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Primordialmente, antes de explanarmos a respeito da pesquisa em questão,

precisamos saber o que é um Estabelecimento Empresarial para explicar sua natureza


jurídica e as principais teorias que norteiam para seu embalsamento.

O Estabelecimento Empresarial não é sujeito direito e não possui


personalidade jurídica, ou seja, afasta a ideia de personalização desse complexo de bens
tendo como o sujeito o empresário. Além disso, o Estabelecimento Empresarial é uma
coisa/um objeto de propriedade da empresa, diferente da própria empresa, pode ser
alienado e onerado. Além do mais, integra o patrimônio da sociedade empresária, este
patrimônio é composto pelos bens empregados na implantação e desenvolvimento da
atividade econômica.

Dessa forma, O Estabelecimento Empresarial não pode ser confundido com


a sociedade empresária, sujeito de direito, nem com a empresa, atividade econômica.
Como dispõe Rubens Requião:

“O Estabelecimento Empresarial é uma universalidade de fatos. Esta


universalidade constitui um conjunto de bens que se mantém unidos a
um fim, por vontade e determinação do seu proprietário.”

Muitas são as teorias e posicionamentos doutrinários no que diz respeito à


natureza jurídica do estabelecimento comercial. Para nos auxiliar a compreendê-los é
importante traduzir a natureza jurídica do estabelecimento empresarial como a posição
em que ele se encontra dentro do sistema jurídico. Assim, assevera Pablo Stolze que,
indagado a respeito da natureza jurídica de determinada figura, deve o estudioso do
direito cuidar de apontar em que categoria se enquadra, ressaltando as teorias
explicativas de sua existência […] Afirmar a natureza jurídica de algo é, em linguagem
simples, responder à pergunta: “que é isso para o direito?”. (STOLZE, 2006, p. 183).

Contudo, é importante falar das mais relevantes teorias sobre a natureza


jurídica do estabelecimento empresarial são: a teoria da personalidade jurídica do
estabelecimento, a teoria do patrimônio autônomo, a teoria do negócio jurídico, as
teorias imaterialista, a teoria atomista e a teoria universalista.
A teoria da personalidade jurídica, idealizada por Endenmann, considera o
estabelecimento empresarial como uma entidade autônoma, independente da figura do
empresário, a qual possui patrimônio próprio, sendo é capaz de direitos e obrigações.
Assim, o estabelecimento empresarial seria responsável pelas dívidas contraídas em
razão da atividade empresarial, responsabilidade que seria limitada ao patrimônio do
estabelecimento, mantendo-se o patrimônio do empresário imune a tais obrigações.
(BERTOLDI, 2003)

Esta teoria não é compatível com ordenamento jurídico brasileiro,


porquanto não se adéqua ao regramento das pessoas jurídicas de direito privado, tendo
em vista que o artigo 44 do Código Civil disciplina o rol das pessoas jurídicas de
direito privado, dentre as quais não consta o estabelecimento empresarial, que não se
encaixa em nenhuma das espécies arroladas pelo referido dispositivo legal.

A teoria do patrimônio autônomo, desenvolvida por Bekker, defende que o


conjunto de bens representa do pelo estabelecimento empresarial forma um patrimônio
destacado do patrimônio do empresário (pessoa jurídica ou pessoa física), sendo tal
patrimônio autônomo não possuidor de personalidade jurídica. Contudo, apesar de não
possuir personalidade jurídica, esse patrimônio seria responsável pelas dívidas
contraídas pelo estabelecimento, respondendo o patrimônio do empresário apenas de
forma subsidiária pelos débitos. (REQUIÃO, 2003)

Aqui, a incompatibilidade entre a teoria e o nosso ordena mento jurídico


brasileiro, encontra-se estabelecida com relação ao direito societário no Brasil.
Mesmo quando falamos em empresário individual, quando ainda pode-se tentar
separar os bens destinados à atividade empresária e os bens pessoais do empresário, tal
separação não tem repercussão jurídica, tendo em vista que o patrimônio do empresário
responde integralmente pelas dívidas contraídas pela empresa.

Por seu turno, a teoria do negócio jurídico, desenvolvida por Carrara,


segue um percurso diferente das duas teorias previamente expostas. Ela afirma que o
estabelecimento empresarial nem é sujeito nem objeto de direito, mas um negócio
jurídico. Os sujeitos deste negócio jurídico seriam todos os que mantivessem relações
com o estabelecimento, como o próprio empresário ou os empregados deste, por
exemplo. Marcelo M. Bertoldi e Fábio Ulhoa Coelho, entretanto, criticam essa teoria,
porquanto ela confunde o estabelecimento empresarial com o aviamento, o qual seria
uma qualidade do estabelecimento.

Além das teorias que analisamos, ainda com a finalidade de estabelecer a


natureza jurídica do estabelecimento empresarial, surgiram na Alemanha as teorias
imaterialista e a teoria atomista. As primeiras consideravam que o estabelecimento
empresarial consistiria em bem imaterial distinto dos elementos materiais que o
constituem, portanto, seria o estabelecimento uma criação do homem, onde cada
elemento buscaria um fim determinado, a obtenção de lucro (BERTOLD I, 2003).

De acordo com o sistema jurídico brasileiro, esta teoria está revestida pelo
mesmo engodo da anterior, sobretudo porque confunde o estabelecimento empresarial,
conjunto de bens organizados para a realização da atividade empresarial lucrativa, com
o aviamento ou sobre valor, o qual constitui atributo do estabelecimento e consiste em
valor patrimonial, decorrente da organização dos bens que compõem aquele
estabelecimento.

Por outro lado, as teorias atomistas não reconhecem o estabelecimento como


unidade autônoma, tratando-o como mera reunião de bens, dotada de uma finalidade
específica. Para esta corrente doutrinária, os bens do estabelecimento empresarial,
embora reunidos, não perdem sua característica de bens singulares (REQ UIÃO, 2003).

Por fim, para Fran Martins (2006), as teorias universalistas entendem que o
estabelecimento constitui uma universalidade de fato ou de direito, na medida em que
representam vários elementos reunidos com uma finalidade econômica determinada, a
obtenção de lucro.

A universalidade será de direito quando a união dos diversos elementos


ocorrer em decorrência da vontade da lei, como no caso da massa falida ou da herança;
será universalidade de fato quando a reunião de bens ocorrer mediante a vontade do
titular, como é o caso da biblioteca, do rebanho e da galeria de arte.
Atualmente, a doutrina dominante entende que o estabelecimento
empresarial corresponde a uma universalidade de fato, tendo em vista que corresponde a
um conjunto de bens que se mantém unidos para obtenção de uma determinada
finalidade, em razão da vontade do empresário.

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