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LIVRO III

É feita a diferenciação entre as ações voluntárias e as involuntárias, estas últimas


caracterizando aquelas ações que ocorrem ‘sob compulsão ou por ignorância’.

Há muitas situações práticas nas quais nos encontramos envolvidos, que por ignorância ou
contingência, praticamos involuntariamente, p.ex. deixar de pagar uma dívida por falta de
dinheiro, pressão de necessidades fisiológicas, descarte de um bem por incapacidade de mantê-
lo, etc.

São situações forçadas, não-voluntárias (por ignorância) ou involuntárias (por produzirem


efeitos de dor ou arrependimento).

Depreende-se, portanto, que a prática de atos involuntários envolve a existência de um contexto


desfavorável que faz surgir o ilícito, no qual resulta uma responsabilidade apenas contingenciada
pelas circunstâncias, das quais todos nós em alguma ocasião podemos estar submetidos. Ora,
isto implica uma predisposição de caráter superior, privilégio apenas de pessoas dotadas de
heroísmo ético, que sabem superar os constrangimentos.

A escolha parece ser voluntária, mas não se identifica com o voluntário, pois a escolha envolve
um princípio racional e o pensamento. Reciprocamente, nem tudo que é voluntário parece ser
objeto de escolha, como nosso desejo de imortalidade.

Onde ficam então nossas deliberações? Deliberamos sobre as coisas que estão ao nosso
alcance e podem ser realizadas. Porém, nem tudo pode ser objeto de nossas deliberações, por
estarem além de nosso arbítrio, como a veracidade das leis naturais, a certeza dos números, etc.
Por outro lado, as deliberações guardam estreita relação com as investigações, mas nem toda
investigação é deliberação.

Ora, deliberamos afim de obter o melhor bem em cada situação, pois em princípio ninguém
deseja o que é mau .Para aqueles que escolhem fazer o mal, isto ocorre por não perceberem a
verdade inerente a cada ato.

Nossa liberdade nos capacita sermos vis ou virtuosos, bons ou maus. Para tanto, temos que
escolher os meios e estabelecer o que queremos alcançar, ou seja, os fins de nossos atos.

Se muitas vezes os fins não estão claros, a virtude as resumirá na consciência dos meios. Por
isso, estamos diante de disposições de caráter, que escolhem os meios a partir de nossas
próprias tendências.
Este item nos fala do medo e da confiança, cujo meio-termo é a coragem. Para nós, as coisas
que tememos as consideramos como males, como a doença, o infortúnio e a morte. O bravo ou
destemido é o que enfrenta os perigos com valentia.

A covardia, a temeridade e a bravura estão todas relacionadas com a coragem. Se as duas


primeiras pecam por falta ou por excesso, a bravura é sua posição mediana.

Espécies de coragem. Aristóteles nos descreve cinco:

 a coragem do cidadão-soldado: convocado para o combate, fica a mercê dos infortúnios e das
glórias que as guerras oportunizam.

 a coragem oriunda do conhecimento (Sócrates), quando este é desafiado pelos perigos e


paradoxos da existência.

 a coragem existente nos apaixonados, quando comumente esses se lançam no destemor das
conquistas.

 a coragem proveniente do otimismo, pela confiança na obtenção dos resultados.

 a coragem proveniente da ignorância dos perigos.

A coragem está mais relacionada ao medo que à confiança. Nisto, preponderante é o medo da
dor.

A temperança: é um meio-termo em relação aos prazeres. Estes podem ser corporais e


espirituais. Àqueles que gostam dos prazeres da alma não podemos chamá-los temperantes ou
intemperantes. Deixar-se dominar pelas intemperanças é próprio dos brutos.

O intemperante almeja tosas as coisas agradáveis ou as que mais o são, e é levado pelo seu
apetite a escolhê-las a qualquer custo. Muitos sofrem por não obtê-las.

A intemperança é mais voluntária que a covardia, pois se esta foge da dor, aquela só procura o
prazer. As crianças poderão ser vítimas da intemperança, se não forem educadas a controlar
seus apetites. Em conclusão deverá sempre haver um princípio racional a guiar nossas
tendências.

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