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MEDITANDO COM AS CRIANÇAS

Patricia Evertz(*)

(*) Antiga membro da Self-Realization Fellowship, a Sra. Evertz é mestre em Psicologia


Educacional e vem servindo por quase três décadas no Programa Escolar de Verão da SRF,
ensinando e organizando recursos educativos e programas de treinamento para professores.

editação é quando você senta em silêncio e permite que Deus

“M preencha seu coração com amor”, explica Heather, cinco anos


de idade. Ela demonstra: com os pés firmes no chão, mantendo
as costas eretas em sua cadeira pré-escolar e com as palmas
das mãos no colo, “em direção ao céu”. Ela fecha os olhos e gentilmente ergue
o olhar até o ponto entre as sobrancelhas. Sua meditação pode ser breve –
apenas dois minutos – todavia, a pequena Heather compreende alguns
aspectos básicos.

Atravessando o saguão, em outra sala da Escola Dominical da Self-Realization


Fellowship do Templo de Pasadena, um grupo composto de garotos de dez a
doze anos de idade está participando de uma meditação de dez minutos. Em
seguida, eles encaram questões desafiantes para qualquer meditante. “Quais
são as coisas que atrapalham sua meditação?”, sua professora pergunta. O
garoto responde: barulho das salas vizinhas, emoções, pensamentos, sentir
fome ou sede. “O que vocês podem fazer qua ndo essas coisas as perturbam?”

“Concentrar-se no olho espiritual e pedir ajuda a Deus”; “assistir a respiração


indo e voltando”; “mentalmente repetir um canto”.

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De acordo com a revista Time, dez milhões de americanos praticam alguma
forma de meditação de forma regular. Tudo indica que agora as crianças estão
começando a seguir o exemplo de seus pais. O jornal Los Angeles Times,
recentemente citou uma reportagem dizendo que muitos programas de
meditação estão se espalhando em todo o país , oferecendo mais opções para
crianças em clubes ligados a escolas, igrejas e centros de meditação e também
através de organizações independentes.

“Não há um dia que eu não seja requisitada por alguém querendo aprender
sobre meditação para crianças ou estudar os seus efeitos”, disse Susan Kaiser
Greenland, fundadora e diretora executiva da Fundação Criança Interior, de
Los Angeles. A cinco mil quilômetros dali, em New Heaven, a conselheira Linda
Baker informa que a freqüência disparou em seu programa de relaxamento
para estudantes, que orienta crianças com a meditação, ioga e atividades
correlatas. “No começo tínhamos cinco crianças, agora temos lista de espera”,
disse Linda, que iniciou seu programa cinco anos atrás.

Nessa era da onipresente TV e vídeo games, um número crescente de


crianças está preferindo sentar-se calmamente e explorar sua paz interna. Um
jovem campista escreveu sobre sua experiência no Programa Jovem de Verão
da Self-Realization Fellowship: “quando eu estou meditando sinto uma grande
paz. É como se Deus estivesse me dando um grande abraço”.

Qual é o modo mais efetivo para introduzir meditação para crianças? Como
podemos apresentar a meditação de um modo que seja simples e atrativa para
todos? Por mais de nove décadas, começando com a escola de Paramahansa
Yogananda para garotos em Ranchi, a SRF vem ensinando meditação para
jovens. Apresento aqui alguns conselhos dos professores da Escola Dominical
da SRF, dos diretores do Programa Jovem de Verão, e de pais que meditam
com seus filhos.

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M
ANTENHA A SIMPLICIDADE Paramahansa

Yogananda sempre comentava que Deus é próximo de você na


mesma proporção que seus pensamentos permitem que Ele seja.
Uma prece sincera e alguns momentos de silêncio é tudo que é necessário
para trazer Deus para a vida da criança. Orações não precisam ser longas ou
sofisticadas. Uma oração que venha do coração, como “vem a mim” ou
“preencha-me com seu amor”, pode ser suficiente para provocar uma resposta
de Deus. Crianças não precisam compreender completamente a ciência da
ioga para meditar efetivamente. Técnicas simples como exercícios de
visualização ou entoar um cântico com profunda atenção funciona com muita
eficiência para elas.

C
OMECE ONDE ELA ESTÁ Considere o que motiva sua
criança. A que ela naturalmente responde? O que a enaltece? Use
isso como um trampolim para levar Deus a sua vida. Por exemplo, se
sua filha tem uma amiguinha muito próxima na escola, você pode argumentar
que o seu sentimento para com ela é apenas uma pequena amostra do amor
de Deus. Na meditação, oriente o foco dela nos sentimentos com a amiguinha
para tentar, em seguida, sentir o mesmo amor por Deus. Você pode também
praticar um exercício de visualização com ela para o treino de expansão de seu
amor, buscando sentir e enviar amor para seus amigos e familiares, depois aos
vizinhos, a todos da mesma cidade, e finalmente para o mundo todo.

Se sua criança pratica esportes, explique que focar a atenção no ponto entre
as sobrancelhas desenvolve a força de vontade. Trabalhe para que ela
compreenda o quanto a meditação pode ajudá-la em suas vidas cotidianas.

T
ORNE TUDO UMA EXPERIÊNCIA

AGRADÁVEL Apresente a meditação para a criança de um

modo que desperte seu senso natural de divertimento. Uma vez que a criança

aprenda a postura apropriada de meditação, essa pode ser uma forma de

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testar seu entendimento: “Sente -se com sua espinha curva, pernas cruzadas;

balance seus pés; feche os olhos com tanta firmeza que não possa piscar”.

Então pergunte, “estamos prontos para meditar?”. A maioria das crianças

adorará corrigi-lo!

“Não, temos que sentar como a coluna ereta, dessa forma!”

“Apóie seus pés firmemente no chão”.

“Feche os olhos gentilmente – não com tanta força!”

Então responda, “Há muitas coisas para lembrar! Você pode fazer tudo ao

mesmo tempo? Com certeza? Mostre-me”.

Se sua criança se mexer muito, você pode criar uma brincadeira diferente

antes da meditação. Peça-lhe para sentar na postura meditativa e explique que

vai fazer cócegas no queixo com uma pena ou um lenço de seda. Veja se ela é

capaz de manter a postura meditativa correta enquanto está fazendo isso.

Deixe que ela teste esse exercício em você. Depois, faça uma meditação curta,

desafiando a todos (inclusive você) para tentar sentar em silêncio nas mesmas

condições da brincadeira. Exercícios simples como esses introduzem os

fundamentos de uma forma agradável.

Participantes do PROGRAMA JOVEM DE VERÃO DA SRF, em junho de 2006, começando


suas meditações matutinas cantando um dos Cantos Cósmicos de Paramahansa Yogananda,
acompanhados pelo harmônio.

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U
TILIZE TÉCNICAS E LINGUAGEM
APROPRIADAS PARA A IDADE Use uma

linguagem que sua criança compreende, e explique os termos que ela não
conhece. Suponha que você inicie a meditação com um dos Cantos Cósmicos
de Paramahansa Yogananda, “Ouve, ouve, ouve o meu coração,
nunca mais Te esquecerei, nunca Te abandonarei”. Explique o
que “abandonar” significa. Pergunte à menor das crianças, “a
quem se refere quando dizemos ‘Te’?” Permita que digam em
suas próprias palavras o que o canto significa. Então, cantem
juntos, concentrados, primeiro com entonação normal, então mais e mais
suavemente, até que todos possam cantar mentalmente, “sussurrando as
palavras em seus corações, onde apenas Deus pode nos ouvir (não é
necessário saber tocar o harmônio para cantar com as crianças. Tente utilizar
uma fita ou CD).

Do mesmo modo, se você orienta a criança em uma afirmação, verifique o


entendimento antes da prática. Por exemplo, se você utiliza a afirmação, “Eu
estou seguro na fortaleza de Tua presença”, procure se certificar que ela
compreende o significado de ‘fortaleza’. Argumente o quão forte e poderosa é
uma fortaleza, e como a proteção de Deus, embora invisível, é realmente mais
forte que qualquer fortaleza. Então repita a afirmação como se fosse um canto,
primeiro com entonação normal, depois mais e mais suavemente até que se
torne um sussurro mental. Para adolescentes, há muitas afirmações no livro
Meditações Metafísicas (Metaphysical Meditations) que podem ser usadas
literalmente, mas comente sobre palavras como “miríade”, “todo-envolvente”, e
“liberação” que aparecem em algumas páginas.

Exercícios de visualização, cantos, afirmações e a Técnica de Cura (conforme


o livreto do Círculo Mundial de Orações), podem ser praticados efetivamente
por crianças.

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R
ESSALTE QUE A LUTA É ALGO NATURAL
Meditação é uma luta para todos nós às vezes. Quando nossa mente
está inquieta, então é um desafio sentar quietamente e focar com
precisão em Deus. Eis um modo como uma professora da escola dominical
abordou esse assunto com os estudantes: “quando estava conduzindo uma
meditação com algumas garotas de seis a oito anos, eu usava uma garrafa de
óleo com bolhas suspensas nela para ilustrar nossos pensamentos inquietos.
Agitando a garrafa antes da meditação, eu expliquei: “essas bolhas mostram
como nossos pensamentos são – sempre inquietos, rodopiando dentro de nós.
Mas se coloco a garrafa para descansar, as bolhas se assentam ao fundo.
Quando meditamos, nossos pensamentos buscam o repouso, e nos sentimos
mais pacíficos e quietos. Vou colocar esta garrafa para descansar, enquanto
meditamos. Então veremos se nossos pensamentos repousam durante a
meditação, e veremos também como as bolhas se comportam. Após a
meditação, conferi com a turma, ‘Como foi sua meditação? Os pensamentos se
aquietaram, como as bolhas da garrafa?’ Uma garota explicou, ‘meus
pensamentos ficaram tão calmos quanto isto!’ e balançou a garrafa com tanta
força que as bolhas se agitaram bastante. Foi um bom trampolim para o debate.
Concordamos que aquilo acontecia em muitas de nossas meditações.
Argumentei, em seguida, que, às vezes, não sentimos a paz de Deus durante a
meditação, mas que Deus nos abençoa de algum outro modo. Talvez alguns
problemas que tínhamos tenham se resolvido, ou Deus tenha removido alguma
dificuldade. Foi uma grande oportunidade para debater o quanto, às vezes,
lutamos com a mente na meditação, e para lembrar que, não importa o quão
inquietos estejamos, nenhum esforço permanece sem recompensa”.

E
NCORAJE, MAS NÃO EXIJA Sri Daya Mata disse, “é
um erro tentar forçar uma criança a compartilhar um modelo espiritual
particular. Primeiro, ela precisa desenvolver um desejo e se interessar
por coisas espirituais. Essa inclinação existirá se desde muito cedo ela é
encorajada a cultivar atitudes espirituais: amor por Deus, fé em Deus, um
sentimento de companhia com Ele”.

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Exponha sua criança à meditação, e veja como ela responde. Algumas
apreciarão e talvez queiram participar outras vezes; outras talvez não estejam
prontas. Compreenda que, se elas não se interessarem na primeira vez, talvez
se interessem no futuro. Elas serão mais receptivas depois, caso não sejam
forçadas a meditar antes de estarem prontas.

Veja o exemplo das flores. Cada uma desabrocha em diferentes épocas com
uma beleza singular. Tentar forçar a abrir o botão que não está pronto apenas
destruirá a flor. Permitir que a flores abram no momento adequado ajuda a
produzir os mais amáveis jardins. Se jasmins que se atrasam em seu
nascimento são tão bonitos quanto aqueles que nascem no tempo certo, então
não é necessário forçar a barra.

Se sua criança não se interessa pela meditação diária, veja se ela se encoraja
com a meditação familiar semanal. Conduza meditações curtas, e envolva-a,
permitindo que dirija a oração ou toque instrumentos simples no kirtan familiar.
Se isso parece muito, então apenas estabeleça o exemplo. “Minhas crianças
meditam regularmente na Escola Dominical”, comentou uma mãe, “mas elas
não parecem interessadas em meditar em casa. Entretanto, elas gostam de me
ver meditando. Sempre pedem para meditar em seus quartos à noite quando
estão se recolhendo. Elas gostam que eu faça uma oração em voz alta . Depois,
caem no sono enquanto eu medito. Nem sempre isso combina com minha
programação, mas faço sempre que possível”.

C
ONDUZA MEDITAÇÕES CURTAS No programa da
Escola Dominical da SRF seguimos geralmente a tabela de tempo de
meditação descrita a seguir:

Idade de 3 – 5 anos ? 1 – 3 minutos


Idade de 6 – 8 anos ? 3 – 5 minutos
Idade de 9 – 12 anos ? 5 minutos para começar, com incremento
gradual para 10 a 15 minutos à medida que
ganham experiência

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Idade de 13 – 15 anos ? 5 – 10 minutos para começar, com incremento
gradual até 20 minutos ou um pouco mais à
medida que ganham experiência

As meditações não abrangem apenas períodos de silêncio. Incluem-se orações


e orientações às crianças na meditação, e também canto, afirmações ou
visualizações, e também orações para os outros. O período real de silêncio
deve depender da idade do grupo, por exemplo, de 5 a 15 segundos de silêncio
para pré-escolares. “Se eu ouvir um longo suspiro no fim da meditação”,
comentou uma professora, “então percebo que forcei um pouco”. Assim como
numa apresentação musical, é melhor deixar que elas queiram mais !

P
ERMITA QUE MEDITEM COM OUTRAS
CRIANÇAS Se você conhece crianças que parecem abertas à

meditação na mesma faixa etária, tente criar oportunidades para meditarem


juntas. Freqüentar uma Escola Dominical semanal de um templo ou centro da
SRF pode significar muito para reforçar seus esforços. Muitas crianças de dez
anos ou mais encontram apoio no Programa Jovem de Verão. Um garoto
comentou, “eu quis retornar porque parece muito espiritual meditar com um
grupo. O que mais gosto é cantar. Realmente coloco meu coração no canto e
sinto que me preenche com alegria”.

C
ONSIDERE O DESENVOLVIMENTO
ESPIRITUAL COMO UM PROCESSO
GRADUAL Compreenda que toda mudança é um processo gradual, nem
sempre perceptível. Crianças, tais como adultos, também têm seu altos e
baixos. Apóie-as e encoraje-as, especialmente durante os momentos de
dificuldade, e não desanime nos momentos em que elas se
desviam dos bons hábitos espirituais. Esses períodos podem
significar valiosas oportunidades de aprendizagem para elas.
Uma veterana campista, freqüentadora regular durante anos,
descreveu sua última experiência no campo: “Antes de vir

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acampar, minha vida parecia bastante conturbada. Depois do acampamento
desta semana, compreendi que era devido à perda da percepção de minha paz
e quietude interior. Explorando a profunda paz divina através da meditação,
senti que havia retomado esse fundamento, que agora posso levar para casa
comigo”.
PROGRAMA JOVEM DE VERÃO DA SRF – 2006 4
ONDE JOVENS APRENDEM A MEDITAR E A
“ARTE DE VIVER”
O PROGRAMA JOVEM DE VERÃO DA SELF-
REALIZATION FELLWOSHIP oferece a garotos e
garotas, com idade entre 10 e 16 anos, a
oportunidade de aprender e praticar os princípios
“como-viver” ensinados por Paramahansa Yogananda,
incluindo meditação. Os jovens apreciam uma
programação equilibrada que inclui meditação em
grupo, canto, encontros ao ar livre, arte, caminhadas,
canoagem, hatha yoga, e muito mais. O
acampamento, nas montanhas de San Bernardino,
aconteceu neste ano de 17 a 24 de junho (garotas) e
de 24 de junho a 1 de julho (garotos)

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1)Oração antes da refeição; 2) canoagem no Lago Jenks; 3) Garotos praticando posturas de


hatha yoga; 4)Grupo de meninas, incluindo monjas e conselheiras; 5)Garotas praticando as
técnicas de energização; 6) Monjas da SRF conduzindo uma aula externa baseada nos
ensinamentos de “como-viver” de Paramahansa Yogananda.

Tradução não-oficial da
SELF-REALIZATION MAGAZINE, OUTUNO 2006
VOL.77, NO. 4 ISSN 0037-1564, PÁGINAS 42 A 51
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA SELF-REALIZATION FELLOWSHIP
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

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