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Apostila 01b - Metabolismo Secundário
Apostila 01b - Metabolismo Secundário
Apostila 01b - Metabolismo Secundário
Peres 1
METABOLISMO SECUNDÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. COMPOSTOS FENÓLICOS
3. TERPENOS
4. ALCALÓIDES
5. IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA
6. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
7. BIBLIOGRAFIA
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1. INTRODUÇÃO
Embora o metabolismo secundário nem sempre seja necessário para que uma
planta complete seu ciclo de vida, ele desempenha um papel importante na interação das
plantas com o meio ambiente. Um dos principais componentes do meio externo cuja
interação é mediada por compostos do metabolismo secundário são os fatores bióticos.
Desse modo, produtos secundários possuem um papel contra a herbivoria, ataque de
patógenos, competição entre plantas e atração de organismos benéficos como
polinizadores, dispersores de semente e microorganismos simbiontes. Contudo,
produtos secundários também possuem ação protetora em relação a estresses abióticos,
como aqueles associados com mudanças de temperatura, conteúdo de água, níveis de
luz, exposição a UV e deficiência de nutrientes minerais.
Existem três grandes grupos de metabólitos secundários: terpenos, compostos
fenólicos e alcalóides (Fig. 2). Os terpenos são feitos a partir do ácido mevalônico (no
citoplasma) ou do piruvato e 3-fosfoglicerato (no cloroplasto). Os compostos fenólicos
são derivados do ácido chiquímico ou ácido mevalônico. Por fim, os alcalóides são
derivados de aminoácidos aromáticos (triptofano, tirosina), os quais são derivados do
ácido chiquímico, e também de aminoácidos alifáticos (ornitina, lisina).
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2. COMPOSTOS FENÓLICOS
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Embora pteridófitas possam acumular flavonóides, sua variabilidade estrutural é pequena nesse grupo
vegetal.
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radiação UVB (280-320 nm) para proteção das plantas. Um conhecido exemplo de
flavonól é a quercetina (Fig. 13).
Os isoflavonóides são também conhecidos como fitoalexinas, ou seja, uma
classe de compostos com ação antipatógenos (e.g. medicarpina) ou inseticida (e. g.
rotenóides).
Os taninos condensados são compostos fenólicos solúveis em água com massa
molecular entre 500 a 3.000 Daltons. Esses compostos são responsáveis pela
adstringência de muitos frutos. Taninos são defesas contra pragas pois eles se ligam a
proteínas digestivas dos insetos. Esses compostos também são denominados
protoantocianidinas devido ao fato de produzirem pigmentos avermelhados
(antocianidinas), após degradação.
3. TERPENOS
Pode se dizer que as plantas possuem dois tipos básicos de polímeros: os ácidos
nucléicos (DNA e RNA) e as proteínas. Contudo existe uma terceira classe de
compostos que se assemelham aos polímeros. Trata-se dos terpenos. Na verdade, cada
unidade básica dos terpenos assemelha-se mais a uma peça de lego , do que
propriamente um monômero. Aproveitando a analogia com esse conhecido brinquedo, o
equivalente a cada peça de lego seria uma molécula de cinco carbonos denominada
isopreno ou isopentenilpirofosfato. Desse modo, os terpenos são classificados de acordo
com o número de unidades de isopreno que entraram em sua montagem (Tab. 1).
Tabela 1. Principais terpenóides encontrados nas plantas. Notar que os terpenóides são
precursores de quatro classes hormonais: as citocininas (CKs), o ácido abscísico (ABA), as
giberelinas (GAs), e os brassinoesteróides (BR).
A volatilidade desse inseticida tem sido bastante útil para o desenvolvimento dos
conhecidos inseticidas domésticos para repelir pernilongos.
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O tomateiro possui mais de 10 mg de licopeno por 100 g de peso fresco.
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4. ALCALÓIDES
Figura 10. Exemplos de alcalóides. Notar que uma característica comum dos
alcalóides é a presença de nitrogênio no anel carbônico. Essa estrutura indica que os
alcalóides são derivados de aminoácidos. Desse modo, a cocaína é um alcalóide
tropânico derivado de ornitina. A nicotina é um alcalóide pirrolidínico derivado de lisina.
A morfina é um alcalóide isoquinolínicos derivado de tirosina. A cafeína é um alcalóide
purínico, a qual por sua vez é derivada de aminoácidos tais como glicina, ácido L-
aspártico e L-glutamina.
Além dos gregos e romanos, muitas outras culturas antigas usavam e ainda usam
alcalóides como venenos, principalmente para o envenenamento de setas empregadas
em caçadas e guerras. Exemplos disso são o extrato seco do curare (Chondodendron
tomentosum), contendo o alcalóide tubocurarina, utilizado pelos índios da Bacia
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O mononucleotídeo de ácido nicotínico (NADP) é formado pela junção desse a um fósforo e
uma molécula de ribose.
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adicionam grupos metil à xantoxina para converte-la em cafeína (Fig. 12). Além das
metilações, um dos passos da biossíntese de cafeína envolve a remoção de um resíduo
de ribose.
5. IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA
sementes dessa espécie vegetal possuem uma lectina altamente tóxica denominada
ricina, a qual tem estrutura glicoprotéica com a propriedade de aglutinar eritrócitos.
Por fim, muitas plantas tóxicas são encontradas na família Araceae. Algumas
dessas espécies são ornamentais, como o comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia picta ou
D. seguine), o filodendro (Philodendron bipinnatifidum), a costela-de-Adão (Monstera
deliciosa) e a Jibóia (Scindapsus pictus). Sabe-se que essas plantas acumulam cristais
de oxalato de cálcio, os quais são bastante irritantes e são a causa de muitos acidentes
domésticos. Contudo, ainda não se sabe exatamente qual o tipo de composto que torna
essas plantas tão tóxicas para os animais.
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6. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
taninos condensados podem reagir com formaldeído produzindo polímeros com poder
aglutinante. Esses polímeros são empregados para fabricar aglomerados e laminados de
madeira e na fabricação de resina de troca catiônica para purificação de água.
Uma outra aplicação industrial muito antiga dos metabólitos secundários é o uso
de corantes naturais. Atualmente quase todos os corantes são derivados de petróleo,
como a anilina e outros compostos aromáticos. Contudo, como o petróleo é finito, no
futuro os corantes naturais provavelmente voltarão a ser muito importantes.
Existem corantes naturais para as três cores fundamentais (Fig. 13). Desse modo,
metabólitos secundários que conferem cor vermelha são representados pelas
antraquinonas alizarina e purpurina, extraídas normalmente de Rubia tinctorum. Um
outro conhecido corante vermelho é o encontrado no paubrasil (Caesalpina echinata). O
corante em questão é o brasilin, o qual por autoxidação se transforma em brasilein.
Corantes amarelos são derivados de flavonóides (ex. quercetina) e podem ser extraídos
de Reseda luteola, Genista tinctoria e Solidago spp. Por fim, o corante azul mais
famoso é o índigo, produzido por Indigofera spp. Contudo, outras espécies vegetais
também produzem índigo.
O índigo foi um dos primeiros corantes naturais a ser obtido de modo sintético.
Isso ocorreu em 1897 e contribuiu para o largo uso desse corante na indústria têxtil. O
emprego mais famoso desse corante é sem dúvida o Jeans. O emprego do índigo para
colorir tecidos de algodão é facilitado pelo fato dele ser insolúvel em água, mas sua
forma reduzida ser solúvel em água alcalinizada. Desse modo, essa forma é absorvida
pelas fibras do algodão e ao serem expostas ao ar ela é re-oxidada, tornando-se
insolúvel e permanentemente fixada nas fibras. Como conseqüência desse processo, a
lavagem constante com sabão, o qual costuma ser alcalino, tende a desbotar o Jeans.
Além dos corantes, metabólitos secundários podem ser fonte de fragrâncias
utilizadas na indústria de cosméticos e alimentos. A maioria dos compostos de
fragrância pertencem a três grupos principais: fenilpropanóides, álcoois derivados de
ácidos graxos e terpenóides (Vainstein et al. 2001). Entre esses compostos encontramos
representantes famosos como o monoterpeno geraniol presente na rosa e no jasmim, o
eugenol característico do aroma do cravo (Dianthus caryophyllus) e o acetato de linalil
exalado pela flor de lavanda.
Dos três grupos principais de fragrâncias, os mono e sesquiterpenos pertencem a
via dos terpenóides. Os fenilpropanóides são derivados da L-fenilalanina pela ação da
PAL. Os álcoois e aldeídos são derivados da degradação de ácidos graxos através da
ação de lipooxigenases, hidróxido liáses, isomerases e desidrogenases. Acredita-se que
as pétalas sejam o local de maior atividade das enzimas envolvidas na síntese desses
compostos. Alguma dessas enzimas devem inclusive seguir ritmo circadiano, já que
muitas plantas só exalam seu perfume a noite ( e. g. dama da noite).
A importância dos compostos envolvidos nas fragrâncias ultrapassa o seu
emprego na indústria. Basta lembrar que a polinização por insetos guiados pelo cheiro é
um passo crítico na produção de alimentos. A despeito disso, o cheiro nunca foi objeto
de melhoramento, mesmo em espécies ornamentais. Nessas últimas há inclusive a
tendência de uma seleção não intencional para flores sem cheiro já que há uma
correlação negativa entre longevidade e fragrância das folhes.
Uma das dificuldades inerentes à seleção de plantas baseada na produção de
metabólitos secundários para a fitomedicina, nutracêutica ou qualquer outra aplicação
está na necessidade da utilização de métodos analíticos complexos para a dosagem das
substancias em questão.
Uma alternativa para tal limitação seria a seleção baseada em marcadores
genéticos. As facilidades atuais para se isolar genes envolvidos em vias metabólicas
abre a perspectiva do uso futuro de tais genes em seleção ou mesmo a manipulação
direta do conteúdo de metabólitos secundários através da produção de plantas
transgências.
Uma das primeiras propostas de alteração do metabolismo secundário através da
biotecnologia foi a inibição da biossíntese de ligninas para produzir gramíneas mais
palatáveis e árvores com madeira mais adequada para fazer papel. Contudo, como a
lignina é um composto fundamental para a planta, tal proposta pode ser inviável.
Muitas vezes os metabólitos secundários desenvolvidos para proteção da planta
provocam um gosto ruim nos vegetais e o homem acaba por selecionar vegetais de
melhor sabor, mas com maior suscetibilidade a pragas e patógenos. Uma maneira de se
corrigir isso seria manipular os genes responsáveis pela biossíntese de compostos
secundários envolvidos em defesa, de tal modo que as plantas transgênicas que os
expressassem só o fizessem em tecidos específicos, os quais poderiam ser aqueles não
utilizados na alimentação.
Algumas plantas transgênicas com alterações no metabolismo secundário já
foram produzidas. Dois exemplos interessantes são a produção de plantas de café com
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baixos níveis de cafeína (Ogita et al., 2003) e a obtenção de cravos com inéditas flores
azuis, através da manipulação da biossíntese de antocianinas (Winkel-Shirley, 2001).
Genes importantes do metabolismo secundário que tiveram o seu isolamento
recente sugerem que plantas transgênicas serão largamente utilizadas no futuro para
produção de metabólitos utilizados em fitomedicina, nutracêutica e aplicações
industriais. Dois trabalhos publicados por um mesmo grupo que estuda o metabolismo
de carotenóides são um bom exemplo disso. Nos referidos trabalhos, os principais genes
envolvidas na biossíntese de glicosídeos de crocetina (Fig. 14), um carotenóide solúvel
em água que é a base do condimento açafrão (Crocus sativus), e na biossíntese da bixina
(Fig. 15), um carotenóide produzido pelo urucum (Bixa orellana), foram isolados.
7. BIBLIOGRAFIA
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