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CASOS PRÁTICOS

CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO


FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
ANO LECTIVO 2017/2018

I. Comente, à luz do âmbito da jurisdição administrativa, o acórdão do Tribunal de


Conflitos de 21-04-16, proferido no conflito 6/16.

II. Determine se os seguintes litígios devem ser julgados na jurisdição administrativa


e, em caso afirmativo, indique o Tribunal concretamente competente para o efeito:

a) A Associação das Famílias Numerosas pretende impugnar a decisão do


Governo de encerrar a maternidade do Hospital de Beja, transferindo as
respectivas utentes para o Hospital de Évora.
b) A Associação dos Utentes da A78 pretende impugnar uma Resolução do
Conselho de Ministros através da qual, no contexto de algumas alterações em
matéria de mobilidade no Algarve, é decidida a introdução de portagens
naquela auto-estrada.
c) A., residente em Cascais e aluno da Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa, pretende impugnar o atual Regulamento de Avaliação.
d) B., residente em Aveiro mas de passagem por Lisboa, pretende propor uma
ação de responsabilidade civil extracontratual contra a VALORSUL, S.A.,
empresa responsável pela recolha de lixo na cidade, em virtude dos danos
que sofreu depois de ter sido atropelado por um camião do lixo.
e) C., empresa com sede na Amadora, pretende impugnar a validade do ato de
adjudicação relativo a um procedimento pré-contratual promovido pelo
Município do Porto.
f) D. pretende impugnar o ato de aplicação de uma coima praticado pela
Inspeção-Geral dos Ministérios do Ambiente, Ordenamento do Território e
Energia e da Agricultura e do Mar (IGAMAOT), por violação de normas
ambientais.
g) E., residente em Beja, pretende impugnar o ato de aplicação de uma coima
praticado pela Divisão de Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, por
violação de normas urbanísticas.
h) F., residente em Leiria, pretende impugnar o ato de declaração de utilidade
pública (inserido num procedimento de expropriação) praticado pelo
Município de Viseu em relação a um imóvel aí sito.
i) G., trabalhadora afeta aos serviços do Instituto da Conservação da Natureza
e das Florestas com vínculo de contrato individual de trabalho pretende
contestar jurisdicionalmente o despedimento de que foi alvo.
j) H. pretende propor uma ação de responsabilidade civil extracontratual por
ato jurisdicional contrário ao Direito da União Europeia em virtude de uma
decisão do Tribunal Central Administrativo Sul transitada em julgado.
k) I., residente em Faro, pretende consultar os arquivos administrativos
relativos ao seu percurso académico na Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra, que lhe negou esse acesso.
l) J., empresa com sede em Braga e vencida num procedimento pré-contratual
promovido pelo Centro Hospitalar de Lisboa Norte, E.P.E., pretende propor
uma ação de anulação do contrato de aquisição de material médico destinado
ao Hospital de Santa Maria celebrado por esta entidade e a empresa
adjudicatária.
m) K., funcionária dos serviços da Assembleia da República e residente em
Sintra, pretende impugnar as novas normas regimentais que regulam os
horários de tais serviços, aprovadas pela Presidente da Assembleia da
República.
n) L. pretende impugnar o ato de liquidação de uma taxa aplicada pelo
Município de Lisboa, tendo proposto a respetiva ação impugnatória junto do
Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.

III. Comente, sob a perspetiva do âmbito da jurisdição administrativa e da


competência dos Tribunais Administrativos, o Acórdão do Supremo Tribunal
Administrativo de 2 de julho de 2015, Proc. n.º 0637/15, através do qual este
Tribunal se declarou absolutamente incompetente para a apreciar o pedido de
“suspensão da eficácia do Decreto-Lei n.º 181-A/2014, de 24 de dezembro”, que
aprovou o processo de reprivatização indireta do capital social da TAP –
Transportes Aéreos Portugueses, S.A.

IV. Na sequência de aplicação de sanção disciplinar de descida de divisão pela


Comissão Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol ao clube F.C. Axadrezados, os
jogadores do mesmo clube pretendem impugnar a referida decisão, alegando, para
o efeito, a perda de visibilidade e de estatuto a que ficarão sujeitos como jogadores
da 2.ª Liga. Sentindo-se igualmente prejudicados com a decisão da Comissão
Disciplinar, os principais patrocinadores do clube preparam igualmente uma reação
judicial, que incluirá igualmente um pedido de indemnização.
a) Pronuncie-se sobre a legitimidade processual dos autores.
b) Imagine que o Ministério Público pretende igualmente impugnar a
decisão. Pode fazê-lo?
c) Imagine também que uma claque organizada do clube pretende reagir
processualmente “até às últimas consequências”, invocando, para o
efeito, o “interesse público da verdade desportiva”. Pode fazê-lo?

V. Comente, sob a perspetiva da legitimidade e do interesse processual, o Acórdão


do STA de 14 de julho de 2015, através do qual se julgou uma providência cautelar
destinada a travar o processo de privatização da Metro de Lisboa e da Carris.

VI. A. pretende impugnar o Regulamento de Avaliação da Faculdade de Direito da


Universidade de Lisboa. Propõe, para o efeito, ação contra o Conselho Pedagógico da
Faculdade, órgão responsável pela aprovação do referido Regulamento. Fez bem?

VII. 120 dos “lesados do papel comercial do BES” pretendem impugnar a medida de
resolução adotada pelo BdP em relação ao BES, no dia 3 de agosto de 2014. Não
sabem, no entanto, se o devem fazer individualmente ou se, para o efeito, devem
constituir uma Associação. O que lhes sugeriria?

VIII. B., empresa que se candidatou e viu a sua proposta excluída de concurso público
promovido pela Secretaria-Geral do Ministério da Economia, nos termos do qual foi
adjudicada a proposta de C e ordenada em segundo lugar a proposta de D., propõe
ação de contencioso pré-contratual urgente destinada a impugnar o ato
adjudicatório praticado, alegando que o caderno de encargos continha
especificações técnicas discriminatórias, em violação dos princípios da
concorrência, da proporcionalidade e da igualdade de tratamento, o que teria levado
à exclusão da sua proposta. Demanda, para o efeito, o Estado português e C. Quid
juris?

IX. E., residente e eleitor em Lisboa, pretende impugnar a deliberação da Câmara


Municipal de Lisboa através da qual se atribuiu, a F., um subsídio tendente à
publicação da tese de mestrado deste último, por considerar que a mesma não
possui relevo científico digno do patrocínio do Município. Poderá fazê-lo?

X. G., empresa do sector da construção, pretende anular o contrato de empreitada


celebrado entre a Ordem dos Advogados e a empresa F., alegando que o mesmo não
corresponde, sob o ponto de vista da determinação dos trabalhos a realizar, aos
previstos no Caderno de Encargos. Quid iuris?

XI. A Assembleia Municipal de Sintra pretende impugnar uma deliberação da


Câmara Municipal de Sintra, por entender que este último órgão decidiu sobre
matérias para as quais não dispunha de competência. Pode fazê-lo?

XII. Analise, do ponto de vista do âmbito da jurisdição e competência do tribunal, os


acórdãos do Plenário do Supremo Tribunal Administrativo de 10-09-2014, proc.
621/14, e de 15-10-2014, proc. 873/14.

XIII. Por decreto publicado em 5 de Agosto de 2015, o Governo declarou como


monumento nacional, ao abrigo da Lei nº 107/2001 (Lei de Bases do Património
Cultural), um imóvel devoluto, propriedade de H. Na mesma data, foi publicado
decreto-lei através do qual se permitia a entrega a privados da reabilitação e
exploração dos monumentos nacionais devolutos, em regime de concessão de
serviço público. O diploma procedia ainda à abertura dos concursos para a
celebração dos contratos de concessão relativos a diversos imóveis identificados em
anexo ao diploma, um deles o imóvel de H. Só em Janeiro de 2016 H. toma
conhecimento destes factos, através de uma notícia no jornal, que dá conta de estar
iminente o acto de adjudicação do concurso relativo ao seu prédio.
H. propõe então, no Tribunal Central Administrativo do Sul, uma acção contra o
Conselho de Ministros, destinada à impugnação dos actos administrativos
constantes do decreto e do decreto-lei e ao ressarcimento de todos os danos por si
entretanto sofridos, acção que faz acompanhar de uma providência cautelar dirigida
a obter a condenação do Conselho de Ministros na abstenção de praticar qualquer
acto do procedimento de concurso, até à decisão da acção principal. Alega, entre
outros fundamentos, que nunca teve qualquer conhecimento de qualquer
procedimento de classificação do seu imóvel.
Na contestação, além da defesa por impugnação, são invocadas a ilegitimidade
passiva do Conselho de Ministros e a incompetência absoluta do tribunal para julgar
a validade do decreto-lei, ao abrigo do artigo 4º, nº 3, alínea a), do ETAF; e ainda, em
qualquer caso, a inimpugnabilidade do acto que lançou o procedimento de concurso,
a intempestividade da acção relativamente a todos os actos e a incompetência do
tribunal. Quid juris?

XIV. A. trabalha no Instituto Português da Juventude. No dia 2 de novembro de 2015


foi-lhe aplicada pelo Director de Serviços a sanção disciplinar de suspensão por 30
dias, por alegadas violações do dever de obediência. Inconformada, parte de
imediato à impugnação deste ato administrativo. Antes mesmo da apresentação da
contestação por parte do IPJ, emite parecer no processo o Ministério Público,
secundando as razões da Autora, mas alertando, em qualquer caso, que a ação
sempre deveria improceder, por não ter sido precedida do necessário recurso
hierárquico, previsto no n.º 4 do artigo 225.º da Lei Geral do Trabalho em Funções
Públicas. Na contestação, o IPJ invoca, entre outras exceções, a falta de constituição
de advogado por parte de A. Sem mais, o Tribunal profere despacho saneador
através do qual “julga procedente a exceção de falta de constituição de advogado da
parte da A., absolvendo o IPJ da instância”. Quid juris?

XV. Analise criticamente, sob a perspetiva dos poderes de pronúncia do juiz no


contexto de pedidos de condenação à prática de ato devido, os acórdãos do TCA Sul
de 21-02-2013, proc. n.º 6303/10, e do TCA Norte de 28-09-2006, proc. n.º
00121/04.0BEPRT.

XVI. A empresa L. foi concorrente a um concurso público, aberto pelo Instituto das
Novas Profissões, com sede no Porto, dirigido à celebração de um contrato de
prestação de serviços de desenvolvimento de um programa informático. Tendo sido
notificado, em 15 de Setembro, da decisão final, constatou que a sua proposta ficou
ordenada em terceiro lugar. A empresa consulta um advogado, que entende ter
forma de provar que a proposta vencedora foi escolhida devido à relação de amizade
entre o administrador dessa empresa, e ainda que o conselho directivo do Instituto
decidiu o concurso sem o quórum mínimo exigido por lei.
Em 1 de Novembro, a empresa dá entrada de acção urgente, dirigida à impugnação
da adjudicação e do contrato. Na sua contestação, apresentada no 23º dia após a
citação, a entidade demandada vem defender a intempestividade da acção e, em
qualquer caso, a total inutilidade da lide, já que o contrato foi, entretanto,
integralmente executado. Quid juris?

XVII. Análise dos acórdãos do TCA Sul de 06-10-2016, proc. 13489/16; de 06-10-
2016, proc. 13655/16; e do texto de Fernanda Maçãs, “O contencioso cautelar”, in
Carla Amado Gomes/Ana Fernanda Neves/Tiago Serrão (Coords.), Comentários à
revisão do CPTA e do ETAF, Lisboa, AAFDL, 2016, pp. 729 ss.

XVIII. A requerimento de M., a Câmara Municipal de Figueiras aprovou licença de


construção de um prédio de habitação de três andares. Surpreendido pela dimensão
do estaleiro das obras, N., vizinho de M., vai consultar o processo de licenciamento e
apercebe-se de que não só o Plano Director Municipal foi grosseiramente violado, já
que naquele local apenas seria possível construir uma moradia térrea, mas também
que a área de implantação das obras licenciadas abrange uma parte do terreno que
pertence ao próprio N.
Perante isto, N. propõe intimação para protecção de direitos, liberdades e garantias,
argumentando estar a ser violada a sua propriedade, exigindo a desocupação do
terreno e a declaração de invalidade da licença de construção. O juiz do Tribunal
Administrativo e Fiscal de Beja a quem é distribuído o processo, embora considere
ilegal a actuação da Câmara Municipal, entende não ter forma de conceder a
intimação pedida por N. Quid juris?

XIX. A “Associação Cidadãos pela Boa Administração” deu entrada no tribunal


administrativo de um processo cautelar destinado a parar o processo de construção
da obra da terceira ponte sobre o Tejo, suspendendo o acto que deu início ao
procedimento de concurso para escolha do concessionário. A Associação alega que
o processo não foi precedido da avaliação de impacto ambiental imposta por lei.
O Ministério do Planeamento e Infraestruturas, juntamente com uma contestação na
qual apenas se defende por excepção, com base na impropriedade do meio
processual utilizado, apresenta, não obstante, resolução fundamentada, no sentido
de que a construção da ponte é urgente e deve ser iniciada, sob pena de eventual
perda de acesso a fundos europeus.
Sem mais, os três juízes do coletivo constituído no Tribunal Administrativo de
Círculo de Lisboa ordenam uma perícia sobre as emissões poluentes do trânsito da
ponte 25 de abril e, perante o resultado, de imediato proferem decisão na qual
“levantam o efeito suspensivo”, pois, “embora o Tribunal tenha dúvidas, a resolver
posteriormente, sobre a legalidade do acto impugnado,” ocorreria um “insuportável
prejuízo para o interesse público, e para o ambiente, se a construção da obra fosse
atrasada, já que esta permitirá eliminar por completo as demoras nos acessos a
Lisboa, nas horas de ponta, com enorme redução das emissões poluentes e ganhos
de produtividade para os cidadãos”. Mais determinam que essa sua decisão
caducará se não vierem a ser obtidos os fundos europeus necessários. Quid juris?

XX. A 11 de setembro de 2015, foi publicado no Diário da República um Decreto-


Lei através do qual o Governo determinava que “todos os funcionários públicos do
sector dos transportes da região de Lisboa devem ficar sujeitos a um horário
semanal de 50 horas em vez das atuais 40 horas semanais”, tendo em vista a
melhoria da qualidade da prestação de serviços de transportes a nível nacional.
Perante isto, o Sindicato dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro decidiu-se a
impugnar aquele que considerava ser um ato administrativo “totalmente ilegítimo”,
violador dos direitos dos trabalhadores previstos no artigo 59.º da Constituição, do
princípio da igualdade, do princípio da proporcionalidade, do direito à audiência
prévia – uma vez que os Sindicatos não tinha sido ouvidos antes ou durante a adoção
daquela medida – e do dever de fundamentação.
Sob a forma de ação administrativa de impugnação de ato administrativo contra
o Primeiro-Ministro, a petição inicial deu entrada no Tribunal Central
Administrativo Sul no dia 17 de dezembro de 2015.
Na contestação que apresentou 40 dias após ter sido citado, o Primeiro-Ministro
invocou (i) a falta de legitimidade passiva do Sindicato, por não representar
todos os funcionários públicos do setor dos transportes, mas apenas os
maquinistas da CP sindicalizados (ii) a ilegitimidade passiva do Primeiro-
Ministro para esta ação; (iii) a incompetência do Tribunal Central Administrativo
Sul e, ainda (iv) a impropriedade do meio processual escolhido, tendo em conta que
se tratava de uma norma geral e abstrata e não de um ato administrativo.
Já após a produção de alegações por ambas as partes, o Sindicato dos Trabalhadores
da Carris veio a constituir-se como assistente no processo. No acórdão, o Tribunal
Central Administrativo Sul, que não houvera proferido despacho saneador, acabou
por absolver o Réu da instância por intempestividade da ação.
Quid iuris?
(nota: corresponde ao grupo II do exame de Contencioso Administrativo e Tributário
da época de finalistas de 2015/16; os alunos são convidados a considerar os tópicos de
correcção do exame, que serão analisados na aula)

XXI. Debate sobre “arbitragem e direito administrativo: defesa da legalidade e do


interesse público e tutela jurisdicional efectiva”, a partir dos seguintes textos (entre
tantos possíveis):
- Tiago Serrão, “A arbitragem no CPTA revisto: primeiras impressões”, in Carla
Amado Gomes/Ana Fernanda Neves/Tiago Serrão (Coords.), Comentários à revisão
do CPTA e do ETAF, 2ª ed., Lisboa, AAFDL, 2016, pp. 271 ss.
- Carla Amado Gomes/Domingos Soares Farinho/Ricardo Pedro (Coords.),
Arbitragem e Direito Público, Lisboa, AAFDL, 2015, em particular os textos de Filipe
Brito Bastos, José Duarte Coimbra e André Proença.

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