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MANUAL Susan Harter-Francisco Peixoto
MANUAL Susan Harter-Francisco Peixoto
Esta escala, foi construída por Susan Harter (1985) a partir da Perceived
Competence Scale for Children (Harter 1982 ). Á escala original, constituída
por três sub-escalas destinadas a avaliar três domínios específicos do auto-
conceito e por uma destinada a avaliar a auto-estima, foram acrescentados
dois domínios específicos , resultando assim o Self Perception Profile (Harter,
1985),constituído por um total de seis sub-escalas. Foi ainda acrescentado,
nesta versão, mais um conjunto de 10 itens destinados a avaliar a importância
atribuída a cada um dos domínios específicos considerados. Foi esta última
versão que esteve na origem da adaptação para a população portuguesa.
A partir dos trabalhos realizados por Correia (1989) e Senos (1990) e tendo por
base as traduções do Self Perception Profile neles apresentadas, elaborámos,
em 1991, uma primeira versão da Escala de Auto-Conceito para crianças. Esta
versão foi aplicada e administrada a 64 sujeitos com o intuito de verificar o grau
de adequação da tradução. Com base nos resultados obtidos procedeu-se à
reformulação de alguns itens.
RACIONAL DA ESCALA
1
A autora da versão original (Harter, 1985) tendo procurado determinar quais os
antecedentes e aspectos correlacionados com a auto-estima, identificou a
influência de dois factores determinantes, assentes nas ideias defendidas quer
por James (1892 cit. Harter, 1985, 1990, 1993a, 1993b) quer por Cooley (1909
cit. Harter, 1985, 1990, 1993a, 1993b).
Para James (1892 cit. Harter, 1985, 1990, 1993a, 1993b) a auto-estima
representa a relação existente entre o sucesso e o nível de aspirações do
sujeito em vários domínios. Com efeito, verificou-se que a competência
percebida em domínios avaliados com importantes para o sujeito é altamente
preditiva da sua auto-estima (Harter, 1985). A auto-estima é igualmente
influenciada pela forma como outros significativos percepcionam o sujeito
(Cooley cit. Harter, 1985, 1990, 1993a, 1993b). De acordo com Harter (1985)
estes dois factores actuam de forma independente na auto-estima.
ESTRUTURA DA ESCALA
Domínios Específicos
1. Competência Escolar
2. Aceitação Social
3. Competência Atlética
4. Aparência Física
5. Comportamento
6. Auto-estima.
2
Conteúdos de cada Domínio:
Cada uma das sub-escalas contém seis itens, constituindo um total de 36 itens
(existe mais um item adicional introduzido como exemplo, mas que não é
cotado). Dentro de cada sub-escala, três dos itens estão construídos de modo
a que a afirmação reflectindo uma alta competência percebida, surja do lado
3
esquerdo, enquanto que nos restantes três a afirmação reflectindo uma alta
competência percebida surge do lado direito. Nos seis primeiros itens, as
diferentes sub-escalas vão aparecendo de forma alternada pela seguinte
ordem: (1) Competência Escolar; (2) Aceitação Social; (3) Competência
Atlética; (4) Aparência Física; (5) Comportamento; (6) Auto Estima Global: Esta
ordem vai manter-se ao longo de toda a escala para os 36 itens que a
constituem.
7 + Algumas crianças acham que são tão inteligentes como outras crianças da sua idade
MAS Outras não têm a certeza de serem tão inteligentes
13 - Algumas crianças demoram muito tempo a fazer os trabalhos da escola MAS Outras
conseguem fazer os trabalhos da escola depressa
19 - Algumas crianças esquecem muitas vezes o que aprendem MAS Outras conseguem
lembrar-se das coisas com facilidade
25 + Algumas crianças são muito boas nos estudos MAS Outras não são muito boas nos
estudos
8 + Algumas crianças têm muitos amigos MAS Outras não têm muitos amigos
14 - Algumas crianças gostavam de ter muitos amigos MAS Outras têm todos os amigos
que querem
20 + Algumas crianças conseguem que as suas ideias sejam sempre aceites pelas outras
crianças MAS Outras não conseguem que as suas ideias sejam aceites.
26 - Algumas crianças gostavam que mais crianças da sua idade gostassem delas MAS
Outras acham que a maior parte dos crianças da sua idade gostam delas
32 + Algumas crianças têm todos os amigos que gostavam de ter MAS Outras gostavam
4
de ter mais amigos porque sentem que têm poucos.
9 - Algumas crianças gostavam de ser muito melhores em desporto MAS Outras acham
que são boas em desporto
15 + Algumas crianças acham que podiam ser boas em qualquer desporto que nunca
experimentaram MAS Outras receiam não ser boas em desportos que nunca
experimentaram
21 + Algumas crianças acham que são melhores do que as outras crianças da mesma
idade a praticar desporto MAS Outras acham que não são capazes de praticar
desporto tão bem
10 + Algumas crianças estão satisfeitas com a altura e peso que têm MAS Outras
gostariam que a sua altura ou peso fossem diferentes
16 - Algumas crianças gostavam que o seu corpo fosse diferente MAS Outras gostam
do seu corpo tal como é.
22 - Algumas crianças gostavam que o seu aspecto físico (a sua aparência) fosse
diferente MAS Outras gostam do seu aspecto físico tal como é.
28 - Algumas crianças gostavam que a sua cara ou os seus cabelos fossem diferentes
MAS Outras crianças gostam da cara e do cabelo que têm.
34 + Algumas crianças acham que são bonitas MAS Outras acham que não são bonitas.
Nº do Sentido COMPORTAMENTO
Item de
Cotação
5 - Algumas crianças não gostam do modo como se portam MAS Outras gostam do
modo como se portam.
11 + Algumas crianças costumam fazer aquilo que devem MAS Outras não costumam
fazer o que devem.
17 + Algumas crianças costumam portar-se como sabem que devem portar-se MAS
Outras crianças não costumam portar-se como sabem que devem portar-se.
5
23 - Algumas crianças arranjam muitas vezes complicações, por causa das coisas que
fazem MAS Outras não costumam fazer coisas que as metam em complicações.
29 - Algumas crianças fazem coisas que sabem que não deviam fazer MAS Outras quase
nunca fazem coisas que não devem fazer.
35 + Algumas crianças portam-se muito bem MAS Outras acham difícil portar-se bem.
12 - Algumas crianças não gostam da vida que têm MAS Outras gostam da vida que têm.
18 + Algumas crianças estão contentes consigo próprias MAS Outras não estão,
normalmente contentes consigo próprias.
24 + Algumas crianças gostam do tipo de pessoa que são MAS Outras preferiam ser outra
pessoa.
30 + Algumas crianças estão muito satisfeitas por serem aquilo que são MAS Outras
gostavam de ser diferentes.
36 - Algumas crianças não gostam muito da maneira como fazem as coisas MAS Outras
acham boa a maneira como fazem as coisas.
FORMATO
6
Algumas crianças Outras conseguem
esquecem muitas lembrar-se das coisas
MAS
vezes o que com facilidade.
aprendem.
Primeiro é pedido ao sujeito que decida com que tipo de criança se considera
mais parecido. Em seguida se julga que é “Tal e qual assim” ou “Um
bocadinho assim”.
COTAÇÃO
7
PASSAGEM DA ESCALA E INSTRUÇÕES
Ao explicar-se o formato das questões é essencial tornar bem claro que para
cada item só pode ser assinalado um quadrado. Convém durante as primeiras
respostas verificar se as instruções foram bem compreendidas.
8
2 Agora que já sabem com qual criança se parecem mais, têm que decidir se
são tal e qual assim ou se são só um bocadinho assim. Se são tal e qual assim,
põem uma cruz no quadrado debaixo do sítio que diz “Sou tal e qual assim”. Se
são só um bocadinho assim, põem a cruz no quadrado debaixo do sítio que diz
“Sou um bocadinho assim”.
3 Este exemplo foi só para treinar. Agora têm mais frases que eu vos vou ler
em voz alta. Para cada uma, marcam só um quadrado, aquele que corresponde
à criança que for mais parecida com vocês”.1
1
Adaptar as instruções em situação de passagem individual.
2
Esta escala não foi adaptada para a população portuguesa, apenas foi traduzida.
9
Nalguns casos podem existir adultos cuja avaliação sobre a criança se pode
considerar importante, por exemplo pais, terapeutas, etc. Estes itens também
podem ser utilizados nessas circunstâncias.
Esta escala não é apropriada para crianças com menos de 8 anos ou abaixo do
3º ano por várias razões. O formato do questionário não é compreensível para
crianças mais novas. Estas ainda não dominam a leitura de modo a
compreenderem os itens, e algumas poderão ter dificuldade na compreensão
dos termos empregues. Por último, segundo Harter (1985) crianças mais novas
não têm ainda consolidada a sua auto-estima enquanto pessoas e portanto
estes itens não farão muito sentido.
Esta escala, pode não ser muito apropriada para crianças com necessidades
educativas especiais, nomeadamente crianças com deficiência mental. Silon e
Harter (1985 cit. Harter, 1985) verificaram que as respostas destas populações
originam um outro padrão factorial implicando uma outra estrutura da escala.
10
A variedade de pontuações obtidas nas diferentes sub-escalas incluídas neste
instrumento, podem ser de grande utilidade de modo a determinar as auto-
percepções de determinada criança nos vários domínios identificados (Harter,
1985). Contudo também é importante saber quais os critérios subjacentes às
respostas das crianças. Trata-se da comparação com grupos de referência? De
critérios baseados no feedback directo ou indirecto, de outros significativos na
vida da criança, por.exemplo pais, pares e professores? De critérios de
desempenho ou comportamento, por exemplo “Eu sou esperto porque eu sei
muito, aprendo rapidamente”; “Eu sei que sou popular porque sou convidado
para todas as festas importantes”; “Eu gosto de mim como pessoa porque sou
simpático para os outros”?
Desta forma podem retomar-se cada uma destas seis questões, revendo a
resposta da criança, e fazendo perguntas do tipo: Como é que tu sabes que
_______________________ (completar com o conteúdo do item considerado,
por exemplo és bom nos teus estudos?) O que é que te faz pensar que
___________________, porque é que dizes isso. Uma técnica de entrevista
clínica, na qual se mostra interesse e curiosidade sobre a resposta da criança,
mais do que procurar levar a criança a justificar a sua resposta, resultará num
3
Aconselha-se algum cuidado na passagem da escala a crianças do 3º ano de escolaridade,
devido a um eventual domínio da leitura que poderá dificultar a compreensão do conteúdo dos
itens.
11
retrato mais minucioso e rico sobre os fundamentos dos julgamentos das
crianças (Harter, 1985).
12
competente em áreas consideradas importantes, então haverá uma pequena
discrepância e a criança deverá obter um valor de auto-estima elevado. Pelo
contrário, se a criança sente que alguns domínios são muito importantes, mas
se os níveis de competência percebida são baixos nessas áreas, deverá então
verificar-se uma discrepância elevada, entre importância e competência,
discrepância essa que resultará numa baixa auto-estima (Harter, 1985, 1990,
1993a, 1993b) .
pela criança foi 3.0 (Importante), 3.5 (entre importante e muito importante) ou 4
(muito importante). Este procedimento deriva do princípio de James (1892 cit.
Harter 1985) de que só os domínios em que o sucesso é considerado
importante têm impacto na auto-estima. Por exemplo, se uma criança sente
que não é importante ter sucesso em desporto, então uma baixa ou alta
competência percebida neste domínio não deve influenciar significativamente a
sua auto-estima. Uma baixa importância atribuída em áreas de baixa
13
competência percebida, indica que a criança é capaz de reduzir a importância
de uma área em que se sente menos competente. Nalguns casos pode
verificar-se a atribuição da importância máxima para os cinco domínios.
Contudo na maior parte dos casos nem todos os domínios são considerados
igualmente importantes.
14
população estudada, entre a discrepância e os valores de auto-estima, para
determinar se o valor encontrado para a criança se adequa a este padrão.
15
ADAPTAÇÃO DA ESCALA PARA A POPULAÇÃO
PORTUGUESA
AMOSTRA
Sexo
Ano de Escolaridade
Feminino Masculino Total
3º 46 49 95
5º 68 58 126
6º 103 98 201
16
PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS
Fidelidade
17
para os sujeitos do 5º e 6º anos de escolaridade, para a totalidade das sub-
escalas.
18
CE AS CA AF C AE ICE IAS ICA IAF IC
CE .62
AS .76
CA .76
AF .74
C .75
AE .67
ICE .56
IAS .46
ICA .78
IAF .68
IC .77
CE - Competência Escolar; AS - Aceitação Social; CA - Competência Atlética; AF - Aparência Física;
IAS - Importância Aceitação Social; ICA - Importância Competência Atlética; IAF - Importância Aparência Física;
IC - Importância Comportamento
Validade
De uma forma geral os resultados por nós obtidos (Quadro 4) revelam uma
estrutura idêntica à apresentada por Susan Harter (1985), embora a ordenação
dos itens, em função dos valores de saturação no factor, seja diferente da
apresentada pela autora.
AS CA AF C AE
20
CE .19 .19 .21 .31 .38
21
influência da área comportamento que apresenta um valor de correlação com a
auto-estima de .51, bastante próximo do valor da aparência física (.56).
22
Quadro 6 - Médias e Desvios-padrão para cada um dos domínios do Perfil de Auto-Percepção
3º Ano 4º Ano 5º Ano 6º Ano Total Total Total Sign. Ano Sign. Sexo
Rapazes Raparigas Escolaridade
M σ M σ M σ M σ M σ M σ M σ
C. E. 2.91 .55 2.79 .60 2.44 .59 2.69 .59 2.72 .60 2.71 .60 2.71 .60 ***
A. S. 2.98 .57 3.05 .54 2.68 .62 2.93 .60 2.99 .56 2.88 .60 2.94 .58 ***
C. A. 2.72 .60 2.74 .67 2.50 .60 2.61 .70 2.83 .63 2.47 .64 2.65 .66 * ***
A. F. 3.10 .66 3.08 .68 2.92 .74 2.88 .72 3.06 .67 2.92 .73 2.99 .70 *
C. 3.00 .58 2.94 .59 2.95 .64 2.98 .57 2.85 .61 3.07 .56 2.96 .59 ***
A. E. 3.13 .58 3.19 .57 3.07 .57 3.15 .53 3.15 .54 3.14 .57 3.15 .56
* Significativo para p< 0.05; ** Significativo para p< 0.01; *** Significativo para p< 0.001;
23
Os efeitos introduzidos pela variável ano de escolaridade constatam-se para as sub-
escalas Competência Escolar (F(3/530)=6.51; p<0.001), Aceitação Social (F(3/530)=6.23;
p<0.001), Competência Escolar (F(3/350)=2.92; p<0.05) e Aparência Física
(F(3/350)=3.74; p<0.05), verificando-se uma diminuição nos valores médios da percepção
de competência, do primeiro para o segundo ciclo do Ensino Básico. Esta diminuição dos
valores de percepção da competência em função do ano de escolaridade corroboram os
de outros estudos anteriores para a população portuguesa (Peixoto & Mata, 1993)
relativamente à diminuição dos valores de auto-percepção para os domínios Competência
Escolar, Competência Atlética e Aparência Física. Em termos gerais, estes resultados
estão de acordo com os encontrados por outros autores (Harter, 1985, Pierrehumbert et.
al., 1987) no que respeita ao decréscimo nos valores das auto-percepções, o que se
deverá, provavelmente, ao facto de as crianças com a idade diversificarem e
aumentarem, não só os modelos de comparação, como os índices considerados, levando
a que a sua auto-imagem se torne mais complexa e subtil.
24
Discrepância entre Competência e Importância
3.6
3.0
AE
2.4
1.8
Regression
1.2
-3.5 -3.0 -2.5 -2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 95% confid.
DISC
25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Harter, S. (1985). Manual for the Self-Perception Profile for Children. Denver:
University of Denver.
Harter, S. & Pike, R. (1983) The Pictorial Scale of Perceived Competence and
Social Acceptance for Young Children - Manual . Denver: University of Denver.
26
ANEXO 8
CÁLCULO DE DISCREPÂNCIA
Exemplo:
----------
Σ= - 1.75
27
(1.75/3)
28