Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Artigo 3
Artigo 3
Relatórios
tra à realização de práticas sexuais, utilizando os pais para a importância da prevenção “como
força física, influência psicológica ou uso de o meio mais eficaz de preservar a saúde dos
armas ou drogas. filhos”7. O mesmo autor propôs que se desse
Em função das peculiaridades do tema, o “atenção rigorosa ao desenvolvimento intelec-
trabalho irá descrever as diferentes formas, uti- tual e à capacidade de autocontrole da crian-
lizando como parâmetro principal as vítimas ça”8. Assim como Locke, também Rousseau, no
preferenciais para fins de tornar mais objetivo o século XVIII, contribuiu para o entendimento do
relato. significado da infância. Afirmava que “a criança
é importante em si mesma, e não meramente
HISTÓRICO DO PROBLEMA NO como um meio para um fim”, além de sustentar
BRASIL E NO MUNDO que “a infância é o estágio da vida em que o
homem mais se aproxima do ‘estado de nature-
A preocupação com os direitos da criança e za’”. Na Inglaterra, em 1780, “as crianças podi-
do adolescente trouxe à tona o problema dentro am ser condenadas por qualquer um dos mais
dos lares; a história do direito da criança con- de duzentos crimes cuja pena era o enforca-
funde-se com a evolução da abordagem da mento”8. Entre 1730 e 1779, metade das pes-
violência doméstica, por isso, o histórico enfati- soas que morreram em Londres tinha menos de
zará este aspecto, ressaltando uma trajetória cinco anos de idade8. Somente no século XIX, o
de abusos, maus-tratos e um processo de hu- filho passa a ser objeto de investimento afetivo,
manização da justiça. econômico, educativo e existencial. É neste
Quanto mais regressamos na história, período que passa a ocupar a posição central
maiores as chances de depararmo-nos com a dentro da família que, por sua vez, passa a ser
falta de proteção jurídica à criança, aumentan- um “lugar de afetividade, onde se estabelecem
do as probabilidades de que tivessem sido relações de sentimento entre o casal e os fi-
abandonadas, assassinadas, espancadas, ater- lhos, lugar de atenção (bom ou mau)”9. Surge o
rorizadas e abusadas física e sexualmente. interesse de filantropos, médicos e estadistas
Exemplos são colhidos ao longo da história, em auxiliar as crianças provenientes de famí-
assinalando-se que, no Oriente Antigo, o Códi- lias pobres. Em 1841, é editada uma das pri-
go de Hamurábi (1728/1686 a.C.), em seu art. meiras leis sobre a limitação do tempo de traba-
192, previa o corte da língua do filho que ousas- lho nas fábricas, voltada à proteção da criança,
se dizer aos pais adotivos que eles não eram “marcando a primeira guinada de um direito
seus pais, assim como a extração dos olhos do liberal rumo a um direito social”10. Na Europa, a
filho adotivo que aspirasse voltar à casa dos partir de 1850, percebe-se o filho como sendo
pais biológicos, afastando-se dos pais adotan- objeto de amor dos pais, e a sua morte passa a
tes (art. 193). Punição severa era aplicada ao ser motivo de luto para o adulto. É, nesse perío-
filho que batesse no pai. Segundo o Código de do, que os manuais de educação sinalizam para
Hamurábi, a mão do filho, considerada o órgão a prece infantil e maternal, forma de aproximar
agressor, era decepada (art. 195). Em contra- mães e filhos em torno da aprendizagem da
partida, se um homem livre tivesse relações oração.
sexuais com sua filha, a pena aplicada ao pai A chegada das primeiras crianças ao Bra-
limitava-se à sua expulsão da cidade (art. 154). sil, mesmo antes do seu descobrimento oficial,
Em Roma, a Lei das XII Tábuas, entre os anos foi marcada por situações de desproteção. Na
303 e 304, permitia ao pai matar o filho que condição de órfãs do Rei, como grumetes ou
nascesse disforme, mediante o julgamento de pagens, eram enviadas com a incumbência de
cinco vizinhos (Tábua Quarta)6. casarem com os súditos da Coroa. Poucas mu-
No período que antecedeu ao século XVIII, lheres vinham nas embarcações, e as crianças
surge a utilização dos castigos, da punição físi- eram “obrigadas a aceitar abusos sexuais de
ca, dos espancamentos através de chicote, fer- marujos rudes e violentos”11. Por ocasião dos
ros e paus às crianças. Justificavam os pensa- naufrágios, comuns na época, eram deixadas
dores da época que os pais deveriam cuidar de lado pelos adultos, entregues à fúria do mar.
para que seus filhos não recebessem más in- No final do século XIX, as descobertas de
fluências. Acreditavam que as crianças poderi- Freud e outros pensadores abriram caminho
am ser moldadas de acordo com os desejos para novos entendimentos sobre a infância:
dos adultos. Novas concepções, como a contri-
buição de John Locke, em sua obra intitulada “Freud e Dewey cristalizaram o paradigma
Da educação das crianças, um dos clássicos da básico da infância, que vinha sendo forma-
pedagogia européia do século XVIII, alertava do desde a invenção da prensa tipográfica: 11
a criança como aluno ou aluna, cujo ego e atenção dos profissionais da saúde e do públi-
individualidade devem ser preservados por co em geral para a necessidade de proteção à
cuidados especiais, cuja aptidão para o criança12.
auto-controle, a satisfação adiada e o pen- Em 1924, a União Internacional do Fundo
samento lógico devem ser ampliados, cujo para a Salvação de Crianças estabeleceu, atra-
conhecimento da vida deve estar sob con- vés da Declaração de Genebra, a primeira ten-
trole dos adultos”8 tativa de codificar os direitos elementares das
crianças, merecendo a ratificação pela Liga das
Até o final do século XIX e início do século Nações. O texto, composto de cinco artigos,
XX, a criança foi vista como um instrumento de embora sem caráter coercitivo, foi o marco ini-
poder e de domínio exclusivo da Igreja. Somen- cial, em nível internacional, na luta pelos direi-
te no início do século XX, a medicina, a psiquia- tos da infância. Em 1948, a Declaração Univer-
tria, o direito e a pedagogia contribuem para a sal dos Direitos Humanos das Nações Unidas
formação de uma nova mentalidade de atendi- reafirma o direito a cuidados e assistência es-
mento à criança, abrindo espaços para uma peciais a esta parcela da sociedade. No mesmo
concepção de reeducação, baseada não so- ano, a Declaração de Genebra, através de revi-
mente nas concepções religiosas, mas também são e ampliação, veio a se constituir na base
científicas. para a Declaração dos Direitos da Criança, ado-
O primeiro estudo científico sobre a violên- tada pela Assembléia Geral da ONU em 1959.
cia contra a criança foi realizado na França, em Dez princípios compõem o documento que pas-
1860, pelo Prof. Ambroise Tardieu, presidente sou a incorporar novas diretrizes de proteção
da Academia de Medicina de Paris, esta- dos direitos humanos aplicáveis à infância. Sua
belecendo o conceito de criança maltratada. importância deve-se ao fato de ter contribuído
Nos EEUU, a violência doméstica contra crian- para o chamamento dos pais, dos cidadãos,
ças veio ao conhecimento do público através das organizações não-governamentais, das au-
do caso da menina Mary Ellen, de 8 anos, que toridades e dos governos ao reconhecimento
foi severamente maltratada, resultando na fun- dos direitos da criança.
dação da Sociedade de Prevenção da Cruelda- A evolução das ciências, em sentido am-
de contra Criança em 1874. No século XX, a plo, influenciou no surgimento das diversas le-
redescoberta da violência doméstica foi assina- gislações protetivas à criança, permitindo cons-
lada por Caffey (1946), que descreveu a síndro- tatar que, no Brasil, de res, isto é, de simples
me de crianças com hematomas subdurais as- objeto de satisfação dos desejos dos adultos,
sociados a múltiplas fraturas de ossos longos, passou, na pós-modernidade, mais especifica-
de origem traumática. Até 1960, pensava-se mente no ano de 1988, à condição de sujeito de
que a violência contra a criança era rara, em direitos, com a introdução do art. 227 da Cons-
parte porque a disciplina física de crianças era tituição Federal. Cada vez mais, faz-se neces-
mais aceita; em parte, pela sua negação. Em sário um trabalho interdisciplinar, em que “mé-
1962, Kempe et al. publicaram um importante dicos, psicólogos, pedagogos e assistentes
artigo no JAMA, descrevendo a síndrome da sociais, profissionais que, no exercício de suas
criança espancada, tornado o problema da le- atividades, podem estar envolvidos com o aten-
são infligida um problema evidente para a co- dimento e a defesa de direitos de crianças e
munidade. Nos anos 70, em todo EEUU, foram adolescentes e suas violações”.13
aprovadas leis nas quais requeria-se a desig- Em que pesem os avanços registrados ao
nação de pessoas para notificar a violência longo da história, tanto no aspecto social, médi-
doméstica contra a criança e o adolescente. co, como jurídico, as crianças vítimas de violên-
Isso acabou provocando um melhor entendi- cia, no Brasil, ainda formam um grande contin-
mento da extensão da violência sexual contra gente, no qual encontramos, basicamente, “a
crianças. Era sabido que o incesto ocorria, mas infância pobre, vítima de violência social mais
muitos acreditavam que deveria ser muito raro ampla; a infância explorada, vítima de violência
e que se sucedia apenas entre famílias muito no trabalho; a infância torturada, vítima da vio-
comprometidas6. lência institucional; a infância fracassada, víti-
Embora Freud já tenha abordado o assun- ma da violência escolar; a infância vitimizada,
to, em 1919, foi com a publicação da obra “Sín- vítima da violência doméstica”.14
drome da Criança Espancada”, de Kempe e Entre as inovações operadas a partir de
colaboradores, em 1962, em Chicago, que o 1988, de basilar relevância é o chamamento
maltrato à infância começou a ser aceito como lançado à família, à sociedade e ao poder públi-
12 objeto de investigação, passando a chamar a co no que diz respeito ao atendimento dos direi-
tos fundamentais da criança, elevados ao pata- plinador da conduta exercida pelo progenitor ou
mar de prioridade absoluta. De todos os seto- por quem o substitua é um aspecto bastante
res, há de vir o envolvimento, recaindo, de igual relevante, variando de uma “palmada”, a es-
forma, sobre todos a responsabilização pelo pancamentos e homicídios. Não há um consen-
descumprimento dos novos deveres, hoje guin- so quanto aos métodos que se consideram vio-
dados à condição de direitos da infância. Negar lentos no processo educacional entre pais e
à criança os direitos humanos fundamentais, filhos, embora mais recentemente, a tendência
frente ao disposto na nova Carta, significa ne- mundial é considerar violência qualquer moda-
gar-lhe a essência da própria dignidade huma- lidade ou ato disciplinar que atinja o corpo da
na. O moderno paradigma da infância passa a criança ou adolescente. Em alguns países, a
ser também o moderno paradigma da vida adul- palmada é proibida por lei. Segundo estatísti-
ta8. cas, a mãe é a maior agressora nestes casos,
embora os pais, em números absolutos, preva-
DISCUSSÃO leçam. Famílias uniparentais aumentam em
80% o risco.
1. Violência doméstica contra crianças
e adolescentes Violência sexual:
“...as crianças confiam nos adultos. Confi- A prática sexual com indivíduos menores
am como uma bússola ou um oráculo. Agar- de 14 anos, com consentimento ou não das
ram-se a seus atos e palavras como uma mesmas, é considerada por lei “violência presu-
bóia no oceano ameaçador de uma vida à mida”, ou seja, não são considerados capazes
qual recém foram apresentadas”15 (Eliane de tomar decisões desta natureza. A abuso
Brum). sexual inclui desde carícias, olhares perturba-
dores, até delitos de extrema violência e morte.
No Brasil, assim como em outras partes do As famílias propiciadoras deste tipo de violên-
mundo, em diferentes culturas e classes so- cia são mais velhas, têm mais chance de incluí-
ciais, independente de sexo ou etnia, crianças rem genitores substitutos. Os pais adotivos
e adolescentes são vítimas cotidianas da vio- apresentam o dobro de chance de cometerem
lência doméstica, sendo este um fenômeno uni- abuso sexual.
versal e endêmico.
Os casos registrados em todo o país, em Violência psicológica:
delegacias, conselhos tutelares, hospitais e ins-
titutos médico-legais são apenas um alerta; não É a forma mais subjetiva, embora seja mui-
revelam a verdadeira dimensão do problema. to freqüente a associação com agressões cor-
Os levantamentos oficiais sobre o fenômeno porais. Deixa profundas marcas no desenvolvi-
são precários e os dados obtidos são uma pe- mento, podendo comprometer toda a vida
quena parte do real, a “ponta de um Iceberg”. “A mental.
cifra negra – número de casos não notificados –
será maior ou menor conforme seja mais ou Negligência:
menos amplo o “complô de silêncio” de que
muitas vezes participam os profissionais, os Configura-se quando os pais ou responsá-
vizinhos, os parentes, familiares e até a própria veis falham em prover cuidados de saúde, nu-
vítima”.16 trição, higiene pessoal, vestimenta, educação,
A violência contra crianças e adolescentes habitação e sustentação emocional, e quando
“implica, de um lado, transgressão do poder de tal falha não é o resultado das condições de
proteção do adulto e, de outro, coisificação da vida além do seu controle. Recentemente, o
infância, isto é, negação do direito que Crian- termo vem sendo ampliado para incorporar a
ças e Adolescentes têm de ser tratados como chamada supervisão perigosa. É mais freqüen-
sujeitos e pessoas em condição peculiar de te em famílias jovens, nas quais a criança está
desenvolvimento”14. doente e é mantida pela mãe. A uniparentalida-
Pode ser subdividida da seguinte forma: de aumenta, em 220%, o risco de negligência3.
A violência contra crianças e adolescentes
Violência física: pode afetar todos os aspectos da vida da crian-
ça, como psicológicos, físicos, comportamen-
É a mais freqüente. Como a vítima é indefe- tais, acadêmicos, sexuais, interpessoais, espi-
sa e está em desenvolvimento, o caráter disci- rituais, comprometendo a auto-estima e 13
conjugal enfrentam risco mais elevado de apre- de potencial do paciente psicótico está direta-
sentarem ansiedade, depressão, baixo rendi- mente relacionada com a falta de tratamento.
mento escolar, baixa auto-estima, pesadelos, A família do doente vê-se onerada com a
conduta agressiva e maior probabilidade de so- grande limitação que a doença exerce, impe-
frerem abusos físicos, sexuais ou emocionais. dindo-o de trabalhar. Representa um indivíduo
frágil, incapacitado, desorganizado emocional-
3. Violência contra o deficiente e o idoso mente, que necessita de supervisão, tratamen-
to adequado. As expectativas frustras da famí-
No presente artigo, já está suficientemente lia muitas vezes desencadeiam ações de
relatado que toda situação de vulnerabilidade extrema violência por parte dos pacientes que
física ou mental é geradora potencial de violên- se vêem sem condições de atendê-las. As mes-
cia. As limitações mobilizam frustração e sobre- mas razões também os tornam vítimas de vio-
carga dentro do ambiente familiar e contribuem lência física, negligência, abandono, abuso se-
para a eclosão de atitudes de negligência e xual, financeiro, aos quais se submetem por
abusos. Tanto idosos como deficientes sofrem culpa e falta de recursos.
também de violência física, psicológica, sexual A doença mental expõe a alguns tipos de
e negligência, com as peculiaridades específi- delitos, e a escolha de vítimas ocorre entre o
cas. Uma das mais comuns é a financeira, o círculo de proximidade, determinada pela inte-
uso das aposentadorias pela família e a desa- ração familiar e a disponibilidade das vítimas,
tenção das necessidades do idoso, culminando que se mostram vulneráveis por dois principais
no abandono. Além de muitas outras, como motivos. A vítima desconhece o potencial peri-
maus-tratos físicos, estupro, maus cuidados de goso do doente por ser também comprometida
higiene, má nutrição, vestuário inadequado, es- psiquiatricamente ou não ter possibilidade de
caras, impactação fecal, alopécia. Do ponto de evitar o delito ou de defender-se.
vista psiquiátrico, há presença de comporta- Na população do Instituto Psiquiátrico Fo-
mentos bizarros como embalar-se, chupar dedo rense (I.P.F.) “Maurício Cardoso”, há um predo-
e o surgimento de outros sintomas neuróticos e mínio de homens agressores, portadores de
de conduta. Os recentes estudos2 sugerem que esquizofrenia e outras síndromes paranóides;
mulheres idosas, em situação de comprometi- as vítimas são, preferencialmente, suas mães e
mento cognitivo, físico e mental são as vítimas companheiras, utilizando objetos corto-contun-
preferenciais. O idoso, muitas vezes, submete- dentes, com alta incidência de homicídios e
se por não ter como se proteger e por culpa, lesões graves. As mulheres doentes atingem
sente-se um “fardo” para os familiares. seus filhos na grande maioria. A comorbidade
É razoavelmente comum deficientes serem com álcool e outras drogas é alta e a desconti-
contidos por cordas, isolados em quartos sem nuidade do tratamento, um forte fator de risco,
ventilação e falta de estímulo. Ocorre também, sendo de 60% a população de egressos do
administração exagerada de medicamentos. sistema de saúde. No entanto, após a alta do
São privados de direitos civis, como convívio, IPF, incluindo um longo trabalho de re-inclusão,
privacidade, informação, visitas. As meninas atendimento a familiares, fornecimento de pas-
sofrem mais abusos e são, freqüentemente, sagens e medicação, encaminhamento a servi-
submetidas à prostituição. ços ambulatoriais, a reincidência e reinterna-
ção passam a ser nulas.
4. O doente mental como agressor A atividade delituosa do doente mental é
e vítima: bastante diferente da delinqüência em geral. A
população prisional é masculina, jovem, de alta
Segundo dados da OMS18, um doente men- reincidência; os delitos são, preferencialmente,
tal numa família é uma grande sobrecarga. O contra o patrimônio, e a vítima é desconhecida.
grande movimento de limitação de vagas em A importância da doença mental dentro da
hospitais psiquiátricos e a crescente inserção problemática da violência doméstica necessita
do doente mental na comunidade é uma nova ser bem esclarecida e adequadamente aborda-
realidade mundial. Se por um lado essa realida- da, uma vez que são situações geralmente crô-
de torna a visão integrada e de inclusão na nicas, com muitas evidências prévias, negadas
cidadania; por outro, exerce um grande fator de ou mal manejadas. As conseqüências são, via
pressão familiar. A obtenção na rede pública de de regra, irreversíveis, atingem todos os mem-
condições de manter o acompanhamento e a bros e várias gerações, perturbam a interação
medicação são, na maioria das vezes, inaces- social de forma definitiva, afetando definitiva-
síveis. Já está bem descrito que a periculosida- mente as bases dos princípios afetivos, de se- 17
motivados a agir dentro dos novos parâmetros 7. Gélis J. A individualização da criança. In: Ariès, P (org.).
História da vida privada. Traduzido por Hildegard Feist.
legais. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, v. 3.
O novo, nesta virada de século, é a postura 8. Postman N. O desaparecimento da infância. Rio de Ja-
adotada pela legislação brasileira, que passa a neiro: Graphia, 1999.
lançar mão de vários dispositivos que se desti- 9. Ariès P, Duby G. História da vida privada. Traduzido por
Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Le-
nam a proteger a criança e o adolescente de tras, 1990, v. 2.
inúmeras violências que historicamente o ho- 10. Perrot M(org.), Ariès P, Duby G. História da vida privada.
mem, em especial o adulto, praticava contra a Traduzido por Denise Bottmann e Bernardo Joffily. São
criança, inclusive, com a conivência das regras Paulo: Companhia das Letras, 1999, v. 4.
legais que vigoravam em épocas passadas. 11. Ramos FP. A História trágico-marítima das crianças nas
embarcações portuguesas do século XVI. In: Priore, MD
Há uma tendência mundial de onerar o (org.). História das Crianças no Brasil. São Paulo: Con-
agressor com sanções legais; mais de 50 paí- texto, 1999.
ses já tem legislação específica. Os índices 12. <http://www5.who.int/violence_injury_prevention/
main.cfm?p=0000000682> Em: 14 outubro 2002.
americanos diminuíram depois da determina-
13. Gonzáles RS. Saiba como dizer não à violência. Porto
ção de aumento de custos para os agressores. Alegre: [s.n.], 1995.
Há uma combinação de medidas de proteção e 14. Azevedo MA, Guerra VNA. Infância e Violência Domésti-
penalidades, como obrigatoriedade a sessões ca: fronteiras do conhecimento. 2. ed. São Paulo: Cortez,
de aconselhamento ou tratamento para depen- 1997.
dência química e/ou pagamento de sustento à 15. Brum E. Apresentação. In: : Violência Doméstica. p.5-7.
família. 16. Azevedo MA. (2001). Ponta do Iceberg. Disponível em
<http:/www.usp.br/ip/laboratorios/lacri>. Acesso em 24
Para concluir, cabe-se ressaltar que o en- jul. 2002.
tusiasmo despertado no grupo pela rica convi- 17. The Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health.
vência, funcionando como um espaço de diálo- Population Reports: Como acabar com a violência contra
go e possibilitando novas e ricas reflexões as mulheres. In: Temas Mundiais de Saúde, 1999. Volu-
me XXVII(4).
apontam para as possíveis alternativas para
18. Organização Pan-americana da Saúde. Relatório sobre a
lidar com o problema. A tolerância às diferen- saúde no mundo 2001: Saúde Mental: nova concepção,
ças, as trocas permitidas, respeitando os limi- nova esperança. Brasil; 2001.
tes e os papéis de cada membro do grupo, 19. Marchiori H. Victimología: Homicidio en el grupo familiar.
Revista Mexicana de prevención y readaptaçión social,
representa o forte vínculo que torna a família o 2000; 7: 49-68.
sustentáculo emocional do ser humano. Todas 20. Alvarado-Zaldivar G, Moysén JS, Estrada-Martínez S,
as iniciativas que permitam o reforço deste es- Terrones-González A. Prevalencia de violencia domésti-
paço de entendimento, utilizando, como diria ca en la ciudad de Durango. Salud Publica de Mexico
2002.
Freud, as identificações e os fortes laços afeti-
21. Gianini R, Litvoc J, Neto JE. Agressão física e classe
vos, permitem efetivas formas de lidar com con- social. Rev Saúde Pública 1999; 33(2).
flitos em todos os níveis, especialmente os in- 22. Cherpitel CJS, Rosovsky H. Alcohol consumption and
trafamiliares. casualities: a comparison of emergency room population
in the United States and Mexico. J Stud Alcohol 1990; 51:
319-26.
23. Furniss T. O abuso sexual da criança. Tradução Mara
Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médi-
cas, 1993.
20
21