leio: há pouca luz de dia já; confundia-me a
vista. E é um bonito livro este! O teu valido, aquele nosso livro, Telmo.
TELMO
(deitando-lhe os olhos)
10 — Oh! Oh! Livro para damas — e para cavaleiros... E para todos: um livro que
serve para todos; como não há outro, tirante o respeito devido ao da palavra de
Deus! Mas esse não tenho eu a consolação de ler, que não sei latim como meu
senhor… Quero dizer como o Senhor Manuel de Sousa Coutinho — que lá isso!
Acabado escolar é ele. E assim foi o seu pai antes dele, que muito bem o
15 conheci: grande homem! Muitas letras, e de muito galante prática, e não
apenas as outras partes de cavaleiro: uma gravidade! Já não há daquela gente.
Mas, minha senhora, isto de a palavra de Deus estar assim noutra língua, numa
língua que a gente… que toda a gente não entende… confesso-vos que aquele
mercador inglês da Rua Nova, que aqui vem às vezes, tem-me dito suas coisas
20 que me quadram... E Deus me perdoe, que eu creio que o homem é herege
desta seita nova da Alemanha ou de Inglaterra. Será?
MADALENA
— Olhai, Telmo; eu não vos quero dar conselhos: bem sabeis que desde o
tempo que… que…
25 TELMO
— Que já lá vai, que era outro tempo.
MADALENA
— Pois sim... (suspira) Eu era uma criança; pouco maior era que Maria.
TELMO
30 — Não, a senhora D. Maria já é mais alta.
MADALENA
4. Justifique o facto de Telmo corrigir o seu próprio discurso quando afirma «Quero
dizer como o Senhor Manuel de Sousa Coutinho […]» (l. 13).
5. Apelando ao seu conhecimento sobre a obra, demonstre a importância das
informações subentendidas presentes nos discursos das duas personagens.
GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
Leia com atenção o texto seguinte.
Manhãs de nevoeiro
17 de setembro de 2014
É na exteriorização da nossa frágil condição mundana, em dias caiados a
desesperança e amanhãs povoados pelo pessimismo, que se olha para além em
busca de algo de salvífico, que restaure a justiça ausente. Um além e,
5 sobretudo, um aquém providencial que nos liberte das masmorras da
irrelevância, da pobreza e da decadência. Folheando mais um notável livro
— A nova teoria do sebastianismo — do ensaísta Miguel Real, verificamos que
este volta a confrontar-nos com os nossos mais profundos complexos e receios
enquanto nação. Um face a face com aquilo a que Eduardo Lourenço apelidou,
10 em O labirinto da saudade, o «máximo de existência irrealista» de Portugal —
o sebastianismo. Ou o eterno retorno, a perene ânsia por uma entidade exterior
à realidade vigente que nos reconduza pelo caminho da prosperidade e da
glória perdidas.
Este sebastianismo é descendente direto do desespero latente e da plena
15 consciência da incapacidade de mudar um destino incompreensivelmente
adverso, alimentando uma ânsia de um retorno improvável. Vale a pena citar
Miguel Real neste ponto. Hoje, ser sebastianista não é o permanente aguardar
pelo regresso de D. Sebastião numa qualquer manhã de nevoeiro «como o
Messias regenerador da sociedade portuguesa». Agora, o sebastianismo
20 revela--se na «plena consciência de que em Portugal só se atinge um patamar
próspero de vida se algo (uma instituição) ou alguém dotado de elemento
GRUPO III
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Fernando Pessoa
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em
branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs-se-lhe/). Qualquer número
conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —
há que atender ao seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do
texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
GRUPO I
A
6. Um aforismo é uma frase curta, de significado muito profundo, apresentando uma
espécie de verdade universal e intemporal. No aforismo que inicia o poema,
encontramos a antítese «grande»/«pequeno». Este recurso enfatiza a ideia de que,
diante das grandes realizações, que exigem um esforço tremendo, a natureza
humana é sempre frágil, «pequena». Esta desproporção acentua o carácter épico
das ações praticadas pelo homem, valorizando-as.
7. No poema «Padrão», a referência ao «por-fazer» (v. 8), que depende de Deus,
remete para uma conceção providencialista da História, segundo a qual todos os
acontecimentos são explicados por aquilo que a providência divina determinou.
Além disso, o poema apresenta uma interpretação dos Descobrimentos em que o
carácter religioso e a procura da transcendência explicam a ação levada a cabo
pelos portugueses.
8. Na última estrofe, o sujeito poético explicita o que simboliza a cruz do padrão,
fazendo referência à «febre de navegar». Esta febre ou doença resulta do desejo
de querer mais e procurar, desejo que, segundo a filosofia de Mensagem, distingue
a natureza humana e permite que o homem se distancie da «besta». A cura para
esta doença da insatisfação, da procura ou do sonho é o repouso em Deus, depois
da morte.
B
9. Telmo procede à correção do seu discurso porque, apesar de afirmar que Manuel
de Sousa é um «[a]cabado escolar» (l. 14), não o considera digno de ocupar o
lugar do seu antigo amo. Com esta correção, Telmo revela-se fiel à memória de D.
João de Portugal.
10. No excerto apresentado, as reticências e os apartes indicam a existência de
informações subentendidas, que correspondem a um conhecimento partilhado
ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana 6
pelas duas personagens. Assim, quando Madalena se refere a um tempo passado
— «o tempo que… que…» (ll. 23-24) —, a frase incompleta revela a importância
que esse tempo tem na ação, por remeter para o seu primeiro casamento, razão
dos grandes terrores que a atormentam no presente. Do mesmo modo, o aparte
de Telmo, ao considerar Maria uma «pobre menina», contém uma alusão à
questão central da tragédia familiar de Frei Luís de Sousa: a possibilidade de Maria
ser fruto do pecado.
GRUPO II
1. (C).
2. (A).
3. (C).
4. (C).
5. (C).
6. (C).
7. (A).
8. Coesão interfrásica.
9. 9.1 Oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
9.2 Complemento oblíquo.
GRUPO III
Construção de um texto de opinião que tenha em conta o tema, a estrutura e os
limites propostos. Devem respeitar-se as principais características do género textual
em causa:
• explicitação do ponto de vista;
• clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos
respetivos exemplos;
• discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).