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Subunidade 1.

4 — Ficha de avaliação

NOME: N.º: TURMA: DATA: ________

GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia com atenção o poema «Padrão», da obra Mensagem, de Fernando Pessoa.

Padrão

O esforço é grande e o homem é pequeno.


Eu, Diogo Cão1, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.

5 A alma é divina e a obra é imperfeita.


Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano


10 Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma


E faz a febre em mim de navegar
15 Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
Fernando Pessoa, Mensagem, 10.ª ed.,
Lisboa, Ática, 1972.

(1) Diogo Cão: navegador português do século XV. Enviado por D. João II de Portugal, realizou duas
viagens de descobrimento da costa sudoeste africana, entre 1482 e 1486.

1. Interprete o aforismo que constitui o primeiro verso do poema.


2. Demonstre a existência de uma conceção providencialista da História no poema.
3. Interprete o sentido da expressão «febre […] de navegar» (v. 14).

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B
Leio excerto de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett.

ATO PRIMEIRO
Cena 2

TELMO
(chegando ao pé de Madalena, que o não sentiu entrar)
— A minha senhora está a ler?...
MADALENA
5 (despertando)
— Ah! Sois vós, Telmo. Não, já não leio: há pouca luz de dia já; confundia-me a
vista. E é um bonito livro este! O teu valido, aquele nosso livro, Telmo.
TELMO
(deitando-lhe os olhos)
10 — Oh! Oh! Livro para damas — e para cavaleiros... E para todos: um livro que
serve para todos; como não há outro, tirante o respeito devido ao da palavra de
Deus! Mas esse não tenho eu a consolação de ler, que não sei latim como meu
senhor… Quero dizer como o Senhor Manuel de Sousa Coutinho — que lá isso!
Acabado escolar é ele. E assim foi o seu pai antes dele, que muito bem o
15 conheci: grande homem! Muitas letras, e de muito galante prática, e não
apenas as outras partes de cavaleiro: uma gravidade! Já não há daquela gente.
Mas, minha senhora, isto de a palavra de Deus estar assim noutra língua, numa
língua que a gente… que toda a gente não entende… confesso-vos que aquele
mercador inglês da Rua Nova, que aqui vem às vezes, tem-me dito suas coisas
20 que me quadram... E Deus me perdoe, que eu creio que o homem é herege
desta seita nova da Alemanha ou de Inglaterra. Será?
MADALENA
— Olhai, Telmo; eu não vos quero dar conselhos: bem sabeis que desde o
tempo que… que…
25 TELMO
— Que já lá vai, que era outro tempo.
MADALENA
— Pois sim... (suspira) Eu era uma criança; pouco maior era que Maria.
TELMO
30 — Não, a senhora D. Maria já é mais alta.
MADALENA

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— É verdade, tem crescido de mais, e de repente, nestes dois meses últimos...
TELMO
— Então! Tem treze anos feitos, é quase uma senhora, está uma senhora... (à
35 parte.) Uma senhora, aquela… pobre menina!
Almeida Garrett, Theatro de J. B. de Almeida-Garrett: Frei Luiz de Sousa,
vol. III, Lisboa, Imprensa Nacional, 1844.

4. Justifique o facto de Telmo corrigir o seu próprio discurso quando afirma «Quero
dizer como o Senhor Manuel de Sousa Coutinho […]» (l. 13).
5. Apelando ao seu conhecimento sobre a obra, demonstre a importância das
informações subentendidas presentes nos discursos das duas personagens.

GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
Leia com atenção o texto seguinte.

Manhãs de nevoeiro

17 de setembro de 2014
É na exteriorização da nossa frágil condição mundana, em dias caiados a
desesperança e amanhãs povoados pelo pessimismo, que se olha para além em
busca de algo de salvífico, que restaure a justiça ausente. Um além e,
5 sobretudo, um aquém providencial que nos liberte das masmorras da
irrelevância, da pobreza e da decadência. Folheando mais um notável livro
— A nova teoria do sebastianismo — do ensaísta Miguel Real, verificamos que
este volta a confrontar-nos com os nossos mais profundos complexos e receios
enquanto nação. Um face a face com aquilo a que Eduardo Lourenço apelidou,
10 em O labirinto da saudade, o «máximo de existência irrealista» de Portugal —
o sebastianismo. Ou o eterno retorno, a perene ânsia por uma entidade exterior
à realidade vigente que nos reconduza pelo caminho da prosperidade e da
glória perdidas.
Este sebastianismo é descendente direto do desespero latente e da plena
15 consciência da incapacidade de mudar um destino incompreensivelmente
adverso, alimentando uma ânsia de um retorno improvável. Vale a pena citar
Miguel Real neste ponto. Hoje, ser sebastianista não é o permanente aguardar
pelo regresso de D. Sebastião numa qualquer manhã de nevoeiro «como o
Messias regenerador da sociedade portuguesa». Agora, o sebastianismo
20 revela--se na «plena consciência de que em Portugal só se atinge um patamar
próspero de vida se algo (uma instituição) ou alguém dotado de elemento

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carismático nos prestar um auxílio que nos retire, por meios extraordinários, do
embrutecimento e empobrecimento da vida quotidiana: a subserviência
rastejante ao partido, a cunha do senhor doutor, a crença no resultado do
totoloto ou do euromilhões [...]».
25
Do ouro do Brasil aos milhares de milhões dos Fundos da Europa,
passando por ditaduras providenciais de quase meio século ou os bem mais
recentes disciplinadores financeiros, por tantos desejados, investidos numa
trindade una que nos recolocaria no eixo da responsabilidade e no trilho
infalível rumo ao eldorado a que tais sacrifícios conduziriam no final da
30 penitência, a demanda vai ingloriamente longa. […] Há novos projetos políticos
que ameaçam ser diferentes de tudo o que até agora se conhece, indignados
porque a sociedade está saturada, exaurida com tudo o que sente, vê e ouve.
Porque a sociedade descrê. Porque há insatisfação. E, antes de tudo, há que
criar um escape para tanto sentimento gerado, para tanta descrença
35 acrescentada. E depois? Depois, logo se verá, com certeza. Nestas páginas do
quotidiano onde os dias se consomem, talvez também haja outro detalhe que
decorre do sebastianismo e que nos mereça uma reflexão. Se, ainda hoje, se
procura insistentemente ao longe, não será porque tudo o que nos é próximo
falhou... ou está prestes a falhar?
40

Nuno Francisco, http://www.jornaldofundao.pt/index.asp?


idEdicao=107&id=9394&idSeccao=1018&Action=noticia, publicado em 17 de setembro de 2014;
consultado em 12 de novembro de 2016.

1. De acordo com o texto,


(A) o sebastianismo acabará por desaparecer, devido ao descontentamento
permanente da sociedade portuguesa.
(B) para Miguel Real, a conceção sebastianista continua a manifestar-se como
crença messiânica.
(C) o sebastianismo resulta de uma ideia negativa sobre o presente e da
persistência de memórias de um passado grandioso.
(D) com A nova teoria do sebastianismo, Miguel Real analisa, pela primeira vez,
aspetos distintivos da sociedade portuguesa.
2. Nas expressões «em dias caiados a desesperança» (ll. 1-2) e «masmorras da
irrelevância» (ll. 5-6), encontramos
(A) duas metáforas.
(B) dois oximoros.
(C) uma sinédoque e uma aliteração.
(D) duas apóstrofes.
3. O constituinte «das masmorras da irrelevância, da pobreza e da decadência» (ll. 5-6)
desempenha a função sintática de

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(A) complemento direto. (C) complemento oblíquo.
(B) complemento indireto. (D) complemento do adjetivo.
4. A expressão «no resultado do totoloto ou do euromilhões» (ll. 24-25) desempenha a
função sintática de
(A) complemento oblíquo. (C) complemento do nome.
(B) complemento indireto. (D) modificador restritivo do nome.
5. A oração «que nos reconduza pelo caminho da prosperidade e da glória perdidas»
(ll. 12-13) é uma subordinada
(A) adverbial consecutiva.
(B) adverbial final.
(C) adjetiva relativa restritiva.
(D) adjetiva relativa explicativa.
6. A oração «porque a sociedade está saturada» (l. 33) é uma subordinada
(A) adverbial consecutiva.
(B) adverbial final.
(C) adverbial causal.
(D) adjetiva relativa restritiva.
7. A utilização do pronome «este» (l. 7) configura
(A) uma anáfora.
(B) uma catáfora.
(C) um exemplo de coesão interfrásica.
(D) um exemplo de coesão lexical.
8. Identifique o tipo de coesão assegurada pela palavra «porque» (linha 25).
9. Atente na frase: «Nestas páginas do quotidiano onde os dias se consomem, talvez
também haja outro detalhe que decorre do sebastianismo e que nos mereça uma
reflexão.» (linhas 36-38).
9.1 Classifique a oração «onde os dias se consomem».
9.2 Identifique a função sintática desempenhada pelo grupo «do sebastianismo».

GRUPO III
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Fernando Pessoa

Elabore um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas (200) e


um máximo de trezentas (300) palavras, em que apresente uma reflexão sobre a
importância da perseverança na vida do Homem. Fundamente o seu ponto de vista

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recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos,
um exemplo significativo.
Planifique o texto antes de o redigir e reveja-o no fim.

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em
branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs-se-lhe/). Qualquer número
conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —
há que atender ao seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do
texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

Subunidade 1.4 — Ficha de avaliação (cenários de resposta)

GRUPO I
A
6. Um aforismo é uma frase curta, de significado muito profundo, apresentando uma
espécie de verdade universal e intemporal. No aforismo que inicia o poema,
encontramos a antítese «grande»/«pequeno». Este recurso enfatiza a ideia de que,
diante das grandes realizações, que exigem um esforço tremendo, a natureza
humana é sempre frágil, «pequena». Esta desproporção acentua o carácter épico
das ações praticadas pelo homem, valorizando-as.
7. No poema «Padrão», a referência ao «por-fazer» (v. 8), que depende de Deus,
remete para uma conceção providencialista da História, segundo a qual todos os
acontecimentos são explicados por aquilo que a providência divina determinou.
Além disso, o poema apresenta uma interpretação dos Descobrimentos em que o
carácter religioso e a procura da transcendência explicam a ação levada a cabo
pelos portugueses.
8. Na última estrofe, o sujeito poético explicita o que simboliza a cruz do padrão,
fazendo referência à «febre de navegar». Esta febre ou doença resulta do desejo
de querer mais e procurar, desejo que, segundo a filosofia de Mensagem, distingue
a natureza humana e permite que o homem se distancie da «besta». A cura para
esta doença da insatisfação, da procura ou do sonho é o repouso em Deus, depois
da morte.

B
9. Telmo procede à correção do seu discurso porque, apesar de afirmar que Manuel
de Sousa é um «[a]cabado escolar» (l. 14), não o considera digno de ocupar o
lugar do seu antigo amo. Com esta correção, Telmo revela-se fiel à memória de D.
João de Portugal.
10. No excerto apresentado, as reticências e os apartes indicam a existência de
informações subentendidas, que correspondem a um conhecimento partilhado
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pelas duas personagens. Assim, quando Madalena se refere a um tempo passado
— «o tempo que… que…» (ll. 23-24) —, a frase incompleta revela a importância
que esse tempo tem na ação, por remeter para o seu primeiro casamento, razão
dos grandes terrores que a atormentam no presente. Do mesmo modo, o aparte
de Telmo, ao considerar Maria uma «pobre menina», contém uma alusão à
questão central da tragédia familiar de Frei Luís de Sousa: a possibilidade de Maria
ser fruto do pecado.

GRUPO II
1. (C).
2. (A).
3. (C).
4. (C).
5. (C).
6. (C).
7. (A).
8. Coesão interfrásica.
9. 9.1 Oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
9.2 Complemento oblíquo.

GRUPO III
Construção de um texto de opinião que tenha em conta o tema, a estrutura e os
limites propostos. Devem respeitar-se as principais características do género textual
em causa:
• explicitação do ponto de vista;
• clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos
respetivos exemplos;
• discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

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