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CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CURSO DE pEDAGOGIA
PROJETO INTEGRADOR
UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP
POLO ITATIBA

O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA


EDUCAÇÃO INFANTIL NA FASE “PRÉ-ESCOLAR”

Ana Laura Feitoza RA 8374809497


Fabiana Viseli RA 8742156359
Karina Monaco RA8374809773
Rosana de Fatima Moretti Pinheiro RA8742111672

Itatiba -SP
Junho - 2017

Sumário
Resumo ....................................................................................................... 2
Introdução ................................................................................................... 3
1. O papel da educação infantil no Referencial Curricular Nacional......... 4
1.1 Contribuição do brincar para o desenvolvimento da criança............ 6
2. Brincadeiras e jogos na educação infantil e sua importância para a
aprendizagem..............................................................................................
10
2.1O brincar, a alfabetização e o letramento na educação infantil........... 13
3. Considerações Finais.............................................................................. 16
Referências Bibliográficas........................................................................... 18

Resumo
Este artigo de caráter bibliográfico pretende retomar e discutir a importância do brincar para o
desenvolvimento da criança na educação infantil, especialmente na fase dos 4 a 5 anos, tida
como “pré-escolar”. Isso porque jogos e brincadeiras, quando planejados e pensados
previamente, podem se tornar importantes aliados no desenvolvimento integral da criança em
seus aspectos afetivos, psicomotores, cognitivos, etc. Para compreender como o brincar na
educação infantil pode se fazer presente no cotidiano das crianças da segunda infância que
frequentam instituições escolares, optamos por uma pesquisa de caráter bibliográfico que teve
como foco analisar dois tipos de documentos distintos: o primeiro é o documento Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (MEC, 1998) e As “Orientações para a inclusão
da criança de seis anos no ensino fundamental” (MEC, 2007). Além disso, buscarmos em
referenciais teóricos que tratam da temática brincar na educação infantil. Assim, tivemos
como objetivo compreender como esse tema é descrito e como os autores descrevem o
desenvolvimento da criança de forma integral e o papel da brincadeira nesse processo.
Também procuramos identificar quais são os procedimentos e brincadeiras selecionados para
essa etapa que podem melhor preparar a criança para o ingresso no ensino fundamental.

Palavras-chave: educação infantil; desenvolvimento integral; brincar.


3

Introdução

A fase da educação infantil (que compreende de 0 aos 5 anos) é aquela onde ocorre
muitos processos do desenvolvimento da criança. É nesta fase que a criança aprende a
conviver com outras pessoas além da família, aprende a enxergar o mundo e também desperta
o gosto por aprender. Por muito tempo a educação infantil era vista apenas como local onde as
crianças iam para brincar e/ou para serem cuidadas, eram as “escolinhas” ou “creches”.
Segundo Paschoal e Machado (2009), as creches foram criadas a partir da década de
60 quando as mulheres começaram a ocupar novos papeis no mercado de trabalho que até
então se limitava aos serviços domésticos. Com a industrialização, as mulheres passaram
também a serem contratadas na indústria e é foi aí que as creches surgiam, para dar suporte às
mães que precisavam trabalhar fora. A função desse espaço era até então dar os devidos
cuidados em relação à higiene e alimentação às crianças enquanto suas mães trabalhavam.

Do ponto de vista histórico, a educação da criança esteve sob a


responsabilidade exclusiva da família durante séculos, porque era no
convívio com os adultos e outras crianças que ela participava das tradições e
aprendia as normas e regras da sua cultura. Na sociedade contemporânea,
por sua vez, a criança tem a oportunidade de frequentar um ambiente de
socialização, convivendo e aprendendo sobre sua cultura mediante diferentes
interações com seus pares. (PASCHOAL E MACHADO, P. 79, 2009).

Segundo as autoras, essa visão trazia para a educação infantil um caráter


necessariamente assistencialista em que as creches atendiam crianças de 0 a 5 anos visando
somente o cuidado e não eram reconhecidas como instituição escolar. Esses espaços então
chamados de creches transformaram-se gradativamente em Centros de Educação Infantil. Na
cidade onde atuamos como educadoras, as creches viraram as CMEI’s – Centros Municipais
de Educação Infantil. Neles, o objetivo principal é criar um espaço de ensino que permita a
aprendizagem e o desenvolvimento integral da criança.
Apesar disso, Pascoal e Machado (2009) ressaltam a educação infantil ainda se
preocupa com aspectos relacionados a higiene, sono, alimentação dentre outros cuidados, pois
estes são fatores essenciais nesta faixa etária para o desenvolvimento da criança. Entretanto,
desde a década de 90, tais preocupações deixaram de serem as únicas desde o momento em
que as creches não mais estavam vinculadas à Assistência Social e passaram a ser vistas
como espaços escolares, com objetivos, práticas e currículos próprios e passaram a estar
relacionadas às Secretarias de Educação.
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Atualmente, a educação infantil atende crianças em duas fases de desenvolvimento:


primeira e segunda infância. A primeira infância corresponde a fase de 0 aos 3 anos, a
segunda dos 4 e 5 anos. A partir do momento em que passou a fazer parte do processo
educacional, essas fases da criança começaram a ser vistas com função mais pedagógica em
que apenas o cuidar não era o suficiente, era preciso ensinar e educar e a criança passou a ser
vista como “aluno”.
Logo, a educação infantil ganhou finalidades pedagógicas em que a criança frequenta
não apenas para ser cuidada, mas também para ser ensinada e ter seu desenvolvimento de
forma integral sob os cuidados de profissionais pedagogos.
As transformações ocorridas na creche e a nova visão como espaço de educação
infantil ajudou também a repensar algumas práticas que até então eram feitas de forma
espontânea e sem intervenção pedagógica. O brincar é uma delas, já que antes era visto
apenas como uma forma de entretenimento e diversão, mas depois passou a ser visto com
significativa importância, já que passa a ser visto como oportunidade de aprendizado e
desenvolvimento.
Por esta razão, os objetivos nesta pesquisa são de abordar a temática brincar na
educação infantil, principalmente, pelo fato de as autoras atuarem como “professor de
desenvolvimento infantil” em um Centro Municipal de Educação Infantil na cidade de Itatiba
–SP. Iremos destacar o papel do brincar principalmente no desenvolvimento de crianças de 4
a 5 anos de idade, que é tida como a fase “pré-escolar” e responsável por preparar a criança
para ingressar no ensino fundamental.
Seguindo essa linha, optou-se por uma pesquisa de caráter bibliográfico que pretende
retomar dois dos principais documentos que norteiam as práticas da educação infantil no
Brasil: “Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil” (RCNEI) e também
o documento que orienta sobre a mudança do ensino fundamental de 9 anos e a entrada da
criança aos 6 anos nesta etapa: “Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a
inclusão da criança de seis anos de idade”. Paralelamente, também iremos retomar os estudos
dos autores que tratam do brincar na educação infantil. O objetivo principal dessa pesquisa é,
principalmente, compreender o papel do brincar na fase tida como “pré-escolar” para o
desenvolvimento integral da criança e, assim, associar os conhecimentos obtidos por meio
desse estudo à nossa prática profissional.
Assim, reconhecendo o brincar como uma atividade indispensável no cotidiano da
criança na educação infantil, procuraremos responder a questão: De que maneira os jogos e
brincadeiras na educação infantil contribuem para o desenvolvimento da criança na fase tida
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como “pré-escolar”?. Esta questão irá servir como norte para nossa análise bibliográfica
tanto dos documentos oficiais (Referenciais Curriculares Nacionais e Orientações) quanto dos
referenciais teóricos por nós selecionados.

1. O papel da educação infantil no Referencial Curricular Nacional


para a Educação Infantil (RCNEI)

No Referencial Curricular para a Educação Infantil (MEC/1998) consta que a


educação infantil é pertence à educação básica (educação infantil, ensino fundamental e
ensino médio). Nesse documento, a Educação Infantil está dividida dois momentos: creche
(atendimento de crianças de zero a três anos) e pré-escola (destinada a crianças de quatro a
seis anos). Atualmente, ela atende crianças de 0 a 5 anos, já que a entrada no ensino
fundamental ocorre a partir de 6 anos com a ampliação para o ensino fundamental de 9 anos.
Desde quando foi publicado, em 1998, o documento já sofreu várias mudanças até o
presente momento por meio de novas leis e diretrizes. A Educação Infantil não era tida como
ensino obrigatório, o que deveria ocorrer apenas para crianças a partir dos sete anos de idade.
No RCNEI (Brasil, 1998) a educação infantil era descrita como “[...] a primeira etapa da
educação básica e como direito de toda a criança de zero a seis anos de idade, sempre que
seus pais ou responsáveis assim o desejarem” ( RCNEI, 1998, p. 22).
Atualmente, matricular as crianças a partir dos 4 anos na educação infantil não é
apenas um direito, mas um dever dos pais e responsáveis. No ano de 2013 foi criada a
emenda constitucional 59 de 11/11 /2009 tornando obrigatória a matrícula de crianças a partir
dos quatro anos de idade na educação infantil, além de alterar também o ensino fundamental
para o ciclo de nove anos e, assim, fazendo com que as crianças ingressem no 1º ano aos seis
anos de idade e não sete como vinha sendo feito.
A educação infantil é composta por duas fases. A primeira (zero a três anos) e a
segunda de quatro a cinco anos; esta também é tida como “pré-escolar”, já que é nessa idade
que a criança começa a ser preparada para ser inserida no ensino fundamental, ou seja, para
ingressar, aos 6 anos, no 1º ano do ensino fundamental.
Trata-se de uma das fases mais importantes na vida escolar da criança, principalmente
porque é nela que ocorre a iniciação e preparação para o 1º ano do ensino fundamental, onde a
criança será alfabetizada e terá contato com outros conhecimentos sistematizados.
(OLIVEIRA, 2002). Portanto, embora muitas vezes desprestigiada, a educação infantil serve
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de base para a alfabetização e inserção da criança no mundo do letramento, preparação para a


escrita, dentre outros.
Segundo o RCNEI, a educação infantil ganhou novas funções adequadas ao contexto
atual e estas novas funções devem estar associadas a padrões de qualidade:
Essa qualidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as
crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concretamente,
nas interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às mais
diversas linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a
construção de uma identidade autônoma. (BRASIL- RCNEI, 1998, p. 23).

O documento também ressalta que a escola passa a assumir o novo significado de


educar em que
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar
com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso,
pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.
(BRASIL- RCNEI, 1998, p. 23).

As orientações sobre a educação infantil apresentadas pelo documento oficial que


devem direcionar todos os currículos dessa fase da infância deixam claros quais são os papeis
da educação infantil e que estes não se limitam ao cuidar. Para essas diretrizes, a escola de
educação infantil deve cumprir “[...] um papel socializador, propiciando o desenvolvimento
da identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações
de interação”. (BRASIL- RCNEI, 1998, p. 23).
Outro documento que nos propomos a analisar foi publicado em 2007 após ampliação
do ensino fundamental para nove anos. Trata-se das Orientações contidas no “Ensino
Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade”
publicadas pelo MEC.
Nele, os especialistas defendem que mesmo com o ingresso mais cedo das crianças ao
ensino fundamental, é indispensável que o seu direito de brincar permaneça inviolável, já que
“o brincar é da natureza de ser criança” (p. 9, BRASIL, 2007). Apesar de ser um direito e
amplamente defendido no mundo moderno, o documento ressalta que em países
subdesenvolvidos como o Brasil, o brincar ainda não é um direito amplamente respeitado
sendo muitas vezes substituído pelo trabalho infantil. . E por esse motivo a escola passa a ser
um espaço essencial para que a criança exerça esse seu direito fundamental, já que “apesar do
seu direito de brincar, para muitas o trabalho é imposto como meio de sobrevivência.”
(BRAISL, 2007, p.17).
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Segundo Borba (2007), o brincar é uma experiência não apenas de entretenimento,


mas de construção de identidade, pois é um momento em que a criança experimenta e produz
cultura. Para ela:

A experiência do brincar cruza diferentes tempos e lugares, passados, presentes e


futuros, sendo marcada ao mesmo tempo pela continuidade e pela mudança. A
criança, pelo fato de se situar em um contexto histórico e social, ou seja, em um
ambiente estruturado a partir de valores, significados, atividades e artefatos
construídos e partilhados pelos sujeitos que ali vivem, incorpora a experiência
social e cultural do brincar por meio das relações que estabelece com os outros –
adultos e crianças. Mas essa experiência não é simplesmente reproduzida, e sim
recriada a partir do que a criança traz de novo, com o seu poder de imaginar, criar,
reinventar e produzir cultura. (BORBA, p. 34, 2007)

Não raramente vimos discursos comuns de que a educação infantil seria apenas uma
fase em que “a criança só vai para a escola para brincar”. Entretanto, como vimos a partir da
pesquisa de análise bibliográfica feita previamente para a realização do trabalho, o brincar é
um significativo processo no desenvolvimento da criança. É algo que ela faz naturalmente em
qualquer ambiente, mas, na escola, ele tem relevância significativa em sua aprendizagem se
for direcionado. É justamente sobre esse desenvolvimento e importância do brincar para ele
que trataremos na seção seguinte.

1.1 Contribuição do brincar para o desenvolvimento da criança

Segundo Moyles (2002), a segunda fase da educação infantil ganhou certa


credibilidade a partir do momento que a sociedade passou a perceber que ela antecede o
ensino fundamental, ou seja, seu caráter pré-escolar que ocorre a partir dos quatro anos, já que
a criança fica mais próxima de ser alfabetizada e, por esse motivo, é nessa faixa etária que ela
começaria, de fato, a ser preparada para o ensino fundamental.
É contraditório, porém, pensar que se trata de uma fase em que as vivências lúdicas
por meio dos jogos e brincadeiras experimentadas pelas crianças não tenham caráter
pedagógico. Ao contrário, é por meio delas que a criança vai aprendendo, ainda que sem
perceber.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, educar
significa:
[...] propiciar situações de cuidados, brincadeiras, aprendizagens
orientadas de forma integrada e que possa contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de
8

ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito


e confiança. (1998, p. 23).

A proposta nacional destinada à educação infantil reconhece que educar a criança é


necessário levar em conta a questão do brincar e da brincadeira enquanto atividades
direcionadas que propiciem o seu desenvolvimento.
A autora enfatiza também que as crianças devem ser colocadas em contato com
oportunidades de aprendizagem baseadas no brincar, atividades estas que devem ser centrais
na aprendizagem e no ensino durante a infância. Ela acrescenta que, “seria uma grande
realização educar crianças pequenas para que se tornassem adultos com esse senso de
curiosidade e divertimento.” (MOYLES, p. 93).
A autora destaca que a sala de aula, em especial na educação infantil, não precisa ser
aversiva, monótona ou chata e que desenvolver o brincar atrelado à aprendizagem é
promover, na integralidade, oi aprendizado de todos os aspectos cognitivos, sociais,
psicomotores da criança. Assim, “[...] negligenciar ou ignorar o papel do brincar como meio
educacional é negar a resposta natural da criança ao ambiente e, na verdade, à própria vida!”
(p. 94)
O ser humano passa por um processo de desenvolvimento que vai desde as primeiras
semanas de gestação no útero materno até o último dia de vida. No útero da mãe, o bebê se
desenvolve biologicamente em diferentes etapas e, dependendo das condições desse
desenvolvimento, nascerá saudável e com as condições físicas e neurológicas adequadas. Mas
é fora do útero, através do contato com outras pessoas, que a criança passa se desenvolver em
outros aspectos: o desenvolvimento, como o cognitivo, o emocional, o social, o linguístico,
etc.
Segundo Portugal (2009), “as bases do desenvolvimento nos seus diversos aspectos
físicos, motores, sociais, emocionais, cognitivos, linguísticos, comunicacionais, etc.”
(PORTUGAL, 2009, p.7) ocorrem nas primeiras fases da infância. Ainda a esse respeito,
Dias, Correia e Marcelino (p. 10) afirmam que “este processo de mudança, que resulta da
interação entre as características biológicas de cada indivíduo e os fatores contextuais onde o
indivíduo se encontra inserido (sociedade e cultura), é denominado por desenvolvimento
humano”.
Os autores também explicam que o desenvolvimento humano não ocorre de forma
espontânea, mas sim a partir das mediações às quais a criança será colocada em contato . No
caso das crianças, em especial, o papel do adulto é fundamental para que haja
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desenvolvimento em seus aspectos emocionais, cognitivos, físicos, motores, psíquicos,


linguísticos etc. Portugal (2009, p. 42) ainda explica que:
O período da infância e as primeiras experiências de vida do ser humano enquanto
criança determina aquilo que o ser humano será enquanto adulto, pois é nesse
período que o sujeito aprende sobre si, sobre os outros e sobre o mundo.
(PORTUGAL, 2009, p. 42).

Assim, entende-se que na escola é onde terão as primeiras mediações não espontâneas
com as crianças, como ocorre em casa, por isso, aquilo que elas aprendem nessa fase da vida
(educação infantil) será de extrema importância para as fases seguintes.
Segundo Perrenoud (1999), é o contato com as pessoas próximas que faz com que as
crianças tenham ou não determinados progressos em seu desenvolvimento. Nesse sentido, por
se tratar de crianças que estão em idade escolar em nível de educação infantil, as ações
educativas com as quais serão colocadas em contato são essenciais para os resultados desse
desenvolvimento.
Já para Piaget (1978), é por meio da brincadeira que a criança constrói o significado
sobre ela mesma e sobre o mundo. A fase da infância pré-escolar é o momento de a criança
explorar ao máximo tudo que está presente a sua volta e isso ocorre por meio da brincadeira.
É e nesse processo de exploração que ela se desenvolve. Ele defende que ao brincar não é
apenas uma forma de entretenimento, mas sim uma importante ferramenta para o
desenvolvimento integral da criança.
Por desenvolvimento integral, Tavares et. al (2007) informam três áreas de
desenvolvimento na criança que merecem especial atenção por parte daqueles que serão seus
mediadores. São eles: 1) desenvolvimento físico-motor, 2) desenvolvimento psicossocial e 3)
desenvolvimento cognitivo. O primeiro se refere à capacidade da criança em adquirir
coordenação motora (fina e grossa), domínio do corpo, equilíbrio, etc. O segundo tipo de
desenvolvimento diz respeito à capacidade da criança de interagir no meio em que vive, saber
lidar com suas emoções, frustrações, regras do ambiente, etc. O terceiro se relaciona ao
desenvolvimento intelectual, capacidade de leitura, escrita, letramento e de adquirir novos
conhecimentos.
Apesar de classificados separadamente, todos esses tipos de desenvolvimento ocorrem
de forma simultânea, mas o maior ou menor desenvolvimento de cada um dele irá depender
das condições da criança, do meio em que ela vive e das mediações que ele tem. Todas elas
devem ser alvo da aprendizagem na escola, principalmente porque se acredita no
desenvolvimento integral.
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Segundo o RCNEI,
O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que envolvem
a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a
qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma como esses
cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados.
(BRASIL- RCNEI, 1998, p. 24).

Assim, sendo a educação infantil uma fase bastante cercada pelos jogos e brincadeiras,
acredita-se que estes devem ser usados em benefício do desenvolvimento integral da criança.
Segundo Trajano (2005, p. 6),
O desenvolvimento da criança pelo brincar se dá de inúmeras formas. Brincar dá
oportunidade à criança de imaginar situações, dramatizar, negociar papéis, tomar
decisões, combinar regras, aceita-las ou não, frustrar-se, esperar sua vez, entre
outras construções do mundo. Isso faz com que a criança fique mais autônoma,
consciente de suas ações e com a capacidade de planejar estratégias de ação dentro
das regras da brincadeira. (TRAJANO, 2005, p. 6).

O autor também explica que ao brincar com outras crianças é que ocorre a
comunicação verbal e simbólica e é neste momento que elas “[...] socializam suas ideias,
entram em conflito umas com as outras, aprendem novas brincadeiras, acrescentam novos
comportamentos a seu repertório.” (TRAJANO, 2005, p. 6). Dessa maneira, as brincadeiras e
jogos trazem vantagens sociais, cognitivas, afetivas e motoras ao desenvolvimento da criança.
Outro autor que trata sobre o desenvolvimento da criança é Vigotsky (1999). Para ele,
a brincadeira é uma forma de a criança agir no mundo e interagir com quem está a sua volta e
que é por meio dessa interação que ela se desenvolve. Como as brincadeiras têm por base as
regras, estas ajudarão as crianças em seu comportamento e ela aprenderá a internalizar regras
de conduta, valores, maneiras de agir e de pensar. Por exemplo, em uma simples brincadeira
de pega-pega, a criança aprenderá que não pode tocar no corpo do colega com agressividade
ao pegá-lo e isso a ajuda construir sua conduta moral.
De maneira geral, as brincadeiras e jogos ajudam a criança a construir o seu
desenvolvimento cognitivo. O autor destaca que:

No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de


sua idade, além de seu comportamento diário, no brinquedo é como se ela fosse
maior do que na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo
contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele
mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento (VYGOTSKY, 1999, p. 134-135). 
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Outra função do brincar destacada por Vygotsky (1984) é a formação do pensamento.


Para ele, é o ato de brincar, jogar e interagir com os pares que faz a criança acionar suas
capacidades cognitivas, visual, auditiva, tátil, motora, etc.
Mas, um aspecto de suma importância que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo
e que deve ser destacado para a educação infantil é sobre o que as brincadeiras permitem em
relação ao desenvolvimento da capacidade linguística das crianças. Como é por meio do
brincar com jogos e brincadeiras que a criança interage com os outros, também é neste
momento que ela irá desenvolver sua capacidade de comunicação, seja com ela mesma (por
exemplo, na brincadeira do faz-de-conta quando a criança brinca sozinha e fala sozinha) ou
com os outros. Sobre isso, Tavares ( 2007) diz que:

A par destas transformações começam a surgir as primeiras palavras e,


posteriormente, as primeiras frases. Esta crescente capacidade linguística traz
inúmeras implicações ao nível da comunicação com os outros. A criança começa a
conversar, a questionar, a querer saber sempre mais, numa tentativa de
compreender o mundo que a rodeia. TAVARES et. al (2007, p. 65)

Assim, tais habilidades só são possíveis quando ocorre o desenvolvimento cognitivo.


Quando esses comportamentos não notados por ela e usados em outras situações significa que
sua cognição tem capacidade, ou seja, inteligência para usar os sinais para a comunicação
(OLIVEIRA, 2002).
Dessa maneira é preciso reconhecer que o desenvolvimento infantil ocorre pela
mediação da criança com os professores e dela com os outros pares. (OLIVEIRA, 2002).
Portanto, o papel do educador na fase da educação infantil vai além do cuidar e ganha uma
responsabilidade que classificamos como “mediador do desenvolvimento”. Cabe ao professor,
então, organizar situações de aprendizagem capazes de levar a criança ao desenvolvimento
integral e, principalmente, torná-la apta para as demais etapas escolares. Dentre as
intervenções mediadas pelo professor, a brincadeira e brincar têm fundamental importância.

2. Brincadeiras e jogos na educação infantil e sua importância para a


aprendizagem

A etapa da educação infantil, especificamente das crianças de 4 e 5 anos, é


fundamental para a preparação da criança que irá ingressar no ensino fundamental aos 6 anos.
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Mas, ao mesmo tempo em que se trata de uma fase de extrema importância, é também um
momento em que a criança vivencia experiências lúdicas e que o ensino como ocorre no
ensino fundamental ainda não é o eixo principal.
Segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI, 1998), a
educação infantil pressupõe vários direitos da criança, dentre eles, destaca-se “[...] o direito
das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e
comunicação infantil” (RCNEI- BRASIL, 1999). Ainda a esse respeito, Kishimoto (2016,
0’46) afirma que “A criança hoje é vista como uma cidadã com direitos. E direito à
brincadeira e ao brinquedo. É uma concepção da infância no contexto atual”.
A garantia desse direito deixa claro que o brincar deve fazer parte do cotidiano da
educação infantil e que o acesso ao brinquedo e à brincadeira deve estar facilitado pela
criança, seja na brincadeira livre ou mediada. (KISHIMOTO, 2016). Segundo a pesquisadora
e professora da USP, a brincadeira pressupõe várias ações, como a exploração, a decisão, a
imitação, o desenvolvimento da linguagem, a apropriação das regras, dentre outros.
Kishimoto (2016, 7’45) afirma que “Em toda culturas as formas de brincar são
diferentes. [...] Brincar é uma coisa aprendida. Nos jogos de regra a criança aprende a brincar
com o outro, a partilhar, enfrentar conflitos, expressar afetividade, lidar com frustrações etc.”.
Mas além do convívio social, a autora destaca que o brincar permite o raciocínio matemático,
espacial, de linguagem, dentre outros, que serão essenciais ao convívio em sociedade em que
a criança assumirá diferentes papeis e na integração da criança no processo de escolarização,
em que esses conhecimentos e habilidades serão necessários. Entretanto, o aspecto lúdico que
é tão importante para o desenvolvimento da criança tende a ser esquecido com o avançar das
séries escolares.
Segundo as orientações elaboradas pelo MEC (BRASIL, 2007) sobre o ingresso da
criança no ensino fundamental de nove anos, a ludicidade deve ainda fazer parte do cotidiano
da criança, principalmente porque:

A ludicidade pode ser utilizada como forma de sondar, introduzir ou reforçar os


conteúdos, fundamentados nos interesses que podem levar o aluno a sentir
satisfação em descobrir um caminho interessante no aprendizado. Assim, o lúdico é
uma ponte para auxiliar na melhoria dos resultados que os professores querem
alcançar. (BRASIL, 2007).

Segundo Silva (2016), em seu artigo intitulado de “A importância do lúdico no


processo de alfabetização das crianças” produzido para a página da Fundação Telefônica,
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[...] o processo de alfabetização de crianças em ambiente escolar ainda é marcado


por aulas com caráter simultâneo, onde o educando fica sentado escutando o que o
educador fala. Apesar dos grandes avanços, tais como aumento do acesso de
crianças à escola e inserção de políticas que visam a avaliação da qualidade do
ensino, ainda se fazem necessárias mudanças e melhoria de resultados no Processo
de Ensino Aprendizagem. (SILVA, 2016, s/p.).

Ou autor também destaca que embora a legislação garanta o ingresso cada vez mais
cedo das crianças na educação formal, algumas práticas educativas acabam desrespeitando o
direito da criança ao brincar, uma vez que a extrema preocupação em alfabetizar acaba por
limitar práticas mais lúdicas de aprendizagem. O autor acrescenta ainda que “[...] é preciso
que se reveja as práticas educativas, que na maioria das vezes, limita a criatividade,
autoestima, autonomia e participação infantil, fundamentais para o desenvolvimento da
criança.” . (SILVA, 2016, s/p.).
Para ele, “[...] o processo de alfabetização de crianças deve ser realizado com prazer e
construção e que a estratégia lúdica vem se configurando como uma importante ferramenta
para o desenvolvimento infantil e aquisições formais.”.
Kishimoto (2016) também destaca que o brincar de qualidade pressupõe um efetivo
trabalho do professor por meio das mediações. É fundamental que o professor observe o
brincar da criança, disponibilizando recursos adequados para a evolução da brincadeira, seja
na disposição de elementos da “ brincadeira livre”, como no faz-de-conta ou nos jogos, em
que o papel do professor é retomar as regras, intervir nos conflitos, propor soluções, reflexões
etc.
Para a autora, há quatro elementos fundamentais para a brincadeira: materiais-
estrutura-professor-mediação. E isso só vai ocorrer mediante a implantação de uma política
pública que tenha a concepção de brincar como elemento essencial para o desenvolvimento
infantil. Além disso, a autora afirma que a mediação no brincar na educação infantil só é
possível de ser feita quanto o brincar consta nos aspectos do planejamento e que passam a
integrar os objetivos de aprendizagem do professor. A partir disso, os jogos e brincadeiras
passam a ser pensados, planejados e refletidos e só então podem ser observados pelo professor
como ferramenta de aprendizagem.
A autora acrescenta ainda que:

Por meio de uma aula lúdica, o aluno é estimulado a desenvolver sua


criatividade e não a produtividade, sendo sujeito do processo pedagógico.
Por meio da brincadeira o aluno desperta o desejo do saber, a vontade de
14

participar e a alegria da conquista. Quando a criança percebe que existe uma


sistematização na proposta de uma atividade dinâmica e lúdica, a brincadeira
passa a ser interessante e a concentração do aluno fica maior, assimilando os
conteúdos com mais facilidades e naturalidade. (KISHIMOTO, 1999).

Silva (2016) destaca ainda que os jogos e brincadeiras nesta fase devem ter base
pedagógica, isto é, cabe aos professores compreender a sua funcionalidade para colocar o
brincar no cotidiano escolar:

O educador deve ser mediador e considerar as necessidades de seus alunos, a


bagagem de conhecimento, as vivências que cada um traz para o ambiente escolar,
utilizando o lúdico como uma atividade complementar à “atividade pedagógica”, e
não apenas como um momento de entretenimento, de distração para as crianças no
recreio e, portanto, de “descanso” para os docentes.

2.1 O brincar, a alfabetização e o letramento na educação infantil

Como vimos, a educação infantil ganhou a grande responsabilidade no processo de


preparação da criança para o ingresso no ensino fundamental. O volume 3 do RCNEI-
BRASIL, 1998, já destaca as teorias de aprendizagem da leitura e escrita que devem ser
levadas em conta no processo de aprendizagem da educação infantil.
Segundo o documento,

Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa construir um conhecimento de


natureza conceitual: precisa compreender não só o que a escrita representa, mas
também de que forma ela representa graficamente a linguagem. Isso significa que a
alfabetização não é o desenvolvimento de capacidades relacionadas à percepção,
memorização e treino de um conjunto de habilidades sensório-motoras. É, antes,
um processo no qual as crianças precisam resolver problemas de natureza lógica
até chegarem a compreender de que forma a escrita alfabética em português
representa a linguagem, e assim poderem escrever e ler por si mesmas. (RCNEI-
BRASIL, 1998, p. 122).

O documento também defende, por meio do artigo de Leal, Albuquerque e Morais


(2007), que a apropriação do sistema alfabético de escrita deve ocorrer de maneira lúdica e
reflexiva. Para eles, a criança de seis anos está em uma fase de idade inquieta, “ em que já
não é uma pequena criança, e não é ainda uma criança grande” . (Leal, Albuquerque e Morais,
2007, p. 87). Mas, do ponto de vista escolar, é esperado que ela já tenha capacidade de ser
15

iniciada no processo formal de alfabetização, pois, segundo os autores, a criança de seis anos,
em geral e apesar das particularidades de cada uma delas,
[...] possui condições de compreender e sistematizar determinados conhecimentos.
Espera-se, também, que tenha condições, por exemplo, de permanecer mais tempo
concentrada em uma atividade, além de ter certa autonomia em relação à satisfação
de necessidades básicas e à convivência social. LEAL, ALBUQUERQUE,
MORAIS, 2007, p. 87).

Apesar dessa aparente condição adequada para ser alfabetizada, os autores destacam
que é preciso ter cuidado no processo de alfabetização e letramento, pois mesmo estando
aparentemente apta, a criança continua a ser criança e deve ter garantido o seu direito de
brincar. Eles dizem que:
[...] durante muito tempo o ensino do nosso sistema de escrita foi feito de uma
maneira mecânica, repetitiva, na qual os estudantes eram levados a memorizar
segmentos das palavras (letras ou sílabas) ou mesmo palavras inteiras, sem
entender a lógica que relacionava as partes pronunciadas (pauta sonora) e a
sequência de letras correspondente. ( LEAL, ALBUQUERQUE, MORAIS,
2007, p. 78).

Hoje, entretanto, há diversas teorias que defendem que a apropriação da escrita não
precisa ser feita de maneira mecânica, mas sim pelo contato com a diversidade de textos
presentes no cotidiano da criança, como as propagandas, revistas, canções etc. Além disso, a
associação do som aos fonemas pode ser feito por meio de jogos e brincadeiras com o
objetivo de alfabetizar. Eles se dividem em três tipos:
(i) os que contemplam atividades de análise fonológica sem fazer correspondência
com a escrita; (ii) os que possibilitam a reflexão sobre os princípios do sistema
alfabético, ajudando os estudantes a pensar sobre as correspondências grafofônicas
(isto é, as relações letra-som); (iii) os que ajudam a sistematizar essas
correspondências grafofônicas. (LEAL, ALBUQUERQUE, MORAIS, 2007,
p. 80).

Para os autores, atualmente, há vários estudos que permitem associar as brincadeiras e


jogos ao processo de alfabetização. Leal, Albuquerque e Morais (2007) explicam que os
textos de maneira geral já favorecem o trabalho com o lúdico por seu caráter simbólico e por
permitirem o desenvolvimento da imaginação e da criatividade das crianças. Eles destacam o
papel do texto literário, como os contos, por exemplo, que permitem à criança recriar as
histórias ouvidas, o que já representa sua inserção no mundo do letramento.
Para os autores, há diversas formas de inserir a criança de maneira lúdica ao universo
do letramento e da alfabetização: “[...] quando cantamos músicas e cantigas de roda,
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recitamos parlendas, poemas, quadrinhas, desafiamos os colegas com diferentes adivinhações,


estamos nos envolvendo com a linguagem de uma forma lúdica e prazerosa.” (LEAL,
ALBUQUERQUE, MORAIS, 2007, p. 80).
Há também diferentes tipos de jogos que fazem parte da cultura popular e envolvem a
linguagem, sendo facilitadores para o desenvolvimento do letramento de maneira lúdica.
Exemplo disso, são os jogos de forca, adedonha (popularmente conhecido como “stop”),
palavras cruzadas e outros jogos envolvem a formação de palavras. (LEAL,
ALBUQUERQUE, MORAIS, 2007).
Diversos outros estudos têm se dedicado a desenvolver jogos e brincadeiras em favor
da ludicidade na alfabetização e no letramento de crianças em diferentes fases de aquisição da
escrita. Recentemente, em 2013 o Centro de Estudos em Educação e Linguagem da
Universidade Federal de Pernambuco produziu e cedeu para o MEC a chamada “Caixa Jogos
de Alfabetização” e seu respectivo “Manual Didático” 1 que contém diferentes jogos que para
ajudar professores e levarem as crianças a pensarem sobre as partes sonoras e escritas das
palavras, como o Jogo “Caça-rimas”, em que a criança precisa identificar figuras cujos
nomes terminam de forma parecida em relação ao som; o “Palavra dentro de palavra”, em que
as crianças precisam identificar palavras menores dentro de palavras maiores, como tucano
(cano), casa (asa), dentre outros.
Esses exemplos nos permitem percebem que a alfabetização e o letramento na
educação infantil não precisam ocorrer de forma mecânica e que o brincar por meio dos jogos
e brincadeiras devem continuar pertencendo ao universo infantil na fase da educação infantil.

3. Considerações Finais

Neste artigo, tivemos por objetivo discutir o papel do brincar na educação infantil,
especificamente na fase II que compreende crianças de 4 e 5 anos tidas como fase “pré-
escolar”. Para atingir esse objetivo, fizemos uma pesquisa bibliográfica que visava analisar
dois tipos de documentos: os de caráter teórico produzido por especialistas na área e os de
caráter governamental elaborado pelo MEC para traçar as diretrizes da educação infantil.
Organizamos este trabalho buscando responder a seguinte questão: De que maneira os
jogos e brincadeiras na educação infantil contribuem para o desenvolvimento da criança na
fase tida como “pré-escolar”?

1
Os materiais citados estão disponíveis no site “Plataforma do Letramento” em: http://www.plataformadoletramento.org.br/acervo-para-
aprofundar/248/manual-didatico-jogos-de-alfabetizacao-ceel-ufpe.html. Acesso em 25.05.2017.
17

Pudemos notar que a importância do brincar é consenso entre os autores que tratam
desse tema. O primeiro aspecto a ser destacado é que o brincar por meio dos jogos e
brincadeiras ganhou novo significado a partir do momento em que a educação infantil deixou
de ser uma etapa da educação em que o primordial era o brincar. Ao se ter caráter pedagógico
em vez de assistencialista, a educação infantil passou a ser vista como etapa essencial (e
obrigatória perante a lei) para o desenvolvimento da criança em todos os seus aspectos:
afetivos, sociais, psicomotores e cognitivos.
Mas, se de um lado a educação infantil ganhou a função de “educar”, por outro, o
brincar não poderia deixar de ser um direito da criança a ser respeitado e estimulado nesses
espaços. Afinal, por meio dos jogos e brincadeiras é que a criança pode conseguir ter seu
desenvolvimento e o brincar passa a funcionar como um importante aliado no processo de
aprendizagem.
Na etapa “pré-escolar” (4 e 5 anos) que antecede a entrada da criança no ensino
fundamental, o brincar ganha também a responsabilidade de ajudar nos processos de
desenvolvimento cognitivo, como a alfabetização e o letramento. Assim, dada a
complexidade de desenvolvimento integral, o papel do brincar acaba se tornando uma
estratégia que media o desenvolvimento.
Independentemente de ser um brincar livre ou dirigido, ele precisa estar presente no
espaço educacional enquanto atividade lúdica e também pedagógica, não apenas como forma
de entretenimento da criança, mas sim como possibilidade de observação dos professores, que
acabam tendo a responsabilidade ainda maior na reflexão sobre o papel do brincar.
Um ponto fundamental que a pesquisa feita trouxe, é o papel do brincar na fase de
alfabetização, uma vez que por meio dele a criança cria habilidades de concentração,
socialização, resolução de conflitos, internalização de regras, dentre outros, que são de muita
importância na aquisição da escrita. No caso desse processo, os textos e a criatividade e
imaginação que eles permitem desenvolver devem substituir os processos mecanizados e
automáticos de aquisição da escrita. Além disso, como vimos, há inúmeros jogos, brincadeiras
e situações lúdicas envolvendo palavras, frases e textos, o que permite à criança entrar no
universo do letramento de forma prazerosa e lúdica.
Por fim, esta pesquisa ajudou a nos despertar para a responsabilidade da etapa da
educação infantil em que atuamos, principalmente por nos fazer perceber que é indispensável
o papel do professor nas mediações do brincar. Além disso, nos serviu como uma injeção de
autoestima, já que reconhecemos que a educação infantil não deve ser vista como menor ou
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menos importante. Assim, descobrir o lugar do brincar na educação infantil é também


reconhecer o nosso próprio lugar e papel na educação enquanto educadoras.

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