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Resumo: O planejamento e gestão do arranjo físico em processos de serviços é de fundamental importância na busca
da melhor qualidade do ambiente de trabalho e desempenho do processo como um todo. Além de simplificar o
gerenciamento, facilitar a movimentação dos materiais e pessoas, é possível obter benefícios com redução de custos e
de tempo nas operações. No Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus – BA), foi
identificado o tipo de arranjo físico, cuja organização foi avaliada e uma proposta de um novo arranjo físico foi
realizada, com o propósito de reduzir a movimentação interna e aumentar a eficiência da organização.
1. INTRODUÇÃO
A eficiência nas operações em organizações de serviços é um fator cujo sucesso está atrelado à
organização ótima de diversas variáveis, dentre as quais as que se referem ao arranjo físico, pois há
uma significativa interferência, tanto quantitativa quanto qualitativa, na estrutura da organização em
relação aos serviços prestados e suas operações.
Sendo assim, o objetivo deste artigo é avaliar o arranjo físico interno de um hospital veterinário
para, através da analise da atual configuração, pesquisar e identificar instrumentos de planejamento e
gestão do arranjo físico alinhados com o ambiente analisado e desta forma propor uma alternativa de
melhoria no hospital através da minimização de movimentos e fluxo de pessoas.
Para tal propósito, será realizado um estudo de caso a fim de coletar dados para a constituição
de uma matriz que correlaciona fluxo e distância percorrida por departamento, e a partir desta
quantificação, determinar um modelo mais eficiente de disposição física que minimize a
movimentação interna no hospital veterinário.
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De acordo com Corrêa & Corrêa (2012), o arranjo físico de uma operação é a maneira segundo
a qual se encontram dispostos fisicamente os recursos que ocupam espaço dentro da instalação. Tais
recursos englobam pessoas, materiais e equipamentos.
As decisões sobre arranjo físico são de suma importância, pois podem afetar a capacidade de
instalação e a produtividade das operações, e se mal projetadas e geridas, podem implicar em prejuízos
financeiros e elevados custos (MOREIRA, 2011).
No que tange aos custos relacionados aos arranjos físicos, Neumann e Scalice (2015) alertam
que um projeto de arranjo físico adequado muitas vezes tem um custo superior ao arranjo físico mal
estudado e projetado, no entanto, o segundo passa a afetar continuamente para cima os custos da
produção.
Corrêa & Corrêa (2012), apontam que o objetivo primordial das decisões sobre arranjo físico é,
acima de tudo, apoiar a estratégia competitiva da operação, ou seja, deve haver um alinhamento entre
as características do arranjo físico e as prioridades competitivas evitando conflitos entre a obtenção de
flexibilidade e de eficiência. Daí resulta a necessidade de subordinar a decisão de arranjo físico à
estratégia competitiva da operação.
Ainda segundo Corrêa & Corrêa (2012), há, fundamentalmente, três tipos clássicos de arranjos
físicos: por processo, produto e posicional, além de outros ditos híbridos, que procuram de certa forma,
aliar características de dois ou mais arranjos clássicos. O arranjo físico por processos apresenta alto
grau de dedicação dos funcionários e especialização na utilização de equipamentos em geral, que são
agrupados por semelhanças na funcionalidade. Já o arranjo físico por produto, recebe essa
denominação porque a lógica utilizada para arranjar a posição relativa dos recursos é a sequência de
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etapas do processo de agregação de valor. Finalmente têm-se o arranjo físico posicional, que
caracteriza-se pelo objeto da operação ficar estacionário, seja por impossibilidade ou por inviabilidade
de fazê-lo mover-se entre as etapas do processo.
Para Slack, Jones e Johnston (2013), são quatro os arranjos físicos possíveis: o funcional, o por
produto, o posicional e o do tipo celular. O arranjo físico funcional é assim denominado pelos autores
porque está de acordo com as necessidades e a conveniência das funções desempenhadas pelos
recursos transformadores que constituem o projeto, já o arranjo físico por produto dependerá do tipo de
processo característico a ser utilizado, em vista a organizar seu fluxo de atividades para a concepção de
um item específico. O arranjo físico posicional, por sua vez, estabelece uma relação diferente, pois
equipamentos, materiais, pessoas e todos os agentes transformadores se movem em direção ao que
sofre o processamento, recebendo também, o nome de arranjo físico por posição fixa. O arranjo físico
do tipo celular é aquele no qual os recursos transformados são pré-selecionados para movimentar-se a
uma parte específica da operação (célula) na qual todos os recursos transformadores necessários a
atender suas necessidades imediatas de processamento estão localizados. Concluída a primeira etapa,
os recursos processados na célula anterior passam para a célula posterior.
Fernandes e Godinho Filho (2010) por sua vez entendem que o arranjo físico faz parte da
caracterização do processo produtivo e sugerem que são cinco os tipos de arranjos físicos: o de estação
de trabalho única, por produto, funcional ou por processo, por grupo e por de posição fixa. Similar a
classificação de Fernandes e Godinho Filho (2010) têm-se a de Tubino (2009) que detalha cada tipo da
seguinte forma: Arranjo Físico de Processo ou por Função é aquele em que equipamentos e máquinas
similares ou idênticos são agrupados, de maneira a otimizar sua localização relativa, uma peça sendo
trabalhada passa de área em área; Arranjo Físico de Produto é aquele em que a forma é definida pela
sequência necessária para fazer o produto, frequentemente chamado de linha de montagem; Arranjo
Físico de Tecnologia de Grupo ou Célula coloca juntas máquinas distintas em centros de trabalho ou
células para trabalhar em produtos que tem formas e necessidades de processamento similares; e
finalmente Arranjo Físico de Posição Fixa que devido ao volume ou seu peso, o produto permanece
em um local somente.
Neumann e Scalice (2015) lembram que para cada tipo de arranjo físico é permitido o uso de
diferentes técnicas e ferramentas. Os autores reuniram as principais técnicas e ferramentas que têm
sido utilizadas nos diferentes processos de arranjos físicos. A tabela 1 apresenta esta compilação com a
descrição e aplicação de cada uma.
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Acrescenta-se a lista das principais técnicas e ferramentas para projetos e gestão de arranjos
físicos o método de balanceamento de arranjo físico de processo de Tubino (2009). Neste método o
autor organiza etapas e incorpora a sua proposta as ferramentas PERT/CPM, Balanceamento de Linha
de Produção, Mapofluxograma e Cartas De-Para. Os detalhes de cada etapa do método de Tubino
(2009) e o uso das ferramentas são apresentados no tópico a seguir.
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A revisão do arranjo físico e fluxos é uma das principais formas de melhorar processos e
reduzir custos (KRAJEWSKY, RITZMAN e MALHOTRA, 2009), e a execução do método descrito
configura um planejamento e gestão de arranjo físico, cuja aplicação culmina, inevitavelmente, na
redução de custos de movimentação a partir da determinação de um cenário ideal para a instalação em
detrimento das suas operações e estratégia organizacional (SILVA e RENTES, 2012; TUBINO, 2009).
4. Método da Pesquisa
Considerando o objetivo geral, inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a
análise, planejamento e gerenciamento de arranjos físicos, visto que os efeitos da decisão destes são
bastante importantes, porém, via de regra não são objetos de avaliação periódica no gerenciamento de
organizações.
Segundo Corrêa & Corrêa (2002), as análises de localização vão de simples análises
superficiais até longos estudos, levando em conta numerosas variáveis. Ponderando esta complexidade
na avaliação de arranjos físicos, foi realizado um estudo em campo para diagnóstico do cenário atual
do objeto de pesquisa.
O método adotado é classificado como estudo de caso, pois representa uma estratégia eficiente
para a elaboração de estudos organizacionais e de planejamento. Yin (2001) define estudo de caso
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como uma estratégia de pesquisa que compreende um método que abrange tudo, com a lógica de
planejamento incorporando abordagens específicas à coleta de dados e análise de dados.
O estudo do arranjo físico neste trabalho foi realizado a partir da observação da disposição dos
departamentos no Hospital Veterinário Universitário - HVU, considerando como unidade de medida
de distância o número de departamentos e a recepção. Adotou-se a metodologia proposta por Tubino
(2009) para arranjos físicos por processo, sendo executadas as etapas: avaliação das dimensões
prediais do HVU, elaboração da matriz de fluxo de movimentos atual, e por fim, avaliação e revisão de
fluxos.
A partir da coleta de dados sobre o fluxo de pessoas para cada departamento, foram utilizados
os softwares: AutoCAD 2014 para a elaboração da planta situacional atual e futura do HVU; e
Microsoft Office Excel 2013 para a elaboração das matrizes que correlacionam fluxo e distância por
departamento, quantificando assim a movimentação no ambiente estudado, cuja otimização é o foco do
trabalho.
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O HVU caracteriza-se como um ambiente especializado, onde cada departamento executa uma
função específica mesmo que haja variabilidade de clientes, onde, de acordo com os conceitos
apresentados, pode-se classificá-lo como Arranjo Físico de Processo, Por Função ou simplesmente
Funcional.
Conforme apontam Corrêa & Corrêa (2012), no caso de organizações cujas operações não
possam prescindir da presença do cliente, ou seja, para as quais o cliente, além de cliente, é um
insumo, pode ser relevante minimizar não os custos com o transporte de insumos materiais, mas
minimizar os transportes de insumos-clientes. Muitos fatores podem afetar a decisões de arranjo físico,
e a natureza do negócio em que a operação atual se aplica definirá quais fatores deverão ser
determinantes.
O fluxo interno do HVU é composto por professores, alunos e servidores. As aulas ministradas
no local são referentes às seguintes disciplinas de graduação: Radiologia Veterinária, Prática
Hospitalar em Medicina Veterinária e Ultrassonografia, além de Oncologia, ofertada para alunos de
pós-graduação. Em se tratando dos servidores fixos do HVU, há somente quatro, são eles: um servidor
público da UESC e um terceirizado responsáveis pela farmácia, um zelador e um recepcionista. É feita
segurança em tempo integral, porém os responsáveis por este serviço ficam na área externa ao HVU.
A planta da estrutura do HVU, proporcional a real, bem como a localização de cada setor, é
apresentada na Figura 2.
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O fluxo de movimentação regular no HVU inicia-se sempre pela recepção, ou seja, alunos,
professores, servidores, eventualmente acompanhantes e seus animais, acessam o hospital pela
recepção, que também recebe visitantes que buscam informações. As setas indicam que aquela é a
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principal via de acesso, tanto entrada como saída, às instalações internas do HVU. As portas centrais
são saídas de emergência, a dos fundos é utilizada também pela gerência do hospital e zeladores, que
possuem acesso livre. As portas laterais são utilizadas para entrada de equipamentos de grande porte,
logo, são vias bloqueadas na maior parte do tempo.
Os ambulatórios são os recintos de maior fluxo de pessoas, pois é onde ocorrem as aulas
práticas e atendimento a pequenos animais da comunidade. Outros locais onde são ministradas aulas
são as salas de radiologia e ultrassom. A enfermaria é um caso particular de ambulatório praticamente
inativo, visto que o hospital não realiza atualmente, atendimentos de emergência, sendo assim, esta
área é utilizada esporadicamente.
O setor de expurgo, por sua vez, é onde ocorre o tratamento dos rejeitos hospitalares, e possui
uma estrutura específica para tal fim. Os canis e gatis do HVU estão desativados pelo fato de que não
se trabalha mais com internações, porém a complexidade da estrutura torna inviável sua inclusão na
aplicação do método. Esta característica de inviabilidade de inclusão pela complexidade da estrutura se
aplica também aos banheiros.
As outras salas menores são utilizadas como copa e depósito de materiais para manutenção
interna, acessadas somente pelo zelador. Os recintos sem identificação, por sua vez, são atualmente
aproveitados como armazéns, seja de equipamentos inutilizados ou arquivos.
Logo, por questões estratégicas, o foco do estudo são as salas de aula, enfermaria e farmácia,
pois possuem características dimensionais semelhantes e não contém equipamentos e/ou estruturas
complexas que inviabilizam possíveis modificações.
A disciplina prática hospitalar em medicina veterinária é composta por até 50 alunos, divididos
em duas turmas, que por sua vez são divididas em cinco ambulatórios (do A ao E), logo, em cada
espaço durante as aulas ficam cinco alunos, o professor, o animal, e normalmente dois acompanhantes,
totalizando oito pessoas por ambulatório por turma em média.
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c. Resultados e Discussão
A partir do levantamento de dados, foi possível elaborar uma matriz do tipo “de / para” de
movimentação, considerando como unidade de medida de distância percorrida a quantidade de
departamentos no decorrer do caminho partindo da Recepção, até os setores indicados na Tabela 2.
Recepção
Distância Fluxo Movimentação
(Departamentos) (Pessoas/Semana) Semanal
Radiologia 7 80 560
Ambulatório A 3 32 96
Ambulatório B 2 32 64
Ambulatório C 1 32 32
Ambulatório D 1 32 32
Ambulatório E 1 32 32
Ultrassom 4 48 192
Farmácia 2 20 40
Enfermaria 2 0 0
Total 1048
Fonte: Autores.
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A partir do método proposto por Tubino (2009), foi elaborada uma nova configuração, a saber:
A substituição do Ambulatório D e Farmácia, pelos Ambulatórios C e D, respectivamente, de forma
que o espaço anteriormente ocupado pelo Ambulatório C, o mais próximo da Recepção, passe a ser a
sala de Radiologia, setor de maior fluxo de pessoas semanalmente e que exige um espaço considerável
para as práticas.
A Farmácia foi alocada na ala direita do HVU, porém no ponto mais próximo aos corredores
principais, enquanto que a Enfermaria, no ponto de acesso mais distante, por apresentar pequeno fluxo.
Desta forma, a aplicação do método sugere a concentração dos setores de maior fluxo, em torno da via
de acesso principal, enquanto que a ala direita, mais distante, aloque os setores desativados e/ou de
menor fluxo, facilitando manutenção e gerenciamento do ambiente. A figura 3 apresenta a planta
esquemática futura do HVU, onde as áreas que receberam alterações são marcadas com asterisco.
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Fonte: Autores.
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A partir das modificações propostas espera-se obter uma redução significativa no fluxo interno
de pessoas. Para tanto, a revisão indicada pela teoria define que deve-se reelaborar a matriz para então
quantificar a viabilidade do estudo. Isto posto, obtêm-se os seguintes resultados apresentados na tabela
3.
Recepção
Distância Fluxo Movimentação
(Departamentos) (Pessoas/Semana) Semanal
Radiologia 1 80 80
Ambulatório A 3 32 96
Ambulatório B 2 32 64
Ambulatório C 1 32 32
Ambulatório D 2 32 64
Ambulatório E 2 32 64
Ultrassom 1 48 48
Farmácia 4 20 80
Enfermaria 7 0 0
Total 528
Fonte: Autores.
Observa-se, portanto uma potencial redução de pouco mais de 50% por cento na movimentação
interna no HVU, o que implica diretamente na otimização da utilização do espaço e recursos, e reduz o
gasto com movimentos improdutivos na realização dos serviços, de tal forma a gerar impacto positivo
nos custos de manutenção, e melhoria nas condições de gerenciamento visto que com a reorganização
proposta, a ala direita do hospital ficará praticamente desativada, o que torna a área ativa de execução
de serviços mais compacta, e, portanto, mais fácil de ser gerenciada.
6. Considerações Finais
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