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TEORIA DA ESTRUTURA SOCIAL

Perspectiva de Georges Gurvitch (1894-1965)1

Daniel Aníbal QF2

[…]“ não mais sobre o que se afirma como sujeito, mas


sobre o que se afirma como experiência deste sujeito trará
a sociologia, a historia e as ciências sociais
particulares.”[George Gurvitch]

 Considerações iniciais

Georges gurvitch (1894-1965), Russo de nascimento, naturalizado Francês em


1928. Licenciado e Doutor em direito por Sampetesburgo/Petrogrado. Participa, com
Lenine, na Revolução Bolchevique de 1917. Ensinou sucessivamente em petrogrado,
Praga, Paris, Bordéus e Estrasburgo. Diretor do Instituto Sociológico Francês; Diretor
de Estudos na École des Hautes Etudes [1942]. Foi secretario geral do Instituto
Internacional de Sociologia do Direito [Paris, 1931-1940]; Editor de Archives de
Philosophie du Droit et de Sociologie Juridique [Paris, 1931-1940];

Georges Gurvitch é, possivelmente, um dos últimos pensadores sociais que


tiveram a audácia de propor um sistema próprio de compreensão global do fenômeno
humano, buscando uma união entre uma filosofia pluralista, uma formação
fenomenológica e as aquisições da ciência social de inspiração mais positivista.

Gurvitch na condição de filósofo, preocupa-se em atingir, por um processo de


"redução e inversão", a essência do fenômeno jurídico e moral,

1
Resumo para aula de “Sociologia Geral II”, 2021. George Gurvitch:
assume-se como discípulo de Eugen Ehrlich e como admirador de Proudhon.
Refugia-se nos estados unidos durante a II Guerra Mundial. A partir de 1949
ensina sociologia na Sorbonne, retomando a tradição de Èmile Durkheim e
Marcel Mauss.

2Licenciando Sociologia (opção: Problemas Sociais ) na Universidade


Agostinho Neto, Faculdade de Ciênciais Sociais. QF(Quarteto Fantástico )_
Pseodónimo atribuído ao grupo de quatro jovens, estudantes de Sociologia na
Faculdade de Ciências Sociais, Universidade Agostinho Neto: Aguinaldo
Cardoso, Augusto Martins, Daniel Aníbal e Francisco António.

1
Abandonada a construção do objecto filosófico, Gurvitch não mais admite,
praticamente, uma perspectiva construtivista nas ciências sociais, uma vez que o que lhe
importa, sempre, é a descrição detalhada e nuançada de todos os níveis e formas da
realidade social (Nascimento/ s.d).

 Gurvitch e a Realidade Social

A sua preocupação básica, não apenas como ser humano, que vive segundo um
quadro valorativo, mas inclusive enquanto sociólogo, é o Humano. O que vai orientar
seu estudo para os tipos, estruturas e totalidades sociais é o aspecto humano.

E este interesse pelo humano não é um interesse neutro, ou indiferente, mas


preocupado com sua nota fundamental, que o caracteriza e o define enquanto tal, isto é,
a condição humana.

E este interesse pelo humano não é um interesse neutro, ou indiferente, mas


preocupado com sua nota fundamental, que o caracteriza e o define enquanto tal, isto é,
a condição humana. Esta seria, na realidade, a base para uma sociologia da sociologia
de Gurvitch. (Schwartzman, 1960. 10)

Por conseguinte é possível verificar através da sua abordagem que Gurvitch


deixa de lado todo construtivismo, e a primeira evidência que possuímos é a de nossa
existência em sociedade, e a existência de uma realidade social essencialmente humana.

O que dá o caráter social a determinado fenômeno é o fato de ele ser criado,


destruído, modificado, conhecido, sentido ou intuído pela ação do homem.

No momento em que o individuo age, e quando toma contato com o que lhe é
heterogêneo, este sujeito toma consciência de si enquanto "eu", ou enquanto "nós", ao
tempo que o heterogêneo surge como realidade para ele; só aí o sujeito existe enquanto
humano, e a realidade enquanto realidade social. Desta forma o sujeito social não é, mas se
experimenta no ato3 .(apudi).

3
A noção de ato é ampla, e indica toda e qualquer referenciação do
sujeito ao que não e ele, quer na forma mais passiva, de simples contemplação
a algo que se lhe antepõe. (Schwartzman, 1960, 07)

2
A sua teoria sistémica concilia com a ideia de sociedade global4, entendida como aquele
fenómeno social total que ultrapassaria os agrupamentos funcionais e as classes sociais.

A sociologia científica se afasta, assim, de uma concepção que pretenda, com


ela, ampliar progressivamente "a consciência que o homem tem de si mesmo", que seja
ao mesmo tempo conhecimento do humano e conhecimento humanista. O social,
enquanto conhecido cientificamente, não teria nada que ver com a experiência "real",
quotidiana, e sim com uma experiência controlada e artificial, que é a experiência da
elaboração científica.

Esta seria, na realidade, a base para uma sociologia da sociologia de Gurvitch,


ou de intentos semelhantes.

A sociologia gurvitchiana pode se dar ao luxo, assim, de pretender ser ao mesmo


tempo suficientemente científica para despir-se dos dogmatismos e simplificações
inerentes a toda ideologia que tenha vigência social, e suficientemente geral e
globalizante para satisfazer às necessidades de sistema de seus adeptos. A conseqüência,
entretanto, é que ela se torna demasiado científica para os que necessitam de uma
ideologia, e demasiado ideológica para quem busca ciência.

4 Uma sociedade global seria um macrocosmos de macrocosmos sociais,


assumindo, na maior parte dos casos, grande envergadura, sendo dotada de
uma quádrupula soberania: social, económica, jurídica e política.
[Nascimento/s.d]

3
Referências Bibliográficas

GURVITCH George. Editions Seghers , 1969.


JOSÉ, Bolzan de Morais, Perspectives de la sociologie contemporaine. Hommage à
Georges Gurvitch.PUF, Paris, 1968 pág.28-43
SCHWARTZMAN Simon, “As ciências do homem”. (Curso de Sociologia e Política,
Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade de Minas Gerais, 1960). Pág 10-18.

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