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ROMANA
Miguel Maria Carvalho Lira, MsC
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra
Resumo
Neste trabalho procuraremos apresentar uma resposta à questão que tanto debate e
controvérsia tem causado, ao longo dos tempos, entre os historiadores da contabilidade: a
civilização romana utilizou, ou não, na sua contabilidade o método digráfico, como
actualmente é entendido?
É que a ter uma resposta positiva, iria colocar em causa a tese dominante e mais
comummente aceite: este método foi aperfeiçoado e utilizado pela primeira vez, durante o
século XIII ou XIV, nas repúblicas italianas.
A principal dificuldade inerente a este tema, e de tantos outros abarcados pela história
da contabilidade, é o reduzido número de documentos contabilísticos dessa civilização que
sobreviveram e chegaram até aos nossos dias, bem como as divergentes leituras e
entendimentos de que são alvo por diferentes interessados nesta problemática.
Em termos sintéticos, este trabalho procura responder a esta questão através de uma
dissertação e apresentação sumária das opiniões de diversos autores, bem como a evolução
registada das mesmas, para além da descrição de vários documentos contabilísticos romanos,
não esquecendo uma breve exposição da contabilidade romana, incorporando esta, por
exemplo, a identificação e explanação dos livros contabilísticos utilizados por esta
civilização.
INTRODUÇÃO
Sinteticamente, podemos considerar que este artigo pretende obter uma resposta à
seguinte questão: o método da partida dobrada (ou método digráfico), foi, ou não, utilizado
pelos romanos, em qualquer momento da sua longa história.
1
Convém, desde já, indicar quais os requisitos necessários para se poder falar do
método de partidas dobradas. Estes divergem de autor para autor; mas, de acordo com Gomes
(2000, pg. 14), é geralmente aceite que o método digráfico é caracterizado pela existência de
lançamentos simultâneos e antitéticos, de igual valor absoluto, em contas que constituem um
sistema fechado.
Com o objectivo de apresentar uma resposta à questão supra, este trabalho encontra-se
dividido em três pontos:
1. Apresentação sumária da contabilidade romana;
2. Fontes de investigação;
3. Opinião de diversos autores.
No primeiro ponto, e como o próprio título o indica, será realizada uma breve
dissertação sobre a contabilidade romana, focada sobretudo nos aspectos que mais interessam
para atingir o objectivo apresentado, designadamente serão analisados os principais aspectos
da Contabilidade comercial, “familiar” e pública.
1
Outro termo para designar Roma.
2
Lamarr, Layondon (1923). Rate making for public utilities. McGraw Hill Books Co., Inc. Nova Iorque, pg.
51.
2
Para Barriocanal (1996, pg. 753), a Contabilidade romana não tinha tanto a finalidade
de medir um rendimento, proveito ou custo, mas antes manter um registo das operações
realizadas, com o fim de detectar possíveis fraudes na gestão e administração de actividades
realizadas por terceiros, para além de os livros escriturados deverem ser apresentados ao
Census para exame e verificação, tendo consequências directas na posição social do cidadão
na sociedade romana.
A importância que a Contabilidade tinha para os romanos torna-se bem patente nas
palavras de Lopes de Sá (1998, pg. 42): “os dados contabilísticos mereciam considerações
derivadas de estudos e as decisões eram tomadas a partir delas”.
Ainda a propósito desta problemática, Vlaemminck 5 , citado por Barriocanal (1996, pg.
764), chama a atenção para a aparição frequente da palavra “Capital” na Contabilidade
romana. Este vocábulo reflecte as quantidades entregues pelos proprietários do negócio aos
seus administradores ou gestores, denominado curatorer calendarii que tinham de fazer
contas com o seu senhor.
3
O regime monárquico durou menos de duzentos e cinquenta anos: de 753 a.C (data da criação da cidade) até
509 a.C.
4
A civilização romana experimentou mais dois sistemas de governo, para além da monarquia: a República
(entre 509 a.C. até 27 a.C., ano da coroação do Imperador Octávio, sendo-lhe conferido o título de Augustus); e o
Império (desde 27 a.C. até à queda do Império ): no ano de 476 cai, nas mãos de Odacer, líder Germânico, o
império romano do ocidente, e em 1453, acaba o império romano do oriente quando Constantinopla é
conquistada pelos Turcos (Centeno, 2002, pg. 302, e Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura, Vol. 3, pgs. 1403
a 1413).
5
Vlaemminck, J. H. (1961). Historie y doctrinas de la contabilidad. Ed. E.J.E.S. Madrid.
3
Estes administradores anotavam o que o proprietário lhes havia entregue e que
posteriormente, lhe iam devolvendo, como se estivessem perante uma dívida a um terceiro.
Segundo o autor, não se tratava de um sistema de partida dobrada, mas sim uma forma
simples e rudimentar da Contabilidade actualmente conhecida por Interna, Analítica ou de
Gestão.
6
Os contratos litera is são aqueles em que as obrigações resultam da escrita. Os antigos contratos literais romanos
são, em geral, mal conhecidos, dada a escassez de fontes a seu respeito.
7
Durante o Império, só os livros de escrituração bancária faziam prova não só entre si, como também contra
terceiros.
4
A ordem de registo nestes livros era, segundo Zurdo 8 , citado por Gomes (2000, pg.
27), a seguinte: os factos contabilísticos, primeiramente registados no Adversaria, eram
transportados depois para o Codex Accepti e Expensi e, posteriormente, abrangendo-se agora
as contas mensais, eram registados no Codex Rationum.
Tendo por base todos os livros contabilísticos romanos referenciados, Serrano (1971,
pg. 4) indica que o Commentarius corresponderia ao Borrão, o Adversaria ao Diário, o Codex
Accepti et Expensi ao Caixa, e o Codex Rationum ao Razão.
Existem, porém, opiniões divergentes como a de Gonçalves da Silva (1970, pg. 35)
que afirma que o Adversaria corresponderia ao Borrão ou Memorial, sendo que a existência
destas divergências está bem patente na obra Digressão através do vetusto mundo da
Contabilidade de Lopes Amorim (1969, pg. 59): “o Adversaria (...) segundo uns,
correspondia ao Memorial, e, segundos outros, ao Diário moderno”.
Não obstante estas divergências, o que interessa retirar daqui será a real
correspondência entre alguns livros contabilísticos usados pelos romanos e os actuais, o que
vem provar, por si só, o avançado estado de desenvolvimento da Contabilidade na civilização
romana.
8
Zurdo, José Mari Cañizares (1996/97). Ensayo Histórico sobre Contabilidad. Reprodução fotográfica da
versão original publicada em Málaga em 1933, com um estudo introdutório escrito por Daniel Carrasco Diáz e
Francisco Gonzá lez Gomila, AECA, pg. 25.
9
Em Roma, tal como na Grécia, o emprego de algumas horas diárias na prática da Contabilidade pessoal era
vista como uma actividade saudável, pois possibilitava o conhecimento da movimentação do dinheiro e o motivo
de eventuais perdas.
10
Pater familias era o chefe da família, isto é, o seu patriarca. É de referir que também os tutores e outros
guardiães tinham de preparar inventários, ter registos exactos de todas as propriedades, rendimentos,
investimentos e despesas dos pupilos ou menores a seu cuidado.
11
Alfaia é uma jóia ou adorno de valor.
12
Belkaoui (1994, pgs 1 e 2) refere que era a partir destas declarações financeiras, e dos rendimentos
apresentados nas mesmas, que eram fixados os direitos civis de cada cidadão.
13
Zurdo, José Mari Cañizares (1996/97). Ensayo Histórico sobre Contabilidad. Reprodução fotográfica da
versão original publicada em Málaga em 1933, com um estudo introdutório escrito por Daniel Carrasco Diáz e
Francisco González Gomila, AECA, pg. 25.
5
professor de aritmética que utilizava o abacus 14 , entre outros instrumentos, para ensinar. Com
o tempo, o nome calculator passou a aplicar-se ao indivíduo que tinha a seu cargo a
Contabilidade.
Ainda podemos indicar que o escravo responsável pela Contabilidade doméstica era o
Rationarius. Todos os dias à noite ele devia apresentar ao seu mestre os registos efectuados,
para este examinar e controlar as contas. Murray (1978, pg. 135) chama a atenção para o
castigo aplicado quando o dono notava alguma diferença nas contas: o escravo era chicoteado
e o número de chicotadas variava conforme o valor em falta.
Para Tavares (1987, pgs. 84 e 88), durante os séculos III e II a.C., o território
controlado por Roma tornou-se excessivamente grande, não estando assim a Urbe preparada
para administrar correctamente a vastidão do mundo de que se apoderara, o que leva,
progressivamente, ao fim do sistema político vigente: a República. Essa situação só se
inverteu quando o poder fica concentrado na mão de um único homem: Octávio César
Augusto, o primeiro imperador romano. O seu principado 15 foi um período de grande
prosperidade económica, em que a administração pública se tornou mais eficaz, aprendendo a
partir da experiência passada.
Para maior eficácia, havia controlos administrativos de vária natureza e entre eles, a
Contabilidade. “Basta analisar o complexo do sistema administrativo de um império com a
dimensão do romano (...) para que se possa conceber as dificuldades e as necessidades dos
controlos” (Lopes de Sá, 1998, pg. 40).
No entanto, Lopes Amorim (1969, pg. 58) observa que existiriam dois livros e não um
só:
1. Brevarium: para a discriminação das receitas auferidas pelo Governo;
14
O Abacus, ou Ábaco, era um contador para registar o cálculo da aritmética. Foi variando de material, forma e
escala convencional, conforme os povos e culturas. A forma preferida pelos romanos, e aperfeiçoada na Idade
Média, era a de uma mesa gravada com sulcos ou riscos, onde se colocavam fichas ou contadores com letras de
referência (Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura , Vol. 1, pg. 16).
15
Embora actualmente Octávio seja considerado um imperador, o título ostentado na altura era de princeps, ou
seja, de príncipe.
16
Zurdo, José Mari Cañizares (1996/97). Ensayo Histórico sobre Contabilidad. Reprodução fotográfica da
versão original publicada em Málaga em 1933, com um estudo introdutório escrito por Daniel Carrasco Diáz e
Francisco González Gomila, AECA, pg. 25.
6
2. Rationarium: para descrever o quantitativo bélico mantido pelo Império e a
soma de recursos existentes nos cofres estatais, provenientes dos tributos
cobrados. Nele também eram descritos os bens do Império, por unidade
governamental (reinos, províncias, etc), e o montante dos impostos, das
provisões, doações e encargos do Império Romano. Por isso, pode-se
concluir que o livro em referência ultrapassava o âmbito orçamentário,
constituindo um verdadeiro livro de registo de inventários.
Para finalizar, podemos indicar que Lopes de Sá (1998, pgs. 40 e 41) relata que “de
tudo se produziam balanços e existiam prestações de contas, ou seja, produziam-se as peças
denominadas ratio acceptorum et datorum. As grandes actividades públicas possuíam
gestores especiais com escrita contabilística especial como as havidas para as obras públicas
(ratio operum publicorum), para os serviços de água (ratio aquariorum), etc”17 .
2 – FONTES DE INVESTIGAÇÃO
17
Para mais informações sobre procedimentos e funcionários da Administração Pública romana consultar Lira e
Marques (2007, pgs. 1 a 21).
18
Existe muita mais informação do período que vai desde a ditadura de Sulla, em 82 a.C., até à morte de César,
em 15 de Março de 44 a.C., do que em qualquer outro período da história romana. Isto deve-se, principalmente, a
um só homem: Marcus Tullius Cícero. Nasceu em Arpinum, no sul da Península Itálica, em 106 a.C., tendo
falecido em 43 a.C. Através de inúmeros discursos e cartas escritas quando ele estava profundamente envolvido
no dia-a-dia político, quer pela ocupação de altos cargos no Estado, quer pelo contacto com os homens que
definiam o futuro do mundo Mediterrânico, temos uma excelente visão do seu mundo, principalmente as cartas,
conhecendo-se cerca de novecentas.
Para além de homem de Estado, também escreveu trabalhos em filosofia e retórica ricamente adornados com
exemplos e atitudes contemporâneas (Griffin, 1991b, pg. 173).
19
O papiro era uma folha que se elaborava com o caule de uma planta denominada cyperus papyrus. Foi
utilizada pelos egípcios desde o 3.º milénio a.C. (Romero [et al.], 1997, pg. 691).
7
das tabuinhas de cera, em que se escrevia com uma estilete pontiaguda 20 , poucas se
salvaram devido à fraca durabilidade das mesmas.
De Ste. Croix21 , citado por Kam (1990, pg. 14), afirma não estarmos perante um
Diário elaborado com base nas partidas dobradas, uma vez que cada registo mostra apenas de
quem foi o dinheiro recebido e a favor de quem foi desembolsado. Conclui então este autor
que os romanos não mantinham os seus registos em termos de débito e de crédito, mas sim na
base de recebimentos e pagamentos. Também refere que ao longo do documento aparecem
partidas não balanceadas e de que não se observam os totais das colunas.
Contudo, Most22 , citado por Barriocanal (1996, pg. 767), contesta esta conclusão de
De Ste. Croix, e afirma que o Papiro de Kanaris evidencia uma Contabilidade avançada, pelo
que não se poderá descartar a hipótese de se tratar de um sistema de partida dobrada.
Os itens idênticos eram agrupados numa rubrica e apurado o seu total. Existem
evidências de serem realizadas resumos mensais, trimestrais e anuais das transacções. Para
além disso, toda a atenção estaria posta nos activos, em detrimento do lucro, e o principal
objectivo dos registos parece ter sido “conservar a substância da riqueza do senhor” (Kam,
1990, pg. 12).
20
Noel Monteiro (1973, pg. 17) observa que a inclinação da escrita dos romanos devia-se ao uso das tábuas de
cera para a escrita.
21
De Ste. Croix (1956). Greek and Roman Accounting. Studies in the history of accounting, editado por
Littleton e B.S. Yamey. Londres.
22
Most, K. (1979). The account of ancient Roma in Academy of Historians. Working Paper Series. Editado por
M. Coffman Edward.
8
2.1.3 – Texto de Plínio, o Velho
De Ste. Croix23 , citado por Barriocanal (1996, pg. 758), afirma que alguns autores
tentaram ver num excerto de texto da autoria de Plínio, o Velho, a prova da existência do uso
das partidas dobradas na Urbe. Diz este texto o seguinte:
“Huic omnia expensa, huic omnia feruntur accepta, et in tota ratione mortalium
sola utrmque paginam facit”24
Assim, este texto levou a que alguns concluíssem que os custos se incluíam numa
página e os ganhos noutra, quando o que realmente diz é que se registam em ambas as
páginas.
Uma boa fonte literária é a peça oratória de Cícero intitulada Oratio pro fonteio,
destinada à defesa de Fonteio, que fora contabilista do Tesouro Público e governador da
província de Narbone e que, investido nas funções de questor, fora acusado de delapidar os
fundos públicos 25 .
No entanto, embora este texto seja interessante, “nada se encontra, com efeito, que
directa ou indirectamente legitime a suspeita de que a digrafia já era conhecida na época
ciceroniana” (Gonçalves da Silva, 1970, pg. 67).
2.1.5 – De Re Rustica
Dentro dos textos clássicos que incluem aspectos contabilísticos, também ocupa um
lugar de destaque, para Sarmento (1997, pg. 606), um manual de administração agrícola
intitulado De Re Rustica, de Catão, o Censor, que se refere à Contabilidade, no seu Capítulo
II, do seguinte modo:
23
De Ste. Croix (1956). Greek and Roman Accounting. Studies in the history of accountinhg, editado por
Littleton e B.S. Yamey. Londres.
24
“Na Contabilidade, todo o desembolso e toda a recepção se registava e se incluíram em ambas as páginas do
livro de contas de todo o mortal”.
25
A história reflectida no texto é a seguinte: num momento de grave crise económica, o cônsul Valerius Flaccus
publicou, no ano de 85 a.C., uma lei intitulada Lex Valeria de aere aliena, através da qual todas as dívidas
anteriores a uma determinada data foram perdoadas em três quartos, podendo exigir-se unicamente a quantia
restante. Fonteio foi acusado de reconverter dívidas novas (isto é, posteriores à data de vigência da lei) em
antigas, mediante a manipulação dos registos, cobrando a totalidade das mesmas e entregando somente a quarta
parte ao Estado, tal como estabelecia a lei. A restante parte guardava-a para si.
9
“Far-se-á conta de caixa, a do grão em armazém, a do vinho, a do azeite, a das
forragens; tomar-se-á nota do que for vendido, do que for pago, do que ficar por
receber, do que ainda estiver por vender”.
Também Kats 27 conclui da prática corrente da partida dobrada. Assim, esta teria
surgido devido à relação entre escravo e senhor existente na economia romana: “A
Contabilidade por partida dobrada começou quando, pela primeira vez, as exigências do
senhor e as obrigações do devedor (escravo) foram balançadas nos livros do escravo romano”.
A maioria, contudo, não partilha desta visão. Assim, e de acordo com autores como O.
Tem Hare, De Ste. Croix, H.J. Eldridge, etc, não se pode afirmar que os documentos clássicos
que chegaram até aos nossos dias ofereçam alguma comprovação da prática de uma
Contabilidade com base em partidas dobradas.
De Ste. Croix28 , citado por Chatfield e Vangermeersch, (1996, pg. 506), foi um grande
defensor da teoria que defende a não utilização do método digráfico pela civilização romana.
Baseava a sua opinião principalmente em dois pilares, a saber:
1. O sistema económico romano não se desenvolveu o suficiente para ser
necessário o uso da Contabilidade digráfica;
2. O sistema numérico dos romanos não era adequado para este propósito.
26
Niebuhr, Georg Berthold (1858). Vorträge über römische alternthümer. G. Reimer. Berlin.
27
Kats, P. (1929). Early history of bookkeeping by double entry. Journal of Accountazy. Março e Abril 1929.
28
De Ste. Croix (1956). Greek and Roman Accounting. Studies in the history of accountinhg, editado por
Littleton e B.S. Yamey. Londres.
29
Most, K. (1979). The account of ancient Roma in Academy of Historians. Working Paper Series. Editado por
M. Coffman Edward.
30
Para Most, o debate em torno dos métodos contabilísticos dos romanos, dada a escassez de documentação
contabilística, não faz sentido e resulta num mero exercício puramente académico (Barriocanal, 1996, pg. 766).
31
Contudo, é de salientar que Most não defende que os romanos utilizaram o método das partidas dobradas.
32
Rossi, Giovanni (1896). La computisteria dei romani e l’invenzione della scrittura doppia. Ed. Dante
Alighieri. Roma.
10
Alguns autores portugueses também deram a sua opinião sobre esta questão, dos quais
os mais ilustres serão Gonçalves da Silva e Lopes Amorim.
No que concerne a Gonçalves da Silva (1970, pg. 38): “está, (...), perfeitamente
averiguado que os romanos, muito embora desconhecessem a digrafia, alargaram e
aperfeiçoaram bastante o que sobre contas haviam aprendido com os gregos e que já no tempo
da República, dispunham de escritas que lhes permitiam fiscalizar contínua e eficazmente as
finanças públicas e privadas”.
Lopes Amorim (1969, pg. 60 e 67) afirma que o sistema contabilístico utilizado pelos
romanos ainda não era suficientemente desenvolvido e coeso que permitisse pôr em evidência
as causas e os respectivos efeitos, e que nunca foram descobertas provas da existência da
utilização de partidas dobradas em Roma.
CONCLUSÕES
Mas findo este trabalho, estamos prontos para apresentar algumas das principais
conclusões a que chegámos no decorrer da sua elaboração:
1. A Contabilidade entre os romanos era correntemente utilizada tanto na
administração pública como na administração mercantil e da vida doméstica, e
já apresentava um apreciável grau de sistematização;
2. O objectivo da Contabilidade romana era medir o grau de eficácia dos
responsáveis da administração dos bens e propriedades – privados ou públicos
–, geralmente entregues a escravos, para além de os registos contabilísticos
terem de ser apresentados ao Census para exame e verificação, tendo
consequências directas na posição social do cidadão;
3. Os principais livros usados na Contabilidade comercial eram o Commentarius,
o Adversaria, o Codex Accepti et Expensi, o Codex Rationum e o Kalendarium.
Estes eram igualmente utilizados na Contabilidade pública, embora esta tivesse
dois livros exclusivos: o Brevarium e o Rationarium;
4. Diversos autores defendiam que alguns destes livros contabilísticos teriam
correspondência com os actualmente utilizados;
11
5. A Contabilidade romana encontrava-se tão desenvolvida que alguns autores
defenderam que, ao tempo do Império Romano, essa civilização já conheceria
e praticaria o método das partidas dobradas, embora, face às actuais provas
documentais, não seja de aceitar tal hipótese. Isto é, tanto os documentos
contabilísticos que chegaram até nós como a opinião dos diversos estudiosos e
especialistas destas matérias apontam no sentido de que o método das partidas
dobradas nunca foi utilizado na civilização romana, não obstante o
desenvolvimento registado nesta;
6. Por fim podemos aferir da enorme importância da Contabilidade na sociedade
romana a partir das diferentes versões de documentos contabilísticos e
controlos existentes, para além do facto de as informações contabilísticas
serem importantes componentes da civilização romana.
BIBLIOGRAFIA
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