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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências


Sociais Aplicadas (CECS)

BC-1105: MATERIAIS E SUAS PROPRIEDADES

COMPORTAMENTO MECÂNICO
DOS MATERIAIS
Propriedades Mecânicas dos Materiais : Introdução
IMPORTÂNCIA
• Aplicações onde são necessárias solicitações mecânicas.
• Atender as exigências de serviço previstas.

POR QUÊ ESTUDAR?

• A determinação e/ou conhecimento das propriedades mecânicas é


muito importante para a escolha do material para uma determinada
aplicação, bem como para o projeto e fabricação do componente.

• As propriedades mecânicas definem o comportamento do material


quando sujeitos à esforços mecânicos, pois estas estão relacionadas à
capacidade do material de resistir ou transmitir estes esforços
aplicados sem romper e sem se deformar de forma incontrolável.
Propriedades Mecânicas dos Materiais : Introdução

Descrevem o comportamento do material sob


carregamento mecânico (tração, compressão,
flexão e cisalhamento).

Fatores: natureza da carga aplicada, duração da


PROPRIEDADES aplicação, condições ambientais.
MECÂNICAS

Podem variar com a temperatura, tempo, nível


de solicitação, condições climáticas, etc.

Medidas através de testes padrões normatizados.


Propriedades Mecânicas dos Materiais : Introdução

PRINCIPAIS PROPRIEDADES MECÂNICAS


• Resistência à Tração
• Elasticidade
• Ductilidade
• Resistência ao impacto
• Fluência
• Fadiga
• Dureza
• Tenacidade

Cada uma dessas propriedades está associada à


habilidade do material de resistir às forças mecânicas e/ou
de transmití-las.
Como Determinar as Propriedades Mecânicas
dos Materiais?
• A determinação das propriedades mecânicas é feita através de
ensaios mecânicos.
• Utiliza-se normalmente corpos de prova (amostra representativa do
material) para o ensaio mecânico, já que por razões técnicas e
econômicas não é praticável realizar o ensaio na própria peça, que
seria o ideal.
• Geralmente, usa-se normas técnicas para o procedimento das
medidas e confecção do corpo de prova para garantir que os
resultados sejam comparáveis.
Conceitos de Tensão e Deformação
• O comportamento mecânico de um material reflete a relação entre a sua
resposta (ou DEFORMAÇÃO) a uma carga (ou TENSÃO) que esteja sendo
aplicada sobre um corpo fabricado deste material.
• Algumas propriedades mecânicas importantes são a resistência, a dureza, a
ductilidade e a rigidez.

• As deformações podem ser ELÁSTICAS ou PLÁSTICAS.

• As DEFORMAÇÕES ELÁSTICAS não são permanentes, isto é, são


deformações que desaparecem quando a tensão aplicada é retirada. Dito de
outra forma, as deformações elásticas são reversíveis, sendo resultado da
ação de forças conservativas.
• As DEFORMAÇÕES PLÁSTICAS são permanentes, isto é, permanecem após a
tensão aplicada ser retirada. Deformações plásticas são irreversíveis, sendo
acompanhadas por deslocamentos atômicos permanentes.
Conceitos de Tensão e Deformação
• As TENSÕES podem ser de TRAÇÃO, COMPRESSÃO, CISALHAMENTO ou
TORÇÃO.

TRAÇÃO COMPRESSÃO CISALHAMENTO TORÇÃO

• Note que a tensão e a pressão são grandezas fisicamente análogas, ambas


tendo unidades de força dividida por área (no Sistema Internacional:
Newton/metro2).
Tensão - Deformação: TRAÇÃO SIMPLES
z • TRAÇÃO SIMPLES (TENSÃO UNIAXIAL):força aplicada sobre o
corpo é perpendicular as suas superfícies.
y
• Assumiremos que a reação à força de tração se distribui
x homogeneamente no sólido.
• TENSÃO DE ENGENHARIA σ
do
σ = F / Ao
d
• DEFORMAÇÃO DE ENGENHARIA ε
" = (l # l0 ) / l0 = $l / l0
• Na deformação por tração, normalmente ocorre:
alongamento ao longo do eixo de aplicação da força;

l0 ! ao longo dos dois outros eixos.


contração
l Para Deformações Elásticas:
• COEFICIENTE DE POISSON ν:
ν = - (εx / ε) = - (εy / ε)
! !
onde εx = εy = (do - d) / do = Δd / do .
Ao • MÓDULO DE ELASTICIDADE (MÓDULO DE YOUNG ou MÓDULO DE
RIGIDEZ)
σ = E.ε
Epolímeros ~ 1 GPa e Emetais e cerâmicas ~ 50 - 600 GPa
Tensão - Deformação: CISALHAMENTO SIMPLES

• CISALHAMENTO SIMPLES: força


aplicada sobre o corpo é paralela a
suas superfícies.
• TENSÃO DE ENGENHARIA τ
τ = F / Ao
• DEFORMAÇÃO γ

γ = tg θ
• MÓDULO DE CISALHAMENTO G

τ=G.γ
• Para materiais isotrópicos, no
regime elástico, vale a relação:
E = 2G (1 + ν)
Para muitos metais: G ~ 0,4 E
Ensaio de Tração
• Os CORPOS DE PROVA utilizados nos ensaios de tração podem ter diferentes formas
e dimensões.
• As medidas de TENSÃO são feitas com uma CÉLULA DE CARGA.
• As medidas de DEFORMAÇÃO são feitas com um EXTENSÔMETRO ou diretamente
sobre o corpo de prova.

Corpo
de Prova

CORPO DE PROVA

MÁQUINA DE ENSAIO
Curva Tensão - Deformação
Comportamento representativo da
LRT curva TENSÃO DE ENGENHARIA em
função da DEFORMAÇÃO DE

LE .

ENGENHARIA obtida num ENSAIO DE
TRAÇÃO de um corpo metálico.
.
TENSÃO (σ)

LP P
σ = F / Ao
ε = (l - lo) / lo = Δl / lo
• O ponto P corresponde ao
LIMITE DE PROPORCIONALIDADE
(LP); a deformação a partir do
ponto P é plástica, e antes do
0,2% εu εT
ponto P é elástica.
DEFORMAÇÃO (ε)

• O ponto Eε corresponde ao LIMITE DE LIMITE DE ESCOAMENTO (LE), que será discutido mais
adiante.
• O ponto M corresponde ao LIMITE DE RESISTÊNCIA A TRAÇÃO (LRT), que é a tensão máxima
atingida durante o ensaio.
• A deformação (εu) no ponto M corresponde ao máximo valor de ε com alongamento
uniforme. Deformações maiores que εu ocorrem com estricção (empescoçamento).
• A fratura ocorre no ponto F. A deformação (εT) na fratura corresponde ao alongamento total.
Curva Tensão - Deformação
• Em uma escala atômica, a DEFORMAÇÃO ELÁSTICA macroscópica é
manifestada como pequenas alterações no espaçamento interatômico
e na extensão de ligações interatômicas.
• Para a maioria dos materiais metálicos, as deformações elásticas
ocorrem até deformações de ~ 0,5%.
• Quando as deformações ultrapassam o limite de proporcionalidade, a
relação entre a tensão e a deformação deixa de ser linear (lei de
Hooke), produzindo-se deformação permanente, a chamada
DEFORMAÇÃO PLÁSTICA.
σ
• Na prática, muitas vezes, é difícil definir
a posição do ponto P com precisão. LE . Eε

Como conseqüência, geralmente se


define uma TENSÃO LIMITE DE
ESCOAMENTO (LE) como sendo a
tensão necessária para se produzir uma
pequena quantidade de deformação
plástica. Por exemplo, o ponto Eε
corresponde a uma deformação plástica
de ε = 0,002 = 0,2%.
ε
Curva Tensão - Deformação

Quando o fenômeno de escoamento não é nítido, a tensão de


escoamento é aquela necessária para promover uma deformação
permanente de X%.
Deformação Elástica
Curva Tensão vs. Deformação Força de Ligação vs.
σ Distância Interatômica
F
Átomos
fortemente ligados

Átomos
fracamente ligados
coeficiente angular =
módulo de elasticidade

ε
• Define-se o MÓDULO DE ELASTICIDADE
como sendo o coeficiente angular ! da • O módulo de elasticidade é
curva σ vs. ε, na região linear da curva. proporcional ao valor da derivada dF/dr
Como a curva tem origem no ponto no ponto r = r0.
(0,0),
• O módulo de elasticidade representa
σ = E.ε uma medida da intensidade das forças
(Lei de Hooke) de ligação interatômicas.
Deformação Elástica
Alguns materiais são elásticos mas não têm uma relação linear entre
tensão e deformação.
Curva Tensão - Deformação
σ
Porcentagem de
alongamento % ε T
LRT

$l # l0 '
%" T = & f ) x100
LE % l0 (

!
Porcentagem de
redução de área %RA

& A ' Af #
% RA = $$ O !! x100
% AO "

ε LE ε E ε ε
LR P ε T ε
(deformação (deformação
elástica total) plástica total)

• LE, LRT e E representam habilidades do material de suportar cargas em


diferentes condições.
• εLE, εE, εLR, εP, a resiliência e a tenacidade quantificam a habilidade do material
em se deformar.
Deformação de Engenharia e Deformação Real
• Consideremos uma amostra cilíndrica homogênea sujeita a uma tensão uniaxial
ao longo do eixo do cilindro. A área inicial da seção transversal da amostra é A0 e
seu comprimento é l0. Devido à aplicação da tensão, o comprimento da amostra
varia de a e la0 área de A0 a AN.l
N

F • A DEFORMAÇÃO DE ENGENHARIA ε vale


AN ! lN # l 0
! "= .
! l0
• Suponha agora, que a variação do comprimento da
amostra é feita em N passos de tal forma que:
N
l #l l #l l #l l #l
"R =! 1 0 + 2 1 + … + N N#1 = $ i i#1.
lN l0 l0 l1 l N#1 l i#1
i=1
Para N grande, podemos substituir a somatória por
uma integral
! ! ! lN dl lN
"R = # = ln = ln(" + 1).
l0 l l0
Ao
e εR é a denominada DEFORMAÇÃO REAL e a sua
F correlação com ε é apresentada na equação acima.
!
Deformação de Engenharia e Deformação Real
• Seja l0 = 1,0 m e consideremos dois valores para o comprimento final,
l N1 = 2 l0 = 2,0 m e l N2 = l0 / 2 = 0,5 m.

Para a deformação de engenharia obtemos


!
! ! ! 2,0 $ 1,0
l N1 = 2,0m " #1 = = 1,0
1,0 (Os resultados não apresentam a
simetria física esperada.)
0,5 $ 1,0
l N2 = 0,5m " #2 = = $0,5
1,0
!
Para a deformação real obtemos

!
l N1 = 2,0m " #R1 = ln2 (Os resultados apresentam a
simetria física esperada.)
l N2 = 0,5m " #R = ln0,5 = $ ln2
2
!
• A deformação de engenharia coincide com a deformação real apenas para
deformações suficientemente pequenas.
!
Tensão de Engenharia e Tensão Real
• Para cada instante de tempo t, a TENSÃO REAL σR é definida como a força
aplicada (F) dividida pela área da seção transversal [A=A(t)] sobre a qual atua.

F "R = F
AN A
• A TENSÃO DE ENGENHARIA σ é dada por

! "= F
A0

A0 A
" #R = F =# 0.
lN l0 A0 A A
!
• Materiais sólidos são basicamente incompressíveis,
portanto, seu volume é praticamente constante durante
! ! ! um ensaio de tração. Assim, se l é o comprimento da
amostra no instante de tempo t:
Ao
A0 l
A0 l 0 = A l " =! = # +1 " $ R = $ (# +1)
F A l0

!
Curva Tensão Real - Deformação Real

Real
Tensão

Engenharia

Deformação

" R = F = " (# +1) "R = ln lN = ln(" +1)


A l0

! !
Recuperação Elástica e Encruamento

• O material com limite de


escoamento σyo é
tracionado até D.
• Após descarregamento
sofre RECUPERAÇÃO
ELÁSTICA.

• Quando recarregado, por


ter sofrido ENCRUAMENTO
apresenta limite de
escoamento maior σyi
Materiais Dúcteis e Frágeis

Curva Tensão - Deformação

σ material frágil
Curva Tensão - Deformação
para o latãomaterial dúctil

TENACIDADE
=
ÁREA SOB A CURVA
=
Capacidade de absorver
Energia sem fraturar

ε
Propriedades de Tração de Alguns Metais

Yield strength : limite (ou tensão) de escoamento


Tensile strength : limite de resistência a tração
Ductility : ductilidade (medida pela porcentagem de alongamento)
Curvas de Tração de Materiais Frágeis
(Materiais Cerâmicos)

Curva Tensão - Deformação

Alumina

Vidro
Curvas de Tração de Materiais Poliméricos
Curva Tensão - Deformação

Polímero frágil

Polímero Plástico (ductil)

Elastômero
Curvas de Tração de Materiais Poliméricos
Parcialmente Cristalinos
O limite de escoamento superior
corresponde ao início da formação de
pescoço (estricção). A tensão cai até o
limite inferior de escoamento devido à
diminuição da seção resistente.
Na região do pescoço, as cadeias
moleculares se orientam, o que leva a
um aumento localizado de resistência.
Em conseqüência, a deformação
plástica prossegue em uma região
vizinha à do pescoço (de menor
resistência), resultando em um aumento
do comprimento do pescoço. A tensão
de escoamento aumenta devido ao
aumento da resistência do polímero
(alinhamento de cadeias).
Nos metais, a deformação plástica se
concentra no pescoço logo após a sua
formação, levando rapidamente à
ruptura.
Efeito da Temperatura sobre as
Curvas Tensão - Deformação

Acrílico
Curvas Tensão - Deformação
obtidas com o corpo de prova
mantido a diferentes
temperaturas.

Ferro
Dureza

• O ensaio consiste na aplicação de


uma carga conhecida através de um
penetrador de geometria conhecida e
na medição da área da impressão
produzida na superfície do corpo de
prova.
• Ensaio de grande importância
tecnológica (controle de qualidade)
• Dureza, ao contrário do limite de
escoamento e da tenacidade à
fratura, não é um parâmetro
característico do material (depende da
máquina, da carga, do tipo de
penetrador, etc…)
Dureza
As primeiras medidas de dureza foram feitas comparando a capacidade dos
diversos materiais de riscarem uns aos outros (Dureza Mohs).
Dureza: resistência de um material à deformação (plástica e elástica) localizada.

Ensaios de Dureza
Comparação da Dureza de Alguns Materiais
Relação entre Dureza e Limite de Resistência a
Tração

Para a maioria dos aços:


LRT (MPa) = 3,45 x HB
Ensaio de Flexão (Materiais Cerâmicos)

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