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Resenha - Raça e História de Claude Lévi Strauss

O ensaio “Raça e História”, de Claude Lévi-Strauss, publicado em 1952 pela


Unesco, tinha como objetivo combater o racismo e as diversas formas de
pensamentos que tornavam tal preconceito “legítimo”.
Dessa forma é possível afirmar que Lévi-Strauss propõe uma noção
divergente de cultura, história e sociedade, na qual não se mede as diferenças entre
povos através de uma régua que determina superioridade ou inferioridade. O autor
começa fazendo uma reflexão sobre o que determina o progresso de uma
sociedade, e como a noção de "Barbárie" é relativa aos critérios usados para a
análise. Ou seja, uma sociedade indígena nativa da américa látina é imensamente
diferente de uma sociedade do século XV, mesmo elas sendo contemporâneas, e se
o critério de progresso que for analisado for a capacidade de produção de alimentos,
a de poderio militar, ou até mesmo a produção de energia como diz Lévi-Strauss, a
sociedade Europeia será muitas vezes vista como “superior” em termos de
progresso, porém se o critério levado em consideração for a capacidade de
sustentabilidade, a “régua do progresso” irá determinar que a sociedade indígena
está anos à frente da sociedade européia.
Nessa linha de raciocínio é também possível explicar como a classificação de
um povo como sendo bárbaro ou selvagem em relação à outro não é válida e
portanto não se sustenta como uma verdade que justifica a superioridade.
Lévi-Strauss no ensaio “Raça e História” diz que “O bárbaro é em primeiro lugar o
homem que crê na barbárie”, ou seja, o povo que enxerga o outro como bárbaro
abre espaço para a legitimação da violência uma vez que não enxerga o outro como
humano, e o uso dessa violência vai dar frutos a atos destituídos de humanidade, e
como consequência para certas vertentes filosóficas destituídos de racionalidade,
dessa forma tornando aquele que acreditou na barbárie e utilizou ela como uma
justificativa um selvagem.
Ainda assim, Lévi-Strauss na brochura propõe uma reflexão à das teorias
evolucionistas, na qual a noção de superioridade entre culturas e povos têm certo
aspecto biológico, ou melhor, um aspecto pseudo biológico, uma vez que os
conceitos mais utilizados para tentar explicar a superioridade inerente de certos
povos e certas raças não passa de uma cópia, mal feita e carente de evidências, da
Teoria do Evolucionismo de Darwin, a Teoria do Evolucionismo Social ou Darwinismo
Social.
Enquanto que a primeira foi meticulosamente construída seguindo os critérios
do método científico, a segunda é meramente uma tentativa de apropriação da
lógica e de pressupostos usados por Darwin. Ela afirma que as sociedades também
passam por um processo de seleção natural no qual aquelas mais “aptas”
sobrevivem. Isso abre uma brecha para a legitimação da dominação entre os povos,
uma vez que determina que os povos mais aptos intelectualmente e fisicamente se
desenvolvem mais que outros, e por isso há uma hierarquização das sociedades e
das raças.
Logo após discorrer sobre as comparações entre sociedades, Lévi-Strauss
inicia uma discussão sobre como o progresso ocorre, ele cita dois tipos de história
para iniciar seu argumento, a estacionária e a cumulativa. Esses tipos têm a ver com
a forma na qual as diferentes sociedades interagem entre si e ocorre a troca de
culturas e tecnologias. O primeiro tipo é a história na qual os povos não alcançam o
progresso, por não terem tido contato com outras culturas ao longo do tempo, e o
segundo tipo, como o nome diz, é a história que acumula o progresso de várias
sociedades que interagem entre si e trocam experiências.
O exemplo usado pelo autor para ilustrar esses tipos de história é técnico,
uma vez que usa a matemática para estabelecer uma relação com jogos de aposta,
mais especificamente a roleta. Supondo que os indivíduos que jogam na roleta e
apostam nos números sejam os povos e as sequências ocasionais de números
sejam o progresso, as chances de um indivíduo isolado conseguir ganhar ao apostar
em uma sequência de dois ou três números no decorrer de um número de apostas
limitadas são relativamente baixas, e elas diminuem mais ainda se o objetivo foi
conseguir uma sequência ainda maior, de nove ou dez números por exemplo. Porém
se for usada a mesma analogia do jogo de roleta para um grupo maior de indivíduos,
se ao invés de um único indivíduo isolado forem usados um grupo de dez indivíduos
e no final das dez apostas de cada um deles eles forem juntas os números, as
chances de terem conseguido as sequências de dois ou três números e as de nove
ou dez números são muito maiores que as chances do indivíduo isolados.
Esse é o exemplo usado por Lévi-Strauss, no qual ele afirma que o progresso
das sociedades humanas ao longo do tempo se deu da mesma forma na qual o
grupo de indivíduos juntaram seus números para formar as sequências numéricas.
Pode-se afirmar que as sequências numéricas menores são os pequenos avanços
tecnológicos e culturais, enquanto que as grandes sequências são as grandes
revoluções que aconteceram ao longo da história da humanidade, sendo as
principais citadas por Lévi-Strauss a Revolução Neolítica e a Revolução Industrial.
Por fim, Lévi-Strauss apresenta uma contradição dentro da história
cumulativa, a qual o progresso é baseado na internacionalização da diversidade de
diferentes culturas e por isso um pré-requisito para tal progresso é a colaboração
entre povos diversos e similares, porém é também uma realidade o fato de que
“nenhuma fração da humanidade dispõe de fórmulas aplicáveis ao conjunto”,
(Lévi-Strauss, 1952, p. 23), isto é, apesar das sociedade precisarem da colaboração
e internalização de outras culturas, elas irão sempre continuar diferentes e
autênticas em relação umas às outras.
Portanto, Lévi-Strauss finaliza o ensaio deixando explícito a importância da
diversidade e sua preservação através do respeito e da tolerância entre nações,
povos, etnias, etc. E da mesma forma explicitando como as instituições
internacionais são essenciais para a consolidação do respeito mútuo e para a
colaboração que, em síntese, gera a diversidade e a preserva, o que é de suma
importância uma vez que sem ela não há progresso.

REFERÊNCIAS
EDUCA+ BRASIL. DARWINISMO SOCIAL. Disponível em:
https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/sociologia/darwinismo-social. Acesso em:
18 out. 2021.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. 1. ed. França: Unesco, 1952. p. 1-24.

SIGNIFICADOS. Evolucionismo Social. Disponível em:


https://www.significados.com.br/evolucionismo-social/. Acesso em: 18 out. 2021.

WIKIPÉDIA. Darwinismo social. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Darwinismo_social. Acesso em: 18 out. 2021.

WIKIPÉDIA. Raça e História. Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Ra%C3%A7a_e_Hist%C3%B3ria. Acesso em: 18 out.
2021.

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