Você está na página 1de 18

ISSN 1984-9354

PLANEJAMENTO E GESTÃO DO ARRANJO FÍSICO:


ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL VETERINÁRIO

Área temática: Gestão da Produção

Rafael José Santana Souza


eps.rafael@gmail.com
Carlos Cézar Rodrigues Santos
carlosrodrigues.eps@gmail.com
Juliano Zaffalon Gerber
juliano_zg@hotmail.com
Luane Alcântara Nunes
luane_alcantara@hotmail.com

Resumo: O planejamento e gestão do arranjo físico em processos de serviços é de fundamental importância na busca
da melhor qualidade do ambiente de trabalho e desempenho do processo como um todo. Além de simplificar o
gerenciamento, facilitar a movimentação dos materiais e pessoas, é possível obter benefícios com redução de custos e
de tempo nas operações. No Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus – BA), foi
identificado o tipo de arranjo físico, cuja organização foi avaliada e uma proposta de um novo arranjo físico foi
realizada, com o propósito de reduzir a movimentação interna e aumentar a eficiência da organização.

Palavras-chaves: Arranjo Físico, Eficiência dos Processos, Redução de Movimentação


XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

1. INTRODUÇÃO

A eficiência nas operações em organizações de serviços é um fator cujo sucesso está atrelado à
organização ótima de diversas variáveis, dentre as quais as que se referem ao arranjo físico, pois há
uma significativa interferência, tanto quantitativa quanto qualitativa, na estrutura da organização em
relação aos serviços prestados e suas operações.

Segundo Chiavenato (2005), arranjo físico refere-se ao planejamento, gestão e controle do


espaço físico que será ocupado, além da disposição de equipamentos, máquinas e postos de trabalho
necessários para a produção de produtos/serviços em uma organização.

Para Toledo Júnior (2007), o planejamento de arranjo físico é recomendável a qualquer


empresa, grande ou pequena, pois com um bom arranjo físico, obtém-se resultados surpreendentes na
redução de custos de operações, no aumento da produtividade e eficiência da organização.

Mesmo em organizações cuja transformação de matérias primas em produtos predominem, os


serviços também fazem parte de suas operações, contribuindo com o abastecimento de insumos e
prestações de serviços fornecidos, tanto na manufatura propriamente dita quanto no atendimento aos
clientes. É essencial para elas considerarem as fontes de insumos, a localização da demanda, a
disposição dos equipamentos, das ferramentas, dos postos de trabalho e é especialmente importante em
operações que requerem a presença do cliente (CORRÊA e CORRÊA, 2012).

Sendo assim, o objetivo deste artigo é avaliar o arranjo físico interno de um hospital veterinário
para, através da analise da atual configuração, pesquisar e identificar instrumentos de planejamento e
gestão do arranjo físico alinhados com o ambiente analisado e desta forma propor uma alternativa de
melhoria no hospital através da minimização de movimentos e fluxo de pessoas.

Para tal propósito, será realizado um estudo de caso a fim de coletar dados para a constituição
de uma matriz que correlaciona fluxo e distância percorrida por departamento, e a partir desta
quantificação, determinar um modelo mais eficiente de disposição física que minimize a
movimentação interna no hospital veterinário.

2
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

2. Arranjo Físico nas Organizações

O planejamento e gestão do arranjo físico são significativos instrumentos utilizados na


adequação das operações à estratégia competitiva das organizações, tal que haja minimização de
atividades que não agregam valor ao processo, tais como manuseio desnecessário de materiais, más
alocações e excesso de movimentação de pessoas. Neste sentido, segundo Slack, Jones e Johnston
(2013), o arranjo físico de uma operação ou de um processo, significa como os seus recursos
transformadores são posicionados entre si e como as varias tarefas das operações são alocadas a esses
recursos transformadores. Essas decisões irão ditar o padrão do fluxo dos recursos transformados à
medida que eles progridem pela operação ou processo.

De acordo com Corrêa & Corrêa (2012), o arranjo físico de uma operação é a maneira segundo
a qual se encontram dispostos fisicamente os recursos que ocupam espaço dentro da instalação. Tais
recursos englobam pessoas, materiais e equipamentos.

As decisões sobre arranjo físico são de suma importância, pois podem afetar a capacidade de
instalação e a produtividade das operações, e se mal projetadas e geridas, podem implicar em prejuízos
financeiros e elevados custos (MOREIRA, 2011).

No que tange aos custos relacionados aos arranjos físicos, Neumann e Scalice (2015) alertam
que um projeto de arranjo físico adequado muitas vezes tem um custo superior ao arranjo físico mal
estudado e projetado, no entanto, o segundo passa a afetar continuamente para cima os custos da
produção.

Corrêa & Corrêa (2012), apontam que o objetivo primordial das decisões sobre arranjo físico é,
acima de tudo, apoiar a estratégia competitiva da operação, ou seja, deve haver um alinhamento entre
as características do arranjo físico e as prioridades competitivas evitando conflitos entre a obtenção de
flexibilidade e de eficiência. Daí resulta a necessidade de subordinar a decisão de arranjo físico à
estratégia competitiva da operação.

Ainda segundo Corrêa & Corrêa (2012), há, fundamentalmente, três tipos clássicos de arranjos
físicos: por processo, produto e posicional, além de outros ditos híbridos, que procuram de certa forma,
aliar características de dois ou mais arranjos clássicos. O arranjo físico por processos apresenta alto
grau de dedicação dos funcionários e especialização na utilização de equipamentos em geral, que são
agrupados por semelhanças na funcionalidade. Já o arranjo físico por produto, recebe essa
denominação porque a lógica utilizada para arranjar a posição relativa dos recursos é a sequência de

3
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

etapas do processo de agregação de valor. Finalmente têm-se o arranjo físico posicional, que
caracteriza-se pelo objeto da operação ficar estacionário, seja por impossibilidade ou por inviabilidade
de fazê-lo mover-se entre as etapas do processo.

Para Slack, Jones e Johnston (2013), são quatro os arranjos físicos possíveis: o funcional, o por
produto, o posicional e o do tipo celular. O arranjo físico funcional é assim denominado pelos autores
porque está de acordo com as necessidades e a conveniência das funções desempenhadas pelos
recursos transformadores que constituem o projeto, já o arranjo físico por produto dependerá do tipo de
processo característico a ser utilizado, em vista a organizar seu fluxo de atividades para a concepção de
um item específico. O arranjo físico posicional, por sua vez, estabelece uma relação diferente, pois
equipamentos, materiais, pessoas e todos os agentes transformadores se movem em direção ao que
sofre o processamento, recebendo também, o nome de arranjo físico por posição fixa. O arranjo físico
do tipo celular é aquele no qual os recursos transformados são pré-selecionados para movimentar-se a
uma parte específica da operação (célula) na qual todos os recursos transformadores necessários a
atender suas necessidades imediatas de processamento estão localizados. Concluída a primeira etapa,
os recursos processados na célula anterior passam para a célula posterior.

Fernandes e Godinho Filho (2010) por sua vez entendem que o arranjo físico faz parte da
caracterização do processo produtivo e sugerem que são cinco os tipos de arranjos físicos: o de estação
de trabalho única, por produto, funcional ou por processo, por grupo e por de posição fixa. Similar a
classificação de Fernandes e Godinho Filho (2010) têm-se a de Tubino (2009) que detalha cada tipo da
seguinte forma: Arranjo Físico de Processo ou por Função é aquele em que equipamentos e máquinas
similares ou idênticos são agrupados, de maneira a otimizar sua localização relativa, uma peça sendo
trabalhada passa de área em área; Arranjo Físico de Produto é aquele em que a forma é definida pela
sequência necessária para fazer o produto, frequentemente chamado de linha de montagem; Arranjo
Físico de Tecnologia de Grupo ou Célula coloca juntas máquinas distintas em centros de trabalho ou
células para trabalhar em produtos que tem formas e necessidades de processamento similares; e
finalmente Arranjo Físico de Posição Fixa que devido ao volume ou seu peso, o produto permanece
em um local somente.

Neumann e Scalice (2015) lembram que para cada tipo de arranjo físico é permitido o uso de
diferentes técnicas e ferramentas. Os autores reuniram as principais técnicas e ferramentas que têm
sido utilizadas nos diferentes processos de arranjos físicos. A tabela 1 apresenta esta compilação com a
descrição e aplicação de cada uma.

4
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

Tabela 1: Principais técnicas e ferramentas para projetos e gestão de arranjos físicos.

Técnicas e Ferramentas Aplicação


PERT/CPM (Program Técnicas de planejamento, sequenciamento e controle de grandes projetos.
Evaluation and Review Diagramas de redes, permitem evidenciar relações de precedência entre
Technique/Critical Path Method) atividades, calcular tempos, atividades principais e de apoio, etc.
Balanceamento de Linhas de Método de dimensionamento de capacidade de produção para se obter
Produção melhor aproveitamento dos recursos disponíveis. Realiza a distribuição de
atividades por posto de trabalho, minimizando o tempo ocioso.
Diagrama P-Q (Produto – Gráficos do volume de produção de cada produto ou família de produtos,
Quantidade) ou iniciando pelo de maior volume, seguindo para os de menor volume.
Gráfico P-V (Produto – Volume) Auxilia na priorização de foco do projeto.
Curva ABC ou Ferramenta para a determinação das prioridades entre os produtos. Com
Curva de Pareto base no Princípio de Pareto, aponta os 20% dos produtos que
correspondem a 80% da importância do fator analisado.
Diagramas de Processo, Registra a sequencia de tarefas dos principais elementos de um processo,
Carta de Processo ou as relações de tempo, o fluxo de materiais, movimento de pessoas ou
Folha de Processo informações no trabalho.
Carta Multiprocesso ou Técnica que representa em uma única carta o roteiro de fabricação de
Carta de Processos Múltiplos diferentes produtos ou de atendimento a diferentes serviços. É aplicada na
avaliação comparativa de diversas alternativas de arranjos físicos.
Mapofluxograma ou Desenhada na planta da organização, representa a movimentação física de
Mapa-Fluxograma um ou vários itens através dos centros de processamento disponíveis no
arranjo físico de uma instalação produtiva, numa sequência de rotina fixa.
Cartas De-Para ou Cartas estruturadas na forma de matrizes, em que a primeira linha possui o
Carta From-To mesmo conteúdo da primeira coluna, sendo os cruzamentos entre linhas e
colunas o local de registro das quantidades de produtos ou movimentos que
ocorrem de um local para outro.
Diagrama de Afinidades ou Ferramenta que utiliza escala de afinidades apresentadas por
Carta de Interligações representações gráficas. É estruturada na forma de matriz triangular, onde
Preferenciais nas linhas são listadas as unidades de espaço físico e nas intersecções as
afinidades entre as unidades.
Diagrama de Inter-Relações ou Representa graficamente as afinidades existentes entre as diversas unidades
Diagrama de Fluxo de planejamento de espaço, sendo utilizado um processo de graduação de
confecção baseado nas intensidades de relacionamentos.

Fonte: adaptado de Neumann e Scalice (2015).

Acrescenta-se a lista das principais técnicas e ferramentas para projetos e gestão de arranjos
físicos o método de balanceamento de arranjo físico de processo de Tubino (2009). Neste método o
autor organiza etapas e incorpora a sua proposta as ferramentas PERT/CPM, Balanceamento de Linha
de Produção, Mapofluxograma e Cartas De-Para. Os detalhes de cada etapa do método de Tubino
(2009) e o uso das ferramentas são apresentados no tópico a seguir.

5
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

3. Gestão do Arranjo Físico de Processo/Por Função


Na gestão do Arranjo Físico de Processo/Por Função, equipamentos e máquinas similares ou
idênticos são agrupados, como em uma seção/departamento de máquinas, de maneira a otimizar sua
localização relativa. Neste sentido, Tubino (2009) propôs um método de balanceamento de arranjo
físico de processo, com objetivo principal de minimizar os custos de movimentação nas organizações.
As etapas do método de planejamento e gestão de arranjo físico de processo/por função são
apresentadas na figura 1 e detalhadas no momento seguinte.

Figura 1: Etapas do método de planejamento e gestão de arranjo físico.

Fonte: Adaptado de Tubino (2009).

A figura 1 apresenta o fluxograma com o sequenciamento simplificado que compõe e estrutura


do método proposto, cuja execução considera que limitações prediais serão respeitadas, bem como
indica que possa existir a inviabilidade de alteração na posição de instalações que possuam estruturas
complexas, como banheiros, por exemplo, tendo em vista que isso acarretaria altos custos na execução
do projeto. Além disso, o sequenciamento de atividades também é considerado e a interdependência de
departamentos para a execução das atividades da organização é mantida, a fim de não descaracterizar o
serviço prestado. Sendo assim, Tubino (2009) sugere que a primeira etapa seja de avaliação
dimensional onde as dimensões do prédio devem ser analisadas e registradas adequadamente,
repeitando restrições. O uso da planta da organização, assim como sugere o Mapofluxograma é uma
alternativa aceitável. Em seguida o autor sugere que seja realizado o levantamento dos fluxos de cargas
e/ou movimentos de materiais e pessoas entre os departamentos e então seja montada uma matriz nos
moldes das Cartas De-Para. De posse da movimentação quantificada, deve-se então, especificar, se

6
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

houver, as relações sequenciais entre os departamentos utilizando um diagrama de precedência. Os


métodos de montagem de diagrama de rede propostos pela ferramenta PERT/CPM são indicados nesta
etapa. Ao fim da etapa de mapeamento da situação atual, inicia-se a etapa de quantificação de custos, a
partir da realização do levantamento dos custos dos fluxos de movimentos de pessoas entre os
departamentos, cujos valores constituirão uma Matriz de Custos. A etapa final, por sua vez, consiste na
avaliação e revisão dos fluxos de movimentos e pessoas entre os departamentos, em busca de uma
aproximação dos departamentos com maior quantidade de movimentos entre si. A partir da elaboração
e análise de novas distribuições físicas realiza-se a montagem de novas matrizes de fluxo e custos até
uma configuração que permita que os custos sejam efetivamente minimizados.

A revisão do arranjo físico e fluxos é uma das principais formas de melhorar processos e
reduzir custos (KRAJEWSKY, RITZMAN e MALHOTRA, 2009), e a execução do método descrito
configura um planejamento e gestão de arranjo físico, cuja aplicação culmina, inevitavelmente, na
redução de custos de movimentação a partir da determinação de um cenário ideal para a instalação em
detrimento das suas operações e estratégia organizacional (SILVA e RENTES, 2012; TUBINO, 2009).

4. Método da Pesquisa

Esta pesquisa se classifica como quantitativa exploratória, em função de apresentar


características que objetivam proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo
mais explícito ou a constituir hipóteses, conforme cita Gil (2002).

Considerando o objetivo geral, inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a
análise, planejamento e gerenciamento de arranjos físicos, visto que os efeitos da decisão destes são
bastante importantes, porém, via de regra não são objetos de avaliação periódica no gerenciamento de
organizações.

Segundo Corrêa & Corrêa (2002), as análises de localização vão de simples análises
superficiais até longos estudos, levando em conta numerosas variáveis. Ponderando esta complexidade
na avaliação de arranjos físicos, foi realizado um estudo em campo para diagnóstico do cenário atual
do objeto de pesquisa.

O método adotado é classificado como estudo de caso, pois representa uma estratégia eficiente
para a elaboração de estudos organizacionais e de planejamento. Yin (2001) define estudo de caso

7
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

como uma estratégia de pesquisa que compreende um método que abrange tudo, com a lógica de
planejamento incorporando abordagens específicas à coleta de dados e análise de dados.

O estudo do arranjo físico neste trabalho foi realizado a partir da observação da disposição dos
departamentos no Hospital Veterinário Universitário - HVU, considerando como unidade de medida
de distância o número de departamentos e a recepção. Adotou-se a metodologia proposta por Tubino
(2009) para arranjos físicos por processo, sendo executadas as etapas: avaliação das dimensões
prediais do HVU, elaboração da matriz de fluxo de movimentos atual, e por fim, avaliação e revisão de
fluxos.

A partir da coleta de dados sobre o fluxo de pessoas para cada departamento, foram utilizados
os softwares: AutoCAD 2014 para a elaboração da planta situacional atual e futura do HVU; e
Microsoft Office Excel 2013 para a elaboração das matrizes que correlacionam fluxo e distância por
departamento, quantificando assim a movimentação no ambiente estudado, cuja otimização é o foco do
trabalho.

5. Arranjo Físico do Hospital Veterinário Universitário: Estudo de Caso

Neste tópico tem-se a apresentação das características gerais do ambiente de estudo, da


aplicação do método de planejamento e gestão do arranjo físico, além dos resultados e discussão.

a. Características Gerais do Ambiente de Estudo


O Hospital Veterinário Universitário – HVU é um órgão suplementar da Universidade Estadual
de Santa Cruz (UESC), localizado no Campus Soane Nazaré de Andrade, Rodovia Jorge Amado, Km
16, Bairro Salobrinho, na cidade de Ilhéus/Bahia. É essencialmente utilizado em atividades de ensino,
pesquisa e extensão na área de Medicina Veterinária. Desenvolve trabalhos de pesquisa envolvendo
docentes do curso de Medicina Veterinária e alunos da graduação e do programa de Pós-Graduação em
Saúde Animal da Instituição. Na área de ensino, serve de base para o desenvolvimento das disciplinas
das áreas: clínica médica e cirúrgica de pequenos e grandes animais, anestesiologia veterinária,
patologia clínica veterinária, anatomia patológica veterinária e reprodução animal. Além disso, o HVU
possui laboratórios de parasitologia e microbiologia que também são utilizados para as aulas da
graduação e da pós-graduação. Como ação de extensão, o Hospital oferece à comunidade externa
atendimento médico e cirúrgico a cães, gatos e grandes animais, bem como serviços de anestesiologia

8
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

e exames laboratoriais e de imagem tais como: histopatológico, radiológico e ultrasonográfico (UESC,


2014).

b. Análise do Estado Atual

O HVU caracteriza-se como um ambiente especializado, onde cada departamento executa uma
função específica mesmo que haja variabilidade de clientes, onde, de acordo com os conceitos
apresentados, pode-se classificá-lo como Arranjo Físico de Processo, Por Função ou simplesmente
Funcional.

Conforme apontam Corrêa & Corrêa (2012), no caso de organizações cujas operações não
possam prescindir da presença do cliente, ou seja, para as quais o cliente, além de cliente, é um
insumo, pode ser relevante minimizar não os custos com o transporte de insumos materiais, mas
minimizar os transportes de insumos-clientes. Muitos fatores podem afetar a decisões de arranjo físico,
e a natureza do negócio em que a operação atual se aplica definirá quais fatores deverão ser
determinantes.

No HVU, as operações englobam atendimento à demanda de aulas para turmas de graduação e


pós-graduação, pesquisas e ações de extensão, que são os atendimentos à comunidade. Configurando
atividades cuja presença do cliente é imprescindível, logo, a estratégia operacional no ambiente interno
deve favorecer a minimização das atividades que não agregam valor para o insumo-cliente, no caso, a
movimentação das pessoas.

O fluxo interno do HVU é composto por professores, alunos e servidores. As aulas ministradas
no local são referentes às seguintes disciplinas de graduação: Radiologia Veterinária, Prática
Hospitalar em Medicina Veterinária e Ultrassonografia, além de Oncologia, ofertada para alunos de
pós-graduação. Em se tratando dos servidores fixos do HVU, há somente quatro, são eles: um servidor
público da UESC e um terceirizado responsáveis pela farmácia, um zelador e um recepcionista. É feita
segurança em tempo integral, porém os responsáveis por este serviço ficam na área externa ao HVU.

A planta da estrutura do HVU, proporcional a real, bem como a localização de cada setor, é
apresentada na Figura 2.

9
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

Figura 2 – Planta esquemática atual do HVU.

Fonte: Adaptado de documentos internos da UESC (2014).

O fluxo de movimentação regular no HVU inicia-se sempre pela recepção, ou seja, alunos,
professores, servidores, eventualmente acompanhantes e seus animais, acessam o hospital pela
recepção, que também recebe visitantes que buscam informações. As setas indicam que aquela é a

10
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

principal via de acesso, tanto entrada como saída, às instalações internas do HVU. As portas centrais
são saídas de emergência, a dos fundos é utilizada também pela gerência do hospital e zeladores, que
possuem acesso livre. As portas laterais são utilizadas para entrada de equipamentos de grande porte,
logo, são vias bloqueadas na maior parte do tempo.

Os ambulatórios são os recintos de maior fluxo de pessoas, pois é onde ocorrem as aulas
práticas e atendimento a pequenos animais da comunidade. Outros locais onde são ministradas aulas
são as salas de radiologia e ultrassom. A enfermaria é um caso particular de ambulatório praticamente
inativo, visto que o hospital não realiza atualmente, atendimentos de emergência, sendo assim, esta
área é utilizada esporadicamente.

Na farmácia são estocados todos os materiais e medicamentos do hospital, atendendo a


demanda diariamente.

O setor de expurgo, por sua vez, é onde ocorre o tratamento dos rejeitos hospitalares, e possui
uma estrutura específica para tal fim. Os canis e gatis do HVU estão desativados pelo fato de que não
se trabalha mais com internações, porém a complexidade da estrutura torna inviável sua inclusão na
aplicação do método. Esta característica de inviabilidade de inclusão pela complexidade da estrutura se
aplica também aos banheiros.

As outras salas menores são utilizadas como copa e depósito de materiais para manutenção
interna, acessadas somente pelo zelador. Os recintos sem identificação, por sua vez, são atualmente
aproveitados como armazéns, seja de equipamentos inutilizados ou arquivos.

Logo, por questões estratégicas, o foco do estudo são as salas de aula, enfermaria e farmácia,
pois possuem características dimensionais semelhantes e não contém equipamentos e/ou estruturas
complexas que inviabilizam possíveis modificações.

A disciplina de radiologia tem em média 40 alunos, além do professor, e é dividida em duas


turmas, ambas com aulas ministradas no setor de radiologia em horários diferentes.

A disciplina prática hospitalar em medicina veterinária é composta por até 50 alunos, divididos
em duas turmas, que por sua vez são divididas em cinco ambulatórios (do A ao E), logo, em cada
espaço durante as aulas ficam cinco alunos, o professor, o animal, e normalmente dois acompanhantes,
totalizando oito pessoas por ambulatório por turma em média.

As disciplinas de ultrassonografia e oncologia são ministradas no mesmo espaço, a sala de


ultrassonografia. As turmas possuem vinte e quatro alunos respectivamente, além do professor.

11
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

c. Resultados e Discussão

A partir do levantamento de dados, foi possível elaborar uma matriz do tipo “de / para” de
movimentação, considerando como unidade de medida de distância percorrida a quantidade de
departamentos no decorrer do caminho partindo da Recepção, até os setores indicados na Tabela 2.

Tabela 2 – Fluxo de movimentação atual.

Recepção
Distância Fluxo Movimentação
(Departamentos) (Pessoas/Semana) Semanal
Radiologia 7 80 560
Ambulatório A 3 32 96
Ambulatório B 2 32 64
Ambulatório C 1 32 32
Ambulatório D 1 32 32
Ambulatório E 1 32 32
Ultrassom 4 48 192
Farmácia 2 20 40
Enfermaria 2 0 0
Total 1048
Fonte: Autores.

É importante observar que no caso da sala de ultrassom, foi considerado um departamento a


mais devido ao fato de que deve-se entrar em uma porta posterior à localização da sala para cruzar
novamente o departamento e ter acesso à instalação.

A distância entre departamentos representa a quantidade de departamentos que existem entre a


recepção e o destino. O fluxo representa a quantidade de pessoas que acessam os departamentos
durante a semana, considerando a quantidade de vezes que o acesso é feito, e o fato de que toda
entrada implica em uma saída obrigatoriamente pelo mesmo caminho. Por exemplo, há somente dois
funcionários na farmácia, porém os mesmos acessam o recinto cinco dias por semana, e percorrem o
caminho duas vezes por dia, na entrada e saída, visto que o regime de trabalho é turno único e não há
saídas para alimentação. A enfermaria não possui fluxo fixo e nem uma média considerável de acesso
semanal, porém é um espaço potencial a ser melhor aproveitado devido a proximidade com a entrada,
logo, foi considerado na análise.

12
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

A leitura do resultado é feita da seguinte maneira: foram identificadas 1048 cruzamentos


semanais entre departamentos no HVU.

Considerando as dimensões prediais e características do ambiente, bem como a matriz de fluxo


de movimentos, é possível identificar pontos críticos que aumentam a quantidade de movimento
excessivo no recinto para posterior avaliação e revisão de um fluxo que seja melhor organizado,
principalmente visto que grande parte das dependências do HVU são inutilizadas, o que facilita a
transferência da estrutura para melhoria no fluxo de pessoas.

A partir do método proposto por Tubino (2009), foi elaborada uma nova configuração, a saber:
A substituição do Ambulatório D e Farmácia, pelos Ambulatórios C e D, respectivamente, de forma
que o espaço anteriormente ocupado pelo Ambulatório C, o mais próximo da Recepção, passe a ser a
sala de Radiologia, setor de maior fluxo de pessoas semanalmente e que exige um espaço considerável
para as práticas.

O segundo ambiente de maior movimentação, a sala de Ultrassonografia, foi alocada


imediatamente ao lado da entrada principal, no espaço anteriormente ocupado pelo Ambulatório E,
transferido, por sua vez, para a anterior sala de Enfermaria. O recinto alocado como Ultrassonografia
representa o ponto mais próximo da principal via de acesso, porém possui dimensão limitada, o que
inviabiliza a alocação da Radiologia, que seria a opção inicial em vista do maior fluxo.

A Farmácia foi alocada na ala direita do HVU, porém no ponto mais próximo aos corredores
principais, enquanto que a Enfermaria, no ponto de acesso mais distante, por apresentar pequeno fluxo.
Desta forma, a aplicação do método sugere a concentração dos setores de maior fluxo, em torno da via
de acesso principal, enquanto que a ala direita, mais distante, aloque os setores desativados e/ou de
menor fluxo, facilitando manutenção e gerenciamento do ambiente. A figura 3 apresenta a planta
esquemática futura do HVU, onde as áreas que receberam alterações são marcadas com asterisco.

13
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

Figura 3 – Planta esquemática futura do HVU.

*
*

*
*

Fonte: Autores.

14
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

A partir das modificações propostas espera-se obter uma redução significativa no fluxo interno
de pessoas. Para tanto, a revisão indicada pela teoria define que deve-se reelaborar a matriz para então
quantificar a viabilidade do estudo. Isto posto, obtêm-se os seguintes resultados apresentados na tabela
3.

Tabela 3: Fluxo de movimentação futuro.

Recepção
Distância Fluxo Movimentação
(Departamentos) (Pessoas/Semana) Semanal
Radiologia 1 80 80
Ambulatório A 3 32 96
Ambulatório B 2 32 64
Ambulatório C 1 32 32
Ambulatório D 2 32 64
Ambulatório E 2 32 64
Ultrassom 1 48 48
Farmácia 4 20 80
Enfermaria 7 0 0
Total 528
Fonte: Autores.

Observa-se, portanto uma potencial redução de pouco mais de 50% por cento na movimentação
interna no HVU, o que implica diretamente na otimização da utilização do espaço e recursos, e reduz o
gasto com movimentos improdutivos na realização dos serviços, de tal forma a gerar impacto positivo
nos custos de manutenção, e melhoria nas condições de gerenciamento visto que com a reorganização
proposta, a ala direita do hospital ficará praticamente desativada, o que torna a área ativa de execução
de serviços mais compacta, e, portanto, mais fácil de ser gerenciada.

6. Considerações Finais

As características de um arranjo físico devem favorecer o tipo de finalidade proposta pelo


ambiente, no caso do HVU, foi identificado um arranjo físico por processo/função.

A proposta sugerida apresenta vantagens no que tange a simplicidade no gerenciamento,


redução de custos e eliminação de movimentação improdutiva em excesso, o que culmina em maior
probabilidade de eficiência nos serviços. Rawabdeh e Tahboub (2005) reforçam que a eficiência do
arranjo físico é um dos mais importantes aspectos das organizações contemporâneas, em vista da
abrangência dos benefícios atados ao bom planejamento neste campo. Para tal, foram realizadas as

15
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

ações de análise dimensional e condicional do ambiente, elaboração da planta situacional,


quantificação de fluxo de movimentação semanal, preparação de matrizes “de / para” e realocação
estratégica dos departamentos, que permitiram reduzir em 50,38% a movimentação interna semanal.

Considerando a categoria do serviço prestado, onde a presença dos envolvidos é


imprescindível, o foco do estudo foi a diminuição da movimentação, de tal forma que haja implicação
direta na melhoria do processo. Quantitativamente, os métodos utilizados resultaram em implicações
significativas, e que representam uma melhoria na qualidade não só do serviço, mas também na
execução por parte dos realizadores das operações, professores, alunos e servidores.

16
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

Referências

CHIAVENATO, I. Administração de Materiais: Uma abordagem introdutória. Rio de Janeiro:


Campus, 2005.

CORRÊA, L. H.; CORRÊA, C. A. Administração de Produção e Operações: Manufatura e


Serviços - Uma Abordagem Estratégica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

FERNANDES, F.; GODINHO FILHO, M. Planejamento e Controle da Produção: Dos


Fundamentos ao Essencial. São Paulo: Atlas, 2010.

GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

KRAJEWSKI, L., RITZMAN, L., MALHOTRA, M. Administração de Produção e Operações. São


Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

MOREIRA, D. A. Administração da Produção e Operações. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning,


2011.

NEUMAN, C.; SCALICE, R.K. Projeto de Fábrica e Layout. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

RAWABDEH, I.; TAHBOUB, K. A new heuristic approach for a computer-aided facility layout.
Journal of Manufacturing Technology Management, v. 17, n. 7, p. 962-986, 2005.

SILVA. A; RENTES. A. Um modelo de projeto de layout para ambientes job shop com alta
variedade de peças baseado nos conceitos da produção enxuta. Gestão e Produção, v. 19, n. 3, p.
531-541, São Carlos, 2012.

SLACK, N.; JONES, A. B.; JOHNSTON, R. Princípios de Administração da Produção. São Paulo:
Atlas, 2013.

TUBINO, D. F. Planejamento e Controle da Produção: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2009.

TOLEDO JR., I. F. B. LAYOUT - Arranjo Físico. 9. ed. São Paulo: Itys Fides, 2007.

(UESC, 2014) Hospital Veterinário: Apresentação. Disponível em


<http://www.uesc.br/hospitalveterinario/index.php>. Consultado em 29 de Outubro de 2014.

YIN, R. K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

17
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

18

Você também pode gostar