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Capítulo 6

Capítulo 6

Os primeiros séculos de Roma

Ao longo da história, diferentes sociedades conquistaram grandes territórios, formaram


impérios poderosos – caso dos macedônicos e dos persas –, e conseguiram impor valores,
costumes, crenças e hábitos a diversos povos. Porém, muitas dessas sociedades dominadoras
não exerciam seu poder por muito tempo, desagregando-se após a morte de um líder ou por
conflitos internos e disputas com outros povos.

Houve, no entanto, outras sociedades que conseguiram impor seu domínio por um período
maior, influenciando de forma significativa a organização social e os processos históricos de
determinadas regiões do planeta. Tal processo ocorreu no Mediterrâneo e em regiões vizinhas, a
partir do século V a.C., com o início da expansão territorial de Roma, cidade que se desenvolveu
no atual território da Itália.

Aos poucos, Roma dominou as terras e os povos vizinhos na Península Itálica e expandiu suas
conquistas pelo Mar Mediterrâneo e seus arredores, transformando-se na maior potência da
região na Antiguidade durante séculos, apesar dos graves conflitos sociais que se
desenvolveram nos seus territórios.

Com isso, se faz importante conhecer sua cultura para compreender o mundo
contemporâneo, já que esse povo deixou marcas profundas nas sociedades ocidentais. Aspectos
do Direito romano, por exemplo, basearam os códigos legais do Ocidente; o cristianismo, uma
das principais religiões mundiais, mesmo nascido no Oriente Médio, se desenvolveu e se
disseminou nos territórios romanos; o estilo arquitetônico foi reproduzido em muitas cidades do
mundo; e modelos de organização política, como a república, foram criados por esse povo,
influenciando a maneira como se pensa a política até hoje.

Este capítulo analisa o processo de formação da sociedade romana, o início de sua expansão
territorial e os seus impactos nas regiões do Mediterrâneo durante a Antiguidade. Dessa forma, é
possível entender como esse poderoso império se formou e conseguiu influenciar a sociedade
contemporânea.

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O Arco do Triunfo é um dos monumentos mais conhecidos de Paris, na França. Construído no início do
século XIX para comemorar as vitórias de Napoleão Bonaparte, ele é um símbolo da influência da Roma
Antiga nas épocas posteriores e teve a sua arquitetura baseada nos arcos construídos pelos romanos para
celebrar vitórias do exército.

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Origem de Roma
A origem de Roma está relacionada ao encontro de diversos povos diferentes ao longo do
tempo na região da Península Itálica (ver mapa ao lado). Um dos principais grupos povoadores
da região era o dos italiotas, um povo de origem indo-europeia que ocupou a região central da
península e que era formado por diferentes grupos, como os latinos, os sabinos, os ilírios, os
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volscos, os samnitas, os úmbrios e os équos. A parte norte da península foi habitada pelos
etruscos, e o sul, pelos gregos, formando a região da Magna Grécia.

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ATLAS de História mundial, 2001.
Os etruscos iniciaram a ocupação da Península Itálica por volta de 1000 a.C. e lá criaram, nos
séculos seguintes, doze cidades-Estado que formaram uma confederação. Por isso, eles exerciam
grande influência na região, estabelecendo-se como uma força militar importante, capaz de
evitar o avanço da colonização grega pelo interior da península. Essa confederação acabou se
tornando o Império Etrusco, o qual atingiu seu auge no século VI a.C.

Nesse período, os etruscos viviam do comércio no Mediterrâneo (principalmente com os


cartagineses e com algumas cidades gregas), da exploração de minas de ferro e cobre e da
agricultura. Com essas atividades, eles enriqueceram e se fortaleceram, passando a impor seus
costumes a outros povos da Península Itálica, caso dos latinos.

Os diversos povoados latinos viveram ao sul do Rio Tibre, em uma região da Península Itálica
chamada de Lácio, e se estenderam ao longo desse rio e por territórios vizinhos. Para se proteger
de outros povos conquistadores, eles criaram um acampamento militar, o que não conteve o
avanço dos etruscos, que os dominaram por volta do século VIII a.C., fazendo-os viver de acordo
com seus costumes. Isso resultou na unificação dos povoados do Lácio em uma única cidade:
Roma.

Nesse período de dominação, a cidade de Roma adotou o sistema de governo etrusco, a


monarquia, tendo, como primeiros governantes, reis etruscos. Além do rei, a cidade era
governada por um Senado, formado por uma assembleia de nobres, e por comícios curiatos, que
eram compostos por cidadãos romanos, os quais tinham funções legislativas e o direito de
aprovar guerras. Esse sistema de governo foi mantido até o século VI a.C., quando a monarquia
foi deposta.

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Interior de uma tumba etrusca localizada na necrópole de Cerveteri, na Itália.

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SAIBA MAIS

Os romanos tinham grande interesse pela narrativa histórica. Seus primeiros historiadores
escreveram, a partir do século IV a.C., obras importantes sobre as origens de Roma e sobre
sua expansão territorial pelo mundo antigo. Porém, por muito tempo, a história romana foi
preservada por meio das tradições orais, que remontam ao século VIII a.C., o que
possibilitou a criação de mitos diversos para apresentar as origens de Roma.

Um dos principais mitos sobre a origem dessa cidade conta que ela foi fundada por dois
irmãos, Rômulo e Remo. Eles foram abandonados por seus pais quando ainda eram bebês
por causa de disputas políticas, sendo resgatados e cuidados por uma loba. Quando
cresceram, os irmãos fundaram a cidade de Roma, mas uma disputa entre eles fez com que
Rômulo assassinasse seu irmão e se tornasse o primeiro rei romano.

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Escultura da loba amamentando Rômulo e Remo. Essa representação é conhecida como Loba
Capitolina (acervo do Museu Capitolino, em Roma) e foi elaborada no Período Medieval; as esculturas
dos gêmeos são do século XV.

Outra explicação mítica importante associava a origem de Roma ao herói troiano Eneias. Ele
fugiu da Guerra de Troia, ocorrida entre os gregos e troianos, e buscou um local para iniciar
a construção de uma nova pátria, chegando assim à região do Lácio e fundando Roma. Essa
versão da origem da cidade ganhou sua principal manifestação nos poemas de Virgílio (70
a.C.-19 a.C.) em sua obra mais importante, Eneida.

Da monarquia à república
Os romanos foram governados por sete reis etruscos. Como a monarquia não era hereditária,
os reis eram escolhidos pelo Senado e governavam por toda a vida, o que possibilitava uma
aliança entre os patrícios, o grupo social mais influente da nobreza romana, e os reis. A
existência do Senado reforçava essa aliança e impedia que o rei sozinho se tornasse a única
força política a se impor sobre a sociedade romana.

Entre os séculos VIII a.C. e VI a.C., a população romana cresceu e se transformou. Nesse
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período, os patrícios foram se fortalecendo e se impondo cada vez mais, e o Império Etrusco, por
sua vez, foi perdendo sua força e influência na Península Itálica. Esses dois fatores abriram
caminho para a organização dos patrícios contra o sistema monárquico imposto pelos etruscos
em Roma.

Imagem de Tarquínio, o Soberbo, publicada em 1553 por Guillaume Rouille, na obra Promptuarii Iconum
Insigniorum.

Nesse cenário, em 509 a.C., o último rei etrusco, Tarquínio, o Soberbo, foi deposto, o que
marcou a queda da monarquia em Roma. As causas da deposição, contudo, não são conhecidas,
podendo ter sido resultado tanto de uma revolta violenta da população romana, liderada pelos
patrícios, quanto de uma articulação política.

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Com o fim da monarquia, os romanos passaram a adotar um sistema de governo republicano,


ou seja, não existiam mais reis, e as decisões políticas seriam tomadas por um conjunto de
assembleias, com o Senado continuando a ser a principal delas. Além disso, foram criados
diversos comícios, que reuniam diferentes setores da sociedade romana e que podiam participar
da nomeação de alguns dos magistrados.

Representação de senadores romanos reunidos. Relevo em mármore exposto no interior da Cúria Júlia,
uma das construções públicas que sediou as reuniões do Senado romano na Antiguidade.

Os magistrados dispunham de poderes importantes para a organização romana, acumulando


funções variadas, como cuidar dos recursos financeiros da cidade, manter a limpeza e a ordem,
aplicar a justiça, entre outras. No topo do sistema de magistratura, estavam os cônsules, eleitos
pelos senadores e possuidores de poder militar e civil, podendo tomar decisões administrativas
importantes para a vida na cidade.

Com o objetivo de evitar a concentração do poder nas mãos de um único indivíduo, os


romanos elegiam dois cônsules, para que um vigiasse e controlasse a autoridade do outro,
impedindo o surgimento de um novo monarca capaz de impor seu poder sobre os romanos.

Com a passagem de monarquia para república, os patrícios dominaram os principais


mecanismos políticos de Roma e passaram a governá-la. Como será visto adiante, o poder dos
patrícios está na origem de diversos conflitos sociais envolvendo todos os setores da população
romana nos séculos seguintes. Esses conflitos modificaram a maneira como a cidade era
governada e abriram caminho para reformas políticas que permitiram a participação de outros
representantes da sociedade na política e na administração dos territórios romanos.

AGORA É COM VOCÊ


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Texto para as questões 1 e 2.

Quais honras são contadas antes de a cidade ter sido fundada ou no ato de sua fundação
mais com fábulas poéticas do que com monumentos incorruptos dos fatos, essas coisas não
pretendo confirmar nem refutar. Dá-se licença à Antiguidade para que, misturando as coisas
humanas às divinas, faça mais augustos os primórdios da cidade; e se a algum povo é lícito
consagrar suas origens e remontar seus fundadores aos deuses, a glória militar do povo
romano é tal que, ao citar Marte como pai e fundador, que todos os outros povos suportem
com o mesmo ânimo com que suportam o Império. Sobretudo é salutar e frutífero no
conhecimento dos fatos: que tu contemples todo tipo de exemplos que são testemunhos
dispostos sob a clara luz da obra. Nela se encontra para o teu benefício e o da república, o
que ser imitado, bem como coisas indignas na sua origem e em seu fim, que deves evitar.

Disponível em: http://books.scielo.org/id/vvx3m/pdf/collares-9788579830969-03.pdf. p. 107-108.

1. No texto anterior, escrito por Tito Lívio (59 a.C.-17 d.C.), um dos principais historiadores
romanos, o autor discute o problema das explicações míticas para a origem de Roma e a
postura que tomou na elaboração de sua obra sobre a história dessa cidade e de suas
conquistas. Tito Lívio considera que os historiadores deveriam abandonar
completamente os mitos e as fábulas sobre o passado de Roma? Justifique sua resposta.

2. No trecho citado, o historiador apresenta uma das principais razões pelas quais os
romanos se dedicavam ao estudo da história. Qual é essa razão?

3. Caracterize brevemente dois dos principais mitos sobre a fundação de Roma. Eles
coincidem com as interpretações históricas do mesmo fato?

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Organização social de Roma


A sociedade romana era dividida em diferentes grupos sociais. No topo da sociedade,
estavam os patrícios, que se consideravam descendentes dos fundadores de Roma e, por isso,
afirmavam 18
Avaliarter mais direitos que os demais habitantes da cidade. Desde o período monárquico,
esse grupo teve grande força política, impondo seus interesses na organização política e
administrativa da cidade. Eles eram grandes proprietários de terra e viviam da agricultura,
assim, desejavam a expansão territorial romana, já que ela possibilitaria a conquista de novas
terras e escravizados.

Abaixo dos patrícios, estavam os plebeus, indivíduos livres que viviam em Roma. Eles
desempenhavam diversas atividades profissionais, como artesanato, comércio e serviços
urbanos, podendo ser também proprietários de terra. Diferentemente dos patrícios, os plebeus
não tinham força política e, por muito tempo, não puderam participar das principais decisões da
cidade e nem ter cargos políticos, conquistando alguns direitos somente após intensos conflitos
sociais.

Abaixo dos plebeus, vinham os clientes, que podiam ser indivíduos que nasceram
escravizados mas conquistaram a liberdade, filhos de escravizados ou estrangeiros que viviam
em Roma. Eram considerados menos importantes que os plebeus e não tinham direitos
políticos. Viviam na dependência dos patrícios por meio de um contrato entre ambos, o qual
estabelecia que o cliente tinha o direito de viver e trabalhar nas terras do patrício, assim como
ser alimentado e receber roupas novas uma vez por ano. Em contrapartida, os clientes deveriam
prestar obediência, favores e trabalhos, inclusive lutar em guerras no lugar dos patrícios.

Na base da sociedade romana encontravam-se os escravizados, que podiam ser indivíduos


aprisionados em guerras e forçados a viver em Roma ou ainda pessoas que não conseguiam
saldar suas dívidas. A principal função dos escravizados romanos era realizar os trabalhos
agrícolas, havendo, ainda, aqueles que desempenhavam tarefas domésticas ou urbanas. Eles
não tinham direitos políticos ou sociais e podiam receber tratamentos duríssimos de seus
senhores.

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Os mosaicos acima apresentam algumas cenas cotidianas do território romano. Na imagem 1, tem-se a
representação da esposa de um patrício (mulher no centro); o mosaico 2 retrata a condução de um javali
por dois clientes, provavelmente; e em 3, mosaico do século II, encontrado na Tunísia, no norte da África,
apresentam-se dois escravizados que carregam jarros de vinho.

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Cultura romana
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A Península Itálica foi ocupada por diferentes povos na Antiguidade, fato que promoveu
intensas trocas culturais. A cultura romana, então, pode ser considerada o resultado do encontro
de diferentes povos, com hábitos e crenças diversas, tendo sido a cultura etrusca uma de suas
principais influências. Isso se manifesta em diferentes aspectos da vida romana, como no modo
de ocupação do espaço. Os etruscos formaram uma sociedade urbana, dominando, dessa
maneira, técnicas importantes para a construção de cidades, como a drenagem de águas e
pântanos e a criação de redes de esgoto e abastecimento de água. Além disso, eles construíram
estradas que permitiram a conexão de diferentes territórios.

Tudo isso marcou bastante o modo de vida dos romanos, já que eles também se
desenvolveram como uma sociedade urbana. Além das obras de melhoramento das cidades, os
romanos também assimilaram dos etruscos técnicas importantes de construção de abóbodas, o
que possibilitou a edificação de grandes palácios e templos.

SAIBA MAIS

O passado vivo nas ruas de Pompeia

Muito do que se sabe sobre o cotidiano em Roma é resultado das evidências arqueológicas
preservadas na cidade de Pompeia, localizada próxima à atual cidade de Nápoles, na Itália.
Ela foi destruída em 79 d.C. pela erupção do vulcão Vesúvio, e as cinzas do vulcão
preservaram construções, objetos e corpos dos habitantes locais. Assim, hoje é possível, por
meio desses vestígios preservados, estudar e entender melhor como os romanos viviam.

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Corpo preservado de um habitante de Pompeia após a erupção do vulcão Vesúvio.

UmAvaliar
exemplo disso é o estudo das habitações de Roma. Foram preservadas quase metade
18
das construções romanas, cerca de 500 casas de tamanhos diversos. Elas costumavam ser
divididas em cômodos em torno de um átrio, usado como depósito de objetos variados e
lugar do poço de água da casa, onde as pessoas trabalhavam na produção de tecidos e
outras peças artesanais. Além do átrio, havia os cômodos de dormir, a sala de jantar e a
cozinha. Algumas casas podiam ter dois pisos, possuindo mais compartimentos, sendo os
do piso superior geralmente ocupados pelos escravizados da família. Um fato curioso é que
os romanos não separavam o banheiro da cozinha, sendo normal encontrar penicos e
assentos de madeira ligados a drenos próximos ao local onde eram preparados os
alimentos.

Vista de parte da cidade de Pompeia.

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Outro elemento importante da cultura etrusca era a religiosidade. Esse povo tinha crenças
religiosas semelhantes a de povos orientais, especialmente aqueles que viviam na região da
Mesopotâmia,
Avaliar na Antiguidade, e acreditavam em divindades misteriosas e ameaçadoras.
18 Eles
desenvolveram rituais de sacrifícios de animais e mágicas que ajudariam a prever o futuro e a
lutar contra as forças sobrenaturais. Uma de suas tradições era realizar rituais antes de
importantes eventos políticos ou militares.

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As imagens acima exemplificam a influência grega na cultura romana, especificamente na arquitetura. Na
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foto 1, vê-se o templo grego do deus Poseidon no sul da Grécia; na foto 2, tem-se o templo romano,
provavelmente dedicado à deusa Diana em Évora Portugal
provavelmente dedicado à deusa Diana, em Évora, Portugal.

As crenças religiosas dos etruscos marcaram fortemente as dos romanos, já que estes
desenvolveram inúmeros rituais de adivinhação do futuro por meio de sacrifício de animais e
outras técnicas, bem como acreditavam ser fundamental realizar sacrifícios aos deuses sempre
que se formavam novos governos ou antes de batalhas e guerras contra povos vizinhos.

Porém, as crenças religiosas romanas não foram influenciadas apenas pelos etruscos. Outra
fonte importante para entender o pensamento romano é a cultura helenística. Como visto no
capítulo anterior, as práticas e crenças gregas se disseminaram pela Antiguidade e marcaram o
modo de vida de diversos povos, entre eles os romanos.

Os deuses gregos, por exemplo, foram assimilados pelos romanos e se tornaram as principais
divindades cultuadas em Roma por muitos séculos. Ainda que esses deuses tenham recebido
novos nomes, os traços essenciais da religião grega foram mantidos: divindades com caráter
antropomorfo e com poder para intervir na vida humana, afetando os destinos da sociedade,
além da crença em mitos para a explicação de fenômenos históricos e sociais.

Os romanos também assimilaram técnicas artísticas dos gregos, o que contribuiu para o
desenvolvimento de sua arquitetura. Por isso, esculturas, cerâmicas, trabalho com metais e
outras expressões artísticas romanas apresentam semelhanças formais e temáticas com as do
mundo grego.

Nesse contexto, a Matemática grega desempenhou um papel relevante, pois foi utilizada
pelos romanos para aplicar cálculos e análises de figuras geométricas na elaboração de técnicas
arquitetônicas complexas e variadas. Outro saber grego importante foi o da Medicina. Por volta
do século IV a.C., os romanos tiveram contato com diversos médicos gregos e passaram a contar
com remédios e técnicas cirúrgicas que até então desconheciam.

O Direito grego também influenciou fortemente os romanos. Ao longo do tempo, os gregos


criaram códigos legais escritos que sistematizavam as leis e as punições que regulamentavam a
vida nas cidades, prática que Roma também adotou, chegando a se inspirar em leis gregas para
criar as suas próprias.

O alfabeto romano também é o resultado de múltiplas influências. Esse povo falava uma
língua chamada latim e, para produzir seus textos, criou um novo alfabeto, o latino, com forte
influência do grego e do etrusco. O sistema de letras do latim se tornou base do alfabeto de
grande parte das línguas ocidentais.

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Representação do alfabeto latino (romano) esculpido no Altar da Paz Augustina, em Roma.

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Economia romana
Com a criação da República, o poder político em Roma ficou sob o controle dos patrícios, o
que afetou a maneira como a economia dessa sociedade se organizava. Esse grupo dependia
diretamente da exploração de grandes propriedades de terra, constituindo-se como um grupo
social de latifundiários. Por isso, para ampliar suas riquezas, os patrícios consideravam
fundamental o domínio de novas terras.

Esse processo possibilitaria não apenas a expansão dos domínios dos patrícios, mas também
a captura de prisioneiros que poderiam ser escravizados e obrigados a trabalhar em suas
propriedades. Assim, os dois pilares da economia romana, desde o início da República, foram a
conquista de terras, que seriam transformadas em latifúndios, e o uso da mão de obra escrava
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nessas propriedades.
TOME NOTA

O desenvolvimento da agricultura romana ao longo da República teve implicações


importantes para o meio ambiente da Península Itálica. As terras onde os romanos viviam
eram muito férteis e permitiam o cultivo de diversos cereais, vinhas, oliveiras e árvores
frutíferas. Porém, com o tempo, os romanos passaram a derrubar as florestas e modificar o
equilíbrio químico do solo, o que resultou em uma grande perda de fertilidade dessas
terras. Os romanos, então, tentaram melhorar suas técnicas agrícolas, inclusive com a
invenção de procedimentos de irrigação mais complexos, o que não foi suficiente. Por isso,
a expansão territorial também se tornou uma necessidade para continuar alimentando a
população romana diante de um solo cada vez mais empobrecido pela intensa exploração
agrícola.

Início da expansão territorial


A busca por novas terras fez com que Roma organizasse suas forças militares com o objetivo
de conquistar os territórios vizinhos. Em 497 a.C., teve início a expansão romana e a conquista
de todo o Lácio, transformando Roma em uma força regional que podia ameaçar o que restava
do poder dos etruscos na península. Nas décadas seguintes, ocorreu uma série de
enfrentamentos entre esses povos que terminaram apenas em 395 a.C., quando os romanos
tomaram Veios, uma das principais cidades etruscas, promovendo a desagregação desse
império.

Entretanto, os romanos encontraram dificuldades em continuar avançando rumo ao norte,


pois foram impedidos por celtas e gauleses, povos que viviam nas proximidades. Nesse cenário,
os romanos passaram a formar alianças com outras cidades da Península Itálica e concentraram
seu movimento expansionista para o sul da península e na direção do Mar Mediterrâneo.

Assim, conquistaram outros povos que viviam na Península Itálica, como os samnitas, e, a
partir de 290 a.C., chegaram aos territórios da Magna Grécia. Algumas cidades gregas acabaram
dominadas pelos romanos, enquanto outras estabeleceram alianças e acordos políticos que
fortaleciam os conquistadores e garantiam-lhes uma certa autonomia. Nesse período, porém,
existia outra importante força militar que também se expandia na região: a antiga colônia fenícia
de Cartago.

AGORA É COM VOCÊ


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Imagens para as questões 1 e 2.

1. A primeira das imagens acima é uma estátua grega feita no século IV a.C. representando
uma figura masculina, e a segunda é uma estátua romana criada entre os séculos II e I
a.C. Cite as diferenças e semelhanças entre as obras.

2. Com base na observação das duas imagens, o que se pode dizer sobre as relações
culturais entre gregos e romanos?

3. Os etruscos influenciaram fortemente a formação da cultura romana. Cite as principais


influências.

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As Guerras Púnicas e o domínio do
Mediterrâneo
Os primeiros choques entre romanos e cartagineses ocorreram devido ao avanço romano na
região da Sicília, ao sul da Península Itálica. Esse território era dominado pelos cartagineses, que
viram seu poderio no Mediterrâneo ameaçado pelas ações militares romanas. Por isso, entre 264
a.C. e 241 a.C., teve início a primeira guerra entre as duas cidades, na qual os romanos saíram
vitoriosos e fortalecidos, já que passaram a contar com uma poderosa frota naval, dominando,
durante o conflito, a Sicília, a Córsega e a Sardenha. Os cartagineses, porém, não desistiram de
enfrentar os romanos e conquistaram territórios que teriam importância estratégica para detê-
los, como algumas regiões da Espanha.

Deu-se início, então, ao segundo conflito entre as duas cidades, ocorrido entre 218 a.C. e 202
a.C. Dessa vez, os cartagineses tiveram uma vantagem inicial, devido ao avanço de suas tropas
por territórios importantes da Espanha. Eles não conseguiram, contudo, ocupar Roma e
acabaram derrotados. Ainda assim, Cartago conseguiu reorganizar suas forças e lançar um
terceiro ataque contra os romanos, entre 149 a.C. e 146 a.C. Estes, por sua vez, devido ao
poderio militar superior, destruíram a cidade de Cartago. Durante esse último embate, os
romanos ocuparam também regiões da África e da Ásia Menor e passaram a se organizar para
atacar os territórios macedônicos.

Gravura colorida do século XIX representando a Batalha de Zama, que ocorreu em 202 a.C., durante a
Segunda Guerra Púnica. Os cartaginenses usaram elefantes como transporte e para combate em muitas
batalhas das Guerras Púnicas.

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A vitória dos romanos mudou a relação de forças na região do Mediterrâneo. Em 146 a.C., eles
dominaram a Macedônia e o mundo grego e ocuparam regiões do Oriente Médio, como a Síria.
Os principais territórios banhados pelo Mar Mediterrâneo estavam, dessa forma, sob o comando
de Roma, que passou a controlar as rotas comerciais mais importantes da região. Assim, seus
comerciantes enriqueceram, e a cidade cresceu.

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As guerras possibilitaram o fortalecimento dos líderes militares, que adquiriram prestígio e


fortuna. Algumas figuras ganharam influência política e passaram a ter condições de intervir no
funcionamento da República com uma frequência cada vez maior. Outra consequência da
expansão territorial foi o agravamento das desigualdades na sociedade romana, especialmente
a diferença entre a aristocracia e os plebeus.

ATLAS de História mundial, 2001.


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Disputas políticas e sociais durante a
República
Desde o início da República, a plebe romana demonstrou sua insatisfação com o controle dos
patrícios sobre os cargos políticos de Roma, o que resultou em embates constantes entre os dois
grupos sociais. Em 493 a.C., por exemplo, ocorreu um grande protesto de plebeus contra as leis
que permitiam a escravidão por dívidas, obrigando os patrícios a proibir essa prática. Além
disso, foi criado o Tribunato da Plebe, um órgão com poder de criar leis de interesse dos plebeus
e de barrar decisões do Senado.

Em 451 a.C., uma nova vitória dos plebeus resultou na criação da chamada Lei das Doze
Tábuas, um código de leis escritas que protegiam os direitos dos plebeus e evitavam a
manipulação da justiça em favor dos patrícios. Em 445 a.C., foi aprovada a Lei Canuleia, que
permitia o casamento entre patrícios e plebeus, algo proibido até então; posteriormente, em 400
a.C., os plebeus conquistaram também o direito de participar do Senado. Apesar de essas
conquistas assegurarem aos plebeus direitos e participação nas decisões políticas de Roma, elas
não bastaram para reduzir as desigualdades econômicas existentes nessa sociedade.

A expansão territorial promoveu o enriquecimento de Roma e o surgimento de indivíduos


que acumularam grandes fortunas e propriedades de terra, o que resultou na formação de um
novo grupo social, a nobreza romana. Muitos dos nobres eram antigos patrícios, mas também
existiam líderes militares e outras pessoas que enriqueceram com o comércio e as guerras. Esse
novo grupo foi o principal beneficiário da expansão romana, já que passou a controlar os
grandes latifúndios e os escravizados romanos.

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Por outro lado, os plebeus foram seriamente prejudicados pelas guerras. Durante os
confrontos, muitos pequenos proprietários perderam seus bens, já que não podiam trabalhar
enquanto lutavam e, quando voltavam das batalhas, precisavam vender suas terras para pagar
as dívidas acumuladas ao longo dos anos. A nobreza, cada vez mais rica, comprava essas terras e
aumentava suas propriedades.

A insatisfação entre os plebeus aumentou, e eles passaram a pressionar por mudanças na


divisão das terras e por uma reforma agrária. Nessa luta, dois irmãos, Tibério e Caio Graco, se
destacaram, pois, entre 133 a.C. e 121 a.C., tentaram aprovar leis no Senado que promovessem a
reforma agrária. A nobreza e os antigos patrícios, contudo, não concordaram e organizaram o
assassinato
Avaliar dos irmãos, sufocando o movimento plebeu. 18
Escultura romana representando Tibério e Caio Graco.

A desigualdade transformou rebeliões e protestos em acontecimentos recorrentes em Roma.


Para agravar ainda mais a tensão, o crescimento do número de escravizados criou a
possibilidade de revoltas desse grupo, as quais ameaçavam a produção nas grandes
propriedades e o controle político da nobreza romana, sendo, portanto, duramente reprimidas e
massacradas. Foi nesse cenário que a República romana começou a entrar em crise.

Fim da República romana


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Devido ao prestígio alcançado durante as campanhas bélicas e na repressão às rebeliões de
plebeus e escravizados, os militares romanos se tornaram uma importante força política. Em 104
a.C., após uma campanha militar bem-sucedida na África, o comandante Caio Mário retornou a
Roma e foi reeleito cônsul, o que possibilitou a realização de uma reforma no Exército romano,
que profissionalizou as forças armadas e permitiu a participação de plebeus pobres nas guerras.
O exército se transformou em uma força social ainda mais poderosa, pois contava com o apoio
de plebeus insatisfeitos com a desigualdade e a pobreza em Roma. Os generais, então, se
tornaram populares e passaram a ser vistos como pessoas capazes de se impor ao Senado e à
nobreza que o controlava.

TOME NOTA

Desde o período monárquico, todo cidadão romano deveria se alistar compulsoriamente ao


exército em tempos de guerra. Caso se recusasse, seria aprisionado e transformado em
escravizado. Por isso, as forças armadas não eram uma atividade profissional com
pagamento de salários, mas uma obrigação cívica que não poderia ser desrespeitada por
ninguém. Os patrícios que tinham clientes podiam escapar do recrutamento enviando-os
em seu lugar, mas os plebeus não tinham essa possibilidade. Por isso, a reforma de Mário foi
importante e popular, já que tornar-se soldado havia passado de uma simples obrigação a
uma profissão, com a qual os plebeus poderiam se sustentar e ter conforto material.

Com esse prestígio, diversos generais foram eleitos cônsules, inclusive com o apoio de
plebeus. Esse foi o caso de Júlio César, um aclamado militar que, em 60 a.C., tornou-se cônsul e
tomou o poder do Senado. Contando com o apoio de outros generais, criou uma espécie de
governo de militares, o Primeiro Triunvirato, uma vez que o poder encontrava-se dividido entre
três militares, os generais Crasso e Pompeu, além do próprio Júlio César.

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Porém, o equilíbrio político desse novo governo era frágil, e, com a morte de Crasso, em 53
a.C., César e Pompeu passaram a lutar entre si. César derrotou seu adversário e se tornou o
único governante de Roma em 46 a.C., mas foi assassinado por senadores em 44 a.C. A morte de
César não possibilitou, porém, o apaziguamento da crise política em Roma, pois o Senado já não
tinha mais apoio para governar. A tensão social entre militares, nobres e plebeus apenas crescia,
Avaliar 18
e o risco de uma guerra civil era concreto.
Ilustração do início do século XX representando a preferência dos senadores por Pompeu antes de César
voltar da Gália e tomar o poder de Roma.

Para evitar essa guerra, formou-se um novo Triunvirato, constituído pelos generais Marco
Antonio, Caio Otávio e Lépido. Novamente, as disputas pelo poder inviabilizaram a continuidade
desse governo, e teve início uma guerra civil entre os generais. Em 27 a.C., Otávio venceu seus
adversários e promoveu uma série de reformas políticas que puseram fim à República e
transformaram Roma em um império.

ENQUANTO ISSO...

Civilizações africanas

Na mesma época em que começava o povoamento da Península Itálica, duas civilizações se


sobressaíam no continente africano: a cultura nok e o Reino de Kush. Os nok eram uma
sociedade de agricultores organizada nos atuais territórios da Nigéria, Níger, Mali, Costa do
Marfim etc. O local era muito rico em minas de ferro, o que permitiu aos membros dessa
civilização criar técnicas metalúrgicas utilizadas na fabricação de ferramentas e outros
utensílios de ferro. O povo nok começou a se desenvolver no século IX a.C. e desapareceu
por volta de 200 d.C. Muitos acreditam que eles foram os ancestrais de outra importante
Avaliar
cultura africana, a dos iorubás. 18
Exemplar da arte do Reino de Kush.

Já o Reino de Kush começou a se organizar por volta do século IX a.C e se desenvolveu na


região da Núbia, um território ao sul do Egito Antigo, recebendo, assim, grande influência
cultural. Os cuxitas utilizavam a escrita egípcia, cultuavam deuses semelhantes, e seus
governantes eram considerados divinos. Ao longo do tempo, eles dominaram e foram
dominados pelos egípcios. Apenas nos primeiros séculos depois de Cristo, os cuxitas
entraram em decadência e tiveram seu território dominado por outros povos africanos,
como o Reino de Axum.

Os nok e os cuxitas tiveram grande influência na organização de outras sociedades africanas


e ajudaram na diversidade cultural da região. Além disso, estabeleceram contatos com
povos do Mediterrâneo e de outras regiões vizinhas.

Avaliar 18
Escultura em cerâmica (terracota) representativa da arte
nok.

Página 30

Avaliar 18
AGORA É COM VOCÊ

Texto para as questões de 1 a 3.

Tábua segunda

[...]

3. Se alguém cometer furto à noite e for morto em flagrante, o que matou não será punido.

4. Se o furto ocorrer durante o dia e o ladrão for flagrado, que seja fustigado e entregue
como escravo à vítima. Se for escravo, que seja fustigado e precipitado do alto da rocha
Tarpeia.

5. Se ainda não atingiu a puberdade, que seja fustigado com varas a critério do pretor, e que
indenize o dano.

6. Se o ladrão durante o dia defender-se com arma, que a vítima peça socorro em altas vozes
e se, depois disso, matar o ladrão, que fique impune.

[...]

Tábua quarta

1. É permitido ao pai matar o filho que nasceu disforme, mediante o julgamento de cinco
vizinhos.

2. O pai terá sobre os filhos nascidos de casamento legítimo o direito de vida e de morte e o
poder de vendê-los.

3. Se o pai vender o filho três vezes, que esse filho não recaia mais sob o poder paterno.

[...]

Tábua sétima

1. Se um quadrúpede causar qualquer dano, que o seu proprietário indenize o valor desse
dano ou abandone o animal ao prejudicado.

2. Se alguém causar um dano premeditadamente, que o repare.

Avaliar 18
3. Aquele que fizer encantamentos contra a colheita de outrem; ou a colher furtivamente à
noite antes de amadurecer ou a cortar depois de madura, será sacrificado a Ceres.

[...]

11. Se alguém ferir a outrem, que sofra a pena de Talião, salvo se houver acordo.

[...]

14. Se um patrono causar dano a seu cliente, que seja declarado sacer (podendo ser morto
como vítima devotada aos deuses).

[...]

16. Se alguém proferir um falso testemunho, que seja precipitado da rocha Tarpeia.

17. Se alguém matar um homem livre e empregar feitiçaria e veneno, que seja sacrificado
com o último suplício.

18. Se alguém matar o pai ou a mãe, que se lhe envolva a cabeça e seja colocado em um
saco costurado e lançado ao rio.

Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/12tab.htm.

1. Quais são as principais formas de punição previstas pela Lei para os crimes indicados
nos trechos selecionados?

2. A sociedade patriarcal romana era aquela em que o pai de família tem amplos poderes
sobre a vida de sua esposa, filhos e parentes. Com base na leitura do documento, é
possível dizer que a sociedade romana era patriarcal? Justifique sua resposta.

3. Um aspecto importante da sociedade romana era a relação entre patrícios e clientes. De


que modo a Lei das Doze Tábuas tratou dessa questão?

LEIA

Avaliar 18
Roma Antiga, de Martin Cezar Feijó. Editora Ática (2004).

O livro traz aspectos do cotidiano da sociedade romana com uma linguagem clara e
acessível, ajudando a entender os grandes processos sociais que se desenvolveram ao longo
do tempo na sociedade que surgiu na Península Itálica durante a Antiguidade.

ASSISTA

Avaliar 18
Júlio César, de Joseph L. Mankiewicz (EUA, 1953).

A partir da adaptação da peça de Shakespeare, o filme narra os principais episódios da


disputa pelo poder no final da República que possibilitou a transformação de Júlio César
em governante supremo de Roma e, posteriormente, resultou em seu assassinato.

Página 31

ESTE CAPÍTULO ABORDOU

O processo de surgimento da sociedade romana.

A dominação etrusca de Roma.

A formação da Monarquia romana.


Avaliar 18
O fim da Monarquia e o surgimento da República romana.
A organização social de Roma.

A influência da cultura de outros povos sobre a cultura romana.

O desenvolvimento da economia romana e sua relação com o processo de expansão


territorial.

As Guerras Púnicas e a dominação romana do Mediterrâneo na Antiguidade.

As disputas políticas e sociais de Roma durante a República.

O processo de crise da República romana e a criação do Império.

ATIVIDADES PARA SALA

Questão 01
Compare os mapas das páginas 19 e 27 e cite as principais diferenças na formação do território
romano nos dois momentos.

Questão 02
A expansão territorial representada no mapa da página 27 teve grandes consequências para a
organização social de Roma. Explique os principais desdobramentos sociais, econômicos e
políticos desse processo.

Questão 03
Elabore uma linha do tempo com os principais marcos da formação da sociedade romana desde
a sua Avaliar
fundação até o fim da República. 18
Texto para as questões 4 e 5.

O paganismo greco-romano é uma religião sem além nem salvação, mas não necessariamente
fria nem indiferente à conduta moral dos homens: a tal respeito pode enganar o fato de que essa
religião sem teologia nem Igreja é, se assim ousamos dizer, uma religião à la carte: cada um
venera particularmente os deuses que quiser e imagina-os como pode. Em lugar do “partido
único” que é uma Igreja, trata-se de “livre empresa” religiosa: cada um fundava o templo que
desejasse e pregava o deus que bem entendesse, como abriria um hotel ou lançaria um produto
novo, e cada um se tornava o cliente de seu deus favorito, não necessariamente o mesmo que a
cidade elegera como tal: a escolha era livre.

Assim era porque só existe o nome em comum entre o que o paganismo entendia por “deus” e o
que entendem os judeus, os cristãos e os muçulmanos. O deus dessas três religiões do Livro é
um ser gigantesco infinitamente superior ao mundo — o qual, aliás, ele criou —; não existe senão
como ator de um drama cósmico em que a humanidade põe em jogo sua salvação. Os deuses do
paganismo vivem sua vida, e sua existência não se reduz a um papel metafísico, pois fazem parte
do mundo; são uma das três raças que povoam o mundo. Há os animais, nem racionais nem
imortais; os homens, mortais e racionais; e os deuses, racionais e imortais. A raça divina tanto
constitui uma fauna que cada deus é macho ou fêmea. Segue-se que os deuses de todos os
povos são verdadeiros. Duas possibilidades: ou os povos estrangeiros têm conhecimento de
deuses cuja existência os greco-romanos ainda ignoravam, ou adoram deuses já conhecidos,
mas traduzem-lhes os nomes para sua língua.

VEYNE, Paul. História da Vida Privada. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. v. 1. p. 188-189.

Questão 04
O texto anterior analisa a base do pensamento religioso romano. De acordo com ele, qual era a
natureza dos deuses romanos?

Questão 05
Os romanos tinham uma postura intolerante diante dos deuses dos demais povos? Justifique
sua resposta.

Página 32

Avaliar 18
ATIVIDADES PROPOSTAS

Questão 01
(UECE) Plutarco atribuiu ao Tribuno da Plebe, Tibério Graco, o seguinte discurso dirigido aos
pobres de Roma:

As feras que atravessam os bosques da Itália têm cada uma seus abrigos e suas tocas; os que
lutam e morrem pela defesa da Itália só têm o ar e luz e nenhuma outra coisa mais. Sem teto
para se abrigar, eles vagueiam com seus filhos e suas mulheres. Os enganam seus generais
quando, nas batalhas, os estimulam a combater pelos templos de seus deuses, pelas sepulturas
de seus pais. Isto porque, de um grande número de romanos, não há um só que tenha o seu altar
doméstico nem seu jazigo familiar. Eles combatem e morrem para alimentar a opulência e o luxo
de outros, e, quando dizem que são senhores de todo o mundo, eles não são donos sequer de
um pedaço de terra.

PLUTARCO. Vidas Paralelas. Tomo VI. p. 209-210. Disponível em:


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=6712.

Com essas palavras, o Tribuno Tibério Graco nos informa que Roma

a) possuía uma grande camada social desprovida de acesso à propriedade, contudo, era essa
camada que garantia o sucesso militar e o poderio das elites romanas.

b) tinha uma organização social baseada numa justa distribuição da riqueza e era alicerçada
pelo poderio militar.

c) tinha uma sociedade baseada na tradição de culto aos antepassados e todos os romanos
tinham sua terra e um lugar para cultuar seus entes.

d) vivia sob uma constante tensão social em função do apoio irrestrito dos pobres aos militares,
já que estes garantiam ao povo a propriedade da terra, mesmo a contragosto dos
latifundiários.

Questão 02
(UPE-SSA) Observe a imagem a seguir.

Avaliar 18
Ela retrata um pedestal romano encontrado em Mainz, na Alemanha, no qual se observam dois
cativos acorrentados. Essa imagem representa a(s) seguinte(s) característica(s) sociopolítica(s)
da Roma Antiga:

a) o apurado trabalho escultórico das populações eslavas.

b) a crítica à instituição da escravidão pela religião oficial romana.

c) a difusão e a importância do trabalho escravo na sociedade romana.

d) o racismo da cultura romana especializada na escravidão negra africana.

e) o respeito
Avaliar com que as populações conquistadas pelo Império eram tratadas. 18
Página 33

Questão 03
(ESPM)

A República Romana, a princípio, permitia direitos políticos apenas aos patrícios – a aristocracia
de nascimento formada pelos grandes proprietários de terras e escravizados.

Os séculos iniciais da República foram um período de acirradas lutas de classes em que as


revoltas da plebe permitiram aos plebeus a obtenção de alguns direitos [...]

O Mundo Romano, de J. P. Balsdon.

Nesse contexto, assinale a alternativa que apresente o que determinava a Lei Canuleia:

a) a criação do Tribunato da Plebe.

b) o direito dos plebeus de ocupar o Consulado.

c) o fim da escravidão por dívidas.

d) o casamento misto, isto é, entre patrícios e plebeus.

e) a igualdade religiosa, ou seja, o acesso dos plebeus aos colégios sacerdotais.

Questão 04
(IFSP) Para a historiadora Corassin, “a Antiguidade Clássica conheceu inúmeras cidades-Estado,
mas Roma se destaca entre elas: conquistou o mundo [...]. O mundo romano se apresentava
extremamente complexo e variado, interligado por uma rede de estradas, com uma moeda
comum aceita em toda área mediterrânica. Embora fosse formado por um mosaico de culturas,
criou o inconfundível “estilo de vida romano [...]”.

CORASSIN, Maria Luiza. Sociedade e política na Roma antiga. São Paulo: Atual Editora, 2001. p. 7-8.

Com relação ao antigo Império Romano citado pela autora e a forma de governo que os romanos
praticaram
Avaliarao longo de sua história política, analise os itens a seguir. 18
I. Realeza ou Monarquia.
II. República.

III. Triunvirato e Império.

IV. Império.

V. Ditadura e teocracia.

VI. Triunvirato.

a) Somente II e III são corretas.

b) Somente I e V são corretas.

c) Somente I e IV são corretas.

d) Somente I, II e IV são corretas.

e) Somente II, V e VI são corretas.

Questão 05
(UFJF) Esse é um fragmento de uma obra produzida no século I a.C.

Os romanos apossavam-se de escravizados através de procedimentos extremamente legítimos:


ou compravam do Estado aqueles que fossem vendidos “debaixo de lança” como parte do botim;
ou um general poderia permitir àqueles que fizessem prisioneiros de guerra conservá-los,
juntamente com o resto do produto do saque.

História Antiga dos Romanos, de Dionísio de Halicarnasso.

Em relação à escravidão na Roma Antiga, assinale a alternativa correta.

a) Os escravizados possuíam entre si uma forte identidade étnica e cultural, pois apresentavam
uma origem territorial africana única.

b) O Avaliar
número de escravizados diminuiu fortemente com o processo expansionista, pois
18 havia a
prática de libertá-los em massa para que se tornassem soldados.
c) A utilização da mão de obra escrava dos derrotados de guerra foi ampliada com o término da
prática de escravizar indivíduos livres por dívidas.

d) Revoltas de escravizados durante a crise republicana, como a liderada por Espártaco, se


caracterizaram por serem movimentos urbanos limitados à cidade de Roma.

e) A escravidão foi abolida em definitivo pelo Édito Máximo do imperador Otávio Augusto no
contexto em que o Cristianismo tornou-se a religião oficial.

Página 34

Questão 06
(ENEM) Pois quem seria tão inútil ou indolente a ponto de não desejar saber como e sob que
espécie de constituição os romanos conseguiram em menos de cinquenta e três anos submeter
quase todo o mundo habitado ao seu governo exclusivo – fato nunca antes ocorrido? Ou, em
outras palavras, quem seria tão apaixonadamente devotado a outros espetáculos ou estudos a
ponto de considerar qualquer outro objetivo mais importante que a aquisição desse
conhecimento?

POLÍBIO. História. Brasília: Editora UnB, 1985.

A experiência a que se refere o historiador Políbio, nesse texto escrito no século II a.C., é a

a) ampliação do contingente de camponeses livres.

b) consolidação do poder das falanges hoplitas.

c) concretização do desígnio imperialista.

d) adoção do monoteísmo cristão.

e) libertação do domínio etrusco.

Avaliar
Questão 07 18
(ENEM) A Lei das Doze Tábuas de meados do século V a C fixou por escrito um velho direito
(ENEM) A Lei das Doze Tábuas, de meados do século V a.C., fixou por escrito um velho direito

costumeiro. No relativo às dívidas não pagas, o código permitia, em última análise, matar o
devedor; ou vendê-lo como escravo “do outro lado do Tibre” – isto é, fora do território de Roma.

CARDOSO, C. F. S. O trabalho compulsório na Antiguidade. Rio de Janeiro: Graal, 1984.

A referida lei foi um marco na luta por direitos na Roma Antiga, pois possibilitou que os plebeus

a) modificassem a estrutura agrária assentada no latifúndio.

b) exercessem a prática da escravidão sobre seus devedores.

c) conquistassem a possibilidade de casamento com os patrícios.

d) ampliassem a participação política nos cargos políticos públicos.

e) reivindicassem as mudanças sociais com base no conhecimento das leis.

Questão 08
(UFRGS) Com relação à história dos grupos sociais da Antiguidade, assinale a alternativa correta.

a) Os povos etruscos habitavam uma zona fluvial de inundações periódicas, no vale entre os
rios Tigre e Eufrates, e tinham economia baseada em produtos agrícolas que dependiam dos
períodos de cheias dos rios.

b) A difusão da escrita cuneiforme pelos gregos, no século VIII a.C., permitiu o registro dos fatos
memoráveis do passado, criando as condições propícias para o desenvolvimento da tragédia
grega que teve em Homero seu principal precursor.

c) A ausência de uma codificação jurídica que permitisse a unificação das diversas regiões da
Mesopotâmia, sob o domínio dos reis babilônicos, está entre as principais causas da queda
do Império da Babilônia.

d) A civilização hebraica caracterizou-se por uma estrutura matriarcal de sociedade, pelo


politeísmo como crença religiosa e pela recusa do uso do trabalho escravo.

e) O Reino de Kush, com forte influência egípcia, serviu como elo entre a África Central e o
Avaliarmediterrâneo, além de estabelecer rotas comerciais entre o baixo e o alto 18
mundo vale do
Nilo.
Questão 09
(PUCCAMP) A escravidão, com características diferenciadas, também existiu na Roma Antiga,
onde, a partir do século IV a.C., houve a

a) repulsa dos cidadãos romanos a escravizados que não fossem de cor branca ou de regiões
diferentes da Europa, uma vez que outras raças eram consideradas bárbaras e não confiáveis.

b) ocorrência de grandes revoltas bem-sucedidas, integradas por escravizados fugidos e ex-


escravizados, a exemplo da liderada pelo gladiador Espártaco.

c) concentração de escravizados nas colônias, uma vez que na capital, após a instituição do
Direito Romano, passaram a vigorar restrições a essa prática.

d) intensificação dos casos em que um plebeu se tornava escravizado pelo não pagamento de
suas dívidas e impostos, apesar deste segmento social possuir alguns direitos políticos.

e) presença crescente de escravizados provenientes do aprisionamento em guerras de


conquista, em virtude da expansão territorial.

Página 35

Questão 10
(UFJF) Leia o seguinte texto.

Roma no período da República era dirigida por um grupo de famílias nobres, mas o povo,
teoricamente, dispunha de grande poder; as assembleias populares elegiam magistrados,
votavam leis e julgavam os casos judiciários mais importantes. Mas era uma sociedade com
distinções legais de status, baseadas na qualificação censitária do cidadão. Ele era um soldado,
um contribuinte que pagava impostos e um eleitor, com privilégios e encargos de acordo com
seu status pessoal.

CORASSIN, Maria Luiza. O cidadão romano na República. Projeto História, São Paulo, n. 33, p. 271-287, dez.
2006.

Avaliar 18
Com base nessa citação e em seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.
a) Embora os setores populares pudessem eleger seus representantes, a sociedade romana era
hierarquizada com base no status e na renda.

b) De acordo com o texto acima, é possível afirmar que, tal como Atenas, Roma vivia uma
democracia direta.

c) Em que pese o predomínio do direito constitucional, todas as decisões tinham fundamento


religioso.

d) Todos os povos conquistados por Roma obtinham, de imediato, direito de cidadania e


poderiam interferir nas decisões políticas.

e) Uma das grandes contribuições prestadas pelo Direito Romano foi a defesa do sufrágio
universal.

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