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Direito Financeiro
1. Introdução
Todos esses aspectos, ou seja, todos esses dados extraídos do orçamento público têm um
aspecto político. Por que um aspecto político?
Ele traz o quadro atual econômico do país. Quando se faz um planejamento, deve ser feita
uma análise de diversas áreas da economia, bem como as previsões de receita. Ou seja, uma
análise de riscos para um determinado período da atividade econômica. Enfim, a ideia é de
que tenhamos uma fotografia que nos permita extrair informações possíveis sobre o quadro
atual da economia e possíveis riscos futuros.
Além dos aspectos políticos e econômicos, também temos um aspecto técnico. Quando
falamos do orçamento, estamos falando de uma estimativa das receitas e autorização de
despesas. Esse detalhe técnico do orçamento exige de cada gestor público: uma expectativa,
uma previsão, uma análise de receitas e, por outro lado, uma autorização de despesas .
E, por fim, o orçamento tem também um aspecto jurídico. Porque ele, como instrumento
jurídico que é, existe para obedecer aos comandos da Constituição e da própria legislação. Ou
seja, um orçamento deve respeitar aquilo que está previsto, determinado, orientado pela
Constituição e pelas demais normas aplicáveis.
Em regra, somente poderão ser realizadas despesas públicas que estiverem autorizadas no
orçamento.
2. Princípios orçamentários
É um princípio intrínseco à ideia de Estado Democrático, uma vez que traz disposições tanto
para o cidadão quanto para o Estado. No direito financeiro, no que tange ao orçamento
público, compreende-se que as finanças públicas não podem ser manejadas sem autorização
em lei, nos termos do art. 167, I e II, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988).
Leis complementares: em matéria financeira, chama-se atenção para duas leis: a LC n.º
101/00, também conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e a Lei n.º 4.320/64,
que trata de normas gerais em matéria de direito financeiro. Esta última, embora ordinária na
sua forma, tornou-se complementar por veicular matéria, hoje, adstrita à lei complementar.
Nesse sentido a ADI n.º 1.726-5/DF, que lhe reconheceu a materialidade de lei complementar.
A LRF alcança (i) o Poder Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas, (ii) o Poder Judiciário, (iii)
o Ministério Público e, no (iv) Poder Executivo, a Administração Direta, as (v) Fundações,
Autarquias e Empresas Estatais Dependentes.
Cuidado: Não é toda a Administração Indireta que se submete às regras da LRF, mas tão
somente aquelas consideradas dependentes, como por exemplo, aquela “empresa controlada
que receba do ente controlador recursos financeiros para pagamento de despesas com pessoal
ou de custeio em geral”.
EXEMPLO DE QUESTÃO SOBRE O TEMA:
(XVII PGE/PA) Analise as proposições abaixo de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal
(LC n.º. 101/2000 – LRF) e assinale a alternativa correta:
A) Estão obrigados a observar a LRF todos os entes da federação, nele compreendidos o Poder
Legislativo, apenas a administração direta do Poder Executivo e o Poder Judiciário, inclusive o
MP.
B) Estão obrigados a observar a LRF todos os entes da federação, nele compreendidos o Poder
Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder Executivo. A LRF não se aplica, contudo, ao MP e ao
Tribunal de Contas, já que estes exercem o controle externo.
C) Estão obrigados a observar a LRF todos os entes da federação, nele compreendidos o Poder
Legislativo, os Tribunais de Contas, o Poder Judiciário, o Ministério Público e, no Poder
Executivo, a Administração Direta, bem como as fundações, as autarquias e empresas estatais
dependentes.
D) Estão obrigados a observar a LRF todos os entes da federação, nele compreendidos o Poder
Legislativo, os Tribunais de Contas, o Ministério Público e, no Poder Executivo, a Administração
Direta, bem como as fundações, autarquias e empresas estatais.
Resposta: Alternativa C
Leis Ordinárias: As leis ordinárias são comumente utilizadas em direito financeiro, destacando-
se aqui as principais leis como dessa categoria: Lei do Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA).
Leis Delegadas: São aquelas delegadas pelo Poder Legislativo ao Presidente da República, sua
importância cresce na medida em que a CF proíbe a delegação de matéria orçamentária.
Assim, pela redação do art. 68, § 1º, inciso III, da CF, não serão objeto de delegação os
“planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos”. OBS: as leis delegadas não são
fontes relevantes do direito financeiro, pois, além de não poderem versar sobre tema alusivo a
lei complementar, campo fértil em matéria financeira, também não podem dispor sobre PPA,
LDO e LOA. Essas leis não são objeto de delegação.
Medida Provisória: Pela redação do art. 62, § 1º, inciso III, da CF, é vedada a edição de medida
provisória sobre a matéria reservada à lei complementar. Assim, já se tem em mente que a
matéria de direito financeiro destinada à lei complementar, descrita nos arts. 163 e 165 da CF,
não pode ser veiculada por medida provisória.
O mesmo parágrafo, no inciso I, alínea “d”, veda a edição de medidas provisórias sobre
matéria relativa a “planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos
adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º”, que permite a sua
admissão para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra,
comoção interna ou calamidade pública.
IMPORTANTE SABER! Não cabe MP em matéria orçamentária, exceto para atender a despesas
imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade
pública, como por exemplo, o caso do corona vírus. Art. 167, § 3º, da CF.
Ademais, o próprio Código Penal (CP) prevê, no art. 359-D, que ordenar despesas não
autorizadas em lei repercute numa pena de reclusão de um a quatro anos.
IMPORTANTE:
Cuidado: O art. 107 da Lei nº 4.320/1964 não foi recepcionado pela CF/1988, uma vez que
dispõe ser possível que os orçamentos das autarquias e empresas estatais possam ser
aprovados por meio de Decreto do Poder Executivo, ou seja, não se sujeitando ao crivo do
Poder Legislativo.
No mesmo sentido é o art. 3º da Lei nº 4.320/1964, o qual dispõe que a LOA compreenderá
todas as receitas e todas as despesas.
Exceção: operações de crédito por antecipação de receita. São empréstimos que o Governo
faz para ter dinheiro agora, já considerando que ele vai ter uma arrecadação futura de
impostos (por exemplo, de um determinado tributo), mas ele precisa fazer um gasto agora.
Então, ele pode fazer alguns empréstimos para antecipar aqui, sabendo que ele vai receber um
dinheiro lá na frente.
Exemplo: Imagine que um determinado ente público, um Estado, saiba que a arrecadação
maior dele de ICMS, por uma particularidade, ocorre nos meses de outubro, mas ele está
precisando fazer uma despesa um pouco maior agora e ele está com problema de caixa. Ele
pode fazer um empréstimo antecipando aquela receita, sem necessariamente constar no
orçamento.
Exceção: emitir papel moeda. A União não é obrigada a incluir emissão de papel moeda no
orçamento, ou seja, emissões de papel moeda são exceções ao princípio da Universalidade.
Cuidado: Súmula 66 do STF: É legítima a cobrança do tributo que houver sido aumentado após
o orçamento, mas antes do início do respectivo exercício financeiro. IMPORTANTE: No Brasil
não vige o princípio da anualidade tributária, ou seja, o tributo não precisa estar contemplado
no orçamento para que possa ser exigido no exercício seguinte.
As receitas e as despesas deverão constar na lei orçamentária pelos seus totais, sendo
vedadas deduções, conforme o art. 6º da Lei nº 4.320/1964. Isto é, embora a CF/1988 preveja
algumas transferências quanto à repartição de receitas, a receita deve ser lançada no
orçamento pelo seu valor total a ser arrecadado.
Obs: As receitas e despesas devem constar no orçamento pelos seus valores globais,
sem quaisquer deduções. A intenção é a de impedir a inclusão de valores líquidos ou de saldos
resultantes do confronto entre receitas e as despesas de determinado serviço público.
Por este princípio compreende-se haver apenas um orçamento para cada ente da Federação,
em cada exercício financeiro, consoante disposto no art. 2º da Lei nº 4.320/1964.
Entretanto, por conta da redação do § 5º, art. 165 da CF/1988, que prevê três suborçamentos
(orçamento fiscal, orçamento de investimento e orçamento da seguridade social) na LOA, as
bancas de concurso público tentam induzir os candidatos ao erro, ao disporem nas assertivas
que estes desrespeitam o princípio da unidade, algo inverídico, até porque o princípio em
questão pressupõe uma orientação política, de cada ente.
Cuidado: O art. 107 da Lei nº 4.320/1964 não foi recepcionado pela CF/1988, pois os planos de
trabalho de autarquias, fundações e empresas estatais dependentes devem estar
consolidados em uma única lei orçamentária.
I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da
administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;
Portanto, esses três suborçamentos devem ser incluídos na LOA e pressupõem a harmonia
entre a LOA, o Plano Plurianual (PPA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Este princípio deduz a necessidade de um novo orçamento a cada 12 meses, coincidindo com o
ano civil, nos termos do art. 34 da Lei nº 4.320/1964. Logo, é aplicável à LOA, não sendo
aplicável ao plano plurianual, até porque a operacionalidade dos gastos ocorre por meio da lei
anual.
Este princípio não deve ser confundido com o princípio da anualidade tributária, o qual não
mais subsiste em nosso sistema tributário pátrio. Isso porque, após a entrada do princípio da
anterioridade, presente no art. 150, III, “b”, CF/1988, tal princípio não é mais aplicado,
corroborando para a edição da Súmula nº 66 do STF.
CF/1988, art. 165. A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da
receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de
créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de
receita, nos termos da lei.
Por ele, devemos entender que não se pode vislumbrar, na lei orçamentária qualquer matéria
estranha ao orçamento, evitando-se as famosas caudas orçamentárias ou orçamentos
rabilongos, expressões de Aliomar Baleeiro (2004, p. 440) que se referiam aos “assuntos
estranhos às finanças”. Entretanto, há exceções permitidas, como no caso da autorização para
abertura de créditos suplementares (reforço da dotação orçamentária porque a receita
prevista no orçamento foi insuficiente) e contratação de operações de créditos, ainda que por
Antecipação de Receitas Orçamentárias (ARO). Art. 165, § 8º, CF.
Obs: “ainda que por atencipação de receita” tem o sentido de determinar a inclusão no
orçamento de créditos resultantes de operações de curto prazo a serem satisfeitas no mesmo
exercício”.
2.9. Princípio da não afetação (ou da não vinculação) da receita – art. 167, IV, CF.
Um assunto muito em pauta, é que tange à Desvinculação de Receitas da União (DRU), criada
por meio da EC nº 27/2000. A EC nº 93/2016, a qual alterou o art. 76, do Ato das Disposição
Constitucionais Transitórias (ADCT), previu a possibilidade de desvinculação de 30% da
arrecadação de impostos, contribuições sociais e Contribuições de Intervenção no Domínio
Econômico (CIDE) a órgãos, fundos ou despesas até o ano de 2023. O percentual anterior era
de 20% até 2015.
Com o objetivo de afastar determinadas vinculações constitucionais obrigatórias e dar maior
mobilidade ao governo para gastar os valores arrecadados com tributos, a DRU foi criada,
prorrogada e modificada por meio de diversas ECs. A EC nº 93, ora mencionada, também
estendeu tal desvinculação às receitas dos estados e dos municípios, ficando, com isso,
desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31.12.2023, 30% das suas receitas relativas a
impostos, taxas e multas, já instituídos ou que vierem a ser criados até a referida data, seus
adicionais e respectivos acréscimos legais, e outras receitas correntes.
IMPORTANTE: Tais desvinculações têm por objetivo permitir que parcelas das receitas
vinculadas possam ser geridas e destinadas de maneira livre e flexível pelos governos,
propiciando uma alocação mais adequada de recursos orçamentários.
No caso da taxa, desvincular parcela desses recursos poderá resultar na afetação considerável
do atendimento e na qualidade da respectiva atividade estatal por ela financiada – 145, II, CF
C/C art. 77 do CTN.
Princípio do equilíbrio
A lei orçamentária anual deve assegurar que o valor da despesa fixada não seja superior ao
valor da receita prevista. Fundamentação: Lei de responsabilidade fiscal (Art. 4, I , alínea “a” e
art. 9º)
Este princípio deve ser analisado tanto pelo aspecto contábil quanto pelo aspecto econômico.
Pelo contábil, o orçamento deve ser aprovado com igualdade entre receitas e despesas,
independentemente da origem das receitas. Já pelo aspecto econômico, as despesas são
financiadas exclusivamente com receitas próprias, excluindo-se as chamadas receitas
creditícias.
Ainda que não contemplado expressamente na CF/1988, esse princípio se apresenta como
uma exigência relativa às contas públicas, que deverão apresentar o mesmo montante quando
se trata de estimar receitas e despesas.
No Brasil, a LOA é aprovada em conformidade com o equilíbrio formal, pois o equilíbrio a ser
buscado pela Lei de Responsabilidade Fiscal é o equilíbrio autossustentável, o qual não é
baseado em operações de crédito e no aumento da dívida pública. Assim, de acordo com a LC
nº 101/2000, em seu art. 4º, temos:
Art. 4º A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o disposto no § 2º do art. 165 da
Constituição e:
Princípio da transparência
As leis orçamentárias devem ser publicadas e divulgadas de forma clara e precisa, visando-se
ao controle social. Assim, o Poder Público publicará, até 30 dias após o fim de cada bimestre, o
relatório resumido da execução orçamentária.
A União, os estados, o Distrito Federal e os municípios divulgarão, até o último dia do mês
seguinte ao da arrecadação, os montantes de cada um dos tributos arrecadados, além dos
recursos recebidos, os valores de origem tributária entregues e que serão entregues. Nos
termos do art. 162 da CF/1988, os dados serão discriminados: da União, por estado e por
município; dos estados, por município.
Na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), destacam-se alguns artigos sobre transparência, muito
cobrado em provas:
Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla
divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de
diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório
Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas
desses documentos.
A Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011) pressupõe que o cidadão poderá solicitar
ao Poder Público os dados de interesse coletivo, exceto os confidenciais, sem apresentar
justificativa para tanto. A resposta ao cidadão deverá ser dada imediatamente ou em 20 dias
prorrogáveis por mais 10 dias. Se o acesso for negado, essa negativa deverá ser apresentada
por escrito e fundamentada, para que o cidadão possa recorrer da decisão.
PRINCÍPIO DA PROGRAMAÇÃO
De acordo com princípio da clareza, o orçamento público deve ser apresentado em linguagem
clara de forma que seja compreensível por todas as pessoas que tenham interesse em utilizá -
lo.
Fundamentação: Doutrina.
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
As disposições contidas nas peças orçamentárias só têm validade após a sua publicação oficial.
Isso garante que as informações orçamentárias estarão disponíveis a todos os interessados.
Este princípio encontra amparo na Lei de Responsabilidade Fiscal. Segundo esta lei, deve ser
incentivada a participação popular, bem como a realização de audiências, durante a
elaboração e discussão dos planos, da LDO e dos orçamentos.
Questão 1
Banca: CESPE- Ano: 2017 Orgão: TRF - 5ª Região. Cargo: Juiz Federal:
A respeito dos princípios orçamentários, assinale a opção correta.
A) O princípio do equilíbrio orçamentário foi alterado para considerar a possibilidade da
previsão de déficit nas contas públicas, desde que mantido em níveis controláveis e nos
parâmetros impostos pela legislação.
B) O princípio da transparência orçamentária diz respeito à necessidade de divulgação anual
do orçamento para conhecimento, pelos cidadãos, da estimação de receita e despesa.
b) exclusividade.
c) universalidade.
d) legalidade.
e)programação.
a) especiais e extraordinários.
b) adicionais.
c) suplementares e especiais.
d) extraordinários.
e) suplementares.
A lei orçamentária não pode conter qualquer dispositivo estranho à previsão da receita e
fixação da despesa: deve conter apenas matéria financeira.
Certo
Errado
b) legalidade;
c) orçamento bruto;
d) unidade;
e) universalidade.
Certo
Errado
Certo
Errado
a) da universalidade.
b) da anualidade.
c) da não vinculação.
d) do orçamento bruto.
e) da discriminação.
c) anualidade e da universalidade.
d) especialização e da anualidade.
d) A autorização para a abertura de créditos especiais pelo Poder Executivo pode estar contida
na própria lei orçamentária.
Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Gabarito E D E Errado E Certo Errado A B A