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Violência doméstica – Day et alii

Relatórios

Violência doméstica e suas diferentes


manifestações

Vivian Peres Day*


Lisieux Elaine de Borba Telles*
Pedro Henrique Zoratto*
Maria Regina Fay de Azambuja**
Denise Arlete Machado*
Marisa Braz Silveira***
Moema Debiaggi****
Maria da Graça Reis*****
Rogério Göettert Cardoso*
Paulo Blank*

“A violência é, em primeiro lugar, os ou- da necessidade de utilizar a vítima para seus


tros”. propósitos, bastando mantê-la subjugada e ate-
Alain Teyresite morizada. Essas são reflexões que seguem
atuais, escritas sob a égide da Segunda Guerra
Mundial. Partindo do “filicídio institucionaliza-
INTRODUÇÃO do” representado pelos conflitos mundiais, con-
clui-se que as aflições dos grandes mestres
“Existe um meio de libertar os homens da sobre as tendências autodestrutivas da huma-
maldição da guerra?”, Einstein surpreende nidade resistem, apesar dos reiterados esfor-
Freud na famosa troca de correspondência en- ços da sociedade em explicá-las e evitá-las.
tre os dois gênios. A resposta é rápida: “em Partindo da experiência em estudar e
princípio, os conflitos de interesse entre os ho- acompanhar vítimas e perpetradores de violên-
mens são solucionados mediante o uso da for- cia, na experiência diária como psiquiatras fo-
ça”. Explica Freud que a evolução tecnológica e renses, membros do judiciário, médicos que
intelectual pode e, muitas vezes, está a serviço atendem a realidade dos ambulatórios e dos
de estimular o poder pelas armas ou pelo co- centros de triagem, estudiosos de urbanismo e
nhecimento. O objetivo seguiria sendo o mes- outros determinantes sociais, os autores agru-
mo, aniquilar o outro. O respeito ao inimigo vem param suas experiências e conhecimentos para
refletir e propor alternativas para lidar com um
dos ângulos mais cruéis do crime, aquele que
* Psiquiatra, sócio efetivo da SPRS. atinge os mais fracos por limitações físicas,
** Procuradora de Justiça do Ministério Público do Estado do RS, emocionais ou sociais. Foi realizada pesquisa
especialista em violência doméstica pela USP. bibliográfica recente, ampla e atual, buscando
*** Pediatra, especialista em violência doméstica pela USP. contemplar os diferentes vértices do tema. O
**** Arquiteta, docente da PUCRS. enfoque multidisciplinar é, já, uma das propos-
***** Defensora Pública do Estado do RS. tas. O problema da violência intrafamiliar e do-

Recebido em 24/01/2003. Revisado em 25/01/2003. Aprovado em 18/03/2003. 9

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méstico é complexo e árido. avançadas do mundo, que pouco a pouco co-


A antiga idéia de que o delinqüente era um meça a ser implementada. É recente para a
estranho que se esconderia numa rua escura criança brasileira ter este status de pessoa,
vem mudando sua face, e à luz observa-se assim como para a população feminina que, no
feições bastante conhecidas, familiares. Hoje, sec. XX, conquistou significativos espaços e
está mais claro que falamos de muitas guerras. também ônus sociais.
Os homens participam dos conflitos das ruas, O aumento da expectativa de vida tornou o
são vítimas mais freqüentes de homicídios, idoso uma nova realidade a ser absorvida pela
ocorridos entre desconhecidos, atingindo prin- sociedade. Esta evolução permitiu que se abris-
cipalmente os jovens. Entre 20 e 29 anos, a se com mais clareza o ambiente privativo dos
proporção é de 15 vezes para um de óbitos por lares, expondo suas mazelas.
projétil de arma de fogo, de homens em relação A hipótese de que o ambiente familiar, pe-
às mulheres da mesma faixa etária2. No presen- las ligações afetivas, protegeria seus membros
te trabalho, abordar-se-á o tipo de violência que mais vulneráveis, tem se mostrado bastante
mais acomete mulheres, crianças e adolescen- falha. Os crimes cometidos por doentes men-
tes, além de idosos e deficientes físicos e men- tais de grande repercussão social e na mídia
tais. Trata-se de atos violentos que acontecem passavam a falsa idéia de que atos desta natu-
dentro dos lares, onde a taxa de homicídios é reza seriam atos de exceção cometidos por
menor, mas o prejuízo individual, familiar e so- psicóticos, de forma imprevisível, restritos a
cial é catastrófico. situações raras, infortúnios de difícil preven-
Entende-se por violência intrafamiliar: ção.
A psiquiatria forense tem tido um trabalho
“toda ação ou omissão que prejudique o específico, nobre, de atender agressores de
bem-estar, a integridade física, psicológica alta periculosidade em grandes manicômios do
ou a liberdade e o direito ao pleno desen- mundo. A grande revolução farmacológica e o
volvimento de um membro da família. Pode conseqüente aumento do convívio dos doentes
ser cometida dentro e fora de casa, por mentais na comunidade devolve à sociedade
qualquer integrante da família que esteja as identificações projetivas a eles destinadas.
em relação de poder com a pessoa agredi- O rico convívio dos autores apresentou com
da. Inclui também as pessoas que estão clareza esta nova realidade, os delitos cometi-
exercendo a função de pai ou mãe , mesmo dos por psicóticos são uma minoria, com carac-
sem laços de sangue”. terísticas não menos relevantes, mas, sem dú-
vida, numericamente pouco expressiva,
O termo doméstico incluiria pessoas que comparados aos outros fatores que colaboram
convivem no ambiente familiar, como emprega- para a disseminada, contínua e cumulativa vio-
dos, agregados e visitantes esporádicos. lência doméstica que atinge todas as popula-
As estatísticas mostram a magnitude do ções do mundo, independente de nível cultural,
problema. Em 1997, em pesquisa do governo social e econômico.
gaúcho, em uma amostra de 1579 crianças em Existem quatro formas mais comuns de vio-
“situação de rua”, 23,4% não retornavam para lência intrafamiliar: física, psicológica, negligên-
casa em função de maus-tratos. Flores e cols. cia e sexual2,5.
estimaram que 18% das jovens porto-alegren- A violência física ocorre quando alguém
ses, abaixo dos 18 anos, haviam sido vítimas causa ou tenta causar dano por meio de força
de abuso sexual por familiares3. John Sargent, física, de algum tipo de arma ou instrumento
visitante da última jornada de psiquiatria dinâ- que possa causar lesões internas, externas ou
mica, ocorrida em 2002, afirmou em conferên- ambas.
cia proferida no evento, que 1 para 5 meninas e A violência psicológica inclui toda ação ou
1 para cada 10 meninos são vítimas de abuso omissão que causa ou visa a causar dano à
sexual no mundo inteiro. auto-estima, à identidade ou ao desenvolvimen-
A Constituição Federal e o Estatuto da to da pessoa.
Criança e do Adolescente pssam a ser os novos A negligência é a omissão de responsabili-
paradigmas para o sistema de Justiça, para a dade de um ou mais membros da família em
sociedade e para o Brasil como um todo. A relação a outro, sobretudo àqueles que preci-
nova legislação, signatária da Doutrina da Pro- sam de ajuda por questões de idade ou alguma
teção Integral, reconhece direitos à criança e condição física, permanente ou temporária
ao adolescente, respeitando seu estágio de de- A violência sexual é toda ação na qual uma
10 senvolvimento4. É uma das legislações mais pessoa, em situação de poder, obriga uma ou-

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tra à realização de práticas sexuais, utilizando os pais para a importância da prevenção “como
força física, influência psicológica ou uso de o meio mais eficaz de preservar a saúde dos
armas ou drogas. filhos”7. O mesmo autor propôs que se desse
Em função das peculiaridades do tema, o “atenção rigorosa ao desenvolvimento intelec-
trabalho irá descrever as diferentes formas, uti- tual e à capacidade de autocontrole da crian-
lizando como parâmetro principal as vítimas ça”8. Assim como Locke, também Rousseau, no
preferenciais para fins de tornar mais objetivo o século XVIII, contribuiu para o entendimento do
relato. significado da infância. Afirmava que “a criança
é importante em si mesma, e não meramente
HISTÓRICO DO PROBLEMA NO como um meio para um fim”, além de sustentar
BRASIL E NO MUNDO que “a infância é o estágio da vida em que o
homem mais se aproxima do ‘estado de nature-
A preocupação com os direitos da criança e za’”. Na Inglaterra, em 1780, “as crianças podi-
do adolescente trouxe à tona o problema dentro am ser condenadas por qualquer um dos mais
dos lares; a história do direito da criança con- de duzentos crimes cuja pena era o enforca-
funde-se com a evolução da abordagem da mento”8. Entre 1730 e 1779, metade das pes-
violência doméstica, por isso, o histórico enfati- soas que morreram em Londres tinha menos de
zará este aspecto, ressaltando uma trajetória cinco anos de idade8. Somente no século XIX, o
de abusos, maus-tratos e um processo de hu- filho passa a ser objeto de investimento afetivo,
manização da justiça. econômico, educativo e existencial. É neste
Quanto mais regressamos na história, período que passa a ocupar a posição central
maiores as chances de depararmo-nos com a dentro da família que, por sua vez, passa a ser
falta de proteção jurídica à criança, aumentan- um “lugar de afetividade, onde se estabelecem
do as probabilidades de que tivessem sido relações de sentimento entre o casal e os fi-
abandonadas, assassinadas, espancadas, ater- lhos, lugar de atenção (bom ou mau)”9. Surge o
rorizadas e abusadas física e sexualmente. interesse de filantropos, médicos e estadistas
Exemplos são colhidos ao longo da história, em auxiliar as crianças provenientes de famí-
assinalando-se que, no Oriente Antigo, o Códi- lias pobres. Em 1841, é editada uma das pri-
go de Hamurábi (1728/1686 a.C.), em seu art. meiras leis sobre a limitação do tempo de traba-
192, previa o corte da língua do filho que ousas- lho nas fábricas, voltada à proteção da criança,
se dizer aos pais adotivos que eles não eram “marcando a primeira guinada de um direito
seus pais, assim como a extração dos olhos do liberal rumo a um direito social”10. Na Europa, a
filho adotivo que aspirasse voltar à casa dos partir de 1850, percebe-se o filho como sendo
pais biológicos, afastando-se dos pais adotan- objeto de amor dos pais, e a sua morte passa a
tes (art. 193). Punição severa era aplicada ao ser motivo de luto para o adulto. É, nesse perío-
filho que batesse no pai. Segundo o Código de do, que os manuais de educação sinalizam para
Hamurábi, a mão do filho, considerada o órgão a prece infantil e maternal, forma de aproximar
agressor, era decepada (art. 195). Em contra- mães e filhos em torno da aprendizagem da
partida, se um homem livre tivesse relações oração.
sexuais com sua filha, a pena aplicada ao pai A chegada das primeiras crianças ao Bra-
limitava-se à sua expulsão da cidade (art. 154). sil, mesmo antes do seu descobrimento oficial,
Em Roma, a Lei das XII Tábuas, entre os anos foi marcada por situações de desproteção. Na
303 e 304, permitia ao pai matar o filho que condição de órfãs do Rei, como grumetes ou
nascesse disforme, mediante o julgamento de pagens, eram enviadas com a incumbência de
cinco vizinhos (Tábua Quarta)6. casarem com os súditos da Coroa. Poucas mu-
No período que antecedeu ao século XVIII, lheres vinham nas embarcações, e as crianças
surge a utilização dos castigos, da punição físi- eram “obrigadas a aceitar abusos sexuais de
ca, dos espancamentos através de chicote, fer- marujos rudes e violentos”11. Por ocasião dos
ros e paus às crianças. Justificavam os pensa- naufrágios, comuns na época, eram deixadas
dores da época que os pais deveriam cuidar de lado pelos adultos, entregues à fúria do mar.
para que seus filhos não recebessem más in- No final do século XIX, as descobertas de
fluências. Acreditavam que as crianças poderi- Freud e outros pensadores abriram caminho
am ser moldadas de acordo com os desejos para novos entendimentos sobre a infância:
dos adultos. Novas concepções, como a contri-
buição de John Locke, em sua obra intitulada “Freud e Dewey cristalizaram o paradigma
Da educação das crianças, um dos clássicos da básico da infância, que vinha sendo forma-
pedagogia européia do século XVIII, alertava do desde a invenção da prensa tipográfica: 11

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a criança como aluno ou aluna, cujo ego e atenção dos profissionais da saúde e do públi-
individualidade devem ser preservados por co em geral para a necessidade de proteção à
cuidados especiais, cuja aptidão para o criança12.
auto-controle, a satisfação adiada e o pen- Em 1924, a União Internacional do Fundo
samento lógico devem ser ampliados, cujo para a Salvação de Crianças estabeleceu, atra-
conhecimento da vida deve estar sob con- vés da Declaração de Genebra, a primeira ten-
trole dos adultos”8 tativa de codificar os direitos elementares das
crianças, merecendo a ratificação pela Liga das
Até o final do século XIX e início do século Nações. O texto, composto de cinco artigos,
XX, a criança foi vista como um instrumento de embora sem caráter coercitivo, foi o marco ini-
poder e de domínio exclusivo da Igreja. Somen- cial, em nível internacional, na luta pelos direi-
te no início do século XX, a medicina, a psiquia- tos da infância. Em 1948, a Declaração Univer-
tria, o direito e a pedagogia contribuem para a sal dos Direitos Humanos das Nações Unidas
formação de uma nova mentalidade de atendi- reafirma o direito a cuidados e assistência es-
mento à criança, abrindo espaços para uma peciais a esta parcela da sociedade. No mesmo
concepção de reeducação, baseada não so- ano, a Declaração de Genebra, através de revi-
mente nas concepções religiosas, mas também são e ampliação, veio a se constituir na base
científicas. para a Declaração dos Direitos da Criança, ado-
O primeiro estudo científico sobre a violên- tada pela Assembléia Geral da ONU em 1959.
cia contra a criança foi realizado na França, em Dez princípios compõem o documento que pas-
1860, pelo Prof. Ambroise Tardieu, presidente sou a incorporar novas diretrizes de proteção
da Academia de Medicina de Paris, esta- dos direitos humanos aplicáveis à infância. Sua
belecendo o conceito de criança maltratada. importância deve-se ao fato de ter contribuído
Nos EEUU, a violência doméstica contra crian- para o chamamento dos pais, dos cidadãos,
ças veio ao conhecimento do público através das organizações não-governamentais, das au-
do caso da menina Mary Ellen, de 8 anos, que toridades e dos governos ao reconhecimento
foi severamente maltratada, resultando na fun- dos direitos da criança.
dação da Sociedade de Prevenção da Cruelda- A evolução das ciências, em sentido am-
de contra Criança em 1874. No século XX, a plo, influenciou no surgimento das diversas le-
redescoberta da violência doméstica foi assina- gislações protetivas à criança, permitindo cons-
lada por Caffey (1946), que descreveu a síndro- tatar que, no Brasil, de res, isto é, de simples
me de crianças com hematomas subdurais as- objeto de satisfação dos desejos dos adultos,
sociados a múltiplas fraturas de ossos longos, passou, na pós-modernidade, mais especifica-
de origem traumática. Até 1960, pensava-se mente no ano de 1988, à condição de sujeito de
que a violência contra a criança era rara, em direitos, com a introdução do art. 227 da Cons-
parte porque a disciplina física de crianças era tituição Federal. Cada vez mais, faz-se neces-
mais aceita; em parte, pela sua negação. Em sário um trabalho interdisciplinar, em que “mé-
1962, Kempe et al. publicaram um importante dicos, psicólogos, pedagogos e assistentes
artigo no JAMA, descrevendo a síndrome da sociais, profissionais que, no exercício de suas
criança espancada, tornado o problema da le- atividades, podem estar envolvidos com o aten-
são infligida um problema evidente para a co- dimento e a defesa de direitos de crianças e
munidade. Nos anos 70, em todo EEUU, foram adolescentes e suas violações”.13
aprovadas leis nas quais requeria-se a desig- Em que pesem os avanços registrados ao
nação de pessoas para notificar a violência longo da história, tanto no aspecto social, médi-
doméstica contra a criança e o adolescente. co, como jurídico, as crianças vítimas de violên-
Isso acabou provocando um melhor entendi- cia, no Brasil, ainda formam um grande contin-
mento da extensão da violência sexual contra gente, no qual encontramos, basicamente, “a
crianças. Era sabido que o incesto ocorria, mas infância pobre, vítima de violência social mais
muitos acreditavam que deveria ser muito raro ampla; a infância explorada, vítima de violência
e que se sucedia apenas entre famílias muito no trabalho; a infância torturada, vítima da vio-
comprometidas6. lência institucional; a infância fracassada, víti-
Embora Freud já tenha abordado o assun- ma da violência escolar; a infância vitimizada,
to, em 1919, foi com a publicação da obra “Sín- vítima da violência doméstica”.14
drome da Criança Espancada”, de Kempe e Entre as inovações operadas a partir de
colaboradores, em 1962, em Chicago, que o 1988, de basilar relevância é o chamamento
maltrato à infância começou a ser aceito como lançado à família, à sociedade e ao poder públi-
12 objeto de investigação, passando a chamar a co no que diz respeito ao atendimento dos direi-

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tos fundamentais da criança, elevados ao pata- plinador da conduta exercida pelo progenitor ou
mar de prioridade absoluta. De todos os seto- por quem o substitua é um aspecto bastante
res, há de vir o envolvimento, recaindo, de igual relevante, variando de uma “palmada”, a es-
forma, sobre todos a responsabilização pelo pancamentos e homicídios. Não há um consen-
descumprimento dos novos deveres, hoje guin- so quanto aos métodos que se consideram vio-
dados à condição de direitos da infância. Negar lentos no processo educacional entre pais e
à criança os direitos humanos fundamentais, filhos, embora mais recentemente, a tendência
frente ao disposto na nova Carta, significa ne- mundial é considerar violência qualquer moda-
gar-lhe a essência da própria dignidade huma- lidade ou ato disciplinar que atinja o corpo da
na. O moderno paradigma da infância passa a criança ou adolescente. Em alguns países, a
ser também o moderno paradigma da vida adul- palmada é proibida por lei. Segundo estatísti-
ta8. cas, a mãe é a maior agressora nestes casos,
embora os pais, em números absolutos, preva-
DISCUSSÃO leçam. Famílias uniparentais aumentam em
80% o risco.
1. Violência doméstica contra crianças
e adolescentes Violência sexual:
“...as crianças confiam nos adultos. Confi- A prática sexual com indivíduos menores
am como uma bússola ou um oráculo. Agar- de 14 anos, com consentimento ou não das
ram-se a seus atos e palavras como uma mesmas, é considerada por lei “violência presu-
bóia no oceano ameaçador de uma vida à mida”, ou seja, não são considerados capazes
qual recém foram apresentadas”15 (Eliane de tomar decisões desta natureza. A abuso
Brum). sexual inclui desde carícias, olhares perturba-
dores, até delitos de extrema violência e morte.
No Brasil, assim como em outras partes do As famílias propiciadoras deste tipo de violên-
mundo, em diferentes culturas e classes so- cia são mais velhas, têm mais chance de incluí-
ciais, independente de sexo ou etnia, crianças rem genitores substitutos. Os pais adotivos
e adolescentes são vítimas cotidianas da vio- apresentam o dobro de chance de cometerem
lência doméstica, sendo este um fenômeno uni- abuso sexual.
versal e endêmico.
Os casos registrados em todo o país, em Violência psicológica:
delegacias, conselhos tutelares, hospitais e ins-
titutos médico-legais são apenas um alerta; não É a forma mais subjetiva, embora seja mui-
revelam a verdadeira dimensão do problema. to freqüente a associação com agressões cor-
Os levantamentos oficiais sobre o fenômeno porais. Deixa profundas marcas no desenvolvi-
são precários e os dados obtidos são uma pe- mento, podendo comprometer toda a vida
quena parte do real, a “ponta de um Iceberg”. “A mental.
cifra negra – número de casos não notificados –
será maior ou menor conforme seja mais ou Negligência:
menos amplo o “complô de silêncio” de que
muitas vezes participam os profissionais, os Configura-se quando os pais ou responsá-
vizinhos, os parentes, familiares e até a própria veis falham em prover cuidados de saúde, nu-
vítima”.16 trição, higiene pessoal, vestimenta, educação,
A violência contra crianças e adolescentes habitação e sustentação emocional, e quando
“implica, de um lado, transgressão do poder de tal falha não é o resultado das condições de
proteção do adulto e, de outro, coisificação da vida além do seu controle. Recentemente, o
infância, isto é, negação do direito que Crian- termo vem sendo ampliado para incorporar a
ças e Adolescentes têm de ser tratados como chamada supervisão perigosa. É mais freqüen-
sujeitos e pessoas em condição peculiar de te em famílias jovens, nas quais a criança está
desenvolvimento”14. doente e é mantida pela mãe. A uniparentalida-
Pode ser subdividida da seguinte forma: de aumenta, em 220%, o risco de negligência3.
A violência contra crianças e adolescentes
Violência física: pode afetar todos os aspectos da vida da crian-
ça, como psicológicos, físicos, comportamen-
É a mais freqüente. Como a vítima é indefe- tais, acadêmicos, sexuais, interpessoais, espi-
sa e está em desenvolvimento, o caráter disci- rituais, comprometendo a auto-estima e 13

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estimulando a ocorrência de violência subse- 1º a 3º grau. É comum encontrarem-se marcas


qüente. do instrumento utilizado para espancar crian-
Há uma tendência em subestimar os efei- ças ou adolescentes; elas podem apresentar
tos da violência doméstica contra a criança e o forma de vara, de fios, de cinto ou até mesmo
adolescente como menos sérios, acreditando da mão do agressor.
que o impacto parece ser temporário e desapa- Uma das manifestações mais graves da
recer no transcorrer do desenvolvimento infan- violência física contra a criança é a Síndrome
til. O trauma infantil não deve ser desconsidera- do bebê sacudido (Shaken Baby Syndrome) .
do por seus efeitos a longo prazo não serem Caracteriza-se por lesões de gravidade variá-
evidenciados de imediato. Deve ser reconheci- vel, que ocorrem quando uma criança, geral-
do como um sério problema da infância. Mesmo mente um lactente, é severa ou violentamente
que crianças vitimizadas sejam retiradas de sacudida. Pode causar cegueira ou lesões of-
suas casas, os efeitos da experiência vivida talmológicas, atraso no desenvolvimento, con-
repercutirão em toda sua vida. vulsões, lesões da espinha, lesões cerebrais,
culminando com a morte.
Manifestações psicológicas:
Manifestações de negligência:
Danos imediatos: • pesadelos repetitivos; • an-
siedade, raiva, culpa, vergonha; • medo do A negligência pode envolver falha na ali-
agressor e de pessoa do mesmo sexo; • qua- mentação adequada, em providenciar cuidados
dros fóbico-ansiosos e depressivos agudos. médicos ou em proteger a criança de perigos,
• queixas psicossomáticas; • isolamento social atraso nas vacinas, perder documentos, deixar
e sentimentos de estigmatização. crianças sozinhas ou fora da escola.
Danos tardios: • aumento significativo na inci-
dência de transtornos psiquiátricos; • disso- Manifestações da violência sexual:
ciação afetiva, pensamentos invasivos, idea-
ção suicida e fobias mais agudas; • níveis A curto prazo: • secularização excessiva,
intensos de ansiedade, medo, depressão, iso- como atividade masturbatória compulsiva; •
lamento, raiva, hostilidade e culpa; • cognição distúrbios do sono, aprendizagem, alimenta-
distorcida, tais como sensação crônica de pe- ção e conduta isolada • banhos freqüentes •
rigo e confusão, pensamento ilógico, imagens sintomas psicóticos • quadros ansiosos, ob-
distorcidas do mundo e dificuldade de perce- sessivo-compulsivos, depressão, • expres-
ber realidade; • redução na compreensão de sões repetidas através de gestos; • sentimen-
papéis complexos e dificuldade para resolver tos de rejeição, confusão, humilhação,
problemas interpessoais. vergonha e medo.
A longo prazo: • abuso de álcool e outras
Apesar do crescente interesse nas conse- drogas; • promiscuidade; • disfunções sexuais.
qüências da violência doméstica contra a crian- • Coitofobia • Disfunções menstruais • imagem
ça e o adolescente, há poucos estudos sobre corporal pobre; • sexualização ou abuso de
os efeitos psicológicos a longo prazo na popu- seus filhos; • comportamento auto e hetero-
lação em geral. Sabe-se que, na população destrutivo; • baixa auto-estima e culpa; • senti-
carcerária, há uma grande porcentagem de in- mentos de vergonha e traição; • dist. psiquiá-
divíduos com história de violência na infância e tricos; • homossexualismo.
que estes tendem a apresentar mais problemas
psiquiátricos, tais como transtorno de estresse Está bem estabelecido que os efeitos da
pós-traumático, depressão maior, transtornos violência doméstica contra a criança e o ado-
de personalidade múltipla, transtornos de per- lescente podem durar a vida inteira e diminui-
sonalidade borderline, abuso de substância e rem significativamente as chances de uma
comportamento anti-social. criança ter um desenvolvimento integral e sau-
dável. Embora se enfatize que o problema atin-
Manifestações da violência física: ge os quatro cantos da Terra de forma epidêmi-
ca, é relevante que se ressalte que a pobreza,
O local mais acometido pela violência físi- de uma forma geral, aumenta a incidência de
ca no corpo da criança e do adolescente é a doença mental e a possibilidade de ocorrência
pele. A lesão pode incluir desde vermelhidão, de conduta violenta contra crianças. Aumenta
equimoses ou hematomas, até queimaduras de em 22 vezes o risco de maus-tratos, 56 vezes,
14

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o de negligência educacional e 60 vezes, o lheres, como:


risco de morte por abuso e/ou negligência. “Qualquer ato de violência de gênero que
O Relatório de 2002, elaborado pela Orga- resulte ou possa resultar em dano físico, se-
nização Mundial de Saúde, aponta que, na xual, psicológico ou sofrimento para a mulher,
maioria dos países, meninas apresentam maior inclusive ameaças de tais atos, coerção ou pri-
risco do que meninos para o infanticídio, abuso vação arbitrária da liberdade, quer ocorra em
sexual, negligência física e nutricional, assim público ou na vida privada”.17
como para a prostituição forçada. Em muitos A agressão do parceiro íntimo – também
países, as meninas ou não podem estudar ou conhecida como violência doméstica, maus-tra-
são mantidas em casa para ajudar a cuidar dos tos ou espancamento da esposa – é, quase
irmãos ou ajudar, através do trabalho, na renda sempre, acompanhada de agressão psicológi-
familiar. Segundo o documento, os meninos, ca e, de um quarto a metade das vezes, tam-
em vários países, apresentam maior risco de bém de sexo forçado.
sofrer castigos físicos mais graves. Da mesma A violência contra as mulheres é diferente
forma, bebês prematuros, gêmeos e deficientes da violência interpessoal em geral. Os homens
físicos ou mentais demonstram estar sob maior têm maior probabilidade de serem vítimas de
risco de abuso físico e negligência, característi- pessoas estranhas ou pouco conhecidas, en-
cas capazes de interferir na formação do víncu- quanto que as mulheres têm maior probabilida-
lo ou do apego, tornando esta população mais de de serem vítimas de membros de suas pró-
vulnerável ao abuso, embora tais fatores não prias famílias ou de seus parceiros íntimos. Na
apareçam como preponderantes para a violên- sua forma mais grave, a violência leva à morte
cia quando outros fatores são considerados, da mulher. Sabe-se que de 40 a 70% dos homi-
como variantes parentais e sociais. De outro cídios femininos, no mundo, são cometidos por
lado, dados de estudos realizados em países parceiros íntimos. Em comparação, os percen-
geográfica e culturalmente distintos, como a tuais de homens assassinados por suas parcei-
China, Colômbia, Egito, Índia, México, Filipi- ras são mínimos e, freqüentemente, nestes ca-
nas, África do Sul e Estados Unidos encontram sos, as mulheres estavam se defendendo ou
forte correspondência entre a violência entre os revidando o abuso sofrido. A pobreza aumenta
casais e o abuso infantil. Crianças que testemu- a probabilidade das mulheres serem vítimas de
nham violência, por sua vez, estão mais predis- violência.
postas a reproduzir, quando adultas, relaciona- Na violência doméstica contra a mulher, o
mentos disfuncionais com suas próprias abuso pelo parceiro íntimo é mais comumente
famílias. parte de um padrão repetitivo, de controle e
No que se refere ao sistema de Justiça, dominação, do que um ato único de agressão
uma revisão de casos de ação penal envolven- física. O abuso pelo parceiro pode tomar várias
do crianças abusadas descobriu que 72%, das formas, tais como:
451 alegações recebidas no período de dois – Agressões físicas como golpes, tapas,
anos, foram considerados casos prováveis de chutes e surras, tentativas de estrangulamento
abuso sexual. Acusações formais, entretanto, e queimaduras, quebras de objetos favoritos,
foram feitas em pouco mais da metade destes móveis, ameaças de ferir as crianças ou outros
casos. O documento aponta, ainda, que, em membros da família;
muitos países, há pouco reconhecimento de – Abuso psicológico por menosprezo, inti-
abuso infantil entre o público ou profissionais midações e humilhação constantes;
da saúde12. – Coerção sexual;
– Comportamentos de controle tipo isola-
2. Violência contra a Mulher mento forçado da mulher em relação à sua
família e amigos, vigilância constante de suas
Em todo mundo, pelo menos uma em cada ações e restrição de acesso a recursos varia-
três mulheres já foi espancada, coagida ao sexo dos.
ou sofreu alguma outra forma de abuso durante
a vida. O agressor é, geralmente, um membro O que provoca a violência contra as mulhe-
de sua própria família. res? A tendência atual dos pesquisadores é de
A violência contra as mulheres é o tipo considerar a interação de diferentes fatores
mais generalizado de abuso dos direitos huma- pessoais, situacionais e socioculturais combi-
nos no mundo e o menos reconhecido. A As- nando-se para provocar o abuso.
sembléia Geral das Nações Unidas, de 1993, Como fatores pessoais do agressor, desta-
definiu oficialmente a violência contra as mu- camos: 15

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Violência doméstica – Day et alii

– Ser homem; Apesar das dificuldades, muitas mulheres


– Ter presenciado violência conjugal quan- acabam abandonando os parceiros violentos.
do criança; As mulheres mais jovens são mais propensas a
– Ter sofrido abuso quando criança; abandonar estes relacionamentos mais cedo.
– Pai ausente; Situações como aumento do nível da agressão,
– Consumo de bebidas alcoólicas e/ou dro- violência afetando os filhos e apoio sociofamili-
gas. ar são determinantes na decisão de sair do
relacionamento. A mulher entra em um proces-
Como fatores de risco da relação: so de quebra de sua negação, racionalização,
– Conflito conjugal; culpa e submissão, passando, então, a se iden-
– Controle masculino da riqueza e da toma- tificar com outras pessoas na mesma situação.
da de decisões na família; Nesse período, é comum o abandono e retorno
Como fatores da comunidade: ao relacionamento várias vezes, antes de dei-
– Pobreza, desemprego; xá-lo definitivamente.
– Associação a amigos delinqüentes; Infelizmente, mesmo após o término da re-
– Isolamento das mulheres e famílias. lação, a violência pode continuar e até aumen-
tar. O maior risco de ser assassinada pelo mari-
Como fatores da sociedade: do ocorre após a separação.
– Normas socioculturais que concedem aos
homens o controle sobre o comportamento fe- CONSEQÜÊNCIAS DA VIOLÊNCIA
minino;
– Aceitação da violência como forma de As conseqüências negativas da agressão
resolução de conflitos; atingem a saúde física e emocional das mulhe-
– Conceito de masculinidade ligado à do- res, o bem-estar de seus filhos e até a conjuntu-
minação, honra ou agressão; ra econômica e social das nações, seja imedia-
– Papéis rígidos para ambos os sexos. tamente ou a longo prazo, conforme e
experiência dos autores e a bibliografia já cita-
Reação das mulheres à agressão: da.
As reações femininas são diversas, algu- Dentre os quadros orgânicos resultantes,
mas resistem, outras fogem e outras tentam encontram-se lesões, obesidade, síndrome de
manter a paz, submetendo-se às exigências de dor crônica, distúrbios gastrintestinais, fibromi-
seus maridos. A reação da mulher à violência é algia, fumo, invalidez, distúrbios ginecológicos,
freqüentemente limitada pelas opções à sua aborto espontâneo, morte.
disposição. Os motivos mais alegados para con- Muitas vezes, as seqüelas psicológicas do
tinuar em um relacionamento abusivo são: abuso são ainda mais graves que seus efeitos
medo de represália, perda do suporte financei- físicos. A experiência do abuso destrói a auto-
ro, preocupação com os filhos, dependência estima da mulher, expondo-a a um risco mais
emocional e financeira, perda de suporte da elevado de sofrer de problemas mentais, como
família e dos amigos, esperança de que “ele vai depressão, fobia, estresse pós-traumático, ten-
mudar um dia”. dência ao suicídio e consumo abusivo de álcool
Sabe-se que fatores abaixo descritos tam- e drogas.
bém contribuem para manutenção na relação A violência doméstica, estupro e abuso se-
conflitiva: xual na infância estão entre as causas mais
– Repetição de modelo familiar/parental comuns de transtorno de estresse pós-traumá-
violento; tico em mulheres. Nesta patologia, a paciente
– Vivências infantis de maus-tratos, negli- experimenta sensação muito forte de estar revi-
gência, rejeição, abandono e abuso sexual; vendo o evento traumático, assume conduta
– Casamento como forma de fugir da situa- evitativa, vive apatia emocional, tem dificulda-
ção familiar de origem, sendo o parceiro e rela- des para adormecer, se concentrar e assusta-
cionamento idealizados; se com facilidade.
– Sintomas depressivos; O impacto de tipos diferentes de abuso e
– Sentimento de responsabilidade pelo de múltiplos eventos ao longo do tempo parece
comportamento agressivo do companheiro; ser cumulativo. Para algumas mulheres, o peso
– Ausência de uma rede de apoio eficaz no destas agressões e sua desesperança pare-
que se refere à moradia, escola, creche, saúde, cem tão intoleráveis que podem levá-las ao
atendimento policial e da justiça. suicídio.
16 As crianças que presenciam a violência

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Violência doméstica – Day et alii

conjugal enfrentam risco mais elevado de apre- de potencial do paciente psicótico está direta-
sentarem ansiedade, depressão, baixo rendi- mente relacionada com a falta de tratamento.
mento escolar, baixa auto-estima, pesadelos, A família do doente vê-se onerada com a
conduta agressiva e maior probabilidade de so- grande limitação que a doença exerce, impe-
frerem abusos físicos, sexuais ou emocionais. dindo-o de trabalhar. Representa um indivíduo
frágil, incapacitado, desorganizado emocional-
3. Violência contra o deficiente e o idoso mente, que necessita de supervisão, tratamen-
to adequado. As expectativas frustras da famí-
No presente artigo, já está suficientemente lia muitas vezes desencadeiam ações de
relatado que toda situação de vulnerabilidade extrema violência por parte dos pacientes que
física ou mental é geradora potencial de violên- se vêem sem condições de atendê-las. As mes-
cia. As limitações mobilizam frustração e sobre- mas razões também os tornam vítimas de vio-
carga dentro do ambiente familiar e contribuem lência física, negligência, abandono, abuso se-
para a eclosão de atitudes de negligência e xual, financeiro, aos quais se submetem por
abusos. Tanto idosos como deficientes sofrem culpa e falta de recursos.
também de violência física, psicológica, sexual A doença mental expõe a alguns tipos de
e negligência, com as peculiaridades específi- delitos, e a escolha de vítimas ocorre entre o
cas. Uma das mais comuns é a financeira, o círculo de proximidade, determinada pela inte-
uso das aposentadorias pela família e a desa- ração familiar e a disponibilidade das vítimas,
tenção das necessidades do idoso, culminando que se mostram vulneráveis por dois principais
no abandono. Além de muitas outras, como motivos. A vítima desconhece o potencial peri-
maus-tratos físicos, estupro, maus cuidados de goso do doente por ser também comprometida
higiene, má nutrição, vestuário inadequado, es- psiquiatricamente ou não ter possibilidade de
caras, impactação fecal, alopécia. Do ponto de evitar o delito ou de defender-se.
vista psiquiátrico, há presença de comporta- Na população do Instituto Psiquiátrico Fo-
mentos bizarros como embalar-se, chupar dedo rense (I.P.F.) “Maurício Cardoso”, há um predo-
e o surgimento de outros sintomas neuróticos e mínio de homens agressores, portadores de
de conduta. Os recentes estudos2 sugerem que esquizofrenia e outras síndromes paranóides;
mulheres idosas, em situação de comprometi- as vítimas são, preferencialmente, suas mães e
mento cognitivo, físico e mental são as vítimas companheiras, utilizando objetos corto-contun-
preferenciais. O idoso, muitas vezes, submete- dentes, com alta incidência de homicídios e
se por não ter como se proteger e por culpa, lesões graves. As mulheres doentes atingem
sente-se um “fardo” para os familiares. seus filhos na grande maioria. A comorbidade
É razoavelmente comum deficientes serem com álcool e outras drogas é alta e a desconti-
contidos por cordas, isolados em quartos sem nuidade do tratamento, um forte fator de risco,
ventilação e falta de estímulo. Ocorre também, sendo de 60% a população de egressos do
administração exagerada de medicamentos. sistema de saúde. No entanto, após a alta do
São privados de direitos civis, como convívio, IPF, incluindo um longo trabalho de re-inclusão,
privacidade, informação, visitas. As meninas atendimento a familiares, fornecimento de pas-
sofrem mais abusos e são, freqüentemente, sagens e medicação, encaminhamento a servi-
submetidas à prostituição. ços ambulatoriais, a reincidência e reinterna-
ção passam a ser nulas.
4. O doente mental como agressor A atividade delituosa do doente mental é
e vítima: bastante diferente da delinqüência em geral. A
população prisional é masculina, jovem, de alta
Segundo dados da OMS18, um doente men- reincidência; os delitos são, preferencialmente,
tal numa família é uma grande sobrecarga. O contra o patrimônio, e a vítima é desconhecida.
grande movimento de limitação de vagas em A importância da doença mental dentro da
hospitais psiquiátricos e a crescente inserção problemática da violência doméstica necessita
do doente mental na comunidade é uma nova ser bem esclarecida e adequadamente aborda-
realidade mundial. Se por um lado essa realida- da, uma vez que são situações geralmente crô-
de torna a visão integrada e de inclusão na nicas, com muitas evidências prévias, negadas
cidadania; por outro, exerce um grande fator de ou mal manejadas. As conseqüências são, via
pressão familiar. A obtenção na rede pública de de regra, irreversíveis, atingem todos os mem-
condições de manter o acompanhamento e a bros e várias gerações, perturbam a interação
medicação são, na maioria das vezes, inaces- social de forma definitiva, afetando definitiva-
síveis. Já está bem descrito que a periculosida- mente as bases dos princípios afetivos, de se- 17

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Violência doméstica – Day et alii

gurança e de proteção. sofrer algum tipo de violência.


Marchiore fala em fraturas19. A família se O consumo de álcool e drogas ilícitas em
esfacela, parte se identifica com a vítima, parte indivíduos portadores de outros transtornos
com o agressor. Ocorrem em 3 níveis, a primei- mentais como Esquizofrenia e Demências, as-
ra relacionada à forma em que emerge a violên- sim como em pessoas com personalidade de
cia e a projeção dos membros da família sobre características impulsivas e com pouca tolerân-
a vítima e o agressor. A segunda, no decorrer cia à frustração, pode ser considerado como
do processo, os testemunhos e o exame das potencializador e desencadeande de atos vio-
circunstâncias do crime. A última ocorre em lentos.
face do comportamento no pós-delito por parte
do agressor. O grau de fratura pode ser total, 6. Comentários Finais
parcial ou mínima, dependendo do grau de rela-
ção com o agressor. Essas fraturas conduzem O estudo da violência doméstica exige uma
a vários graus de prejuízo, como comportamen- atitude de muita tolerância e sensibilidade. As
tos autodestrutivos, suicidas, doenças mentais, emoções envolvidas despertam raiva, pena, re-
principalmente, alcoolismo, depressão e psi- chaço, tristeza e impotência. A tendência da
cossomatismos. Tais padrões podem compro- identificação com a vítima torna a tarefa da
meter várias gerações, em que parte se identifi- equipe de trabalho uma experiência, por vezes,
ca com a perpetuação da conduta violenta e dolorosa. A “estranheza”, o sinistro freudiano,
parte com a vitimização. A perda da figura pa- remonta o observador às vivências precoces
terna leva a prole a uma situação de grave vividas pelo bebê em seu desamparo, imerso
dificuldade de sustentação emocional, financei- em vivências de desprazer. Os conflitos pre-
ra e ao estigma da internação compulsória do sentes na mente da mãe persistem como mar-
outro progenitor. O afastamento familiar longo cas mnêmicas na vida mental do bebê, de uma
expõe a uma reorganização familiar na qual o forma mais ou menos intensa de acordo com a
paciente não está mais incluído, perdendo seu vivência pessoal. Situação esta com que todos,
lugar no afeto e no espaço doméstico. de uma forma ou de outra, identificam-se. A
primeira reação é negar ou evitar, colaborando
5. O uso de álcool e outras drogas para o “muro de silêncio”, onde a violência vice-
ja.
A incidência de violência doméstica tem O agressor tende a imobilizar a vítima, tor-
sido considerada maior em abusadores de na-a uma presa, despejando sobre ela suas
substâncias psicoativas na maioria das socie- necessidades narcísicas de se libertar de todo
dades e culturas e presente nos diferentes gru- seu desconforto interno, ou pior, de usá-la para
pos econômicos. Desempenha um papel de- suas tendências sádicas de prazer.
sencadeante de atos violentos pela ação Uma atitude de respeito e cautela é impor-
desinibidora da censura, assumindo o agres- tante para a equipe de saúde. Examinar a situa-
sor, condutas socialmente reprováveis. ção com presteza, utilizando impressões e sen-
Um estudo transversal de violência domés- sações da equipe pode ser um bom “norte”.
tica, na qual foram entrevistadas 384 mulheres Toda a situação de violência doméstica é de
casadas, numa cidade do México, encontrou difícil diagnóstico. É bem conhecido que só
uma prevalência de 42% de violência sexual, 10% das vítimas que passam por exame de
40% de violência física e 38% de violência emo- corpo de delito apresentam lesões evidentes. A
cional. O estudo evidenciou que o antecedente grande maioria sequer é denunciada; destas,
de violência, uso de álcool e/ou outras drogas poucas são confirmadas no exame, e ainda é
em algum membro da família, são fatores ob- muito comum a família estar ambivalente, reti-
servados consistentemente em três dimensões rar a queixa, envolvida com a proteção do
exploradas 20. agressor por muitos motivos, inclusive pobreza.
Um estudo de vítimas de agressão física,
realizado num pronto-socorro em São Paulo, Propostas de abordagem do ponto de
encontrou dados que corroboram a correlação vista da saúde
de maior vitimização por agressão física e in-
gesta alcoólica21. Este risco não está relaciona- A abordagem do problema necessita de
do só a consumidores pesados, mas também a muitas mãos, que juntas formam redes. Vemos
bebedores eventuais, leves e moderados22. As- que a evolução da vida moderna desencadeou
sim, considera-se que os indivíduos intoxica- muitas alterações que acabaram por fragilizar e
18 dos também podem estar mais propensos a isolar o núcleo familiar. Grande parte das crian-

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Violência doméstica – Day et alii

ças acabam por ser negligenciadas por suas um todo.


jovens e solitárias mães, ignoradas em sua Há que se buscar, cada vez mais, desen-
existência pelos pais, fisicamente agredidas volver trabalhos e programas com abrangência
pelos casais, abusadas sexualmente por pa- mais ampla, para abarcar a vítima, o abusador
drastos. Um círculo perverso que revela um e o restante do grupo familiar, em face das
espaço conflitivo que perpassa várias instân- múltiplas facetas contempladas pela violência
cias que produzem e são produto de violência. doméstica, em especial a violência intrafamili-
É importante chamar atenção para o fato de ar.
que os serviços médico-hospitalares identifi- Para a implantação de programas que pres-
cam menos casos de agressões múltiplas a tigiem uma abordagem transdisciplinar, há que
crianças que os conselhos tutelares. Também se buscar capacitar, de forma continuada, as
as mulheres vítimas de abusos intrafamiliares, equipes profissionais envolvidas, no intuito de
freqüentadoras assíduas de unidades de aten- que possam se apropriar de conhecimentos bá-
dimento de saúde com queixas vagas, taxadas sicos sobre saúde, direitos da criança, aspec-
de “poliqueixosas”, não têm o problema da viti- tos jurídicos que envolvem os procedimentos
mização diagnosticado. judiciais, a fim de que atuem de uma forma mais
Os profissionais da saúde mantêm uma abrangente, evitando intervir sob um único en-
posição de desinformação, indiferença, nega- foque. Intervenções isoladas, que não valori-
ção, preconceito e temor com respeito ao pro- zem a constante comunicação entre os diver-
blema da violência doméstica e a suas conse- sos profissionais, acabam por dificultar a
qüências, assim como na detecção e prevenção continuidade do atendimento, propiciando, não
de situações potencialmente perigosas, muitas raras vezes, o abandono do tratamento pela
vezes rotulando como “caso de IPF”, na espe- vítima e pelo grupo familiar, deixando de lado o
rança de eximir-se de tomar atitudes. O medo abusador. É de Tilman Furniss que vem o aler-
de obrigações legais impede de tomar atitudes ta:
que pudessem auxiliar as vítimas. Este tema
sequer faz parte dos programas das universida- “Como um problema multidisciplinar genuí-
des, em sua maioria. A tendência é centrar em no e genérico, requer a estreita coopera-
serviços com poucos recursos que tendem a ção de uma ampla gama de diferentes pro-
seguir o mesmo trajeto das vítimas, poucos fissionais com diferentes tarefas. Como um
profissionais, isolados, desvalorizados, com problema legal e terapêutico, requer, por
enorme sobrecarga de trabalho. parte de todos os profissionais envolvidos,
O apoio a “espaços transicionais”, como o conhecimento dos aspectos criminais e
escolas, ainda hoje o maior ponto de amparo de proteção da criança, assim como dos
social da criança, pode aliviar o árido trabalho aspectos psicológicos”23.
de acompanhar casos já de longa duração e
péssimo prognóstico. São ainda os professo- A violência doméstica, de cunho intrafamili-
res, apesar da grande falta de apoio, os que ar, com freqüência, vem acompanhada do se-
ainda mais detectam alterações e encaminham gredo e da negação, fazendo com que muitos
situações de suspeita. Ênfase em atividades de casos sequer cheguem ao sistema de Justiça
consultoria podem auxiliar nesta transição, que ou mesmo ao sistema de Saúde. Outros, quan-
pode ser de grande ajuda. A equipe de saúde do desvendados, já vinham sendo praticados
bem treinada pode detectar, documentar, abor- por longos anos, prejudicando o êxito da inter-
dar e acompanhar boa parte dos casos. venção. No que tange à criança e ao adoles-
Nas tribos em que o grau de violência con- cente, nossa legislação tem apresentado avan-
tra crianças é muito reduzido, o cuidado da ços significativos, à medida que, a partir de
criança é tarefa de todos. 1988, passa a considerar criança e adolescente
como sujeitos de direitos, prioridade absoluta e
Propostas de abordagem do ponto de como pessoas em desenvolvimento. Dentro do
vista jurídico novo contexto legal, chama o legislador os pro-
fissionais da saúde e da educação para contri-
A violência doméstica, em face de suas buir na identificação dos casos de suspeita ou
características e múltiplas interferências no confirmação de maus-tratos contra a criança.
campo social, cultural, médico e legal, está a Segundo o Estatuto da Criança e do Adoles-
exigir uma abordagem transdisciplinar, caso se cente (arts. 13, 56 e 149), passa a ser obrigató-
pretenda obter resultados mais favoráveis às ria a notificação ao Conselho Tutelar pelos pro-
vítimas, ao grupo familiar e à sociedade como fissionais da saúde e da educação (arts. 13 e 19

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56 do ECA), sempre que verificarem uma sus- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


peita ou confirmação de maus-tratos praticados
contra seus pacientes ou alunos. A nova exi- 1. Alonso R. El psicoanalisis frente a la guerra. Buenos
gência legal tem contribuído enormemente para Aires (Argentina): Rodolfo Alonso, 1970.
a identificação precoce de múltiplas formas de 2. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde.
Violência Intrafamiliar: Orientações para práticas em ser-
violência praticadas contra a criança e o ado- viço. Brasília: MS; 2001.
lescente, mas, de forma especial, aos de idade 3. Oliveira MS, Flores RZ. Violência contra crianças e ado-
mais reduzida. Sabe-se, entretanto, que os dis- lescentes na Grande Porto Alegre. In: Violência Domésti-
positivos legais, por si só, não são capazes de ca. p. 71-86.
reverter a dura realidade que nos cerca, caso 4. Azambuja MRF. O caminho percorrido pela criança-víti-
ma. In: Violência Doméstica. p.118-124.
não haja um efetivo envolvimento destas duas
5. Monteiro MC, Cabral MA, Morgado AF. Violências contra
categorias profissionais com a prevenção, pos- crianças e adolescentes: uma revisão bibliográfica. Arq
sibilitando não só conhecer os sintomas e os Bras Pediat 1995; 2 (6): 153-156.
sinais indicativos de maus-tratos contra a crian- 6. Lima,JB. As mais antigas Normas de Direito. 2 ed. Rio de
ça, como também sentindo-se, cada vez mais, Janeiro: Forense, 1983.

motivados a agir dentro dos novos parâmetros 7. Gélis J. A individualização da criança. In: Ariès, P (org.).
História da vida privada. Traduzido por Hildegard Feist.
legais. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, v. 3.
O novo, nesta virada de século, é a postura 8. Postman N. O desaparecimento da infância. Rio de Ja-
adotada pela legislação brasileira, que passa a neiro: Graphia, 1999.
lançar mão de vários dispositivos que se desti- 9. Ariès P, Duby G. História da vida privada. Traduzido por
Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Le-
nam a proteger a criança e o adolescente de tras, 1990, v. 2.
inúmeras violências que historicamente o ho- 10. Perrot M(org.), Ariès P, Duby G. História da vida privada.
mem, em especial o adulto, praticava contra a Traduzido por Denise Bottmann e Bernardo Joffily. São
criança, inclusive, com a conivência das regras Paulo: Companhia das Letras, 1999, v. 4.
legais que vigoravam em épocas passadas. 11. Ramos FP. A História trágico-marítima das crianças nas
embarcações portuguesas do século XVI. In: Priore, MD
Há uma tendência mundial de onerar o (org.). História das Crianças no Brasil. São Paulo: Con-
agressor com sanções legais; mais de 50 paí- texto, 1999.
ses já tem legislação específica. Os índices 12. <http://www5.who.int/violence_injury_prevention/
main.cfm?p=0000000682> Em: 14 outubro 2002.
americanos diminuíram depois da determina-
13. Gonzáles RS. Saiba como dizer não à violência. Porto
ção de aumento de custos para os agressores. Alegre: [s.n.], 1995.
Há uma combinação de medidas de proteção e 14. Azevedo MA, Guerra VNA. Infância e Violência Domésti-
penalidades, como obrigatoriedade a sessões ca: fronteiras do conhecimento. 2. ed. São Paulo: Cortez,
de aconselhamento ou tratamento para depen- 1997.
dência química e/ou pagamento de sustento à 15. Brum E. Apresentação. In: : Violência Doméstica. p.5-7.
família. 16. Azevedo MA. (2001). Ponta do Iceberg. Disponível em
<http:/www.usp.br/ip/laboratorios/lacri>. Acesso em 24
Para concluir, cabe-se ressaltar que o en- jul. 2002.
tusiasmo despertado no grupo pela rica convi- 17. The Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health.
vência, funcionando como um espaço de diálo- Population Reports: Como acabar com a violência contra
go e possibilitando novas e ricas reflexões as mulheres. In: Temas Mundiais de Saúde, 1999. Volu-
me XXVII(4).
apontam para as possíveis alternativas para
18. Organização Pan-americana da Saúde. Relatório sobre a
lidar com o problema. A tolerância às diferen- saúde no mundo 2001: Saúde Mental: nova concepção,
ças, as trocas permitidas, respeitando os limi- nova esperança. Brasil; 2001.
tes e os papéis de cada membro do grupo, 19. Marchiori H. Victimología: Homicidio en el grupo familiar.
Revista Mexicana de prevención y readaptaçión social,
representa o forte vínculo que torna a família o 2000; 7: 49-68.
sustentáculo emocional do ser humano. Todas 20. Alvarado-Zaldivar G, Moysén JS, Estrada-Martínez S,
as iniciativas que permitam o reforço deste es- Terrones-González A. Prevalencia de violencia domésti-
paço de entendimento, utilizando, como diria ca en la ciudad de Durango. Salud Publica de Mexico
2002.
Freud, as identificações e os fortes laços afeti-
21. Gianini R, Litvoc J, Neto JE. Agressão física e classe
vos, permitem efetivas formas de lidar com con- social. Rev Saúde Pública 1999; 33(2).
flitos em todos os níveis, especialmente os in- 22. Cherpitel CJS, Rosovsky H. Alcohol consumption and
trafamiliares. casualities: a comparison of emergency room population
in the United States and Mexico. J Stud Alcohol 1990; 51:
319-26.
23. Furniss T. O abuso sexual da criança. Tradução Mara
Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médi-
cas, 1993.

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Violência doméstica – Day et alii

RESUMO a place where a person seeks protection turns out to


be a threatening and terrifying place due to violent
Os recentes estudos sobre comportamento vio- behavior in the family. The authors discuss different
lento demonstram que uma grande e significativa manifestations of domestic violence and their
gama de atos desta natureza ocorrem dentro do am- determinants using a multidisciplinary perspective of
biente doméstico. A idéia do lar como local de prote- the problem, and suggest possible alternatives.
ção adquire uma perspectiva ameaçadora e sombria,
propiciando e facilitando a ocorrência de condutas Keywords: Domestic violence, intra familial violence,
violentas. Sob tal perspectiva, o grupo propõe-se a mental diseases.
discutir as diversas manifestações de violência do-
méstica e os diferentes determinantes envolvidos Title: Domestic violence and its manifestations
dentro de uma perspectiva multidisciplinar, procuran-
do refletir sobre possíveis alternativas. Endereço para correspondência:
Vivian Peres Day
Descritores: Violência doméstica, violência intrafami- Av. Itaqui, 72/504
liar, doença mental. 90460-140 – Porto Alegre – RS
E-mail: vivianday@uol.com.br
ABSTRACT

Recent studies concerning violent behavior show Copyright  Revista de Psiquiatria


that most of that violence takes place at home. Home, do Rio Grande do Sul – SPRS

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