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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA NA ESCOLA: EVOLUÇÃO DE UM


CASO DE AUTISMO

ANALYSIS OF BEHAVIOR APPLIED AT SCHOOL: EVOLUTION OF A CASE OF


AUTISM

Lívia Kaline Maia Alves


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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA NA ESCOLA: EVOLUÇÃO DE UM


CASO DE AUTISMO

LÍVIA KALINE MAIA ALVES

Artigo apresentado ao Curso de Psicologia do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ,


como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia obtendo
Conceito ____________

Data: ________________

( ) Aprovada
( ) Reprovada

BANCA AVALIADORA

________________________________________________________________
Profª. Ms. Sandra Helena Mousinho Benevides
(Orientadora - UNIPÊ)

________________________________________________________________
Profª. Ms. Silvana Queiroga da Costa Carvalho Ventura
(Membro – UNIPÊ)

________________________________________________________________
Profa. Ms. Jayana Ramalho Ventura
(Membro – UNIPÊ)
2

RESUMO

O autismo compõe hoje o que se chama Transtorno do Espectro Autista – TEA, marcado por
características essenciais como prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na
interação social, bem como padrões restritos e repetitivos de comportamento. Estas
características estão presentes desde a infância e prejudicam o funcionamento diário do
indivíduo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (2017), 1 a cada 160 pessoas tem o
transtorno. Diante disso, faz-se necessário o aumento concomitante dos estudos científicos que
abranjam soluções viáveis para pessoas com TEA com a finalidade de tornar a vida do indivíduo
mais autônoma. Sendo assim, foi realizado um estudo de caso através de uma Pesquisa
Exploratória, onde foram realizadas intervenções com terapia ABA (Applied Behaviour
Analysis) na escola, de forma diária, buscando comprovar a eficácia dessa terapia. A amostra
foi composta por uma criança de 5 anos de idade, residente da cidade de João Pessoa, Paraíba,
com diagnóstico de TEA e está cursando o Ensino Infantil em sala regular. Para coleta de dados
foi feita observação direta e anotações em folhas de registro. A análise dos dados foi feita
através da leitura de quadros e gráficos, sendo possível visualizar a média temporal na qual
houve a substituição do comportamento-problema. Com os resultados obtidos é possível
observar mudança de comportamento em curto espaço de tempo, o resultado das intervenções
demonstram que a terapia ABA é eficaz para a aquisição e generalização de habilidades, sendo
necessário um tempo intensivo nas intervenções para obtenção de melhores resultados.

Palavras chave: Autismo. Intervenção comportamental. Escola.


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ABSTRACT

Autism constitutes what nowadays is called Autism Spectrum Disorder (ASD), which is marked
by essential characteristics such as persistent impairment in reciprocal social communication
and social interaction, as well as restricted and repetitive patterns of behavior. These
characteristics are present since childhood and impair the daily functioning of the individual.
According to the World Health Organization (2017), 1 out of 160 people have the disorder. In
view of this, it is necessary the concomitant increase of scientific studies that cover viable
solutions for people with ASD with the purpose of making the life of the individual more
autonomous. Thus, a case study was carried out through an Exploratory Survey, where
interventions were performed with ABA (Applied Behavior Analysis) theraphy, in the school
on a daily basis, seeking to prove the efficacy of this therapy. The sample consisted of a 5-year-
old child, living in the city of João Pessoa, Paraíba, with a diagnosis of ASD who is attending
Kindergarten in a regular classroom. For data collection, direct observation and notes were
taken in log sheets. The analysis of the data was made through reading of tables and graphs,
being possible to visualize the temporal mean in which the problem-behavior was replaced.
With theobtained results, it is possible to observe changes in behavior in a short period of time,
the results of the interventions demonstrate that ABA therapy is effective for the acquisition
and generalization of abilities, requiring an intensive time in the interventions to obtain better
results.

Keywords: Autism. Behavioral intervention. School.


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1 INTRODUÇÃO

O autismo compõe hoje o que se chama de espectro (Transtorno do Espectro Autista -


TEA) e é um dos mais conhecidos Transtornos do Neurodesenvolvimento, marcado por
características essenciais como prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na
interação social, bem como padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou
atividades. Estas características estão presentes desde a infância e prejudicam o funcionamento
diário do indivíduo. Até o momento o transtorno não tem cura (APA, 2014).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017), 1 a cada 160 pessoas tem o
transtorno; isso equivale a aproximadamente 70 milhões de pessoas no mundo; destes, estima-
se que existam mais de 2 milhões no Brasil (OLIVEIRA, 2014). Nesse sentido, faz-se
necessário o aumento concomitante dos estudos científicos que abranjam soluções viáveis para
pessoas com TEA com a finalidade de tornar a vida do indivíduo mais funcional, garantindo
autonomia no seu cotidiano.
Dentre os tratamentos existe uma variedade de terapias, teorias e abordagens que se
debruçam no estudo do autismo e, principalmente, no estudo de intervenções para resolução de
comportamentos-problema e ganho de habilidades. Uma dessas terapias é a Análise do
Comportamento Aplicada ou Applied Behaviour Analysis (ABA). O presente trabalho propõe
uma intervenção na escola, de forma diária (20 horas semanais) com uma criança de 5 anos de
idade, buscando comprovar a eficácia da terapia ABA para aplicação de intervenções válidas e
seguras em casos futuros semelhantes. A terapia será aplicada nas seguintes demandas:
Cumprimentar pessoas de forma adequada - sem ecolalia - através de intraverbais; permanecer
em sala aguardando o momento de ir para casa e aprender a brincar funcionalmente nos
brinquedos do playground.
No entanto, para falar da aprendizagem de um novo comportamento ou modificação do
mesmo, se faz necessário ressaltar alguns estudos do século XX: à época surge o Behaviorismo,
que admite a existência da consciência e de eventos mentais, mas propõe sua exclusão das
formulações científicas em virtude de sua subjetividade e impossibilidade de observação direta.
Propõe então que, a formulação de leis dessa ciência gire em torno do comportamento
observável e dos eventos ambientais, também observáveis (DE ROSE, 1982).
A terapia clássica seguia os pressupostos do Condicionamento Pavloviano, com técnicas
de exposição à estímulos e Dessensibilização Sistemática. O experimento que dava base a esse
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tipo de terapia era o de Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936), que consistia em estudar como um
reflexo pode ser aprendido e modificado através de pareamento de estímulos.
De igual modo o Behaviorista John B. Watson, “se dedicou ao estudo dos reflexos em
geral (com especial atenção aos aprendidos) e das reações emocionais básicas
(incondicionadas) e complexas (condicionadas) dos bebês em particular” (BISACCIONI;
CARVALHO NETO, 2010, p.492). Em um de seus trabalhos, Watson tentou identificar as
reações emocionais humanas mais básicas e os estímulos que as produziam. Seu experimento
mais conhecido foi feito com uma criança, o pequeno Albert B. Ele foi submetido ao
pareamento de um estímulo neutro com um estímulo aversivo (algo que lhe dava medo) para
que o medo fosse adquirido através de condicionamento; assim, o estímulo neutro passou a ser
condicionado e o medo à este estímulo foi instalado.
Porém, entende-se que a “relevância do comportamento respondente para análise,
compreensão e modificação do comportamento humano, ele sozinho (comportamento
respondente) não consegue abarcar toda a complexidade do comportamento humano”
(MOREIRA; MEDEIROS, 2009, p. 47). Diante disso, B. F. Skinner (1904-1990), propôs uma
definição do reflexo como correlação entre estímulo e resposta. O Condicionamento Operante
proposto por ele, defende que as consequências das nossas respostas ou comportamentos no
ambiente, vão influenciar na ocorrência futura desse comportamento.
Baseado no Condicionamento Operante de Skinner, Ivar Lovaas publicou em 1987 os
resultados de um estudo de longo prazo sobre o tratamento de modificação comportamental em
crianças com autismo utilizando a terapia ABA, criada por ele. O estudo conseguiu resultados
expressivos que distinguiam crianças tratadas com ABA de crianças não tratadas com a terapia
comportamental. Lovaas validou resultados através do uso de princípios comportamentais em
um programa de Intervenção Intensivo e Precoce. A amostra era de crianças com TEA de idade
cronológica inferior a 46 meses; os resultados obtidos foram significativos, onde 47% dos
participantes do grupo experimental atingiram funcionamento intelectual normal (SELLA;
RIBEIRO, 2018).
A terapia ABA, através desta análise, tem o objetivo de intervir identificando os
comportamentos que o indivíduo (no presente estudo, a criança) tem dificuldades ou até
inabilidades e que prejudicam sua vida e suas aprendizagens; promove a diminuição da
frequência e intensidade de comportamentos disfuncionais, promove o desenvolvimento de
habilidades sociais, comunicativas, adaptativas, cognitivas, acadêmicas, além de otimizar ou
ensinar comportamentos socialmente funcionais.
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Nesse sentido, é imprescindível a observação e avaliação do comportamento antes de


qualquer intervenção e em todos os contextos de vivência da criança. A escola é um ambiente
no qual é possível essa observação, além de ser um lugar potencial de comportamentos-
problema, surgindo a necessidade da aplicação da ABA também neste contexto. Para realizar
tal observação, aparece o papel do Acompanhante Terapêutico (AT) que além de observar e
avaliar os comportamentos, conduz o aluno durante todo o período escolar com o objetivo de
integrá-lo ao grupo, além de envolvê-lo nas atividades propostas pelo professor, levando em
consideração os limites e potencialidades da pessoa com deficiência (FRAGUAS, 2001).
Nesse estudo específico, o objetivo principal do pesquisador se alinha ao do
Acompanhante Terapêutico (AT), analisando o comportamento da criança com autismo e
intervindo para o ganho de novas habilidades e resolução de comportamentos-problema,
aplicando a terapia ABA (Applied Behaviour Analysis) em ambiente escolar para assim facilitar
o ganho de habilidades que otimizem a vivência e convivência em ambiente escolar, analisando
como as consequências de um comportamento o modificam e observando o tempo necessário
de aquisição de habilidades para a criança em questão.

2 METODOLOGIA

Após a aprovação do Comitê de Ética e da aprovação por parte dos responsáveis da


criança, bem como da escola envolvida nesse estudo, foi iniciada a coleta dos dados e aplicação
das intervenções sob supervisão. Foi aplicado um questionário para obtenção de dados sócio
demográficos com os pais da criança, contendo perguntas relacionadas a dados pessoais
relevantes no desenvolvimento do estudo, tais como, idade, sexo, gênero, classe social,
escolaridade.
O presente estudo, trata-se de uma Pesquisa Exploratória, que, segundo Gil (2008)
proporciona maior familiaridade com o problema, explicitando-o no decorrer da pesquisa. Essa
pesquisa pode envolver entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. A
Pesquisa do tipo Exploratória sugere também o estudo de um caso específico, evidenciando o
problema e tentando respondê-lo através das intervenções propostas neste estudo específico.
A instituição onde o estudo foi realizada é uma escola privada localizada na cidade de
João Pessoa, que ensina desde o Maternal ao Ensino Fundamental I e II, nos turnos manhã e
tarde, sendo a amostra composta apenas por uma criança (estudante dessa escola) de 5 anos de
idade, do sexo masculino, que não passou por nenhuma intervenção comportamental anterior.
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Ela é residente da cidade de João Pessoa, Paraíba, com diagnóstico de Transtorno do Espectro
Autista (TEA) e está cursando o Ensino Infantil em sala regular com crianças típicas.
Para a coleta de dados (observação direta, do manejo de comportamento-problema, da
contagem do comportamento por intervalos de tempo) foram utilizadas folhas de registro de
frequência de comportamento. Essas folhas contém quadros divididos em de 12 tentativas de
resposta, onde são contabilizadas as respostas corretas, erradas ou independentes. A cada dia
uma coluna de 12 tentativas (ver Quadro 1) era preenchida para fazer a intervenção de
generalização de intraverbais.
Para medir ou verificar o comportamento em intervalos de tempo, o cronômetro ou time
(temporizador), foram amplamente utilizados: o relógio era observado a partir do momento que
a criança começava a apresentar o comportamento problema, para marcação do tempo inicial.
Se a intenção era medir quanto tempo ela ficaria engajada nesse comportamento, o cronômetro
dera utilizado. No entanto, se o objetivo era observar em quanto tempo deveria voltar a sala de
aula (como será visto na intervenção “passeio antes da hora da saída”) era utilizado o time como
garantia da contagem regressiva planejada ser aplicada à situação.
A análise dos dados do Questionário Sócio Demográfico foi feita por meio de análise
objetiva dos dados obtidos; por se tratar dos dados de apenas uma criança, não se faz necessário
comparação de dados estatísticos. Os registros de comportamento foram analisados por quadros
e gráfico dividido por intervalo de tempo, sendo o gráfico elaborado em Microsoft Excel, versão
2013; assim, é possível visualizar uma média do tempo no qual houve a substituição do
comportamento-problema por um comportamento funcional na criança. A observação direta foi
analisada e descrita para dar base aos dados coletados, de forma a corroborar com a análise
gráfica exposta. As intervenções na escola, foram realizadas em 17 dias sendo de segunda a
sexta no turno da manhã, como será descrito e analisado a seguir.

3 RESULTADOS

A partir do Questionário Sociodemografico, pôde-se obter alguns dados relevantes sobre


a criança deste estudo: é uma criança verbal (possui vocabulário, porém limitado, com poucas
palavras), do sexo masculino, tem 5 anos de idade e está cursando o Ensino Infantil em sala
regular em uma escola privada de João Pessoa- PB. A criança foi diagnosticada com TEA
(Transtorno do Espectro do Autismo) por neuropediatra, grau moderado, desde os 3 anos de
idade; nesse contexto, os pais foram orientados pela médica a procurar tratamentos que
incluíssem a terapia ABA. O sujeito analisado está atualmente (2019), tomando medicação
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(Aripiprazol). Seus pais nunca tomaram medicação psiquiátrica, não têm nenhum transtorno
mental e são casados, morando juntos: pai, mãe e a criança. Os pais são de classe média alta,
cooperativos com a terapia ABA; há, além disso, o acompanhamento profissional feito em
domicílio e as demais terapias de acordo com a necessidade atual da criança. Quanto as
intervenções, foram realizadas da seguinte forma:

Intraverbais na escola (treino de generalização)

A primeira intervenção realizada foi ensinar Intraverbais¹: “Bom dia,____”, “Oi,____”,


“Tudo bem,____?”, “Tchau____” ² em contexto escolar. Já havia sido ensinado em contexto
domiciliar, no entanto, o comportamento precisava ser generalizado para outros ambientes, com
a presença de outras pessoas. Não ouve ajuda, apenas correções, pois, já era considerado um
comportamento independente no contexto domiciliar; sendo necessário apenas aprender a
habilidade de generalização do comportamento adquirido. Como se pode observar no gráfico,
no 1º dia de treino a quantidade de erros foi igual a quantidade de acertos (6), em um total de
12 tentativas (ver folha de registro abaixo). Finalizando os dias de análise, ver-se que o
comportamento funcional (acertos) obteve escore 9, enquanto se observou apenas 3 erros.

Gráfico 1 - Respostas do Programa Intraverbal


Intraverbal: Respostas erradas e independentes
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0

Erros Resposta Independente

Fonte: Dados próprios


______________
¹Intraverbal significa responder perguntas ou ter conversas nas quais as suas palavras são controladas pelas
palavras de outra pessoa. É a seleção de uma resposta a partir de um encadeamento anterior produzido (TARDEM,
2018). ² Os traços são correspondentes ao nome das pessoa a quem a criança deveria responder.
9

Nesse contexto, é importante considerar que a análise e intervenção no comportamento,


foi proposta para ser realizada em 17 dias, sendo um curto espaço de tempo. Pensando,
principalmente, que a Análise do Comportamento Aplicada é uma terapia mais efetiva em
tempo intensivo de tratamento - este somado ao ambiente natural e ao em ambiente estruturado
-, é possível afirmar que os dados coletados na escola é uma continuação do que já havia sendo
feito em ambiente estruturado (terapias em casa), isso justifica ainda mais o que o gráfico
mostra: um ganho rápido da habilidade de cumprimentar na escola, fazendo assim
generalização do comportamento de casa para outro ambiente.

Quadro 1: Folha de Registro de 12 tentativas


Conjunto de Conjunto de Conjunto de Conjunto de Conjunto de
estímulos estímulos estímulos estímulos estímulos
Critério: Critério: Critério: Critério: Critério:
Tentativa Discreta

1 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
2 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
3 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
4 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
5 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
6 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
7 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
8 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
9 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
10 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
11 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
12 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Total Corretas
Total
Independentes
Data
Fonte: Núcleo de Intervenção Comportamental – São Paulo, 2019.

Diminuição gradual do tempo de passeio antes da hora da saída da sala

Nos primeiros dias de observação da criança, notaram-se comportamentos inadequados


quanto ao horário de saída da escola. Foi notado que nos três primeiros dias a criança apontava
a porta da sala falando “tchau”, enquanto chorava. Esse comportamento iniciava por volta das
10:24h, quando o horário de saída programado pela escola era às 11:00h. Nesse sentido foram
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avaliados três dias de birra para que o menor tempo de espera fosse tomado como base para que
a criança permanecesse em sala até aquele horário-base.

Quadro 2 – Monitoramento do início da birra


DIAS DA OBSERVAÇÃO INÍCIO DA BIRRA
(HORÁRIO)
1º 10:24h
2º 10:43h
3º 10:29h
Fonte - Dados próprios

Tendo finalizado a observação dos três dias, iniciou-se a intervenção que seguia no
sentido de permitir a criança que saísse da sala com um comportamento adequado e voltasse
para sala no final da aula (por volta das 10:55) para aguardas os responsáveis que iriam pegá-
la em sala. Nesse contexto, a criança recebia o reforço positivo (brinquedo que mais gostava)
pelo comportamento adequado antes de começar a chorar, por volta das 10:20h (Observar
quadro acima) e era dado modelo para ela dizer: “sair” (mando).

Quadro 3 - Horários de saída da sala de aula por dia de intervenção


DIAS DA INTERVENÇÃO INÍCIO DO HORÁRIO DE SAÍDA
1º 10:20h
2º 10:25h
3º 10:30h
4º 10:35h
5º 10:40h
6º 10:45h
7º 10:50h
8º Permanecer em sala
Fonte - Dados próprios

Como mostra o quadro acima, a intervenção foi feita durante 08 dias, saindo mais tarde
a cada dia, considerando a menor diferença entre dois horários dos dias de observação (10:29h
- 10:24h = 5 minutos). A criança voltava sempre às 10:55.

Brincar funcionalmente nos brinquedos do playground

Com o objetivo de testar as habilidades que a criança já possuía, esta foi levada ao
playground para ser avaliada. Assim, foi observado que ela não tinha uma brincadeira funcional
em nenhum brinquedo. De início foi analisada sua altura em proporção a altura do brinquedo,
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o quanto de força era necessário para que a criança conseguisse subir ou sair destes de forma
independente.
Assim, a intervenção consistiu em ensinar todos os passos necessários para brincar no
escorregador: subir as escadas, sentar e escorregar. O brinquedo em questão era de plástico
colorido, contendo a escada em uma das paredes da casinha que formava o brinquedo. Assim,
iniciou-se dando ajuda total física com movimentos de sombra e instrução, já sendo planejada
a retirada da ajuda, para que a criança adquirisse o comportamento funcional.
O reforço começou sendo social, porém se objetivava que passasse a ser intrínseco.
Além disso, o intuito era que, conseguindo brincar nesse escorregador, a criança generalizasse
o comportamento para outros dois tipos de escorregadores que compunham o playground.

4 DISCUSSÃO

Considerando os comportamentos-problema no TEA, surge a necessidade de moldar e


modificar alguns desses comportamentos, para que sejam funcionais ao indivíduo e ao
ambiente, sendo possível medir os avanços de aprendizagem no decorrer do tratamento. A
terapia ABA permite que o comportamento seja observado e contado através da frequência,
duração, magnitude, latência:

A descrição e contagem dos comportamentos constitui a tarefa mais rigorosa


e trabalhosa na coleta de dados. A escolha das categorias e da amplitude do
registro das respostas [...] deve ser definida de acordo com o objetivo do
estudo a ser desenvolvido. Com o registro das respostas
observadas/registradas segue-se a categorização das mesmas. As categorias
devem ser descritas de modo operacional, ou seja, a definição não pode ser
dúbia ou superposta e sua formulação deve ser clara e sucinta, incluindo todos
os eventos que constituem sua ocorrência (TOMITA et al., 2009, p.12).

No Behaviorismo, bem como na terapia ABA esse comportamento pode ser explicado
pela identificação dos antecedentes e de suas consequências. Nesta linha teórica, comportar-se
é a identificação das relações entre os eventos ambientais e as ações do organismo. Para
estabelecer estas relações devemos especificar a ocasião em que a resposta ocorre, a própria
resposta e as consequências reforçadoras (COSTA, 2003).
Além de enfatizar a tríplice contingência: “Estímulo (situação/contexto) – Resposta –
Consequência”, a terapia em questão se preocupa em propor uma intervenção baseada na
peculiaridade de cada indivíduo; logo, é necessário que um teste frequente de preferência de
reforçadores seja aplicado à criança, para dá andamento a intervenção de forma que, através da
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magnitude de cada reforçador, se consigam o aumento da frequência de respostas adequadas,


até que a habilidade seja adquirida (RIBEIRO, 2010).
Essas habilidades também podem ser adquiridas através do pareamento de estímulos,
como feito no experimento de Condicionamento Clássico de Pavlov (1849-1936), onde um
estímulo neutro (som) era pareado a um estímulo incondicionado (comida que eliciava
salivação). Com repetidas apresentações dessa associação ao sujeito (cão), o estímulo neutro
passava ser condicionado (o som passa a provocar a salivação) (MOREIRA; MEDEIROS,
2009). Na terapia ABA esse princípio é usado juntamente com reforçadores, de forma que há o
pareamento de um estímulo neutro (não atrativo ao aluno/paciente), sendo apresentado junto a
um reforçador peculiar do indivíduo, permitindo assim que o estímulo neutro passe a ter o valor
semelhante ao do reforçador.
Todo o trabalho de ensinar a criança a aprender novas habilidades precisa ser feito no
sentido de permitir a repetição do mesmo comportamento se moldando a variadas situações e
ambientes. Embasadas nessas discussões teóricas, foram realizadas as intervenções.

Intervenção 01- Intraverbais na escola (treino de generalização)

Na primeira intervenção, o comportamento-problema era o de ecolalia³, onde a criança


ecoava os cumprimentos, repetindo o que ouvia da pessoa que lhe cumprimentava. Diante disso,
foi ensinada a habilidade de responder funcionalmente ao cumprimento ouvido; no entanto,
essa habilidade já tinha sido adquirida com terapia ABA domiciliar, sendo necessária agora a
generalização do comportamento em outros ambientes. “A habilidade de generalização se refere
ao procedimento de reforçar uma resposta na presença de um estímulo ou situação, e ao efeito
de a resposta se tornar mais provável na presença de outro estímulo ou situação.” (MARTIN,
2009, p. 229).
A criança já conhecia a maioria dos nomes dos colegas de sala e alguns funcionários da
escola, sendo possível começar esse treino sem nenhum tipo de ajuda, apenas correções
imediatas. Estudos e resultados de pesquisas mostram que os procedimentos de correção
imediata são mais eficientes nos resultados de aprendizagem (BARBETTA, 1994).
Na terapia ABA, existem níveis de ajuda que criam a possibilidade de aprendizagem
sem erro. Essas dicas (ajuda) são estímulos suplementares dados pelo terapeuta, que são usadas
antes ou durante a execução do comportamento.
_______________
³ Ecolalia é a repetição involuntária do último som, palavra ou frase de outra pessoa (MATTOS, 1995).
13

O grande objetivo é utilizar o menor nível possível de ajuda necessário para conseguir
a resposta funcional e então esvanecer (retirada gradual) essa dica o mais rápido possível, de
maneira que o aluno/paciente emita o comportamento independente (LEAR, 2015).
No entanto a terapia ABA se preocupa em utilizar tipos de ajuda para cada resposta
pretendida. São elas: ajuda física, ecoica, gestual, modelo, visuais. Elas são retiradas aos poucos
até que a criança adquira o aprendizado da habilidade de forma que se mostre independente na
emissão do comportamento funcional. Para isso, começa-se a atrasar a ajuda fornecida (SELLA;
RIBEIRO, 2018); por exemplo, faz-se a pergunta: “qual é seu o nome?”, a ajuda ecoica imediata
é fornecida pelo terapeuta: “João”. Então o cliente responderá: “João”, sendo reforçado em
seguida.
A quantidade de resposta corretas é definida pelo terapeuta para que se atrase a ajuda.
Supondo: foram estabelecidas 12 respostas corretas (com ajuda imediata), assim, após dada as
12 respostas sem erro, o aplicador da terapia ABA atrasará a ajuda em 1 segundo, depois em 2
segundos e 3 segundos, até que a resposta do aluno/paciente se torne independente. Como a
terapia é individualizada, os níveis de ajuda podem variar diante da emissão de muitos erros
durante as tentativas. Se, por exemplo, o aluno já está recebendo uma ajuda física parcial com
atraso de 3 segundos, diante de uma solicitação de imitação, e começa a emitir respostas erradas
com frequência, pode-se voltar ao nível anterior de hierarquia de dica, sendo o cliente ajudado
com um atraso de 2 segundos.
Nesse caso específico, a ajuda dada em contexto domiciliar foi do tipo ecoica: esta é
controlada pelo comportamento verbal de outra pessoa ou do próprio falante. Consiste na
solicitação da repetição do que o emissor disse, com o objetivo de ampliar a capacidade de
repetição funcional do paciente, o que contribui para o desenvolvimento de outras habilidades
verbais (CIARLINI et al., 2019).
Esse tipo de ajuda foi dispensada na escola, considerando que a criança já tinha o
comportamento independente. A cada resposta independente, a criança recebia reforço social
positivo (elogios e aumento da atenção por parte da AT). Diante da resposta incorreta, era dada
correção imediata sem reforço social. Nesse contexto, a criança começou a responder de forma
funcional, com mais frequência a partir do 9º dia de treino. Se for levada em consideração a
ascendência do gráfico 1 para respostas independentes, pode-se considerar que será possível
que o comportamento funcional seja totalmente aprendido, se os dias de treino continuarem.
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Intervenção 02 - Diminuição gradual do tempo de passeio antes da hora da saída da sala

A segunda intervenção foi necessária porque a criança engajava em birra para poder sair
da sala de aula antes do horário de saída estabelecido pela escola: 11:00h. Assim, a intervenção
seguiu, sendo apresentado um reforçador positivo antes que a birra acontecesse. Reforçadores
positivos são consequências que aumentam a probabilidade da resposta acontecer novamente e
auxiliam no sucesso e progresso da terapia. Esses reforçadores podem ser objetos, comestíveis,
sensoriais, sociais, atividades reforçadoras, brinquedos, entre outros (RIBEIRO, 2010); no
entanto, o comportamento problema só poderá ser resolvido quando a função do
comportamento for identificada. Se não há o conhecimento do porquê de uma criança estar se
engajando em um determinado comportamento inadequado, será difícil saber como ensiná-la
na modificação de tal comportamento.
Para a identificação da função do comportamento-problema é feita uma análise
funcional que consiste no monitoramento da “relação entre o indivíduo e seu mundo, ou seja, é
observar um comportamento e saber que tipo de consequência ele produz (reforço positivo,
punição negativa, etc.)” (MOREIRA; MEDEIROS, 2009, p. 146).

Quadro 4 - Exemplo de folha de registro para Análise Funcional do comportamento – ABC


estruturado

Fonte: Núcleo de Intervenção Comportamental – São Paulo, 2019.

Diante disso, a ABA utiliza folhas de registro para colher dados sobre o comportamento
alvo, como pode ser observado no Quadro 4. Nesta, observa-se a Tríplice Contingência que é
15

dada por: Resposta na presença de um estímulo (Antecedente), que produz uma consequência
(MARTIN, 2009), sendo representada por A-B-C, onde “A” – o Antecedente (estímulo), “B” –
a Resposta e “C” – a consequência da resposta. Alguns autores e teóricos preferem empregar a
relação SD-R-SC, onde há apenas modificação de siglas, porém, o significado da tríplice
contingência é o mesmo.
Feita a análise funcional na segunda intervenção deste caso, observou-se que a função
da birra era de fuga de demanda: a demanda era se manter na sala e a criança desejava sair,
porém, não sabia pedir. Diante disso, antes da birra, foi apresentado o reforçador (brinquedo)
pelo comportamento adequado em sala, enquanto a pesquisadora dava o modelo para a criança
repetir: “sair”. A criança saiu da sala com comportamento adequado e continuava sendo
reforçada pelo atendimento do seu próprio pedido.
Durante os 08 dias de intervenção, conseguiu-se manter a criança sem birra desde a
saída da sala até o momento do aviso de retornar (10:55h). Porém, quando era avisada sobre a
volta, a criança sempre engajava em birra, dessa vez com magnitude menor. Nesse momento
foi aplicada a extinção. Como colocado por Martin e Pear (2009, p.149):

Se um indivíduo, em uma dada situação, exerce um comportamento


previamente reforçado e esse comportamento não é seguido mais de um
reforçador, então esse indivíduo tende menos a repetir o comportamento na
próxima vez em que se encontrar em uma situação semelhante[...]. A cessação
completa do reforço dessa resposta acarretará a diminuição de sua frequência.

Diante da Extinção, há o objetivo de que a criança passe a aprender que o


comportamento de birra, não resultará na atenção da pesquisadora ou na volta ao passeio. Nesse
contexto é importante também ensinar sobre regras e tolerância a frustração, através do episódio
da volta a sala de aula.
O mando4 continuou sobre controle da ajuda ecoica imediata, no entanto, analisando o
pequeno tempo de intervenção e a diminuição da birra, há expectativas realistas de que o
comportamento-problema seja extinguido se continuada a intervenção; de forma que a criança
passe a pedir adequadamente para sair da sala e volte no tempo combinado sem emitir
comportamentos-problema.

_______________
4
“Mando deriva de “comando” e descreve as respostas verbais utilizadas por alguém para pedir itens, informações,
além de dar instruções, ordens e conselhos. Especificamente, o mando é uma resposta verbal que acontece sob a
influência de uma necessidade ou privação” (SELLA; RIBEIRO, 2018, p. 258).
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Intervenção 03 - Brincar funcionalmente nos brinquedos do playground

Na terceira intervenção, foi enfatizada a necessidade do brincar funcional da criança,


que não sabia como se utilizar dos brinquedos do playground. Diante disso, ela foi ensinada,
através dos princípios da terapia ABA, um deles ressalta que para uma aprendizagem sem erro,
é imprescindível um sistema de ajuda que vai da máxima para a ajuda mínima. Então, o ensino
se inicia com a maior dica disponível e gradualmente esvanece para dicas menores, até que
possam ser retiradas (LEAR, 2015). Assim foi realizado: nos primeiros 05 dias de intervenção,
empregou-se ajuda física total (sombra) e instrução, a partir do 6º dia essa ajuda foi ficando
mais leve.
Ao aprender a habilidade de subir independente, a criança se frustrava cada vez menos
com o fato de não saber como utilizar aquele brinquedo. Dessa forma, cada vez que a criança
ia ganhando mais independência, o reforçador era intrínseco à sua atividade. Segundo Vaughan
e Michael (1982) o reforço intrínseco é aquele que não é mediado pela ação deliberada de uma
outra pessoa. O reforçamento é um resultado “natural” do comportamento quando ele opera
sobre o próprio corpo daquele que se comporta ou sobre o mundo ao redor.
Porém, até que chegasse ao reforçamento intrínseco, foi dado reforço arbitrário (social),
este é um reforçamento indireto; por exemplo, se ao imitar adequadamente o que se pede, o
indivíduo recebe um elogio do pai; ou se tirar boas notas, ganha uma bicicleta de presente; isso
faz com que o aumento da frequência do comportamento aconteça por causa da “apresentação”
de algo que o sujeito goste (BORBA; BARROS, 2018).
Considerando o esvanecimento da ajuda ao longo dos dias, ao 17º dia a criança estava
precisando apenas de ajuda leve e algumas instruções, já conseguindo brincar independente no
escorregador menor que havia no playground, sendo assim, um indício de generalização do
comportamento.
A aquisição da habilidade se deu, principalmente, porque o reforço social era bastante
importe para a criança, além de toda atenção dispensada a ela no momento em que se engajava
na brincadeira. Acrescenta-se a isso o interesse e curiosidade naturais que tinha pelo
playground. Nesse contexto, é possível explicar o ganho relativamente rápido da habilidade. É
importante ressaltar que a criança não estava totalmente independente nos brinquedos, pois
ainda dependia das instruções para tomar a iniciativa de brincar ou de fazer o movimento
adequado para o brincar funcional; no entanto, se o tempo de intervenção for maior, será
possível analisar melhor o tempo de aquisição total do comportamento adequado.
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Quanto aos outros escorregadores já citados, a criança apresentou comportamento de


medo ao subir as escadas. O brinquedo era em material plástico colorido e com altura maior
que o primeiro mencionado: aproximadamente 35 centímetros mais alto. A criança se agarrava
à pesquisadora (Acompanhante Terapêutica) e hesitava não “escorregar”. Diante disso, seria
necessário uma Dessensibilização Sistemática com a criança. Essa técnica pode ser utilizada
em pessoas neurotípicas e atípicas e “envolve inicialmente a exposição do indivíduo a um
estímulo descrito [...] como eliciador de ansiedade, em associação com um estado de
relaxamento que deveria inibir essa reação emocional na presença daquele estímulo.”
(BARBOSA; BORBA, 2010, p. 64). Como o tempo estabelecido de intervenção foram 17 dias,
não foi possível demonstrar neste estudo os resultados da Dessensibilização. Tendo assim
concluído que, até o dia 17 a criança tinha adquirido a habilidade de brincar independente em
um escorregador menor (generalização do comportamento) e ainda precisava de instrução e
ajuda leve no escorregador do tipo casinha, o maior.

5 CONCLUSÃO

Desde Ivan Pavlov, John B. Watson, B. F. Skinner a Psicologia passou a ser embasada
em método científico. Ivar Lovaas, baseado no Behaviorismo desses teóricos cria a Análise do
Comportamento Aplicada (a terapia ABA) baseada em evidências, abrangendo hoje muito mais
que o espaço de uma terapia, mas passando a ser uma abordagem da Psicologia, crescendo
como ciência capaz de explicar inúmeras descrições do comportamento humano.
Dessa percepção surgiu o presente estudo, com o objetivo maior de Analisar o
comportamento da criança com autismo e intervir para o ganho de novas habilidades e resolução
de comportamentos-problema, aplicando a terapia ABA em ambiente escolar.
Diante das intervenções, pôde-se observar que em um curto espaço de tempo houve
mudança de comportamento, a exemplo da primeira intervenção, onde no nono dia de treino a
criança pouco ecoava os cumprimentos ouvidos. Nesse contexto, deve-se considerar a aquisição
da habilidade não de forma pontual, reduzindo-a a um cumprimento; no entanto, se observado
de forma mais ampla, compreende-se a importância dessa criança não mais ecoar, como pré-
requisito para a conversação em casos futuros, onde o falante e o ouvinte poderão ter uma
conversa funcional, concluindo, portanto, que esse é um pequeno passo para interações mais
complexas entre os humanos.
Outro ponto a ser considerado na segunda intervenção é que, mesmo com pouco de
intervenção, foi possível observar a diminuição do comportamento-problema e um importante
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treino de mando. Por falta da habilidade de solicitar algo, crianças com autismo tendem a se
engajar em vários comportamentos disfuncionais, se frustram por não saberem demonstrar o
que precisam ou mostrar do que estão privados. A partir do momento que a habilidade de mando
é adquirida, o comportamento da pessoa com TEA passa a ser mais funcional, por ser mais
claro ao ouvinte suas necessidades; isso é imprescindível para a vida inteira. Pedir para sair da
sala, nesse estudo do caso, é apenas o indício de um comportamento indispensável, bem como
a tolerância a frustração ao voltar para sala de aula.
Quanto à terceira intervenção, é importante ressaltar a função do brincar funcional para
as crianças. A brincadeira no playground pode resultar em interação social, resolução de
problemas, um brincar imaginário, além de proporcionar à criança com TEA diversão e
ocupação do tempo ocioso, sem que ela precise estar engajada em comportamentos-problema
como estereotipias, auto ou heterolesivos, por exemplo.
Diante do exposto, é possível notar a importância da terapia ABA no contexto escolar;
consegue-se constatar que a criança em questão é capaz de evoluir e manter resultados positivos
com a terapia. Além disso, pode-se afirmar que as mudanças de comportamento podem ser
explicadas pela identificação de suas consequências, como observado nas intervenções.
O mais instigante é que, ao observar o ganho de habilidades ou modificação de
comportamento em um curto espaço de tempo, surge a perspectiva realista de grandes ganhos
à longo prazo de aplicação da terapia ABA, porém, não se pode desconsiderar o nível do
autismo do sujeito e onde ele se encontra no espectro; há sempre peculiaridades de uma pessoa
com TEA para outra. No entanto, ressalta-se a relevância de um estudo desse tipo, mostrando-
se congruente à teoria e a outros estudos semelhantes já aplicados, sendo gratificante contribuir
com a ciência ABA, e, principalmente, com a vida das pessoas que têm e convivem com
transtornos de atraso de desenvolvimento.
Analisando os dados obtidos no tempo estabelecido para essa pesquisa, há o
reconhecimento da necessidade de um ensino mais intensivo e duradouro, sendo proposto para
estudos futuros um acompanhamento mais longo, com análises cada vez mais aprofundadas,
podendo avaliar um único sujeito à longo prazo, se utilizando assim de pesquisas do tipo
Longitudinal.
Além de comprovar a eficácia da terapia ABA, que estudos desse tipo tragam mais
informação a sociedade para que esta aprenda cada vez mais a lidar com pessoas que estão no
Espectro do Autismo, a conviver com as peculiaridades que acompanham essas pessoas, e,
dessa forma, promover não uma inclusão cega, mas uma inclusão embasada em informação
científica.
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