Você está na página 1de 13

CAPÍTULO 08 – Roma antiga parte II

ROMA IMPERIAL

Império Romano

No século I, a cidade de Roma era o


centro de um vasto império, considerada um modelo a
ser seguido. A cidade ligava-se aos territórios
controlados por uma extensa rede de estradas, que
garantia a comunicação e o deslocamento rápido de
tropas para as demais regiões do império. As áreas

conquistadas por Roma fora da Península Itálica se


dividiam em províncias. Havia províncias senatoriais,
governadas por procônsules nomeados pelo Senado
sem tropas romanas permanentes, e as províncias O governo de Augusto
imperiais, que eram militarmente ocupadas e
Como estudamos no capítulo anterior, em 27
comandadas por um governador, muitas vezes um chefe
Otávio recebeu do Senado os títulos de Augusto e de
militar, indicado pelo próprio imperador e submetidaeps senatus. Sua chegada ao poder marcou o fim da
diretamente a ele. blica em Roma e o início do Império Romano.
Durante seu governo, Augusto tomou um conjunto
Desde o início do período imperial, o de medidas que assegurou prosperidade e estabilidade ao
poder em Roma estava centralizado na figura do império por mais de um século. Esse período é conhecido
imperador que era cultuado como uma divindade, mas como pax romana.
seu poder não era hereditário. A escolha de um novo
Inicialmente, ele adotou medidas para neutralizar
imperador sempre envolvia disputas e conspirações.
qualquer oposição do Senado ao seu governo, mantendo os
No Império Romano, os órgãos privilégios e a possibilidade de enriquecimento da aristocracia
senatorial. Também buscou pacificar a plebe instituindo a
administrativos e as instituições da república
distribuição de alimentos e patrocinando espetáculos gratuitos
continuaram existindo, mas sem a autonomia do
para o povo, política conhecida como pão e circo. Além disso,
passado, pois haviam sido sujeitadas ao imperador. O ele também empregou parte da população urbana mais pobre
exército permaneceu uma instituição essencial para o na construção de obras públicas.
controle das províncias e da sociedade, consumindo
muitos recursos do Estado romano. Para controlar o exército, o imperador valorizou e
recompensou os legionários. Ele distribuiu terras aos
veteranos das guerras de conquista, enviou as tropas para as
regiões fronteiriças e limitou o tempo de permanência dos
generais em uma legião. Augusto também adotou outras

medidas, como a reorganização das finanças – estabelecendo


uma forma de cobrança de impostos nas províncias que
variava de acordo com a riqueza de cada uma delas –,
algumas reformas sociais, a promoção do retorno dos festivais
religiosos tradicionais e o incentivo ao culto a sua pessoa.
à mente de muitas pessoas é a de Nero tocando lira,
contemplando a cidade em chamas: filmes, livros e
romances mostram imperadores tirânicos e
sanguinários, homens e mulheres devassos. À imagem
da imoralidade pagã acrescentam as dos mártires
atirados às feras no Coliseu, para divertir uma plebe
ociosa. [...] Mas o Império Romano caracterizou-se
principalmente como um mundo de fronteiras amplas,
um Estado supranacional, com uma notável variedade
geográfica, cultural, linguística e religiosa. [...] Quando
se fala do Império Romano, a maioria das pessoas
pensa logo no seu declínio, esquecendo-se que Roma
foi a grande potência mundial durante pelo menos sete
séculos. Que outro império pode se comparar a ele? [...]

“Quando se fala em Roma, a imagem qu


DISCIPLINA: HISTÓRIA PROF.: EDUARDO VALENTIM SÉRIE: 1o ANO ENSINO MÉDIO MATERIAL
COMPLEMENTAR – CAP. 08 Roma antiga
Anfiteatro romano de Arles, século I. Arles, França. Foto de
2017.

Séculos de prosperidade e
paz
Na verdade, o Império Romano durou séculos,
Augusto promoveu uma política de
marcados por longos períodos de prosperidade e paz.”
zação da identidade cultural do povo romano, associando
CORASSIN, Maria Luiza. Sociedade e política na Roma antiga. São
Paulo: Atual, 2001. p. 5-6.
adições romanas à sua própria figura. Com esse objetivo,
tivou a realização de cultos religiosos de adoração a
A construção da figura do imperador dades conhecidas pelo povo e organizou dezenas de
jogos e espetáculos públicos, que contavam com ansula Itálica que aceitaram a submissão a Roma,
participação de atores de vários lugares do império. anto escravizaram ou impuseram pesados tributos aos
resistiam. Já no século III d.C., o imperador Caracala
Contudo, foi a literatura a área maisulgou o Édito de Caracala, que concedeu a cidadania
estimulada por Augusto para engrandecer o povo romano e ana a todos os indivíduos livres do império.
figura do imperador. O poeta Virgílio, contemporâneo de
Augusto, colaborou para divinizar e eternizar a figura de seu A prosperidade econômica
poderoso protetor. Em Eneida, poema épico escrito entre 29 Durante o governo de Augusto e até o século II da
a.C. e 19 a.C., Virgílio narra a epopeia de Eneias, herói troiano era cristã, o império foi ampliado, e a economia romana
que foge enquanto sua cidade era destruída pelos gregos. alcançou grande desenvolvimento. Nesse período de
Protegido pela deusa Vênus, sua mãe, o herói vaga por estabilidade e riqueza, a conquista de novas terras possibilitou
diversos lugares, enfrenta a fúria da deusa Juno e sobrevive a o aumento da produção agrícola e da criação de gado. As
imensos perigos até aportar na Península Itálica. Com essa terras dominadas transformaram- se em grandes zonas
narrativa, Virgílio divinizou a origem de Roma, o ancestral agropastoris, que abasteciam os moradores locais e geravam
troiano Eneias e a nação que ele fundou nas terras da Itália. excedentes para o comércio com outras regiões.
Ao glorificar o povo latino, Eneida também celebra Augusto,
considerado descendente de Eneias. Para garantir esse crescimento, intensificou-se o
uso do trabalho escravo, que se tornou a base da economia
O processo de integração romana. Um terço da população do império era constituído por
escravos, e a maioria, prisioneiros de guerra. No entanto,
Durante o período imperial, o governo embora existisse em todo o império, a escravidão só
romano continuou o processo de romanização das províncias, predominava na Península Itálica.
difundindo a língua e a cultura latinas e implementando a
organização administrativa romana nos territórios O comércio entre Roma e os povos dominados era
conquistados no período. importante fonte de renda para o império. As províncias
romanas forneciam as principais matérias-primas e os
A difusão da cultura latina, no entanto, não produtos consumidos em Roma, como você pode ver no mapa
se deu de maneira uniforme em todas as províncias. Em apresentado abaixo. Porém, a concorrência dos produtos das
algumas regiões, como a Lusitânia (atual Portugal), a cultura províncias afetou negativamente os pequenos proprietários e
latina foi mais bem aceita, e o processo de romanização artesãos, que empobreceram e engrossaram a massa de
ocorreu sem muitos conflitos. Em outras, como na Britânia plebeus marginalizados em Roma.
(atual Reino Unido), houve resistência, e a cultura latina teve
pouca penetração.

Outra estratégia de integração foi a


concessão da cidadania romana aos povos dos territórios
dominados. Como na Grécia, o exercício da cidadania estava
ligado à posse de direitos como o acesso a cargos públicos e
às magistraturas e à participação em assembleias populares.
O direito à cidadania, que poderia ser pleno ou parcial, estava
restrito aos homens livres, sendo vetado a mulheres e
escravos.

A concessão da cidadania romana a um


indivíduo ou a um povo transformou-se em um instrumento
estratégico de controle, pois isso dificultava a união de povos
dominados contra Roma, reduzindo o risco de rebeliões. Ainda
durante o período republicano, os romanos concederam o
direito à cidadania aos demais povos que habitavam a
iniciaram a criação do bicho-da-seda para produzir tecidos há
mais de 2 mil anos.

No auge do Império Romano, no século I, o uso da


seda se tornou moda. Partindo do leste chinês, o tecido era
transportado por desertos, cordilheiras e estepes, percorrendo
até Roma uma teia de caminhos que ficou conhecida como
Rotas da Seda.

Ampliando: prosperidade
econômica

“Sua prosperidade baseava-se na agricultura e na


pecuária. É certo que o império ampliou imensamente sua
área de cultivo. Na África moderna, por exemplo, na Argélia e
na Tunísia, enormes distritos nunca atingidos pela civilização
cartaginesa e que não contêm traços de cidades ou fazendas
cartaginesas, [...] eram densamente povoados e totalmente
Rotas da seda cultivados durante os dois primeiros séculos da era cristã,
especialmente no segundo.
A seda é um tecido feito de um fio muito
brilhante encontrado no casulo do bicho-da-seda. Os ch
DISCIPLINA: HISTÓRIA PROF.: EDUARDO VALENTIM SÉRIE: 1o ANO ENSINO MÉDIO MATERIAL
COMPLEMENTAR – CAP. 08 Roma antiga
Isso se torna bastante evidente pelas ruínas [...] de cidades eatros e aquedutos, eram a expressão da grandiosidade
prósperas e fazendas produtivas. [...] mpério. A ampla utilização do mármore nessas
truções levou os cronistas da época a afirmarem que
É certo que a Gália, a Grã-Bretanha e asto havia edificado uma “cidade de mármore”. Em
Espanha começaram, sob o império, a produzir pela primeira paração com a arquitetura republicana, as construções do
vez grandes quantidades de cereal para exportação [...]. Ado imperial suplantavam em riqueza e singularidade.
prosperidade das províncias ocidentais é atestada pelas
ruínas de muitas cidades florescentes, cujos habitantes eram Muitos desses edifícios eram decorados com
alimentados pelo campo e que não existiam antes desse os e estátuas em bronze ou mármore de imperadores e de
período. Provas ainda mais fortes são fornecidas pelas ruínass personagens da elite política e intelectual do império. A
das fazendas, grandes e pequenas, que vêm atraindo cadaltura romana seguia os padrões gregos de proporção
vez mais a atenção dos arqueólogos. É realmente significativo serenidade e equilíbrio. Muitas vezes, apenas a cabeça
que o solo da Grã-Bretanha esteja coberto, em suas regiõessculpida de maneira realista, de acordo com a fisionomia
planas, com as ruínas de ‘vilas’ grandes e pequenas, que imperadores. O corpo geralmente era representado
eram fazendas ou pontos centrais de grandes propriedades.ito e idealizado, segundo os padrões de beleza da época.
[...] No Egito, o aumento da área cultivada é atestado por Pompeia, a cidade destruída
documentos ali descobertos e pelo conhecimento dos
esquemas de irrigação postos em prática por Augusto.” A cidade de Pompeia situava-se no sul da
ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Rio de Janeiro: Jorge Península Itálica, aos pés do Vulcão Vesúvio. No ano 79 da
Zahar, 1977. p. 245-246. era cristã, o Vesúvio entrou em erupção. A cidade e grande
parte de seus habitantes foram soterradas por uma camada de
Arquitetura e escultura no império 6 metros de cinzas e outros materiais vulcânicos.

Durante o império, os romanos revelaram-se Pompeia foi redescoberta, por acaso, no século
grandes mestres das construções. Os imensos edifícios XVI, mas apenas em 1748 escavações e pesquisas
públicos, como templos, monumentos comemorativos,
começaram a ser realizadas na área. Objetos e edifíc moradias de famílias ricas, casas de banho, anfiteatros e
bom estado de conservação fazem de Pompeia um dos muitos outros vestígios que auxiliam os arqueólogos e os
arqueológicos mais espetaculares do mundo. historiadores a conhecerem a vida cotidiana dos romanos nas
cidades do império.
Entre as ruínas descobertas pelos cientist
DISCIPLINA: HISTÓRIA PROF.: EDUARDO VALENTIM SÉRIE: 1o ANO ENSINO MÉDIO MATERIAL
COMPLEMENTAR – CAP. 08 Roma antiga

Nas escavações, os arqueólogos encontraram ainda numerosos mosaicos e afrescos, pinturas feitas sobre
paredes umedecidas para que as cores se fixassem bem. Os
afrescos, muito populares em todo o império, geralmente
representavam cenas domésticas. Os romanos usavam cores
muito vivas e fortes, como vermelho e azul-escuro.
Mosaico na entrada de uma residência, representando dois atletas e afrescos
ao fundo. Sítio arqueológico de Pompeia, na Itália. Foto de 2014.
Cristianismo: uma nova crença em terras messias viria à Terra para salvar a humanidade de todos
romanas ecados e ensinar o caminho para o reino de Deus.
ndo Jesus iniciou suas pregações, muitos judeus
A religião cristã surgiu na província romanaditaram que ele era o esperado messias e adotaram seus
da Judeia, no início do período imperial, e com o tempo seamentos como guia para a vida.
difundiu pela Europa e pela costa mediterrânea da Ásia e da
África. Embora houvesse várias outras religiões nas terras do Em seus sermões e parábolas, Jesus
império, nenhuma delas foi capaz de promover mudanças tãoou autoridades e costumes judaicos, e defendeu os
intensas no mundo romano quanto o cristianismo. mentos marginalizados da população. Além disso, seu
rso pacifista e a negação do caráter divino do imperador
Os valores cristãos rompiam com o passado uma ameaça à ideologia militarista romana e ao poder
greco- romano, inspirando em homens e mulheres uma novarial. À medida que Jesus ganhava popularidade, alarmava
atitude diante da vida. Ao incorporarem os princípios daites da Judeia e as autoridades romanas, temerosas de
bondade e do amor ao próximo, os fiéis tendiam a se tornarseus ensinamentos pudessem incitar uma grande rebelião
mais resignados com as dores do presente e a transferir suaslar. Por conta desse posicionamento, Jesus foi, então,
esperanças para a vida após a morte. Essas ideias eramdo pelas autoridades romanas e condenado a morrer na
estranhas tanto para a cultura greco- romana quanto para apena bastante comum no mundo romano.
religiosidade das sociedades orientais da época. A difusão do cristianismo

Pregações de Jesus Após a morte de Jesus, os apóstolos deram


continuidade às pregações de seu mestre. Eles se espalharam
O fundador do cristianismo foi Jesus. Sua
pelo Oriente Médio, pela Grécia e pela Península Itálica, onde
história foi narrada por seus discípulos nos Evangelhos do
formaram as primeiras comunidades cristãs. Como as
Novo Testamento, em particular nos livros dos apóstolos
autoridades romanas proibiam os cultos cristãos, os apóstolos
Mateus, Marcos, Lucas e João.
conduziam cerimônias em residências ou escondidos em
Segundo as Escrituras, Jesus nasceu em catacumbas.
uma família judia na cidade de Belém, na província romana da
Com a multiplicação das conversões, os apóstolos
Judeia. Aos 30 anos, iniciou suas pregações, seguido por um
recrutaram discípulos para ajudar na propagação da fé cristã.
grupo de apóstolos que ele mesmo selecionou. Jesus pregava
Ao fim do século I, as igrejas cristãs de grande parte da
a existência de um deus único, a igualdade de todos aos olhos
Europa e da Ásia Menor já contavam com uma hierarquia de
de Deus, o perdão, o amor ao próximo e o desapego às
cargos e funções relativamente bem definida.
riquezas materiais.
Além da obra de evangelização, os apóstolos
De acordo com a tradição religiosa judaica,
também se encarregaram de reunir os textos que contin utilizadas para sepultamento e celebração de ritos,
mensagem de Jesus. O resultado foi uma coletânea especialmente pelos cristãos.
livros, escritos por autores diferentes ao longo do séc
que formam os textos canônicos do Novo Testamento.
Apóstolo: pessoa que se dedica a propagar um id
discípulo de Jesus Cristo.

Messias: salvador; redentor; líder prometido por


Deus.

Parábola: narrativa alegórica que transmite u


mensagem de forma indireta por meio
comparações.

Catacumba: conjunto de galerias subterrân


DISCIPLINA: HISTÓRIA PROF.: EDUARDO VALENTIM SÉRIE: 1o ANO ENSINO MÉDIO MATERIAL
COMPLEMENTAR – CAP. 08 Roma antiga
Perseguição e triunfo do
cristianismo

Os cristãos recusavam-se a adorar o imperador e os deuses pagãos, e por isso passaram a ser perseguidos
pelas autoridades romanas. As perseguições, porém, não
ocorriam o tempo todo. Havia períodos de paz em que os
cristãos podiam percorrer as terras romanas levando a
mensagem deixada por Jesus.
Canônico: de acordo com as regras e a doutrina da
Igreja.
A perseguição aos cristãos não impediu o gregos, estranha, balbuciante. No início, o termo
crescimento do novo credo e a consolidação da Igreja cristã,nava povos inferiores, selvagens, incivilizados, os que
cada vez mais organizada. A partir do século III, quando osaziam parte da cultura grega. O termo, portanto, adquiriu
imperadores começaram a perder força e a unidade do conotação pejorativa, pois, para os gregos, todos os
império passou a ser ameaçada, a Igreja já era uma instituiçãongeiros – inclusive romanos – eram considerados
poderosa, capaz de influenciar grande parte dos habitantes doaros”.
império. Por isso, tornou-se importante ter seu apoio.
No século I, porém, “bárbaro” passou a ser
A legislação imperial demonstrou essaegado pelos romanos. Mantendo a conotação pejorativa,
mudança: em 313, pelo Edito de Milão, o imperadormo identificava os povos que viviam fora das fronteiras do
Constantino, já convertido, concedeu liberdade de culto aosrio, ou seja, não partilhavam dos costumes nem da
cristãos e adotou um símbolo cristão para sua armada (onização política romana. Entre os povos denominados
crisma); em 380, o imperador Teodósio, pelo Edito dearos”, o grupo predominante era formado pelo conjunto
Tessalônica, tornou o cristianismo a religião oficial do Impérioovos germânicos originários do centro-norte e do nordeste
Romano. uropa: francos, ostrogodos, visigodos, vândalos, anglos e
es, entre outros.
Em menos de quatro séculos, o cristianismo
deixou de ser uma religião perseguida para se transformar em Embora todos os estrangeiros fossem
religião de Estado. mente classificados como “bárbaros”, havia diferenças
antes na sua cultura e modo de vida. Alguns eram
Leia, abaixo, o que o historiador Pierre ades e viviam quase exclusivamente da prática da
Grimal escreveu a respeito: “ [No século III] ainda se verificamgem; outros viviam em vilas, dedicando-se às atividades
pastoris.
perseguições [...] mas também é evidente que [...] a tolerância
Até o século IV, o convívio dos romanos com
em relação aos cristãos surge como uma necessidade política
ovos chamados “bárbaros” foi relativamente pacífico.
e torna-se regra. [...] A religião cristã adquirira já um grande
os líderes “bárbaros”, inclusive, tinham acordos com os
peso no império. Um dos dois Césares [...] publica [...] um
radores de Roma pelos quais podiam se instalar nas
edito de tolerância. O que equivalia a reconhecer o poder do
s fronteiriças do império em troca de auxiliar na
deus dos cristãos. [...] O poder já não persegue os cristãos,
rança da região. Eles também serviam as legiões
favorece-os, ajuda-os. [...] Em vez de aparecer como uma
nas como mercenários e, quando os
força mortal no império, o cristianismo é um elemento de
escravos começaram a se tornar escassos, obtiveram
coesão, um fator de unidade no Ocidente [...].”
permissão para entrar no império a fim de servirem como mão
GRIMAL, Pierre. O Império Romano. Lisboa: Edições 70, 1999. p.
129-131
de obra.

Povos “bárbaros” A crise do Império Romano

De origem grega, a palavra bárbaro era No século III, o Império Romano viveu uma crise
usada para nomear os estrangeiros, aqueles cuja fala soava, profunda, na qual se modificaram as características da
sociedade, da economia, da política e da cultura de Roma.
Vejamos como essa crise se desenvolveu.
Simultaneamente, o império foi duramente
Por séculos, Roma lutou para dominar impactado pela diminuição do número de escravos devido à
povos. No início do século II, as conquistas de Trajan redução das guerras de conquista. É importante lembrar que a
governou entre 98 e 117, levaram o império à sua ex maior parte da mão de obra escrava do império era composta
máxima. No entanto, suas campanhas militares foram de prisioneiros de guerra. A falta de escravos afetou
dispendiosas e algumas delas não tiveram êxito. Adrian principalmente as propriedades da Península Itálica, que
sucessor, renunciou às guerras de conquista e abando dependiam desse tipo de mão de obra para todo tipo de
territórios da Mesopotâmia, submetidos por Trajan
trabalho. Invasões “bárbaras”
avaliar que era difícil administrá-los.

Com a diminuição das guerras de conquis


Dispendioso: que dá muita despesa;
fronteiras do império mantiveram-se estáveis. As legiões
caro
deslocadas para controlar os territórios já conquista
garantir a ordem interna, além de reforçar as fronteiras. No século III, severas condições climáticas e o
ataque de outros povos forçaram inúmeros grupos germânicos
Os gastos para administrar um território tão
a migrarem em direção às terras romanas. No entanto, à
no entanto, não diminuíram. O Estado romano pre
medida que as dificuldades econômicas do império se
garantir suprimentos para o exército, alimento p
intensificaram, os deslocamentos desses povos, antes
população pobre, conservar as estradas para per
pacíficos, mudaram de caráter e tornaram-se violentos.
comunicação com as províncias, remunerar funcionários
Nas batalhas, muitas cidades e estradas romanas
Além disso, com a redução das guerr
ficaram destruídas, e a fome agravou-se devido aos problemas
conquista, a entrada de dinheiro nos cofres públicos dim
de abastecimento. Com medo, parte da população refugiou-se
Os saques às cidades inimigas e os tributos pagos
nos campos, em um processo que ficou conhecido como
províncias eram insuficientes. Assim, para sustentar os
ruralização do império.
do Estado e pagar os legionários, os imperadores aume
os impostos, o que provocou revoltas populares.
DISCIPLINA: HISTÓRIA PROF.: EDUARDO VALENTIM SÉRIE: 1o ANO ENSINO MÉDIO MATERIAL
COMPLEMENTAR – CAP. 08 Roma antiga
Nos campos, muitos pequenos proprietários
empobrecidos procuraram se proteger das guerras e encontrar
meios de sobreviver. Assim, em troca de proteção, eles
cederam suas terras aos grandes proprietários, passando a
trabalhar para eles como colonos e entregando parte do que
produziam. Esse sistema de trabalho, chamado de colonato,
foi aos poucos prevalecendo no lugar do sistema escravista
nos territórios do Império Romano.

No ano 330, diante da gravidade da crise, o


imperador Constantino procurou outro local para sediar a
capital do império, longe dos motins, dos golpes e das
conspirações que abalavam Roma. A cidade escolhida foi
Bizâncio, antiga colônia grega que, ao se transformar em
capital romana, passou a se chamar Constantinopla, em
homenagem a Constantino.
Queda do Império Romano

O Império Romano ainda conseguiu


manter-se unificado até o ano 395, quando foi dividido em
Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla,
e Império Romano do Ocidente, sediado em Ravena e mais
tarde em Milão. O Império Romano do Oriente tornou- -se
conhecido como Império Bizantino. Ao contrário do ocidental, o
Império do Oriente conseguiu resistir aos ataques externos até
1453, quando a capital Constantinopla foi tomada pelos turcos.

O Império Romano do Ocidente caiu em 476,


quando foi deposto Rômulo Augústulo, o último imperador
romano. Vários séculos mais tarde, historiadores europeus
elegeram esse acontecimento político como o marco do fim da
Antiguidade e o início de um longo período de quase mil anos,
que ficou conhecido como Idade Média.
DISCIPLINA: HISTÓRIA PROF.: EDUARDO VALENTIM SÉRIE: 1o ANO ENSINO MÉDIO MATERIAL
COMPLEMENTAR – CAP. 08 Roma antiga

Você também pode gostar