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Artigos
Acidente vascular cerebral
Roberto de Magalhães Carneiro de Oliveira, Luiz Augusto Franco de Andrade

Resumo e venoso. Essa diferenciação é fundamental na prevenção


secundária eficiente. Estudos cooperativos mostraram que,
Os acidentes vasculares cerebrais (AVCs) estão entre as em pacientes sintomáticos com mais de 70% de estenose de
principais causas de morte e incapacitação física em todo o carótida, a endarterectomia é efetiva na redução do risco de um
mundo desenvolvido. Nos Estados Unidos da América, AVC ipsilateral subseqüente. Na fase aguda dos AVCIs o
aproximadamente 500 mil pessoas apresentam um AVC tratamento pode incluir o uso de anticoagulantes, cuidados
novo ou recorrente a cada ano. Dessas, 150 mil morrem para não baixar indevidamente a pressão arterial, cuidados
anualmente por AVC. Os ataques isquêmicos transitórios clínicos gerais e, em casos muito selecionados, o uso de
(AITs) comumente duram poucos minutos (de 2 a 15 minutos). agentes fibrinolíticos. Uma revisão a respeito dos principais
Episódios abruptos, durando apenas poucos segundos, pro- ensaios clínicos com esses agentes é apresentado pelos
vavelmente não são AITs. Os AITs constituem uma autores. Os AVCs hemorrágicos (AVCHs) representam
emergência. Estão para o infarto cerebral assim como a aproximadamente 10% dos AVCs e tendem a ocorrer mais
angina instável está para o infarto agudo do miocárdio. Os cedo que os infartos. A hipertensão arterial e o aumento da
acidentes vasculares cerebrais isquêmicos (AVCIs) podem idade são os principais fatores de risco para o AVCH. São
ser classificados, segundo o mecanismo etiológico envolvido, apresentadas considerações a respeito da etiopatogenia dos
em: aterotrombótico, cardioembólico, lacunar, hemodinâmico AVCHs e condutas de tratamento nesses pacientes.

Palavras-chave: Acidente vascular cerebral; Ataque isquêmico transitório; Acidente vascular cerebral isquêmico;
Acidente vascular cerebral hemorrágico; Hipertensão arterial.

Recebido: 12/06/01– Aceito: 26/08/01 Rev Bras Hipertens 8: 280-90, 2001

Os acidentes vasculares cerebrais 18 bilhões de dólares. A cada ano, 50 localizada em uma porção do sistema
(AVCs) estão entre as principais cau- mil norte-americanos sofrem ataques nervoso central suprida por um de-
sas de morte e incapacitação física em isquêmicos transitórios (AITs), e quase terminado sistema vascular (carotídeo
todo o mundo desenvolvido. Nos Esta- um terço desses desenvolve subse- direito ou esquerdo, ou vertebrobasi-
dos Unidos da América, aproximada- qüentemente um AVC. lar), e para o qual não se encontra nenhu-
mente 500 mil pessoas apresentam um ma outra causa. Arbitrariamente, por
AVC novo ou recorrente a cada ano. convenção, os déficits devem durar
Dessas, 150 mil morrem anualmente Ataques isquêmicos menos de 24 horas. Os AITs co-
por AVC. Existem mais de 3 milhões transitórios mumente duram poucos minutos (de 2
de sobreviventes de AVC naquele país; a 15 minutos). Episódios abruptos,
e os custos anuais, diretos e indiretos, O AIT é definido como breve durando apenas poucos segundos, pro-
decorrentes da perda de produtividade episódio de perda da função cerebral, vavelmente não são AITs. Existem
com esses pacientes, ultrapassam os devido a isquemia, que pode ser condições incomuns que fogem a essa

Correspondência:
Luiz Augusto Franco de Andrade
Rua Borges Lagoa, 1.231, sala 44
CEP 04038-033 – São Paulo, SP

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definição1. Um estudo cooperativo de teração à TC ou à ressonância magné- conceito de AIT foi entendido de modo
AITs estabeleceu uma duração tica (RM) de crânio, especialmente diferente entre neurologistas e clínicos
mediana de 14 minutos para os AITs quando se utilizam as técnicas mais gerais. Comparativamente, os clínicos
de origem carotídea e 8 minutos para recentes de aquisição de imagens gerais identificaram sintomas como
os de origem vertebrobasilar2. Dois (técnicas de perfusão e difusão). Nico- confusão e queda inexplicada mais
terços dos eventos isquêmicos, que laides et al. estudaram 149 pacientes compatível com AIT, e paresia facial
espontaneamente são revertidos, com AITs hemisféricos; 48% tinham inferior e cegueira monocular transi-
fazem-no dentro de 1 hora. As chances infarto à TC, e 35% tinham um infarto tória mais improvável de ser AIT. Isso
de resolução em cada hora subse- no hemisfério correspondente aos serviu de alerta para que pacientes
qüente são menores que 2%3. Mesmo sintomas5. Nesse mesmo estudo, os com diagnóstico de AIT, estabelecido
havendo resolução clínica dos autores levantaram o resultado de 17 por clínicos gerais, fossem reavaliados
sintomas, podemos encontrar alte- trabalhos sobre a freqüência de infartos por neurologistas7. Mesmo quando se
rações nos exames de diagnóstico em TC de pacientes com AITs he- tem uma história cuidadosa, o reco-
de imagem (tomografia computado- misféricos. De 738 pacientes, 154 nhecimento dos AITs pode ser difícil,
rizada e ressonância magnética de (20%) tinham infartos à TC. A RM é e especialistas podem discordar quanto
crânio). mais sensível que a TC no diagnóstico ao diagnóstico8.
Pacientes com AITs freqüente- de infartos cerebrais. Desses estudos Os AITs podem preceder infartos
mente mostram lesões nos exames tiram-se duas conclusões: 1) que os de todos os tipos, e sua freqüência
diagnósticos de imagem, nem sempre AITs e os AVCIs fazem parte de um varia dependendo da etiologia. Os AITs
relacionadas aos seus sintomas, mas mesmo processo patológico, causado são mais comuns em pacientes com
denotando comprometimento vascular pela isquemia cerebral; 2) se um doença aterosclerótica de grandes
isquêmico pregresso. Nesses casos, médico observa um paciente com vasos. Em estudos recentes, os AITs
utiliza-se o termo “infarto cerebral déficits clínicos, devidos à isquemia, e ocorreram antes de 25% a 50% dos
com sinais transitórios”, quando a anor- estes sinais duram mais de uma hora, infartos aterotrombóticos, de 11% a
malidade encontrada é condizente com existe alta probabilidade de ele estar 30% dos infartos cardioembólicos e
a sintomatologia neurológica apresen- diante de um infarto cerebral6. Assim de 11% a 14% dos infartos lacuna-
tada. Estudo realizado em Lausanne, se justifica o rigor no tratamento e res 9,10,11,12.
na Suíça, detectou 5 pacientes com investigação dos AITs. Pessoas com AITs têm maior risco
AITs, entre 75 pacientes com oclusão O diagnóstico dos AITs depende para infarto cerebral que o restante da
da artéria carótida interna. A tomo- da habilidade na coleta da história dos população. O risco de apresentar AVC
grafia computadorizada de crânio episódios e de sua interpretação, exceto após um AIT é de 24% a 29% durante
(TC) desses pacientes mostrava pe- nos casos em que o médico assiste ao os próximos 5 anos. Esse risco é de
quenos infartos profundamente lo- episódio. Alguns sintomas, como 4% a 8% no primeiro mês e de 12%
calizados, quase indistingüíveis dos dormência ou formigamento, são durante o primeiro ano. O risco de
infartos lacunares. Os autores acredi- comuns, mas nem sempre indicativos AVC em pacientes com AIT é au-
tam que os infartos cerebrais com de AIT. O padrão dos déficits, a dura- mentado de 13 a 16 vezes durante o
sinais transitórios correspondam a ção e as circunstâncias em que apare- primeiro ano e aproximadamente 7
necrose cerebral incompleta, rela- ceram são muito importantes no vezes durante os 5 anos subseqüentes.
cionada a suprimento de rede colateral diagnóstico. A correlação dos sintomas Diferentes subgrupos apresentam
bem desenvolvida, ou a isquemias e sinais com um território vascular é prognósticos diferentes. Pacientes
recorrentes na região de um infarto fundamental. Os antecedentes pre- com AITs hemisféricos e estenose de
silencioso antigo 4. Levantamento gressos de déficits semelhantes e os carótida maior que 70% têm prognós-
realizado no New York Hospital do fatores de risco que o paciente apre- tico particularmente ameaçador, com
Cornell Medical Center, no período de sente também têm peso no diagnós- uma taxa de AVC maior que 40% em
1980 a 1986, registrou 382 pacientes tico. Por outro lado, a presença de 2 anos13. Pacientes com sintoma de
com AITs, tendo 50% apresentado cefaléia, alteração no nível de cons- déficit visual monocular, assim como
resolução completa dos sintomas em ciência ou fenômenos positivos pesam pacientes jovens, têm melhor prognós-
menos de 30 minutos, e 59% na pri- contra o diagnóstico de AIT. Estudo tico. Os principais fatores de risco
meira hora3. realizado em Lisboa procurou analisar para eventos cardioembólicos na
Os episódios mais prolongados de a acurácia no diagnóstico dos AITs gênese dos AITs são: fibrilação atrial,
AIT habitualmente apresentam al- por clínicos gerais e concluiu que o estenose mitral, próteses valvares

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cardíacas, infarto do miocárdio recente, pode auxiliar na definição diagnóstica. embolígeno. Em um estudo de pacien-
trombo ventricular esquerdo (espe- A figura 1 apresenta uma seqüência de tes assintomáticos com doença caro-
cialmente se for móvel ou pediculado), condutas na investigação por imagens tídea, apenas 20% a 30% dos pacientes
mixoma atrial, endocardite infecciosa, dos AVCs. tinham placas ecoluscentes, em con-
cardiomiopatias dilatadas e endo- Vários métodos de avaliação de traste com pacientes sintomáticos, nos
cardite marântica; outros fatores de vasos são úteis na investigação de pa- quais as placas ecoluscentes represen-
risco menos importantes são: pro- cientes com AITs. Os riscos de tavam 70%15,16. A TC de crânio em
lapso de válvula mitral, calcificação complicações aumentam quanto mais pacientes com placas carotídeas de-
do anel mitral intensa, forâmen oval invasivo for o procedimento. Exames de monstrou uma freqüência de 36% de
patente, aneurisma do septo atrial, ultra-som e angiorressonância (ângio- infarto cerebral em pacientes com
estenose aórtica calcificada, anor- RM) são não-invasivos, angiotomografia placas ecoluscentes, mas apenas 6%
malidades da contratilidade do ven- computadorizada (ângio-TC) e SPECT em pacientes com placas ecogênicas,
trículo esquerdo e placas ateroma- (single-photon emission computed sugerindo que os primeiros têm uma
tosas no arco aórtico. tomography) são relativamente não- taxa de AVC duas a quatro vezes
A avaliação dos pacientes com AITs invasivos, e a angiografia cerebral é maior que aqueles com placas ecogê-
visa à definição da causa para determi- invasiva. As técnicas de investigação nicas15,16. Uma avaliação do grupo-
nar-se o prognóstico e o tratamento não-invasivas estão indicadas na fase controle do estudo North American
preventivo correto. Para que não haja inicial em pacientes com AIT, em par- Symptomatic Carotid Endarterectomy
realização de exames desnecessários, ticular para o estudo dos vasos envolvi- Trial (NASCET) demonstrou que pa-
deve-se ter coerência na seqüência de dos no aparecimento de sintomas de cientes com alto grau de estenose caro-
exames, partindo do mais provável para AIT hemisférico ou amaurose fugaz. tídea, na ausência de ulceração à
o mais raro. Pacientes com manifes- Devem-se utilizar todos os métodos que angiografia, tinham uma taxa de AVC
tações sugestivas de AIT devem rea- possam, somados, permitir adequado em 2 anos de 17%, comparada a 30% se
lizar uma TC na avaliação diagnóstica diagnóstico quanto ao grau de estenose, a ulceração estivesse presente, com
inicial, visando excluir hematoma presença e característica das placas, pre- grau semelhante de estenose17. A ca-
subdural crônico ou tumor cerebral. sença de ulcerações, dissecções ou dis- racterística mais importante da placa na
Apesar das vantagens da RM sobre a plasia fibromuscular. avaliação do risco de novos eventos é a
TC na detecção de infartos cerebrais, As características da placa podem porcentagem de estenose na porção
na fase aguda não há necessidade de alterar significativamente os eventos proximal da artéria carótida interna. Isso
realizar a RM. A RM é justificada isquêmicos subseqüentes. Placas eco- é válido tanto para pacientes sintomáticos
quando a detecção de um infarto no luscentes e heterogêneas têm alto quanto para os assintomáticos.
território vertebrobasilar puder alterar conteúdo lipídico, ou hemorragia Para reduzir o risco de novos AITs
a conduta terapêutica14. Estudo por intraplaca, que pode produzir ulceração ou AVCs em pacientes com AIT, re-
RM com técnica de difusão e perfusão da placa, levando a maior potencial comenda-se: cessar o tabagismo; tratar

SPECT
parênquima TC
RM > 70% endar-
Território
carotídeo Ângio-TC terectomia
vasos > 70% de Angiografia
Ângio-RM redução cerebral < 70% obser-
A US doppler da luz
vação
I
T TC
parênquima
Território RM
vertebrobasilar
vasos Ângio-RM Angiografia
cerebral

Figura 1 – Seqüência de condutas na investigação por imagem dos AVCs.

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agressivamente a hipertensão arterial, rações e no controle do crescimento acometidos. Os fatores que levam
mantendo a pressão sistólica abaixo das placas ateromatosas19. Os efeitos essas lesões a tornarem-se sintomáti-
de 140 mmHg (160 mmHg para pa- antioxidantes desses fármacos sobre cas não são bem conhecidos, mas
cientes acima de 60 anos) e pressão as placas coronárias já são bem sabe-se que estenoses superiores a
diastólica abaixo de 90 mmHg; tratar conhecidos. 70% estão linearmente associadas ao
adequadamente doença arterial co- aumento do risco de infarto cerebral
ronária, arritmia cardíaca, insuficiência distal20.
cardíaca e doença orovalvar; cessar o Acidente vascular Estudos cooperativos mostraram
uso de contraceptivos orais ou, no cerebral isquêmico que, em pacientes sintomáticos com
mínimo, utilizar formulações com mais de 70% de estenose de carótida,
baixos teores de estrógeno; deve-se
(AVCI) a endarterectomia é efetiva na redução
tratar a dislipidemia e estimular a Os AVCIs podem ser classificados, do risco de um AVC ipsilateral
atividade física. Não se recomenda a segundo o mecanismo etiológico envol- subseqüente17. Devemos, entretanto,
descontinuação de estrógeno pós- vido, em: aterotrombóticos, cardioem- conhecer e indicar equipe de cirur-
menopausa18. bólicos, lacunares, hemodinâmicos giões vasculares cujo risco cirúrgi-
Os AITs constituem uma emer- e venosos. Essa diferenciação é fun- co seja inferior a 3%.
gência. Estão para o infarto cerebral damental na prevenção secundária As indicações para a endarte-
assim como a angina instável está eficiente. rectomia dependem do risco cirúrgico,
para o infarto agudo do miocárdio. O infarto cerebral aterotrombótico tanto para pacientes com doença
Existem controvérsias a respeito de ocorre quando a aterosclerose envolve aterosclerótica carotídea assintomá-
qual a conduta mais correta para o determinados sítios das artérias intra e ticos quanto para os sintomáticos.
controle dos AITs recentes. Alguns extracranianas, levando à sua oclusão Essas indicações levam em conside-
autores advogam o uso imediato de ou a um de seus ramos. Existem dois ração o grau de estenose e o tipo de
heparina intravenosa para pacientes mecanismos principais pelos quais a placa. A presença de úlceras na placa,
com alto risco de novos AITs, ou com aterosclerose leva ao infarto. Pode documentada pela angiografia, tem
AITs de gravidade ou freqüência cres- haver trombose a partir de uma placa sido um marcador para o risco de AVC
centes. Todavia, nenhum grande es- aterosclerótica com obstrução da luz subseqüente. O tamanho e a extensão
tudo randomizado foi realizado para arterial ou fragmentação de uma placa da lesão têm sido correlacionados com
comparar a ação da heparina aos an- ou trombo sobreposto a esta, com a evolução neurológica. Usando o filme
tiagregantes plaquetários. Devemos embolia artério-arterial. História de da angiografia convencional, o
considerar a provável ou conhecida AITs e sopro carotídeo são mais fre- tamanho da úlcera pode ser esta-
etiologia dos eventos. O ácido ace- qüentes em pessoas com infarto ate- belecido multiplicando-se o compri-
tilsalicílico e a ticlopidina são benéficos rotrombótico que em outros tipos de mento pela largura da úlcera em
na prevenção de AVC após um AIT. AVC. O diagnóstico clínico se baseia milímetros. Assim, úlceras medindo
Analisando o benefício relativo, os no achado de estenose ou oclusão < 10 mm2 são definidas como úlceras
efeitos colaterais e os custos dessas arterial por aterosclerose em um ou “A”; úlceras que variam de 10 mm2 a
drogas, o ácido acetilsalicílico é con- mais sítios. O infarto pode ser pequeno 40 mm2 são definidas como úlceras
siderado droga de escolha para iniciar e indistingüível daqueles de origem “B”, e úlceras que excedem 40 mm2
o tratamento antitrombótico18. A dose cardioembólica. são definidas como úlceras “C”21. A
ideal de ácido acetilsalicílico é con- Estudos anatomopatológicos têm presença de uma úlcera “C”, indepen-
troversa, mas aceita-se que 325 mg mostrado que a distribuição das lesões dente de estenose carotídea associada,
por dia sejam suficientes para proteção ateroscleróticas não ocorre ao acaso identifica um grupo de pacientes que
adequada com poucos efeitos cola- ao longo da rede arterial cerebral. O estão sob risco de AVC de 7,5% ao
terais. O clopidogrel também tem sido sistema arterial carotídeo é princi- ano22. A presença de pequenas úlceras
utilizado com sucesso, mas a um custo palmente afetado na bifurcação da “A” não está associada a aumento no
ainda muito elevado. carótida, no sifão carotídeo e no risco de AVC. Existem controvérsias
O uso das “estatinas” no controle das segmento M1 da artéria cerebral a respeito das úlceras “B”, com alguns
placas carotídeas necessita de maio- média. No sistema vertebrobasilar, o autores relacionando estas a um risco
res estudos; contudo, dados prelimi- primeiro e o quarto segmentos das de AVC de 4,5% ao ano22, enquanto
nares sugerem que essas drogas têm artérias vertebrais e o primeiro seg- outros não encontraram qualquer
importante papel na prevenção de ulce- mento da artéria basilar são os mais relação23.

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A embolia artério-arterial a partir A abordagem terapêutica nesses cerebral que ocorre na região atingida
de placas aórticas foi mais recente- pacientes ainda não está determinada. pela isquemia, e o agravamento da lesão
mente avaliada. Em aproximadamente Existem relatos de casos de trombólise com a eventual redução da pressão
40% dos infartos cerebrais a causa é ou remoção cirúrgica dos ateromas arterial, por diminuição da perfusão.
desconhecida, ou os achados se limitam demonstrados por ecocardiograma Pacientes cronicamente hipertensos,
à estenose carotídea inferior a 70%, transesofágico35,36. Outra opção é a an- por sua vez, têm a auto-regulação do
ou a anormalidades cardíacas discre- ticoagulação, embora haja quem ques- fluxo sangüíneo cerebral adaptada a
tas, que não podem ser aceitas como tione sua segurança, já que o anti- níveis pressóricos mais elevados, e
uma causa definitiva24. Com o advento coagulante pode facilitar microem- uma redução abrupta pode trazer maior
do ecocardiograma transesofágico bolização de cristais de colesterol pela sofrimento cerebral.
começou-se a detectar placas no arco remoção do trombo sobre uma placa Nos casos de hipertensão acentua-
aórtico mais facilmente25,26. ulcerada37. O papel dos anticoagu- da, a redução da pressão arterial deve
Uma série de estudos recentes esta- lantes e antiagregantes plaquetários ser cautelosa e lenta. Tem-se indicado
belece uma relação estatística entre a na prevenção dos infartos cerebrais a o uso de medicamentos anti-hiperten-
presença de placas ateroscleróticas no partir de trombos de placas no arco sivos quando a pressão arterial média
arco aórtico e o AVCI27,28,29,30,31,32. aórtico ainda precisa ser mais bem estiver acima de 130 mmHg ou a pressão
Em pacientes com placas maiores que estudado. arterial sistólica estiver acima de 220
5 mm, comparados com grupo-contro- Os infartos de zonas limítrofes, mmHg. Havendo hipertensão arterial
le, encontrou-se um risco de apresen- também chamados de infartos das associada a transformação hemorrá-
tarem AVCI, infarto do miocárdio ou zonas divisórias das águas (watershed gica, infarto do miocárdio, dissecção
embolia periférica de 33% em 2 anos; areas), secundários a um mecanismo de aorta torácica ou insuficiência renal
se analisarmos apenas eventos reti- hemodinâmico, são bem menos secundária, devem-se usar fármacos
nianos e AVCI, o risco é de 16% em comuns. Podem estar associados a parenterais, como o enalapril ou o labe-
2 anos, enquanto esse risco é de 7% estenose crítica das artérias carótidas talol. No controle da hipertensão ar-
no grupo-controle, sem ateromas33. ou a distúrbios hemodinâmicos, hi- terial associado a hipertensão intra-
Placas ateroscleróticas ≥ 4 mm de potensão ou bradiarritmia. Sua real craniana devem-se evitar drogas que
espessura na aorta ascendente e arco prevalência ainda não pode ser es- promovam vasodilatação cerebral
aórtico proximal foram encontradas timada, porém, quanto mais se inves- (nitroprussiato de sódio) e aquelas que
em 14,4% dos pacientes com infarto tigam pacientes que passaram por induzem rápida queda da pressão
cerebral e em 2% do grupo-controle períodos de hipotensão prolongada, arterial, como os bloqueadores de canal
(p < 0,001)27. Encontrou-se forte asso- como em grandes cirurgias, mais se de cálcio via sublingual. A maioria dos
ciação entre placas de 1 mm a 3,9 mm podem encontrar exemplos desse tipo pacientes pode ser tratada com beta-
de espessura e estenose carotídea; de AVC. bloqueadores ou inibidores da enzima
mas, para placas acima de 4 mm de O controle ideal da pressão arterial conversora da angiotensina. Diuréticos
espessura, o risco de AVCI aumenta ainda não está estabelecido. Um au- devem ser evitados por causar hipo-
de menos de 5 para mais de 13 vezes. mento leve ou moderado da pressão volemia e potencialmente agravar o
Esse aumento foi observado somente arterial é observado freqüentemente quadro neurológico. A hipotensão ar-
para placas maiores que 4 mm de nos pacientes com AVC, de modo terial é rara; hipovolemia é a causa mais
espessura localizadas próximo ao transitório, e parece ser um mecanismo comum. A correção da hipovolemia e
óstio da artéria subclávia esquerda, e compensatório devido à perda da auto- a normalização do débito cardíaco são
não para placas distais ao óstio. regulação cerebral, durando poucos prioritários na fase inicial do AVC. No
Acredita-se que as placas com mais dias e usualmente não necessitando tratamento da hipertensão arterial já
de 4 mm de espessura apresentem de tratamento38. Algumas condições deveremos ter selecionado se o pacien-
em sua composição material trom- podem contribuir para o aumento da te é ou não candidato ao uso de trombo-
bótico superposto a placas ulce- pressão arterial, como estresse, dor, lítico; na dependência dessa conduta,
radas34. Assim, placas aórticas maio- repleção vesical, aumento da pressão usaremos fármacos distintos.
res que 4 mm de espessura são um intracraniana ou resposta fisiológica à O uso de agentes trombolíticos ou
novo, forte e independente fator de hipóxia; a pressão diminui espontanea- fibrinolíticos, no infarto agudo do mio-
risco para infartos cerebrais, com mente ao se corrigirem tais alterações. cárdio, abriu caminho para pesquisas
possível relação etiológica em alguns Além disso, deve-se considerar a perda desses medicamentos no tratamento
pacientes. da auto-regulação do fluxo sangüíneo do AVCI. Nessa época, importantes

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estudos tornaram mais seguro e pos- diagnóstico de AVC e capacitado a tratamento trombolítico47,48. Assim,
sível o uso de agentes trombolíticos interpretar CT de crânio45. Estudo deve-se reduzir a pressão arterial do
no AVCI. Após o fracasso do uso de avaliando a acurácia na interpretação paciente para níveis que permitam a
trombolíticos em casos isolados de da CT de crânio entre médicos do este receber o trombolítico. Após a
infarto cerebral, foram realizados setor de emergência, neurologistas e infusão do rt-PA, a pressão arterial
estudos controlados com estreptoci- radiologistas concluiu que mesmo estes deve ser mantida abaixo dos parâ-
nase e com rt-PA39,40,41,42,43. A partir últimos não estavam suficientemente metros mencionados por pelo menos
destes estudos estabeleceram-se li- capacitados a identificar hemorragia 24 horas.
mites e condições para tratamento intraparenquimatosa, o que os impedia A injeção intra-arterial de trombolí-
trombolítico mais seguro. A tabela 1 de realizar adequadamente a seleção ticos é uma alternativa no tratamento
apresenta os resultados dos principais de pacientes candidatos à trombólise46. do AVCI na fase aguda, tendo a vanta-
estudos. Estimula-se o treinamento de pessoal gem de permitir concentração local
Os melhores resultados foram na área específica de doenças vas- mais elevada do agente e menor con-
obtidos no estudo NINDS, e seus culares cerebrais para aperfeiçoa- centração sistêmica do mesmo. Outra
métodos serviram de base para que a mento do diagnóstico. Em todos os vantagem seria a seleção mais segura
Academia Americana de Neurologia44 locais em que se realiza tratamento do dos pacientes com demonstração do
e a American Heart Association45 AVC com agentes trombolíticos, em ramo ocluído da artéria pela angiogra-
indicassem critérios e procedimentos qualquer parte do mundo, o fator fia. Aqui veremos que o fator tempo,
necessários para um tratamento limitante mais freqüente é o tempo limitante da indicação do trombolítico,
seguro e eficaz. Atente-se para o decorrido entre o início do processo de torna-se mais crítico, pois a realização
número considerável de eventos de AVC e a chegada do paciente ao de um estudo angiográfico, após todos
hemorragia intracerebral obtidos em hospital, não permitindo uma avaliação os trâmites habituais da internação do
todos os estudos multicêntricos, seja adequada por equipe treinada para paciente, das avaliações clínicas e
com a droga-teste, seja com o placebo, este fim, em tempo de indicar o neurológica necessárias, costuma
o que significa que deveremos buscar tratamento com segurança. demandar tempo maior que o máximo
métodos mais acurados de seleção de Habitualmente não se recomenda tolerado para a indicação do fármaco.
pacientes. O conhecimento e a confe- a redução da pressão arterial (PA) Vários estudos clínicos não-contro-
rência dos critérios de exclusão deste em pacientes com AVCI na fase lados têm analisado a ação de fibrinolítico
protocolo são pré-requisitos essenciais aguda; contudo, vários autores já intra-arterial para o tratamento de infarto
à segurança do tratamento. mostraram que a PA sistólica elevada, cerebral agudo. Nesses estudos mais de
A trombólise não deve ser realizada acima de determinados níveis, está uma centena de pacientes foram
a menos que o diagnóstico seja esta- fortemente associada à transformação submetidos a tratamento fibrinolítico
belecido por médico especializado em hemorrágica e a piores resultados no pela injeção de rt-PA ou urocinase no

Tabela 1 – Resultados dos principais estudos com trombolíticos em infarto cerebral agudo
Estudo/ N Dose Fármacos Seguimento Mortalidade Mortalidade Hemorragia
(Janela terapêutica) adicionais precoce (%) 90-180 intracraniana (%)
dias (%)
NINDS rt-PA 312 0,9 mg/kg Nenhum 6m 12 17 10
(< 3h) Placebo 312 15 20 3
ECASS rt-PA 313 1,1 mg/kg Nenhum 3m 17 22 42
(< 6h) Placebo 307 12 15 36
ASK SK 106 1.5 X106 U Aspirina 3m ... 43 ...
(3-4h) Placebo 122 ... 22 ...
MAST-E SK 137 1.5 X106 U Nenhum 6m 35 44 35
(< 6h) Placebo 133 18 35 12
MAST-I SK 313 1.5 X10 U Aspirina
6 6m 26 35 25
(< 6h) Placebo 309 11 24 9
rt-PA = ativador de plasminogênio tissular recombinante; NINDS = National Institute of Neurological Disorders and Stroke; ECASS = European
Cooperative Acute Stroke Study; ASK = Australian Streptokinase Trial; MAST-E = Multicenter Acute Stroke – Europe; MAST-I = Multicenter Acute
Stroke – Italy; SK = estreptocinase.

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sistema carotídeo ou vertebroba- de vasos mais largos, e assim mais vul- venha sendo medicado preventiva-
silar49,50. Apenas um estudo randomi- neráveis aos efeitos da pressão. Essas mente, justamente se tentando evitar
zado (PROACT) comparou a evolução áreas também são os sítios de infartos um AVC isquêmico ou um fenômeno
entre pacientes com infarto no lacunares, pois a mesma doença vas- isquêmico em outro órgão. O número
território da artéria cerebral média cular secundária à hipertensão arterial de pacientes em uso de aspirina,
que receberam pró-urocinase com o é responsável por ambos55. Níveis muitas vezes na prevenção primária
grupo-placebo; não houve diferença baixos de colesterol (< 160 mg/dl) estão de eventos isquêmicos cardiocircu-
no resultado51. Estudos controlados, relacionados a maior risco e maior latórios, é considerável.
mais amplos, são necessários para mortalidade por AVCH56,57,58,59. A A apresentação clássica dos AVCHs
determinar quais as drogas mais razão desse fato é desconhecida. é um déficit neurológico focal súbito
adequadas, para quais situações e em Outros estudos, ulteriores, relacio- que progride em minutos ou horas,
que doses. naram maior incidência de AVCH a com rebaixamento do nível de cons-
níveis baixos de colesterol e hiper- ciência, acompanhado por cefaléia,
tensão arterial diastólica60,61. A relação náusea, vômitos e elevação da pressão
Hemorragia entre o consumo de álcool e a ocorrên- arterial66.
intraparenquimatosa ou cia de AVCH é mais complexa. Es- A tomografia computadorizada de
tudos recentes parecem sugerir um crânio tem importante papel no
acidente vascular comportamento semelhante ao AVCI, diagnóstico dos AVCHs. A diferen-
cerebral hemorrágico com efeito protetor até um consumo ciação entre isquemia e hemorragia e a
(AVCH) diário próximo de 60 g/dia62,63,64. localização do sangramento, suas di-
As principais alterações fisiopatoló- mensões e eventuais deslocamentos
Os AVCHs representam aproxi- gicas para a gênese do AVCH ocor- de estruturas podem adequadamente
madamente 10% dos AVCs e tendem rem nas pequenas artérias e arteríolas ser avaliados por esse método diag-
a ocorrer mais cedo que os infartos. por efeito da hipertensão arterial. No nóstico. Pode-se ainda detectar mal-
São mais freqüentes que a hemorragia entanto, outras causas podem ser formações arteriovenosas, aneurismas
subaracnóidea e mais agressivos que encontradas em AVCs hemorrágicos. e tumores. Usualmente se tenta
o infarto cerebral. Alguns dados apon- A importância da angiopatia amilóide determinar a causa do sangramento
tam mortalidade entre 30% e 50% no tem aumentado pelo incremento da através de sua localização, seguindo a
primeiro mês, metade das mortes proporção de idosos na população65. idéia de que sangramentos profundos,
ocorrendo nos primeiros 2 dias. Após Essa angiopatia, característica em capsulonucleares, são atribuídos a
1 mês, 10% apresentam vida indepen- pessoas de idade avançada, é a causa alterações microvasculares secundá-
dente e, após 6 meses, 20%52. mais freqüente de hemorragias rias à hipertensão arterial, enquanto
A hipertensão arterial e o aumento lobares, isto é, hemorragias que sangramentos lobares são devidos à
da idade são os principais fatores de ocorrem no interior dos lobos cerebrais, angiopatia amilóide, como já tivemos a
risco para o AVCH. Existe discreta diferentemente daquelas produzidas oportunidade de mencionar anterior-
predileção por homens e negros jovens pela hipertensão arterial, que ocorrem mente. O diagnóstico presumido, mas
e de meia idade. A incidência entre na cápsula interna ou externa, no não comprovado, traz maior risco de
asiáticos também é maior que entre tálamo, no tronco cerebral ou no recorrência ao paciente. A análise de
ocidentais. Fatores alimentares podem cerebelo. Outras causas, menos angiografias em pacientes com AVCH
afetar a incidência de AVCH. Homens freqüentes, são malformações arte- encontrou alterações em 84% (32/38).
japoneses, que vivem no Japão, apre- riovenosas, aneurismas, distúrbios da Em 19% dos pacientes detectaram-se
sentam maior incidência de AVCH coagulação e uso de anticoagulantes malformações arteriovenosas insus-
que aqueles que se mudaram para os ou trombolíticos, transformações peitas e, em 5%, aneurismas67. Estudo
EUA53. Negros dos EUA apresentam hemorrágicas de infartos e sangra- prospectivo mostrou que a angiografia
risco significativamente maior que mento de tumores, ou por abuso de cerebral tem pouca chance de detectar
brancos54. drogas52. Uma causa que freqüente- alterações em pacientes com AVCH
Os AVCHs atribuídos à hiperten- mente passa despercebida pela maioria com mais de 45 anos de idade, com
são ocorrem caracteristicamente nos dos médicos é o uso crônico dos antia- sangramento talâmico, putaminal
núcleos da base, tálamo, ponte e cere- gregantes plaquetários, especialmente ou na fossa posterior, e história de
belo. Essas áreas são supridas por a aspirina, que pode facilitar um AVC hipertensão68. O momento ideal para
vasos de pequeno calibre, ramos diretos hemorrágico em um paciente que realizar-se a angiografia depende da

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situação clínica e da eventual neces- ticados. Podem ser outra causa de he- O controle da hipertensão intracra-
sidade de cirurgia do paciente. morragia intraparenquimatosa. niana constitui um capítulo à parte.
Mais recentemente, dois estudos Apesar das elevadas morbidade e Deve-se evitar a osmoterapia profiláti-
com pequenas séries relataram 100% mortalidade associadas ao AVCH, ca. Diuréticos osmóticos são a primeira
de sensibilidade na detecção de AVCH poucos estudos clínicos controlados, escolha, com manitol intravenoso a
por RM em fase ultraprecoce69,70. A randomizados com terapias potenciais, 20%, associados inicialmente a furose-
RM pode detectar cavernomas melhor têm sido publicados. Estudos com mida, nos casos com progressivo au-
do que a angiografia cerebral ou a dexametasona, hemodiluição e glicerol mento da PIC ou deterioração clínica
tomografia computadorizada de crânio, não mostraram nenhum benefício. O associada ao efeito de massa do hema-
além de auxiliar no diagnóstico de mal- controle pressórico na fase aguda do toma. Corticosteróides devem ser evi-
formações, tumores e metástases. Os AVCH é controverso. As recomen- tados. A hiperventilação deve ser alter-
cavernomas, também chamados de dações atuais são no sentido de manter- nativa de emergência e por curto perío-
angiomas cavernosos, tumores vascula- se pressão arterial média abaixo de do, uma vez que a vasoconstrição pro-
res de natureza benigna antigamente 130 mmHg71,72. Pacientes monitora- longada pode aumentar o sofrimento
considerados como de ocorrência muito dos com pressão intracraniana (PIC) cerebral e o edema. O controle da tempe-
rara, após a introdução da RM passaram devem manter pressão de perfusão ratura e da prevenção de crises con-
a ser mais freqüentemente diagnos- cerebral acima de 70 mmHg. vulsivas está indicado nesses casos.

Abstract territory may be treated effectively by endarterectomy of


this artery, if a greater than 70% stenosis is found in the
Stroke angiography. The medical treatment of a patient in the acute
Cerebrovascular disease remains an important cause of phase of an ischemic infarction of the brain may include
death and physical handicap in any part of the world. Transient anticoagulants and, in selected cases, fibrinolytic drugs. A
ischemic attacks usually last only minutes, less than an hour comprehensive review of multicenter trials of fibrinolytic
and represent an urgency in medicine. Ischemic drugs in acute cerebral ischemia is presented. Hemorrhagic
cerebrovascular disease, other than transient ischemic cerebrovascular disease accounts for as much as 10% of
attacks, according to the pathophysiology may be classified the total. Arterial hypertension and increasing age are
into atherothrombotic, cardioembolic, lacunar, hemodynamic critical factors in the pathophysiology of this type of vascular
or venous. Multicenter studies showed that patients who disease. An overview of pathophysiology and the current
suffered an acute cerebral ischemic event in the carotid strategies of treatment are presented by the authors.

Keywords: Transient ischemic attacks; Ischemic cerebrovascular disease; Hemorrhagic cerebrovascular disease;
Arterial hypertension.

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