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Farmacognosia Pura

UNIDADE III
Professora: MSc Laisla Rangel Peixoto
CONTEÚDO DA UNIDADE
▪ Taninos;

▪ Óleos essenciais, terpenos e esteroides;

▪ Saponinas.
TANINOS
Conceito

Taninos são substâncias fenólicas solúveis em água com


Massa molecular entre 500 e cerca de 3000 Dalton,que apresentam
a habilidade de formar complexos insolúveis em água com
alcalóides,gelatinaeoutrasproteínas.

Historicamente, a importância das drogas que contem


taninos está ligada a suas propriedades tanantes, ou seja, sua
habilidade de transformar peles frescas em um material
imputrescível:o couro.O que realmente ocorre neste processo,é a
formação de ligações entre as fibras de colágeno da pele fresca, o
Que acarreta resistência à água,calor e abrasão.
Terminologia e classificação

Segundo sua estrutura química:

▪ Pseudo-taninos.

▪ Taninos hidrolisáveis (galotaninos e elagitaninos

▪ Taninos condensados
Pseudo - taninos

✓ São os precursores dos taninos verdadeiros;


✓ São compostos de baixo peso molecular;
O O OH
OH
OH

HO
HO OH
HO OH OH
OH
Floroglucinol Ácido caféico
Ácido quínico
Taninos Hidrolisáveis

1) Galotaninos

São ésteres de um açúcar (ou poliol) e um número variável de


moléculas de ácidos fenólicos. O açúcar é normalmente a b-D-
Glucose e o polifenol,o ácido gálico.

Nos galotaninos mais complexos, a união entre as


diversas unidades de ácido gálico se dá via ligações
meta-depsídicas.
Taninos Hidrolisáveis

2)Elagitaninos

Possuem um ou dois resíduos de hexa-hidroxidifenoila-D-glucose


(HHDP), os quais são obtidos por acoplamento oxidativo C-C
Entre dois resíduos de ácido gálico espacialmente adjacentes.
Taninos Condensados

Os taninos condensados são oligômeros e polímeros


formados pela policondensação de duas
ou mais unidade de flavan – 3- oleflavan- 3,4 - diol

Quando esse grupo de


taninos são tratados com
ácido a quente, são
formadoasantocianidina,
dai serem também
conhecidos por Taninos condensados, a condensação
proantocianidinas. das unidades monoméricas podem
JoséGabriela
chegara3000daltos
M. BarbosaMaia
Filho
Propriedades dos taninos

▪ Substâncias amorfas;
▪ Marrom escura;
▪ Em solução aquosa são levemente ácidas e de sabor azedo (adstringentes);
▪ Solúveis em água, mas depende da polimerização;
▪ São solúveis em álcool e acetona e insolúveis em hexano, benzeno e clorofórmio;
▪ Estabilidade das soluções aquosas variam de acordo com a estrutura,
e é geralmente moderada;
▪ Reagem com cloreto férrico. Formam precipitados com a maioria dos alcalóides e
outras bases nitrogenadas. Dão também precipitados com sais de Fe, Cu, Hg, Pb e Zn.
Extração

Tecidos frescos, congelados ou liofilizados


drogas secas, parte dos taninos são irreversivelmente
combinadosaoutrospolímeros

água e acetona
eliminar a acetona por destilação

extração líquido/líquido com um solvente apolar


Para eliminação das graxas, por exemplo

extração líquido/líquido com acetato de etila


Separação dos pseudotaninos, como ácido gálico,
ácido elágico, catequina, etc.

fase aquosa
proantocianidinas poliméricas e os
galotaninos de alto peso molecular
Purificação e Identificação

Sephadex Sílica de fase reversa

Monômeros à dímeros àtrimeros

Elucidação estrutural

RMN EM UV IV
Reações de identificação

1 – Cloreto férrico - Galotaninos e elagitaninos dão


coloração e precipitados de azulados a pretos com sais
férricos. Taninos condensados dão precipitados verde-
amarronzados.

2 – Iodato de potássio - Galotaninos dão uma coloração


rósea com iodato de potássio (ácido gálico livre dá uma
Coloração laranja com esse mesmo reagente).

3 – Acetato de chumbo – Todos os taninos dão um


Precipitado na presença de acetato de chumbo.

4 – Gelatina – Todos os taninos precipitam na presença de


gelatina.

5 – Alcalóides – Na presença de uma solução de um


Alcalóide qualquer, ocorre a precipitação.
Propriedades farmacológicas e biológicas

Diarréia
Hemostático
Adstringente
Antisséptico
Medicina popular Cortes
Feridas
Queimaduras
Inflamações

O poder anti-séptico dos taninos pode ser explicado por sua


Capacidade precipitar as proteínas das células superficiais das mucosas
E dos tecidos a descoberto,formando um revestimento protetor e com
Isto impedindo o desenvolvimento de microorganismos,associando-se
Ainda à própria ação desinfetante conferida pelo seu caráter fenólico.
Propriedades farmacológicas e biológicas

Antioxidante
Combateradicaislivres
Topo de linha Câncer
Esclerose
Úlcerasgástricas
ÓLEOS ESSENCIAIS,
TERPENOS E
ESTEROIDES
INTRODUÇÃO
❖ Terpenos – ampla classe de metabólitos secundários cuja origem biossintética deriva de
unidades do isopreno (C5H8). Quando oxigenados recebem o nome de terpenóides.

❖ Incluem grande número de componentes de óleos voláteis e esteróides.

❖ Produzidos por plantas, insetos, animais, microorganismos e animais marinhos.


INTRODUÇÃO

❖ Os terpenos são amplamente distribuídos na natureza (50.000);

❖ Insolúveis em água;

❖ São conhecidos por suas importantes funções biológicas e fisiológicas e, por isso, muito
utilizados na área farmacêutica.

❖ A maioria dos terpenos não ocorre na sua forma linear, existindo sob a forma de estruturas
cíclicas (reações de oxidação, redução, hidratação e isomerização), apresentando uma
grande variedade estrutural.

❖ São formados a partir do ácido mevalônico (rota do acetato-mevalonato)


Figura 1
INTRODUÇÃO
❖ Classificam-se conforme o número de carbonos em:
A cada adição de uma unidade de DMAPP ao carbono ativo C5 do IPP, gera o
isômero geranil pirofosfato (GPP, C10). Subsequentemente, a cada adição de uma
unidade de IPP forma os prenilados pirofosfatos superiores, como o FPP (C15) e
GGPP (C20)
Rota biossintética dos isoprenos
Monoterpenos
❖ São formados por duas unidades de isopreno (2C5), e encontrados principalmente como constituintes de
óleos essenciais. Atuam na atração de polinizadores.

O
O O

(+)-limoneno (-)-3-isotujona ascaridol


(aroma de laranja) (principal constituinte do licor de absinto) (antielmíntico)

(-)-limoneno
(aroma de limão)

CHO H

O H CHO

cânfora geranial neral mirceno

Geranial + neral = citral


Citral (80%) e mirceno (16%) são os constituintes principais do óleo de capim limão
Sesquiterpenos

❖ São formados pela união de três unidades de isopreno, (3C5). Apresentam, em geral, funções
protetoras contra fungos e bactérias.

❖ Juntamente com os monoterpenos, representam os constituintes principais dos óleos essenciais.

CH 2 OH
Farne sol -Bisabole no -Se line no

O O H

O
O
H O
O

O O

Santonina Arte misinina 9-H-Cariofile no


(Lactona se squite rpênica) Antimalárico
(Artemisia annua)
Diterpenos CH3 CH

CH3
(CH2)3CH

CH3
(CH2)3CH

CH3
(CH2)3C

CH3
CH CH2OH

Fitol
(Produto de degradação da clorofila)

H OH
CH2OH

• Formados pela união de quatro O


unidades de isopreno, (4C5) Vitamina A1 (Retinol)
(Derivado do -caroteno)
HO
CO2H
O

• Muitos são encontrados em látex e Giberelina A3


resinas Hormônio de crescimento vegetal
(Gibberella fujikuroi)

• Muitos dão origem aos hormônios RO O OH


O
de crescimento vegetal
R= CH3 O

• Não são voláteis R'O


OH O
H
O
O
NH O
O
O
R'=
OH

TAXOL
Anticancerígeno (ovário e pulmão)
(Taxus brevifolia)
Triterpenos

❖ São formados pela união de seis unidades de


isopreno (6C5);

❖Encontram-se amplamente distribuídos em Esqualeno

plantas e animais; (Precursor dos triterpeno e esteróides)

❖Apresentam diversas propriedades medicinais, H


H

destacando-se os efeitos antinflamatórios, HO


HO

analgésicos, cardiovasculares e antitumorais. -Amirina -Amirina

❖Quando ligados a açúcar recebem a COOH

denominação de saponinas. H
COOH

H
HO
HO

Ácido ursólico Ácido oleanólico


Esteróides
21
❖ Contém um sistema de anel 18

denominado: 19
11 20 27

ciclopentanoperidrofenantreno; 1
C
13
14 D 16

10 24 26
A B
3 7
❖ São encontrados na forma livre e HO 5

combinados como ésteres ou como Colesterol


(Ocorre em vertebrados, invertebrados e plantas)
glicosídios;

❖ Ocorrem na forma de misturas


complexas de difícil separação;

❖ Muitos esteróides de invertebrados HO


HO

marinhos e de plantas apresentam um Sitosterol Estigmasterol


grupo metila ou etila ligado no C-24 do
colesterol.
Tetraterpenos

❖ Destacam-se nessa classe os


carotenóides, por seus pigmentos
amarelos, laranja ou vermelhos,
amplamente distribuídos em plantas e
animais;  -Caroteno

❖ Nas plantas são encontrados junto com a


clorofila;

❖ Nos animais funcionam como fonte de  -Caroteno


vitamina A e de outros retinóides, bem
como, agentes fotoprotetores e de
prevenção do câncer.

❖ São formados pela união de oito unidades


de isopreno (8C5); Licopeno
Caracterização, purificação e identificação

❖ Caracterização para esteróides e triterpenóides: Teste de Lieberman-Buchard

Esteróides - coloração azul seguida de verde permanente


Triterpenóides - coloração parda até vermelha

❖ Purificação: CC seguida de CCDA, CCDP; CG; HPLC

❖ Identificação – RMN 1H e 13C, EM, entre outros.


Terpenos

❖ Suplementos na indústria de alimentos;

❖ Inseticidas e herbicidas;

❖ Perfumes e fragrâncias;

❖ Agentes flavorizantes;

Obs: Cerca de 30% das prescrições médicas são oriundos de produtos naturais (antibiótico,
anticancerígeno, antiinflamatório, analgésico etc);
Óleos
essenciais
Óleos essenciais

❖ Características:
▪ Os componentes dos óleos essenciais são substâncias de baixo peso molecular e insolúveis
em água, são substâncias voláteis;

▪ São solúveis em éter e outros solventes orgânicos;

▪ Seus constituintes variam desde hidrocarbonetos terpênicos, álcoois simples e terpênicos,


aldeídos, cetonas, fenóis, ésteres, éteres, óxidos, lactonas, cumarinas até compostos com
enxofre;

▪ Os compostos terpênicos mais frequentes nos óleos voláteis são os monoterpenos (cerca de
90%) e os sesquiterpenos.

▪ Outros terpenóides, como os diterpenos, são geralmente encontrados apenas em óleos


voláteis extraídos com solventes orgânicos.
Óleos essenciais
Óleos essenciais
Fatores de variabilidade

a) Quimiotipos – frequente em plantas ricas em óleos; seriam aqueles vegetais botanicamente idênticos,
mas que diferem quimicamente.

b) Ciclo vegetativo – concentração do óleo varia durante o desenvolvimento do vegetal.

c) Fatores extrínsecos (temperatura, umidade, tempo de exposição ao sol, ventos).

d) Processo de obtenção – na destilação, a água, a acidez e a temperatura podem provocar hidrólise de


ésteres, rearranjos, isomerizações, oxidações, etc variando a concentração dos constituintes dos óleos
da que está presente no órgão secretor.
Óleos essenciais
Extração, tratamento e conservação

❖ Os métodos de extração variam conforme a localização do óleo volátil na planta e com a


proposta de utilização do mesmo. Os mais comuns são:

1. Enfloração (Enfleurage): empregado para extrair óleo volátil de pétalas de flores.

2. Arraste por vapor d’água: Preferencialmente usado para extrair óleos de plantas frescas, embora
possa levar à formação de artefatos em função da alta temperatura utilizada.

3. Extração com solventes orgânicos: preferencialmente, com solventes apolares (éter, éter de
petróleo ou diclorometano).

4. Prensagem (espressão): empregado para a extração de óleos voláteis de frutos cítricos.

5. Extração por CO2 supercrítico: nenhum traço de solvente permanece no produto obtido,
tornando-o mais puro do que aquele obtido pelos demais métodos.
Óleos essenciais
Dados farmacológicos

❖ É importante não confundir as atividades farmacológicas de uma droga vegetal rica em óleos voláteis
com as atividades farmacológicas do óleo isolado da mesma.

❖ Ex: o óleo volátil de alecrim (Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae) é antibacteriano, enquanto a infusão
da planta é empregada para o tratamento sintomático de problemas digestivos, por suas propriedades
antiespasmódicas e coleréticas, devido à presença de compostos fenólicos.

❖ Por tratar-se de uma mistura complexa, não é fácil estabelecer uma atividade farmacológica para um
óleo volátil, por ter sua composição química alterada por vários fatores.
Óleos essenciais
Dados farmacológicos

AÇÃO EXEMPLOS
❖ Algumas propriedades farmacológicas, carminativa funcho, erva-doce, camomila, menta
entretanto, estão relativamente bem antiespasmódica camomila, macela, alho, funcho,
estabelecidas, como: erva-doce
Estimulante sobre gengibre, zimbo, genciana
secreções digestivas
cardivascular cânfora
SNC estimulante (cânfora)
depressora (capim-limão)
anestésica local cravo-da-índia
antiinflamatória camomila
anti-séptica (uso citral, geraniol, linalol, eugenol
externo)
SAPONINAS
INTRODUÇÃO

 Deriva do latim (sapone) = sabão

 Constituem um amplo grupo de glicosídeos de esteróides ou de terpenos policíclicos.

molécula = parte lipofílica + parte hidrofílica


(triterpeno ou esteróide) (açúcar)

 São caracterizados pelas suas propriedades tensoativas: reduzem a tensão superficial


da água e apresentam ações detergentes e emulsificantes.
CLASSIFICAÇÃO

 Possui vários tipos de classificação:

a) Quanto ao núcleo fundamental aglicona (genina)

b) Quanto ao caráter ácido, básico ou neutro

c) Quanto ao número de cadeias de açúcares ligados à aglicona


CLASSIFICAÇÃO

a. De acordo com a genina (sapogenina), são classificadas em:

saponinas esteroidais ou saponinas triterpênicas:


CLASSIFICAÇÃO

As classificações menos utilizadas são:

b. pelo caráter ácido, básico ou neutro:

b. ácidas: presença de carboxila na genina ou glicona;

c. básicas: presença de N (amina 2aria ou 3aria = glicosídeos nitrogenados esteroidais).


CLASSIFICAÇÃO

c. pela parte açucarada (glicona):

 monodesmosídicas: 1 cadeia de açúcar (C-3);

 bidesmosídicas: 2 cadeias de açúcar - C-3 (ligação tipo éter) e outra (ligação do tipo
éster).
Estrutura química
 Em geral, a glicona apresenta um número variável de monossacarídeos. Os mais
comumente encontrados são:

sapogenina = genina
▪ D-glucose,
▪ D-galactose,
▪ L-ramnose
▪ L-arabinose,
▪ D-xilose,
▪ ác. glucorônico
▪ ác galacturônico, etc

glicona = açúcar
Detecção no vegetal

 A partir de suas propriedades químicas ou físico-químicas:

❖ por reações colorimétricas (ex.: com anidrido acético em meio sulfúrico = reação
de Liebermann-Bouchard);

❖ pela diminuição da tensão superficial (espuma);

❖ pela ação hemolítica;

❖ estabelecer seu perfil cromatográfico por CCD ou CLAE.


MÉTODOS DE EXTRAÇÃO

 De modo geral, são utilizados álcoois (etanol ou metanol) ou misturas hidroalcóolicas


para a extração;

 Os métodos de extração utilizados são:

✓ Maceração

✓ Percolação

✓ Extração exaustiva sob refluxo

✓ Decocção
MÉTODOS DE PURIFICAÇÃO

 Submeter o extrato hidroalcóolico – após eliminação do álcool a particionamento com


solvente pouco polar (CHCl2 ou CHCl3) - retirada de compostos apolares

 Em seguida realizar partição com n-butanol p/ eliminação de açúcares livres e outras


substâncias hidrofílicas que ficam na fase aquosa e obtenção de fração purificada de
saponina

 Outra técnica: adicionar solventes de menor polaridade (éter etílico ou acetona) ao


extrato concentrado de saponinas – precipitação;

 Após obtenção de frações concentradas de saponinas, submetê-las à tecnicas


cromatográficas.
PROPRIEDADES BIOLÓGICAS E
FARMACOLÓGICAS

ação tóxica sobre


 Ação sobre membranas celulares, alterando sua permeabilidade ou

membranas
causando sua destruição (capacidade de complexação com esteróides,

celulares
proteínas e fosfolipídeos de membranas) – resultando em:

✓ ação hemolítica - os monodesmósidos são + hemolíticos que os


bidesmósidos;
✓ ictiotóxica;

✓ moluscicida (controle da Biomphalaria - esquistossomose).


PROPRIEDADES BIOLÓGICAS E
FARMACOLÓGICAS
 Atividade antifúngica, anti-helmíntica e antiviral;

 Atividade espermicida;

 Atividade expectorante e diurética;

 Atividade antiinflamatória;

 Ação hipocolesterolemiante

OBS.: a maioria dos ensaios foi realizada in vitro; os mecanismos de ação necessitam de
elucidação .
EMPREGO FARMACÊUTICO

 Síntese de esteróides (andrógenos, estrógenos,


progestógenos) – principal utilização das
saponinas esteroidais;

 Componentes ativos em drogas vegetais


(expectorantes e diuréticos);

 São também utilizadas como adjuvantes


(surfactantes) em formulações para aumentar a
absorção de outros medicamentos.

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