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TEMA 1 – Antes de Mim

Objetivo geral: compreender a especificidade do ser humano do ponto


de vista dos fatores biológicos, cerebrais e culturais

A Genética
O Cérebro
A Cultura
“O canivete foi concebido para cortar. Esta é a sua essência,
aquilo que faz dele aquilo que é. Mas para que terá sido
concebido o ser humano?”

Nigel Warburton, Uma Pequena História da Filosofia (referência a Jean Paul Sartre)
▪ Qual é a especificidade do ser humano?

▪ O que é que biologicamente confere à espécie humana características específicas?

▪ A Biologia Molecular e a Genética ajudam-nos a compreender o complexo processo de


transmissão de características dos progenitores para a descendência.

▪ Influências hereditárias na forma de ser e de se comportar dos indivíduos.


▪ Ao longo da História sucedem-se diferentes conceções: umas afirmam o
predomínio da hereditariedade, outras o predomínio dos fatores decorrentes do
meio.

Conceitos a Reter
Hereditariedade Específica (caracteriza uma espécie): corresponde à informação
genética responsável pelas características comuns a todos os indivíduos da mesma
espécie.

Entre os seres humanos há um conjunto de características comuns que nos definem


como humanos, como por exemplo a constituição do rosto, das mãos, a estrutura do
esqueleto.
Hereditariedade Individual (exclusiva de cada sujeito de cada espécie):
corresponde à informação genética responsável pelas características de um
indivíduo e que o distingue de todos os outros membros da sua espécie.

É o que o torna um ser único.

Todos temos a mesma hereditariedade específica e todos temos uma diferente


hereditariedade individual.
Genótipo: corresponde à coleção de genes de que o indivíduo é dotado aquando da
sua conceção e que resulta do conjunto de genes provenientes da mãe e do pai.

Fenótipo: conjunto de características observáveis que resultam da interação entre o


genótipo e o meio ambiente onde ocorre o desenvolvimento. Corresponde à
atualização do genótipo.

A pessoa é assim o resultado de uma história em que se interligam fatores


hereditários e fatores ambientais. A complexidade do que somos deriva do
potencial herdado e dos efeitos do meio.
▪ A interação hereditariedade e meio pode ser boa ou má: pode permitir o
desenvolvimento harmónico do potencial genético, mas também pode influenciar
negativamente o processo de expressão e desenvolvimento desse potencial.

▪ Exemplo do meio intrauterino: a má nutrição da mãe, a ingestão de substâncias


tóxicas ou medicamentosas, ou até determinados estados emocionais podem
afetar negativamente o desenvolvimento do feto.
O vírus da rubéola se afetar o embrião nos dois primeiros meses de gestação
pode provocar determinadas deficiências.
▪ Teste Rápido

1) A hereditariedade específica designa:


a) a informação genética comum a todos os seres vivos.
b) o conjunto de genes transmitidos pelos progenitores.
c) a informação genética responsável pelas características de uma espécie.
d) a informação genética responsável pelas características especiais de cada
indivíduo.
2) O fenótipo é o conjunto das determinações genéticas herdadas. Esta
afirmação é:
a) verdadeira: o fenótipo é o conjunto da carga hereditária transmitida pelos
progenitores.
b) falsa: o fenótipo é o conjunto de características observáveis num indivíduo e
resulta da interação do genótipo e do meio.
c) verdadeira: o fenótipo corresponde à informação genética específica de cada
espécie.
d) falsa: o fenótipo resulta da alteração das informações genéticas que ocorrem por
mutação.
Programa Genético
▪ Exemplo: Quando compramos sementes de malmequeres podemos contar com
flores de pétalas brancas e centro amarelo. Isto, se assegurarmos as condições
ambientais adequadas, designadamente regar a planta.

▪ Há, portanto, um programa de desenvolvimento que passa por diferentes fases e


que culmina com o florescimento de uma flor com características muito precisas
que a distinguem de todas as outras.

▪ Também os animais cumprem um programa que os leva a agir e a viver de uma


dada forma. Estes possuem um conjunto de instintos que determinam
comportamentos adaptados que asseguram a sua sobrevivência e reprodução.
▪ Programas genéticos fechados: preveem de forma determinada processos
evolutivos e comportamentos característicos de determinada espécie.
▪ Programa genético aberto: o que distingue o ser humano de muitos outros
animais é o facto de as suas ações não serem definidas por um programa fechado.

▪ Existe uma programação básica de índole biológica, mas o ser humano não está
determinado por um sistema de instintos que defina à partida o seu
desenvolvimento e o seu comportamento.

▪ Os animais apresentam esquemas de comportamento especializado que os dotam


de capacidades altamente eficazes de adaptação ao meio. Exemplo: os leões
possuem garras que lhes permitem caçar e rasgar as suas presas.
▪ Contudo, estas especializações revelam limitações, ou seja, apenas funcionam nos
nichos ecológicos onde os animais estão inseridos.

▪ As garras do leão não o permitem abrir uma porta.

▪ Estas capacidades de pouco ou nada servem quando as circunstâncias se alteram.


▪ A ausência destas hiperespecializações no ser humano constitui a sua vantagem. O
Homem tem capacidade para enfrentar situações imprevistas.

▪ A sua “imperfeição”, o seu inacabamento permitem-lhe adaptar-se às mudanças,


às situações imprevistas.

▪ Compensam as suas limitações anatómicas com a invenção de soluções, dando-lhe


a possibilidade de adaptação a circunstâncias novas e, por isso, desafiadoras.
▪ O Homem é um ser biologicamente inacabado. O seu organismo leva muito mais
tempo a atingir o pleno desenvolvimento do que o das outras espécies: logo após
o nascimento, o pato nada atrás da mãe, o pintainho ensaia os primeiros passos, o
chimpanzé agarra-se ao pelo da mãe.

▪ Diferentemente, o ser humano quando nasce apresenta uma incapacidade para


reagir de forma tão eficaz ao meio.

▪ “Tiraram-nos do forno evolutivo muito cedo, estamos a meia cozedura.” Fernando


Savater
▪ O ser humano é um ser prematuro, não apresenta as suas capacidades e
competências desenvolvidas.

▪ O período de desenvolvimento e de crescimento da criança é extraordinariamente


longo, o que é vital para o ciclo de vida humano.

▪ O crescimento físico só se completa depois dos 20 anos de idade; a necessidade e


a capacidade de aprender estendem-se pela adolescência e o estado adulto.

Neotenia
▪ Neotenia: designa o inacabamento biológico do ser humano ao nascer, o que
implica que a infância humana seja tão longa: o processo de desenvolvimento
continua após o nascimento.

▪ Diz-se ainda que o ser humano é neoténico porque mantém em adulto


características juvenis.

▪ O indivíduo desenvolve-se devagar, dependendo durante muito tempo dos


adultos.
Muito importante!

▪ O inacabamento biológico do ser humano e a sua prematuridade implicam um


prolongamento da infância e da adolescência, condição necessária para o seu
processo de adaptação e desenvolvimento.

▪ Esta aparente falta vai constituir uma vantagem ao permitir a possibilidade de uma
maior capacidade para aprender no contexto do seu ambiente e da sua cultura.
▪ A aprendizagem irá cumprir as tarefas que nos animais são destinadas pela
hereditariedade: o ser humano tem de aprender o que a hereditariedade propicia
a outras espécies.

▪ Inacabado, o ser humano está aberto a múltiplas potencialidades. A sua natureza


biológica torna mais flexível o processo de adaptação ao meio.

▪ O homem cria a sua própria adaptação, a sua cultura, que transmite de geração em
geração.

O Homem é “o especialista da não especialização”.


“O canivete foi concebido para cortar. Esta é a sua essência, aquilo que faz dele aquilo que é.
Mas para que terá sido concebido o ser humano? Os seres humanos não têm essência. Não
estamos aqui por alguma razão. Para sermos humanos, não temos de ser de um modo
particular.
Um ser humano pode escolher o que fazer, o que quer ser. Todos somos livres. Só eu posso
decidir o que fazer da minha vida. Se eu deixar outras pessoas decidirem sobre como devo
viver, é ainda uma escolha. Seria a escolha de ser o tipo de pessoa que os outros esperam que
eu seja.
A liberdade é difícil de controlar e muitos fogem dela. Umas das maneiras de fugir dela é
fingir que não se é realmente livre.”

Nigel Warburton, Uma Pequena História da Filosofia (referência a Jean Paul Sartre)

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