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Colestase neonatal 3

Tabela 1: Definições de colestase


COLESTASE

Fisiopatologia Diminuição do fluxo da bile

Clínica Icterícia, colúria, acolia fecal, prurido e xantomas

BD mg/dL, se o nível de bilirrubina otal (BT) mg/dL ou BD mg/dL ou maior que 0 do


Laboratorial total, se BT > 5 mg/dL
Aumento: GGT, FA, concentrações séricas dos ácidos biliares e do colesterol
Acúmulo de pigmento bilirrubínico nos hepatócitos e canalículos biliares e achados relacionados
Histopatologia
à etiologia
Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Pediatria, 2017

Assim, o metabolismo da bilirrubina envolve 6 passos importantes: a formação da BI nas


células do retículo endotelial; o transporte da BI pelo plasma, ligada à albumina; a captação da
BI pelo hepatócito; a conversão da bilirrubina não conjugada em conjugada, no hepatócito; o
transporte da bilirrubina conjugada pela membrana biliar; e o fluxo da bilirrubina pelo sistema biliar
até o intestino. A alteração em qualquer um desses passos pode ocasionar a icterícia.
De modo resumido, a icterícia pode ocorrer por: aumento da produção da bilirrubina,
diminuição de sua captação, redução da conjugação pelos hepatócitos e/ou diminuição da sua
secreção. Os três primeiros processos cursam com elevação da bilirrubina não conjugada (BI),
enquanto o último se apresenta com aumento da bilirrubina conjugada (BD). Assim, definir se a
condição é decorrente do aumento da BI ou da BD é o primeiro passo importante para o
diagnóstico diferencial do paciente ictérico.
A diferenciação entre causas intra-hepáticas e extra-hepáticas é de grande importância, pois as
afecções extra-hepáticas são passíveis de tratamento cirúrgico que, se instituído precocemente, poderá
prevenir lesão permanente do fígado e melhorar a sobrevida. As principais causas são a atresia biliar
(25%) e a hepatite neonatal idiopática (15%). As demais são: deficiência de alfa-1-antitripsina (10%),
doenças metabólicas (20%), infecções virais (5%) e causas hereditárias de colestase intra-hepática, como
síndrome de Alagille, colestase intra-hepática familiar progressiva (PFIC) e erro inato do metabolismo
dos ácidos biliares (25%).
A atresia biliar é caracterizada por obstrução das vias biliares extra-hepáticas e colangiopatia
progressiva das vias biliares intra-hepáticas. A hepatite neonatal idiopática constitui distúrbio colestático
intra-hepático do lactente, sem que se identifique a causa básica. Abrange, certamente, diversas doenças
ainda não individualizadas.
Colestase neonatal 5

Tabela 2: Causas extra-hepáticas de Colestase Neonatal


CAUSAS EXTRA-HEPÁTICAS
Anormalidades anatômicas das vias biliares Compressão extrínseca Litíase biliar

Atresia de vias biliares Por organomegalia


Cisto do colédoco
Por anomalias congênitas
Perfuração espontânea das vias biliares
(exemplo: cisto hepático)
Estenose do colédoco terminal
Fonte: Sociedade de Pediatria de São Paulo, 2007-2009

Tabela 3: Causas intra-hepáticas de Colestase Neonatal

CAUSAS INTRA-HEPÁTICAS
Tóxico-
Mecânicas Infecciosas Genético/ Metabólicas Autoimune Outras Idiopática
medicamentosa
Bactérias:
Micobacterium
tuberculosis,
Hipoplasia das Chlamydia
Aminoácidos: Nutrição
vias biliares trachomati, Isquemia
tirosinemia, hipermetioninemia, etc parenteral
intra-hepáticas Listeria
monocytogenes,
Treponema
pallidum, etc
Fibrose Vírus:
hepática CMV, coxsackie
Lipídios: doença de Wolman, doença de
congênita/ B, rubéola, HSV, Medicamentos
Niemann-Pick, doença de Gaucher etc.
Doença de HBV, varicela
Caroli Zoster, etc
Carboidratos: galactosemia, intolerância
Colangite
hereditária à frutose, doenças de acúmulo
Esclerosante MOB
de glicogênio.
Primária
Heme e metais: doença de Wilson, doença
de Menkes; doença de acúmulo de ferro
idiopática do período neonatal
(hemocromatose neonatal). Neoplasia
Dilatação focal Protozoários: Outras: deficiência de α-1-antitripsina,
dos dutos T. cruzi, fibrose cística, síndrome de Zellweger; Doença
biliares intra- Toxoplasma colestase recorrente benigna, colestases veno-oclusiva
hepáticos gondii, etc intra-hepáticas familiares progressivas,
colestase com linfedema (Síndrome de
Aagenaes), colestase dos índios norte-
americanos, hipoplasia sindromática de
vias biliares intra-hepáticas (síndrome de
Alagille), erros inatos do metabolismo de
ácidos biliares, mitocondriopatias,
hipopituitarismo, hipotireoidismo etc.
Fonte: Sociedade de Pediatria de São Paulo, 2007-2009
O objetivo inicial da abordagem diagnóstica é identificar situações que ameaçam a
vida e que têm possibilidade de tratamento. Além disso, minimizar as consequências da
colestase, como o risco de hemorragia pela deficiência de vitamina K.

Atresia biliar (forma perinatal): bom peso ao nascimento, icterícia, acolia e


colúria, sem outras alterações no exame físico.

Atresia biliar (forma embrionária): poliesplenia, cardiopatia congênita, má


rotação intestinal, situs inversus.

Infecções congênitas: baixo peso ao nascer, microcefalia, púrpura e


coriorretinite.

Cromossomopatias: alterações dismórficas.

Erros inatos do metabolismo: irritabilidade, vômitos, letargia, sinais de


hipoglicemia e acidose metabólica.

Anormalidades neurológicas: presentes na síndrome de Zellgewer, nas


mitocondriopatias e como consequência de complicações, como os episódios de
hipoglicemia, hiperamonemia e hemorragia intracraniana.

Exames complementares: devem ser solicitados conforme a principal suspeita,


direcionada pelos achados clínicos. Objetivam avaliar a presença de colestase e definir
a gravidade da doença e do acometimento hepático e também definir o diagnóstico
etiológico. A campanha do Alerta Amarelo orienta que todo RN que persistir com
icterícia com idade igual ou maior que 14 dias deve ser avaliado do ponto de vista clínico
(global e coloração das fezes e urina) e laboratorial (bilirrubinas). Se as fezes foram
“suspeitas” ou a criança apresentar aumento de BD, a criança deve ser encaminhada
para serviços especializados.

Tabela 4: Abordagem diagnóstica da criança com colestase neonatal

Exames complementares
Hemograma, bilirrubina total e frações, ALT, AST, FA, GGT, INR,
Investigação inicial eletroforese de proteínas, alfafetoproteína, glicemia de jejum,
gasometria, EAS, urocultura
USG de abdome, cintilografia de vias biliares, pesquisa de
substâncias redutoras na urina, espectrometria de massa tandem,
Avaliação do diagnóstico etiológico
sorologias (TORCH, HBV e HCV), α-1-antitripsina sérica (nível sérico
e/ou fenotipagem), T4 e TSH, cloretos no suor, cariótipo e outros
exames, avaliação oftalmológica (pesquisa de catarata,
coriorretinite e embriotoxo posterior), biópsia hepática), etc
Fonte: Adaptada da Sociedade Brasileira de Pediatria, 2017

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