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Uniluio Business School

Licenciatura em Economia Gestão Empresarial

Sindicato dos trabalhadores domésticos

Discentes

Celma Deolinda da Silva João

Cristêncio Bonomar

Marial Ministro

Ossumanali Sualehe Abdulcadre

Vilma Botão

Docente

Clara Macovela

Nampula, Novembro de 2021


Índice
1.1 Introdução.....................................................................................................................1

1.2 Contexto histórico do trabalho doméstico....................................................................2

1.3 Evolução do trabalho doméstico em Moçambique......................................................3

1.4 Breve historial do sindicato de trabalhadores domésticos...........................................5

SINED.................................................................................................................................5

1.5 Actualização Do Contexto...........................................................................................6

1.6 Dificuldades do Sindicato Nacional dos empregados domésticos...............................8

1.7 Reconhecimento por parte de sindicatos, legisladores e acadêmicos das contribuições


feitas pelos trabalhadores domésticos ao lar e à economia de modo geral.............................8

1.8 Órgãos do Sindicato de empregadores domésticos......................................................9

1.9 Recrutamento de membros...........................................................................................9

Membros...............................................................................................................................10

1.10 Conclusão...............................................................................................................12

1.11 Referências bibliográficas......................................................................................13


1.1 Introdução

O presente trabalho tem como tema “ Sindicato de Trabalhadores Domésticos”, Cujo tema
circunscreve-se no âmbito do Direito Privado, esta abordagem é de extrema importância para
compreensão do Direito de Trabalho enquanto conjunto de normas jurídicas que norteiam a
relação laboral que é aquela que estabelece entre o trabalhador e empregador.

O sindicato é uma associação estável e permanente de trabalhadores tanto urbanos-industrial,


como rurais e de serviços, que se unem a partir da constatação e resolução de problemas e
necessidades comuns.

O interesse pelo presente tema surge perante a constatação, em exercício de funções


profissionais, da frequente usurpação dos preceitos e faculdades legais pelos empregadores,
que acabam colocando em causa direitos de trabalhadores domésticos.

Neste contexto, iremos debruçar em torno do sindicato trazendo a ribalta, a origem, causas do
seu surgimento, evolução histórica, contexto histórico do trabalho doméstico, regime jurídico
do trabalho doméstico.

Para a realização do trabalho foi usado método científico, quanto ao tipo de pesquisa usou o
tipo de pesquisa bibliográfica e documental. Por fim quanto a estrutura do trabalho, apresenta
uma capa, contra capa, introdução e, referencias bibliográficas.

Do ponto de vista estrutural, o trabalho apresenta se seguinte estrutura:

 Capa, introdução;
 Desenvolvimento onde encontrar-se-á abordagens referentes ao tema;
 Conclusão onde é abordado o resumo ou a síntese no que se refere do assunto tratado;
 Referência bibliográfica onde está contido as obras usadas na elaboração do trabalho.

1
1.2 Contexto histórico do trabalho doméstico

Até os meados dos anos 80, o trabalho doméstico remunerado era uma profissão masculina.
Dada a natureza sub-capitalizada da economia colonial, este sector constituía uma das maiores
fontes de rendimento assalariado para homens. Para um jovem do meio rural, o trabalho
doméstico era uma oportunidade para se aproximar ao chamado Xilinguine, aprender a falar o
Português, e cultivar cunhas que lhe podiam facilitar o acesso a um melhor posto de trabalho.
O cargo menos valorizado era o de mainato, geralmente uma criança; enquanto o mais
valorizado era o de cozinheiro. O único cargo dominado por mulheres era o de lavadeira, pois
desempenhavam as suas funções em casa, longe da ameaça do assédio e da violência sexual, e
em função das suas outras responsabilidades reprodutivas1. (Branco, 2019. Pág.5-6)

Durante o tempo colonial os trabalhadores domésticos eram estritamente regulados, mas


pouco protegidos. Com o início da luta de libertação, e sob pressão da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), o regime colonial introduziu uma série de reformas laborais,
incluindo o Regulamento dos Empregados Domésticos. Após a independência o trabalho
doméstico passou a ser dominado por mulheres--resultado do êxodo da classe colonial; de
novas oportunidades de emprego assalariado para homens; e do fluxo de mulheres refugiadas
de guerra. Hoje, os empregadores no Sul do país preferem empregar mulheres, enquanto no
Norte, o sector continua dominado por homens. Segundo Humbane (2018) a prevalência de
homens trabalhadores domésticos no Norte do país é resultado das práticas de género que
proíbem a participação de mulheres em actividades fora do lar, e dão ao homem o controle
dos bens mercantilizados.

A independência trouxe uma democratização dos direitos laborais e sociais. Porém, os


trabalhadores domésticos foram largamente excluídos dos mecanismos de incorporação
social. Só em 2006, com a criação da Associação da Mulher Empregada Doméstica, é que
foram integrados nas estruturas do movimento sindical. A Lei do Trabalho de 2007 definiu a
necessidade de criar um instrumento específico para regular o trabalho doméstico. Esta
estipulação reflecte de uma tendência global paradoxal, que por um lado visa liberalizar os
direitos dos trabalhadores, efectivamente informalizando-os; e pelo outro, formalizar o sector
informal através de protecções sociais e laborais residuais. Em 2008, foi aprovado o Decreto
nº 40/2008, com base no regulamento colonial. Porém como o terceiro capítulo irá mostrar,
1

2
este prevê protecções laborais e sociais mais fracas que a Lei do Trabalho em contravenção da
Convecção 189 da OIT.

1.3 Evolução do trabalho doméstico em Moçambique

Em Moçambique, o trabalho doméstico não foi sempre um sector feminino; e que


mesmo hoje, metade dos trabalhadores domésticos em Moçambique são homens. No entanto,
o trabalho doméstico é a maior fonte de emprego para mulheres e a terceira maior actividade
económica depois de camponesa e pequena comerciante. Segundo o último censo existem
aproximadamente 250,000 trabalhadoras domésticas. A proliferação do trabalho doméstico
apresenta um dilema para o movimento feminista: por um lado facilita o acesso ao mercado
de trabalho para ambas as empregadoras e trabalhadoras; pelo outro, o faz através de
condições altamente exploradoras.

Em 1904, o Governo Português aprovou o Regulamento de Serviço e Trabalhadores


Indígenas, forcando os trabalhadores domésticos a comprar uma chapa que provava que
trabalhavam para um único empregador. Em 1914, o Estado colonial pôs em prática um
sistema de cartões de identificação e em 1918 proibiu os Moçambicanos negros de viverem
em Lourenço Marques sem um destes cartões. O cartão de identificação foi substituído por
uma caderneta em 1926, que especificava a história laboral do trabalhador e as suas
obrigações fiscais. Com a ascensão ao poder do regime fascista de Salazar em 1930, foram
proibidos os sindicatos e as organizações políticas para os trabalhadores negros. Em 1944, o
Regulamento de Serviçais e Trabalhadores Indígenas foi substituído por um sistema de registo
urbano mais abrangente, concebido para limitar ainda mais a mobilidade e os salários dos
trabalhadores negros. Os aumentos salariais tinham de ser aprovados pela administração local,
o desemprego tornou-se um delito penal e os trabalhadores tinham de registar-se na
Administração Municipal do Trabalho num prazo de três dias após a chegada a cidade. O não
cumprimento destas regras podia resultar em castigo corporal, chibalo ou, em casos extremos,
na deportação para São Tome e Príncipe. (Branco, 2019, pág.310)

Os trabalhadores domésticos eram particularmente vulneráveis aos castigos corporais.


A mais pequena infracção, desde partir uma chávena ou queimar um lençol ao engomar, até
acusações como desobediência, dava azo a uma visita ao administrador local para ser
corporalmente castigado com uma palmatoria. Com o início da luta armada, o chibalo foi
abolido e entrou em vigor o Regulamento dos Empregados Domésticos. Embora sugira que,

3
neste período posterior, o Estado fazia cumprir a protecção laboral, inspeccionava casas, e
multava os empregadores que prevaricavam, os trabalhadores domésticos continuaram a
trabalhar jornadas muito longas, e com elevados níveis de controlo e de abuso.

No regime colonial, os trabalhadores domésticos eram altamente regulados mas pouco


protegidos. A formalização não e suficiente para melhorar as condições de trabalho. Os
termos de formalização e os mecanismos de fiscalização são de importância fundamental.
Após a independência, a fuga em massa da maioria dos colonos portugueses, os trabalhadores
domésticos em Moçambique não foram integrados nas novas estruturas trabalhistas. O que
deu ao trabalho doméstico um carácter informal após a independência não foi a exclusão deste
sector do quadro da lei laboral.

Em 2008, foi aprovado o Regulamento do Trabalho Doméstico através do Decreto nº


40/2008 resultado de reivindicações pelo movimento sindical e feminista, ao nível
nacional e internacional. O Decreto prevê a extensão de direitos laborais e sociais a
este sector historicamente marginalizado, incluindo: o direito a uma jornada de
trabalho fixa; ao descanso diário, semanal e anual; a inscrição no sistema da segurança
social obrigatória; as condições adequadas de saúde e segurança ocupacional; e a
compensação por acidentes de trabalho. Dez anos após a formalização do trabalho
doméstico, este estudo analisa o seu impacto nas condições de trabalho; e apresenta
uma série de recomendações para o Estado, o movimento sindical e o movimento
feminista2.(Branco, 2019, pág. 311)

"Empregado doméstico é aquele que presta serviços de natureza continua e de finalidade não
lucrativa a pessoa ou a família, no âmbito residencial destas3. "(Martins, 2010, pág. 29)

O empregador doméstico é a pessoa ou família que, sem finalidade lucrativa admite


empregado doméstico para lhe prestar serviços de natureza continua para seu âmbito
residência.

2
BRANCO, Ruth Castel, O Trabalho Doméstico Em Moçambique: Uma Década Após A Sua Formalização,
Fórum Mulher, Maputo, 2019, pág. 311.
3
MARTINS, Sérgio Pinto, Direito do Trabalho, volume 10, 11ª edição, Atlas Editor, São Paulo, 2010, pág. 29
4
1.4 Breve historial do sindicato de trabalhadores domésticos

"Moçambique durante o período de dominação colonial, os trabalhadores domésticos não


tinham oportunidade de se organizar em associações muito menos em sindicatos4."(Carlos,
2015. Pág. 10-11)

O sindicalismo era imputado directamente da metrópole e era de carácter corporativo,


discriminatório, e compulsivo com intuito de enfraquecer o desenvolvimento de consciência
de classe trabalhadora.

Com a independência do país em 1975, foram criados sindicatos genuinamente


moçambicanos onde o desenvolvimento do trabalho sindical aumentou de forma crescente e o
despertar da consciência de classe dos trabalhadores domésticos facto que ano de 2006 deu
espaço para a criação do Sindicato Nacional dos Empregados Domestico (SINED), o qual
veio a ter o reconhecimento jurídico no ano de 2008.

SINED

O SINED é uma organização representativa dos trabalhadores domésticos associados


que exercem as suas actividades dentro do território nacional, criado por um grupo de
trabalhadores, no bairro de Urbanização (Igreja Evangélica Sal do Mundo), onde se
encontrava regularmente nas terças e quintas-feiras após a jornada laboral.

Representado pela Maria Joaquim, na qualidade de Secretária Geral e conta até então
com um total de 2.492 membros inscritos, apenas em três províncias nomeadamente, Maputo,
Inhambane e Tete num horizonte de 11 províncias segundo a divisão territorial, um número
que está muito aquém do total e/ou da maioria dos trabalhadores domésticos existentes nas
três Províncias, não só como também no País em geral5.(Ramos, 2013, pag.24)

A sua criação constituiu um imperativo importante face ao aumento do número de


membros nas fileiras do movimento sindical e na defesa dos direitos e interesses dos
trabalhadores, partindo do princípio que é um classe social mais desfavorecida e grande

4
CARLOS, Kate, Sindicato Nacional dos Empregados Domésticos: conselho Sindical Nacional, Projecto
SINED/SASK. Maputo, 2015. Pág. 10-11.
5
RAMOS, Mariana Raposo Louro, Serviço Doméstico: perfil das empregadas domésticas e necessidades das
famílias empregadoras, Dissertação (Mestre em Família e Sociedade), Departamento de Sociologia, Instituto
Universitário de Lisboa (ISCTE IUL), Outubro, 2013, pag.24.
5
número têm dificuldades de ler e escrever o que torna mais vulnerável as suas relações
laborais.

Apesar de o país ter aprovado uma legislação específica (Regulamento do Trabalho


Doméstico, Decreto n° 40/08 de 26 de Novembro de 2008) para regular as relações laborais, a
maioria dos trabalhadores domésticos não conhece esta lei e certas entidades empregadoras
não permitem que os seus trabalhadores domésticos gozem do direito de associação e muito
menos da liberdade sindical, criando todo o tipo de obstáculo para estes trabalhadores6.

Uma das principais dificuldades com que se depara o SINED como servidor dos
interesses dos trabalhadores domésticos assenta principalmente na fraca sustentabilidade,
sobre tudo na implantação do sindicato em todas províncias, disseminação do Regulamento,
estatutos e programas do SINED bem como recursos necessários para levar acabo a campanha
de ratificação da Convenção 189 sobre a protecção Trabalhadores Domésticos7.

1.5 Actualização Do Contexto

Nos últimos anos a República de Moçambique tem sido incluída entre as economias que
mais crescem em África. Em 2013 muitas estatísticas foram unânimes em colocar
Moçambique no primeiro lugar. Com efeito, o progresso económico do país é visível, desde
que o país abraçou a economia do mercado em detrimento da economia centralmente
controlada. O poder de compra da maioria dos moçambicanos tem estado a crescer, sobretudo
nas grandes cidades onde pode ser facilmente demonstrado pelo aumento de viaturas e
construção de casas consideradas luxuosas, mesmo pelos padrões mundiais. Esta mudança de
padrões de vida deve-se a melhoria de salários em alguns sectores de actividades (sobretudo
no sector terciário) bem como a flexibilização do crédito bancário, o que possibilita que
mesmo indivíduos de renda relativamente baixa possam adquirir bens de relativa qualidade
sem ter que efectuar o pagamento imediato.

Contudo, é importante observar que o desenvolvimento económico atrás referido em


termos reais é selectivo, porque somente beneficia uma pequena parcela da população,
sobretudo a que reside e/ou trabalha nos grandes centros urbanos. Aliás, importa referir que os
chamados centros das cidades em Moçambique cada vez mais vão se tornando em áreas de
serviço do que de residência, pois os que outrora lá viviam optaram ou foram "forçados" pelas

6
CARLOS, Kate, Sindicato Nacional dos Empregados Domésticos: conselho Sindical Nacional, Projecto
SINED/SASK. Maputo, 2015. Pág. 12
7
BRANCO, Ruth Castel, O Trabalho Doméstico Em Moçambique: Uma Década Após A Sua Formalização,
Fórum Mulher, Maputo, 2019. Pág.5 e 6.
6
circunstâncias a vender ou arrendar as suas habitações à particulares ou instituições de grande
pujança financeira. Portanto, é verdade que alguns moçambicanos melhoraram os seus
padrões de vida, mas também não deixa de ser verdade que as condições de vida da maioria
da população tem estado a piorar com o andar do tempo. A título de exemplo, nos próprios
centros urbanos é fácil cruzar com passageiros que ficam longas horas nas paragens de
transporte público ou viajam em condições deploráveis nos chamados "chapas", "my love "
"ver Mozambique"8.(Carlos, 2015. Pág. 16-17)

O tecido social tem estado a deteriorar: saneamento fraco ou mesmo inexistente,


estradas esburacadas, aumento da criminalidade, aumento da corrupção e da impunidade,
aumento das desigualdades sociais.

A nível sociopolítico, as mudanças tem sido significativas mas muito lentas e por isso
de difícil percepção. O partido Frelimo (Frente de Libertação de Mozambique) continua a
dominar em todas as áreas da vida em Moçambique - da economia à cultura, passando pela
religião, artes e até mesmo nas chamadas organizações da sociedade civil. Contudo, os
resultados das últimas eleições autárquicas mostraram uma grande e surpreendente ascensão
do MDM (Movimento Democrático de Moçambique) que agora governa em alguns
municípios estratégicos tais como: Beira, Quelimane e Nampula para além de ter conseguido
resultados históricos nos municípios de Maputo e Matola. As recentes eleições legislativas e
presidenciais (conquistadas pela Frelimo, mas largamente contestadas pela oposição e público
em geral), mostraram que a Renamo (Resistência Nacional de Moçambique) e o seu líder
ainda gozam de grande popularidade e devem ser levados em conta no xadrez político
moçambicano.

Ora, como foi atrás mencionado, enquanto alguns moçambicanos enriquecem, outros
empobrecem. Isto faz com que automaticamente os que possuem muitas posses tenham
vontade e necessidade de ter alguém a trabalhar para eles e, em contrapartida, os de poucas
posses aceitam qualquer tipo de trabalho " só para não ficar em casa". Assim, uma das
características do mercado laboral moçambicano e a prevalência de empregos precários,
consubstanciados pelo surgimento de empresas multinacionais, pequenas empresas de
prestação de serviços, incluindo agências de contratação e aumento de empregados
domésticos.

8
CARLOS, Kate, Sindicato Nacional dos Empregados Domésticos: conselho Sindical Nacional, Projecto
SINED/SASK. Maputo, 2015. Pág. 16-17
7
No caso concreto de empregados domésticos, a precarização é tal que não existe
especificação ou limites em termos de tarefas que um individuo executa, pois a mesma pessoa
executa todo o tipo de tarefas impostas pelo seu empregador, dai o uso da expressão
"profissionais do lar" para se referir a todas as pessoas que trabalham numa casa 9.(Carlos,
2015, pág. 18-19

Devido ao elevado índice de desemprego e a falta de formação dos empregados


domésticos o acompanhamento da situação neste sector tem sido difícil porque as pessoas não
têm coragem de se pronunciar por temer represálias e, por outro lado não têm consciência dos
seus direitos. Aliás, é do interesse dos próprios empregadores considerar o trabalho doméstico
como uma relação familiar e não profissional, porque deste modo podem ter controlo total
sobre os seus empregados, podendo usá- los e abusá-los conforme lhes for conveniente sob o
pretexto de lhes estar a prestar um favor ou ajudar um familiar "que estaria a sofrer por falta
de emprego".

1.6 Dificuldades do Sindicato Nacional dos empregados domésticos

A fraca cultura do associativismo em Moçambique de um modo geral e a fraqueza do


movimento sindical em particular, contribuem grandemente na Inibição da sindicalização dos
trabalhadores domésticos. Com efeito, para alguma camada dos moçambicanos é mais fácil
progredir na vida actuando de forma individual do que ligado a uma associação. Olhando
concretamente para os sindicatos, quando se fala de um "sindicato forte capaz de defender os
direitos e interesses dos seus membros", é bastante difícil encontrar exemplos moçambicanos
suficientemente atrativos para os empregados domésticos, e não só10.(Carlos, 2015, Pág. 20)

1.7 Reconhecimento por parte de sindicatos, legisladores e acadêmicos das


contribuições feitas pelos trabalhadores domésticos ao lar e à economia de modo
geral

Até há pouco, os trabalhadores domésticos moçambicanos eram excluídos das


protecções laborais. Em 2008, a Assembléia da República de Moçambique emendou a Lei de
Trabalho através do Decreto 40/2008, estendendo protecções laborais aos trabalhadores
domésticos. Para Albertina, esse foi um importante primeiro passo rumo à melhoria das
condições de trabalho. "Éramos tratados como invisíveis, neutros. Sabíamos que existíamos,

9
CARLOS, Kate, Sindicato Nacional dos Empregados Domésticos: conselho Sindical Nacional, Projecto
SINED/SASK. Maputo, 2015. Pág. 18-19
10
CARLOS, Kate, Sindicato Nacional dos Empregados Domésticos: conselho Sindical Nacional, Projecto
SINED/SASK. Maputo, 2015. Pág. 20
8
mas o governo não nos reconhecia. O estado tratava nosso trabalho como trabalho voluntário
e, assim, sentiam que não precisavam de nos fornecer qualquer protecção laboral11.

Enquadrado em termos de direitos e deveres, os trabalhadores domésticos agora têm o


direito a um contrato, horários definidos, intervalos, um dia de fim-de-semana, ferias anuais
remuneradas, segurança social e assistência médica e medicamentosa em caso de acidente de
trabalho ou doença profissional. Por sua vez, eles têm o dever de ser pontuais, obedientes,
higiénicos, leais e manter boas relações com outros trabalhadores, visitantes e terceiros.

A aprovação do Decreto 40/2008 reflecte um crescente reconhecimento por parte de


sindicatos, legisladores e académicos das contribuições feitas pelos trabalhadores domésticos
ao lar e à economia de modo geral. De acordo com a Assembleia da República, "o trabalho
doméstico é um sector de alta importância em Moçambique, com relação ao número de
empregos incluídos nesse sector, além das implicações sociais e económicas. Para um
movimento laboral que vem enfraquecendo, este sector em crescimento é a mais nova frente
de organização.

Actualmente, há três organizações em Maputo que representam os trabalhadores


domésticos: a Associação de Empregados Domésticos de Moçambique; Associação das
Mulheres Empregadas Domésticas; e o Sindicato Nacional de Empregados Domésticos.
Todas as três organizações são afiliadas ao movimento laboral12.

1.8 Órgãos do Sindicato de empregadores domésticos

1.9 Recrutamento de membros

O SINED tem três pilares principais de trabalho. O primeiro é o recrutamento de membros.


Três vezes por semana, faça chuva ou faça sol, os organizadores do SINED abordam os
trabalhadores domésticos na paragem de chapa. "Manter uma presença constante é muito
importante", explica Célia Mucambe, a Secretária Executiva do SINED para a província e
cidade de Maputo. "Não se trata de apenas recrutar membros, mas de também ajudar os
trabalhadores domésticos a lidar com seus problemas no trabalho. Isso os leva a confiar no
sindicato ".

11
REPÚBLICA DE MOCAMBIQUE, Decreto nº40/2008 de 26 de Novembro, Aprova o Regulamento Sobre o
Trabalho Doméstico, in Boletim da República, I Série – Número 25.
12
REPÚBLICA DE MOCAMBIQUE, Decreto nº40/2008 de 26 de Novembro, Aprova o Regulamento Sobre o
Trabalho Doméstico, in Boletim da República, I Série – Número 25.
9
Sindicatos concorrendo uns com os outros e organizações laborais fraudulentas

tornaram alguns trabalhadores domésticos céticos em relação aos sindicatos13. (2015. Pg. 23)

Membros

Pagamento de quotas

Os membros do SINED pagam cotas mensais equivalentes a 1% de seus salários. Sem


acesso às folhas de pagamento, o sindicato tem que confiar nas declarações salariais feitas
pelos próprios trabalhadores. Contudo, a estrutura de cotas cria um incentivo para que os
membros relatem salários inferiores aos salários reais. Além disso, sem a capacidade de
dedução automática das cotas, o SINED tem dificuldade em colectar as cotas de seus
membros. ‘Algumas pessoas se afiliam e depois desaparecem", observa o camarada Francisco
Sambo, a Secretário do SINED para Relações Internacionais. E isso apresenta desafios para a
estabilidade e sustentabilidade financeira do sindicato - um desafio comum entre as
organizações de trabalhadores em geral.

Membros com as cotas em dia podem ter acesso aos serviços de mediação do sindicato
gratuitamente. Aqueles que não são membros devem pagar 15% da taxa de acordo. A ênfase
do SINED recai sobre a conciliação, e não no confronto.

"Ninguém ganha se um trabalhador doméstico é demitido", explica Sambo. “Então,


primeiro estimulamos os trabalhadores a pensar sobre maneiras de reduzir a gravidade do
conflito através da comunicação individual com empregador". Caso isso não funcione, os
empregadores são convocados a comparecer ao sindicato. “Falamos com um tom calmo,
tentamos entender o ponto de vista do empregador e fazer lembrar ambas as partes da longa
história que têm juntas", acrescenta Sambo. Apenas uma pequena fracção de casos é
encaminhada ao COMAL.

O último pilar de trabalho realizado pelo SINED é a mobilização. O SINED depende


muito de líderes como Albertina para ajudar a organizar suas acções.

13
CARLOS, Kate, Sindicato Nacional dos Empregados Domésticos: conselho Sindical Nacional, Projecto
SINED/SASK. Maputo, 2015. Pg. 23
10
1.10 CONCLUSÃO

Depois da realização deste trabalho, foi possível constatar as seguintes conclusões:

No cômputo geral, Em Moçambique, o trabalho doméstico não foi sempre um sector


feminino; e que mesmo hoje, metade dos trabalhadores domésticos em Moçambique são
homens. No entanto, o trabalho doméstico é a maior fonte de emprego para mulheres e a
terceira maior actividade económica depois de camponesa e pequena comerciante.

Nesta senda, Os trabalhadores domésticos eram particularmente vulneráveis aos castigos


corporais. A mais pequena infracção, desde partir uma chávena ou queimar um lençol ao
engomar, até acusações como desobediência, dava azo a uma visita ao administrador local
para ser corporalmente castigado com uma palmatoria.

Com o início da luta armada, o chibalo foi abolido e entrou em vigor o Regulamento dos
Empregados Domésticos. Embora sugira que, neste período posterior, o Estado fazia cumprir
a protecção laboral, inspeccionava casas, e multava os empregadores que prevaricavam, os
trabalhadores domésticos continuaram a trabalhar jornadas muito longas, e com elevados
níveis de controlo e de abuso.

Por outro lado, Moçambique durante o período de dominação colonial, os trabalhadores


domésticos não tinham oportunidade de se organizar em associações muito menos em
sindicatos.

O sindicalismo era imputado directamente da metrópole e era de carácter corporativo,


discriminatório, e compulsivo com intuito de enfraquecer o desenvolvimento de consciência
de classe trabalhadora. Com a independência do país em 1975, foram criados sindicatos
genuinamente moçambicanos onde o desenvolvimento do trabalho sindical aumentou de
forma crescente e o despertar da consciência de classe dos trabalhadores domésticos facto que
ano de 2006 deu espaço para a criação do Sindicato Nacional dos Empregados Domestico
(SINED), o qual veio a ter o reconhecimento jurídico no ano de 2008.

Em fim, percebeu-se que o SINED é uma organização representativa dos trabalhadores


domésticos associados que exercem as suas actividades dentro do território nacional, criado
por um grupo de trabalhadores, no bairro de Urbanização (Igreja Evangélica Sal do Mundo),
onde se encontrava regularmente nas terças e quintas-feiras após a jornada laboral.

11
1.11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REPÚBLICA DE MOCAMBIQUE, Decreto nº40/2008 de 26 de Novembro, Aprova o


Regulamento sobre o Trabalho Doméstico, in Boletim da República, I série – número 25.
Branco, R. Castel-. Assuntos Laborais e Jurídicos da Consilmo, Maputo, 2012.

Branco, Ruth Castel-, O Trabalho Doméstico em Moçambique: uma década após a sua
formalização, Fórum Mulher, Maputo, 2019.
Branco, Ruth Kélia Castel, No rescaldo da liberalização: a (re) formalização do trabalho
doméstico na cidade de Maputo.
Carlos, Kate, Sindicato Nacional dos Empregados Domésticos: conselho Sindical Nacional,
Projecto SINED/SASK. Maputo, 2015.

Ramos, Mariana Raposo Louro, Serviço Doméstico: perfil das empregadas domésticas e
necessidades das famílias empregadoras, Dissertação (Mestre em Família e Sociedade),
Departamento de Sociologia, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE IUL), Outubro, 2013.

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