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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI ÁRIDO – UFERSA

CAMPUS MULTIDISCIPLINAR DE PAU DOS FERROS/RN


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS – DCSAH
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Titulo do Projeto:
O Ecletismo na arquitetura das regiões Central e Oeste Potiguar

IDENTIFICAÇÃO:
PROF. RESPONSÁVEL: EMANOEL VICTOR PATRÍCIO DE LUCENA
ÁREA PREDOMINANTE: CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS: ARQUITETURA E
URBANISMO
INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
UNIDADE: DEPTO. DE CIÊNCIA SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS
CURSO: ARQUITETURA E URBANISMO

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo compreender como o Ecletismo arquitetônico


coparticipou na construção da cidade moderna sertaneja na primeira metade do século
XX, em especial nas regiões do Oeste e Centro Potiguar. Para tanto, estrutura-se
basicamente em duas etapas metodológicas, a saber: a revisão de literatura e o
levantamento fotográfico/mapeamento e/ou redesenho de imóveis ecléticos de diferentes
cidades que compõem as regiões supramencionadas. Espera-se com esta pesquisa,
contribuir para a preservação da memória dessas cidades, bem como para a
documentação de exemplares arquitetônicos ecléticos que subsistem às
descaracterizações/demolições contemporâneas, criando um banco de dados para
futuras pesquisas a profissionais interessados.

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INTRODUÇÃO

Segundo Fabris (1987, p.7), o Ecletismo representou em todo Brasil a “modernidade


e a modernização” das cidades, constituindo a arquitetura que protagonizou as reformas
sanitaristas de muitos centros urbanos nacionais no início do século XX. Nesse sentido, a
compreensão do seu alcance na produção arquitetônica de cidades das regiões Central e
Oeste Potiguar é um pressuposto importante para o entendimento da construção da
cidade moderna sertaneja durante a primeira metade do século supracitado.
A definição do conceito de ecletismo a ser adotado neste trabalho torna-se, portanto,
um dado basilar para fins de investigação da presença da linguagem nas regiões.
Patetta (1987, p. 13) explica que na Europa “o Ecletismo era a cultura própria de uma
classe burguesa que [...] amava o progresso e as novidades [...] mas rebaixava a
produção artística e arquitetônica ao nível da moda e do gosto”. Esse progresso e
novidade estavam diretamente relacionados às inovações tecnológicas próprias da
segunda metade do século XIX, como a adoção do ferro e do cimento armado na
construção civil; porém estavam submetidos à cultura da produção em massa, segundo a
qual a “a arquitetura não podia mais ser patrimônio de poucos ‘mestres’”. Nesse
seguimento, a moda e o gosto estético apresentariam “diferentes manifestações [...],
testemunhos de uma constante inquietude intelectual, a tal ponto de se mostrar como um
período fragmentário” (PATETTA, 1987, p. 12). Assim sendo, depreende-se que o
Ecletismo não se enquadra na qualidade de um estilo com um escopo formal bem
definido, mas representa a arquitetura de um período onde há uma pluralidade de
linguagens, reflexo de uma sociedade submetida à liberdade de escolhas promovida pela
indústria.
No Brasil, o Ecletismo vai marcar o período republicano, que trouxe consigo
modificações políticas, econômicas e sociais, as quais “se refletiram em mudanças
urbanas e arquitetônicas”, visando a transformação do Brasil “num país moderno, sob o
lema: Ordem e Progresso” (RODRIGUES; MOURA FILHA, 2013, p. 3).

JUSTIFICATIVA

O interesse em estudar esse tema surge a partir da constatação de que, assim como
em outras cidades brasileiras, o Ecletismo desempenhou um papel importante no
processo de modernização de cidades do interior potiguar, em especial aquelas que
compunham as antigas rotas para o comércio de gado durante o "circuito colonial do

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semi-árido", tais como Caicó, Santana do Seridó, Pau dos Ferros, Apodi, Açu e Mossoró
(MACEDO, apud DINIZ, 2013, p. 81). O pouco ou ausente conhecimento e interesse dos
órgãos municipais de preservação, aliados aos efeitos da especulação imobiliária,
contudo, tem atentado contra a integridade dos exemplares arquitetônicos que ainda
existem. Na região central de Pau dos Ferros, por exemplo, poucos são os imóveis
congêneres que ainda preservam suas características originais. Muitos já foram
descaracterizados, quando não demolidos. O altar mor da Igreja Matriz, citado por
Ferreira et al.(2021) pode ilustrar esse caso. A partir de ilustração publicada no artigo
"Memória do Sertão: arquitetura religiosa de Pau dos Ferros" nota-se o referido altar, em
fotografia provavelmente datada da década de 1950, o qual apresenta uma composição
tipicamente eclética, mesclando elementos da arquitetura clássica e neogótica. Segundo
os autores, este altar foi demolido em 1969, dentro de um processo de reforma e
ampliação do edifício supramencionado, sendo reconstruído apenas em 2011, assumindo
feições diferenciadas da original.
Isto posto, a realização deste trabalho sobre a presença da arquitetura eclética no
interior potiguar, será de grande importância para a academia já que esta tipologia não foi,
até o momento, estudada com profundidade. Assim sendo, o reconhecimento de seu valor
histórico-cultural contribuirá para a percepção da importância de sua proteção e
conservação, devendo sensibilizar os órgãos competentes sobre a necessidade de tomar
providências no sentido de manter vivo o legado arquitetônico em pauta, e
conseqüentemente, a memória da evolução urbana de cidades das regiões Central e
Oeste do Rio Grande do Norte, na primeira metade do século passado.

OBJETIVOS
O objetivo geral da presente pesquisa é compreender como o Ecletismo coparticipou
na construção da cidade moderna sertaneja na primeira metade do século XX. Busca-se
deste modo, nos termos do Art. 216 da Constituição Federal, que trata sobre patrimônio
cultural, contribuir com o debate acerca da produção arquitetônica que antecedeu o
movimento moderno no Rio Grande do Norte, resgatando seus valores técnicos,
funcionais, e sobretudo paisagísticos, referentes às “formas de expressão e modos de
viver” (BRASIL, 1988) de uma parcela da sociedade que participou de forma contundente
do processo de desenvolvimento das cidades sertanejas. Para tanto, faz-se necessário
cumprir os seguintes objetivos específicos:
1. Compreender a produção do Ecletismo no contexto nacional;

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2. Investigar os agentes envolvidos na produção do espaço urbano de diferentes
cidades que compõem a região Central e Oeste na primeira metade do século XX e
sua relação com condicionantes que viabilizaram a implantação de construções
ecléticas em logradouros bem específicos nessas cidades.

METODOLOGIA:
De modo a atingir os objetivos propostos, a pesquisa irá se desenvolver segundo as
seguintes etapas:
1 - Revisão de Literatura, a qual compreende duas subetapas investigativas,
segundo metodologia proposta por Farias (2011). A primeira subetapa contempla
conceituação de Ecletismo a ser adotada na pesquisa. Para tanto, são essenciais
consultas em obras de história da arte e da arquitetura, como História da Arquitetura
Moderna (BENÉVOLO, 2006), e Ecletismo na arquitetura brasileira (FABRIS, 1987). Em
seguida, buscou-se compreender o contexto urbano de importantes cidades brasileiras do
início do século XX onde as linguagens ecléticas encontraram espaço de reprodução.
Nesse sentido, foram pesquisadas obras como: Quadro da Arquitetura no Brasil (REIS
FILHO, 1979) e Arquiteturas no Brasil de 1900 A 1990 (SEGAWA, 1999).
Na segunda subetapa, o objetivo é averiguar o contexto sócio econômico do Rio Grande
do Norte, relacionando-o com o desenvolvimento da arquitetura eclética nas cidades do
interior, durante o segundo decênio do século XX. Fornecem subsídios para tal, os
trabalho de Diniz intitulados "Velhas fazendas da ribeira do Seridó (2008) e "Um sertão
entre tantos outros: fazendas de gado nas Ribeiras do Norte" (2013). Além desses
trabalho, para entender a participação da arquitetura eclética no processo de expansão e
modernização de cidades do interior potiguar, foram consultados os trabalhos "Arcaicó:
uma experiência virtual de reconhecimento do patrimônio arquitetônico caicoense"
(OLIVEIRA, 2015), e "Caicó Eclética sob um olhar fotográfico" (FREITAS, 2021), ambos
orientados pela Prof. Dra. Edja Trigueiro (UFRN).
2 - O plano ainda se apoia no mapeamento, levantamento fotográfico e/ou
redesenho de imóveis ecléticos de diferentes cidades que compõem as regiões do da
Central e Oeste Potiguar, a partir da pré-seleção de obras segundo quatro categorias de
análise propostas por Lemos (1987, p. 75) a saber:
 “Obras vulgarmente chamadas de Art Nouveau, mas que também incluem
trabalhos de inspiração alemã ou austríaca ligadas ao movimento Secessão”.

 O grupo de obras sem estilo definido “com características formais tiradas

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principalmente dos chalés alpinos (...) caracterizada pelo tom romântico, pelo ar
bucólico (...) em que o pitoresco era uma nota marcante”;

 O grupo das construções de estilo “tradicionalista”, conhecida por Neocolonial;

 “As obras da reprodução simplificada dos modelos eruditos neocoloniais (...) a este
grupo também pertencem as chamadas construções do estilo Missões”.
Os resultados da pesquisa serão disponibilizados em termos de um trabalho
científico onde a arquitetura eclética será devidamente conceituada e definida no tocante
à sua morfologia, aos fatores sócio-econômicos e culturais que contribuíram para sua
produção na época, e à sua contribuição para a evolução urbana de cidades das regiões
Central e Oeste potiguar. O registro fotográfico dos edifícios, atrelado a sua análise
arquitetônica, funcionará como um banco de dados através do qual o ecletismo ficará
definitivamente caracterizado e consolidado como tipologia determinante para a formação
da imagem urbana dessas cidades no XX – um inventário indispensável para a academia
e para os setores comprometidos com a preservação da memória da cidade.

BIBLIOGRAFIA
BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 2001.
BRASIL. Constituição (1988). Art. 2016. Da ordem social. Disponível em:
https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_216_.asp.
Acesso em 15/11/2018.
DINIZ, Nathália. Um sertão entre tantos outros: fazendas de gado na Ribeira do Norte.
Fauusp. Tese (2013)
_____ Velhas fazendas da Ribeira do Seridó. Fauusp. TDissertação (2008)
FABRIS, Annatereza (org). Ecletismo na arquitetura brasileira. São Paulo: Nobel/Edusp,
1987.
FARIAS, Fernanda de Castro. Arquitetura em transformação, cidade em expansão: o Art-
Déco na João Pessoa de 1932-1955. Dissertação de Mestrado. João Pessoa:
PPGAU/UFPB, 2011.
FREITAS, Mateus Araújo de. caicó Eclética sob um olhar fotográfico. UFRN, 2021.
Disponível em: https://issuu.com/der.fremde/docs/caic__ecl_tica_-_mateus . Acesso em
23/07/2021.
LEMOS, Carlos. Ecletismo em São Paulo. In: FABRIS, Annatereza (org). Ecletismo na
arquitetura brasileira. São Paulo: Nobel/Edusp, 1987.

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MOURA FILHA, Maria Berthilde; COTRIM, Márcio; CAVALCANTI FILHO, Ivan. Entre o
Rio e o Mar: Arquitetura Residencial em João Pessoa. João Pessoa: Editora da UFPB,
2016.
MOURA FILHA, Maria Berthilde; RODRIGUES, Artur M. V. A morada da elite na Cidade
da Parahyba do início do século XX: o palacete eclético. In: MOURA FILHA, Maria
Berthilde; COTRIM, Márcio; CAVALCANTI FILHO, Ivan. Entre o Rio e o Mar: Arquitetura
Residencial em João Pessoa. João Pessoa: Editora da UFPB, 2016.
MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Francisco; BITTAR, William. Arquitetura no Brasil: de Dom
João VI a Deodoro. São Cristóvão - RJ: Imperial Novo Milênio, 2011. 180 p. v. 2.
OLIVEIRA, Lívia Nobre de. Arcaicó: uma experiência virtual de reconhecimento do
patrimônio arquitetônico caicoense. UFRN. Trabalho de conclusão de curso, 2015.
Disponível em:
https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/1951/1/ArquiteturaCaico_Oliveira_2
015.pdf . Acesso em 23/07/2021.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva,
1978.
RODRIGUES, Artur M. V.; MOURA FILHA, Maria Berthilde. A elite e seus palacetes:
ecletismo e modernidade em João Pessoa no início do século XX. 3º Seminário Ibero-
Americano Arquitetura e Documentação, Belo Horizonte, 2013.
SANTOS, Carlos Alberto Ávila. Ecletismo na fronteira meridional do Brasil: 1870-1931.
Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Área de Conservação e Restauro)
Universidade Federal da Bahia, 2007.
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 2ª ed. São Paulo: Ed. da Universidade
de São Paulo, 1999.
SIMÕES JUNIOR, José Geraldo. O ideário dos engenheiros e os planos realizados para
as capitais brasileiras ao longo da Primeira República. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n.
090.03, Vitruvius, nov. 2007
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.090/190>.

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Cronograma de atividades

1º SEMESTRE
ATIVIDADES 2021 2022

Ago Set Out Nov Dez Jan


Revisão bibliográfica xxx xxx xxx xxx xxx xxx

Reconhecimento das áreas xxx xxx


urbanas contempladas pela
arquitetura eclética
Mapeamento dos trechos xxx xxx xxx
urbanos de interesse
Registro fotográfico das x x x xxx xxx xxx
edificações/ trechos urbanos
Levantamento arquitetônico de xxx xxx
edificações de peso
xxx
Elaboração do relatório parcial
Elaboração de artigo cientifico xxx
para apresentação em eventos
ou publicação

2º SEMESTRE
ATIVIDADES 2022
Fev Mar Abr Mai Jun Jul
Revisão bibliográfica xxx xxx xxx xxx xxx xxx

Análise e processamento de xxx xxx


dados obtidos
Mapeamento dos trechos xxx xxx xxx
urbanos de interesse
Catalogação de edifícios/trechos x x x xxx xxx xxx
urbanos contemplados com o
ecletismo em diferentes cidades
Elaboração de artigo cientifico xxx xxx
para apresentação em eventos
ou publicação
xxx
Elaboração do relatório final
Redação final do artigo cientifico xxx
para apresentação em eventos
ou publicação

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