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Branqueamento de Capitais 2
Branqueamento de Capitais 2
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1. PREFÁCIO
3
2. INTRODUÇÃO
3. BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS
1
O financiamento do Terrorismo pode definir-se como o fornecimento ou recepção de fundos,
por qualquer meios, directa ou indirectamente, com a intenção desses fundos serem utilizados, ou com o
conhecimento que eles são para ser utilizados, para facilitar ou desencadear actos terroristas. O terrorismo
pode ser financiado por rendimentos legítimos.
4
O branqueamento de capitais é normalmente visto como um crime contra o
património, daí alguns ordenamentos o considerem como um bem jurídico protegido
pela tipificação do crime.
No entanto, este não parece ter sido o entendimento do legislador português ao
tipificar o crime de branqueamento de capitais no art.º 368º-A do Código Penal, inserido
no capítulo III, dos crimes contras a realização da justiça, do titulo V da parte especial.
O bem jurídico protegido, na perspectiva do legislador, é a boa administração da justiça.
No entanto, este não contraria uma visão plural dos interesses protegidos pelo
tipo legal do branqueamento.
Como refere Vitalino Canas “a tipificação do branqueamento que tem como
facto ilícito típico subjacente a prática reiterada e organizada de uma multiplicidade
de crimes de alta rentabilidade, como os vários tráficos, a fraude e evasão fiscal e
outra criminalidade financeira e que visa dar uma aparência legal a enormes recursos
financeiros com vista ao controlo de sectores vitais da economia e da política ou até a
promover actos de terrorismo, não se fica pela simples ambição de tutela do bem
administração da justiça. Nestas circunstâncias, a tipificação do branqueamento visa a
protecção de outros bens, designadamente a sanidade dos fluxos económicos e
financeiros e a sanidade e a estabilidade das instituições políticas.” 2
4. CONDUTA
2
Canas, Vitalino, O Crime de Branqueamento: Regime de Prevenção e de Repressão, Coimbra,
Almedina, 2004, p. 19.
5
daquele tipo, mesmo que não punido, entre outras razões por impossibilidade de
determinar quem praticou e em que circunstâncias, morte do agente ou prescrição.3
Por outro lado, não é necessário que o facto ilícito típico subjacente atinja a
consumação, bastando que da simples prática de actos preparatórios do mesmo resultem
vantagens e que se proceda à sua dissimulação.4
Deste modo verifica-se que o crime de branqueamento de capitais se verifica
aquando da transferência bancária de capitais para uma conta controlada pelos
verdadeiros beneficiários dos esquemas, mas em total anonimato.
Para tal, basta que o facto típico subjacente se encontre tipificado na fraude
fiscal e seja susceptível de lesar o património do Estado em valor igual ou superior ao
referido no n.º 2 do art.º 103º do Regime Geral das Infracções Tributárias.
Daqui se conclui que surgirão casos em que embora o branqueamento tenha
como crime precedente a fraude fiscal, o crime de fraude fiscal consumar-se-á em
momento posterior ao do branqueamento de capitais.
Normalmente imputa-se ao branqueamento de capitais três fases ou etapas,
seguindo as orientações do GAFI 5: a colocação, a camuflagem e a integração.
3
Canas, Vitalino, O Crime de Branqueamento: Regime de Prevenção e de Repressão, Coimbra,
Almedina, 2004, p. 151 e Godinho, Jorge Alexandre Fernandes, Do Crime de «Branqueamento» de
Capitais: Introdução e Tipicidade, Coimbra, Almedina, 2001, pp. 166 a 168.
4
Godinho, Jorge Alexandre Fernandes, Do Crime de «Branqueamento» de Capitais:
Introdução e Tipicidade, Coimbra, Almedina, 2001, p. 168.
5
O Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI) ou Financial Action Task Force on Money
Laundering (FATF) foi constituído pela Cimeira de Paris do Grupo dos Sete (G7) em 16 de Julho de
1989. O GAFI apresentou o seu primeiro relatório em 6 de Fevereiro de 1990 e foi denominado como as
“40 recomendações” que deviam ser adoptadas pelos Estados para combater o branqueamento de
capitais. Este tem servido de referência ao nível internacional, sendo inclusivé alvo de referência na
Directiva n.º 91/308/CEE, do Conselho, de 10 de Julho. Em 1996 as 40 recomendações foram revistas e
adoptadas por mais de 130 países. Em 20 de Junho de 2003 o GAFI apresentou o relatório revisto pela
preocupação do financiamento do terrorismo cuja expressão mais marcante foi o ataque de 11 de
Setembro. Por este facto o GAFI apresentou também um relatório complementar denominado de “8
Recomendações Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo”. O GAFI mantém também uma lista
actualizada de “territórios e países não-cooperantes”. V. o site em http://www.fatf-gafi.org
6
porque grandes quantias de dinheiro chamam muito a atenção, e os bancos são
obrigados a declarar transacções de elevado valor.
“Esta fase do branqueamento de capitais só tem cabimento quando
efectivamente haja numerário que antes de mais, importe converter.” 6 É o que
normalmente sucede no branqueamento de capitais derivado do tráfico de droga.
6
Godinho, Jorge Alexandre Fernandes, Do Crime de «Branqueamento» de Capitais:
Introdução e Tipicidade, Coimbra, Almedina, 2001, p. 40.
7
Os Private banker’s são “organizações sem qualquer escrúpulo ou padrões de moral,
altamente sofisticadas, dotadas de recursos inesgotáveis, que inventam, através de meios legais,
potenciar os seus negócios criminosos e aumentar o seu poderio, compensando e encorajando o crime,
ameaçando a liberdade dos cidadãos e as estruturas da democracia e pervertendo a livre concorrência.”
Estas organizações são, principalmente, formadas por juristas e advogados, encontrando-se também
TOC’s e ROC’s. Tratam-se de pessoas com formação, nomeadamente nas áreas de Direito Fiscal e
Societário. Citação de Canas, Vitalino.
7
Uma das formas mais conhecidas de usar os capitais é através de empréstimos
bancários garantidos pelos depósitos em contas da mesma instituição financeira em
zonas financeiras off-shore.8
No entanto, como refere Fernandes Godinho, esta fase “em bom rigor, já não é
uma questão de branqueamento de capitais porque, repita-se, não está já em causa a
dissimulação da origem. O investimento dos capitais pode obviamente ser feito sem que
antes se tenham «tomado preocupações» no sentido da dissimulação da sua origem.” 9
8
Off-shore é “um pais ou um território que atribua a pessoas física ou colectivas vantagens
fiscais susceptíveis de evitar a tributação no seu país de origem ou de beneficiar de um regime fiscal
mais favorável que o desse país, sobretudo em matéria de imposto sobre o rendimento e sobre as
sucessões”. Citação de Leitão, Luís Manuel Teles de Menezes.
9
Godinho, Jorge Alexandre Fernandes, Do Crime de «Branqueamento» de Capitais:
Introdução e Tipicidade, Coimbra, Almedina, 2001, p. 41.
8
DEPÓSITOS ESTRUTURADOS – Também conhecido como “smurfing”,
este método consiste na divisão de grandes quantias de dinheiro em quantias mais
pequenas e por conseguinte menos suspeitas10. O dinheiro é então depositado em uma
ou mais contas bancárias por várias pessoas (smurfs) ou por uma única pessoa durante
um determinado período.
10
Em Portugal, esta quantia em numerário máxima é de € 15 mil ( Diário da República, 1.ª
série — N.º 108 — 5 de Junho de 2008, nº 7, alínea b) . Se exceder o montante, os bancos portugueses
são obrigados a “identificar e verificar” a identidade do seu cliente e do seu beneficiário efectivo e
manter uma vigilância das suas relações de negócio com o cliente.
9
empresas são as "testas de ferro" que fornecem bens e serviços de verdade, mas cuja
real existência é branquear o capital ilícito. Este esquema geralmente funciona com dois
métodos de Coordenação Administrativa: o criminoso consegue camuflar o dinheiro
ilícito como receita da empresa, neste caso, a empresa declara receitas maiores do que
as que realmente obtiveram no seu negócio lícito; ou o branqueador de dinheiro pode
simplesmente esconder o dinheiro ilícito nas contas legítimas da empresa na esperança
que as autoridades não vão comparar os extractos bancários com os relatórios
financeiros da empresa.
10
lesão, pelo que a seguradora honrou o sinistro liquidando o saldo em dívida do
empréstimo. De seguida, a organização que conduziu esta operação vendeu o veículo
obtendo um lucro com essa transacção. Neste caso, a seguradora envolvida sofreu
prejuízos superiores a USD 2 milhões (cerca de € 2,7 milhões).
11
Na Suíça, a lei não contempla o crime de fuga ao fisco. Apesar da cooperação
entre os dois países noutras áreas, este buraco legislativo tranca portas aos
investigadores portugueses.
Os empresários que aderiram às estruturas ilegais assim montadas foram
mantendo o capital no exterior, rentabilizando-o na compra de produtos financeiros
propostos pelos bancos.
A maior parte dos valores mantinha-se na Suíça, mas, sempre que os
empresários necessitavam, eram retiradas das suas contas pequenas quantias, que se iam
introduzindo em Portugal também de uma forma ilícita.
Começava aqui fase do branqueamento de capital.
O esquema mais comum, porque não deixa rasto, passava por transportar o
capital, fazendo-o passar a fronteira nas bagageiras de carros, uma tarefa desempenhada
pelos chamados “carteiros do dinheiro”. Num só transporte, a bagageira de um carro
leva espalhadas e camufladas em maços de 50 e 100 euros a quantia, máxima, de (€ 2,5
milhões).
Chegados a Portugal, os maços eram depositados em cofres, nos escritórios
clandestinos dos bancos11, que o guardavam até receberem ordens dos respectivos
donos. Estes, por seu turno, “reinvestiam” o dinheiro, ou seja, branqueavam-no,
segundo os seus interesses.
Os cartões de crédito, por exemplo, emitidos ao cliente por uma filial bancária
portuguesa de direito suíço, eram outros dos meios utilizados para a lavagem de capital,
pois através deles, fazem-se compras e pagam-se negócios em qualquer parte do mundo.
Nalguns casos, os investigadores já apuraram que houve compras de imóveis por
centenas de milhares de euros, mas que nas escrituras ficaram registados por um quarto
do valor (o restante foi pago em espécie).
Encontram-se neste momento referenciadas cerca de dez mil contas bancárias
em zonas off-shore. É incalculável neste momento o dinheiro que estará nessas contas,
quem são os seus titulares e que negócios envolvem.
6. CONCLUSÃO
11
Geralmente estes escritórios clandestinos estão situados em zonas habitacionais, urbanizações
com dezenas de apartamentos e centenas de inquilinos. Isso faz com que a localização, do escritório, seja
quase impossível de interceptar.
12
O branqueamento de capitais, além de não criar riqueza, contribuiu para
descapitalizar o país, e tendo em conta o actual momento de crise financeira, a entrada
legal do “dinheiro pirata” no circuito nacional, não só os cofres do Estado
recuperariam grande parte da fortuna proveniente dos esquemas de fraude fiscal, como a
banca portuguesa, que se debate com dificuldades, ganhava liquidez sem se endividar.
Refere o Professor Doutor José de Faria Costa que “se, efectivamente, o
branqueamento é uma actividade ilícita derivada ou induzida por outras actividades,
também elas ilícitas, atacaremos, então, as causas e não os efeitos.” 12
Este seria, sem dúvida, o caminho a seguir, mas na minha opinião nunca
conseguiremos acabar com as causas, pois como diria um Barão de droga, “circula
mais dinheiro de noite, que durante o dia com os bancos e as bolsas abertas”.
Perante isto só vejo uma solução: o esvaziamento das contas sediadas em off-
shores dos pequenos e médios comerciantes 13 à boa maneira dos espiões ingleses.
A primeira fase passaria por detectá-los, para numa segunda fase, com piratas
informáticos dotados de recursos inesgotáveis, esvaziar-lhes as referidas contas.
Certamente não iriam apresentar queixa a nenhuma entidade criminal, além de
que os “exterminávamos” financeiramente, fazendo com que o dinheiro fosse
repatriado, impedindo assim o financiamento de actos ilícitos ou mesmo terroristas e
por outro lado o mito de “roubar o estado é uma atitude inteligente” se extinguisse por
completo.
Pode-se pensar que é uma nova forma de criminalidade organizada, mas seria
apenas “um pequeno mal, para um grande bem”.
Durante todo este processo de pesquisa fiquei intrigado com o facto de nunca
aparecer nenhum artigo ou livro que referisse a igreja católica. A igreja católica (em
Portugal) por ano faz mais barras de ouro que o Banco de Portugal. Esta instituição está
acima de qualquer suspeita, e fazer depósitos em numerário de elevados valores ou
transferências avultadas é “normal”.
7. BIBLIOGRAFIA
12
Costa, José de Faria, “O Branqueamento de Capitais (algumas reflexões á luz do direito
penal e da politica criminal)”, in: Direito Penal Económico e Europeu: textos Doutrinários – Volume II –
Problemas Especiais, Coimbra, Coimbra Editora, 1999, p. 308.
13
Se “exterminasse-mos” financeiramente os pequenos e médios comerciantes, estes perante
“pena” tão pesada, certamente se “encolhiam” e não aumentavam o seu poderio corruptivo.
13
Costa, José de Faria, “O Branqueamento de Capitais (algumas reflexões á luz do
direito penal e da politica criminal)”, in: Direito Penal Económico e Europeu:
textos Doutrinários – Volume II – Problemas Especiais, Coimbra, Coimbra
Editora, 1999, pp. 301-320
Leitão, Luís Manuel Teles de Meneses, Estudos de Direito Fiscal, Coimbra, Almeida,
1999
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