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Eliane Mendes da Conceição RA: 21801292 

Profª: Léa Arruda Oliveira 


 
Texto.5-Cap.2- Algumas hipóteses com relação à facilitação do crescimento pessoal

Estar frente a frente com uma pessoa perturbada e em conflito, que está procurando e
esperando ajuda, sempre constituiu para mim um grande desafio. Por mais de vinte e
cinco anos venho tentando responder a esse tipo de desafio. Isso fez com que recorresse
a todos os elementos de minha formação profissional. Porém, mais do que tudo isto
significou um aprendizado contínuo a partir de minhas próprias experiências e daquela
de meus colegas do Centro de Aconselhamento, à medida que tentamos descobrir por
nós mesmos meios eficazes de trabalhar com pessoas perturbadas. Gradualmente,
desenvolvi uma maneira de trabalhar que se origina dessa experiência, e que pode ser
testada, refinada e remodelada por experiências e pesquisas adicionais.

Uma hipótese geral


Uma maneira breve de descrever a mudança que se efetuou em mim seria dizer que nos
primeiros anos de minha carreira profissional eu me fazia a pergunta: Como posso tratar
ou curar, ou mudar essa pessoa? Agora eu enunciaria a questão desta maneira: Como
posso proporcionar uma relação que essa pessoa possa utilizar para seu próprio
crescimento pessoal?
É por esta razão que sinto ser possível que os aprendizados que tiveram significado para
mim em minha experiência podem ter algum significado para você em sua experiência,
já que todos nós estamos envolvidos em relações humanas. Fui me dando conta de
maneira gradual de que não posso oferecer ajuda a esta pessoa perturbada por meio de
qualquer procedimento intelectual ou de treinamento. Estas abordagens parecem tão
tentadoras e diretas que, no passado, fiz uso de muitas delas. Porém tais métodos se
mostram, em minha experiência, fúteis e inconsequentes. O máximo que podem
alcançar é alguma mudança temporária, que logo desaparece, deixando o indivíduo mais
do que nunca convencido de sua inadequação. O fracasso de quaisquer destas
abordagens através do intelecto me forçou a reconhecer que a mudança parece surgir
por meio da experiência em uma relação. Posso enunciar a hipótese geral em uma
sentença. Se posso proporcionar certo tipo de relação, a outra pessoa descobrirá dentro
de si a capacidade de utilizar esta relação para crescer, e mudança e desenvolvimento
pessoal ocorrerão.

A relação
Descobri que quanto mais conseguir ser genuíno na relação, mais útil esta será. Isso
significa que devo estar consciente de meus próprios sentimentos, ao invés de
apresentar uma fachada externa de uma atitude. Ser genuíno também envolve a
disposição para ser e expressar, em minhas palavras e em meu comportamento, os
vários sentimentos e atitudes que existem em mim. É somente dessa maneira que o
relacionamento pode ter realidade, e realidade parece ser profundamente importante
como uma primeira condição.
Como uma segunda condição, acho que quanto mais aceitação e apreço sinto com
relação a esse indivíduo, mais estarei criando uma relação que ele poderá utilizar.
Significa um respeito e apreço por ele como uma pessoa separada, um desejo de que ele
possua seus próprios sentimentos, independente de quão negativas ou positivas elas
sejam, ou de quanto elas possam contradizer outras atitudes que ele sustinha no passado.
Aceitação não significa muito até que esta envolva a compreensão. É somente à medida
que compreendo os sentimentos e pensamentos que parecem tão terríveis para você, ou
tão fracos, ou tão sentimentais, ou tão bizarros, é somente quando eu os vejo como você
os vê, e os aceito como a você, que você se sente realmente livre para explorar todos os
cantos recônditos e fendas assustadoras de sua experiência interior e frequentemente
enterrada.
Dessa forma, a relação que considerei útil é caracterizada por um tipo de transparência
de minha parte, onde meus sentimentos reais se mostram evidentes; por uma aceitação
desta outra pessoa como uma pessoa separada com valor por seu próprio mérito; e por
uma compreensão empática profunda que me possibilita ver seu mundo particular
através de seus olhos. Quando essas condições são alcançadas, torno-me uma
companhia para o meu cliente, acompanhando-o nessa busca assustadora de si mesmo,
onde ele agora se sente livre para ingressar, então eu acredito que a mudança e o
desenvolvimento pessoal construtivo ocorrerão invariavelmente e eu incluo a palavra
“invariavelmente” apenas após longa e cuidadosa consideração.

A motivação para a mudança


Gradualmente, minha experiência me fez concluir que o indivíduo traz dentro de si a
capacidade e a tendência, latente se não evidente, para caminhar rumo à maturidade. Em
um clima psicológico adequado, essa tendência é liberada para reorganizar sua
personalidade e sua relação com a vida em maneiras que são tidas como mais maduras.
Seja chamando a isto uma tendência ao crescimento, uma propensão rumo à auto
realização ou uma tendência direcionada para frente, esta constitui a mola principal da
vida e, é em última análise, a tendência de que toda a psicoterapia depende.

Os resultados
Minha hipótese é que nessa relação o indivíduo se organizará tanto no nível consciente
quanto naqueles mais profundos de sua personalidade de maneira a enfrentar sua vida
de uma forma mais construtiva, mais inteligente, assim como mais socializada e
satisfatória.
Nesse relacionamento, o indivíduo se torna mais integrado, mais efetivo. Ele muda a
percepção que tem de si mesmo, tornando-se mais realista em suas visões do eu. Torna-
se mais semelhante à pessoa que deseja ser. Ele se valoriza mais. Mostra-se mais
autoconfiante e autodirigido. Apresenta uma melhor compreensão de si mesmo,
tornando-se mais aberto à sua experiência, negando ou reprimindo menos a mesma.
Torna-se mais aceitador em suas atitudes com relação aos outros, vendo-os como mais
semelhantes a si mesmo. Em seu comportamento exibe mudanças similares. Mostra-se
menos frustrado pelo estresse, recuperando-se do mesmo mais rapidamente. Torna-se
mais maduro em seu comportamento cotidiano, sendo isto observado pelos amigos. É
menos defensivo, mais adaptativo, mais apto a enfrentar situações de forma criativa.

Uma hipótese ampla das relações humanas


Para mim, o interessante nesses achados de pesquisa não é simplesmente o fato de que
conferem evidência quanto à eficácia de uma forma de psicoterapia, embora isto não
deixe dc forma alguma de ser relevante. O interesse provém do fato desses achados
justificarem uma hipótese até mais abrangente com respeito a todas as relações
humanas. Há todas as razões para se supor que a relação terapêutica constitui apenas um
exemplo de relações humanas, e que a mesma legitimidade rege todas estas relações.
Parece-me possível que estejamos testemunhando a emergência de uma nova área das
relações humanas, na qual podemos especificar que dada à existência de certas
condições de atitude, então a ocorrência de determinadas mudanças definíveis se dará.
Conclusão
Deixe-me concluir retornando a uma afirmação pessoal. Se eu posso criar uma relação
caracterizada da minha parte: por uma autenticidade e transparência, em que eu sou
meus sentimentos reais; por uma aceitação afetuosa e apreço pela outra pessoa como um
indivíduo separado; por uma capacidade sensível de ver seu mundo e a ele como ele os
vê. Então o outro indivíduo na relação: experienciará e compreenderá aspectos de si
mesmo que havia anteriormente reprimido; dar-se-á conta de que está se tomando mais
integrado, mais apto a funcionar efetivamente; tomar-se-á mais semelhante à pessoa que
gostaria de ser; será mais auto diretivo e autoconfiante; realizar-se-á mais enquanto
pessoa, sendo mais único e auto- expressivo; será mais compreensivo, mais aceitador
com relação aos outros; estará mais apto a enfrentar os problemas da vida
adequadamente e de forma mais tranquila. Acredito que essa afirmação seja válida, quer
tratando-se de minha relação com um cliente, com um grupo de estudantes ou
empresários, com minha família ou filhos. Parece-me que temos aqui uma hipótese
geral que oferece possibilidades empolgantes para o desenvolvimento de pessoas
criativas, adaptativas e autônomas.

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